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1M2_01
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Curso de Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica
Relatório
Biomecânica – A Mecânica e a Vida, Influência na
Saúde
Unidade Curricular:Projeto FEUP
Supervisor:António Monteiro Baptista
Monitor:Luís Faria
Grupo: 1M2_01
201304301 - Alexandre Sinde Pires Araújo
201303416 - Inês Ramalho da Silva e Quadros
201303633 – João Afonso Sá de Miranda Xavier
201303689 - Julieta Oliveira Tavares da Silva
201306484 – Luís Ferreira Fragoso
201302827 - Tiago Manuel Monteiro Valente
Data de Entrega:
4 de Novembro de 2013
Porto, Outubro 2013
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Agradecimentos
Gostaríamos de relembrar, desde início, que todos os membros deste grupo foram
fundamentais para a execução deste relatório e que sem algum destes, isto não teria sido
possível.
Em primeiro, queremos agradecer ao professor António Monteiro Baptista, professor da
unidade curricular “Projeto Feup” e supervisor do projeto, visto que todos os seus
conhecimentos e métodos que nos ensinou foram vitais para a execução organizada e
metódica deste relatório.
Por último, demonstramos a nossa consideração pelo monitor Luís Faria, que esteve
sempre disponível para nos tirar todos as nossas dúvidas e para nos aconselhar, guiar na
realização deste relatório, fornecendo sempre novos contributos para a melhoria do
mesmo.
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Resumo
O presente relatório foi desenvolvido no âmbito da unidade curricular Projeto FEUP, do
curso de Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica, e tem como principal objetivo
elucidar sobre o conceito de biomecânica bem como as suas aplicações práticas e
benefícios para a sociedade.
Numa fase inicial procede-se à clarificação sobre o que é de facto a Biomecânica,
seguindo-se a classificação dos métodos de medição - cinemetria, dinamometria,
antropometria e electromiografia - e uma abordagem sobre os modelos de determinação
de forças internas.
Posteriormente, são descritos os dispositivos implantáveis, aplicações fundamentais da
biomecânica na área da saúde, podendo estes ser de dois tipos: implantes de repartição
de carga e implantes de transferência de carga.
Com o objetivo de abordar uma vertente mais pratica desta temática é ainda exposto um
Caso de Estudo e referido algum conhecimento anatómico necessário para que a
aplicação da biomecânica seja o mais correta e eficaz possível.
Palavras- chave
Mecânica; Biomecânica; Recuperação; Movimento; Articulação; Prótese; Órtese
/Ortótese.
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Índice
I. Agradecimentos………………………………………………………………….....II
II. Resumo…………………………………………………………………………….III
III. Palavras-chave……………………………………………………………………..III
IV. Índice………………………………………………………………………………IV
V. Índice de Imagens e Tabelas……………………………………………………….VI
1. Introdução ....................................................................................................................... 1
2. A Biomecânica na Vida .................................................................................................. 2
3. Classificação dos métodos de medição ......................................................................... 3
3.1 Cinemetria ............................................................................................................... 3
3.2 Dinamometria .......................................................................................................... 4
3.3 Antropometria ......................................................................................................... 4
3.4 Eletromiografia ........................................................................................................ 5
4. Ponderações sobre modelos na determinação de forças internas ................................... 6
5. Desempenho de dispositivos implantáveis ......................................................................... 8
6.Introdução ao estudo dos elementos finitos em biomecânica ......................................... 10
7. Repartição de carga .......................................................................................................... 12
8. Transferências de carga .................................................................................................... 12
9. Case Study – A hanseníase ............................................................................................... 14
10. Anatomia .......................................................................................................................... 16
10.1 Pele .................................................................................................................... 16
10.2 Ossos ................................................................................................................. 17
10.3 Articulações ....................................................................................................... 18
10.4 Músculos ........................................................................................................... 19
10.5 Nervos ............................................................................................................... 19
11. Estrutura ........................................................................................................................ 21
12. Fases da marcha (deambulação) .................................................................................. 22
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13. Ortóteses no pé .............................................................................................................. 22
14. Finalidades das Ortóteses no pé ................................................................................... 22
15. Calçado adequado ......................................................................................................... 23
16. Confeção das Ortóteses e do calçado ........................................................................... 25
17. Tipos de Ortóteses .......................................................................................................... 26
18. Curiosidades ................................................................................................................... 29
19. Conclusão ........................................................................................................................ 30
20. Referências Bibliográficas ............................................................................................. 31
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Índice de Imagens e Tabelas
Figura 1 – Biomecânica do Movimento – página 1
Figura 2 – A Hanseniase – página 14
Figura 3 – Nervos no membro inferior – página 15
Figura 4 – Faces do pé – página 16
Figura 5 – Estruturas do pé – página 16
Figura 6 – Ossos da perna – página 17
Figura 7 – Ossos do pé – página 17
Figura 8–Articulações do pé – página 18
Figura 9–Arcos do pé – página 21
Figura 10– Características do calçado - página 23
Figura 11–Férula de Harris – página 26
Figura 12 – Palmilha simples – página 26
Figura 13–Cunha Medial – página 28
Tabela 1 - Ossos do pé por segmento e função – página 18
Tabela 2 – Distribuição da pressão exrecida no pé – página 24
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1. Introdução
Realizando as tarefas propostas pelo Projeto FEUP, o grupo 1, constituído pelos alunos:
Alexandre Araújo, Inês Quadros, João Xavier, Julieta Silva, Luís Fragoso e Tiago Valente,
da 2ª Turma do curso de engenharia mecânica elaborou o seguinte relatório com o objetivo
de abordar o tópico da Mecânica na vida aplicado na área da saúde.
A Biomecânica é a ciência que estuda e interpreta o movimento humano e animal. [1]
Através da análise dos sistemas estudados baseia-se em aplicações mecânicas para
desempenhar as suas funções. Após este estudo, a biomecânica desenvolve o seu trabalho em
prol de melhorar a vida do ser humano quando este se depara com dificuldades.
Diverge de autor para autor o seu papel no ramo da investigação na atividade física [2]:
Segundo Hay (1978), a biomecânica é a “ciência que estuda as forças internas e externas que
atuam no corpo humano e os seus efeitos.”. Amadio (1989; 1996) afirma que a biomecânica
externa estuda as forças externas que determinam a posição do corpo (forças qualitativas e
quantitativas) enquanto a interna estuda as forças internas e as suas consequências.
Os campos e áreas de ação da Biomecânica são bastante diversificados. No desporto, há,
entre outras, a análise da técnica do movimento e a construção de equipamentos desportivos.
A biomecânica actua ainda na reabilitação do indivíduo na sociedade (por exemplo em caso
de deficiência motora), no movimento laboral e quotidiano, na instrumentação e em
biomateriais.
