Post on 01-Dec-2018
PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DE MATINHOS:
MEMÓRIA E IDENTIDADE
Márcia Regina Broska da Cruz
Professora PDE 2008
RESUMO
O objetivo deste artigo é a apresentação dos resultados da
aplicação do Projeto de Intervenção na Escola e do Material Pedagógico
produzidos, tendo como temática o desenvolvimento do povoamento do
município de Matinhos, entre os anos de 1910 e 1930, nos bairros do
Sertãozinho e do Bom Retiro, onde está localizado o Colégio Estadual
Sertãozinho. Com o desenvolvimento deste estudo, os alunos tiveram a
oportunidade de participar do projeto de pesquisa de campo, entrevistar
pessoas próximas e, em alguns casos, suas próprias famílias, percebendo a
História como uma disciplina viva, dinâmica e real, feita por pessoas comuns. O
presente estudo tem como eixo central a importância da utilização da história
local em sala de aula, proporcionando aos alunos o desenvolvimento de
atitudes investigativas, para a compreensão de sua realidade, através dos
registros da história da comunidade.
PALAVRAS CHAVES: colonização, história local, identidade.
SUMMARY
This article is the presentation of the results of the implementation of the project
of assistance and educational material produced, local history, thematic
reporting the development of the stand of the municipality of Matinhos, between
1910 and 1930, in districts of Sertãozinho and the smooth ride the Sertãozinho
State College. With the development of this study, students had the opportunity
to participate in field research project, interviewing people nearby, and in some
cases, their own families, realizing the living history as a discipline, real and
dynamic, made by ordinary people. This study has as its central axis of the
importance of the use of history classroom location, providing students with the
development of investigative, attitudes to understanding their reality, through
the community's history records.
KEYWORDS: colonization, local history, identity.
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende relatar as experiências obtidas na
implantação do Projeto de Intervenção na Escola e na aplicação do material
pedagógico produzidos no Programa de Desenvolvimento Educacional –PDE,
referente ao estudo da colonização dos bairros do Sertãozinho e do Bom
Retiro, no município de Matinhos, entre 1910 e 1930. A escolha deste tema
está relacionada com o interesse em se conhecer e compreender a
comunidade onde está inserido o Colégio Estadual Sertãozinho e proporcionar
aos alunos a possibilidade da construção de um conhecimento crítico da
realidade, contribuindo para o desenvolvimento da consciência histórica.
O Colégio Estadual Sertãozinho está situado no bairro do Bom Retiro e
seus educandos são oriundos, em grande parte, do bairro do Sertãozinho. O
estudo sobre o processo de ocupação e o desenvolvimento destes bairros
contribuiu para que a comunidade escolar conhecesse sua própria história,
suas origens e provocou uma reflexão sobre as mudanças pelas quais vem
passando.
Foi realizada uma consulta bibliográfica no acervo de BIGARELLA,
onde está relatado que por volta de 1926, a população local do município de
Matinhos ligava-se por vários graus de parentesco com as famílias Apolinário,
Crisanto, Ramos, Viana, Ferreira e Mesquita, as quais habitavam a região há
muito tempo e eram as proprietárias das terras. Mas o que fundamentou a
pesquisa foi a história oral, onde foram entrevistadas as famílias pioneiras,
que disponibilizaram seus acervos pessoais, como fotografias, documentos
pessoais, entre outros.
A utilização da História Oral foi fundamental para o desenvolvimento da
pesquisa, porque, de acordo com ALBERTI, é um método de pesquisa que
privilegia o contato com pessoas que participaram de acontecimentos,
aproximando do objeto de estudo e produz fontes de consulta para outros
estudos.
OS PRIMEIROS CONTATOS
Nos primeiros contatos realizados com a Família Ferreira, a
professora aposentada Nazir Ferreira, neta do senhor Manuel Ferreira, um dos
pioneiros, fez uma narrativa da chegada de seu avô ao município ainda
criança, o desenvolvimento de suas atividades, a forma de produção, as
relações sociais da família, a ocupação e distribuição das terras. Descreveu
sua prática docente, as dificuldades enfrentadas, as limitações e os avanços
dos primeiros tempos da escola pública no município. Além das narrativas,
disponibilizou alguns documentos de sua família entre eles fotografias de
Matinhos, documentos relacionados a divisão da herança deixada pelo seu
avô, fotos de sua família, entre outros.
