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Belém, vol. 1, n. 2, p. 198-214, julho/dezembro 2015
Quadrinhos e sociedade: Uma investigação sobre o potencial expressivo da
linguagem das histórias em quadrinhos.
Renan Bergo da Silva1
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O presente artigo tem por finalidade apresentar uma pesquisa de mestrado que se
inicia. Esta pesquisa pretende refletir sobre algumas questões que dizem respeito à linguagem
das histórias em quadrinhos quando em relação com as sociedades nas quais está inserida. A
tentativa é sondar de que maneira estão relacionadas determinadas ideias correntes sobre o
que são as histórias em quadrinhos com o que de fato essa linguagem tem potencial para ser,
ou seja, procurar entender como determinadas concepções sociais cristalizadas - e não
propriedades intrínsecas da linguagem - presidiram o entendimento e os usos que se fez dos
quadrinhos, coibindo determinadas abordagens e favorecendo outras.
Minha sugestão é que, ao longo dos anos, essa situação de menoridade trouxe
problemas para autores que pretendiam criar quadrinhos que não se moldavam tão
imediatamente a esse esquema prévio, incitando-os a criar estratégias que dessem conta de
esclarecer o não pertencimento de seus trabalhos ao campo limitado pelo qual as sociedades
percebem os quadrinhos ou a tentarem operar uma reconceituação do que é (e, por extensão,
do que pode) essa linguagem. As tentativas de encontrar outros nomes para a linguaguem e
para as obras (Arte Sequencial e Graphic Novel sendo os mais emblemáticos) me parece uma
manifestação dessas estratégias. Outro exemplo seria a necessidade de inscrever em
determinados livros e revistas em quadrinhos frases como “sugerido para adultos” e outras
semelhantes.
Podemos recorrer ao cinema como critério de comparação para entender as questões
implicadas na frase “sugerido para adultos”, comum a determinadas publicações de
1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unesp Araraquara. Vinculado ao
Núcleo de Antropologia da Imagem e da Performance (NAIP) na mesma instituição, estuda as histórias em
quadrinhos no Brasil contemporâneo junto a autores, editores e críticos, buscando uma aproximação etnográfica
com esses agentes que permita desenvolver um trabalho de investigação sobre as possibilidades expressivas
dessa linguagem, sua relação com outras manifestações expressivas e seu lugar na sociedade. Contatos
renanbergo@gmail.com
Renan Bergo da Silva
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quadrinhos. Imaginemos uma videolocadora, nesses ambientes a organização dos filmes
costuma ser dada por gêneros, os genêros são bolsões extremamente abrangentes como
Drama, Comédia, Ação, Western e uma prateleira que nos importa aqui especialmente,
Infantil.
Cinema infantil é tido como um gênero e se fizermos a experiência de ir até a locadora
e procurar a prateleira de filmes infantis, notaremos que uma parte significativa dos mesmos
são animações e poderemos encontrar, inclusive, animações não direcionadas ao público
infantil perdidas nessas prateleiras. Concluímos daí que o filme de animação sofre da mesma
associação imediata com o universo infantil que os quadrinhos, como veremos adiante. Mas
para além disso há outra conclusão que podemos tirar e que interessa mais aqui.
A classificação filme infantil opera especificando e separando esses filmes de um
conjunto maior, ela nos informa algo a respeito do conteúdo e da estética que podemos
esperar deles, ela tranquiliza os pais que procuram proteger seus filhos de determinados temas
e questões entendidos como não adequados a uma criança. Em suma, ela diferencia essas
produções dos filmes adultos, que constituem o corpus de filmes em geral e do qual os
especificamente infantis se diferenciam por oposição.
A designação análoga nos quadrinhos, no entanto, é diametralmente oposta, é aquela
que designa os “quadrinhos adultos” ou, expressões com a mesma função como
“desaconselhável para menores de 18 anos” ou “sugerido para adultos” ou qualquer outra
afim. O que essas expressões nos dizem sobre as percepções sociais de quadrinhos e cinema?
Ora, a formulação óbvia é quadrinhos são primordialmente para crianças enquanto cinema é
primordialmente para adultos.
Quanto a questão de por qual nome devemos nos referir aos quadrinhos, considero-a
como uma pista importante para refletirmos, já fizemos alusão às expressões Graphic Novel e
Arte Sequencial, que são manifestações da questão que estamos tratando, mas existem muitas
outras. Até onde me foi dado observar, nenhuma outra linguagem apresenta tamanha profusão
de designações, seria isso indicativo da questão do problemático status social dos quadrinhos?