Resumindo, neste relatório, pretendemos dar a conhecer o importante papel que a mecânica
desempenha na área da saúde, como, por exemplo, criando próteses, estudando a mecânica
de fluídos e fisiologia do corpo humano, a fim de melhorar as condições de vida.
Figura 1 – Biomecânica do Movimento [3]
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2. A Biomecânica na Vida[4]
A biomecânica é uma área multidisciplinar, sendo que um dos aspetos fundamentais em que
incide é a análise do movimento humano. Este conhecimento deriva de estudos
experimentais sobre o funcionamento físico de estruturas biológicas, os quais recaem em
medições externas ao organismo dada a dificuldade de acesso às estruturas internas. Face a
isto muita da informação retirada consiste em estimativas. O grande objetivo desta ciência é
não só a análise do movimento humano mas também a sua otimização, eficácia e até o
reflexo a nível económico.
As ciências derivadas são um encadeamento da biomecânica que foca o estudo de análises
físicas de sistemas biológicos, sendo que este se tem desenvolvido mais nos últimos anos
dado o progresso das técnicas de medicação, armazenamento e processamento de dados.
Em vista a um aperfeiçoamento técnico do movimento, é necessário ter por base a noção de
que a estrutura biológica do corpo humano é flexível, permitindo a produção de força através
da contração muscular que possibilita o movimento e ter noções alargadas sobre a anatomia
e fisiologia do nosso organismo.
Podemos então caracterizar o corpo humano como um complexo de segmentos articulados,
os quais se podem apresentar tanto em equilíbrio estático como dinâmico. O movimento
deriva de forças internas ou externas, atuando fora do eixo articular de modo a provocar
deslocamentos angulares dos segmentos. A biomecânica está assim subdividida em duas
áreas: biomecânica interna e biomecânica externa. A primeira debruça-se sobre as forças
internas transmitidas pelas estruturas biológicas, tal como forças musculares, nos tendões e
ossos. Estes permitem não só a execução de movimentos, mas também o estímulo necessário
ao desenvolvimento e crescimento das estruturas corporais. O conhecimento destas forças
internas pode ter aplicações a nível clínico, podendo, por isso, facilitar cirurgias, transplantes
e amputação de membros, com vista a aperfeiçoar as técnicas de movimento.
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3. Classificação dos métodos de medição[4]
De modo geral, os métodos utilizados em biomecânica podem ser divididos em
várias categorias:
Teórico-dedutivos ou determinísticos, que são baseados em leis físicas e
matemáticas
Empírico-indutivos, os quais se fundamentam em estatísticas e relações
experimentais
Métodos combinados, que tentam reunir os dois padrões anteriormente
mencionados e utilizá-los em função do problema científico a ser tratado
Por outro lado, conseguimos obter outro tipo de classificação dos procedimentos de
medição:
Mecânicos, que têm por base a observação direta;
Eletrónicos, em que as grandezas mecânicas são transformadas em elétricas,
permitindo medições mais precisas;
Ótico-eletrónicos, nos quais as análises de medições são recolhidas através do
modelo do objeto em estudo.
Por se tratar de uma área com elevada dependência de resultados experimentais, é
perfeitamente aceitável que a biomecânica faculte uma distinta importância aos métodos
de medição. Com efeito, existem múltiplas formas de abordar os diversos tipos de
movimento, a cinemetria, dinamometria, antropometria e eletromiografia.
3.1 CINEMETRIA
Podemos ainda, através da fotografia, cinematografia e crono fotografia registar a
imagem para processamento de variáveis cinemáticas. Todos estes procedimentos
implicam a um conjunto de métodos que procura medir os parâmetros cinemáticos do
movimento: a posição, orientação, velocidade e a aceleração. As câmaras de vídeo são
os instrumentos básicos para medidas cinemáticas. Outras técnicas para o
processamento de grandezas cinemáticas são as técnicas de medição direta, utilizadas
para medidas de tempo (cronómetros); medidas deângulos(goniómetro) e medidas de
aceleração (acelerómetros); utilização de lentes e outros instrumentos óticos para
garantir a qualidade da imagem.
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Para a reconstrução de coordenadas do objeto a partir da imagem obtida são necessários
modelos onde, além das referências geométricas e posições relativas das partes do corpo
em função do tempo, também é obrigatória a existência de informação sobre as
dimensões corporais, as quais são obtidas através de dispositivos classificados nos
modelos antropométricos.
Genericamente pode-se classificar os métodos/dispositivos de medição como:
Dispositivos convencionais com avaliação manual - sistemas de câmaras
cinematográficas e fotográficas, onde após a revelação dos filmes, a avaliação é
manual;
Dispositivos eletrónicos com avaliação manual - sistema de vídeo onde uma
camada sensível à luz capta a imagem que é transformada em impulsos elétricos,
sendo as suas coordenadas armazenadas numa placa ou fita magnética;
Dispositivos eletrónicos com avaliação automática - sistema ótico-eletrónico
onde as coordenadas das imagens são identificadas e digitalizadas
automaticamente, havendo imediata obtenção das coordenadas desejadas.
3.2 DINAMOMETRIA
A dinamometria abrange todos os tipos de medidas de força e pressão.
As forças mensuráveis são as forças externas, transmitidas entre o corpo e o ambiente.
Um exemplo de particular interesse é a força de reação do solo transmitida na fase de
apoio em atividades quase estáticas ou dinâmicas. Simultaneamente com a constante
peso corporal, essa força de reação do solo é, comummente, a causa de qualquer
alteração do movimento do centro de gravidade.
O instrumento básico em dinamometria é a plataforma de força, que mede a força de
reação do solo e o ponto de aplicação desta força.
Assim, através da dinamometria mede-se a ação deformadora da força sobre os corpos,
via um método direto que permite a determinação das forças externas, as quais
constituirão dados obrigatórios ao cálculo das forças internas, entre elas a força
muscular, a força ligamentar e as forças articulares.
3.3 ANTROPOMETRIA
Este método de medição serve para determinar as características e propriedades do
aparelho locomotor, tais como as dimensões das formas geométricas de segmentos, a
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distribuição de massa, os braços de alavanca e as posições articulares, o que permite
definir um modelo antropométrico, que contém os parâmetros necessários para a
construção de um modelo biomecânico da estrutura analisada. Algumas variáveis
podem ser calculadas, entre elas, como por exemplo:
Propriedades do biomaterial - resistência dos componentes do aparelho
locomotor, elasticidade, deformação e limite de rutura;
Propriedades cinéticas - momento de inércia de segmentos corporais;
Centro de rotação articular, origem e inserção muscular, comprimento e área de
secção transversa muscular, braços de alavanca da musculatura.
