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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
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PROFESSORES BRASLEIROS: FORMAÇÃO E PERFIL
TOZETTO, Susana Soares (UEPG)¹
WENGZYNSKI, Cristiane Danielle (UEPG)²
MARTINEZ, Flavia. Wegrzyn (UEPG)²
BULLATY, Andréia (UEPG)²
MACENHAN, Camila (UEPG)3
NICOLITTO, Mayara (UEPG)3
Introdução
A discussão apresentada nesse texto se originou nos estudos do grupo de
pesquisa sobre o trabalho docente GEPTRADO. As pesquisas e estudos do grupo
desenvolvidas baseiam-se em autores como: Sacistán, Perez Gomez, Aplle, Popkewitz,
Hargreaves, Charlot, Imbernón, Nóvoa, Gatti, Saviani, Oliveira, Moraes, Marin. Os
integrantes do grupo realizam investigações sobre a epistemologia do trabalho docente
sob dois enfoques: formação de professores e prática educativa.
O grupo realiza os encontros de forma quinzenal, nas dependências da UEPG e
no ano de 2011 realizamos amplas reflexões a respeito dos aspectos sociais, políticos e
culturais do trabalho docente por meio da obra O perfil dos professores brasileiros: o
que fazem, o que pensam, o que almejam (UNESCO, 2004).
Sendo assim, analisamos quem são os professores brasileiros, com o objetivo de
entender a gênese dos problemas de diferentes aspectos relacionados ao contexto
educativo como: as políticas educacionais que embasam a educação brasileira, as
representações sociais construídas sobre a educação, a demanda institucional dos cursos
de formação de professores, o espaço geográfico entre outros. ______________________________
¹Doutora em Educação Escolar, professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Educação, do Programa de Pós Graduação (Mestrado/Doutorado), e líder do grupo de pesquisa sobre o trabalho docente (GEPTRADO), contato: tozettosusana@hotmail.com ² Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPG. ³ Acadêmicas do Curso de Pedagogia da UEPG
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É preciso um novo olhar sobre os professores brasileiros, considerando a visão
que eles possuem a respeito da educação e os problemas apontados como: a falta de
tempo para a realização do planejamento, a falta de recursos materiais e o grande
número de alunos nas turmas.
A partir das leituras, analisamos alguns aspectos relacionados com a formação
inicial e continuada dos professores, como: a idade, estado civil e escolaridade dos pais
dos profissionais. Os dados obtidos levaram em consideração a divisão do país em
regiões, logo, constatou-se que nas regiões sul e sudeste existem mais professores com
ensino superior com formação pedagógica. Também observamos outro fato importante
que é a proporção de professores que têm consciência de seu papel político.
Esta informação derivou da relação entre os professores das instituições públicas
e privadas. Nosso grupo também debateu sobre a implementação de políticas públicas e
seu efeito na educação, revelando que alguns projetos não foram efetivados no tempo
previsto, como por exemplo, o plano de carreira para o magistério. Realizamos estudos
sobre a identidade social dos professores, a qual demonstrou ser marcada pela
feminização da profissão e também pela desvalorização da docência em decorrência da
crença de que no trabalho do professor há pouca autonomia, por isso, é visto como um
mero executor das ordens do Estado.
Tais afirmações nos levam a refletir a respeito do fato de que os professores
ainda desconhecem o seu papel na luta política pela implementação de melhores
condições de trabalho.
A aparente satisfação dos professores com a profissão é um ponto que pode ser
destacado, pois a maior parte dos profissionais aspira permanecer na carreira docente.
Desta forma, apontaremos a necessidade dos planos de carreira, aumentos salariais e dos
incentivos à formação para que a escola esteja preparada para atuar na emancipação dos
sujeitos e não na mera transmissão do saber de forma dissociada.
É preciso que os professores tenham acesso às tecnologias, aos meios de
comunicação, às atividades culturais para que construam uma visão mais ampla dos
fatos presentes na sociedade, trazendo para a sala tais temáticas e explorando a
capacidade de reflexão dos alunos.
