Post on 16-May-2020
- Presidente Samora Machel no encerra·m·ento do Conselho de Ministros
Na 4.L Sessiio Alargada do Conselho de Ministros, reaJizada na semana passada, 0 Presidente
Samora Machel dirigiu-se aos presentes chamando a aten�iio para dois importantes aspectos.
o primeiro focado dizia respeito ao CentraJismo Democratico. A este proposito foi recordada
a regra mais elementar daquele principio: a hierarquia, a respollsabilidade. IUais tarde, na sua
interven�io, 0 Presidente analisou varios aspectos da vida nacional, tendo situado a sua awn
�ao sobre a defini�ao correcta do inimigo intemo. Nessa altura 0 Marechal Samora lUacbel
disse: senti-mos, nalgulls casos, ter-se perdido a no�iio do inimigo. Pela sua importancia� trans
crevemos mais adiante 0 improviso prolluncia do pel0 Presidente da Republica no encerra·
menlo da referida 4. L Sessao. Para esse impor lante discurso chamamos a ateIl�ao dos n08SOS
leitores.
Senhores Membros do Conselho de Ministros
Senhores. Convidados
Durante est a 4.& Sesseo Alargada do Consalho de Ministros, houve debates extremamente vivos e ricos, que trouxeram importantes contribuic;Oes aos documentos apresentados .nesta reuniao.
Ontem, assistimos a uma discusseo pa[ticularmente interessante
todos tin ham a noc;:ao da responsabilidade que representa participar nesta reuniao.
Sao estas as interrogac;:Oes que devem ser respondidads em primeiro lugar.
Quando falamos em Centralismo Demoeratieo, temos de assumir que somos n6s, nesta sala, quem representa 0 Povo inteiro. Somos n6s qUem tem a responsabilidade de defender os interesses da maioria.
Mas foi p'recisamente nesta ses-
Sentimos reflectir-se aqui a preocupayeo de alguns sectores da populayao de tirar tantos beneficios quantos possiveis sem consentir quaisquer sacrificios, de obter privilegios sem esforc;:o e sacriticio.
Isto e urna manitestaqao de recusa de engajamento na nova batalha.
Isto significa falta de vigiJAncia sobre a natureza de classe das fontes que utilizamos para 0 nosso trabalho.
A batalha contra 0 slIbdesenvolvimento serti. gallha se todos 110S empenharmos, coiectivamente, a valor;zar os nossas ;nzensas riquezas, como 0 /azem as poplIlaroes lias machambas coleclivas, conforme se pode veri/icor no grovura acima
sobre questoes referentes a polltica de Trabalho. Mas essa discussao provocou igualmente algumas inquia-tac;:6es.
.
Certos problemas que foram postos nesta sala levam-nos a interrogarmo-nos se todos quantos participaram na elaboracao do trabalho tinham 0 conhecimento real da situaCao econ6mica do nosso Pais, se
seo do Conselho de Ministros, 0 6rgao mais elevado do Governo, onde se encontram os dirigentes do Partido e ·d/) Estado aos varios escalOes, que sentimos, nalguns casos, ter-se perdido a noc;:ao do inimigo.
Sentimos que, por vezes, estavamos envolvidos na preocupaCao de encontrar soluc;:oes que satisfac;:am situac;:6es partieulares,
E um. questio de princ ipio, 0 Cenlralismo Democratico. t preciso compreender bem 0 que Ii um Director Nacional. Director Provincial, Director Di8tr\lal. As qualidades para Ber Director Naclonal, Provincial e Distrilal.
Exlgencias, capacidades e,.. a responBabilidade. 0 Director Naclonal, nao preclsa de nenhuma explics.c;80, ele dlrlge nacionalmenle as 10 Provincia ••
·0 Director NacionaJ em outros Paises Ii urn Vlce-Mlnlstro. e nomeado com a concord.lncla do Presidente· da Republica. Quem nomel. 0 Director Provincial e 0 GovernadorProvincial e ·para urn seetor restrito naquela Provincia.
Nao sa pode vlolar estit regr. mals elementar do Central/smo Democratlco. A hlerarqula, a responsabilldade... 0
o Director Provincial depende em 1: lugar do Govemador, . . 0 Director Naclonal depende· directamente do Minf$lro.