Podemos tomar esse procedimento de nomeação como um sintoma de que há algo incômodo
na palavra comics ou em comic book – assim como nos seus sinônimos em outras línguas
além do inglês. É como se essas palavras carregassem um estigma ou se a elas se ligasse toda
uma cadeia associativa que remete à infância, à incapacidade de lidar com temas sérios e a
outras “desvantagens”.
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Outro erro comum é afirmar que quadrinhos highbrow são, de alguma
maneira, não exatamente quadrinhos mas outra coisa (preferencialmente com
um nome pomposo [...]), diferentes não apenas em grau mas em natureza de
seus homônimos da cultura de massas. (WOLK, 2007, p.12).
Douglas Wolk chama nossa atenção em seu livro Reading Comics: how to read
graphic novels and what they mean para o quão estranho seria encontrar um procedimento
que através de uma mudança de nome procurasse infundir uma ideia de profundidade e
seriedade à determinada obra em outra linguagem. Wolk, continuando a passagem acima, nos
dá um bom exemplo do estigma ligado ao termo comics, é o que ele chama de “truque se-é-
profundo-não-é-realmente-quadrinhos”,
Há certa consciência de classe de nariz empinado inerente nesse argumento
particular; que fica evidente, por exemplo, numa resenha de Gloria Emerson
no exemplar do The Nation de 16 de junho de 2003. “Nunca tive o hábito de
ler gibis [comic books]”, ela escreve, “então eu, num primeiro momento,
rejeitei levemente Persépolis de Marjane Satrapi. Mas ela é uma artista tão
talentosa e seus desenhos em preto e branco são tão cativantes que parece
errado chamar sua autobiografia de um gibi. Antes é uma “autobiografia
gráfica” na tradição de Maus, a brilhante história do Holocausto de Art
Spiegelman.” Se você não vê o que está errado com essa passagem, imagine
ela começando: “Nunca tive o hábito de assistir filmes...,” e terminando por
afirmar que, digamos, Syriana não é realmente um filme mas uma “narrativa
cinemática” [“cinematic narrative”] na tradição de O resgate do soldado
Ryan. (WOLK, 2007, p.12)2
Mas se alguns quadrinistas, como Will Eisner e Scott McCloud, tentaram angariar
respeitabilidade, seriedade e, no caso de Eisner, uma qualidade literária para os quadrinhos,
seja através de nomenclaturas ou outras estratégias, há outra posição que desconfia dessa
postura como se ela afastasse os quadrinhos de suas características mais interessantes e
poderosas. Entre os que manifestam essa desconfiança podemos citar Robert Crumb, Art
Spiegelman e Frank Miller. Crumb certamente não subscreve ao desejo de Eisner de pensar os
quadrinhos como literatura.
Quadrinhos dão sua versão bem particular da realidade. Há muitas
abordagens diferentes pra eles, mas não é o mesmo que literatura.
Quadrinhos são diferentes, e quando um cartunista tenta elevar o gênero, por
assim dizer, corre o risco de se tornar pretensioso. Quadrinhos sempre
2 As citações a Wolk são traduções minhas. Mantive expressões originais entre colchetes quando julguei adequado.
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exploraram a sensação e o choque, desde as edições baratas sobre o martírio
dos santos ou cenas de batalha no século XVI. As imagens têm que ser
fortes. Dá pra ser bem pessoal nos quadrinhos, mas imbuir sutileza literária
séria neles me parece absurdo. Há algo de tosco e proletário nos quadrinhos.
Se você se afastar demais disso, bem, pode parecer bobo. Não consigo ler
boa parte dos quadrinhos sérios e profundos que são feitos hoje. Me parecem
um tanto pretensiosos, às vezes. “Leia você – eu não consigo”. Quando
penso em aplicar meu talento artístico pra demonstrar como funciona a
psique profunda de um indivíduo prototípico, e como ele interage com o
mundo, como no grande romance de Flaubert Madame Bovary, a simples
ideia me deixa cansado, esgotado... ufa! (CRUMB, 2005, p.123).
Art Spiegelman, em um documentário sobre Will Eisner, refere-se aos perigos da
legitimação tão desejada pelo documentado,
Para que os quadrinhos tenham um futuro, é necessário encontrar esse
público sério, que deve estar lendo textos sem imagens e vendo filmes
sérios. Ainda assim, há uma espécie de perigo só porque as energias mais
fortes dos quadrinhos, provavelmente vêm de suas qualidades de
transgressão, pelo status de marginal e suas origens no grafite. Esse tipo de
vanguardismo é parte do que eu gosto nos quadrinhos. E o perigo de se falar
de quadrinhos como uma forma de arte séria, para adultos, é perder isso e
ganhar uma respeitabilidade domesticada. (SPIEGELMAN).
