Post on 17-Oct-2021
PROJETO CORES DA ALMA
A princípio a ideia de trabalhar com a obra
“Os operários” era porque nós estávamos
aprendendo sobre as emoções e expressões.
Observávamos que as pessoas retratadas
na obra tinham características diferentes, porém
suas expressões eram todas iguais.
Foi quando a pergunta de um aluno enriqueceu e transformou as cores, sentimentos e expressões desse trabalho.
- Professora, por que eu sou preto?
- Por que você acha que é preto Gabriel?
- A minha avó disse que é porque fiquei muito no sol quando era bebê e queimou.
"Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos não partem, então, de um saber artificial, depositado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação direta com a experiência do aluno, confrontada com o saber trazido de fora” LIBÂNEO (2002)
Diante disso um mundo de possibilidades se
abriu para que eu pudesse responder àquela
pergunta com propriedade. O primeiro passo foi
ler o livro: Por que somos de cores diferentes?
A partir desta leitura aprendemos que a melanina (substância que está dentro do nosso corpo) é a responsável pela cor da pele ser mais clara ou mais escura e pude ver nos olhos do Gabriel a alegria de saber que possui mais melanina do que a Emanuelly.
Facci (2004 p. 226) diz que a função da escola é:
[...] contribuir no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, haja vista que essas se desenvolvem na coletividade, na relação com outros homens, por meio da utilização de instrumentos e signos; levar os alunos a se apropriarem do conhecimento científico atuando, por meio do ensino desses conhecimentos na zona de desenvolvimento próximo.
Então começamos a nossa releitura da
obra. Cada aluno recebeu uma tela para fazer
um rosto com as características físicas e
emocionais que tínhamos trabalhado.
Escrita do nome no verso da tela. Pintura do fundo da tela com mistura de
azul e branco.
“A aprendizagem não é, em si mesma,
desenvolvimento, mas uma correta organização da
aprendizagem conduz ao desenvolvimento mental, ativa
todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta
ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem.
Por isso, a aprendizagem é um momento
intrinsecamente necessário e universal para que se
desenvolvam na criança essas características humanas
não-naturais, mas formadas historicamente. [...] todo o
processo de aprendizagem é uma fonte de
desenvolvimento que ativa numerosos processos, que
não poderiam desenvolver-se por si mesmos sem a
aprendizagem” Vigotski (2001b, p.115)
Após a pintura do fundo da tela eu fiz o contorno
de uma cabeça para que os alunos pudessem produzir
de acordo com a apropriação de cada um. Eles
escolhiam as cores: negro, pardo e branco.
Pintura da pele ouvindo música clássica. As cores: rosa claro, marrom e preto repre-
sentando o branco, pardo e negro respectivamente.
Fomos seguindo com o trabalho nas aulas
de artes e então pintamos os cabelos nas suas
mais variadas formas: curtos, longos, vermelhos,
loiros, azuis, lisos, enrolados...
O aluno fez o seu próprio cabelo. A aluna fez o cabelo de sua mãe.
Depois foi a vez dos olhos: grandes,
pequenos, esticados, pretos, castanhos, azuis,
verdes...
Gabriel com os olhos azuis. Pablo com olhos de um lutador chinês.
No momento de pintar o nariz tivemos um impasse. Se
pintássemos da mesma cor da pele o nariz não iria aparecer.
Então perguntei para as crianças como iríamos resolver esse
problema e fui surpreendida com a ideia genial do Pedro:
- Prô, eu tive uma ideia da gente pintar o nariz com outra
cor de pele!
E assim fizemos, quem pintou a pele de pardo poderia
pintar o nariz de negro.
Confesso que eu não tinha pensado nessa alternativa e
percebi o quanto muitas vezes somos limitados em nossas
criações.
Neste dia também fizemos a pintura da boca e cada
criança escolheu a emoção que gostaria de retratar: feliz, triste,
surpreso ou nervoso.
Com os retratos prontos pudemos montar a
obra e para isso foi discutido: Como faríamos?
Qual seria o lado certo? Quantas fileiras? E
muitas outras perguntas...
Reflexão sobre como montar a obra. Obra pronta!
Então fizemos uma exposição para explicar
o nosso trabalho às outras turmas da escola, aos
funcionários e às famílias.
Convite da exposição Capa da apresentação
E compartilhamos essa experiência com
muita alegria...
Aguardando os convidados. Explicando para o infantil IV.
Por fim, desmontamos a exposição e as
crianças levaram não só a sua obra para casa,
mas a certeza de que não somos de cores
diferentes porque fomos queimados pelo sol
quando bebês.
Depois registramos atividades relacionadas
ao trabalho.
Caderno de tarefa. Aluna registrou o que a mãe achou da
exposição e pediu para eu escrever “Que lindo” na lousa.
Referências bibliográficas:
Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VIGOTSKI, L. S.,
LEONTIEV, A. N.; LURIA, A. R. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.
São Paulo: Ícone, 2001b.
FACCI, M. G. D. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo
crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da
psicologia vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2004
GIL, Carmem. Por que somos de cores diferentes? PNLD 2013/2014/2015 obras
complementares – FNDE Ministério da Educação
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública - A Pedagogia Crítico-Social
dos Conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 2002 - 18º ed.
Trabalho realizado na EMEII Rosa Inês Ungaru Verinaud – Bauru/SP sob a orientação e direção da Profª Ms. Rita de Cássia Zuquieri e colaboração da Profª de Educação Artística Daniela Derencio.
Profª Ana Lúcia Bazan
analuciabazan@gmail.com
(14) 99127-2033
Curriculum Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5814815910937670