Outra família pioneira, a Ramos Viana foi também bem receptiva,
disponibilizou documentos pessoais como a certidão de casamento, certidão de
nascimento e um processo de usucapião, documentos que foram utilizados na
produção do material pedagógico. Através da entrevista com esta família foi
possível ampliar o conhecimento a respeito da formação dos bairros
pesquisados.
A PRODUÇÃO E APLICAÇÃO DO CADERNO PEDAGÓGICO
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná,
para a disciplina de História, orientam que na aprendizagem histórica devem
ser consideradas diferentes possibilidades de documentação, múltiplos sujeitos
e suas experiências, em uma perspectiva diversificada das formas de
problematização do passado, objetivando a contribuição para a formação da
consciência histórica nos educandos.
Considerando essas orientações, o Caderno Pedagógico foi produzido
com o objetivo de proporcionar aos alunos contatos com diferentes fontes
históricas e contribuir para o registro das experiências da população de
Matinhos.
O Caderno Pedagógico está dividido em quatro unidades pedagógicas,
sendo que a primeira unidade analisa a questão das diferenças espaciais de
Matinhos, as mudanças e as permanências na paisagem, através da
comparação das fotografias.
Foto 1 – Matinhos – Praia Central -1930 Fonte: Acervo pessoal - Nazir Vaiss
Foto 2 – Matinhos – Praia Central – 2008 Fonte : Acervo pessoal
Foto 3 – Matinhos – Praia Central – 1930 Fonte: Acervo Pessoal – Nazir Vaiss
Foto 4 - Matinhos – Praia Central – 2008 Fonte : Acervo pessoal
Foto 5 – Matinhos – Praia Central – 1930 Fonte: Acervo Pessoal – Nazir Vaiss
Foto 6 - Matinhos – Praia Central – 2008
Fonte: Acervo pessoal
A segunda unidade aborda o povoamento do bairro do Sertãozinho, os
costumes das famílias, as atividades econômicas e sociais através do relato da
família Ferreira. A terceira unidade discute a ocupação de terras através do
processo de usucapião da Família Ramos Viana e a quarta unidade contribui
para a análise de documentos de famílias, através da certidão de casamento
ocorrido em vinte e seis de janeiro de mil, oitocentos e noventa e um.
O Caderno Pedagógico foi aplicado nas turmas de sétimas e oitavas séries do
Colégio Estadual Sertãozinho, não apresentando maiores dificuldades para a
sua execução. Os alunos resolveram as atividades com facilidade,
demonstraram interesse no assunto trazendo documentos de suas próprias
famílias para acrescentar a discussão proposta.
OS RESULTADOS
Como afirma BIGARELLA, a região de Matinhos esteve praticamente
isolada antes do aparecimento do banhista, tendo uma evolução espontânea e
sua população foi se adaptando às necessidades para suprir sua existência.
No bairro do Bom Retiro, destacam-se algumas famílias, entre elas, do
Senhor Horácio Pinto das Neves, do Senhor Sebastião Silvestre e Senhor
Manuel Ferreira Gomes, sendo esta última destaque deste trabalho por sua
relevância na história do Colégio Estadual Sertãozinho.
A aplicação do material pedagógico preparado no programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE foi aplicado nas turmas das 7ªs e 8ªs
séries do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Sertãozinho, no município
de Matinhos.
A primeira unidade do caderno Pedagógico que propõe uma atividade
utilizando fotografias, com o objetivo de observar as mudanças e
transformações espaciais, foi desenvolvida com bastante facilidade. Os alunos
realizaram as atividades propostas, sem apresentar grandes problemas. Na
primeira etapa eles conseguiram identificar as permanências e as
transformações fazendo uma descrição utilizando conceitos históricos.