Frank Miller em conversa com Eisner diz,
Em ambos os casos [quadrinhos dos anos 1950 e dos 60], eles foram
triunfos criativos precisamente por serem ultrajantes e ousados, que é
o que eu penso que os quadrinhos foram feitos pra ser. Eu acho que há
algo fora-da-lei sobre o meio [medium] que define o que nós somos, e
a pior coisa que nós já fizemos foi higienizar nós mesmos. (MILLER,
2005, p.120).
Eu acho que nós estamos numa forma jovem e vital [os quadrinhos]
que tem um aspecto perigoso e fora-da-lei ligado a ela, e isso é uma
das coisas que amo a respeito dela. (ibid., p.162).
Eu acho que os quadrinhos estão no seu melhor quando são
provocativos, e sua natureza fora-da-lei é o que eu quero buscar neles.
Nós temos uma forma que não tem o poder visceral, técnico do filme.
Cabe ao leitor controlar o tempo. É essencialmente um meio frio [cold
medium], o que significa que ele pode carregar mais e mais ideias
ultrajantes. (ibid., p.178).3
3 As referências a Miller são traduções minhas.
Renan Bergo da Silva
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É digno de nota que as colocações de Spiegelman e Miller tenham sido feitas num
diálogo direto com as colocações do mais famoso advogado dos quadrinhos como literatura,
Will Eisner. O quadrinista brasileiro Odyr Bernardi, em uma postagem em uma página da
internet apresenta questão parecida,
Há toda uma tentativa no Brasil agora de trazer os quadrinhos para a
sala de visitas, digamos, de forçar uma legitimidade, uma seriedade. É
compreensível e justificável. Mas é possível também que algo se perca
no caminho. A tremenda liberdade que existia justamente porque
ninguém estava olhando, porque ninguém levava a sério. A liberdade
de fazer ratos e patos falarem ou heróis voarem ou serem cósmicos.
(BERNARDI, 2009).
O receio de perder algo ao levar os quadrinhos muito a sério, a desconfiança da
legitimação social pretendida, a ideia da liberdade conseguida ao não ter que prestar contas ao
cânone artístico aparece nesses e em muitos outros discursos, outro exemplo,
Eu nunca pensei seriamente em escrever um livro porque eu respeitava
muito a literatura e porque eu achava que eu não saberia fazer, o quadrinho
te dá uma liberdade, não tem um olhar crítico tão rigoroso, é um lugar onde
você pode experimentar muito. (MUTARELLI, 2010).
Esses discursos são indicativos de que os debates no campo dos quadrinhos estão
aquecidos e comportam múltiplas posturas em relação à linguagem, me parece que essa
vitalidade é importante para o desenvolvimento dos quadrinhos.
Figura 1 - Tira de Seth tematiza os diferentes nomes associados à linguagem
Fonte: BRUNETTI, Ivan (org.) An anthology of graphic fiction, cartoons, & true stories.
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A tira apresentada acima sintetiza algumas das ideias aqui discutidas. O quadrinista
canadense Seth usa alguns atalhos visuais para caracterizar o pertencimento de classe e as
posições sociais ocupadas pelos dois personagens. O cavalheiro da alta sociedade e o dono da
banca de jornal, um sujeito da classe trabalhadora, mimetizam a relação algo conturbada entre
graphic novels e comic books, entre quadrinhos que querem entreter, chocar (e, em certos
casos, ultrajar) e quadrinhos que, às vezes pomposamente, almejam uma respeitabilidade
outra. Estamos, portanto, diante de uma espécie de dicotomia que opera opondo quadrinhos à
arte séria e respeitável.
Há uma grande carga de autoironia na tira apresentada. Seth é um quadrinista que
resgata e trabalha com certos procedimentos dos quadrinhos comerciais despretensiosos e,
também, um respeitado autor de quadrinhos sérios. Um de seus trabalhos foi batizado com a
expressão picture novella, certamente mais próxima de graphic novel que de comic book. A
tira acima está na sobrecapa da luxuosa antologia An anthology of graphic fiction, cartoons,
& true stories, editada por Ivan Brunetti, também quadrinista, pela editora da universidade de
Yale, ou seja, estamos longe de um comic book vendido numa banca de jornal.
