Post on 08-Jul-2020
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Vitória Rosa Neal Boldrin
A Sustentabilidade nos Relatórios da Administração
Caso Itaú Unibanco 2009 a 2013
Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras
São Paulo
2014
VITÓRIA ROSA NEAL BOLDRIN
A Sustentabilidade nos Relatórios da Administração
Caso Itaú Unibanco 2009 a 2013
Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título de
Mestre em Ciências Contábeis e Financeiras sob
a orientação do Professor Doutor Antonio Robles
Junior.
São Paulo
2014
Banca Examinadora
_______________________________________________
Prof. Dr. Antonio Robles Junior
Orientador
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP
_______________________________________________
Prof. Dr. José Roberto Kassai
Universidade de São Paulo – USP/FEA
________________________________________________
Prof. Dr. Valério Vitor Bonelli
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP
“Isto sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
como o sangue
que une uma família...
Tudo o que acontece com a Terra,
acontece com os filhos e filhas da Terra.
O Homem não tece a teia da vida;
ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
ele faz a si mesmo.”
- Ted Perry (inspirado pelo Chefe Seattle).
Extraído do livro A Teia da Vida (CAPRA, Fritjof. 2007)
DEDICATÓRIA
À minha mãe (in memoriam), entusiasta da felicidade e conquistas de seus filhos.
Tudo que acontecia com seus filhos, acontecia com ela...
À minha filha, a quem gostaria de passar lições de vida que aprendi com minha mãe.
AGRADECIMENTOS
Muitos me ajudaram no processo de estudos e conclusão deste trabalho.
Agradeço a cada um que se envolveu direta ou indiretamente, com a certeza
de que sozinha não teria sido possível e ainda assim, se possível fosse, a
celebração não faria sentido.
Agradeço ao Adeildo Paulino, a primeira motivação para o desafio.
Agradeço meu marido e minha filha, pela compreensão e respeito à minha
vontade de persistir neste desafio.
Agradeço ao meu pai que, mesmo em um momento tão difícil, entendeu e
respeitou meu distanciamento.
Agradeço à minha família, que mesmo privada da minha companhia, continuou
me provendo de carinho.
Agradeço à minha querida amiga Raquel, por fazer tudo parecer simples.
Agradeço às amigas que me deram ânimo para seguir em frente – Arlete,
Regina Casagrandi, Maria Lúcia e Iaara.
Agradeço à Yeda, pelas animadas discussões sobre conceitos contábeis.
Agradeço meu orientador, professor Dr. Antonio Robles Junior, pelas
orientações e por entender meus momentos de dificuldades.
Agradeço ao professor Dr. Roberto Fernandes dos Santos, pela compreensão
e por sempre ajudar a encontrar uma alternativa.
Agradeço à Banca, professor Dr. Valério Vitor Bonelli e professor Dr. José
Roberto Kassai, pelas importantes contribuições e provocações para ampliação
do conhecimento sobre o assunto.
RESUMO
Esse estudo objetivou analisar os relatórios de sustentabilidade do Itaú
Unibanco no período de 2009 a 2013 e se as informações contidas nesses
relatórios são suficientes para assegurar a relevância do tema sustentabilidade
na empresa e se o relato integrado, primeiro a ser divulgado pela empresa,
manteve conformidade com a Estrutura proposta pelo IIRC – International
Integrated Reporting Council. Os dados analisados e utilizados nesse estudo
foram extraídos de vasta pesquisa bibliográfica sobre o tema e do site oficial da
empresa objeto dessa pesquisa. Observou-se que as informações dos
relatórios de 2009 a 2013 asseguram a relevância do tema na empresa e que o
primeiro relato integrado do Itaú Unibanco está em conformidade com a
Estrutura.
Palavras chave: Empresa Sustentável. Relatório de Sustentabilidade. Relato
Integrado.
ABSTRACT
The present study aimed to analyze the sustainability reports of Itaú Unibanco
for the period of 2009 to 2013 and whether the reported information was
sufficient to assure the relevance of the subject sustainability in the company. It
also aimed to analyze whether the integrated reporting, the first one to be
published by the company, was in comformity with the Framework proposed by
IIRC – International Integrated Reporting Council. Data analyzed and used for
this study were drawn from extensive litterature research on the topic and from
the official website of the company object of this research. It was observed that
the information from the 2009 to 2013 reports assured the relevance of the
subject in the company object of this research and the comformity between the
Itaú Unibanco and the Framework was confirmed.
