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Museologia & Interdisciplinaridade. Revista do Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da Universidade de Braslia Vol.1, n1, jan/jul de 2012
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Pblico, o X da questo?
A construo de uma agenda de pesquisa sobre os estudos de pblico
no Brasil
Luciana Seplveda Kptcke Fundao Oswaldo Cruz
RESUMO: O texto enfatiza a importncia de constituir as prticas em curso no campo da avaliao e dos estudos de pblico nos museus brasileiros em objeto de estudo histrico e social, de forma a refletir sobre o sentido atribudo a estas prticas pelos atores do campo cultural e sua contribuio para os museus. Neste sentido, aps definir o entendimento sobre museu, misso, vocao, estudos de pblico e sua relao com as polticas de democratizao da cultura, a anlise avana apresentando algumas experincias na rea dos estudos de pblico e avaliao em museus brasileiros nos ltimos 10 anos. Conclui propondo uma agenda de pesquisa com trs eixos: anlise do contexto de produo dos estudos, anlise e sistematizao dos resultados acumulados e anlise dos seus usos, visando apoiar uma prtica consciente, crtico-reflexiva e questionadora entre gestores, profissionais e formadores da rea museolgica. PALAVRAS-CHAVE: Museus, estudos de pblico; poltica cultural; democracia cultural. RSUM: Le texte soutient quil est important de rflchir sur les tudes de public et des valuations dans les muses, fin de dvelopper une politique des publics critique et rflexive. Ainsi, aprs avoir dfini ce que lon entend par muse, mission institutionnelle, tudes de publics et ses rapports avec les politiques de dmocratisation de la culture, on discute les prsupposs politiques et scientifiques de ces pratiques considrant quelques expriences brsiliennes dans ce domaine depuis une dcennie. En guise de conclusion, on prsente une agenda de recherche pour les tudes des publics au Brsil partir de trois axes : lanalyse des contextes de production des tudes, lanalyse des rsultats et ses consquences pour le monde des muses ; lanalyse des usages sociaux des rsultats. MOTS-CL: muses; tudes de public; politique culturelle; dmocratie culturelle.
Misso, Funo, Vocao de museu?
Vocao, substantivo feminino de origem latina, remete a dois movimentos
complementares: o ato de chamar e a escolha de quem responde ao chamado. A
construo semntica usual do termo aponta a vocao como uma tendncia,
disposio ou pendor para alguma coisa, o que por extenso acabou designando
talento ou aptido (Aurlio, 1975:1482). comum dizer, fulano tem vocao para
as Artes como quem diz tem talento ou leva jeito para determinada atividade.
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No universo das reflexes museolgicas, falar em misso discorrer sobre o
sentido da existncia da instituio, propondo uma finalidade prioritria, definida
a priori. Entende-se aqui que a vocao de natureza diferente, pois constitui um
processo dialtico e histrico. O ponto de partida o projeto poltico, manifesto na
misso que orienta as aes e as formas de atuar. Esta atuao no mundo
apropriada de modos variados pela sociedade, a observao das formas de
apropriao retroalimentam o projeto e a misso original e a releitura da misso
sugere mudanas no projeto de origem. Uma nova etapa do processo se inicia. Este
processo de construo contnua nem sempre perceptvel de imediato.
O que vem mente ao se falar em museu no incio da segunda dcada do sculo
XXI? A percepo da instituio resulta da justaposio de papis, significados e
modelos redesenhados ao fio do tempo, cristalizados nas definies, a exemplo da
que segue, publicada no stio do Instituto Brasileiro de Museus, em 2005:
O museu uma instituio com personalidade jurdica prpria ou
vinculada a outra instituio com personalidade jurdica, aberta ao
pblico, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento e que
apresenta as seguintes caractersticas:
I - o trabalho permanente com o patrimnio cultural, em suas diversas
manifestaes;
II - a presena de acervos e exposies colocados a servio da sociedade
com o objetivo de propiciar a ampliao do campo de possibilidades de
construo identitria, a percepo crtica da realidade, a produo de
conhecimentos e oportunidades de lazer;
III - a utilizao do patrimnio cultural como recurso educacional,
turstico e de incluso social;
IV - a vocao para a comunicao, a exposio, a documentao, a
investigao, a interpretao e a preservao de bens culturais em suas
diversas manifestaes;
V - a democratizao do acesso, uso e produo de bens culturais para a
promoo da dignidade da pessoa humana;
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VI - a constituio de espaos democrticos e diversificados de relao e
mediao cultural, sejam eles fsicos ou virtuais. Sendo assim, so
considerados museus, independentemente de sua denominao, as
instituies ou processos museolgicos que apresentem as
caractersticas acima indicadas e cumpram as funes museolgicas.1
A definio acima marca as formas institucionais possveis para o museu, afirma
sua natureza pblica, situa o objeto de sua prtica e suas finalidades, sinalizando a
vocao para comunicar, expor, documentar, investigar e interpretar. Bastante
abrangente, deve ser compreendida no s como o reflexo de um projeto poltico,
mas como o resultado de um processo de disputa simblica onde se enfrentam
usos e expectativas sociais constitudos historicamente.
