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FABÍOLA RIOS VASCONCELOS
REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS AGROECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL: A
IMPORTÂNCIA DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS
SALVADOR
2007
FABÍOLA RIOS VASCONCELOS
REFLEXÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS
AGROECOLÓGICOS NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL: A
IMPORTÂNCIA DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Monografia apresentada ao Curso de pós-graduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista. Orientador: Profª. Drª. Josanídia Santana Lima
Salvador 2007
RESUMO
Hoje em dia vive-se uma crise mundial de esgotamento de recursos
naturais, de perda da biodiversidade, diminuição da capacidade de suporte dos
ecossistemas e de dependência tecnológica de recursos fósseis. Por este
motivo, o desenvolvimento econômico não pode continuar a ser pautado pela
mística da competitividade a partir da obtenção do maior lucro possível no
menor preço cabível. Então a busca de uma alternativa energética para os
combustíveis fósseis depende de que sejam avaliadas fontes renováveis e
“limpas” produzidas pela natureza. Neste contexto, o biodiesel se enquadra
como biocombustível limpo, renovável e confiável, podendo fortalecer a
economia do país gerando mais empregos. Sendo assim, pode-se fazer uma
relação entre o biodiesel e os sistemas agroflorestais, onde os mesmos
constituem alternativas de uso da terra, visando o desenvolvimento rural
sustentável, reflexos positivos sobre a renda familiar, recuperação de áreas
degradadas, além de geração de serviços ambientais. Desta forma, para a
viabilização econômica de áreas degradadas sugere-se a utilização das
mesmas para o cultivo de oleaginosas, em consórcio com outras espécies –
uso de sistema agroflorestal – para produção de biodiesel.
Palavras-chave: Recuperação de área degradada, sistema agroflorestal,
biodiesel.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
3
2. OBJETIVOS 6
OBJETIVO GERAL 6
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
6
3. METODOLOGIA
7
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 8
4.1 BREVE HISTÓRICO DA AGRICULTURA BRASILEIRA 8
4.2 DEGRADAÇÃO DA BIODIVERSIDADE 14
4.2.1 Necessidade de recuperação de áreas degradadas 15
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA CONVENCIONAL 18
4.3.1 O sistema consumidor humano 18
4.3.2 O Funcionamento dos Sistemas Agroindustriais 19
4.3.3 A Agricultura moderna 20
4.4 ENGENHARIA ECOLÓGICA: UMA METODOLOGIA PARA A AGRICULTURA
SUSTENTÁVEL
23
4.4.1 Necessidade de tecnologias agroecológicas sustentáveis 24
4.4.2 Importância de Sistemas Agroflorestais – SAF’s 25
4.4.2.1 Algumas características dos SAF’s 28
4.4.2.2 Vantagens do uso de SAF’s 28
4.5 BIODIESEL – MAIS UMA ALTERNATIVA RENOVÁVEL 31
4.5.1 Histórico 31
4.5.2 Conceito e Características 32
4.5.3 Motivações para Produção de Biodiesel 34
4.5.3.1 Desenvolvimento do Biodiesel e Geração de Emprego 35
4.5.4 Pesquisas com o Biodiesel – Situação Brasileira
38
5. CONCLUSÃO
42
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
1. INTRODUÇÃO
No final da década de sessenta, crescem as preocupações em todo o
mundo acerca dos efeitos indesejáveis do crescimento econômico,
especialmente sobre a qualidade do meio ambiente. Dentre estes efeitos
destaca-se o mau uso da terra. A situação alimentar crítica em muitos países
em desenvolvimento, o aumento do desmatamento, a degradação ambiental, a
crise energética e a escassez de fertilizantes levaram os países a repensar
uma nova ordem de crescimento (VARELLA L.B., 2003), o chamado
desenvolvimento sustentável.
O uso responsável da biodiversidade é fundamental na definição de
políticas direcionadas para o desenvolvimento sustentável. Isto se deve à forte
dependência entre o crescimento econômico e a conservação e uso da
biodiversidade (VIANA et al., 1998).
Sendo assim, apesar do Brasil possuir a maior diversidade biológica do
planeta, o padrão de uso dessa biodiversidade tem sido extremamente
predatório. A chamada “modernização” da agricultura brasileira tem levado à
perda de cultivares locais e à eliminação de sistemas tradicionais de produção
agrícola, e até conversão dos ecossistemas naturais em áreas para
monoculturas agrícolas e pastagens (VIANA et al., 1998). As práticas de
monocultivos em áreas extensas, dependentes de pesada mecanização e
fertilização química, desequilibraram de tal forma os ambientes naturais, que a
necessidade de agrotóxicos foi apenas uma conseqüência da intensificação da
produção agrícola (BAGGIO & MEDRADO, 2003). Na tentativa de reverter este
cenário, buscam-se práticas agroecológicas modernas que, desenvolvidas por
diferentes linhas de pesquisa, apresentem-se como alternativas para
fundamentar um novo paradigma, baseado no desenvolvimento sustentável,
com custos sociais, econômicos e ambientais mínimos.
Os sistemas agroflorestais, pela aproximação aos ecossistemas naturais
em estrutura e diversidade, representam um grande potencial para
recuperação de áreas e ecossistemas degradados e têm papel de destaque
como alternativa para o desenvolvimento rural sustentável, principalmente por
transformar atividades de produção degradantes em regenerativas (VIANA et
al.1997).
Diante da preocupação que engloba desde áreas ocupadas com
monocultivos em sistemas produtivos latifundiários até pequenas propriedades,
a recuperação de áreas degradadas sugere a necessidade de práticas
conservacionistas de manejo. Estas práticas, para serem amplamente
aplicadas, devem apresentar baixo custo, promover a recuperação da área
empobrecida e conservação da biodiversidade, além de serem adequadas às
características sócio-culturais locais (DURIGAN 1999).
Nota-se ainda a importância deste trabalho pelo panorama energético
brasileiro atual. A busca de alternativas energéticas para os combustíveis
fósseis depende de que sejam avaliadas fontes renováveis e “limpas”
produzidas pela própria natureza. O importante é definir uma tecnologia
apropriada e qual matéria-prima utilizar para a geração de energia com o
mínimo ou até mesmo sem prejuízos para o meio ambiente, atualmente
prejudicado pelas diversas fontes geradoras e transformadoras de energia, que
entre outras conseqüências aumentam a concentração dos Gases do Efeito
Estufa (GEE) liberados pela queima de combustíveis fósseis, queimadas e
decomposição da matéria orgânica, provocando cada vez mais, o aumento do
aquecimento global, trazendo sérios prejuízos para a humanidade (BARROS,
2005).
O biodiesel vem sendo considerado como biocombustível limpo,
renovável e confiável, podendo fortalecer a economia do país gerando mais
empregos, além de agregar valores às oleaginosas, abrindo assim novo
mercado para estas culturas (BIODIESELBRASIL, 2005).
Desta forma, para a recuperação de áreas degradadas sugere-se o
cultivo de oleaginosas, em consórcio com outras espécies – uso de sistema
agroflorestal – para produção de biodiesel. Sendo uma fonte limpa e renovável
de energia, as oleaginosas podem ser produzidas com baixo custo, até mesmo
em áreas consideradas pouco produtivas, com possibilidade de geração de
emprego e renda no campo, pois o país abriga o maior território tropical do
planeta e é a nação mais rica de água doce do mundo, com clima e tecnologia
que permitem a produção de mais de uma safra por ano. Sendo assim, não são
poucas as motivações para o cultivo de variedades para a produção de
biodiesel em áreas degradadas, já que áreas empobrecidas são
comprovadamente recuperadas através da implantação de Sistemas
Agroflorestais – SAF’s –e ao mesmo tempo produz uma alternativa energética
com muitos benefícios ambientais, sociais e econômicos.
2. OBJETIVOS
2.1. GERAL
Levantar informações sobre o funcionamento de Sistemas Agroflorestais
como alternativa de manejo para recuperação de áreas degradadas de forma a
viabilizar sua aplicação econômica e social no cultivo de variedades para
produção de biodiesel, contribuindo para atender aos propósitos da agricultura
familiar.
2.2. ESPECÍFICOS:
a) Levantar benefícios resultantes da utilização de Sistemas
Agroflorestais .através de revisão de literatura;
b) Analisar as vantagens e desvantagens econômicas, sociais e
ambientais do sistema agrícola convencional, em comparação com o sistema
agroflorestal, praticado atualmente para o cultivo de variedades para produção
de biodiesel.
3. METODOLOGIA
A elaboração deste trabalho de conclusão de curso fundamentou-se na
revisão bibliográfica com coleta de dados e posterior seleção do material
indispensável para sua realização. Os referidos dados foram obtidos através de
pesquisas bibliográficas em livros de texto, artigos científicos, periódicos, anais
de congressos e referências eletrônicas. As informações selecionadas foram
submetidas a processos de fichamentos e resenhas. Foram utilizadas as
diretrizes da ABNT 2006 (Associação Brasileira de Normas Técnicas) na
formatação final do trabalho monográfico.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1. BREVE HISTÓRICO DA AGRICULTURA BRASILEIRA
A Agricultura como forma de aperfeiçoar a produção local remete aos
primórdios da antiga África, já na pré-história. Em torno de 12000 A.C. surgem
as primeiras formas de agricultura, visando manter a produção local de forma
contínua e garantindo a consorciação com a criação de animais, através da
pecuária, por meio da domesticação dos animais. Aldeias garantiam a criação
de determinadas espécies herbívoras por meio do pastoreio extensivo em
pequenos nichos agrícolas. Essas aldeias praticavam a agricultura de forma
rudimentar, contudo já utilizando ferramentas agrícolas, esterco animal e
seleção de sementes, visando otimizar a sua produção, muitos conhecimentos
empíricos praticados na agricultura “primitiva” ainda são utilizados por
comunidades tradicionais até hoje.