Durante a realização da pesquisa os alunos se envolveram bastante
com o projeto, principalmente aqueles oriundos das famílias pioneiras, que se
empolgaram com o assunto e contribuíram levando para a sala de aula
fotografias, documentos de suas famílias, certidões de nascimento, entre
outros. Este material também foi utilizado em sala com os demais alunos, que
motivados, participaram das discussões, contribuindo com suas próprias
histórias, relatando as causas da vinda de suas famílias e o momento que
chegaram ao município.
Esta discussão foi muito interessante porque os alunos participaram de
todo o processo, superando as expectativas, pois acrescentaram informações
preciosas, que foram aproveitadas e novas idéias foram surgindo, sendo
agregadas ao projeto inicial. Por exemplo, com as 8ªs séries desenvolveu-se a
pesquisa sobre a história das escolas de Matinhos, dentro do conteúdo contido
no planejamento anual do colégio. Com as 7ªs série, que a temática é trabalho,
a pesquisa desenvolvida foi referente aos imigrantes no litoral do Paraná,
partindo sempre da história local.
No que se refere às pesquisas realizadas pelos alunos com as famílias
pioneiras, de um modo especial com a Família Ramos Viana, foi possível
perceber que, ao mesmo tempo que sentem saudades dos tempos de infância,
onde as crianças brincavam livremente pelas ruas e tomavam banho nos rios
que cortam o município, apreciam o progresso que proporcionou o aumento do
número de escolas, a implantação da Universidade Federal do Paraná - UFPR,
dos supermercados substituindo as “vendas” e “armazéns”.
A relação dos chamados nativos com as pessoas que vieram morar em
Matinhos se deu de forma pacífica, apesar de perceber-se um certo
ressentimento com as pessoas que procuram o município para fixar residência
e criticam seus hábitos, seus costumes, a forma que se entendem a vida.
A FAMILIA FERREIRA E O BAIRRO BOM RETIRO
A família Ferreira Gomes disponibilizou um relato sobre o Senhor
Manuel Ferreira Gomes onde está registrado uma grande parte da história da
família, os costumes, a origem, as atividades econômicas e sociais.O Senhor
Manuel Ferreira Gomes, Seu Ferreira como ficou conhecido, tem sua história
narrada pelas suas netas senhoras Nazir Vaiss e Euzi Lucia da Silva:
“O NOSSO HOMENAGEADO E PIONEIRO DE MATINHOS É MANUEL
FERREIRA GOMES
Foto 7 - Manuel Ferreira Gomes e Maria Silveira Phaiffer
Fonte: acervo pessoal Nazir Vaiss
Manoel Ferreira Gomes veio da Ilha da Madeira, Portugal, junto com
seus pais ainda muito criança. Estabeleceram-se em Itajaí, mais tarde em
Barra Velha, Santa Catarina.
Nascido em 20 de março de 1877. Vindo com seus pais para a
Prainha, já com 18 anos de idade, foram fazer uma pequena viagem no
Descoberto, onde conheceu Dª Maria Silveira Phaiffer, com quem veio casar-
se, passaram a morar na Prainha com seus pais.
Não dando certo a convivência com a madrasta, mudou-se para o
morro do Sertãozinho, acima onde hoje as terras do Mario Pock. Pai de 15
filhos sendo cindo homens: João, Alexandre, Francisco, José, Leopoldo e 10
mulheres: Antonia, Maria, Rosa, Ana, Francisca, Ermínia, Joaquina,
Alexandrina, Joaquina, Maria e Luzia.
Foto 8 - Sr. Manuel, sua esposa Maria, filha e netos
Fonte: acervo pessoal Nazir Vaiss
Morando com eles seu irmão Avelino, o caçula. Com o trabalho muito
sacrificado veio machucar-se, quebrando a coluna ao subir e descer o morro
carregando mandioca e outros. Por motivo do acontecido, viu-se obrigado a
mudar-se para o lugar onde se estabeleceu em Matinhos, comprando terras
num total de 16 alqueires. Mais tarde, mais ou menos em 1939 saiu uma lei
federal, quem possuíssem terras, mesmo comprada, requeresse do governo
para que viesse a medição das terras e a documentação definitiva. O Sr.