Nascido em terras europias, no bojo das revolues ou no corao das dinastias
esclarecidas, o museu herdou do iluminismo a crena na razo como operadora da
verdade, da justia social e poltica e a misso de construir e preservar um
patrimnio cultural comum a todos os homens civilizados. A instituio com
grande notoriedade e prestgio no sculo XIX, acompanhou de perto a expanso
colonialista dos pases Europeus antes de entrar em crise, nos anos 30 e 40,
servindo aos regimes totalitrios como instituies de propaganda e de
estigmatizao poltica, tnica e social. Posteriormente, competindo com os meios
de comunicao de massa, os museus perderam prestgio social e investimentos,
ao mesmo tempo em que sofreram duras crticas do movimento da contra cultura
de 68. Percebidos por intelectuais e artistas como inadaptados, ultrapassados e
reprodutores de uma cultura elitista, ser neste perodo que um movimento de
ressignificao desponta em diferentes pontos do globo, recuperando prestgio,
investimentos financeiros e vigor simblico para a instituio (Ball, 2000: 138).
1 Definies sobre Museu. Disponvel em : Acesso em 09/02/2012.
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Os museus se formaram na esfera pblica, articulando prticas e discursos sobre
elementos da cultura. Constituram-se como espaos de construo de
conhecimento; de ressignificao de objetos; de interao social; de exerccio de
autoridade simblica, servindo construo da memria, afirmao identitria,
popularizao da cincia, educao esttica e na virada do sculo XX ao XXI,
incluso social. Como camalees, transformam-se, reinventam-se e redefinem, em
permanente negociao, seu papel social. O museu, tal qual o concebemos hoje, a
combinao do humanismo da Renascena, das Luzes do sculo XVIII e da
democracia do sculo XIX (Alexander apud Poulot, 2000: 25), no entanto, segundo
Ball (2000:141), ao final do sculo XX, o museu entrou definitivamente na
sociedade, revendo as relaes estabelecidas com o ambiente e afirmando sua
vocao pblica.
O sentido da instituio e sua forma de operar mudam com o tempo e respondem
realidade de cada contexto poltico, social e cultural. Assim, com a Revoluo
Francesa, em 1789, surge o museu como espao de ressignificao, transformando
objetos monrquicos, feudais ou religiosos em bens nacionais. Vinte e nove anos
aps, no Brasil, o Decreto de criao do Museu Nacional em 1818, anuncia o
projeto de desenvolvimento das cincias naturais nos trpicos, promovendo a
construo de um patrimnio simblico a servio das elites que deveriam
sustentar a implantao da Corte Portuguesa no Rio de Janeiro e dotar a mais nova
metrpole com os equipamentos culturais necessrios (Koptcke, 2005:191).
O Museu Nacional de Histria Natural do Rio ilustra uma experincia particular do
projeto ideolgico destas instituies que, no sculo XIX posicionadas como
agentes de reforma social, atuaram como instrumentos civilizatrios para o Estado
(Sandell, 2003:45). Sandell observa que no incio de 2000, o Departamento de
Cultura, Mdia e Esporte do Reino Unido convidava os museus a reconsiderar seu
papel no combate a questes como ms condies de sade, alta criminalidade,
problemas de fracasso escolar e desemprego, indicadores da excluso social. Em
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diferentes pases, estas instituies buscam estabelecer parcerias com os setores
de sade, assistncia social, educao, dentre outros, visando colaborar para o
alcance de metas de incluso social (2003:46). No incio do sculo XXI, observa-se a
intensificao e ampliao das expectativas do Estado e da sociedade com relao
ao museu. Para alm de templo, escola, frum, centro cvico e ator de
desenvolvimento urbano e econmico, as instituies museais acompanham o
movimento geral de gesto intersetorial nas polticas pblicas. No entanto, no s
obedecem ao contexto sociocultural e poltico, como respondem dinmica do
subcampo de produo simblica onde se situam: museus de arte respondem s
relaes entre os artistas, crticos, gestores, acadmicos, pblicos, artesos,
fornecedores que operam neste espao de produo de forma imbricada e
interdependente (Becker, 1988).
Neste sentido, o papel de um museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro no ser o
mesmo de um museu de Histria Natural ou de Antropologia. A relao entre o
museu, educao e escola refletir, por exemplo, em um programa disciplinar
especfico, no prestgio intelectual e social do campo de saber em determinado
perodo, entre outros fatores que definem a prtica interna e a posio ocupada
pelo museu no universo em questo.
Como se v, os papis sociais atribudos aos museus so mltiplos, resultando de
uma delicada tessitura de fatores relativos tanto riqueza e tradio cultural
acumuladas de um pas ou regio, quanto situao econmica, educacional e
poltica de cada grupo poltico e social onde se desenvolvem estas instituies. De
forma que, falar do papel, da misso ou da funo social do museu em geral no
possvel. sempre um recorte com base em alguma experincia situada no espao
e no tempo, atualizado pela noo de vocao, enquanto processo permanente e
dialtico da vida institucional.
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Os Estudos de Pblico e a construo discursiva
O entendimento das dinmicas que caracterizam o museu nos pases ocidentais,
toma como ponto de partida a possibilidade do museu intervir e sofrer
intervenes de outras instituies, das polticas de Estado e dos demais atores
no s do seu campo especfico como de toda a sociedade. Neste sentido, as
relaes reais e desejadas dos museus com seu pblico funcionam como molas
propulsoras de mudanas para a instituio. Argumenta-se, neste texto, que no
apenas as expectativas sociais delineiam outro conceito de museu e renovadas
prticas e servios referentes aos visitantes e no visitantes (pblico a conquistar),
mas que ao colocar no pblico a centralidade da vocao institucional, ganham
vulto os estudos voltados para estes e suas visitas, construindo um vasto campo
discursivo apropriado pelos diversos atores envolvidos.
No h museu sem pblico e representao sobre estes. A construo dos
visitantes dos museus no plano das representaes sempre existiu.