O fogo também era usado para limpeza de área em criação de pastos e
com isso as foi surgindo as pequenas vilas com o surgimento posterior das
cidades.
O surgimento da agricultura no Brasil remete à chegada dos
portugueses, onde os povos indígenas, que viviam no litoral, alimentavam-se
de caças e de pesca marinha, abundantes na costa brasileira; além disso,
consumiam diversas raízes como mandioca, cará e etc, alem de praticar a caça
em áreas mais ao interior das matas. Com a chegada dos colonizadores
europeus no século XVI, começa a devastação das vegetações litorâneas
brasileiras, quando se deu início a exportação do pau-brasil e de outras
culturas como a cana-de-açúcar, pecuária extensiva, passando pelos ciclos do
ouro, até a exploração do café. Toda a economia girava em torno de uma
agricultura de exportação.
Com o crescimento populacional e o empobrecimento dos solos,
decorrente de monocultivo, intenso inúmeros problemas apareceram, dentre os
quais a falta de alimento. Por volta dos séculos XVII e XIX, intensifica-se a
adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras capim e
leguminosas, visando fixar nitrogênio no solos pro parte destas últimas, além
de uma pecuária mais integrada com a agricultura. Esta fase foi denominada
como a: Primeira Revolução Agrícola. No final do século XIX e início do
século XX, começa a intensa escassez de alimentos na Europa, levando a
necessidade de uma dedicação mais cuidadosa nos âmbitos da ciências e
tecnologias agrícolas, surge o advento dos fertilizantes químicos,
melhoramento genético, máquinas e motores à combustão, específicas para
colheitas de grandes culturas. Esta resolução agrícola leva ao abandono das
antigas práticas agrícolas e de pecuária. Iniciava-se então a Agricultura
Industrial (AI), Agricultura Convencional ou Agricultura Química. Surge a
Segunda Revolução Agrícola.
No Brasil a agricultura acompanhava, de certa forma, aos avanços
alcançados na Europa em meados do século XVIII e no século XIX,
impulsionado pelo crescimento das lavouras de exportação de cana-de-açúcar
e café. Por outro lado nas serras e vales do interior da província do Rio de
Janeiro, a agricultura brasileira inicia uma profunda crise, decorrente da falta de
mão-de-obra com o fim da escravidão, ocasionando atrasos técnicos e
administrativos na condução das culturas. A crença de uma agricultura
extensiva leva ao abandono das lavoras atuais já que estas não produziam
mais satisfatoriamente, fazendo com que muitos agricultores buscassem novas
áreas. Entrava-se no ciclo da cultura nômade de expropriação do solo
brasileiro.
Em medos dos séculos XVIII início do século XIX uma tradição de
intelectual brasileira, basicamente estudantes da Universidade de Coimbra,
começam a reproduzir e traduzir escritos condenando as atuais práticas de uso
do solo brasileiro. Grande parte das críticas ecológicas brasileira, se basearam
nos trabalhos de José Bonifácio de Andrada e Silva, onde, mais tarde veio a
influenciar um grupo de intelectuais defendendo suas idéias ao longo do
período monárquico. Próximo a corte de D. Pedro II existia um grupo de
intelectuais e naturalistas que dirigiam associações, cujo propósito era
defender os interesses no império, como o Instituto Geográfico Brasileiro e o
Museu Nacional. Além deles, políticos e fazendeiros na província do Rio de
Janeiro, capital da monarquia. Surgem as primeiras discussões levantando
questões de natureza ecológica.
Basicamente dois princípios norteadores permitem entender a ecologia
política do Brasil nos séculos XVIII e XIX: a modernização que se almejava
estava ligada com o progresso do mundo rural do que uma opção pelo mundo
urbano e industrial. A vocação agrícola do país era vista como uma vantagem
comparativa em termos de conquista da civilização, desde que a paisagem
rural fosse otimizada e modernizada, principalmente por meio da capacitação
da mão de obra com o uso de máquinas e instrumentos agrícolas. Em outras
palavras era uma crença calçada em princípios ecológicos.
Todas as prerrogativas levavam a uma suspensão da mão-de-obra servil
pela derrubada de árvores e queimada de pastagens, praticadas pela
agricultura extensiva e de grandes proprietários em favor de uma ordem rural
baseada no trabalho livre, na lavoura intensiva e na pequena propriedade. Uma
prerrogativa que não se perdeu totalmente a sua base, continuando a ser um
desafio da sociedade em busca de democratização da sociedade brasileira.
Segundo vários autores a agricultura moderna tem sua origem ligada às
descobertas do século XIX, a partir de estudos dos cientistas Saussure (1797-
1845), Boussingault (1802-1887) e Liebig (1803-1873), que derrubaram a teoria
do húmus, segundo a qual as plantas obtinham seu carbono a partir da matéria
orgânica do solo (De Jesus, 1985). Liebig difundiu a idéia de que o aumento da
produção agrícola seria diretamente proporcional à quantidade de substâncias
químicas incorporadas ao solo. Toda a credibilidade de autores como Liebig
deu-se ao fato de suas descobertas estarem apoiadas em comprovações
científicas. Juntamente de Jean-Baptite Boussingault, que estudou a fixação de
nitrogênio atmosférico pelas plantas leguminosas, Liebig é considerado o maior
precursor da "agroquímica".
Ainda segundo os mesmos autores as descobertas de todos estes
cientistas marcam o fim de uma longa data que antecede o século XIX, na qual
o conhecimento da agronomia era essencialmente empírico. A nova fase se
caracteriza por rápidos progressos científicos e tecnológicos. No início do
século XX, Louis Pasteur (1822-1895), Serge Winogradsky (1856-1953) e
Martinus Beijerinck(1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, dentre
outros, contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma
contraposição às teorias de Liebig, ao provarem a importância da matéria
orgânica nos processos produtivos agrícolas.
De certa forma o surgimento de novas comprovações científicas e
pontos questionáveis de Liebig, os impactos de suas descobertas haviam
extrapolado o meio científico dando fôlego para novos setores produtivo e
industriais, abrindo um amplo leque de mercado, o chamado da “fertilização
artificial”.
Com o advento de mecanismos como os agroquímicos paralelo ao uso
de agrotóxicos produzidos pela indústria, sistemas de rotação de culturas e de
integração da produção animal à vegetal passaram a ser abandonados,
passando a ser realizados separadamente. Tais fatos deram início a uma nova
fase da história da agricultura, que ficou conhecida como "Segunda
Revolução Agrícola". Paralelo ao processo de desenvolvimento de
maquinários a combustão e a seleção de produtos como sementes melhoradas
geneticamente além do aprimoramento industrial impulsionando um sensível
aumento da produção em algumas culturas.
Essa expansão da revolução verde foi rapidamente sendo impulsionada
pelo apoio de órgãos governamentais, pela criação de pesquisas nas áreas
agronômicas e pelas empresas, produtoras de insumos (sementes híbridas,
fertilizantes sintéticos e agrotóxicos); além do incentivo de organizações
Internacionais como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), a United States Agency for International Development
(USAID - Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional), a
Agência das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), dentre
outras.
Paralelo a estas inovações, o chamado "pacote tecnológico" advindo
dessa revolução verde estruturou o crédito rural, subsidiado os custeios
agrícolas e, consequentemente estruturando o ensino e a pesquisa, causada
pela extensão rural, como modelo norteador. Contudo, esse modelo de
agricultura a partir da década de 60 começava a dar sinais de fragilidade,
provocado pelo desmatamento de novas áreas e a diminuição da
biodiversidade. Como conseqüência surge problemas com erosão e perda da
fertilidade dos solos, contaminação da água, dos animais silvestres e dos
agricultores por agrotóxicos a agricultura a ser considerada como Uma
Atividade Potencialmente Impactante, decorrente principalmente desse modelo
de agricultura praticado.
Com a publicação do livro Primavera Silenciosa em 1962, Rachel
Carson questiona o atual modelo fazendo um paralelo a crescente
dependência do petróleo como matriz energética. Ao tratar do uso
indiscriminado de substâncias tóxicas na agricultura, em pouco tempo a obra
de Carson tornou-se mais do que um "best seller" nos EUA: foi também um dos
principais alicerces do pensamento ambientalista naquele país e no restante do
mundo. Logo após a publicação de Primavera Silenciosa, trabalhos como o de
Paul Ehrlich, The Population Bomb (1966) e o de Garret Hardin, Tragedy of the
Commons (1968), reforçaram a teoria malthusiana, relacionando a degradação
ambiental e a degradação dos recursos naturais ao crescimento populacional.