Entre o quadrinho com pretensões sérias e o quadrinho de entretenimento, talvez seja
possível uma síntese. Seth e alguns de seus colegas quadrinistas parecem apostar nisso. Nas
palavras de Chris Ware – que além de amigo de Seth, compartilha com ele certos
procedimentos estéticos,
Artistas como [...] eu, estão tentando contar histórias fortes com ferramentas
de piadas. É como se nós estivéssemos tentando escrever um épico poderoso,
profundamente envolvente, ricamente detalhado com uma série de versos
humorísticos. (WARE apud ISABELINHO, 2009)4
QUADRINHOS E OUTRAS MANIFESTAÇÕES EXPRESSIVAS
4 Tradução minha.
Renan Bergo da Silva
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Tira de Laerte Coutinho
Fonte: COUTINHO, Laerte. Manual do Minotauro (blog).
A tira acima, de autoria de Laerte Coutinho, tematiza as distinções rígidas entre as
práticas artísticas. Para se entender a dinâmica social dos quadrinhos, pode-se compará-los
com as artes que encontraram um status social mais elevado. A partir dessa comparação é
possível formular uma dicotomia que encerraria em domínios diferentes, pouco permeáveis
entre si, os quadrinhos e as artes consagradas. O campo dos quadrinhos seria caracterizado
pelo entretenimento, pela orientação infantojuvenil, pela efemeridade, pela frivolidade de
temas e procedimentos gráfico-visuais. O campo da grande arte, é caracterizado por
marcadores que podem ser pensados como diametralmente opostos aos citados acima, sendo
associado às questões humanas profundas, ao mundo adulto, à durabilidade no tempo, à
sofisticação de temas e procedimentos estéticos. Isto para ficar em apenas algumas das
características que marcam esse domínios, características que supõem diferentes funções
sociais.
Assim, não é incomum a percepção de que há um lugar menor reservado aos
quadrinhos na hierarquia das manifestações expressivas, essa percepção expressa-se nas falas
de diversos autores, editores, críticos e leitores. É um discurso corrente na comunidade dos
quadrinhos, mesmo que nem sempre problematizado e por vezes usado apenas para vitimizar
a condição de quadrinista ou de leitor de quadrinhos perante uma sociedade que - do ponto de
vista de quem assume o papel de vítima - não os compreende e os estigmatiza.
Um dos muitos problemas que podem ser identificados nessa dinâmica social é o fato
de que as concepções que reprimem e diminuem os quadrinhos não apenas encontram-se fora
da comunidade quadrinística, mas fincaram raízes no interior dessa mesma comunidade, uma
visão estreita dos potenciais dos quadrinhos é comum entre seus praticantes e apreciadores,
segundo alguns analistas. Pedro Franz, quadrinista de Florianópolis, partindo de uma
indignação da comunidade quadrinística brasileira gerada por um comentário feito por Zoraya
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Failla, gerente-executiva do instituto Pró-Livro, em 2013 – comentário que foi amplamente
entendido como confirmando o pertencimento dos quadrinhos a um “campo menor” -,
localiza a origem do problema no interior dessa mesma comunidade,
As maiores bobagens ditas e o maior “preconceito” que existe sobre as
histórias em quadrinhos são do próprio meio. Não me surpreende em nada
ver o que a tal Zoraya Failla disse. Esse tipo de pensamento é reflexo de um
campo artístico que, salvo raras exceções, sempre associou as histórias em
quadrinhos à infância e a uma leitura ligada ao nostálgico. (...) A questão é:
qual a responsabilidade de autores, críticos, leitores, mídia e instituições do
meio dos quadrinhos na perpetuação desse chamado “preconceito”?
(FRANZ apud ASSIS, 2013).
No entanto, se essa dinâmica pode ser observada no interior do que estou chamando de
comunidade quadrinística (as pessoas que se congregam em torna da produção, distribuição e
consumo de quadrinhos), isso não significa que os problemas não estejam também na relação
dessa comunidade com o campo social englobante e suas instituições. Não por acaso, num
livro que pretende escrutinar a dinâmica entre os quadrinhos e a arte - em especial as artes
plásticas -, seu autor, Bart Beaty, escolheu o sugestivo título Comics Versus Art (2012), a
escolha da palavra versus para marcar a relação entre os dois campos é sintomática dessa
mesma relação e uma miríade de exemplos poderia ser aventada para ilustrar a tese de uma
oposição conflituosa entre esses domínios, o dos quadrinhos e o da grande arte. Beaty sugere,
em dado momento de seu livro, que os quadrinhos podem ser conceituados como “o outro da
arte”.