Colecionadores, curadores, pesquisadores, artistas, profissionais de museus,
educadores, gestores culturais, pais ou visitantes elaboram, de forma mais ou
menos explcita, imagens parciais de um pblico ideal e de um comportamento
desejvel. Os responsveis pelos estudos e avaliaes nos museus, um corpo cada
vez mais especializado, passam a participar das disputas simblicas referentes aos
diversos visitantes, no visitantes e usos sociais da instituio.
A construo do campo dos estudos e avaliaes ocorre principalmente dentro das
universidades e dos museus, s vezes de forma integrada, com a participao dos
gestores pblicos, algumas vezes responsveis pela demanda estruturada e
sistemtica de dados.
As primeiras iniciativas de registro e identificao dos visitantes foram feitas por
meio dos livros de visitante preenchidos pelos porteiros responsveis pelas salas
ou ainda pelos visitantes que assinavam o livro de ouro do museu. No Brasil, o
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registro do pblico remonta ao final do XIX, incio do XX, como ilustra a presena
de dados sobre o nmero dos visitantes aos museus por ms e ano, no Primeiro
Anurio Estatstico do Brasil (AEB), referente ao perodo 1908-1912 (Koptcke,
2005:188).
Diferentes campos disciplinares encontraram nas instituies museais terrenos de
observao, contribuindo, ao longo dos ltimos 80 anos, com a reflexo sobre a
relao dos museus com a sociedade e suas formas de apropriao. As questes
referentes aprendizagem humana foram abordadas pela psicologia no incio do
sculo XX, definindo a visita como uma situao de educao fora da escola. Para os
profissionais dos museus imbudos de sua misso educativa, os estudos
ofereceriam novas abordagens para a elaborao de exposies mais eficazes, no
que se refere aprendizagem. Aps a segunda guerra, os estudos de pblico se
beneficiaram das pesquisas sobre o tempo livre e sobre os meios de comunicao
de massa, situando a visita dentre as escolhas do tempo livre e observando como a
informao circula e como grupos e indivduos se influenciam reciprocamente.
Nesta linha, a teoria da comunicao abre uma possibilidade importante para
abordar visitantes na sua relao com as exposies nos museus, culminado com
os estudos de recepo iniciados a partir dos anos 70.
As cincias sociais explicitaram com o trabalho de Bourdieu e Darbel (1965) a
construo social das escolhas no campo cultural, no mbito de uma problemtica
da dominao e da violncia simblicas. As prticas avaliativas e os estudos de
pblico nos museus refletem, simultaneamente, as problemticas e as teorias em
curso nos diferentes campos do conhecimento bem como as expectativas sociais e
as transformaes na poltica cultural e na oferta museal, caracterizando uma
espiral de demandas, retroalimentao e transformao. Os estudos de pblico
podem ser descritos como processos de obteno de conhecimento sistemtico
sobre os visitantes de museus, atuais ou potenciais, com o propsito de empregar o
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dito conhecimento na planificao e pr em marcha atividades relacionadas com
os distintos grupos de visitantes.
Segundo a abordagem e os pressupostos tericos escolhidos, as questes,
metodologias e finalidades destes estudos formatam prticas passveis de
mltiplas categorizaes. Cada tipo de estudo agrega caractersticas, nuances e
perspectivas particulares que renovam e ampliam a percepo e a construo
discursiva sobre o pblico.
Neste sentido, Octobre (2007:96-97) prope organizar os estudos relacionando os
objetivos, o alvo e as perguntas. Com referncia ao alvo, foram identificados quatro
interlocutores para os quais os estudos costumam voltar-se: os efetivos visitantes
das instituies culturais sejam, o pblico ou praticante; os grupos que por suas
caractersticas sociais e culturais assemelham-se queles que visitam museus e
constituem um pblico potencial a conquistar e o no pblico, ou seja, aqueles
que se diferenciam dos potenciais visitantes e dos praticantes efetivos em seu
perfil sociocultural e demonstram pouco ou nenhum interesse ou familiaridade
quando indagados a respeito destas instituies. Finalmente, a populao de
referncia que representa o universo a partir do qual se podem construir
parmetros de observao dos comportamentos estudados. Dependendo do alvo,
os objetivos variam. Assim, junto ao pblico efetivo, tratando das prticas reais de
visita, os objetivos so sintetizados em trs grupos principais: as sociografias, que
visam descrever o perfil e as modalidades de apropriao das instituies; os
estudos de fluxo, que pretendem acompanhar a dinmica das visitas ao longo do
tempo, contabilizando quantas pessoas realizam tal prtica; e os estudos de
recepo, que buscam compreender as formas de apropriao e o sentido das
prticas junto aos visitantes. Junto ao pblico potencial, a abordagem do
marketing cultural foca na segmentao, buscando identificar necessidades e
expectativas particulares a cada grupo de forma a adequar a oferta cultural,
atraindo novos visitantes. Com relao ao no pblico, trata, principalmente, de
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conhecer as representaes e atitudes daqueles que no visitam, no demonstram
interesse nem valorizam a prtica museal.
Quadro 1 Categorizao dos estudos de pblico segundo alvo, objetivos e
perguntas*
ALVO
OBJETIVOS
PERGUNTAS
O pblico: os visitantes
de um museu, visitantes
de uma exposio ou de
uma atividade particular
no museu; praticantes
efetivos.
Sociografia do pblico: Conhecer
os perfis e as prticas de visita do
pblico;
Identificar fatores facilitadores e
empecilhos do acesso aos museus;
Acompanhar, caso os estudos se
repitam, a evoluo das prticas e
a resposta oferta cultural;
Fluxo de frequncia:
Acompanhar o volume de visitas e
sua variao;
Anlise de recepo:
Compreender as modalidades
concretas de apropriao das
exposies, materiais ou
atividades oferecidas pela
instituio;
Qual o perfil dos visitantes? O nvel
escolar e o tipo de estudos
interferem na frequncia de visitas?