Mesmo com a inquietude do “mundo civilizado” a agricultura
convencional continuava avançando em países do “terceiro mundo”,
agravando-se ainda mais os danos ambientais. Em 1987 foi produzido pela
Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Relatório de
Brundtland, mais conhecido como Nosso Futuro Comum, que teve como uma
de suas principais recomendações a realização de uma comnferência mundial
para direcionar os assuntos ambientais – o que culminou na Rio-92. Nesse
relatório foi cunhada a clássica definição de desenvolvimento sustentável. Em
1989, surge no Conselho Nacional de Pesquisa (NRC) as primeiras
preocupações sobre a agricultora sustentável com a publicação do relatório
"Alternative Agriculture" um dos principais reconhecimentos da pesquisa oficial
a esta tendência da produção agrícola. Retomando, em 1992, na Conferência
Mundial da RIO 92, o conceito de sustentabilidade manifestou uma nova ordem
mundial e até hoje expressa a vontade das nações de conciliar ou reconciliar o
desenvolvimento econômico e o meio ambiente, buscando integrar a
agricultura produtiva levando em consideração princípios de sustentabilidade
aos diversos campos da economia. Hoje, contudo, a palavra sustentabilidade
transcende diversos âmbitos dos modelos sócio-político-ambiental.
Na década de 90 emerge o conceito de "selos verdes", onde a
certificação ambiental fundamenta-se no princípio da produção com uso de
técnicas que minimizem o uso de agrotóxicos e se calça em processos que não
degradem o meio ambiente. A iniciativa visa certificar e fiscalizar produtos que
sejam produzidos de forma degradatória, e esta se apoia principalmente em
organizações não governamentais. Nascem os adeptos dos produtos orgânicos
ou biodinâmicos, cujo principio se dissemina pelo consumo de produtos
saudáveis e livres de químicos agrícolas. Hoje a chamada Agroecologia ocupa
um lugar especial nas prateleiras das grandes redes de supermercados do
mundo garantindo um nicho de mercado promissor e emergente.
(http://www.planetaorganico.com.br/histor.htm).
4.2 DEGRADAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
O Brasil é o país mais rico em biodiversidade do mundo. Tem clima e
recursos que propiciam a vida em abundância. No entanto adotou um modelo
de crescimento econômico que tem provocado uma série de desequilíbrios.
Grande parte da biodiversidade brasileira tem sido extinta em função do uso de
modelos de produção equivocados. Uma das formas de produção mais limpa
que podem minimizar a erosão da biodiversidade é através de práticas
agroflorestais (BAGGIO E MEDRADO, 2003).
A expansão econômica mundial no século XX promoveu uma intensa
ocupação de áreas, causando com isso, grandes perturbações ao meio
ambiente pela intensa fragmentação de biomas (ARAKI, 2005). Inegavelmente
essa expansão e modernização da agricultura brasileira, proporcionaram
significativos aumentos da área plantada e da produtividade, mas por outro
lado, conseqüentemente vem resultando numa severa erosão da
biodiversidade (RODIGHERI, 2002).
Como em diversos países em desenvolvimento, a biodiversidade
brasileira (flora, fauna, solo e população) e os recursos econômicos decaíram
com a introdução da “Revolução Verde”, após o golpe militar de Estado. Dentro
desta lógica, a implantação da revolução verde no Brasil, na década de 60/70,
trouxe, num primeiro momento, o aumento da produtividade, notadamente nos
produtos de exportação. Este modelo (com o incremento do uso de insumos,
mecanização e monoculturas sem uma visão mais abrangente entre
produtividade e estabilidade dos ecossistemas tropicais) levou, em pouco
tempo, à degradação de grandes superfícies, muitas delas abandonadas
depois de poucos anos de cultivo (FERRAZ, 1997).
Pode-se notar que a história brasileira de uso não sustentável da
biodiversidade nativa tem representado perdas de oportunidades sociais e
econômicas para o desenvolvimento sustentável (VIANA et al., 1998). O uso
não sustentável da diversidade biológica é resultante de diversos fatores,
sendo o principal, a tecnologia de produção agrícola baseada em sistemas de
produção monoculturais.
O uso e a ocupação desordenados do solo têm ocorrido em todo o
território brasileiro, tanto para exploração agrícola, como para a expansão de
áreas urbanas e industriais e tem acarretado preocupações sobre o uso de
recursos naturais por esta e pelas gerações futuras (BARBOSA &
MANTOVANI, 2000).
Entre os principais fatores de degradação de ambientes terrestres estão:
os desmatamentos para fins de agricultura, a urbanização, as obras de
engenharia para construção de estradas, ferrovias ou represas, a mineração a
céu aberto, a exploração da vegetação, as práticas agrícolas inadequadas, tal
como o uso excessivo de produtos químicos, o uso de máquinas inadequadas,
a ausência de práticas conservacionistas do solo e as atividades industriais que
causam a poluição do solo (DIAS & GRIFFITH, 1998).
4.2.1 A Necessidade da recuperação de áreas degradadas
A recuperação de ecossistemas degradados vem recebendo importância
crescente diante do quadro cada vez mais drástico de crise ambiental e
diminuição da qualidade de vida das populações humanas e naturais. O que
hoje predomina no meio rural são grandes áreas intensamente cultivadas com
monoculturas, solo nu sofrendo intenso processo erosivo, zonas ripárias sem
vegetação provocando o assoreamento de rios, e pequenos fragmentos
florestais, isolados e permanentemente perturbados pelas atividades humanas
(AMADOR, 1999). Este modelo mostra-se hoje insustentável, com
conseqüências ambientais graves e irreversíveis, como o aquecimento global,
o esgotamento das fontes de água, a perda dos solos pela erosão e a extinção
de espécies vegetais e animais.
A transformação dos ecossistemas não pode ser considerada de modo
isolado ao contexto histórico, social, cultural, político e econômico das
populações humanas envolvidas (VIVAN, 1998). Assim, como a degradação foi
fruto de um processo histórico iniciado pelo ser humano, a recuperação
depende também de ações humanas efetivas e emergenciais. Além da
recuperação, os modelos de desenvolvimento – rural e urbano – devem buscar
novos caminhos que conciliem as atividades econômicas com a conservação
da biodiversidade e dos recursos naturais.
A necessidade de se recuperar o meio ambiente vem sendo a cada dia
uma discussão pertinente. Isto se deve à real situação na qual se encontram os
ecossistemas brasileiros.
Talvez a descontinuidade do ciclo de empobrecimento do homem, da
natureza e do planeta como um todo possa ocorrer a partir da adoção de
alternativas como os Sistemas Agroflorestais, capazes de proporcionar efeitos
sinérgicos positivos do ponto de vista físico, biológico, socioeconômico e
ambiental, em médio e longo prazos.
Na natureza, a recuperação de solos degradados pode levar muito
tempo, e sua abreviação é um dos objetivos de Sistemas Agroecológicos
(GÖTSCH, 1995). Contudo, para que realmente haja a recuperação de
ecossistemas por proprietários rurais, empresas e órgãos governamentais, o
fator econômico tem que ser levado muito em consideração, para que aspectos
financeiros não inviabilizem este processo. A conservação da biodiversidade
deve ser coordenada com a utilização de seu potencial de gerar renda, sendo
esta a melhor forma de convencer as comunidades locais e os empresários a
preservarem-na. Diante disto, os Sistemas Agroflorestais, sendo uma
tecnologia agroecológica sustentável, podem cumprir este papel inovador no
sentido de conciliar recuperação e conservação de ambientes naturais e
geração de renda. Assim, a preservação da biodiversidade associada à
produção de alimentos, por exemplo, desde que exista consciência e respeito
por ela. Práticas agrícolas antigas, que ainda subsistem em alguns locais, além
de não utilizarem insumos industriais, eram implementadas em forma de
mosaicos de pequenas parcelas, separados sempre por valas. A rotação de
culturas garantia uma produção diversificada, e com controle de pragas e
doenças (BAGGIO & MEDRADO, 2003).
Um movimento no sentido de uma “agricultura orgânica”, incluindo
produtores rurais, pesquisadores e ativistas sociais, tem sido organizado
durante os últimos vinte anos. Este movimento tem o objetivo de desenvolver e
mostrar ao público, ao governo, consumidores e produtores, novas alternativas
ecológicas e econômicas para a agricultura nos trópicos (ORTEGA E
POLIDORO, 1998).
Apesar do acúmulo de produção científica, da existência de técnicas
adequadas de manejo da terra e de leis vigentes, ainda são poucos os esforços
dos proprietários e empresas dedicados à recuperação de suas áreas e
ecossistemas degradados. A implantação e disseminação de sistemas de
manejo sustentável são limitadas pela baixa competitividade econômica desses
sistemas em relação aos sistemas convencionais de produção não-sustentável.
Vive-se um momento de transição em que a crise ambiental global leva as
pessoas a refletirem sobre suas ações e conseqüências: Começa a acontecer
uma revisão de valores que sai da cultura predatória, que busca o lucro
máximo com a exploração dos recursos naturais, antes tidos como infinitos e
inesgotáveis, levando a uma cultura de coexistência com a natureza, e não de
exploração, onde cada vez mais a sociedade exigirá dos produtores rurais
atitudes ambientalmente corretas (LUTZENBERGER,2001).
A intensificação da produção em áreas não aptas, ou acima de sua
capacidade de suporte, tem provocado erosão e contaminação dos solos e
água com agroquímicos, tornando-os cada vez mais dependentes do aporte de
energia externa ao sistema e reduzindo sua capacidade produtiva ao longo do
tempo (FERRAZ, 1997). Existem extensões significativas de áreas degradadas
e/ou em processo adiantado de degradação e empobrecidas (BAGGIO E
MEDRADO, 2003), mas com grande potencial para o cultivo de oleaginosas
para produção de biodiesel, por exemplo. Nesses casos, o produtor pode usar
suas terras pobres ou abandonadas, principalmente com a implantação de
Sistemas Agroflorestais (SAF’s), cujas práticas refletem a preocupação dos
agricultores em prol da sustentabilidade, fato aprendido com os erros
cometidos no passado. Almeida et al.(2002), por exemplo, mostra em seus
trabalhos, várias modalidades de SAF’s comerciais desenvolvidas no sul da
Bahia, envolvendo plantação de dendê, além de outras variedades. Pelo fato
do dendê se adaptar muito bem a áreas empobrecidas, a utilização desta
variedade para recompor áreas degradadas tem sido muito considerada. O
Dendê tem sido muito estudado e testado como recurso natural na produção do
biodiesel.