Tsmbem temos que compreender a dlstinc;:io entre 0 Oistrlto e a Provincia.
Quem dirige a Provincia? Quem dirige e coordena todDs os seclores e tem a iiltirna palavra? Qual e a responsSbilidade do Gover'nador. em ccmparB4;so com 0
Director Naclonal?
Quem e 0 Chefe do Disltito? o Director Distrltal nio pode genhar mail! que 0 Administrador de Distrlto.
o Chefe do dlstrito e o.Adrrunistrador, C! chefe dB Provfncia e 0 Govemador, representante pessoal do Presidente da RepUbIiCa� ..
Salamos vigilantes contra· a subversio· Ideol6gica utillzando .05· vencinientos. seJamos implacaveis pera com O$propegandlstas destas ideill ••
Isto . significa que interesses individualistas, pessoais, ambiciososse infiltraram na prepara<;:ao do nosso trabalho e aqui se manifestaram.
Fahimos no custo de vida e definimos as varias classificac;oes dos trabalhadores. Heft quem pense que os jovens de 15 a 17 anos que acabam c'1 sair da escola com a.9." OU 11." classe sao ja form ados e podem ser inciuldos no quadro de tecnicos.
Como e que esses jovens, sem pratica, sem experiencia. sem maturidade, podem ser tecnicos?
� assim que perspectivamos 0 futuro?
. Por um lado temos vindo a colocar a necessidade e a importancia do estudo; mas, por outro lado, promovemos este tipo de aliciamento que esh em contradiqao com 0 principio «a cada um segundo 0 seu trabalho, de cada um segundo as suas capacidades». '
Tal princlpio e posto em causa quando se pretende equiparar um jovem que acaba de concluir a 9." classe eom um dirigente experimentado.
Quando e que esse jovem teve tempo de forjar-se? Em que combate? Em que trabalho? Onde?·
Se n6s estamos engajados numa luta de classes, quando e que esse jovem teve a oportunidade de nela participar?
Portanto, isto indica-nos que po· demos perder a noyao do inimigo.
No ana passado, desencadeamos a guerra contra 0 inimigo interno, que tem varias faeetas e varias menifestac;:6es. na sua actuac;eo: subversao politics. ideologiea, aliciamento eeon6mico e outro tipo de soIicitac;:6es. Detinimos a necessidade de manter permanentemente. em nos, a clareza de quem e 0 inimigo interno. Nao podemos permitir 0 reo laxamento do sentido agudo e necessario do que e luta de classes.
Sentimos, tambem, que podemos perder a noc;:ao do Povo a quem servimos, quando ,deixamos que se exprimam preocupac;:6es individualis· tas, pessoa-is e queremos ter bene- ' ficios sem sacrificios: eolher, sem semear. Estamos assim a recusar 0 espirito de sacrificio que e exigido ao nosso Povo e que e 0 esplrito do Plano Prospectivo Indicativo. 0 Piano Prospectivo Indicativo e a estrategia de. luta pera Jibertac;eo econ6-mica do nosso Pais. 0 factor fundamental deste prano e a exigencia de sacriffeio.
Quando desencadeamos um combate, temos de detinir correctamente os nossos objectivos. 0 Plano indica-nos, pois, os objectivos que queremos atingir. Os objectiv�s do nosso Plano nao sao individuos, mas 8im a sociedade, 0 Povo.
Devernos definir correctamente a estrategia e a tactica que queremos seguir e que sirvam a nossa politica_ E toda esta discussao visava realmente a definic;:ao de metodos correctos de aplicac;:eo do Plano.
Mas e necessaria clareza sobre o nosso inimigo. Devemos defini-Io correctamente. Nas varias frentes em que lutamos anteriormente, saimos vitoriosos porque tinhamos essa ciarazii ideol6gica, a clareza dos objectiv�s, a clareza de querermos eonstruir 0 Homem Novo e de conquistar a Independencia total e completa.
o Homem Novo, factor essenciaf no processo de construcao do Socialismo, nAo esteve sempre presente durante as nossas discussoes.