A companhia de visita modifica as
expectativas e a experincia da
visita?
Como as visitas se repartem ao
longo do ano? Que eventos,
internos ou externos ao museu,
favorecem a intensificao das
prticas?
O que os visitantes esperam
encontrar no museu X sobre o tema
Y?
O que os visitantes aprenderam
durante a visita? Como interagem
com os elementos da exposio?
(Leem os textos? Utilizam mdias
diversas? Demandam auxlio aos
mediadores?)
Qual o grau de satisfao dos
visitantes diante da oferta?
Pblico potencial:
grupos que possuem
caractersticas
socioculturais
Identificar fatores que
facilitariam a visita destes grupos;
Conhecer os hbitos culturais e
O que fazem estes grupos em seu
tempo livre?
O que costumam fazer com os
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semelhantes quelas dos
pblicos efetivos dos
museus, visitam
instituies similares,
podendo tornar-se
visitantes ou pblico de
uma dada instituio.
as preferncias destes segmentos
para melhor adequar a oferta e
atrair estes segmentos;
Conhecer as representaes
acerca dos museus e dos temas
que tratam.
filhos?
O que esperam de uma atividade de
lazer educativo?
Que temas parecem prioritrios
para serem abordados em um
museu?
Que tipo de arte mais atrai estes
grupos?
No pblico: grupos que
no costumam
frequentar museus e
manifestam disposio
desfavorvel a esta
prtica;
Conhecer os fatores externos
(ex: falta de equipamento
prximo) e atitudinais (ex:
disposies de gosto, hbitos,
preconceitos, experincias
negativas) que impedem a visita;
Identificar as caractersticas e
expectativas que favoream a
prtica de visita, orientando
ofertas mais adequadas ao perfil
destes frequentadores.
O que pensam sobre os museus?
O que costumam fazer no tempo
livre?
Qual o perfil sociocultural deste
pblico? Qual a influncia dos
amigos e familiares nas prticas
culturais destes grupos?
Populao: Universo
agrupando a populao
de certa localidade
(cidade, estado, pas)
que serve como
referncia para estudar
as caractersticas dos
diferentes grupos de
frequentadores.
Analisar como se situam os
visitantes e o pblico potencial dos
museus com relao
escolaridade, raa/cor; renda,
estado civil, etc. comparados
populao de referncia?
Conhecer as representaes
acerca dos museus e dos temas
que tratam;
Como percebem as instituies
culturais?
Que valores atribuem arte,
sade ou cincia?
Qual a representao que a
populao acalenta sobre os
museus?
* Esta tabela faz referncia ao trabalho de Octobre,(2007).
Logo, se no sculo XIX as categorias de pblicos restringiam-se aos estudiosos e
curiosos, pesquisadores estrangeiros, visitantes ilustres, escolares e a massa ou
popular, a fala dos especialistas e seus estudos introduzem novas categorias. Alm
do pblico real, potencial e do no pblico, fala-se tambm em nefito ou expert,
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considerando a familiaridade com os museus como dispositivo cultural. Distingue-
se o primovisitante do fidelizado, referindo-se assiduidade das visitas a uma
instituio em particular, o pblico de proximidade ou de vizinhana dos turistas
nacionais ou estrangeiros, o pblico escolar do espontneo, o solitrio daquele que
visita em companhia de amigos ou de familiares.
A construo de um pblico fragmentado no seu perfil e nas formas de visita
respalda-se na psicologia cognitiva, sugerindo uma anlise com foco na experincia
de visita com seus contextos pessoal, fsico e social (Lynn, Direking 1992).
Tambm nas cincias sociais ecoar a desconstruo da idia de um pblico geral,
homogneo e estvel, apresentando o pblico da cultura como coalises e
agrupamentos efmeros, fenmenos particulares da vida coletiva, diferentes de
fazer parte da multido ou de uma associao instituda (como um sindicato
patronal) (Mouchtouris, 2003:7,8,16,17; Fabiani, 2007:21-22). O pblico deixa de
ser um grupo construdo de uma vez por todas para tornar-se um organismo vivo
que se forma e se desfaz, composto de grupos sociais diferentes a cada perodo,
sugerindo o uso do termo pblicos no plural.
Observa-se a especializao deste campo de estudo a partir dos anos 70 nos
Estados Unidos e na Europa, retratando os ltimos 42 anos, a histria recente de
uma prtica e seus resultados, onde se fala de uma poltica de pblicos (Fourteau,
2000: 236) percebida como uma nova sensibilidade que leva em conta os pblicos
na elaborao das polticas culturais.
Da democratizao incluso social
A ideia da cultura como direito estabelece para as polticas culturais metas de
democratizao. O acompanhamento destas polticas e suas metas gerou a
demanda por estudos que pudessem medir a mudana e inspirou a construo de
teorias compreensivas das transformaes social e cultural, para explicar como e
por que elas se processam (Sandell, 2003:46-47). No entanto, constata-se que os
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estudos e pesquisas apresentam diferentes entendimentos e aplicaes da ideia de
democratizao, democracia ou incluso social. A explicitao destes conceitos
facilita o entendimento daquilo que medido, permitindo anlises e usos mais
pertinentes dos resultados pelos diferentes atores do campo.