Key words: Sustainable Enterprise. Sustainable Report. Integrated Reporting.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Modelo Stakeholder...........................................................................23
Figura 2: Processo de geração de valor............................................................51 Figura 3: Estrutura acionária do Grupo Itaú Unibanco .....................................72 Figura 4: Itaú Unibanco- Modelo de negócios...................................................93
Figura 5: Entenda como funciona um banco.....................................................94
Figura 6: Itaú Unibanco: mapa de sustentabilidade...........................................97
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distribuição de empresas participantes no Programa Piloto, por país de origem..........................................................................................47
Quadro 2: Distribuição de investidores participantes no Programa Piloto, por país de origem.................................................................................47
Quadro 3: Relato Integrado – Estrutura 1.0 - Elementos de Conteúdo.............54
Quadro 4: Evolução dos índices ISE e IBOVESPA ..........................................63
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A4S Accounting for Sustainability Project
ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
Anbima Associação Brasileira das Entidades de Mercado Financeiro e de Capitais
API Análise do Perfil do Investidor
BACEN / BCB Banco Central do Brasil
BM&FBovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo
CERES Coalition for Environmentaly Responsible Economies
CMN Conselho Monetário Nacional
CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados
CO2 Dióxido de Carbono
CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis
CSR Corporate Social Responsibility
CVM Comissão de Valores Mobiliários
DDA Débito Direto Autorizado
DJSI Dow Jones Sustainability Index (Índice Dow Jones de Sustentabilidade)
DVA Demonstração do Valor Agregado
EP Equador Principles (Princípios do Equador)
ESG Environmental, Social and Corporate Governance
FEA/USP Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos
FSC Forest Stewardship Council
GEE Gases Efeito Estufa
GRI Global Reporting Initiative
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas .
IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBOVESPA Índice Bovespa
ICO2 Índice Carbono Eficiente
IFC International Finance Corporation
IFRS International Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de Contabilidade)
IIRC International Integrated Reporting Council (Conselho Internacional de Relato Integrado)
IR Integrated Reporting (Relato Integrado)
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial
LIBRAS Linguagem Brasileira de Sinais
ONU Organização das Nações Unidas
Oscip Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PAB Posto de Atendimento Bancário
PIB Produto Interno Bruto
PR Patrimônio de Referência
PRE Patrimônio de Referência Exigido
PRI Princípios para o Investimento Responsável
PSI Princípios para Sustentabilidade em Seguros
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SFN Sistema Financeiro Nacional
SUSEP Superintendência de Seguros Privados
TBL Triple Bottom Line
Unep – FI United Nations Environment Programme Finance Initiative
UNEP / PNUMA United Nations Environment Program / Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SEC Securities and Exchange Commission
PROCON Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 14
OBJETIVO DA PESQUISA ..................................................................................................... 18
1. FUNDAMENTAÇÃO ........................................................................................................ 20
1.1. Responsabilidade Social ......................................................................................... 20
1.2. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável. ............................................. 26
1.3. Os Relatos Corporativos e a Sustentabilidade. ................................................... 34
1.4. Balanço Social .......................................................................................................... 35
1.5. Relatório de Sustentabilidade ................................................................................. 37
1.6. GRI – Global Reporting Iniciative ........................................................................... 39
1.7. IIRC e Relato Integrado ........................................................................................... 44
1.8. O Setor Financeiro e a Sustentabilidade. ............................................................. 55
2. PESQUISA ........................................................................................................................ 69
2.1. Método da Pesquisa ................................................................................................ 69
3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................................... 71
3.1. O Itaú Unibanco ........................................................................................................ 71
3.2. Relatórios Itaú Unibanco de Sustentabilidade - Análise de Conteúdo. ........... 77
3.3. Análise Comparativa e de Conformidade do Relato Integrado Itaú Unibanco
com a versão 1.0 da Estrutura de Relato Integrado ........................................... 88
3.4. Contribuições e Sugestões para que as Empresas possam Implementar o
Relato Integrado ..................................................................................................... 106
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 110
14
INTRODUÇÃO
Sustentabilidade é um tema que, nas últimas cinco décadas, tem
despertado o interesse crescente de pesquisadores, empresários, governantes
e da sociedade em geral.
O foco da questão sobre a sustentabilidade está na esperança de que
a humanidade não seja condenada à extinção, se souber cuidar da
biocapacidade dos ecossistemas dos quais depende. (VEIGA, 2010 p. 36).