A maioria destas variáveis é determinada a partir de estudos cadavéricos. Os métodos
analíticos são os mais utilizados, sendo caracterizados por modelos do corpo baseados
em dados antropométricos do indivíduo. Face a isto, a medida é direta, feita ao vivo.
Assim, os métodos analítico-matemáticos realizam reduções em função do modelo
físico-matemático, bem como aproximações estatísticas que permitem interpretações
dos dados de forma relativamente precisa.
3.4 ELETROMIOGRAFIA
A Eletromiografia, que nada mais é que o registo das atividades elétricas ligadas às
contrações musculares.
Este método é divergente dos métodos acima indicados, dado que não determina
propriedades mecânicas, mas indica o estímulo neural para o sistema muscular.
Como um parâmetro de controlo, a eletromiografia é deveras importante para a
modelagem do sistema dinâmico neuro-músculo-esquelético. Através deste método
determina-se de maneira direta a atividade muscular voluntária por via do potencial de
ação muscular. A enervação muscular transmite os potenciais, cuja atividade elétrica
média pode ser detetada por elétrodos. Estes são colocados na superfície da pele
sobreposta ao músculo, e daí observa-se o início e o fim da ação muscular em
movimentos e posturas, ou seja, o padrão temporal dessa enervação/ativação.
Esses sinais recolhidos podem ser influenciados pela velocidade de encurtamento e
alongamento muscular, pelo grau de tensão, fadiga e atividade reflexa, entre outros
fatores. Depois destes sinais eletromiográficos serem amplificados, podem ser
processados para comparação com outros sinais eletrofisiológicos ou grandezas
biomecânicas.
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4. PONDERAÇÕES SOBRE MODELOS NA
DETERMINAÇÃO DE FORÇAS
INTERNAS[4]
Existem duas abordagens possíveis para a determinação das forças internas: direta e
indireta. A abordagem indireta é particularmente difícil pois implica a colocação de
transdutores dentro do corpo humano para desempenhar tal tarefa. Consequentemente,
são poucos os estudos neste campo, e tratam basicamente de inserção de transdutores de
força diretamente no tecido biológico em seres humanos, ou de transdutores em
endopróteses e órteses, que são então utilizadas pelo indivíduo.
Os transdutores são colocados em estruturas como tendões, limitando-se a medir a força
nesta estrutura. Com o desenvolvimento de transdutores mais compactos, estas medidas
diretas têm vindo a tornar-se menos traumáticas, mas ainda assim são aplicáveis apenas
em casos específicos. Outro problema é que para a calibração do transdutor são
empregadas medidas indiretas, semelhantes às dos procedimentos analíticos indiretos.
Assim, se o procedimento indireto é adequado para a calibração, este pode ser utilizado
noutras situações e o método invasivopoderia ser evitado. A instalação de transdutores
em endopróteses e em órteses, substituindo um ou mais segmentos amputados, tem
permitido a medição direta de forças nestas estruturas, mas limitam-se a casos que
reportam patologias específicas. Portanto, a determinação das forças internas deve ser
efetuada indiretamente, por meio de modelos mecânicos do corpo e medidas
sincronizadas das variáveis biomecânicas externas.
Numerosas técnicas analíticas e experimentais têm sido desenvolvidas para
determinação indireta de forças internas. Analiticamente, a determinação de forças
internas abrange duas etapas:
A determinação de forças e momentos intersegmentares nas articulações,
baseada nos dados cinemáticos e cinéticos (problema de dinâmica inversa);
A distribuição das forças e momentos intersegmentares entre os músculos e as
forças de vínculo articulares.
Criar um modelo mecânico representativo do corpo humano, para o estudo de
parâmetros internos, é extremamente complexo. Por isso, o modelo utilizado é
simplificado, podendo desta forma comprometer a exatidão ou resolução de parâmetros
da mecânica.
O aperfeiçoamento de técnicas, a modernização das mesmas e a computação têm
proporcionado análises e modelamentos mais completos ao nível da quantificação do
movimento humano. No entanto, a biomecânica é ainda uma ciência fenomenológica,
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restrita à descrição do movimento observado e forças envolvidas, diferindo, por isso das
ciências exatas.
No que diz respeito aos critérios de avaliação dentro dos processos de medição em
biomecânica, podemos distinguir os de medida livre de efeito retroativo e precisão da
medida. A medição direta dos parâmetros de movimento descritos e analisados é muito
circunscrita devido à complexa estrutura biológica do corpo humano, à técnica dinâmica
do movimento e às possibilidades técnicas dos mecanismos de medição. Por estes
fundamentos, a grande maioria das determinações baseiam-se em modelos físico-
matemáticos que dão prior a medidas indiretas. Assim sendo, a formulação de modelos
físico-matemáticos é uma das principais tarefas da biomecânica.
O desenvolvimento de modelos para a análise do movimento, particularmente da
sobrecarga articular nos movimentos, exigem uma adaptação do sistema anatómico
através de pesquisas comparativas. Isto requer uma análise atenta aos dados e
informações adquiridos através dos vários processos de medição que podem influenciar
o rendimento dos modelos nos testes solicitados. Por isso é preciso modelos mais
realísticos, em relação ao movimento humano, para que as equações do movimento
entrem em concordância com os modelos utilizados.
As pesquisas em biomecânica ainda não podem formar padrões que guiem futuros
estudos e os modelos utilizados para a formação de teorias que explicam o movimento
são incompletos. Entretanto, com o rápido desenvolvimento da ciência e da tecnologia,
em particular na microeletrónica, encontramo-nos numa situação onde estão sempre a
surgir novas possibilidades e opções de procedimentos na elaboração e operação de
dados, que estão a ser utilizadas na biomecânica, cooperando assim para o progresso,
modernização e automatização na análise científica do movimento humano.
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5. Desempenho de dispositivos implantáveis[4]
Existem diversas áreas que estão estritamente ligadas ao uso de implantes, entre elas a
medicina ortopédica, nomeadamente ao nível da correção de deformidades dos
membros, fratura e substituição articular, também conhecida como artroplastia.
O processo utilizado nos implantes consiste na redução aberta e fixação interna das
fraturas. Tendo uma função central, os implantes restauram a função articular, através
da artroplastia parcial ou total. Estes dispositivos transmitem cargas entre estruturas
biológicas adjacentes, permitindo, assim, um mínimo de micro movimentos entre elas.
Para além desta propriedade, alguns implantes proporcionam o controlo dos
movimentos entre as estruturas, como por exemplo o sistema de fixação externa para
alongamento dos ossos. Tratando-se de implantes para substituição articular, tais como
próteses parciais e totais, estes têm como função permitir grandes amplitudes de
movimento em espaços bem definidos. Face a isto, estes dispositivos necessitam de ser
fixos, sendo que o método e o tipo de fixação dependem do objetivo do implante.