É consenso que para se evitar ou minimizar a perda da biodiversidade, a
atividade humana que resulta em simplificação e fragmentação tem que parar.
Assim, as práticas agroecológicas, incluindo aqui os Sistemas Agroflorestais,
surgem como alternativas reais para se reduzir as perdas de biodiversidade em
áreas ocupadas, provendo ao mesmo tempo as necessidades humanas. De
qualquer maneira, a redução da velocidade de destruição dos recursos naturais
depende da conscientização dos detentores de terras e/ou aplicação e
fiscalização das leis existentes.
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA CONVENCIONAL
4.3.1 O Sistema consumidor humano
O homem depois de ser coletor e caçador, começou a modificar os
ecossistemas, desenvolvendo a pecuária e a agricultura. Sempre aproveitou os
recursos acumulados para civilizar-se, sem preocupar-se com a reposição,
dando caráter transitório a estas práticas (PIMENTEL, 1989).
No passado, o estoque de terras novas para ocupação era imenso, já
nos dias de hoje, as cidades e as indústrias estruturam-se como super
consumidoras, que extraem recursos renováveis acima da taxa de
recomposição e que dependem, como fonte principal de energia, de recursos
não renováveis como o carvão, o petróleo e a energia nuclear (BRANDT-
WILLIANS & ODUM, 1998). Sistemas assim tendem a esgotar rapidamente
seus recursos e podem converter recursos renováveis em não renováveis
(biodiversidade, solos). Na ausência de controles, colocam em risco,
ecossistemas terrestres e sua própria existência.
A civilização atual, de maneira gradual no início e depois com grande
velocidade, se organizou para explorar ao máximo todas as energias possíveis.
Segundo Ortega e Polidoro (1998), os recursos bióticos que maximizam o
aproveitamento de energia que a Terra recebe e incorpora em seu estoque
interno, diminuíram muito. As energias do petróleo e do carvão foram
colocadas em circulação, mas seu uso tem como efeito reduzir a
biodiversidade. Os benefícios começam a ser superados pelos prejuízos.
O atual panorama energético com suas enormes limitações exige um
novo modelo de aproveitamento dos recursos naturais, com consumo mais
baixo de energia. É assustadoramente crescente a necessidade de se reduzir
riscos decorrentes da dependência de sistemas de produção que privilegiam
poucos produtos e que influenciam negativamente as relações de mercado e
do uso de recursos.
Portanto, com o rápido crescimento econômico que tem sido verificado
no Brasil e em outros países, muitas questões são levantadas a respeito de
qual agricultura é mais apropriada, sustentável e benéfica à médio e longo
prazos, bem como qual seria a melhor maneira de utilizar os recursos
disponibilizados pela natureza.
4.3.2. O Funcionamento dos Sistemas Agroindustriais
O estudo da evolução dos sistemas agrícolas evidencia situações de
mau funcionamento dos ecossistemas rurais que acarretam em problemas
urbanos e vice-versa (PIMENTEL, 1989). Quando são analisados os diagramas
energéticos dos sistemas de produção rural, aparecem os seguintes
problemas: êxodo dos habitantes do meio rural, redução drástica das florestas
que faziam parte da paisagem rural, perda de solo por erosão, falta de
recomposição dos nutrientes, lixiviação de fertilizantes e pesticidas e uso
intensivo de produtos derivados de petróleo. Já quando são analisados os
sistemas energéticos urbanos, aparecem os fatores de pressão interna,
derivados do desajuste ambiental, ruído, poeira, poluição, congestionamentos,
confusão visual, alienação cultural, alto custo no tratamento de resíduos, etc
(BRANDT-WILLIANS & ODUM, 1998).
O paradigma da produção agrícola vigente tem como alicerces a
homogeneidade, a produtividade e o tempo, ou seja, valendo-se de todo um
arsenal tecnológico, procurando ter a maior produção por área da forma mais
homogênea possível obtendo o maior retorno financeiro no menor tempo de
investimento (PÁDUA & RUSSO, 2001). De acordo com esse paradigma é que
as atividades de pesquisa e extensão até então privilegiaram práticas voltadas
para a formação de campos ou monoculturas empresariais, obedecendo ao
modelo agrícola, baseado nos princípios da Revolução Verde, que favorecem a
destruição da biodiversidade e dão importância secundária à agricultura
familiar, que normalmente está abandonada, destinada a uma agricultura
migratória de corte e queima (OLIVEIRA, 1999).
4.3.3 A Agricultura Moderna
Durante o último século, a agricultura se tornou um sistema
químico após ter sido durante vários outros séculos, um sistema biológico. Um
fator principal foi responsável por esta transformação: o lucro a curto prazo de
produtores rurais e da indústria química (BONILLA, 1992).
A agricultura moderna tem se desligado da lógica dos sistemas vivos
naturais. Todos os ecossistemas naturais possuem retroação interna
automática que, desde o começo fez as condições ambientais melhorarem, em
sucessão, até que um clímax da atividade biológica máxima e sustentável
tivesse sido atingido (LUTZENBERGER, 2001). Os agrossistemas modernos
fazem exatamente ao contrário, ao impor retroações negativas (agressão
química e mecânica ao solo), gradualmente degradam o meio ambiente e
empobrecem a biodiversidade, apenas explorando os recursos naturais.
A indústria tem conseguido sucessivamente se apropriar de uma parte
crescente das atividades dos agricultores, deixando-lhes os riscos – da má
colheita devido ao mau tempo e o risco de perder dinheiro devido à crescente
dependência de insumos agrícolas que devem ser adquiridos a preços
crescentes e tendo que vender seus produtos por preços cada vez mais baixos
(EHLERS, 1996).
A agricultura química parece aparentemente lucrativa nas análises
econômicas simples, mas quando se consideram todos os produtos do sistema
(resíduos de elevado impacto e diferentes tipos de perdas) ela mostra não ser
tão economicamente rentável quanto se supunha (BRESSAN, 1996). Os
impactos econômicos e tecnológicos provaram ser nocivos tanto para as
populações locais quanto para os recursos naturais.
Segundo Primavesi (1992), a modernização da agricultura não resultou
apenas em elevados aumentos na produção, mas, também, em enormes
danos em outros importantes fatores da produção agrícola, como:
- Erosão do solo;
- Perda da fertilidade do solo;
- Poluição e assoreamento de rios e encostas;
- Degradação de fontes de água (nascentes e aqüíferos subterrâneos);
- Redução da biodiversidade (devido às monoculturas);
- Contaminação de recursos naturais;
- Êxodo rural (como conseqüência trouxe a favelização das cidades);
- Aumento de pestes e fitopatologias;
- Destruição das comunidades ecológicas;
- Poluição atmosférica;
- Uso intenso dos energéticos fósseis e previsão do conseqüente fim
das reservas naturais;
- Declínio de produtividade com o tempo, devido ao aumento de
gramíneas e ervas.
Comprovadamente a agricultura moderna exaure o solo, substituindo a
fertilidade perdida por nutrientes que vêm de fora. Fertilizantes comerciais, tais
como fosfatos, provém de minas que estarão brevemente esgotadas, as minas
de potássio são mais abundantes, mas o nitrogênio, um dos mais importantes
macronutrientes, embora venha da atmosfera, uma fonte teoricamente
inesgotável, acaba sendo um fator limitante. Ele é obtido através de um
processo que consome quantidades enormes de energia, principalmente de
combustíveis fósseis (LUTZENBERGER, 2001).
No último século, a intensidade de uso de insumos industriais na
agricultura aumentou consideravelmente, passando a depender de insumos
comprados, tais como fertilizantes, pesticidas, herbicidas e tecnologia de ponta
para poder gerar elevadas produções por hectare. A maioria destes insumos
depende economicamente de forma direta ou indireta da disponibilidade global
de combustíveis fósseis baratos e também do fornecimento de alguns minerais
(BRANDT-WILLIANS & ODUM, 1998).
Comprovadamente a agricultura moderna não é sustentável, e o grande
desafio é repensar o modelo agrícola a ser implementado, pois a repetição do
modelo extremamente dependente de insumos externos torna o agricultor
dependente de crédito bancário e acarreta danos ambientais (FERRAZ, 1997).
Frente a esta realidade, vários países do mundo insatisfeitos com
esse modelo de produção, decidiram projetar sistemas que fossem menos
dependentes de insumos externos e que se enquadrassem nos princípios do
Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de modelos baseados em experiências
agroecológicas
A Agroecologia está fundamentada em princípios que respeitam
aspectos ecológicos, culturais, sociais e econômicos da produção e sua
sustentabilidade. O uso potencial de produtos agroflorestais para substituir
combustíveis fósseis tem sido muito debatido e pesquisado pela Agroecologia.
A Agroecológica considera os sistemas produtivos como unidade
fundamental, onde os ciclos minerais, as transformações energéticas, os
processos biológicos e as relações sócio–econômicas são analisados como um
todo. Desta forma, a preocupação não está em maximizar a produção de uma
atividade em particular, mas sim otimizar o uso do agro-ecossistema
(ALTIERE,1989).