Para ficar em um caso da referida relação, é instrutiva a entrevista que Lourenço
Mutarelli, quadrinista e escritor – entre outras ocupações –, deu à revista virtual O Grito! no
ano de 2008 onde detalha as diferenças de tratamento que lhe foram dispensadas quando
participou de um mesmo evento em duas ocasiões distintas, uma como escritor e a outra como
quadrinista. Tais diferenças incluem: o hotel onde ficou hospedado, o transporte colocado à
sua disposição e, significativamente, seu cachê. Penso que nem é preciso dizer aqui qual
categoria lhe valeu as melhores condições.
Dentre os autores que procuraram trabalhar teoricamente esse problema, além de
Beaty, Thierry Grooensteen é um dos mais destacados, ele isola cinco “desvantagens
simbólicas” que teriam, ao longo do tempo, impedido os quadrinhos de ascenderem ao mesmo
nível e gozar do mesmo prestígio social que outras manifestações expressivas.
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As desvantagem simbólicas, segundo Grooensteen são 1) Uma qualidade “impura”
(aos olhos de certa concepção ocidental de arte) devido à mistura entre texto e imagens, 2) A
associação histórica entre quadrinhos e infância, 3) Outra associação histórica, essa entre
quadrinhos e caricatura, considerada um ramo menor nas artes visuais, 4) O não engajamento
ativo dos quadrinhos nos procedimentos visuais propostos pelas vanguardas do século XX e,
finalmente, 5) a dimensão reduzida e a multiplicidade das imagens de quadrinhos. À essas
desvantagens certamente poderíamos procurar e acrescentar outras, no entanto essas cinco já
dão conta de apontar para o tamanho do problema.
É importante salientar que das cinco desvantagens, ao menos quatro (a possível
exceção é a quinta desvantagem) apontam diretamente para fatores histórico-sociais de
deslegitimação da linguagem, não sendo portanto problemas intrínsecos à mesma. O status de
menoridade é uma complexa construção histórico social – algo que os membros da
comunidade dos quadrinhos reconhecem há tempos – e não diz respeito à limitações
endógenas da linguagem, como ainda parece formular o senso comum.
A PESQUISA
Minha intenção, no processo do pesquisa, é partir das ideias aqui aventadas para
investigar, junto a atores privilegiados – quadrinistas, editores, críticos - da cena
contemporânea de quadrinhos do Brasil, a persistência ou superação na produção, distribuição
e recepção de quadrinhos dos aspectos apresentados nesse texto. Os quadrinistas ainda
estariam limitados em suas possibilidades expressivas pela concepção social restritiva que
marcou tão profundamente a história do meio, ou isso são águas passadas? O ofício de
quadrinista encontra reconhecimento social, ou essa atividade ainda permanece relegada a
uma espécie de marginalidade econômica e social?
Não é difícil constatar que nas últimas três ou quatro décadas o status de menoridade
dos quadrinhos e as restrições temáticas e expressivas impostas à linguagem estão se
modificando amplamente, diversos tipos de sensibilidades artísticas, procedimentos plásticos
e gráficos, temas e inovações formais inéditos ou incomuns puderam ser observadas num
crescendo. Isso aconteceu em diversos contextos nacionais como nos Estados Unidos, França-
Bélgica, Japão (possivelmente as mais consolidadas tradições nacionais de quadrinhos), entre
outros. Um comentário recente de Luis Fernando Verissimo, que além de escritor é também
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quadrinista, esclarece e exemplifica a manifestação dessa dinâmica no Brasil,
Que quadrinhos são outra forma de arte não é novidade, o notável é
como ela se distancia das outras, como aumenta a diferença. Os
quadrinhos não ficaram mais literários, nem mais cinema impresso ou
arte plástica, ficaram mais essa outra coisa. O que, não sei. Só sei que
é fascinante. Hélio Jesuíno e Patati são dois grandes praticantes da
outra coisa. Estas histórias, se é que ainda cabe o termo, são exemplos
de uma sensibilidade e de uma expressão que ainda não existiam no
mundo. Pelo menos, não no tempo em que eu lia o Capitão Marvel.
(VERISSIMO, 2014).