Em vista a um aperfeiçoamento da fixação é fulcral um conhecimento das interações
que cooperam na estabilização entre o implante e o osso.
Relativamente aos implantes de substituição articular, existem dois métodos para
incorporá-los ao osso. Um deles envolve a utilização de um polímero de auto cura,
regularmente denominado de cimento ósseo, o qual é colocado entre a superfície do
implante e a superfície do osso adjacente. Assim sendo, este processo designa-se por
fixação cimentada. O outro processo recorre a superfícies do dispositivo que permitem o
crescimento do osso, sendo chamado de fixação “press-fit”, isto é, por compressão. O
cimento ósseo tem como vantagem o facto de possibilitar a aplicação de carga sobre o
implante vinte e quatro horas após a cirurgia, sendo, portanto, possível uma acelerada
recuperação. No caso da fixação “press-fit”, o implante está em contacto direto com o
osso, sendo comprimido contra este, com ou sem ajuda de parafusos e outros
dispositivos durante a cirurgia. Um bom material para estes implantes são as ligas de
titânio (pois são bem toleradas pelo organismo e bastante resistentes), as quais podem
ser melhoradas com revestimentos na sua superfície.
Uma boa longevidade de fixação depende de vários fatores:
O desenho do implante, pois vai influenciar os níveis de tensão, os micro
movimentos e a remodelação óssea;
O acabamento superficial do implante, que determina a resistência da ligação do
cimento ósseo ao implante e a geração de partículas de desgaste;
As propriedades da interface, dado que a transferência de carga entre o implante
e o osso pode ser obtida através do cimento ósseo;
O tipo de cimento ósseo e o seu nível de viscosidade, visto que podem alterar as
características da interface.
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É, por isto, imprescindível, que a estrutura implantável seja projetada cuidadosamente,
já que o tecido ósseo adjacente a esta não pode ser sujeito a cargas nem muito elevadas
nem muito reduzidas, com o risco de originar uma reabsorção óssea ou fraturas. A sua
geometria e características superficiais devem proporcionar uma estabilidade na
interface de ligação com o osso.
Podemos efetuar uma distinção entre dois tipos de implantes, baseando-a nos
mecanismos de transferência de carga entre os seus componentes e as interfaces
biológicas:
Implantes de repartição de carga Verifica-se uma repartição de carga por
ambas as estruturas - o implante e o osso. Alguns exemplos destes dispositivos
são as placas de osteossíntese, as cavilhas intramedulares e a haste femoral da
prótese da anca.
Implantes de transferência de carga Toda a carga aplicada no implante é
transferida para a superfície de contacto com o osso, sendo que a distribuição da
força de contacto depende da geometria e rigidez das estruturas biológicas e
mecânicas. Um exemplo destes são os implantes unicondilares do joelho.
O controlo da repartição e transferência de carga do implante são fatores indispensáveis
na criação do projeto do implante pelo engenheiro, e a conjetura das consequências
biológicas da sua utilização é parte integrante da gestão clínica por parte do médico.
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6. Introdução ao método dos elementos finitos em
biomecânica[4]
O método dos elementos finitos é utilizado para o estudo da repartição de carga na
fixação da fratura e na substituição articular. Utiliza os conceitos de equilíbrio de forças
e momentos, juntamente com o comportamento dos materiais a nível das suas relações
tensão – deformação. Evita a controvérsia que implica a experimentação animal, outro
método de recurso, bem como os custos a esta agregados. Permite também a avaliação
de parâmetros inatingíveis através da experimentação laboratorial ou animal. Consiste
numa técnica numérica computacional, primeiramente desenvolvido em vista à
obtenção do estado de tensão - deformação em problemas complexos de diferentes
estruturas.
O método em questão é um método aproximativo, onde a estrutura complexa é
decomposta numa malha de elementos de forma regular. Cada um destes elementos é
definido por vários nós, sendo que os elementos discretos da estrutura são interligados
entre si por estes, onde cada um deles define um campo de deslocamento ou
temperaturas.
Esta metodologia possibilita o estabelecimento do estado de tensão e deformação dos
tecidos, relacionando-o com processos biológicos de crescimento ósseo, remodelação e
tratamento de fraturas e permitindo, ainda, testar e otimizar o desempenho, a curto e
longo prazo, de dispositivos ortopédicos, tais como próteses para articulações e
fixadores internos e externos de fraturas. De um ponto de vista mais atual, os modelos
de elementos finitos são gerados a partir de imagens computorizadas do esqueleto
humano, combinando-as com sistemas de cirurgia assistidos por computador.
Para gerar um modelo biomecânico através do método dos elementos finitos, são
necessários os seguintes passos:
1. Reconstrução da geometria A génese da geometria do modelo a investigar
pode ser executada através da modelagem das distintas estruturas por um
sistema manual ou através de sistemas automáticos a partir da digitalização
tridimensional de imagens médicas de tomografia axial computorizada (TAC)
ou ressonância magnética (MRI);
2. Geração da malha de elementos e sua formulação Consiste na exportação da
estrutura para um pré-processador e divisão da mesma em pequenos elementos
de configuração geométrica simples ligados por pontos particulares, os nós. Os
elementos são expressões matemáticas que descrevem os deslocamentos no
interior de cada elemento, a partir dos graus de liberdade nos nós. O agregado de
elementos que coordenam a estrutura constitui uma malha de elementos finitos.
As tensões e deformações nos elementos são estabelecidas através de relações
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entre as forças aplicadas aos elementos da estrutura e os deslocamentos nos nós.
Existem sempre erros associados quer à geração da malha quer à formulação dos
elementos, que derivam de erros de arredondamento, iterativos devidos à não
linearidade das equações e erros resultantes da resolução de sistemas de
equações algébricas com métodos aproximativos;
3. Definir os materiais, o contacto e as condições de fronteira Os materiais que
constituem a estrutura têm de ser qualificados através de um conjunto de
parâmetros que são imprescindíveis para criar a relação entre as deformações e
as tensões. Além das propriedades dos materiais, é fundamental expor as
condições de fronteira da estrutura, isto é, as forças, as velocidades, as
acelerações, o deslocamento ou as temperaturas a que a estrutura está submetida.
Numa estrutura organizada por vários componentes, tais como osso, implante,
cimento ósseo e polietileno, torna-se essencial parametrizar as circunstâncias de
contacto entre as superfícies dos diferentes acessórios. Estas condições
dependem dos materiais em contacto, assim como dos seus estados de
superfície;
4. Resolver as equações da matriz de rigidez e visualizar os resultados a matriz
de rigidez expressa a malha de elementos e as propriedades dos materiais do
modelo de elementos finitos. As condições de fronteira são indicadas através da
força e do deslocamento. Mesmo para modelos simples, a matriz de rigidez
torna-se extensa. A solução das equações é efetuada por operações matemáticas
simples, mas o seu alto número faz com que seja inexequível tratá-las
manualmente sem equívoco, sendo, por isto, os computadores um bom recurso.