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O processo de formação da identidade dos professores que vem a definir seu
perfil e suas possíveis ações no futuro é historicamente e socialmente constituído.
Assim, buscamos compreendê-lo não apenas como algo pronto, mas como uma
reconstrução constante e sujeita a mudanças, na qual a formação de professores é um
conceito chave e que pode possibilitar melhorias na educação brasileira. Estamos
vivendo em uma época de alteraçao tanto do conceito da educação quanto do conceito
de professor.
Formação: a construção da docência
A complexidade de fatores que permeiam a questão da formação é bastante
abrangente e está ligada ao desenvolvimento da escola, do ensino, do currículo e da
profissão docente.
Para além da aprendizagem da matéria a ser dada em sala de aula, a formação de
professores traz consigo aspectos relevantes que constituem o ser professor. Neste
sentido, a formação de professores vem sendo foco de análise por vários estudos e
pesquisas nas últimas décadas, o que demonstra a relevância da proposição de um debate
sobre o tema, com vistas a promover os avanços necessários no entendimento do processo de
formação dos professores. (UNESCO, 2004).
Nunca se falou tanto em formação de professores, como nos dias atuais
colocando em evidência os professores e seus saberes. “O debate em torno do
professorado é um dos pólos de referência do pensamento sobre a educação, objeto
obrigatório da investigação educativa e pedra angular dos processos de reforma dos
sistemas educativos.” (SACRISTÁN, 1999, p.64). O conhecimento e a experiência
profissional como lócus da prática educativa, traz a luz reflexões acerca das questões
que permeiam a profissão docente.
Os estudos sobre a formação docente implicam, um conhecimento histórico das
relações que estruturam tal formação considerando o professor como sujeito inserido
num debate para além do campo de sua atuação. Na revisão da literatura, o
levantamento histórico-documental do processo de formação de professores de acordo
com Nóvoa (1995) verifica-se que a função docente desenvolveu-se de maneira
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subsidiária, constituindo-se como ocupação secundária de religiosos ou leigos, tendo
como origem as congregações religiosas, que se transformaram em verdadeiras
congregações docentes.
Apenas a partir do final do século XVIII é que se institui uma licença ou
autorização do Estado, para atuar como professor, a qual é concebida por meio de um
exame a fim de estabelecer determinados critérios para o exercício da função docente.
A criação desta licença é um momento decisivo do processo de profissionalização da actividade docente, uma vez que facilita a definição de um perfil de competências técnicas, que servirá de base ao recrutamento dos professores e ao delinear de uma carreira docente ( NÓVOA, 1995, p. 17).
A licença para lecionar, fornecida pelo Estado, sinaliza um avanço considerável
na formalização da profissão professor, pois é estabelecido alguns critérios que servem
de subsídios para a caracterização da profissão professor. A intervenção do Estado
provoca uma homogeneização do grupo dos professores, porém de maneira controversa,
nota-se que apesar dos professores estarem amparados por um documento legal, a fim
de exercer a atividade docente, quando a missão de educar cede lugar à prática de um
ofício, as motivações originais que constituem a gênese da profissão não desaparece.
A criação das primeiras instituições de formação de professores datam do século
XIX, através da consolidação das escolas normais, que de acordo com Nóvoa (1995, p.
18) “as escolas normais estão na origem de uma verdadeira mutação sociológica do
corpo docente: o velho mestre-escola é definitivamente substituído pelo novo professor
de instrução primária”. Fato este, que representa uma conquista importante do
professorado como um todo.
Com advento das escolas normais, com o intuito além de formar professores,
vem contribuir para a socialização dos docentes, assim como para a gênese de uma
cultura profissional. Esse período é um momento importante para compreensão da
ambigüidade do estatuto dos professores.
Ao longo do século XIX consolida-se uma nova imagem do professor, que cruza as referências ao magistério docente, ao apostolado e ao sacerdócio, com a humildade e a obediência devidas aos funcionários
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públicos, tudo isto envolto numa auréola algo mística de valorização das qualidades de relação e de compreensão da pessoa humana (NÓVOA, 1995, p.16 ).