Os agricultores que vêm adotando tecnologias agroecológicas
estão aprendendo a se tornar cada vez mais sustentáveis, com colheitas
satisfatórias e métodos localmente adaptados, enquanto recuperam e mantém
a diversidade com os seus cultivares (CRIAR E PLANTAR, 2007).
4.4 ENGENHARIA ECOLÓGICA: UMA METODOLOGIA PARA A
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
Mitsh (1995) define a Engenharia Ecológica como “a ciência que cuida
de projetos que envolvem ecossistemas e organizações humanas, mantendo
benefícios para ambos”. Concebida por Odum (1988), a Engenharia Ecológica
analisa os fluxos de energia e de materiais nos ecossistemas para mostrar a
dependência dos sistemas produtivos humanos em relação às fontes de
energia natural e às derivadas de energia fóssil. A Engenharia Ecológica busca
descobrir possibilidades de interação entre os sistemas da economia e os
ecossistemas. Esta ciência permite a realização de diagnósticos dos
ecossistemas modificados pelo homem e propõe políticas públicas e privadas
para o Desenvolvimento Sustentável (BRANDT-WILLIAMS & ODUM, 1998).
De um modo geral, é necessário passar de um sistema baseado no
lucro, no uso das fontes de energia não renováveis, na competição e na
destruição da natureza, para um outro modelo que se fundamente no valor
energético real, no aproveitamento racional dos recursos e energias renováveis
e na colaboração na recuperação da Natureza.
Os conhecimentos da Engenharia Ecológica permitem oferecer uma
perspectiva de produção diferente, baseada na sustentabilidade biológica e na
interação entre a capacidade de suporte do meio e a qualidade de vida. Sendo
assim, a Engenharia Ecológica é uma ferramenta a ser usada para o
desenvolvimento da agricultura sustentável.
4.4.1 A Necessidade de Tecnologias Agroecológicas Sustentáveis
A busca por um sistema de produção que vise a sustentabilidade, no seu
sentido mais amplo, engloba todo processo de desenvolvimento que deve
obrigatoriamente apontar para a solução de problemas ambientais decorrentes
do processo da produção agrícola nos moldes convencionais (PÁDUA &
RUSSO, 2001). Importante lembrar que a sustentabilidade, no seu sentido mais
amplo, abrange todo processo de desenvolvimento que deve ser
ambientalmente sustentável no acesso e uso dos recursos naturais e na
preservação da biodiversidade, e politicamente sustentável ao aprofundar a
democracia e garantir o acesso de todos nas tomadas de decisão.
O direcionamento dado às políticas agrícolas em fortalecer sistemas
pouco eficientes, em detrimento da implantação de sistemas de produção
sustentáveis do ponto de vista ambiental e sócio-econômico, está fazendo com
que não seja possível manter ao mesmo tempo a integridade da diversidade
biológica e o aumento da qualidade de vida da população.
Diante deste panorama, torna-se importante a adoção de medidas que
assegurem a oferta de produtos agrícolas associadas a procedimentos de
recuperação e conservação de solos, despoluição da água e da preservação
da diversidade biológica. Possivelmente uma das melhores opções para o
alcance destes objetivos seja a utilização por parte dos agricultores de
Sistemas Agroflorestais (RODIGHERI, 1997). Portanto, no Brasil,
especialmente nestes últimos anos, além do aumento de conscientização da
sociedade sobre a importância da preservação ambiental, que vem se tornando
a cada dia uma necessidade premente, vêm sendo realizadas várias pesquisas
e ações visando a conservação da biodiversidade. Estas iniciativas envolvem
recuperação de áreas degradadas através de sistemas de produção agrícola
sustentáveis, como por exemplo, os Sistemas Agroflorestais (SANTOS, 2000).
As tecnologias agroecológicas reconhecem o valor dos antigos e
tradicionais sistemas e técnicas de agricultura com o intuito de resgatar,
atualizar e usar esta sabedoria na elaboração de novos modelos de agricultura.
Estes sistemas agroecológicos estão voltados para maximizar a energia de
produção e a sua utilização dentro do sistema, através da integração de ciclos
de vida e mecanismos de autocontrole (BONILLA, 1992). Para Kageyama &
Gandara (2003), essas tecnologias mais limpas de agrossistemas utilizam-se
de conceitos de diversidade de espécies e interação entre espécies, sendo que
a meta é criar no local degradado, empobrecido, um novo ecossistema, o mais
semelhante possível ao original, de modo a criar condições de biodiversidade
renovável, em que as espécies existentes tenham condições de se auto-
sustentar.
4.4.2. A Importância dos Sistemas Agroflorestais (SAF’s)
Segundo Rodigueri (2002) as práticas agroflorestais são o conjunto de
sistemas de produção que apresentam maior capacidade de comportar
biodiversidade e de fixação de carbono. Como as práticas agrícolas atuais têm
priorizado a otimização do uso da terra e o aumento da rentabilidade, nem
sempre os recursos locais são aproveitados. No entanto, os sistemas
agroflorestais, alguns existindo a milhares de anos, utilizavam e ainda utilizam
espécies nativas, conferindo um maior valor na preservação da biodiversidade
(BAGGIO & MEDRADO, 2003). Neste sentido, os SAF’s podem conservar um
grande número de espécies ou variedades de plantas cultivadas.
Segundo Nair (1993), Sistema Agroflorestal (SAF) é um nome
relativamente recente dado para procedimentos antigos em grande parte
praticados por comunidades tradicionais em várias partes do mundo,
especialmente nos trópicos. O conceito de Sistema Agroflorestal está
associado a um conjunto de componentes físicos, químicos e biológicos
conectados ou relacionados de maneira interdependente, formando ou atuando
como uma única unidade. Este conjunto ou sistema pode ser específico para
uma localidade e descrito segundo o seu arranjo, composição biológica, nível
de manejo técnico e características sócio-econômicas (YARED, 2002). Dessa
forma, tem-se um sistema de uso da terra em que plantas de espécies
agrícolas são combinadas com espécies arbóreas. Pode-se dizer então que o
SAF é um povoamento permanente com composição bastante diversificada e
estratificada (AMADOR, 1999).
Atualmente, com o crescimento populacional, que ocorre em escala
logarítmica, verifica-se a necessidade da criação de modelos de produção
econômico e sustentável, o que vem provocando o aumento de pesquisa
vinculada ao sistema agroflorestal (VARELLA, 2003). A pesquisa foi
intensificada no sentido de desenvolver um sistema de cultivo, que, fornecendo
resultados econômico-ambiental-social vantajosos, contribuísse também para a
desaceleração da devastação e poluição ambiental, tanto pela não-utilização
de defensivos, como pela preservação da biodiversidade.
A maioria dos trabalhos científicos e técnicos com sistemas
agroflorestais, mostra que são sistemas agrícolas de produção que tem como
objetivo um rendimento contínuo e sustentável (OLDEMAN, 1983), além de
oferecerem alternativas para o uso dos recursos naturais que aumentem ou
pelo menos mantenham a produtividade da terra sem causar degradação.
Hoje os SAF’s não apenas se fundamentam em princípios de
recuperação de áreas degradadas, mas carregam uma abordagem holística,
envolvendo aspectos sociais, econômicos e ambientais (RIBASKI et al., 2002).
Este sistema oferece alternativas menos impactantes e podem auxiliar na
reversão de processos de degradação (RODIGHERI, 1997). Podem ser
empregados tanto como estratégia mercadológica de recuperação, como para
constituição de agrossistemas sustentáveis, com produtos orgânicos e
saudáveis (AMADOR, 1999), de alta qualidade e com baixa ou nula entrada de
insumos externos.
A importância dos sistemas agroflorestais recai na dinâmica de alguns
processos ecológicos importantes e nas expectativas econômicas dos
agricultores, além da necessidade de apresentar-se como uma opção aceitável
para as famílias rurais (MONTAGNINE, 1992). Qualquer alternativa que venha
a ser desenvolvida para o bem-estar do produtor deve adequar-se às suas
limitações e necessidades sociais e econômicas. As condições econômicas é
um elemento básico para a tomada de decisões nas análises das alternativas
agroflorestais (FEARNSIDE, 1996).
Os sistemas de produção agroflorestais são freqüentemente vistos como
uma alternativa de produção capaz de aliviar a pobreza e retardar o
desmatamento (FEARNSIDE, 1996), o que, considerando o aspecto da
preservação da diversidade biológica vegetal, estará contribuindo também para
a absorção e seqüestro de carbono (MYER, 1992). Os SAF’s têm sido
recomendados como solução e/ou alternativas para a recuperação de áreas
degradadas, com potencial de gerar maior produtividade e atuar como
mecanismo redutor de riscos para o produtor e para o meio ambiente (VILAS
BOAS, 1991).
Os SAF’s, sendo utilizados como estratégia de recuperação, tem o
desafio de possibilitar sistemas de produção ecologicamente equilibrados, que
contribuam para a recuperação de forma global. Além de impedir a queda na
produtividade dos solos e melhorar a produtividade das culturas anuais, os
SAF’s, podem reduzir a pobreza dos pequenos produtores, evitando sua
contínua migração para os centros urbanos.
4.4.2.1 Algumas características dos SAF’s
Para Farrel & Altieri (1987), os Sistemas Agroflorestais devem
incorporar algumas características imprescindíveis:
1. Estrutural: combinação de árvores, culturas anuais e animais no
tempo e/ou espaço;
2. Sustentabilidade: uso de sistemas naturais como modelo,
buscando-se a otimização dos efeitos benéficos da interação entre as
espécies, mantendo a produtividade em longo prazo, sem causar danos
ambientais;
3. Aumento da Produtividade: uso racional das condições que irão
promover o crescimento das plantas e uso mais eficiente dos recursos naturais
(espaço, água, solo, luz, etc).