A solução obtida deve ser disposta segundo tabelas, gráficos e curvas de
contorno, de forma a ser corretamente interpretada.
5. Comparação dos resultados da simulação com o método dos elementos finitos
com resultados experimentais o confronto com outros resultados alcançados
experimentalmente ou através de soluções exatas aumenta substancialmente o
nível de confiança nos resultados obtidos com o método dos elementos finitos.
No caso de um processo de remodelação óssea, podemos utilizar imagens
médicas de tomografia axial computorizada (TAC), ressonância magnética ou
exames de densitometria óssea específicos para comparar com os resultados
obtidos na simulação.
O método dos elementos finitos envolve a transformação de um modelo físico
num modelo numérico descrito por nós bem como elementos e condições de fronteira.
Os nós comuns servem para os elementos comunicarem entre si. Face a isto, este
método é um instrumento de predição do comportamento de estruturas biomecânicas e,
sempre que possível, os resultados que dele advêm devem ser confrontados com os
alcançados em modelos experimentais.
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7. Repartição de carga[4]
O conceito de repartição de carga é a base da compreensão dos implantes tipo placas,
cavilhas e hastes. Os métodos utilizados para estudar este tema são os modelos animais,
modelos “in vitro”, técnicas analíticas fundamentadas na mecânica de meios contínuos e
o método dos elementos finitos referido anteriormente. A utilização de um modelo
experimental para a avaliação deste conceito num implante nem sempre é possível, e as
técnicas analíticas revelam-se, muitas vezes, insuficientes para representar o problema
em causa. Face a isto, o método mais plausível é o método dos elementos finitos, quer
na conceção, quer no estudo das consequências dos implantes nas estruturas músculo-
esqueléticas.
No que toca à repartição da carga em flexão, podemos concluir que esta implica que
uma parte significativa do momento da flexão seja transferida pelo implante, estando
este facto relacionado com a rigidez da flexão e esta, por sua vez, dependente da
elasticidade do material e do momento de inércia da secção da haste. No entanto, a
repartição de carga e a distribuição da tensão/deformação no osso diminui, a sua rigidez
baixa e verifica-se uma alteração da repartição da carga, o que vai originar uma
modificação dos níveis de tensão na haste. Por isso, este método é usado na aplicação de
implantes.
8. Transferências de carga[4]
Com o propósito de substituição das superfícies articulares com próteses, recorreu-se à
criação de um novo mecanismo de transferência de carga que tem por base a
transmissão de cargas articulares entre o implante e o osso. Este novo método difere do
seu antecedente, na medida em que os anteriores se baseavam ao nível da diáfise do
osso como hastes ou placas. O novo tipo de implantes e todos os seus constituintes
caracterizam-se por apresentarem extensas áreas de contacto e também pelo facto de
possuírem sistemas suplementares de fixação como pegas ou parafusos. Estes
dispositivos geralmente recebem a carga articular e transferem-na para o osso esponjoso
que lhe serve de apoio.
Na análise dos mecanismos de transferência de cargas, é necessário ter em conta:
A superfície de contacto com o osso poderá ser outra estrutura do próprio
implante;
As cargas impostas, assim como as forças geradas na interface com o osso
podem deformar o implante, principalmente em implantes de ligeira estrutura;
É obrigatório que o implante desenvolva uma estável interface com o osso de
modo a uma correta distribuição de carga;
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A distribuição de carga e as tensões geradas pelos implantes de transferência de carga
dependem não só da estrutura das superfícies de contacto mas também do módulo de
elasticidade das mesmas. Para implantes com baixa elasticidade ou que as suas
superfícies de contacto apresentam grandes diferenças no módulo de elasticidade, a
espessura do componente influencia a distribuição da carga na superfície.
O desgaste dos componentes em contacto articular tem sido considerado como uma das
maiores limitações da longevidade dos implantes, sendo que, geometrias de contacto
distintas estão associadas a diferentes tensões provocando um maior ou menor desgaste
dependendo da superfície e geometria de contacto do implante. Para que esse desgaste
não seja tão acentuado, torna-se necessário que todos os meios que contribuem para um
aumento significativo de tensões sejam analisados com elevado detalhe principalmente
os casos extremos de estabilidade da articulação, sendo estas analises um dos maiores
desafios para os engenheiros e médicos. Na verdade, a geometria de contacto deve
apresentar não só as necessidades de mobilidade da articulação, mas também assegurar
os valores de tensão nos seus componentes, de modo a não colocar em risco a sua
longevidade.
As deformações e desgastes sofridos pelos implantes devido à ação de cargas aplicadas
às superfícies articulares influenciam, em grande parte, o mecanismo de transferência de
carga entre o implante e o osso que lhe serve de suporte, deixando mesmo de haver
transferência de carga nos casos em que ocorre a sua separação. Por outro lado, uma má
distribuição de carga na superfície de contacto poderá levar à formação de elevadas
tensões de corte, constituindo um elevado risco devido à baixa resistência do osso ao
corte.
De modo a diminuir os efeitos negativos associados ao implante de transferência de
carga podemos assim determinar e inserir uma quantidade suficiente de espessura e
comprimento do implante de tal modo que a transferência de carga seja realizada o mais
uniformemente possível. Também este método evita grandes zonas de separação,
cobrindo o máximo da superfície do osso prevenindo assim possíveis alterações
abruptas de carga. Um novo método bastante utilizado na ligação entre o implante e o
osso é a aplicação de uma estrutura mista de polietileno e metal.
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9. Caso de Estudo
“A Hanseníase é uma doença infeciosa que atinge a pele e os nervos dos braços, mãos,
pernas, pés, rosto, orelhas, olhos e nariz. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos
sintomas é longo. Pode variar de 2 a até mais de 10 anos. A hanseníase pode causar
deformidades físicas, que podem ser evitadas com o diagnóstico no início da doença e o
tratamento imediato.” [5]
Figura 2 – A Hanseníase [6]
A hanseníase constitui um grande problema para os pacientes devido ao forte poder
incapacitante numa faixa etária jovem, quando não controlada.
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Isto compromete os nervos periféricos. Entre os nervos afetados encontram-se os que
colaboram na marcha do paciente.No membro inferior dois nervos que possivelmente
afetados, o tibial (nível do túnel do tarso) e o fibular comum (ver figura 3), causam a
perda da sensibilidade protetora e desequilíbrio muscular.