Até o final dos anos 70, o termo ‘sustentável’ era usado em algumas
comunidades científicas, em alusão à manutenção de alguns ecossistemas,
mesmo sofrendo agressão humana recorrente. (VEIGA, 2010 p. 11).
Atualmente, o conceito de sustentabilidade tem sido associado a uma
ampla gama de atividades relacionadas ao uso de recursos, incluindo os
naturais, humanos e financeiros, implicando em continuidade e habilidade de
prosseguir com essas atividades indefinidamente. (TODOROV; MARINOVA,
2010 p. 1).
Neste contexto, falar em sustentabilidade é falar na perenidade da vida
das pessoas e dos negócios. Muitas iniciativas foram lançadas para estudar as
questões de sustentabilidade e para sensibilizar empresas e a população em
geral sobre os riscos envolvidos.
O movimento em torno da ideia de sustentabilidade foi inicialmente
articulado por ambientalistas, pela preocupação com a degradação de recursos
naturais, mas a interdependência entre questões ambientais, sociais e
econômicas ampliaram a agenda da sustentabilidade. A degradação ambiental
se apresenta como um empecilho para o desenvolvimento econômico e para a
qualidade de vida; esta, por sua vez, especialmente quanto à saúde, educação
e segurança, também se mostra prejudicial ao sistema econômico e à
qualidade ambiental. (DUARTE, 2013 p.41).
Um marco importante no sentido de promover um debate global sobre
os problemas ambientais foi a primeira Conferência Mundial de Proteção ao
Meio Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo. Reuniram-se cerca de mil
15
pessoas, representantes de 113 países e de 400 entidades não
governamentais. A segunda Conferência ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992 e
reuniu em torno de 22 mil pessoas nos eventos oficiais. A terceira Conferência,
a RIO+20, foi realizada em 2012, também no Rio de Janeiro e reuniu 110 mil
pessoas nos eventos oficiais e mais de um milhão de pessoas nos eventos
paralelos. No início, essas reuniões eram restritas a grupos ambientalistas e
depois tornaram-se foco de discussões de políticas públicas e de empresas.
(CARVALHO; KASSAI, 2013).
A participação das empresas neste processo de transformação é
imperativa. Elkington (2012), um dos precursores da disseminação da ideia de
associar os impactos econômico, social e ambiental (três pilares) ao lucro das
empresas (Triple Bottom Line), alerta que recusar o desafio imposto pelos três
pilares é correr o risco de extinção. E não se refere apenas a grandes
corporações, considerando que estas serão forçadas a repassar a pressão, por
meio da cadeia de fornecimento, para seus grandes e pequenos fornecedores
e prestadores de serviços. Estas mudanças vêm de uma profunda
reformulação das expectativas da sociedade e, por consequência, daqueles
que servem aos mercados local e global.
Algumas mudanças culturais deverão ocorrer nesta transição para o
caminho da sustentabilidade e dentre elas, a revolução da transparência. Este
processo, que está sendo impulsionado pela aproximação de novos sistemas
de valor e de tecnologia da informação, implica em maior demanda dos
stakeholders por informações sobre a situação dos negócios e sobre o que
está sendo planejado para o futuro. Haverá exigência cada vez maior de
quebra de sigilo. Algumas formas de divulgação serão voluntárias, mas outras
surgirão mesmo com pouco envolvimento direto das empresas. As áreas de
contabilidade, sistemas de gerenciamento e auditoria, que em geral são
preteridas quando da elaboração dos relatos não financeiros, deverão estar
sincronizadas ao processo, como fator de sucesso. (ELKINGTON, 2012
p.39,40).
16
Segundo Favaretto (2014), 37% das empresas brasileiras listadas na
BM&FBovespa1 produzem relatórios de sustentabilidade. Considerando
empresas que, embora não elaborem documentos específicos sobre o tema,
mas reportam ações ambientais, sociais e de governança (ESG), resulta numa
participação de 44,6%. Segundo a Bolsa, três empresas brasileiras – Itaú
Unibanco, Fíbria e Natura – tomaram a iniciativa de publicar o relato integrado,
ou seja, “um único balanço que combine as informações financeiras e não
financeiras”. A partir desta atualização de relatórios, a BM&FBovespa passará
a usar a sigla EESG (Economic, Environmental, Social and Governance).
