Racismo no futebol 03 maio 2007

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O discurso dominante da mídia esportiva nas copas mundiais

 

 Carlos Alberto Figueiredo da Silva, UNISUAM, UNIVERSO

Sebastião Josué Votre, UGF, UNISUAM

 

Palavras-chave: linguagem, racismo, representações

sociais, humilhação

 

Referências básicas:

Bourdieu e Passeron (1970), Coulon (1995), Fairclough (1995), Hargreaves (1996), Knoppers (2004), Murad (1999), Pfister (2006, 2007), Soares (1998), Sterkenburg & Knoppers (2004), Van Dijk, (1993), Whitehead (2004),

ObjetivoObjetivo

Neste estudo, interessa-nos verificar como o racismo se manifesta, a partir da análise das reportagens sobre as Copas do Mundo, em que a seleção brasileira sofre derrotas.

A maior ofensaA maior ofensa

Ronaldo foi criticado após o jogo final de 1998. A metáfora foi estampada na primeira página do jornal O Dia, na manchete: “Ronaldinho amarela antes do jogo e abala a seleção”. Tomemos a declaração do jornal como um dado empírico de análise. O conteúdo da mensagem é ofensivo, em termos morais, a ponto de Ronaldo se defender. “Não admito que digam que eu amarelei”.

Comprovamos que tal manifestação não é um fato isolado nem singular. Pois em outros eventos semelhantes, nas derrotas brasileiras de 1950, 1982, 1986 e 1990, a mídia apresentou interpretações polêmicas sobre as atuações dos jogadores, da comissão técnica, dos dirigentes, com críticas polarizadas em termos raciais.

A tese que defendemos

DadosDados

Correio da Manhã, 1924, Correio da Manhã, 1950, Diário do Rio 1950, A manhã 1950, Jornal do Brasil 1986, Jornal dos Sports 1986, O Dia 1988, O Dia 1990, O Globo 1988, O Globo 1999, O Globo 2000. TV Globo 2002.

Jornalistas: Luís Mendes, Sérgio Noronha, Tino Marcos, José Ilan, Carlos Gil, Jair da Rosa Pinto.

19501950

Copa de 50, contra UruguaiCopa de 50, contra Uruguai

“Faltou fibra aos jogadores nacionais que não corresponderam à expectativa de 200 mil torcedores representando 50 milhões de brasileiros”.

19501950

“(...) deixaram-se levar pelo nervosismo e jogaram abaixo da crítica, inclusive Jair, acovardado com a marcação severa do velho Obdulio Varela”.

O DIÁRIO DO POVO. Rio de Janeiro, 18 de julho de 1950, p.6.

19501950

“Faltou fibra aos jogadores nacionais que não corresponderam à expectativa de 200 mil torcedores representando 50 milhões de brasileiros”.

DIÁRIO DO RIO. Rio de Janeiro, 18 de julho de 1950, p.1.

19501950

“Deve-lhes uma derrota pujante, gerada dos flancos sombrios da covardia. Por medo a contusões e a socos perdemos o campeonato mundial de foot-ball”

DIÁRIO DO POVO. Rio de Janeiro, 18 de julho de 1950, p.2, 2º caderno.

19821982

Sérgio Noronha:Sérgio Noronha:

“O que houve, é que depois da Copa de 50, dizem, eu não tenho como provar isso, que havia um documento aconselhando a não convocação de goleiros negros porque eles se acovardariam na hora da decisão. Não sei se esse documento existe, se existe já foi destruído”.

1982 – A Itália derrota o Brasil1982 – A Itália derrota o Brasil

O goleiro, branco, é Valdir Peres

“O goleiro começou culpado e saiu sem culpa, pois na falha de Valdir Peres, nesta copa, havia tempo, ânimo e futebol para a recuperação”.

19861986

1986 – A França leva o 1986 – A França leva o canecocaneco

“Galera bota culpa em Zico e Sócrates”.

“Em tarde de muito calor e jogo quente, Zico estava frio quando chutou o pênalti para a defesa de Bats”.

19861986

“ Devemos respeitar o seu drama de uma pungência de tragédia grega. Ninguém fez mais, lutou mais para ser tetracampeão e o craque da Copa. Mas o destino foi inexorável na punição inexplicável. Zico despediu-se da Copa como o anti-herói na melancolia de uma classificação para a semifinal atirada pela janela por um erro que não costuma cometer”.

19901990

1990 – É vez da Alemanha1990 – É vez da Alemanha

A derrota é personificada pelo jogador Dunga, que representava o futebol-força. As críticas questionam o seu estilo de jogar, focalizam a técnica, mas poupam o jogador enquanto ser humano:

“Não deu certo a tentativa de esquematizar o futebol brasileiro, abrindo mão do talento natural e do improviso, (...) A Era Dunga não chegou (...) O proveito da derrota passa pela necessidade do reexame desses conceitos de futebol-força”.

Tese defendida:Tese defendida:

As metáforas da mídia esportiva são enviesadas: no jogador branco, focalizam a performance; no negro, o acovardamento.

LIVROSLIVROS

                   

                   

                   

                   

                                          

O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO

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Anatol Rosenfeld - 1993

                   

                  

                                          FOOTBALLMANIA: UMA HISTÓRIA SOCIAL DO FUTEBOL NO RIO DE JANEIRO

Leonardo Affonso de Miranda Pereira - 2000

DOS PÉS À CABEÇA: ELEMENTOS BÁSICOS DE SOCIOLOGIA DO FUTEBOL

Maurício Murad - 1996

                   

                  

                      

A INVENÇÃO DO PAÍS DO FUTEBOL: MÍDIA, RAÇA E IDOLATRIA

Antonio Jorge Soares Hugo Lovisolo Ronaldo Helal - 2001              

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Antonio Jorge Gonçalves Soares. Futebol, Raça e Nacionalidade no Brasil: releitura da história oficial. 01/03/1998.1v. 296p. Doutorado. UNIVERSIDADE GAMA FILHO - EDUCAÇÃO FÍSICA

Carlos Alberto Figueiredo da Silva. Futebol, linguagem e mídia: entrada, ascensão e consolidação dos negros e mestiços no futebol brasileiro. 01/10/2002.1v. 198p. Doutorado. UNIVERSIDADE GAMA FILHO - EDUCAÇÃO FÍSICA

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“De que valeria a obstinação do saberse ele assegurasse apenas a aquisição dos

conhecimentose não, de certa maneira, e tanto quanto possível,

o descaminho daquele que conhece?Existem momentos na vida onde a questão de saberse se pode pensar diferentemente do que se pensa,

e perceber diferentemente do que se vê,é indispensável para continuar a olhar ou a

refletir”. 

Michel Foucault

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