4. Adaptabilidade sócio-econômica e cultural: adaptação a uma
variedade de situações sócio-econômicas, podendo ser aplicados a todos os
tipos de propriedades rurais, até mesmo para áreas de menor valor na
propriedade como as áreas degradadas (empobrecidas);
5. Aceitabilidade: o sistema agroflorestal deve ser aceito pela
comunidade onde será implantado, e qualquer tipo de melhoramento e
sugestão deve conter a participação da comunidade local.
4.4.2.2. Vantagens dos SAF’s
A prática dos SAF’s utilizadas nas mais diversas regiões do planeta, em
milhões de propriedades ao longo dos tempos, permite visualizar as vantagens
de tais sistemas em comparação com outras atividades de uso da terra
(SANTOS,2000).
Segundo Vilas Boas (1991), os Sistemas Agroflorestais devem funcionar
como uma ferramenta fundamental para alcançar o objetivo do rendimento
sustentado, sobretudo em regiões onde a fragilidade ambiental é um grande
obstáculo, como é o caso de áreas degradadas ou com solos de baixa
fertilidade.
Além disso, os sistemas agroflorestais podem contribuir para a
viabilidade econômica de pequenos produtores e melhoria na qualidade de vida
das comunidades através da diversificação da produção e diminuindo os riscos
de flutuações de preços no mercado (PASSOS & COUTO, 1997). Barros
(2005), corrobora com a vantagem de se utilizar o SAF em pequenas
propriedades, pois seus custos de implantação e manutenção são baixos e
podem ser mantidos entre limites aceitáveis. Além disso, podem aumentar a
renda familiar e também contribuir para a melhoria da alimentação das
populações rurais.
Segundo Passos e Couto (1997), os SAF’s podem trazer vantagens
ecológicas, econômicas e sociais em relação aos sistemas convencionais de
produção agrícola tais como:
a) Econômicas – obtenção de produtos agrícolas e florestais na
mesma área, redução das perdas na comercialização e aumento da renda
líquida por unidade de área da propriedade, apresentando menores riscos
técnicos de produção;
b) Sociais – melhoria da distribuição da mão-de-obra ao longo do
ano, diversificação da produção, melhoria das condições de trabalho no meio
rural e melhoria da qualidade de vida do produtor já que são atividades
economicamente rentáveis para os produtores rurais;
c) Ecológicas – melhoria na conservação do solo, da água e do
microclima para as plantas e animais, reduzindo o impacto das chuvas,
proporcionando refúgio contra a radiação solar, às altas temperaturas, ventos e
um risco futuro de erosão; redução dos impactos ambientais negativos locais e
regionais além de uma melhor racionalização do uso do solo, beneficiando
suas propriedades físicas, químicas e biológicas, já que há uma melhor
ciclagem de nutrientes, além de algumas espécies introduzidas neste sistema
serem capazes de controlar ou reduzir a toxidez do solo; demandam menores
quantidades de agroquímicos e por fim estimulam o aumento da
biodiversidade.
Da Croce et al. (1997), comparando sistemas agrícolas convencionais e
SAF’s observaram que em sistemas agroflorestais houve menor ataque de
pragas, minimizando a necessidade de uso de defensivos agrícolas. Portanto,
pode-se afirmar que os SAF’s constituem-se uma das melhores alternativas
sócio-econômicas.
Em 2005 foi realizado no município de Vazante, em Minas Gerais, um
estudo em parceria com a Universidade Federal de Viçosa, com o objetivo de
avaliar aspectos técnicos e econômicos de sistemas agroflorestais, como
alternativa sustentável de uso da terra, e também para produção de biodiesel.
Os dados da pesquisa foram oriundos da empresa Votorantim Metais Agro, a
qual dispõe de uma Unidade de Sistemas Agroflorestais. Sendo esse trabalho
feito no Sudeste do Brasil no bioma cerrado numa região em estado
relativamente degradado, com características físicas peculiares como, clima,
solo, temperatura, foram escolhidas culturas anuais como soja e girassol para
obtenção de biodiesel, além do arroz como cultura agrícola, o eucalipto como
componente florestal e capim de engorda para animais, como componente
agrícola e pastoril. Dessa forma, qualquer Sistema Agroflorestal que venha a
ser instaurado, deve-se observar as características do local para que
introduzam espécies nativas do local e que se adaptem bem. Através desse
estudo pode-se concluir que a utilização de SAF mostrou-se eficaz, já que as
oleaginosas estudadas no caso, sendo conduzidas para produção de biodiesel
garantiam o retorno financeiro do investimento, além de ter sido usado também
eucalipto no sistema, e aproveitado para produção de biomassa florestal para
energia.
4.5. BIODIESEL – MAIS UMA ALTERNATIVA RENOVÁVEL
4.5.1 Histórico
O processo de se fazer combustível a partir da biomassa usado desde o
século XIX é praticamente o mesmo usado atualmente. Em 1898, quando
Rudolfh Diesel demonstrou pela primeira vez um motor a diesel na Exibição
Mundial de Paris, usando óleo de amendoim – aquele que seria o biodiesel
original. Os óleos vegetais foram usados nos motores a diesel até a década de
1920 quando uma alteração foi feita nos motores, possibilitando o uso de um
resíduo do petróleo que atualmente é conhecido como diesel (BIODIESEL
BRASIL, 2005).
Diesel não foi o único em acreditar que os combustíveis de biomassa
seriam importantes na indústria do transporte. Henry Ford desenhou seus
veículos para usar o etanol, sendo o primeiro o Modelo T de 1908. Ele estava
tão convencido de que os combustíveis renováveis eram a chave do sucesso
dos seus automóveis, que construiu uma fábrica de produção de etanol, e
através de sua parceria com a Stardard Oil, pode vender seu combustível nos
postos de distribuição. Ford continuou a promover o uso do etanol até a década
de 1930. Com o declínio do preço dos barril de petróleo, a indústria do petróleo
derrubou as vendas dos biocombustíveis, e em 1940 a usina de produção de
etanol foi fechada (BIODIESEL BRASIL, 2005).
Portanto, na década de 70 o mundo tornou-se dependente dos países
produtores e exportadores de petróleo. Em 1973 houve a primeira das duas
grandes crises energéticas do mundo. A OPEP, instituição que controla a maior
parte do petróleo do mundo e que é composta majoritariamente por países do
Oriente Médio, reduziu o fornecimento e incrementou os preços. Isso levou a
muitos países se preocuparem em fazer seu próprio biocombustível
(BIODIESEL BRASIL, 2005).
4.5.2 Conceito e características
Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes
renováveis, que pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos
vegetais que, estimulados por um catalisador, reagem quimicamente com o
álcool. Esse combustível substitui total ou parcialmente o diesel de petróleo em
motores de caminhões, tratores, automóveis e também na geração de energia
e calor. O biodiesel pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas
proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de
B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100 (MME,
2007).
Segundo Lima (2004), o biodiesel é a denominação genérica dada a
combustíveis com aditivos de fontes renováveis. Comparado ao óleo diesel
derivado de petróleo, o biodiesel pode reduzir em 78% as emissões de gás
carbônico, considerando-se a reabsorção pelas plantas. Além disso reduz 90%
as emissões de fumaça e praticamente elimina as emissões de óxido de
enxofre
Segundo a Cartilha do Programa Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel, existem diversos métodos e rotas tecnológicas para obtenção de
biodiesel a partir de variadas matérias-primas. Entretanto, a chamada
transesterificação de triglicerídeos de ácidos graxos (óleos vegetais) e álcoois
primários, principalmente metanol, via catálise básica, atualmente representa a
rota tecnológica industrial que melhor combina minimização de formação de
subprodutos, produtos com padrão de qualidade conforme normas
internacionais e principalmente o mínimo de perdas no processo.
A Fig 1 mostra o esquema de obtenção do biocombustível, e em
seguida o processo é detalhado.
Figura 1- Esquema da reação de transesterificação
(Fonte: CEPLAC, 2007)
O processo de produção do biodiesel é composto das seguintes etapas:
preparação da matéria-prima, reação de transesterificação, separação de
fases, recuperação e desidratação do álcool, destilação da glicerina e
purificação deste combustível renovável.
Somente alcoóis simples, tais como metanol, etanol, propanol, butanol e
Amil-álcool podem ser utilizados no processo de transesterificação. O metanol
é mais freqüentemente utilizado por razões de natureza física e química
(cadeia curta e polaridade). Contudo o etanol está se tornando mais popular,
pois ele é renovável e muito menos tóxico que o metanol.
A molécula do óleo vegetal é formada por três ésteres ligados a uma
molécula de glicerina, o que faz ele um triglicerídio. O processo para a
transformação do óleo vegetal em biodiesel chama-se transesterificação. Esse
processo nada mais é do que a separação da glicerina do óleo vegetal. Cerca
de 20% de uma molécula de óleo vegetal é formada por glicerina. A glicerina
torna o óleo mais denso e viscoso. Durante o processo de transesterificação, a
glicerina é removida do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e reduzindo a
viscosidade.
A tendência é que no futuro, seja desenvolvida uma tecnologia de
craqueamento do óleo vegetal, para que elimine a produção de glicerina como
subproduto (BARROS, 2005).