Neste processo, tal como durante a nossa Luta Armada de LibertaqAo Naeional. houve, ha e havera sempre aqueles que se deixam engolir pela vida facil. pela comodidade e pelo conforto. As vezes, p�r incompet�ncia, ignorancia, ingenuidade ou aceitaqao de valores capitalistas.
Quem sao os que agitam a bandeira de aumentos salariais e que val ores defendem? Por que. neo agitam a bandeira do aumento da produ�ao e da prodiltividade? Para resolver os problemas do custo de vidae preciso promover a produyiio e a produti�idade. porque, se tivermos produtos, a vida nao sera difi
·cil. Esses, que agitam a. bandeira dos capitalistas, ·deixaratn de se inspirar no Povo e no sacrificio que esta sempre disposto a consentir. Deixa!'am de se inspirar no eSl?irito de trabalho arduo ql;le a grande maioria do nosso Povo sempre demonstrou.
Para se coflseguir a fibertari'1O economica e preciso execu.tar 0 plano. Execrlfar a plano sigllijica. entre outras coism, cOllstruir e por a funcionar a segunda geradora de Cahora-Bassa, a instalar nti mar.!jem Norte dc) Zombeze,
cOllforme 0 ihdicam as setas. (Foto de CarlOIl Alberto)
Deixaram, enfim, de se inspirar nas capacidades imensas do nosso Povo e no seu espirito criador.
Na luta contra 0 colonialismo portugues. isto e. contra 0 inimigo fisico que nos oprimia e massacrava. tinhamos um objectivo comum, que nos unia a todos: conquistar a independelncia politica-,-
Qual e agora 0 nosso objectiv�? .
£ conquistar a independAncia econ6mica.
Uma vez atingido a primeiro objectiv�, decidimos lanqarmo-nos neste combate grandioso, nesta luta sem treguas que e a independencia economica, a edificavao do Socialismo.
Neste combate, a nossa fonle de inspiraoao e e continuani a ser a foroa irnensa do Povo, 0 seu espirito de sacrificio e 0 seu espirito de trabalho arduo. 0 povo trabalhador tem consciencia de que e preciso semear para colher e de que a semente nao germine imediatamente, de um die para 0 outr�.
Este combate e ainda mais duro do que aquele que travamos contra o colonialismo portugues, porque se trata n�o ja de uma confrOnta9ao fisiea com 0 inimigo, mas sim de luta idebl6gica, em que 0 inimigo nao e fisico.
Neste comb ate, 0 inimigo e 0 nosso primo, ou 0 nosso irmao q ue· e corrupto; 0 nosso pai que perten-
ceu a estruturas opressivas; 0 nosso cunhado e 0 nosso sobrinho que lutaram contra n6s ao lado do exercito de ocupaqAo; a nossa prima e a nossa sobrinha que foram prostitutas, para alimentarem 0 e)(ercito colonial; 0 nosso irmao e 0 nosso sobrinho que pertenceram Ii ANP ou que foram GE, GEP. OPV. Flechas ou -Coman dos, simbolos da morte; 0 nosso irmao, 0 nosso primo e a nosso sobrinho que participaram nos massacres contra 0 nosso povo ou que denunciaram, prenderam e massacraram os mensageiros da FRELIMO.
sao estes que agitam bandeiras contra n6s. Se tivermos condescend�ncja para com eles, vamos destruir as conquistas do Povo.
Por tudo isto dizemos que a nossa luta mudou de natureza e de caracter. E. entao, h8 que colocar, mais uma vez, estas· q·uestOes, fundamentais: Quem e o inimigo? A quem servimos?
Se sou berm os responder correetamente a estas questoes; est aremos· em condi<;:oes de defender as nossas conquistas. Estaremos em condic;:oes de consolidar 0 Poder Popular, de garantir que 0 Povo exer<;:a o poder, de fazer triunfar 0 P.P'!.; de fazer, enfim, da presente dec ada a .. Oecada da ViteSria sobre '0 Subde· senv6Ivimento ...
A ·lUTA CONTINUA!
lm�em do Conselho de Ministros Alargado
NOTfCIAS, sexta·feira, 26 de junho de· 1981 -----------------------------------------------------.;:.----------- Dagina fres