A ideia contempornea de democracia se constri na modernidade europia com o
fortalecimento do pensamento racional e da cincia, questionando a concentrao
de poder e os privilgios garantidos pelas tradies. Os interesses comuns
presidiro os parmetros do bem pblico, promovendo a igualdade dos indivduos
diante dos direitos civis, mesmo que ainda socialmente desiguais. A ordem social
percebida como uma criao humana se transformar em objeto das cincias
sociais e humanas ao final do sculo XIX e incio do XX.
Na Frana, o ministrio de Andr Malraux, a partir de 1959, estende a idia de
democratizao ao campo cultural (Octobre, 2007:92). Caber ao Estado garantir a
todos os segmentos sociais as condies de acesso a bens, equipamentos e prticas,
empreendendo uma verdadeira evangelizao cultural a fim de fortalecer a
identidade do povo, sua integrao cultural e coeso social. As polticas pblicas
em curso sero respaldadas no campo cientfico pelo trabalho o Amor pela Arte, de
Bourdieu e Darbel (1969), abordando as desigualdades diante dos bens culturais e
a anlise de sua funo social e simblica no mbito de uma problemtica da
dominao (Fabiani, 2007:19). A produo de Bourdieu e Darbel, assim como a
pesquisa As prticas culturais dos franceses, (Donnat, 1998) realizada a cada 10
anos, a partir de 1973 at o final dos anos 90, ilustram o investimento da gesto
pblica na realizao de pesquisas por reconhecidos especialistas, visando apoiar a
retrica da democratizao, visto que trata de um processo que s pode ser
percebido quando se mede e compara. Mas o que se entende, mede e compara
para caracterizar a democratizao da cultura?
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Observam-se pelo menos trs abordagens dos processos de democratizao ou das
aes propostas para sua realizao com base na acessibilidade. A primeira diz
respeito ao acesso material que concerne existncia fsica e a distribuio
territorial equnime dos equipamentos; a proposio de tarifas populares; a
considerao das necessidades especiais dos visitantes (rampas, elevadores, textos
em braile, etc.) nos espaos e equipamentos da cultura. A segunda faz referncia
acessibilidade social e simblica, s chances efetivas dos diferentes segmentos
sociais de frequentarem os diversos espaos culturais. Se a resposta ao primeiro
nvel se situa nas aes de renovao, construo, multiplicao dos equipamentos
e ateno s polticas tarifrias, no segundo nvel trata-se de agir sobre as
condies de produo do desejo de cultura, combatendo as causas da
desigualdade. Busca apreender o sentido das prticas para aqueles que as praticam
no contexto de um grupo social e compreender as vantagens sociais,
culturais/simblicas e econmicas que delas podem derivar para os diferentes
grupos. Logo, a democratizao diz respeito tanto oferta (garantia da facilidade
de acesso para aqueles que praticam ou que desejariam praticar) quanto
apropriao, escolha e fruio diversificada de variados elementos da cultura
por diversos grupos sociais.
A terceira abordagem mescla objetivos de aumento numrico de praticantes
(volume dos que frequentam um equipamento) e a diversificao da estrutura
social dos pblicos em questo, gerando mal-entendidos e frustraes, pois no se
observa uma relao de reversibilidade causal entre a diversificao da estrutura
social dos pblicos de um equipamento e seu aumento numrico. Da mesa forma, o
aumento do nmero de visitas a um equipamento no significa o aumento de
praticantes, mas pode apenas revelar a intensificao da prtica entre os visitantes
antigos.
A questo da democracia nos museus entendida pelo vis do acesso reuniu
iniciativas nos mais diversos campos e setores e inspirou aes de educao
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permanente, de popularizao da cincia, de educao esttica, de construo e
expresso da memria. Foi tambm neste contexto que surgiram as prticas de
mediao cultural visando promover relaes significativas entre o pblico e os
objetos e equipamentos da cultura. No entanto, atividades como oficinas, estgios,
cursos, ou a criao de um comit assessor com participao de visitantes ou da
comunidade no garantiram por si a diversificao da estrutura social ou o
aumento do nmero de visitantes, sugerindo a necessidade de buscar novos
referenciais explicativos para aprofundar o entendimento sobre as prticas de
mediao cultural.
Com os ecomuseus e museus comunitrios, integrando a dimenso intangvel do
patrimnio, incorporou-se igualmente o direito diversificao dos espaos
museais e dos acervos musealizveis como possibilidade de ampliar e renovar o
acesso produo cultural no e pelo museu, por diversos segmentos sociais e
comunidades culturais. O foco das polticas comea a deslocar-se da
democratizao do acesso cultura para a construo de uma democracia cultural,
onde o cidado no exerce apenas o direito de acessar os bens culturais, mas o de
produzir, manifestar, expressar, celebrar sua criatividade, sensibilidade e memria
nos museus, entendidos enquanto espaos pblicos de compartilhamento legtimo
da diversidade cultural.
Entretanto, a problemtica da democratizao e da democracia cultural no
esgotaram os desafios colocados para os museus. A cultura ganhou
reconhecimento poltico no combate s iniqidades, com o entendimento
multicausal da excluso social. Incluir socialmente implica garantir a todos a
possibilidade de expresso e leitura do mundo, do acesso e entendimento crtico
do infindvel corpo de conhecimento produzido, de oportunidades de emprego, de
boas condies de sade, de relaes sociais e afetivas saudveis, indo alm do
conceito restrito de pobreza. A abordagem intersetorial dos problemas sociais
alargou o espectro de atores necessrios para sua resoluo. A ideia de que os
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museus podem promover a incluso social coloca outros papis para a instituio
que no se restringe a promover o acesso a seu acervo para aqueles em risco de
excluso social, mas deve desempenhar um papel direto no combate s
desvantagens e discriminaes sofridas por estes grupos (Sandell, 1998:45).