Esse movimento de ampliação das possibilidades expressivas e de legitimação social
vem sendo intensificado a cada nova geração de autores. Seguros das conquistas das gerações
anteriores, cada geração força, à sua maneira, as fronteiras estreitas onde se encerrou
socialmente os quadrinhos. Nesse contexto, o Brasil contemporâneo apresenta uma
diversidade na produção de quadrinhos provavelmente sem paralelos no que poderíamos
chamar de "história dos quadrinhos brasileiros". É o que Érico Assis constata, ancorado numa
fala de Laerte Coutinho proferida no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo
Horizionte, o FIQ, em novembro de 2013.
Numa das primeiras perguntas da plateia, Laerte foi questionado quanto ao
que pensava do panorama dos quadrinhos no Brasil. Parafraseio a resposta:
só o Festival ali em volta era prova de que não existe mais só o quadrinho
brasileiro, mas os quadrinhos brasileiros.
Laerte estava falando da variedade de gêneros, de formatos, de estilos, de
públicos, de temas, de variação que se vê na produção atual. Se nos anos 70,
quando ele começou, havia poucas opções fora dos gêneros de massa, o que
se vê hoje é a consequência do movimento que buscou mostrar as HQs como
opções de leitura que podem abarcar o infantil, o adulto, o super-herói, a
biografia, a filosofia, a arte experimental, a simplicidade estilizada, o
underground, o cômico, o ensaístico e virtualmente tudo que se queira fazer
com imagens e palavras. (ASSIS, 2013).
Essa dinâmica, que vem se intensificando no caso dos quadrinhos, apresenta
similaridades com dinâmicas já ocorridas com o cinema e a fotografia. Essas duas práticas
expressivas também precisaram angariar respeitabilidade, sendo num primeiro momento
entendidas como “menores” diante das artes já consagradas.
Da observação dessas dinâmicas podemos aferir que novas formas expressivas,
quando surgem, precisam, de alguma maneira, ser classificadas socialmente. Classificação
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que só é possível em relação às formas expressivas pré-existentes e que carregam sempre um
elemento de conflito, como se as antigas formas expressivas não quisessem ceder o status que
possuem às novas, ou como se pudessem farejar que essas novas modalidades tomarão para si
algumas das funções antes reservadas a expressões já existentes, seriam portanto ameaças.
Podemos verificar esse último caso na relação inicial entre fotografia e pintura.
Walter Benjamin analisou atentamente essas dinâmicas nos casos da fotografia e do
cinema. No caso dos quadrinhos, esse trabalho ainda precisa ser feito e as dinâmicas e debates
estão fervilhando. Nessa frente, autores como os já citados Bart Beaty e Thierry Groensteen
têm produzido, dentro do âmbito acadêmico, trabalhos interessantes. Há ainda uma série de
textos e reflexões sobre tais questões que não estão academicamente formalizadas mas
pululam em blogs, entrevistas, conferências, palestras, mesas redondas, feiras, revistas
especializadas, etc.
Na tentativa de forjar uma imagem um pouco mais clara dessa dinâmica vibrante e de
sua relação com dinâmicas anteriores comparemos o comentário de Beaty sobre quadrinhos e
o de Benjamin sobre fotografia.
“A controvérsia travada no século XIX entre a pintura e a fotografia quanto ao valor
artístico de suas respectivas produções parece-nos hoje irrelevante e confusa.”(BENJAMIN,
1996, p.176).
“No futuro, parece provável que a distinção firme entre o mundo dos quadrinhos e o
mundo das artes será vista como curiosamente antiquada, uma coisa do passado.” (BEATY,
2012, p.13).
Se aceitarmos que esta é uma questão extremamente viva que ainda não se converteu
numa curiosidade antiquada, será interessante perceber em que medida o status de
menoridade dos quadrinhos afeta seus praticantes e apreciadores e em que medida foi
superado. É com isso em vista que analisarei parte da produção brasileira contemporânea de
quadrinhos, focando a olhar em autores e trabalhos que, no meu entendimento, estão de
alguma maneira dialogando com o tipo de dinâmica apresentado aqui. Pretendo manter uma
interlocução com autores, editores e críticos que estão buscando, conscientemente ou não,
expandir os limites da linguagem, pessoas que no seu dia a dia e na sua produção enfrentam
algumas das questões aqui expostas. Pretendo fazê-lo através de análises dos materiais
publicados, de diálogos e de incursões em determinados espaços privilegiados: eventos como
feiras de quadrinhos e de publicações, estúdios, lojas especializadas.