Neste cenário, onde mais de 50% das empresas abertas ainda não
relatam suas ações (ou suas não ações) visando ao desenvolvimento
sustentável, evidencia-se que ainda há necessidade de grande esforço para se
consolidar a cultura da sustentabilidade no Brasil.
As instituições financeiras exercem um papel catalisador neste
processo, considerando-se que podem contribuir na mitigação de riscos
ambientais e sociais quando analisam responsavelmente as concessões de
créditos ou o direcionamento de investimentos.
Por outro lado, muitas instituições e organizações, nacionais e
internacionais, estão empenhadas com responsabilidade no objetivo de
disseminar o assunto sustentabilidade como parte integrante e natural da
estratégia das organizações e da sociedade como um todo.
Um debate recente evidenciou a necessidade de se integrar o
pensamento sustentável à estratégia das empresas. Elegeu-se como caminho
adequado a integração entre os relatórios contábeis e de sustentabilidade, ou
seja, o caminho do relato integrado. Esta iniciativa teve como patrono o
Príncipe de Gales.
A importância da integração entre relatórios contábeis e de
sustentabilidade foi tema da Conferência das Nações Unidas para o
1 Dados da pesquisa atualizados até 31 de maio. Total de 437 empresas listadas na BM&FBovespa.
(FAVARETTO, 2014).
17
Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, em junho de 2012. (CARVALHO;
KASSAI, 2013).
O IIRC - International Integrated Reporting Council - conselho
composto por membros de diversos países e com precedentes de engajamento
em ações de sustentabilidade e governança, lançou em 2013 a primeira
Estrutura de Relato Integrado, que deve ser a pedra fundamental para a
transformação da mudança de paradigmas na gestão de sustentabilidade nas
empresas.
Esta pesquisa pretende contribuir para um melhor entendimento sobre
como o Itaú Unibanco, primeiro banco a lançar o relato integrado no Brasil,
reflete a estratégias de sustentabilidade em seus relatórios de administração e
de que maneira o relato integrado se insere nesta estratégia.
18
OBJETIVO DA PESQUISA
Tradicionalmente, os bancos atuam como agentes intermediadores de
recursos, na função de transformar recursos financeiros em produtos para os
clientes.
Antes de a agenda da sustentabilidade entrar no mundo corporativo, a
boa gestão bancária preconizava administração dos riscos de crédito e de
mercado; os resultados econômicos eram os únicos parâmetros de decisão.
Os bancos estão lentamente mudando a forma de avaliar seus
negócios e de se relacionar com a sociedade; o sucesso empresarial passa
também a ser associado à legitimidade do negócio, que não mais se resume à
conformidade com a legislação, mas depende de como os bancos se
relacionam com outras esferas da sociedade. A reputação é cada vez mais um
ativo a ser valorizado e preservado para que garantam a estabilidade de seus
negócios e capacidade de influenciar no desenvolvimento das regras de
funcionamento dos mercados. (MAGALHÃES, 2010, p. 15).
Todas as crises financeiras foram em parte provocadas por falhas de
informação. A transparência no mercado financeiro assume grande importância
neste contexto e para Magalhães (2010 p. 29), a transparência das operações
financeiras se refere à possibilidade de mapear as conexões pelas quais fluem
os recursos financeiros e, mais recentemente, seus impactos sobre a natureza
e a qualidade de vida das pessoas.
As informações devem ser disponibilizadas de maneira a possibilitar ao
usuário uma avaliação sobre como o tema é tratado pela organização.
O objetivo geral desta pesquisa é analisar a relevância do tema
sustentabilidade nos relatórios do conglomerado Itaú Unibanco, maior
instituição financeira privada do País, e como estes relatórios proporcionam
aos interessados no assunto subsídios para conclusões sobre a atuação do
Grupo em ações de sustentabilidade e como essas ações evoluíram ao longo
do tempo, incluindo a análise do primeiro relato integrado publicado.
19
As questões problema então consideradas nesta pesquisa são:
O tema sustentabilidade é tratado de forma relevante pelo
conglomerado Itaú Unibanco?
O conteúdo dos relatórios do Itaú Unibanco apresentou
evolução qualitativa?
É possível perceber por meio dos relatórios um avanço da
organização no tratamento de temas como governança, e nas
dimensões econômica social e ambiental?
O Relato Integrado, primeiro publicado pela organização, está
em conformidade com a versão 1.0 da Estrutura do Relato
Integrado do IIRC - International Integrated Reporting Council?