Ferreira logo tratou de requerer. Onde construiu uma casa de 11x13m, com um
salão de 6m² que servia para festas de São Gonçalo comemorado no dia 10 de
janeiro com o famoso Fandango, onde também era rezado os terços do Divino
Espírito Santo, a Santíssima Trindade, quando por aqui passavam. Os
capelães eram o Sr. Satuca Ramos, Leocádio Viana (velho) e outros.
Eram feito grandes fogueiras para clarear o terreiro.
Os festeiros de São Gonçalo forneciam broinhas de goma e licores,
tudo grátis.
O mesmo salão era usado para o fandango e mutirões de retirada de
paus para confecções de canoas e plantações de arroz, mandioca e outros e
para bater o arroz e feijão cozido.
Também possuía animais que eram usados para girar os engenhos de
açúcar e farinha, tinha vacas leiteiras e cavalos.
Sua profissão era pescador e lavrador. Plantava café, laranja, arroz,
milho, cana-de-açúcar e mandioca e outros.
Possuía engenho de farinha e açúcar, cujas mercadorias eram levadas
em carro de boi até Pontal do Sul e de lá usavam as canoas do Sr. Fernandes
até Paranaguá, onde eram vendidos.
A fabricação da cachaça pura funcionava da seguinte forma: o Sr.
Ferreira levava o melado até Cubatão em Guaratuba para transformar em
cachaça.
As despesas do Sr. Manoel eram poucas, somente comprava sal,
tecidos e calçados (tamanco). O sal era grosso, comprado em sacos e
colocado em cortiços feitos de um pau só, cavoucado por dentro deixando oco.
Nos dias de chuvas eram tiradas taquaras, que eram limpas, deixando
tipo palhas estreitas e finas para tecer os chapéus usados na roça e passeios,
eram tecidos e costurados pelas mãos da esposa e filhos.
Tinha os tipitis, uma espécie de cesto para secar a massa da
mandioca, depois de ralada para fazer a farinha, o bejú de goma, da folha da
banana, cuscuz que era feito na panela de barro.
A farinha de mandioca era feita da seguinte maneira: era arrancada na
roça, carregada em balaio ou sacos, nas costas ou na cabeça posto no meio
da casa, raspada depois era lavada, a água era buscada no rio, uns 50 metros
da casa numa lata de 18 litros, colocada num pau, posto no ombro, uma
pessoa na frente e outra atrás.
Depois de ralada na cevadeira girada a boi ou a pessoa. Quando
queria a farinha meio azeda, deixava a massa descansar ou já emprensava, aí
ficava doce. Era colocada no tipiti e ia para a prensa que era de dois fuzos, era
puxado em um dia inteiro, força de dois homens para secar a massa. Depois
era quebrada, moída e peneirada para tirara carueira, que era a parte grossa
da massa. A família do Sr. Ferreira levantava de madrugada, 2 0u 3 horas da
manhã e acendiam a fornalha e ia torrando a farinha. Quando amanhecia o dia,
já tinha três ou quatro sacos de farinhas de 60 quilos.
Era colocada em umas caixas quadradas de 1,50m X 1,50m feito da
madeira caixeta, ali era bem conservada para depois vender.
Ainda tinha uma qualidade de mandioca que não era levava, chamada
socatica que da mandiqueira (a água da mandioca) com goma, colocavam num
tacho a ferver, apuravam até ficar numa marmelada muito gostosa.
Os balaios eram feitos de taquaruçú e cipó preto, que servia para
colher arroz, mandioca, café. Eram feitos também os cargueiros de timbopeba,
uma espécie de cesto, usado em mulas.
Com as cascas do cipó preto eram tecido cordas, que chamavam de
beta para amarrar os animais e puxar as redes do mar.
Tinha também as peneiras feitas de taquaruçú com várias espessuras
para peneirar a massa e depois torrar, para fazer a farinha. A pá feita de
madeira caixeta para mexer a farinha no forno. As cuias feitas de purungo ou
catuto grandes para lidar com a farinha. As medidas eram o litro, a quarta e
alqueire que valia 20 litros a quarta 5 litros.