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Se eu, teoricamente, me debato com tais questões é de se esperar que aqueles que se
dedicam cotidianamente à prática de fazer quadrinhos encontrem-na também, e é com eles
que quero dialogar. Pessoas, coletivos e publicações como Pedro Franz, Rafael Coutinho,
Rafael Sica, Rafael Campos Rocha, Diego Gerlach, D.W. Ribatski, Laerte, Odyr Bernardi,
Lovelove6, Lourenço Mutarelli, Rachel Gontijo, Érico Assis, Ciro I. Marcondes, Samba,
Beleléu, Cachalote, Nébula, Antílope, Suplemento, entre muitos outros, estão mantendo viva
uma produção diversificada e plural e aludem a essas questões em certos projetos ou
declarações.
BREVE NOTA SOBRE REFERENCIAL TEÓRICO
Pierre Bourdieu é sem dúvida uma importante referência para pensarmoms as
situações envolvidas na legitimação do campo social dos quadrinhos. Essa percepção não é
nossa, desde 1975 no primeiro número da revista editada pelo próprio Bourdieu, Luc
Boltanski apresenta uma pesquisa que teve por intuito aplicar o instrumental teórico analítico
bourdiano ao campo da Bande Dessinnée, as histórias em quadrinhos franco-belgas.
Num artigo publicado em 1975 no primeiro volume da revista Actes de Recherche en Sciences
Sociales, editada pelo sociólogo Pierre Bourdieu, Luc Boltanski procura relacionar as mudanças no
status cultural dos quadrinhos à mudanças sociais e culturais mais abrangentes. Ao fazer isto, ele
utiliza termos e conceitos do trabalho de Bourdieu [...] estes termos ainda serão relevantes para
discussõess sobre o status das histórias em quadrinhos nas décadas seguintes. (MILLER, 2007,p.30)5
Certamente a análise de Boltanski foi uma das primeiras a procurar pensar os
quadrinhos numa perspectiva das ciências sociais, com a novidade, a meu ver uma vantagem,
de não optar por uma análise que olhasse para o material como um produto da cultura de
massas funcionando como mero repositório da ideologia capitalista reinante (sem menosprezo
a análises deste tipo que podem vir a cobrir áreas de estudo importantes, porém é preciso
cuidado com um dos perigos colocados por esse tipo de análise, a saber, a generalização de
produções muito diversas sob um mesmo rótulo).
Esta análise também se afastava de outra tendência do estudo acadêmico dos
quadrinhos em voga à época, a tendência semiológica, sem dúvida importante e com diversos
desdobramentos contemporâneos, mas que não se propunha dar conta dos aspectos sócio-
5 . Esta e outras citações de Miller são traduções minhas.
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antropológicos vinculados à essa prática expressiva. Ann Miller constata a proliferação dessa
tendência e a eventual abertura para outras abordagens “trabalhos acadêmicos sobre
quadrinhos desde os anos 1990 na França e Bélgica continuaram a investigar práticas
significativas de quadrinhos, mas evitaram a dependência num modelo linguístico” (MILLER,
2007, p.67).
O trabalho de Boltanki é referido em Reading Bande Dessinée – Critical Approaches
to French-language Comic Strip, livro de Ann Miller, que faz uma leitura cronológica dos
quadrinhos franco-belgas. Na pesquisa exposta nete livro encontro aspectos que dialogam
com a pesquisa que estou conduzindo. Miller faz intenso uso de categorias construídas por
Bourdieu para a análise do desenvolvimento e das tensões no campo dos quadrinhos franceses
e belgas durante a década de 1970 até meados da primeira década do século XXI. É a partir de
ideias como distinção, capital cultural, consagração, entre outras que a autora lerá uma série
de eventos.
Entre os eventos que fizemos menção podemos mencionar a construção por parte do
governo do Centro Nacional de Histórias em Quadrinhos e da Imagem (Centre National de la
Bande Dessinée et de L'Image) em Angoulême, pequena cidade famosa por abrigar um dos
principais festicais de quadrinhos do mundo. Junto a criação do centro foi criada também um
curso experimental de quadrinhos na Escola de Belas Artes de Angoulême, que formou
artistas que viriam a ser importantes no cenário francês. A criação de jornais e revistas com
foco no pensamento e na crítica de quadrinhos também tem importância considerável, a mais
representativa destas revistas foi a Les Cahiers de la bande dessinée. Os estudos acadêmicos
também são aventados como trazendo importantes contribuições para a consagração cultural
do campo.