Fabiani (2007:20) defende a necessidade de se construir novos instrumentos
tericos para abordar a dinmica da apropriao dos espaos culturais,
considerando que a teoria sociolgica da legitimidade cultural encontra limites
diante de uma realidade social que reconhece de forma explcita a cultura como
campo de disputa, onde no caberia mais imaginar uma hegemonia da cultura
erudita, implementada pela lgica da distino e da boa vontade cultural. Neste
sentido, no haveria um pblico da cultura homogneo, obediente, estvel, mas
uma diversidade de relaes entre grupos sociais e experincias culturais.
Os Estudos de pblico no Brasil, um objeto de investigao
A histria social dos estudos de pblico e da avaliao museal no Brasil resta a ser
contada, do mesmo modo que necessitam serem sintetizadas e sistematizadas as
lies aprendidas com estes estudos e pesquisas. Com o propsito de colaborar
com a construo de uma agenda de pesquisa, realizou-se uma consulta no
exaustiva s pginas encontradas no Google acadmico no Brasil a partir de 2000,
com os descritores estudos de pblico em museu e museus e pblicos, obtendo 72
resultados. Ademais, foram analisadas 22 publicaes, dentre livros, revistas e
relatrios disponveis. A leitura dos documentos revelou caractersticas referentes
ao tipo de publicao, ao tipo de estudo com relao ao alvo e aos objetivos e
sugeriu questes para pensar a dinmica destas prticas e sua construo como
objeto de pesquisa.
Com relao ao tipo de publicao, foram identificadas seis categorias. A primeira
rene os textos publicados em Coletneas/anais de trabalhos apresentados em
eventos: seminrios, workshop, encontros e congressos. Alguns eventos so
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organizados pelos museus com financiamento institucional e apoio de agncias de
fomento, a exemplo do Encontro de Pesquisa em Educao, Comunicao e
Divulgao cientfica em Museus- EPECODIM (2001), com apoio da Fundao de
Apoio Pesquisa do Rio de Janeiro e do Conselho Nacional de Pesquisa Cientfica.
Outros so fomentados para os museus por instituies internacionais como o
Workshop de Educao da Vitae (2003) ou os encontros do Committee for
Education and Cultural Action -Ceca do International Council of Museums ICOM,
que ocorrem regularmente. Os trabalhos tambm so apresentados em eventos de
diferentes reas do conhecimento onde h pesquisas utilizando o museu como
campo de investigao a exemplo do Encontro de pesquisa da Faculdade de
Educao da Universidade Federal de Minas Gerais; o Encontro Nacional de
Pesquisa em Cincias da Informao - Enancib, a Associao Nacional de Pesquisa
em Educao - ANPED, a Associao Nacional de Ps Graduao e Pesquisa em
Cincias Sociais - ANPOCS, o Encontro Nacional de Pesquisa em Educao em
Cincias - ENPEC, o Congresso Brasileiro de Pesquisas Ambientais e o Congresso
da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicao - Intercom.
Muitos dos textos sobre avaliao e estudos de pblico em museus foram
apresentados e posteriormente publicados em anais de eventos regulares de
divulgao da cincia como a Red Pop, Rede Latino Americana de Popularizao da
Cincia, e o Congresso Internacional de Museus e Centros de Cincia. A anlise do
foco, dos objetivos e dos resultados destes estudos pode trazer informaes sobre
a relao dos museus com os diferentes campos de conhecimento e de prticas,
pois permitem comparar com periodicidade regular (a periodicidade do evento) a
presena e a natureza de trabalhos apresentados. Trata de uma produo
heterognea, oriunda tanto da academia quanto das prticas, bastante abrangente
por reunir o resultado de estudos concludos e o relato de experincias recm-
iniciadas. Registra a reflexo dos profissionais que atuam na rea museal e revela
questes mais prximas da prtica cotidiana.
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O segundo grupo agrega os relatrios de pesquisa, de circulao restrita aos
profissionais das instituies que realizam estes estudos. Esta categoria sugere o
interesse dos museus em produzir dados para o planejamento de suas aes.
Foram encontrados relatrios densos como a avaliao de exposies e da ao
educativa no Museu Lasar Segall de So Paulo, em geral com o apoio de uma
agncia de fomento, Vitae ou FAPESP. Alm do foco no pblico efetivo, dentre os
Relatrios, encontramos os trabalhos com foco na populao, como as pesquisas
realizadas no mbito do CDHP- curso de habilidade em pesquisa - da Escola
Nacional de Cincias Estatsticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica -
IBGE. O CDHP oferece s instituies a possibilidade de obter um estudo
populacional em geral oneroso e tecnicamente complexo. Indicam o interesse das
instituies museais por estes estudos e as estratgias encontradas para sua
realizao.
A terceira categoria se refere aos artigos publicados em peridicos. Embora no
exista uma publicao peridica especializada nos estudos de pblico e avaliao
em museus, muitas instituies museais editam regularmente peridicos onde
estes trabalhos encontram espao. Tal o caso dos Anais do Museu Nacional, dos
Anais do Museu Paulista ou da revista MAST Colloquia do Museu de Astronomia e
Cincias Afins. Encontramos ainda publicaes de outras instituies que atuam no
campo museal como a revista Musas, editada pelo Departamento de museus do
Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional- IPHAN (atual Instituto
Brasileiro de Museus), a Revista eletrnica do programa de ps graduao em
museologia da Universidade do Rio de Janeiro - Unirio e a revista Jovem
museologia. As revistas da rea das cincias sociais, como a Revista Brasileira de
Cincias Sociais, a revista Histria, Cincias, Sade Manguinhos, a Horizontes
Antropolgicos (Porto Alegre), a Mouseion e a Revista do Patrimnio Histrico do
IPHAN tambm renem estes estudos assim como aquelas voltadas para a
educao e aprendizagem como Inovao e ensino de cincias e Cincia e Cognio.