A história da profissão docente é marcada por contradições. Partindo desse
pressuposto vários autores abordam a desprofissionalização (ou proletarização) a que os
professores têm estado sujeitos no decorrer da história da formação.
Conhecer o professor, sua formação básica e como ele se constrói ao longo da
sua carreira profissional são fundamentais para que se compreendam as práticas
pedagógicas dentro das escolas. Entendemos que se tornar professor, é um processo de
longa duração, de novas aprendizagens e sem um fim determinado (NOVOA, 1995).
Portanto, formar um professor, ou formar-se professor leva tempo e demanda
investimento, principalmente intelectual.
O significado da palavra formação é complexo e possui diferentes significados
relativos ao contexto no qual é empregado. Segundo o dicionário Houaiss de Língua
Portuguesa, referem-se [...] “ato, efeito ou modo de formar, constituir, criação; conjunto
de conhecimentos e de habilidades específicos a um determinado campo de utilidade
prática intelectual” (2001, p. 1372). A formação está ligada ao conceito de constituir-se,
dar ou receber forma, desenvolver o conhecimento. A abrangência desse conceito não se
reduz apenas ao significado exposto acima, mas está intimamente ligado ao seu caráter
histórico e filosófico que lhe é conferido. No entanto, as definições para este termo
comungam da mesma idéia, de algo incompleto e em construção.
A formação de professores, como refere Nóvoa (1995, p.18)
[...] é mais do que um lugar de aquisição de técnicas de conhecimentos, mas o momento chave da socialização e da configuração profissional. O futuro professor irá trabalhar com seres humanos, que possuem como característica própria a pluralidade, que apresentam realidades diferentes, culturas diversas, problemas distintos. Nessa perspectiva, técnicas educativas pouco contribuem, já que o trabalho em sala de aula é dinâmico, e precisa ser contextualizado por parte do professor.
Desta maneira, a formação docente implica num processo de aprendizagem que
se constrói a partir de um conhecimento que lhe é próprio e das relações no qual o
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professor em formação está inserido. Tal processo influencia diretamente seu trabalho e
os indivíduos do contexto educativo fazendo face ao momento vivido, definido pelo
currículo vigente e as políticas que regulamentam a formação.
A aprendizagem da docência é um processo que envolve uma formação
estruturada ao longo da sua vida. Abrange tanto as esferas individuais, relativas ao
sujeito em formação, quanto às esferas sociais, relativas ao contexto que cerca esse
indivíduo, devendo ainda estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que possa
fornecer aos docentes, autonomia, a fim de facilitar as dinâmicas de autoformação.
Como nos lembra Nóvoa (1995) o processo de formação implica um
investimento pessoal, um afazer livre e criativo sobre a sua trajetória e seus próprios
projetos, com vista à consolidação de uma identidade, uma identidade profissional. Pois
“O professor é uma pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor” (NIAS,
apud NOVOA, 1995, p. 25).
Assim, a formação docente se configura como um movimento contínuo de
desenvolvimento profissional, que se inicia no cotidiano escolar e prossegue ao longo
da vida, estando para além dos momentos especiais de aperfeiçoamento e abrangendo
questões relativas a salário, carreira, clima de trabalho, estruturas, níveis de participação
e decisão. A formação de professores desta forma perpassa diferentes esferas da
sociedade por ser esta uma valiosa ferramenta de mudança social ou de manutenção
desta, conforme o modelo de formação vigente.
A formação de professores, como desenvolvimento profissional, é resultado da
reflexão sobre a ação, amparada por todo o pensamento que tenha sido capaz de dar
sentido a realidade educativa, pois de acordo com Sacristán (1999, p.10)
Os professores serão profissionais mais respeitados quando puderem explicar a razão de seus atos, os motivos pelos quais tomam umas decisões e não outras, quando apararem suas ações na experiência depurada de seus colegas e quando souberem argumentar tudo isso numa linguagem além do senso comum, incorporando as tradições de pensamento que mais contribuíram para extrair o significado da realidade do ensino institucionalizado. Para transformar, é preciso ter consciência e compreensão das dimensões que se entrecruzam na prática dentro da qual nos movemos”.