Figura 3 – Nervos no membro inferior [7]
O que provoca o aumento do risco de úlcera plantar. Estudos feitos em vários países
mostram que a frequência da úlcera plantar em pacientes de hanseníase varia entre 20%
à 70%. Tais úlceras podem persistir após a alta, requerendo acompanhamento contínuo,
o qual se estende desde o tratamento quimioterápico, autocuidados, uso de palmilhas até
à confeção de calçado adequados.É nesta altura que a biomecânica oferece os seus
conhecimentos e técnicas deavaliação que permitem a indicação, confeção de palmilhas
e calçado adequado ao dano detetado e acompanhar e facilitar a recuperação.As técnicas
descritas são de baixa e média complexidades e não requerem materiais ou
equipamentos elaborados.
“O pé é uma unidade complexa, com a funcionalidade de suportar o peso corporal na
posição vertical, ou seja,“de pé” (bipedestação), durante a marcha e também na sua
adaptação ao terreno.Em condições normais um pé deve ter: equilíbrio muscular,
alinhamento (ante-pé paralelo com oretropé), dedos estendidos e móveis, sem dor
espontânea, distribuição adequada das forças naplanta do pé durante a marcha e na
posição de pé.” [8]
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10. ANATOMIA
“O pé é constituído por duas faces: dorsal e plantar, como também dois bordos: lateral e
medial (Figura 4).”
Figura 4 – Faces do pé [8]
10.1 Pele
“A pele exerce um papel de relevo na comunicação social, é o maior órgão do corpo
humano erepresenta 15% do peso corporal.” É composta por 3 camadas: epiderme,
derme e hipoderme(tecido subcutâneo). Algumas funções importantes da pele são:
proteção da penetração de microrganismos como órgão imunitário, proteção dos
traumas provocados pelas forças biomecânicas, regulação térmica, proteção da
desidratação, sensibilidade e metabólica.
O corpo humano tem como pele mais grossa e resistente a da planta do pé.
Comparativamente, à pele da pálpebra que tem 0,5mm de espessura, a da planta tem já
uma espessura de 4 a 5 mm, porém é bastante sensível, flexível, vascularizada e
resistente.
A camada de tecido adiposo (gordura) que reveste a planta do pé tem uma importante
função amortecedora para proteger as estruturas mais profundas, a qual lhe confere uma
granderesistência frente às forças verticais de pressão, horizontal de tração, rotação e
fricção, tanto naposição “de pé” (estático) como caminhando (dinâmico).
Figura 5 – Estruturas do pé [9]
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10.2 Ossos
Figura 6 – Ossos da perna. [10]
Figura 7 - Ossos do pé. [11]
O tornozelo e o pé recebem o peso do corpo durante a movimentação, e como tal, os
mesmos possuem uma estrutura complexa e pronta para o desempenho desta função, a
qual exige flexibilidade e momentos de rigidez.
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A perna é composta por dois ossos: a fíbula e a tíbia. “A fíbula é o osso lateral que na
sua extremidade inferior tem uma proeminência chamada maléolo lateral. A tíbia é o
osso medial que na sua extremidade inferior tem uma proeminência chamada maléolo
medial.
O pé é formado por 26 ossos e dividido em 3 segmentos: Retro-pé, Médio-pé, e Ante-pé
(tabela 1).”
Tabela 1 – Ossos do pé por segmento e função [8]
10.3 Articulações
Quando se tem dois ou mais ossos que se mantêm ligados nas suas extremidades pela
ação de ligamentos e de uma cápsula articular a qual controla a amplitude dos
movimentos, chama -se à junção, articulação ou junta. As principais articulações dos
pés são as seguintes: tornozelo (tibio-társica), sub-talar (talo-calcâneo), talo navicular,
calcâneo-cubóide, metatarso-falângicas e inter-falângicas (Figura 8).
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Figura 8 – Articulações do pé [8]
10.4 Músculos
O músculo põe o corpo em movimento, sendo um corpo fibroso e capacitado de
contrair, como também de relaxar.
Os músculos que atuam no pé são extrínsecos e intrínsecos:
• Extrínsecos - músculos de maior proporção como também mais fortes que começam
fora do pé e agemno pé. São responsáveis pelos movimentos de dorsiflexão, flexão
plantar, eversão,inversão, flexão e extensão dos dedos. Aquando a hanseníase, são mais
comprometidosos que fazem os movimentos de extensão do hálux, dorsiflexão e
eversão, que se localizam na face lateral e anterior da perna.
• Intrínsecos – mantêm a estabilidade e dão forma ao pé, entrando na sua arquitetura,
são também de pequenas dimensões e começam e terminam no pé. Contribui com
osmovimentos dos dedos, evitando o aparecimento da garra.
10.5 Nervos
Os nervos são fibras agrupadas que transmitem estímulos elétricos da periferia para o
cérebroe do cérebro para as diferentes partes do corpo, funcionando como uma rede
elétrica, que que coordenam o funcionamento do corpo. Existem três tipos diferentes de
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fibras, as autonómicas, sensitivas e motoras. No exemplo da hanseníase, esta
compromete o sistema nervoso periférico.
Os estímulos centrais são conduzidos pelas autonómicas (medula espinhal e
cérebro)para a periferia (pele), estimulando os vasos e glândulas sudoríparas (suor) e
sebáceas(oleosidade), responsáveis pela hidratação e lubrificação da pele.
Nota: As fibras autonómicas desempenham o papel importante de controlar a
circulaçãomicrovascular, o qual não fica comprometido na hanseníase.Já as fibras
sensitivas realizam o inverso, isto é, transportam os estímulos da periferia (pele) ao
centro (medula espinhal e cérebro). Estes estímulos ajudam-nos na receção de sensações
como a do calor, frio, tato, pressão, dor, posição do corpo e dos movimentos.
“Finalmente, as fibras motoras levam os estímulos do centro (cérebro e medula
espinhal) para osmúsculos (periferia) provocando a sua contração o que por sua vez,
permite a execução de movimentos.No membro inferior os nervos que têm maior
significado em relação a fisio-patogeniadas incapacidades em hanseníase são os nervos
fibular comum e tibial.” [8]
• Nervo Fibular Comum (figura 3): Bifurca-se em superficial e profundo ao nível da
cabeça da fíbula, possuindo por esta razão funções aferentes e eferentes. O seu trajeto
acompanha a artéria tibial anterior, aprofundando na membrana interóssea; passa
também pelo retináculo dos extensores e entra no dorso dopé. Responsável
pelasensibilidade no dorso do pé e pelos movimentos de extensão do hálux e dedos,
dorsiflexão eeversão do pé, pois possibilita a transmissão de impulsos para os músculos
do compartimento anterior da perna e do dorso do pé.