O caminho aberto por Boltanski e Miller, ao utilizarem os conceitos de Bourdieu, será
de grande ajuda para o desenvolvimento de minha pesquisa, ter um termo de comparação com
as situações da França e Bélgica e como a legitimação cultural dos quadrinhos impactou
produção, distribuição e recepção por lá será importante na construção do nosso próprio
panorama, na análise do caso brasileiro. Entretando, sinto-me impelido a ressaltar que não
investirei numa exaustiva pesquisa macrossociológica que dê conta de explicar
detalhatamente causas e efeitos da legitimidade cultural ou falta da mesma no campo dos
quadrinhos no Brasil. Antes, minha proposta é uma etnografia junto a autores, editores e
críticos procurando compreender a maneira como esse quadro macro afeta suas práticas
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diárias, seu trabalho e seu pensamento.
Ann Miller, parte ainda de Bourdieu para fazer uma análise da representação de
habitus de classes em histórias em quadrinhos específicas,
Objetos, prácticas culturais e o próprio corpo podem ser vistos, então, como
signos que permitem às classes dominantes distinguirem-se das classes
socialmente inferiores à elas. Relações de poder podem, portanto, ser
reproduzidas indiretamente ao invés de o ser por repressão direta, é o que
Bourdieu se refere como „batalho simbólica‟ (Bourdieu 1979: 230). Uma
arma adicional nessa batalha é a linguagem, através da qual „violência
simbólica‟ pode ser exercida (Bourdieu and Thompson 2001).
Em A Distinção, Bourdieu põe em foco o habitus de três classes: a classe
dominante, a pequena burguesia e a classe trabalhadora. [...] Nós iremos
exemplificar todos esses tipos de habitus através de séries de quadrinhos.
(MILLER, 2007, p.180)
Essa análise sem dúvida é profícua e válida. Podemos certamente propor também a
utilização de uma análise que leve em conta as questões levantados por Bourdieu em A
Distinção em relação ao próprio hábito de leitura de história em quadrinhos e em como ele
pode ser uma marcador de pertencimento a uma determinada classe, ainda mais se seguimos o
contraste entre quadrinhos X grande arte. Os quadrinhos estiveram - desde os primóridios de
sua cristalização como prática expressiva - ligados ao povo, à classe trabalhadora, eram
pequenas histórias despretensiosas publicadas em jornal, recheadas de humor violento e com
influência do vaudeville. Como o quadrinista Robert Crumb apontou, numa das citações deste
artigo, “Há algo de tosco e proletário nos quadrinhos. Se você se afastar demais disso, bem,
pode parecer bobo” (CRUMB, 2005, p.123).
O projeto aqui esboçado pretende caminhar por uma vereda transdisciplinar, nela,
autores como Bart Beaty e Thierry Groonsteen me orientarão nas questões específicas
relacionadas aos quadrinhos. Há também críticos que correm por fora da academia mas me
apresentaram atalhos que ajudaram a construir um pensamento sobre esse campo específico,
entre eles Domingos Isabelinho, Pedro Moura e Noah Berlatsky. Pretendo trabalhar com
entrevistas e depoimentos colhidos junto aos meus interlocutores e com textos, entrevistas,
depoimentos, comentários que esses autores tenham feito em outro contexto, que não mediei.
Autores com importantes contribuições à sociologia da cultura, como Pierre Bourdieu,
Howard Becker, Walter Benjamin e Michel de Certau irão me oferecer aportes teóricos
importantes para tratar das relações entre formas expressivas, instituições artísticas e
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sociedade. Cornelia Eckert, Etienne Samain, Alfred Gell, Markus Banks, David MacDougall
entre outros, são antropólogos que me ajudarão a construir as relações possíveis entre
Antropologia e Imagem. Pretendo adotar uma abordagem que ofereça grande primazia aos
meus interlocutores, os sujeitos de minha pesquisa, na construção da reflexão, procurando
construir um pensamento com eles e não exatamente sobre eles.
Em síntese, pretendo construir uma reflexão que utilize como ponto de partida as
questões que apresentei aqui. Partirei dessas questões para investir na construção de um
panorama, uma cartografia que será construída em conjunto com atores privilegiados da
comunidade dos quadrinhos. Penso em apresentar aos meus interlocutores algumas das ideias
que isolei sobre o lugar dos quadrinhos na sociedade e suas relações com outras práticas
expressivas e obter deles apontamentos sobre as questões expostas, bem como outras que eles
entendam como importantes. Um procedimento que tem como meta a construção de um
conjunto coeso de ideias e não o encontro de respostas inequívocas.
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