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Desta maneira, a formação de professores pode constituir o docente dotando-o
de instrumentos intelectuais e também práticos, que possam auxiliar no entendimento da
situação concreta de sala de aula e de todo o movimento que está subjacente a ela, bem
como na construção de estratégias de pensamento, de percepção que permitam
vislumbrar a realidade de sua profissão. Pois a formação não se edifica por meio de
acumulação, seja de cursos, de conhecimentos ou mesmo de técnicas, mas através de
um trabalho de reflexão crítica sobre suas próprias práticas e uma de reconstrução
constante de uma identidade pessoal.
É urgente a necessidade de compreender e conhecer as aspirações, as concepções
sobre a educação dos futuros professores assim como a sua formação a partir da análise
dos processos históricos e formativos que os constituíram num tempo e espaço
determinados, o contexto de seu trabalho a luz das questões mais relevantes de suas
ações.
O perfil dos professores brasileiros
De acordo com a pesquisa realizada, utilizando como fonte documental o
Instituto Nacional Pesquisas (BRASIL, 2010), o Censo Escolar (BRASIL, 2010) e Gatti
(2009) que teve como finalidade identificar o perfil dos docentes, apontamos dados
além da formação escolar e profissional.
Trazemos à luz aspectos de cunho individual e social, como sexo, faixa etária,
estado civil, constituição familiar, autoclassificação social, mobilidade, trajetórias,
situação profissional, escolaridade e habilitação para o exercício da docência.
Verificamos que os professores atuantes possuem uma visão pessimista em relação à
educação.
Como nos lembra Tardif (2000) o trabalho modifica a identidade do trabalhador,
pois trabalhar não é somente fazer alguma coisa, mas fazer alguma coisa de si mesmo.
Nesta perspectiva, é que se nota a relevância de se compreender quem são os
professores e em que chão estes se encontram, assim percebe-se a urgência de
ressignifcar alguns paradigmas que ainda embasam a construção do ser professor.
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Com o advento da ampliação do acesso e da oferta o corpo docente que sofreu o
ônus de, financiar a expansão do ensino com o rebaixamento de seus salários e a
duplicação ou triplicação da jornada de trabalho (CURY, apud UNESCO, 2004, p. 37).
Os professores apontam como problemas a falta de tempo para planejar, não havendo
espaço em suas atividades cotidianas para a reflexão de sua prática, assim como a falta
de recursos materiais e humanos.
Realizando uma análise mais detalhada dos dados coletados e analisados
constata-se que os professores são representados em sua maioria por mulheres,
totalizando 81,3% de todo o professorado, possuindo a média de idade de 37 anos,
sendo a grande maioria casados. Há maior parte dos professores homens classificam-se
chefes de família, representados por 72% contra apenas 29% das professoras mulheres
que atuam como chefes de família.
Segundo aponta André (2002) a enorme discrepância entre o número de
mulheres e o de homens envolvidos no magistério, deve-se a ampliação do mercado de
trabalho, decorrente da expansão do atendimento escolar, como da procura dos homens
por novas profissões que ofereciam melhores salários.
A maioria dos professores se encontra trabalhando nos municípios do interior do
País, e nos municípios com menos de 100 mil habitantes o número de professoras é
maior do que a de professores, já nos municípios mais populosos o número de
professores é maior do que a de professoras. Uma boa parte dos docentes atua na região
sudeste, representando 45% da classe. 65% dos professores afirmam que possuem renda
familiar entre 2 a 10 salários mínimos.
Constata-se que os professores com renda familiar entre dois salários mínimos
apontam como principal problema o controle da disciplina em sala de aula. Assim
percebe-se que de acordo com a renda familiar os problemas apontados pelos
professores são diferentes, pois a visão que os mesmos possuem, ou seja, a compreensão
dos mesmos para se ter uma educação de melhor qualidade são múltiplas.