• Nervo Tibial (Figura 3): Desce àfíbula, passa superficialmente sob o maléolo medial e
termina no retináculo dos músculos flexores onde se divide emnervo plantar
lateralemedial.O nervo tibial dá origem aos nervos cutâneos e é responsável pela
sensibilidade plantar e pelo funcionamento da musculatura intrínseca.
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11. Estrutura
O pé tem por vezes de se comportar de maneira rígida e outras de forma flexível
conforme a situação. Os ossos do pé distribuem-se numa forma de semi-cúpula para a
região plantar, a qual por sua vez é constituída por 3 arcos: dois longitudinais e um
transverso (Figura 9).
• Arco longitudinal interno: é mais alto e estende se do calcanhar até a cabeça do
1ºmetatarsiano. É intitulado arco de movimento, por durante a marcha darmaior
elasticidade ao pé, possibilitando que o mesmo seja lançado para a frente.
• Arco longitudinal externo: é mais baixo estendendo-se do calcanhar até a cabeça do
5ºmetatarsiano. Designa-se por arco de apoio pois durante a posição bipedestrial, “de
pé”, suporta amaioria do peso do corpo.
• Arco transverso: é formado pelos ossos cuneiformes e cubóide.
Figura 9 – Arcos do pé. [8]
Anteriormente referido, a Biomecânica estuda os movimentos do corpo humano
aplicando princípios mecânicos.Estes princípios são importantes para entender a função
da perna e do pé na sustentação dopeso como alavanca, absorção de choque (impacto),
equilíbrio, e proteção.
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12. Fases da Marcha (Deambulação)
A marcha é o movimento automático e sucessivo dos membros inferiores, que
requeração combinada para realizar o deslocamento do corpo. No pé, inicia-se com o
apoio do calcanharsobre o solo, cujo peso se vai distribuindo pela borda externa do pé
até chegar à parte anterior,terminando no hálux. Repetindo-se o ciclo com o outro pé.As
fases da marcha são: calcanhar no solo (impacto), apoio médio (planta do pé e
antepé),impulso (antepé e hálux) e aceleração/desaceleração (pendular).
Durante a marcha, os pés sofrem forças de pressão, de tração, de fricção e de
torção.Essas forças alternam-se segundo a fase em que se encontra o pé. Quando o pé
tem algumproblema, essas forças que são normais, podem tornar-se destrutivas.A
pressão no pé é diferente quando se trata de um pé estático ou de um pé em
movimento.Em posição estática cada um dos pés suporta a metade do peso corporal,
que será distribuídoentre o calcanhar e as cabeças do 1º e 5º metatarsianos. No pé em
movimento, o peso corporal concentra-se e num dado momento num só pé e/ou em
áreas localizadas de ambos os pés.
13. Ortóteses do pé[8]
Ortótese é a «aparelhagem destinada a suplementar ou corrigir a alteração morfológica
de um órgão, de um membro ou segmento de membro, ou a deficiência de uma função»
[12]
14. Finalidades das Ortóteses para o pé [8]
• Diminuição da pressão excessiva na superfície plantar;
• Amortecimento do impacto;
• Diminuição da fricção durante o movimento horizontal do pé;
• Acomodar as deformidades;
• Suportar, estabilizar e limitar o movimento, quando necessário.
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15. Calçado adequado[8]
A escolha de um calçado adequado é essencial para evitar pressão nas proeminências
ósseas e assegurar um bom resultado das ortoses no calçado. Todos os calçados de uso
diário devem ser adaptados.
As seguintes características devem ser consideradas na avaliação do calçado (Figura
10):
O comprimento do calçado internamente deve ser 1cm maior que o
comprimento do calcanhar até a ponta dos dedos
A largura da parte mais larga do calçado deve ser igual à largura da cabeça do
primeiro ao quinto metatarso de modo aos dedos serem acomodados com
conforto, e a largura deve ser ajustada no calcanhar.
A profundidade deve ser ajustada de modo a acomodar as ortóteses sem apertar
o dorso dos dedos do pé.
A sola deve ser firme com pouca flexibilidade e antiderrapante, feita com um
material de espessura e densidade adequadas para evitar que objetos pontiagudos
penetrem o pé.
Se o calçado tiver salto, este deve ser baixo pois a pressão no ante-pé aumenta
proporcionalmente com o aumento da altura do salto. Uma pressão alta no ante-
pé aumenta o risco de úlceras (Tabela 2)
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Figura 10 – Características do Calçado [8]
A tabela abaixo exemplifica a distribuição da pressão causada pelo salto no ante-pé e
retro-pé:
Altura do Salto Pressão no Ante-Pé Pressão no Reto-Pé
Sem salto 43% 57%
2 cm 50% 50%
4 cm 57% 43%
6 cm 75% 25%
Tabela 2
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16. Confeção das Ortóteses e do Calçado[8]
Na confeção do calçado deve-se evitar o uso de pregos, costuras e relevos internos.
Os calçados de plásticos, uma vez que não se ajustam ao pé, devem também ser
evitados.
O calçado deve ser trocado sempre que estiver gasto ou deformado pelo uso.
Nas sandálias, a posição do calcanhar deve ser controlada por uma tira atrás
do calcanhar ou uma palmilha adaptada.
A confeção de ortóteses requer conhecimento e treino. As ortóteses devem ser
confecionadas à medida para cada paciente e calçado. As adaptações devem sempre
respeitar as curvasdo pé.
Antes do uso, é importante verificar se a adaptação está adequada e posicionada de
forma
correta no calçado. A palmilha deve ser usada inicialmente por curtos períodos de
tempo, aumentando depois gradualmente.
Os pontos essenciais para a confeção das ortóteses são:
• A avaliação biomecânica do pé.
• Identificar as áreas de pressão excessiva no pé.
• O molde da ortótese.
• A seleção dos materiais mais adequados e apropriados.
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17. Tipos de ortóteses[8]
Férula de Harris (Aparelho Dorsiflexor)
• Uso: Pé caído.
• Ação: Estabilizar a articulação do tornozelo, favorecendo os movimentos passivo de
dorsiflexão e ativo de flexão plantar do pé, permitindo que a marcha se realize o mais
próximo do normal.
Figura 11 – Férula de Harris [8]
Palmilha simples
• Uso: Pé com perda da sensibilidade protetora.
• Ação: Amortecer e distribuir melhor as forças plantares que agem no pé dinâmico.
Figura 12 - Palmilha simples [8]
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Suporte para o arco
Uso:
- Pressão e/ou úlcera nas cabeças do 1º e 2º metatarsos, hálux e borda externa
basedo 5º metatarsiano).
