Post on 14-Dec-2018
O texto a seguir é referência para as
questões 01 a 04.
Brasil arcaico estranha TV moderna A vida
que passa nas novelas da Globo é mais
moderna do que a real. Em muitos
aspectos, o cotidiano retratado na televisão
se mostra mais avançado em relação a
alguns temas tabus do que a média da
população brasileira. No mundo real,
pesquisas de opinião mostram uma rejeição
alta da população brasileira,
especialmente masculina, aos
homossexuais. No mundo das novelas,
várias produções nos últimos dez anos
abordaram, com maior ou menor abertura, o
tema. Quase sempre, os personagens gays
terminavam bem aceitos e com um final
feliz, ainda que, para não chocar a
audiência, as demonstrações de afeto
nunca ultrapassassem a barreira do beijo.
Para especialistas ouvidos pela Folha, há uma
distância cultural entre aqueles que produzem novelas
e os que as assistem. No entanto, como esse é um
produto de massa, eles apontam que há sempre um
limite até o qual se pode ir. A vice-coordenadora do
núcleo de telenovelas da USP e professora da Escola
de Comunicação e Artes (ECA), Maria Lourdes Motter,
diz que essa diferença sempre existiu e deve
continuar existindo, mas que é preciso achar o ponto
de equilíbrio: "É preciso sempre produzir algo novo,
mas mantendo uma parte conhecida para que você
não afugente as pessoas pela falta de compreensão.
A indústria cultural prevê a existência de um pêndulo
entre a conservação e a mudança. Os artistas têm
que conservar e inovar ao mesmo tempo".
O cientista político Alberto Almeida, autor de uma
pesquisa de opinião que comparou vários hábitos e
comportamentos do brasileiro por nível de
escolaridade, diz que as polêmicas recentes em
novelas são um reflexo do que ele chamou, em sua
pesquisa, de choque entre o Brasil arcaico e o
moderno
Ele concorda, no entanto, que a novela acaba
conciliando, no final, o interesse de todos."O final das
novelas sempre reflete uma visão conservadora de
felicidade, com casamentos e uniões, o que em geral
é uma preferência bem sedimentada da classe baixa.
Se o final refletisse a elite escolarizada do Rio e de
São Paulo, teria separações e pessoas refazendo
suas vidas. Assim, em alguma medida, a novela
concilia os dois conjuntos de valores".
Para o dramaturgo Rubens Rewald, que integra o
Nudrama (Núcleo de Pesquisa em Dramaturgia
Audiovisual da USP), é muito difícil dizer até que
ponto a novela reflete a realidade ou indica novos
caminhos para ela: "Uma obra é sempre fruto de um
meio, de uma época. E, por mais ficção que seja,
reflete uma questão aparente ou sublimada na
sociedade. As obras de arte, e dentro delas as
novelas, sempre dialogam com seu tempo". Rewald
diz que o que se vê nas novelas são espelhos da
sociedade urbana, mas destaca que, mais do que
indicar modelos de comportamento, elas acabam
gerando discussões sobre esses modelos.
Para o dramaturgo, no entanto, o público de novela no
Brasil ainda é muito conservador e faz com que a
televisão seja conservadora também.
Na opinião da demógrafa Paula Miranda Ribeiro, do
Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional), da UFMG, a Rede Globo tem consciência
do papel indutor que as novelas podem ter em relação
a alguns temas. Isso fica claro, segundo ela, quando a
novela faz merchandising social e inclui, muitas vezes
a pedido da rede, temas como dependência química,
leucemia ou deficiência nas tramas de novela.
Ribeiro diz não acreditar, no entanto, que as
polêmicas relacionadas a sexualidade apareçam por
causa de uma orientação da emissora. Para ela, trata-
se muito mais de uma iniciativa dos autores. O escritor
Gilberto Braga confirma a tese. "Nunca tive notícia de
que a emissora pedisse para incluir personagens
gays, por exemplo. Quem propõe é o autor, às vezes
com o objetivo de contribuir para a discussão sobre
preconceito, salvo em algumas novelas em que esses
personagens eram mostrados para fazer graça".
(Folha de S. Paulo, 06 ago. 2006 – adaptado.)
01 - Segundo o texto, “... há uma
distância cultural entre aqueles que
produzem novelas e os que as assistem.
No entanto, como esse é um produto de
massa, eles apontam que há sempre um
limite até o qual se pode ir”. São
exemplos de cuidados da Rede Globo em
não ultrapassar esse limite:
1. As demonstrações de afeto entre
personagens gays.
2. O merchandising social de temas como
dependência química e deficiência.
3. Os casamentos e uniões no final das
novelas.
4. O controle sobre a liberdade dos autores
para definir temas e criar personagens.
São exemplos desse limite:
a) 1 e 2 somente.
b) 1 e 3 somente.
c) 2 e 3 somente.
d) 2 e 4 somente
e) 1, 3 e 4 somente.
02 - Para a demógrafa Paula Miranda
Ribeiro, as novelas da Rede Globo
podem ter um papel indutor em relação a
alguns temas. A partir dessa afirmação,
pode-se deduzir que:
a) a Rede Globo desconhece a reação do público aos
temas abordados nas novelas.
b) as novelas da Globo tratam de temas que estejam
em evidência no cotidiano dos telespectadores.
c) a Rede Globo procura colocar em discussão temas
que a emissora considera relevantes.
d) as novelas da Rede Globo dão
preferência a temas polêmicos.
e) a Rede Globo é ousada na escolha dos
temas ppara obter aprovação dos
telespectadores.
3 - Segundo o texto, é correto afirmar:
a) os autores de novelas fazem poucas concessões
às expectativas dos telespectadores.
b) a maioria dos telespectadores não compreende a
trama das novelas devido à diferença cultural entre o
meio em que vive e o mundo ficcional.
c) por falta de conhecimento da audiência real das
novelas, os autores de novelas só atendem às
expectativas do público com escolaridade mais
elevada.
d) a classe baixa brasileira é mais
conservadora do que a elite.
e) os índices de audiência determinam a
escolha e a abordagem dos temas das
novelas.3 - Segundo o texto, é correto
afirmar:
04 - No trecho abaixo, foram destacadas
expressões que retomam outras palavras
mencionadas anteriormente, como um
recurso para garantir a coesão do texto.
“Para especialistas ouvidos pela Folha, há uma
distância cultural entre aqueles que produzem
novelas e os que as assistem. No entanto, como
esse é um produto de massa, eles apontam que há
sempre um limite até o qual se pode ir. A vice-
coordenadora do núcleo de telenovelas da USP e
professora da Escola de Comunicação e Artes
(ECA), Maria Lourdes Motter, diz que essa
diferença sempre existiu e deve continuar
existindo, mas que é preciso achar o ponto de
equilíbrio.”
Em que alternativa o antecedente da
expressão grifada NÃO foi indicado
adequadamente?
a) as ® novelas
b) esse ® novelas
c) eles ® aqueles que produzem novelas
d) o qual ® um limite
e) essa diferença ® distância cultural