Dados sobre a relação dos docentes e cultura adquirem peculiar relevância, pois
trazem à tona dimensões da vida social que auxilia a compreensão da educação e do
papel dos professores na sociedade.
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Se a escola é concebida como centro de formação, é esperado que as atividades
ligadas à cultura, como música, literatura, cinema, entre outras, sejam partes
importantes do processo educativo. Nogueria e Catani (1998) corroboram com a
afirmação quando apontam as influências do capital cultural na trajetória escolar,
colocando fim ao mito do dom ou das qualidades inatas para o alcance do sucesso
escolar, e afirmando que o capital cultural do professor contribui para sua atuação na
escola.
Como Aproximadamente 1/3 dos professores se autoclassificam como pobres, as
atividades culturais mais praticadas pelos professores, como assistir fitas de vídeo e
freqüentar bibliotecas, notadamente são as mais comuns entre os professores, por maior
facilidade de acesso e também pelo baixo custo. Apontamentos que identificam os
professores em classes sociais são consideravelmente marcadas pelos estudos que
costumam discutir a respeito da profissionalização e da pauperização da categoria dos
professores.
Abordando a questão da pauperização dos professores, particularmente os da
rede pública, (ASSIS, apud, UNESCO, 2004, p. 62) apresenta a seguinte análise:
O professor é um profissional que tem que ler, viajar, escrever, ter acesso aos bens de cultura e isso durante muitas décadas foi sendo destruído e alijado de seu alcance. Eu não acredito que foi só para o professor, foi para toda a população de profissionais do país, mas em particular isso deixa uma marca extremamente perniciosa no professor. Porque um profissional, que não tem uma preparação prévia e uma atualização em serviço e condições de se tornar um cidadão e um profissional cada vez mais sábio, mais experiente, mais cidadão, para o seu bairro, mas uma pessoa que se vê como integrante deste planeta com toda cultura que a inteligência humana tem criado, se ele não tem a possibilidade do acesso, como é que ele abre caminhos na escola?
Nota-se que as atividades culturais dos professores pertencentes à rede pública
se tornam restritas, e ficam comprometidas devido à situação socioeconômica do
professor. Nessa perspectiva a instituição escolar vive um paradoxo, uma inversão de
papéis, pois acaba por produzir a exclusão dos grupos cujos universos culturais não
correspondem aos padrões dominantes.
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Em contrapartida, os professores que trabalham em instituições privadas
possuem renda mais elevada quando comparados aos professores que trabalham em
escolas públicas, e maior acesso a atividades culturais, porém, são os professores que
pertencem a rede pública que participam com maior frequência de associações de cunho
político. Um dado que chama a atenção é em relação à proporção de professores que
não tem consciência de que seu papel é político, principalmente entre os professores
mais jovens.
Em relação à educação dos filhos dos professores, 54% se encontram
matriculados em escolas privadas, dado esse que leva a suposição que os professores
não consideram o ensino público de qualidade, dado esse que merece uma atenção e
reflexão por parte da classe de professores, do poder público, como da sociedade como
um todo. A formação desses professores também merece um olhar mais atento, pois a
pesquisa revela que a região norte e centro-oeste são as que possuem os índices mais
altos de professores que não possuem habilitação para o exercício do magistério, e não a
almejam.
A formação dos professores deve ser constante, não se limitando a formação do
ensino médio. Da mesma forma a formação do ensino superior deve ser analisada
criteriosamente, bem como a formação contínua, ou seja, a formação inicial e/ou
continuada deve ser vista como um elemento fundamental para o crescimento do
profissional. Assim, a formação seja na universidade ou ao longo do exercício do
magistério deverá ter subsídios necessários para o desenvolvimento de uma prática
consciente e reflexiva.