- Arco presente no pé sem apoio, mas ausente ou diminuído quando o paciente
fica de pé.
Se o arco do pé não existe quando o paciente está sentado, não tem indicação de suporte
para arco.
Em geral o suporte para o arco é usado associado com outras modificações.
Ação:
- Dar suporte e estabilidade para o arco longitudinal interno.
- Diminuir a pressão na cabeça dos 1º e 2º metatarsos, borda externa (base do 5º
metatarso) e polpa do hálux.
Suporte Metatársico Plantar (SMP)
Uso: Pressão nas cabeças dos metatarsos e pontas dos dedos (dedos em garra).
Ação: Diminuir a pressão na cabeça dos metatarsos, transferindo e aumentando a
área de distribuição.
Suporte para o calcanhar
Uso:
- Pressão e úlceras no calcanhar, esporão de calcâneo, tendinite dos flexores
plantares.
Ação
- Controlar a posição do calcanhar.
- Aliviar a pressão na área do calcâneo.
- Diminuir s tensão nos flexores plantares.
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Suporte para o calcanhar com Suporte Metatársico Plantar (SMP)
Uso:
- Pressão e úlceras no hálux, cabeças dos 1º, 2º e 3º metatarsos e calcanhar
evertido.
Ação
- Controlar a posição do calcanhar.
- Apoiar o arco para evitar a pronação do pé (pé chato).
- Melhorar a distribuição da pressão na área plantar.
Cunhas:
“São adaptações internas ou externas que auxiliam no alinhamento o pé, podendo ser
usadas
nas palmilhas e/ou no solado. Conforme necessidade são adaptadas no antepé e/ou
calcanhar.”
Indicação
- Cunha medial: antepé, pé invertido (varo) e/ou calcanhar evertido (valgo).
Ação
- Auxiliar o alinhamento.
Figura 13 - Cunha Medial [8]
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18.Curiosidades
Carteiras
O hábito de guardar a carteira no bolso de trás é, na verdade, prejudicial à saúde. O
problema é que guardar a carteira no bolso de trás magoa a postura e pode causar dores
graves nas costas, no pescoço e nos ombros.
De pé, o bolso de trás é um ótimo lugar para guardar a carteira. Mas sentados, pode
iniciar uma avalanche de problemas mecânicos do corpo. Quando uma das faces é maior
do que o outro você acaba torcendo a pélvis. A coluna vertebral fica desalinhada e os
ombros afundam-se, o que pode causar bastante dor.
A opção mais saudável é passar a carteira para o bolso da frente ou removê-la antes de
se sentar. A carteira deve também ser o mais fina possível, mesmo quando no bolso da
frente uma carteira menor será um benefício. [8]
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19.Conclusão
O desenvolvimento deste projeto elucidou-nos para a importância que se tem atribuído
ao progresso da biomecânica, principalmente numa perspetiva mais direcionada para a
saúde. Deste modo, é confiada na biomecânica uma esperança na resolução de certos
problemas clínicos, fundamentalmente na reabilitação e prevenção de certas patologias.
Assim, tendo em vista a prevenção e reabilitação orientadas para a saúde têm sido
desenvolvidos métodos, procedimentos e equipamentos terapêuticos. Esta crescente
interligação com a clínica faz com que que seja necessária uma constante inter-relação
com outras vertentes disciplinares, como a fisiologia, a anatomia, entre outras.
Apesar dos benefícios previamente enumerados, esta área de conhecimento apresenta
ainda algumas lacunas, podendo dar como exemplo o problema metodológico associado
à determinação das forças internas das articulações e dos músculos relacionado com os
fundamentos de controlo do movimento. Contudo, é de esperar que estas irregularidades
sejam rapidamente ultrapassadas dado o acelerado desenvolvimento da biomecânica,
com o desenvolvimento contínuo de novas tecnologias e procedimentos, procura de
novos materiais com funcionalidade biológica, adequação e génese de novos
equipamentos, entre outros.
Com a realização deste trabalho deparamo-nos com algumas limitações relativamente à
disponibilidade de informação, que de um modo geral recaía para uma vertente mais
desportiva desta temática, com referência a uma biomecânica direcionada
maioritariamente para o estudo do movimento.
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20.Referências Bibliográficas
[1] Fundamentos da biomecânica, PET EEFEUSP
URL: http://peteefeusp.com.br/arquivos_downloads/fundamentos_biomec_pet.pdf
Acedido a 24 de Setembro de 2013
[2] Introdução à biomecânica, Tiago Barbosa
URL: http://www.ipb.pt/~barbosa/biomecanica/introducao%20biomecanica.pdf
Acedido a 24 de Setembro de 2013
[3] Biomecânica do movimento
URL:http://www.google.pt/imgres?imgurl=&imgrefurl=http%3A%2F%2Frobertopeoli.blogspot
.com%2F2009%2F11%2Fanalise-dos-movimentos-
cinesiologia.html&h=0&w=0&sz=1&tbnid=O-
6qgGf3MlDFyM&tbnh=177&tbnw=285&zoom=1&docid=qIG_ugyjR61dNM&hl=pt-
PT&ei=xitMUrzUIKmr0AWu-oC4BQ&ved=0CAMQsCU
Acedido a 2 de Outubro de 2013
[4] Introdução à Biomecânica para Análise do Movimento Humano: Descrição e Aplicação dos
Métodos de Medição
URL: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/02/biomecanica-descricao-
e-aplicacao-de-metodos.pdf
Acedido a 3 de Outubro de 2013
[5] Ministério da Saúde do SESAB
URL:http://www.saude.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=164&catid
=3&Itemid=18
Acedido a 10 de Outubro de 2013
[6] Hanseníase
URL: http://www.vozdoplanalto.com.br/wp-content/uploads/2012/01/hanseniase.png
Acedido a 10 de Outubro de 2013
[7] Nervos no Membro Inferior
URL: http://spinediscdecompression.com/28522.html
Acedido a 10 de Outubro de 2013
Página - 32 -
1M2_01
[8] Manual de Adaptações de Palmilhas e Calçados, Série J. Cadernos de Reabilitação em
Hanseníase; n. 1
URL: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_cal%E7ados_final.pdf
Acedido a 5 de Outubro de 2013
[9]
URL: http://ittcs.files.wordpress.com/2010/04/img_01601.jpg
Acedido a 15 de Outubro de 2013
[10] Ossos da perna
URL: http://www.netterimages.com/image/37750.htm
Acedido a 15 de Outubro de 2013
[11] Ossos do pé
URL: http://www.netterimages.com/image/37750.htm
Acedido a 15 de Outubro de 2013
[12] Dicionário Médico, de L. Manuila, A. Manuila e outros, edição da Climepsi Editores
Acedido a 16 de Outubro de 2013