O café era pilado em pilão e torrado nas torradas de barro e socado no
pilão, peneirado em peneiras finas.
O arroz também era pilado para tirar as casca para cozinhar.
O milho era socado no pilão para fazer a canjica.
A cana de açúcar era carregada em atilhos (uma amarração) do
morro, onde era plantado até o engenho para ser moída, era girado por dois
bois. Tirado a garapa, colocado no forno e apurado até sair o melado e depois
o açúcar preto. Nesse engenho o seu filho José que estava colocando a cana
para moer, no momento usava a camisa de manga comprida, os dentes do
engenho puxaram a manga e foi o braço, ficando aleijado de um braço e uns
dedos da outra mão, assim mesmo trabalhava na roça, tirava mariscos nas
pedras do mar e foi professor no Riozinho.
Como pescador possuía quatro canoas cujos nomes eram: Andorinha,
Vovó, Navegante, Santa Rosa, possuía redes para mangonas ou cação
grande, pesando mais ou menos 100 kg cada. Redes para tainhas e peixes
miúdos. A pesca da tainha era feita na Prainha e Matinhos, onde possuía casa
e ranchos que permaneciam por dois meses. Em Matinhos eram feitas as
pescas de tainha e peixes miúdos.
O rancho das canoas era onde hoje é o mercado de peixe. Quando a
pesca era grande, o peixe era trazido de canoa pelo rio que cortava o terreno
até chegar à casa do Seu Ferreira, onde era limpo e salgado, feito cambira
para secar ao sol e em fogo fumacento, depois colocado em cestos nos giraus,
que eram um forro de paus gradeados no alto, em cima do fogo, para não
estragar e ficar sempre enxuto. Quando caíam tempos de chuvas, o pessoal
das colônias vinha comprar.
O Sr. Ferreira também foi um lutador para a criação do nosso antigo
cemitério de Matinhos, em parceria com o Sr. Manoel Antonio Viana, que
cedeu o terreno e o Sr. Ferreira entrou com o arame de farpas para cercar a
área e documentar para a Prefeitura de Guaratuba.
O Sr. Ferreira, como era conhecido, morreu no dia 18 de janeiro de
1954.”
As terras que pertenciam a Manuel Ferreira Gomes foram divididas
entre seus filhos e posteriormente seus netos. O terreno onde está localizado o
Colégio Estadual Sertãozinho fazia parte de seu patrimônio, bem como grande
parte do bairro Bom Retiro. Uma de suas netas, Euzi Lucia da Silva compõe o
corpo docente do colégio e dois de seus bisnetos compõe o corpo discente.
Atualmente parte de sua família, uma filha, netos, netas, bisnetos e
bisnetas residem em parte deste bairro, o que tornou possível conhecer um
pouco de sua história.
A FAMÍLIA RAMOS VIANA E O BAIRRO SERTÃOZINHO
De acordo BIGARELLA, antes da chegada dos banhistas, Matinhos era
habitada por várias famílias, entre elas a Ramos e a Viana. Grande parte do
bairro do Sertãozinho foi colonizada pela família Ramos Viana, concentrando
principalmente na área territorial onde hoje está localizada a Rodoviária
Municipal José Bonatto e a Escola Municipal Oito de Maio.
Não foi possível estabelecer uma data precisa da chegada da família
em Matinhos, mas através do Processo Usucapião do senhor Jurival Ramos
Viana, percebe-se que desde 1891, quando seus bisavós casaram, já residiam
na área hoje denominada Sertãozinho. Estas terras foram passando de pai
para filho e sendo divididas entre os irmãos e regularizadas através de
processo de usucapião.
A origem e desmembramento da área que pertencia à família podem
ser observada através dos documentos disponibilizados pela mesma, como o
Processo de Usucapião e as certidões de casamento e de nascimento.