A anlise das publicaes peridicas sugere o grau de prestgio de um campo do
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saber e dos grupos que nele atuam. Revela, ainda, as abordagens consagradas, as
inovaes e os tpicos inexistentes ou no publicados pelas diferentes
comunidades cientficas.
A quarta categoria agrupa os trabalhos acadmicos, teses de doutorado,
dissertaes de mestrado e monografias. Foram identificados 16 trabalhos dentre
os quais trs trabalhos de concluso de curso, nove dissertaes de mestrado e
quatro teses de doutorado, concludos entre 2000 e 2011, nos cursos de artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, sociologia da Universidade Federal do
Paran, bens culturais e projetos sociais da Fundao Getlio Vargas, turismo, no
Centro Universitrio UMA de Belo Horizonte, artes da Universidade de Braslia,
sociologia do Instituto Superior de Cincias do Trabalho da Empresa, comunicao
na Escola de Comunicao da UFRJ e cincias da informao no Instituto Brasileiro
de Cincias da Informao Tecnolgica- UFRJ, comunicao e artes alm de
pedagogia na USP.
Assim como os trabalhos publicados em peridicos, as teses revelam a dinmica
dos estudos sobre os freqentadores de museus no mbito da academia e sua
relao com o movimento mais abrangente de afirmao ou renovao das teorias
explicativas dentro dos diferentes campos do conhecimento.
O quinto grupo tratou dos textos publicados em livros e captulos de livros. Foram
quatro os livros que trataram do pblico de museus dentre aqueles identificados
na busca realizada: Educao e Museu: a construo social do carter educativo
dos museus, Acces/Faperj (2003); Avaliao e Estudos de Pblico de museus e
Centros de Cincia, Museu da Vida (2003); Museus, colees e patrimnio,
narrativas polifnicas, DEMU/IPHAN (2007); Museu lugar do pblico, Museu da
Vida, Fiocruz (2009). Este tipo de publicao aponta as estratgias institucionais
de criar espao para esta produo, indicando o crescimento do interesse pelos
estudos de pblico.
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O sexto grupo reuniu duas publicaes especializadas: o Boletim do Observatrio
de Museus e Centros Culturais, com duas edies publicadas em 2008 pelo Museu
da Vida e o Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, e os Cadernos do Museu da Vida (Ncleo
de Estudos de Pblico e Avaliao em Museus), com trs edies publicadas pelo
Museu da Vida entre 2008 e 2010. Como o anterior, este grupo de publicaes
caracteriza um grau intenso de especializao institucional nas pesquisas de
pblico e avaliao em museus.
Referente ao alvo, os estudos de pblicos efetivos so a grande maioria. Dentre
estes, as famlias, os jovens, adolescentes e crianas, os portadores de necessidades
especiais, os educadores, os educandos ou escolares, os mediadores, os
pesquisadores, os pblicos estimulados, os visitantes espontneos, o pblico
fidelizado e os nefitos constituem as categorias apresentadas. Alguns estudos de
pblico potencial foram realizados junto a estudantes universitrios, escolares,
visitantes de jardins ou moradores de um bairro. No foi encontrado nenhum
estudo de no pblico. Com relao aos estudos populacionais destacam-se, a
partir de 2000, aqueles de reas geogrficas da cidade do Rio de Janeiro, no bojo
dos estudos realizados pela Escola Nacional de Cincias Estatsticas, no mbito do
Curso de desenvolvimento de habilidades em pesquisa - CDHP, como o estudo das
pesquisas Conhecimento do Museu da Vida junto aos moradores de bairros
vizinhos ao museu, COMVIDA (2002) e a pesquisa domiciliar sobre percepo e
visita a museus - VAMUS (2008).
Com relao s abordagens ou reas do conhecimento, dentre os analisados, a
produo mais intensa foi aquela relacionada s teorias da aprendizagem,
cognio, psicologia cognitiva, didtica da matemtica e da fsica. Entretanto,
identificaram-se textos oriundos de reas diversas, como a psicologia social, a
histria cultural, as cincias da informao, a teoria da comunicao e a teoria da
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recepo; as cincias sociais, a antropologia e a sociologia da cultura; a teoria da
arte, a museologia, o turismo ou a filosofia. Os objetivos dos estudos relacionam-se
ao campo de conhecimento. Neste sentido, foram identificados objetivos referentes
educao e relao ensino-aprendizagem: identificar as concepes prvias
sobre um determinado conceito ou assunto, avaliar um material ou as aes
educativas; conhecer o perfil e as prticas educativas dos professores antes,
durante e depois das visitas; avaliar a parceria escola-museu. As sociografias, com
base nas cincias sociais e na sociologia da cultura, visam conhecer o perfil, as
formas de apropriao, as expectativas, o hbito de visitas a museus e as prticas
de lazer de pblicos efetivos dos museus, do pblico potencial ou de uma
populao adstrita a um bairro ou cidade. Estudar a transferncia da informao
da exposio para o pblico retrata um enfoque das cincias da informao,
enquanto que analisar a forma de apropriao de uma exposio recuperando o
sentido atribudo visita e a forma de visitar um objetivo partilhado pela teoria
da recepo e pela psicologia sociocultural. Revisar a produo bibliogrfica sobre
os pblicos dos museus foi objetivo da museologia, das cincias sociais e da
teoria da comunicao enquanto que discutir as relaes entre diferentes
segmentos sociais e o museu ao longo do tempo e identificar fontes documentais
que informem sobre as prticas de visita e visitantes dos museus resultam de uma
abordagem histrica. Descrever a visita como uma experincia recupera a
abordagem filosfica e sua contribuio para a psicologia cultural.