A metodologia comercial de obtenção utiliza freqüentemente meios
alcalinos para a transesterificação do óleo ou gordura, na presença de um
álcool, produzindo ésteres metílicos de ácidos graxos e glicerol.
4.5.3 Motivações para produção de biodiesel
O interesse pelo biodiesel cresceu consideravelmente pela necessidade
de se encontrar novos processos como fonte de energia com base na
biomassa. O Brasil acumulou experiências com a produção de álcool etanol
através do Programa Nacional do Álcool - PNA, que apesar de alguns acertos
entre vários erros, apresentou saldo satisfatório, atingindo e superando metas
ambiciosas, demonstrando o valor da potencialidade do uso de biomassa no
país.
Dentre as motivações para produção e uso do biodiesel, os benefícios
sociais e ambientais podem ser citados como os mais importantes
(AMORIM,2005).
De acordo com Barros (2005) e Januzzi & Neto (2006), as grandes
motivações para produção de biodiesel são os benefícios sociais e ambientais
que este novo combustível pode trazer. A seguir, são apresentadas algumas
vantagens que o biodiesel incorpora:
Altas taxas de redução nas quantidades de dióxidos e monóxidos
de carbono, material particulado, aromáticos e fumaça negra emitidos na
combustão.
É totalmente livre de enxofre (evitando a corrosão) e não gera
poluentes durante sua produção industrial, portanto, não danifica a flora, fauna,
o homem e equipamentos;
Produzido a partir de fontes renováveis e que podem ser
variáveis.
Muito mais biodegradável que o óleo diesel tradicional.
Devido à alta lubricidade e mesmo em pequenas porcentagens,
pode substituir o enxofre do diesel, altamente poluidor.
Termicamente é estável e possui alto ponto de fulgor, podendo
ser armazenado e transportado da mesma forma que o óleo diesel.
Possibilita geração de novos empregos na agricultura.
Segundo HOLANDA (2004), o biodiesel permite um ciclo fechado de
carbono onde o dióxido de carbono, principal responsável pelo aquecimento
global, é absorvido quando a planta cresce e é liberado quando o biodiesel é
queimado na combustão do motor.
O potencial de geração de emprego é outra importante motivação paraa
produção de biodiesel.
4.5.3.1 Desenvolvimento do Biodiesel e Geração de Empregos
Além da preocupação com a recuperação de ambientes degradados, há
também uma crescente preocupação mundial com os desdobramentos da
geração de energia, não só por fatores ambientais, como também por estar
baseada em produtos não renováveis. Assim, nos biocombustíveis é
encontrada uma alternativa para geração de energia a partir de produtos
renováveis sendo menos agressivos ao meio ambiente (TORQUATO &
MARTINS, 2006). Desta forma o biodiesel vem ganhando espaço na pauta de
discussão e recentemente foi inserido oficialmente na matriz energética
brasileira.
No Brasil, o programa nacional de biodiesel foi oficialmente instituído no
início de 2005, pela aprovação da lei 11.097 que estabelece como obrigatória a
mistura de 2% de biodiesel (B2) em todo o diesel consumido no país até 2008,
o que representaria nos níveis atuais uma demanda maior que 800 mil litros de
biodiesel / ano (IPEA, 2005). Essa lei possibilita que o processo de inclusão da
agricultura familiar seja uma prioridade.
O programa nacional do biodiesel é tratado com prioridade no atual
Governo Federal, conforme amplamente divulgado pelos meios de
comunicação, tendo destaque diferenciado comparando-se ao interesse por
outras fontes de energia renovável e respectivos programas de implementação
(JANUZZI & NETO, 2006). Sendo assim, direta ou indiretamente, as variadas
atividades ligadas à produção de biodiesel podem ser inseridas dentro do
contexto de inclusão social através da agricultura familiar, graças a seu amplo
potencial produtivo, aliada a práticas sustentáveis de uma produção agrícola
mais limpa.
Não esquecendo também de inúmeros problemas de saúde inerentes
associados à emissão de fumaça e outras emissões, sejam em veículos
urbanos nos grandes centros ou mesmo em fontes energéticas que utilizam
comburentes sólidos como carvão, que podem ser reduzidos com a
substituição, mesmo que parcial, por um combustível menos poluidor e mais
moderno.
Couto et al (2004) reportam que a consolidação do uso do biodiesel é
promissor para o mundo inteiro por estar diretamente associado ao meio
ambiente, possibilitando a redução dos níveis de poluição ambiental, bem
como por valorizar o potencial que representa como fonte de energia renovável
aos resíduos agrícolas e agroindustriais.
Portanto, o cultivo de variedades para a produção do biodiesel,
associado com a atividade agrícola, deverá ser um potencial gerador de
empregos e vetor prático na fixação de pessoas à terra, desde que
implementada de forma sustentável. Segundo cálculos oficiais do governo
brasileiro, estima-se que o B2 poderá promover a geração de cerca de 90 mil
empregos diretos no campo, além de outras dezenas de milhares indiretos
(LIMA, 2004).
O modelo para as culturas voltadas para a produção do biodiesel deve
priorizar a recuperação das áreas degradadas, dentro de uma estratégia de
agricultura sustentável, adequada a cada micro-região (ALMEIDA et al. 2002).
Em etapas sucessivas, combinando espécies naturais da floresta e do
cerrado, com a agricultura de subsistência e aproveitando espaços, o
reflorestamento se desenvolverá em conjunto com as plantações para a
produção do biodiesel, chegando no processo final a florestas secundárias. A
própria fruticultura pode também servir de parte integrante deste processo pois
na fase de consolidação os “produtos e serviços florestais” garantirão a
sustentabilidade dos produtores e de suas propriedades, e as áreas hoje
degradadas passarão a ser produtivas e ambientalmente equilibradas e
restauradas (ABIDES, 2005).
Em se tratando de áreas degradadas, a utilização das mesmas para
cultivo de oleaginosas visando a produção de biodiesel, é a proposta desse
trabalho. A inclusão social e o desenvolvimento regional, especialmente via
geração de emprego e renda, devem ser os princípios orientadores básicos das
ações direcionadas ao biodiesel, o que implica dizer que sua produção e
consumo devem ser promovidos de forma descentralizada em termos de
tecnologia e matérias-primas utilizadas (LOPES et al., 2004).
Estudos desenvolvidos pelos Ministérios do Desenvolvimento Agrário,
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Integração
Nacional e Ministério das Cidades mostram que a cada 1% de substituição de
óleo diesel produzido com a participação da agricultura familiar podem ser
gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda média anual de
R$ 4.900,00 por emprego. Admitindo-se que para um emprego no campo são
gerados três empregos na cidade, seriam criados, então, 180 mil empregos.
Para observar a quantidade de trabalhadores que são empregados na
agricultura empresarial em relação à familiar veja a comparação:
Na agricultura empresarial, em média, emprega-se um trabalhador para
cada 100 hectares cultivados, enquanto que na familiar a relação é de apenas
10 hectares por trabalhador. A cada R$ 1,00 aplicado na agricultura familiar
são gerados R$ 2,13 adicionais na renda bruta anual, o que significa que a
renda familiar dobraria com a participação no mercado do biodiesel (PORTAL
DO BIODIESEL, 2007). Sendo assim, esses dados mostram claramente a
importância de priorizar a agricultura familiar na produção de biodiesel.
Segundo o IBGE (2000), a agricultura familiar é uma das principais
categorias sociais. Mais de 15 milhões de pessoas, no páis vivem do trabalho
do campo, numa enorme gama de diferentes realidades econômicas, sociais,
culturais e étnicas. A agricultura familar é responsável, também pela geração
de 40 % do valor bruto da produção agropecuária, pelo desencadeamento de
10 % do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) e por uma expressiva ocupação
no espaço territorial em 80 %dos municípios do país.
O Programa Biodiesel já resulta em ganhos sócio-econômico e
ambiental, uma vez que o Governo vem incentivando iniciativas na área de
financiamento em linhas de crédito. De acordo com o Ministério de
Desenvolvimento Agrário, essas linhas de crédito têm o objetivo de financiar
sistemas de produção de base agroecológica, já que a Agroecologia propõe um
conjunto de princípios e metodologias participativas que apóiam o processo de
transição da agricultura convencional para estilos de agricultura de base
ecológica. Essa linha de crédito de investimento Pronaf Agroecologia é recente,
sendo operada apenas há 16 meses, mas já é um avanço no âmbito de
incentivo a se produzir de maneira sustentável (INCRA, 2007).
4.5.4 Pesquisas do Biodiesel – Situação Brasileira
A abordagem do biodiesel teve seu início na necessidade de estudar,
pesquisar e desenvolver novos processos para fonte de energia com base na
biomassa. O Brasil depois de acumular experiências no abastecimento do
álcool etanol através do programa Nacional do Álcool – PNA, que apesar de
alguns acertos entre vários erros apresentou saldo satisfatório, atingindo e
superando as ambiciosas metas, o demonstra o valor da potencialidade da
biomassa no país (PARENTE, 2003).
Com o propósito de desenvolver alternativas com base na biomassa, foi
criado em Fortaleza, o Núcleo de Fontes Não-Convencionais de Energia, na
Universidade Federal do Ceará, gerando uma moderna e sólida consciência,
no meio acadêmico local e nacional, sobre o uso da biomassa para fins
energéticos (PARENTE, 2003).
Atualmente, o Brasil vem desenvolvendo muitas pesquisas com os
biocombustíveis. Existem dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem
ser utilizadas no cultivo para produção de biodiesel, tais como mamona, dendê,
girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja. O dendê, por exemplo, é
muito pouco explorado no Brasil, e se adapta muito bem a terras degradadas.