Um dos aspectos que levantou vários questionamentos entre os alunos
foi referente aos sobrenomes observados nos documentos da Família Ramos
Viana. Não foi possível explicar as mudanças ocorridas entre elas o
desaparecimento do sobrenome Paciência. Nas entrevistas realizadas com as
famílias foi narrado que o surgimento do sobrenome Gomes se deu por ocasião
de uma visita do senhor Laudemiro Viana à Praça Carlos Gomes, em Curitiba,
ocasião que teria ficado maravilhado com o lugar e resolveu colocar em um dos
seus filhos, Carlos Gomes Ramos, irmão do senhor Jurival Ramos Viana.
Outro sobrenome inserido na família Ramos Viana foi o Mesquita, que se deu
ao homenagear o Padre Mesquita.
A família Ramos Viana relatou que as ruas dos bairros eram “estradas
de areia” e que não tinham água encanada nem rede elétrica. Os moradores
trabalhavam na “roça”. Viviam da lavoura (plantação de banana, mandioca,
cana de açúcar), criação de gado, engenho de farinha, alambique e no bairro
não tinha “armazém”. A primeira escola surgiu na casa do Senhor Modesto,
que posteriormente foi fechada e passou então a funcionar na casa do Senhor
Eudóxio, nas proximidades da atual rodoviária municipal.
Na época da Festa do Divino, em Guaratuba, os moradores do bairro
do Sertãozinho recebiam em suas casas pessoas vindas de Guaratuba
trazendo uma “bandeira vermelha” (representando o Divino). Era uma festa
para as crianças, pois aquelas pessoas tocavam instrumentos, cantavam e
estouravam foguetes. Todas as famílias católicas recebiam a bandeira em
suas casas, reunindo os vizinhos.
CONCLUSÃO
O uso da história oral motivou os educandos a produzirem narrativas
de sua própria história, valorizando as experiências individuais e coletivas,
possibilitando uma abordagem da história, não como uma verdade pronta e
definitiva, mas como uma constante análise e reconstrução em torno das ações
e relações dos sujeitos no tempo e no espaço.
Não fazer o estudo da própria comunidade torna o conteúdo da
disciplina da História distante, irreal, desmotivador e monótono. Implica
também na perda de sua identidade, de sua memória, seus costumes e
tradições.
O estudo sobre o processo de colonização dos bairros do Sertãozinho
e do Bom Retiro, onde está localizado o Colégio Estadual Sertãozinho,em
Matinhos, Estado do Paraná, contribuiu para que a comunidade escolar
conhecesse sua própria história, suas origens, aumentando sua auto estima e
proporcionando a construção da consciência histórica.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3. Ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. BIGARELLA, J. J. Matinho... homem e terra – reminiscências. 2 ed. Matinhos/ PR: Prefeitura Municipal de Matinhos/Fundação João José Bigarella para Estudos e Conservação da Natureza, 1999. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). História Oral. Rio de Janeiro: Diadorim FINEP, 1994. FERREIRA, Marieta de Moraes e Amado, Janaina (org.). Usos e Abusos da História Oral. 8. Ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. HORN, Geraldo Balduíno, GERMINARI, Geyso Dongley. O Ensino de História e seu Currículo. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2006. MATINHOS. Lei Orgânica Municipal MEIHY, José Carlos sebe Bom e HOLANDA, Fabíola. História Oral: Como Fazer, Como Pensar. São Paulo: Editora Contexto, 2007. SCHMIDT, Dora, Historiar – Fazendo, contando e narrando a História. Editora Scipione, 2005. SCHMIDT, Maria Auxiliadora, CAINELLI, Marlene. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Historiar: fazendo, contando e narrando a História. 7ª série. São Paulo: Scipione, 2002. THOMPSON, Paul. A Voz do Passado- História Oral. 3. Ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002. WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. 7.ed. Curitiba: Editora Gráfica Vicentina Ltda, 1995.
ANEXO 1 - PROCESSO USUCAPIÃO – FAMÍLIA RAMOS VIANA
ANEXO 2 – CERTIDÃO CASAMENTO – FAMÍLIA RAMOS VIANA
ANEXO 3 – CERTIDÃO DE NASCIMENTO – JURIVAL RAMOS VIANA