O presente texto props a anlise exploratria de um corpo documental no
representativo da produo no perodo em questo. Foram identificadas categorias
referentes ao tipo de publicao, ao alvo, ao campo disciplinar e aos objetivos dos
estudos cuja descrio revela a natureza e sugere o perfil de um campo de
conhecimento em construo. No entanto, preferiu-se guardar a anlise de
frequncias, sinalizando tendncias sobre a natureza dos estudos, onde e por quem
so produzidos dentre outras variveis para um futuro estudo sistemtico da
produo brasileira no perodo observado.
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Uma agenda de pesquisa para os estudos de pblico coloca a necessidade de
descrever e questionar o contexto de produo destes estudos: quem so os
atores? Com que finalidade so realizados os estudos? O que favorece, em
determinado momento, o investimento nestas prticas? A que ponto os estudos de
pblico e a avaliao em museus dependem do investimento pblico na
organizao da oferta e da demanda? Qual a importncia da academia? O aumento
da formao de ps graduao doutores e mestres - dentre os quadros das
instituies museais brasileiras ocasionou aumento das prticas de estudo de
pblico e avaliao nos museus? Os resultados dos estudos servem efetivamente
para a gesto dos museus no Brasil? A poltica cultural implementada pelo Estado
promove a realizao de estudos de pblico e avaliao? A educao continua a ser
o campo mais importante da pesquisa em museus? Os museus de cincia tendem a
desenvolver estudos e avaliaes referentes educao e relao ensino
aprendizagem enquanto os demais privilegiam estudos com foco na ampliao
quantitativa e no desenvolvimento de novas audincias? A abordagem intersetorial
nas polticas pblicas de sade, educao, incluso e desenvolvimento social
definem novos papis para os museus? Provocam a realizao de uma nova
gerao de estudos com outras problemticas?
Alm de refletir sobre o contexto de surgimento dos estudos de pblico, sobre
como se desenvolvem e sobre os fatores promotores ou inibidores de seu
crescimento, uma agenda de investigao sobre estas prticas precisa debruar-se
sobre a natureza do conhecimento que constroem: O pblico dos museus so
mltiplos? Os museus so mais democrticos hoje do que no sculo XIX ou na
dcada de 30? A maneira e o sentido da apropriao dos espaos e obras da cultura
variam segundo a situao de visita? possvel aprender no museu? O que e como
se aprende no museu? A escola favorece o acesso aos museus para crianas
oriundas de grupos menos familiarizados com esta instituio? O professor
constri um papel pedaggico adaptado ao tipo de visita oferecida? Como os
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museus contribuem com as polticas de promoo da sade, de popularizao da
cincia e tecnologia, da educao popular?
Um terceiro bloco de reflexo deve indagar sobre o uso efetivo do conhecimento
construdo por estes estudos. Para que servem os estudos de pblico? Contribuem
com a mensurao da democracia nos museus? Explicitam a situao do acesso
produo cultural erudita? Colaboram com o planejamento e a gesto dos museus,
gerando informaes que ajudem a ampliar o consumo cultural e a fortalecer os
setores produtivos da cultura? Promovem a percepo do papel dos museus nas
polticas sociais inclusivas? Geram dados sobre a mobilizao e a participao de
diversos grupos na fruio, na produo e na criao cultural? Podem revelar o
potencial dos museus para atuar como determinantes culturais da sade? Como
ferramentas para a qualidade de vida e para a justia social?
Espera-se que as questes acima provoquem muitas outras, contribuindo com a
construo de uma agenda de pesquisa para os estudos de pblico. Tais estudos e o
conhecimento que produzem intervm na concepo de ser/estar pblico e nas
expectativas sociais face aos museus. Sua anlise poder revelar a relao entre a
misso institucional e a realizao de pesquisas e avaliao em museus, permitindo
observar seus efeitos na orientao da poltica cultural, ou ainda, do plano
museolgico do museu estudado, explicitando como operam tanto na construo
vocacional da instituio quanto no plano discursivo das polticas culturais.
Consideraes finais
A anlise do surgimento dos estudos de pblico revela a imbricao entre as
expectativas sociais referentes aos museus, os campos de pesquisa das diferentes
cincias que encontraram nesta instituio um objeto de estudo, as escolhas
polticas e as especificidades de cada tipo de museu e sua forma de operar no
cotidiano. Neste sentido, acredita-se que os estudos de pblico incidem na
dinmica vocacional das instituies e participam da disputa pela hegemonia
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discursiva sobre quem e como se apropria socialmente os museus. Em seguida, a
anlise exploratria de 22 publicaes e 16 trabalhos de concluso de curso
graduao e ps graduao - dentre o total de 94 documentos levantados sobre
pblicos e avaliaes em museus, permitiu identificar algumas caractersticas
deste campo no Brasil a partir de 2000. Finalmente, sugeriu uma agenda de
investigao sobre os estudos de pblico composta por trs eixos: anlise do
contexto de produo; anlise da natureza do conhecimento construdo e anlise
dos usos social, poltico, cultural e gerencial destes estudos visando apoiar uma
prtica consciente, crtico-reflexiva e questionadora.
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Artigo recebido em fevereiro de 2012. Aprovado em maro de 2012