Não podemos deixar de incorporar a essa discussão sobre o perfil dos
professores brasileiros, a percepção dos mesmos sobre as situações vividas em seu dia-
a-dia, seja no trabalho ou externo a ele. Este debate tem inicio no entendimento da
finalidade da educação, a qual foi apresentada pelos mesmos, tida como mais
importante formar cidadãos conscientes 72,2% e buscando desenvolver a criatividade e
o espírito crítico 60,5%; ora se mostrou presente a pouca relevância atribuída ao
transmitir conhecimentos atualizados 16,7% e básicos 8,9%. Esta opinião tem sua
vertente na valorização dos sujeitos e a preocupação com a formação de atitudes, e
outras decorrentes da critica ao ensino conteudista, no qual esse ensino é mecânico, e o
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professor se encontra como mero transmissor de conhecimento e pouco reflexivo.
(UNESCO, 2004).
Quando se apresenta as mudanças nas políticas educacionais na década de 1990,
os professores se mostram favoráveis as mesmas nos diferentes aspectos, entre eles
estão: a nova estrutura da educação básica, proposta pela Lei de Diretrizes e Bases, com
aprovação de 87, 7% dos professores, os Parâmetros Curriculares Nacionais, com a
pretensão de estabelecer competências e nortearem o conteúdo da educação, com uma
concordância de 86,2% dos professores, assim como, contou com o aval dos mesmos
em 74,8% no Plano Nacional e Educação e também cerca de 79,6% concordam com a
criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério. (UNESCO, 2004).
No que diz respeito aos efeitos que a LDB exerce sobre suas condições de
trabalho, os professores as vêem apropriadas. Por volta de 60% dos professores ainda
considera que a grande contribuição da LDB, são as inovações pedagógicas e a
democratização de acesso a educação por todos. Também se tem uma visão positiva da
organização do ensino e a participação dos professores na tomada de decisões, assim
como nas condições de trabalho e na infra-estrutura dos estabelecimentos de ensino,
onde trabalham e por último, em especifico referente ao currículo escolar, com a
inclusão de novos temas relacionados às questões atuais (educação sexual, religião,
música, analise das situações políticas e sociais atuais, a analise da TV e outros meios
de comunicação, a violência e a prevenção de uso de drogas), os professores se
manifestam favoráveis a essas temáticas.(UNESCO, 2004).
É relevante pontuar que a situação considerada como um problema gira em torno
do universo do exercício desse professor, nas atividades do dia-a-dia. O estudo ainda
deixa evidente que o apoio no seio familiar é um grande impulsor da aprendizagem do
aluno, aliado a relação entre o mesmo e o professor.
A situação que os professores mais consideram como um problema para o exercício de suas atividades profissionais é o tempo disponível para a correção de provas, cadernos etc. (69,3%)- A segunda situação mais mencionada é o tempo disponível para o desenvolvimento das tarefas (54,9%). A terceira é manter a disciplina entre os alunos (54,8%). As características sociais dos alunos
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(51,7%) e a relação com os pais (44,8%), ocupam, respectivamente, a quarta e a quinta posição. (UNESCO, 2004, p.117). (Grifos do autor).
Quando na década de 1990, se tem mudanças na sociedade como um todo, a
escola e os professores não ficam indiferentes e se transformam, assumindo novos
papéis. De acordo com o estudo da Unesco (2004) 17,3% dos professores que
identificam como transmissores de cultura e conhecimento, entendida como visão
bancaria do professor, já em contrapartida, 79,2% entendem o papel do professor como
um facilitador/mediador da aprendizagem dos seus discentes, enquanto 3,4% não se
familiarizam com nenhum dos enunciados.
É a nova LDB que propicia discussões em torno da formação docente, em busca
de um intelectual crítico, reflexivo e de um agente social. Com base nessa lei e na visão
dos professores, a formação inicial e a continuada precisam ocorrer em instituições de
ensino superior, com interesses e a pertinência do temas ao aperfeiçoamento. Quando se
volta para as condições de trabalho, a satisfação e as aspirações dos professores
observa-se que os mesmos, estão favoráveis ao aumento do trabalho em equipe, do
calendário escolar anual, tendo apoio nos estudos de Coelho e Cavalieri que defendem a
permanência na escola como um direito a qualidade da educação. (UNESCO, 2004).