De acordo com dados da CEPLAC, a Bahia é o único estado do nordeste
brasileiro com condições climáticas adequadas na faixa costeira para o plantio
do dendezeiro, com disponibilidade de áreas litorâneas que se estendem desde
o Recôncavo Baiano até os Tabuleiros Costeiros do sul do Estado. Além desse
importante fator de viabilidade, tem também os aspectos ambientais e
ecológicos, que possibilitam a recomposição do espaço florestal em processo
adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”; econômico-social,
proporcionando aumento da renda regional e criação de novos empregos, e
finalmente o fator estratégico, buscando através da agricultura integrada o
caminho do desenvolvimento harmônico dos recursos da terra com os valores
humanos.
No âmbito ambiental há muitas vantagens da utilização do dendezeiro;
sendo uma planta perene arbórea apresenta grande potencial para absorver
gás carbônico, perdendo somente para o eucalipto, podendo contribuir com a
redução de emissão de carbono para a atmosfera através da fixação deste
elemento na biomassa, possibilitando a sua utilização em áreas desmatadas,
contribuindo, desta forma, para a conservação de energia e recursos naturais
(CEPLAC, 2007).
No Acre foi fundado o Núcleo de Produção de Biomassa onde se tem
como primeiro trabalho o desenvolvimento de biodiesel a partir da capacidade
de produção de óleo em sistema produtivo agroflorestal, de acordo com o
relatório do grupo interministerial destinado a analisar a aplicação do biodiesel
no Brasil1.
Segundo a TecBio (2004) no Maranhão, assim como no Pará, há
abundância de babaçu, que produz um óleo de suas amêndoas, rica fonte para
produção de biodiesel. O carvão obtido dele também pode ser usado como
matéria-prima para obtenção de metanol. Ou seja, de uma única fonte pode ser
tirado o óleo vegetal e o álcool de diluição.
No Rio Grande do Norte, a Embrapa, em parceria com a Petrobrás,
desenvolve um projeto para obtenção de biodiesel a partir da mamona.
Segundo Criar e Plantar (2007), a mamona deve se consolidar como o principal
componente do biodiesel a ser produzido no Brasil. A região Nordeste além de
ter aptidão para a mamona, mostra-se eficiente no consórcio com outros
cultivos, como o milho e o feijão (TORQUATO & MARTINS, 2006).
O Estado do Mato Grosso tem pesquisado seus plantios para produção
de biodiesel oriundo da extração do óleo de girassol, através do projeto das
Unidades Experimentais que faz parte do Programa de Biocombustíveis do
Mato Grosso (Probiomat) junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia
(INSTITUTO GÊNESIS, 2003). Em Dourados (MS) o girassol já está sendo
testado como biodiesel em tratores, substituindo o diesel, com o objetivo de
avaliar a viabilidade do mesmo.
No Estado de São Paulo existem outros núcleos, como o LaDeTeL
(Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas) da USP Ribeirão
Preto, onde se desenvolve o Projeto Biodiesel Brasil. A partir dele foi criado um
novo processo e toda uma tecnologia para produção de biodiesel com álcool de
cana. Além disso, o grupo também realiza pesquisas para avaliar as diferentes
proporções de mistura do biodiesel ao diesel. A mais comum é a B-5 (5% de
biodiesel), porém, os testes são feitos com diferentes combinações até se
chegar a 100%. Os óleos utilizados em testes são os obtidos de soja,
1 Pronunciamento do Dr. Siba Machado do Bloco do PT – AC em 30/01/2004 (BIO Tecnologia – Ciência
& Desenvolvimento) – www.biotecnologia.com.br
amendoim, girassol, algodão, milho, canola, mamona, pequi, macaúba, babaçu
e dendê (Rede de Agricultura Sustentável, 2002).
Resumindo, o biodiesel que aparece como um tema crescente em
oportunidades de desenvolvimento tecnológico e de forte potencial de
comercialização promove, simultaneamente, a criação de empregos no meio
rural e redução da importação de óleo diesel pelo Brasil (CRUZ;NOGUEIRA,
2004). Dessa forma, aprimoramentos nos testes de produção e uso do
biodiesel continuam sendo feitos em todo o país com o intuito de se
estabelecer padrões de qualidade adequados para seus vários usos.
CONCLUSÃO
Neste fim de século, nenhum país herdou tanta responsabilidade face à
preservação do mundo vivo da Biosfera quanto o Brasil. É certo que a
conservação da biodiversidade dos mares e oceanos é uma obrigação de
todas as nações do mundo. Mas, a preservação dos grandes estoques de
componentes bióticos terrestres, ou seja, uma melhor utilização da terra tornou-
se uma tarefa predominantemente brasileira.
Depois de ter se conquistado toda a Terra, a preço de pesado estresse
da biosfera, é urgentíssimo ter cuidado com o que restou e também regenerar
o ambiente vulnerado. Desta vez, se o ambiente não tiver o devido cuidado, a
vida terá um encontro com o pior. Daí urge passar do paradigma da conquista,
ao paradigma do cuidado. Se os interesses individuais continuarem a
prevalecer, só caberá à humanidade aguardar pela completa destruição do
ecossistema e sua biodiversidade, além do agravamento dos problemas
ambientais com inúmeras conseqüências.
Apesar de uma crescente divulgação de resultados de pesquisas e
experiências práticas, e uma crescente adoção das tecnologias geradas, os
sistemas agroflorestais têm recebido pouca atenção como práticas
agroecológicas e como reservatórios potenciais de biodiversidade.
Nesse contexto, diante da época atual de intensificação do aquecimento
global, o sistema agroflorestal não é só interessante do ponto de vista
econômico, mas primeira e principalmente do ponto de vista ambiental.
Sendo assim, o desenvolvimento de projetos utilizando essas
tecnologias de produção limpa demanda tempo e deve ser feito passo a passo
com apoio consciente da sociedade para que o objetivo de se reformar o
sistema rural a fim de se tornar ecologicamente sustentável e economicamente
viável e socialmente justo, seja alcançado o mais rápido possível.
Portanto, são necessários sistemas agrícolas sustentáveis, não só do
ponto de vista ecológico, mas também social, econômico e cultural, onde as
práticas dos agricultores respeitem não apenas fatores ambientais, bióticos e
culturais, mas reflitam estratégias de subsistência e sustentabilidade
econômica. Sistemas Agroflorestais (SAF’S), por exemplo, são capazes de
recuperar áreas degradadas dentro de uma abordagem ecologicamente mais
correta.
Tecnologias agroecológicas são mais abrangentes do que sistemas de
produção extrativistas pouco eficientes e mostram-se insustentáveis. Do ponto
de vista ambiental a agricultura convencional é desastrosa, provocando
destruição generalizada da diversidade biológica. Mesmo se fosse tão
produtiva quanto é afirmado, o desastre seria apenas adiado. Se a justificativa
de se utilizar esse sistema de produção é de alimentar a população cada vez
mais crescente, é necessário então desenvolver métodos de produção agrícola
sustentável.
Desde o surgimento da idéia da utilização do óleo vegetal em motores,
por Hudolph Diesel, até a atualidade, este combustível sempre teve como
maior concorrente o diesel mineral e, por conta disso, ficou muito tempo
inviabilizado. Os investimentos atuais em produção de biodiesel são frutos de
uma maior preocupação mundial com o aquecimento global. Hoje, através do
Protocolo de Kioto, tem se apresentado modelos de controle de emissões e
incentivos financeiros através do mercado de carbono, a projetos que visem
reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa.
Além da questão ambiental, outro foco das atenções atuas é a social. O
mundo está procurando alternativas para o crescente número de pessoas
desempregadas nos grandes centros urbanos, e uma das possibilidades é
viabilizar a vidas das pessoas que vivem no campo. Com vista nisso, o Brasil e
outros países como Índia e China estão procurando utilizar seu potencial de
produção de biodiesel para geração de renda para pequenos agricultores.
Assim os países têm investido em oleaginosas características das regiões mais
carentes. No Brasil, há um destaque para a mamona no semi-árido e o dendê
no Sul da Bahia.
Sendo assim, pelo fato de agricultores familiares viverem sofrendo ao
longo dos anos um processo de redução nas suas rendas, boa parcela do
processo de empobrecimento dos pequenos produtores rurais pode ser
explicada pela pouca oferta e pela baixa qualidade de serviços públicos
voltados para os mesmos, além do mau uso de suas terras, fazendo com que
suas áreas produtivas se tornem empobrecidas e até mesmo em graves
condições de degradação. Sendo assim, a produção de oleaginosas em
lavouras familiares faz com que o biodiesel seja alternativa importante para a
diminuição da miséria no país, principalmente pela possibilidade de ocupação
de um enorme contingente de pessoas.
Cabe, porém um alerta – esta iniciativa de utilizar áreas degradadas
para o cultivo de oleaginosas visando a produção de biodiesel, não é uma
alternativa que resolverá o problema energético em curto prazo, por razões de
custos e outros fatores tecnológicos. Pelo contrário, para que ela tenha o
sucesso garantido, terá que ser vista sob a ótica de um programa integrado de
desenvolvimento sustentável, com etapas a serem vencidas em curto, médio e
longo prazos. Não se pode pensar, por exemplo, em extensas plantações de
mamona, babaçu, dendê, buriti, etc. – não se pode pensar em “fazendas de
biodiesel”, pois estaria-se repetindo os modelos da monocultura extensiva,
como a cana de açúcar no passado e a soja nos dias de hoje.
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