Outra questão ligada aos professores, no campo das aspirações é que 50,2% dos
mesmos pretendem continuar na função atual nos próximos anos e 10,7% deles, tem
como objetivo ir a outra profissão. No que se refere aos valores sociais, os professores
tendem a defender condutas que são consideradas aceitáveis pela sociedade e menos
flexíveis com os comportamentos da vida pessoal. Ainda trazemos que na visão dos
professores, para se melhorar e diminuir a criminalidade é preciso se oferecer uma
educação de qualidade aos jovens e juntamente resolver os problemas de emprego,
assuntos estes tratados no estudo da Unesco (2004). Ao realizar um balanço geral, a
Unesco (2004) deixa evidente que o perfil dos professores da educação básica brasileira,
é impulsionado pelos fatores econômicos, políticos e social. Inicia-se da premissa de
que na última década se tem um agravamento da discussão do papel do professor e de
sua identidade, sendo depositada sobre o professor nesse contexto a responsabilidade do
fracasso escolar.
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Não podemos reduzir o perfil desses profissionais apenas a situação educacional,
ele é mais abrangente, e envolve diversos fatores.
Há, certamente, professores com bom nível de competências e habilidades profissionais, social e eticamente comprometidos com seu trabalho. Entretanto, as deficiências de formação inicial e a insuficiente oferta de formação continuada, aliadas a outros fatores desestimulantes, têm resultado num grande contingente de professores mal preparados para as exigências mínimas da profissão (domínio dos conteúdos, sólida cultura geral, domínio dos procedimentos de docência, bom senso pedagógico). Há dificuldades dos professores em lidar com novos problemas sociais e psicológicos que acompanham os alunos que entram na escola (familiares, de saúde, de comportamento social, concorrência dos meios de comunicação, desemprego, migração...). Mais uma vez, não se trata de culpabilizar os professores, eles não respondem sozinhos pelos fracassos da escola, atrás deles estão as políticas educacionais, os baixos salários, a formação profissional insuficiente, a falta de condições de trabalho, falta de estrutura de coordenação e acompanhamento pedagógico etc. Mas para quem gostaria de ver as crianças e jovens aprendendo cidadania, dominando conceitos das disciplinas escolares, desenvolvendo seus processos e habilidades de pensamento... não há como não se decepcionar com os resultados apresentados. (LIBANEO, apud, UNESCO, 2004, p. 170).
Dessa maneira, compreender quem é o professor e em que condições se fazem
professores é de extrema importância para estabelecer novas exigência e
responsabilidades, buscando romper com os estigmas e estereótipos, promovendo uma
proximidade do magistério do tempo e espaço de hoje.
É com base nesse contexto, que os dados pesquisados centram em ampliar a
visão sobre o sistema educacional brasileiro, se observando como o professor se insere
no mesmo, assim como apresentou-se um perfil demográfico, cultural, social e
profissional dos professores do ensino fundamental e médio.
Considerações finais
O objetivo de discutir o perfil dos professores brasileiros é uma tarefa ampla
e complexa. Portanto, o texto apresentado é um breve recorte do estudo em questão. A
trajetória profissional da docência no Brasil abrange uma ampla discussão, envolve
estudo detalhado, visto que as diferenças regionais são imensas no território nacional.
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Partindo da perspectiva que o sujeito aprende a ser professor, também ao
longo da carreira, seu processo formativo ganha importância. Os indicadores teóricos da
formação de professores apontam a necessidade de rompermos com a visão pragmatista
da formação para o exercício da docência.
Temos ambigüidades e desigualdades no processo formativo da docencia,
entretanto, o desenvolvimento profissional deve considerar e reconhecer o professor
como sujeito de um fazer e de um saber próprio. Sujeito que necessita ser respeitado em
sua inteligência, suas angustias e em seus questionamentos. Então, é preciso abrir
espaço de discussão do processo de formação desse profissional, manifestando o desejo
concreto em políticas públicas que realmente contemplem a profissionalização da
categoria.
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