O período de abrangência da pesquisa foram os exercícios de 2009
(ano da consolidação efetiva dos bancos Itaú e Unibanco) a 2013.
20
1. FUNDAMENTAÇÃO
Este capítulo apresenta conceitos identificados na literatura, e que são
importantes para o entendimento do tema focal desta pesquisa. À análise da
relevância do tema sustentabilidade nos relatórios do Itaú Unibanco, deve
preceder a fundamentação sobre responsabilidade social, sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável e relatos corporativos de sustentabilidade.
1.1. Responsabilidade Social
A Hierarquia das Necessidades, do psicólogo humanista Abraham
Maslow, declara que a auto-realização é um estado buscado por
todos os seres humanos, depois que tenhamos satisfeito as
necessidades mais básicas de sobrevivência, de gratificação e da
socialização.
Parece bastante razoável afirmar que, conforme evoluímos e nos
tornamos seres mais conscientes, torna-se necessário que as nossas
empresas façam o mesmo. Conforme as pessoas prosseguem no
caminho da auto-realização, as várias iniciativas, as instituições e as
empresas em que os seres humanos se reúnem para produzir
resultados deverão mudar drasticamente para não perecer.
(RENESH, 2008, p. 114).
No Brasil de 1960, o censo do IBGE retratava uma população com um
índice de analfabetismo de 39,6%; apenas 13,1% dos domicílios particulares
possuíam rede de esgoto e 10,7% possuíam fossa séptica. Passados 50 anos,
no censo de 2010, o índice de analfabetismo caiu, mas ainda num patamar de
9,6%; 55,5% dos domicílios eram contemplados com redes de esgoto e 11,6%
com fossa séptica, indicando que mais de 40 milhões de brasileiros ainda não
teriam acesso ao saneamento básico. Transcorreu meio século com muitas
mudanças, mas ainda evidencia-se a desigualdade que permeia a sociedade e
a dificuldade do Estado em atender às demandas sociais.
Schroeder & Schroeder (2004) abordam que a falência do Estado como
mantenedor das necessidades básicas do cidadão, juntamente com a escassez
do trabalho ou emprego, especialmente no final do século XX, abriram espaço
e necessidade para o fenômeno da responsabilidade social corporativa. As
empresas passaram a exercer um papel diferenciado do tradicional -
provedoras de bens e serviços – assumindo também uma maior
responsabilidade para com a sociedade e participando de causas sociais.
21
Como grandes centros de poder econômico e político, as empresas interferem
diretamente na dinâmica social. Assim, ao assumir causas sociais, estariam
devolvendo à sociedade parte dos recursos humanos, naturais, financeiros que
consumiram para a alavancagem do lucro de sua atividade.
Outros autores também focam a responsabilidade social como uma
resposta às falhas do Estado, dentre eles:
Freitas (2000, p. 10 apud FREGONESI, 2009 p.21), para quem a
sociedade presencia um “movimento de revalorização do papel das empresas”
[...]. As organizações modernas encontram espaço para se posicionar como
referencial que propõe uma “forma de vida de sucesso e uma missão nobre a
realizar”:
[...] O Estado - falido e desacreditado - deve se restringir a oferecer
as condições necessárias de infra-estrutura e deixar que as empresas
se ocupem do que garante o emprego, a competitividade dos
mercados e a potência da nação neste mundo globalizado. Investidas
como o novo polo da legitimação social e como o lugar que pode
responder pelo esfacelamento dos vínculos sociais e pelas questões
identitárias, as organizações modernas – com ênfase nas grandes
empresas – constroem para e de si uma auto-imagem grandiosa, que
vai enraizar-se num imaginário próprio, que é repassado não apenas
para os seus membros internos mas também para a sociedade no
seu conjunto.
Passador e Ferraz (2007 p. 9, apud FREGONESI, 2009 p. 21), que
defendem a descentralização do Estado e colocam a necessidade de inovar as
políticas públicas de melhoria social, promovendo o desenvolvimento local com
participação da comunidade – sociedade civil e mercado:
As políticas, principalmente da última década, de liberalizar,
privatizar, flexibilizar as relações de trabalho e diminuir cada vez mais
a presença do Estado na sociedade acabaram por impor uma revisão
urgente da teoria e da prática do desenvolvimento econômico. [...]
Nesta linha, passa-se a pensar na idéia de desenvolvimento local, ou
seja, na regionalização das políticas sociais sendo que, a função do
Estado não é mais a de resolver os problemas da população, mas
estimular e incentivar as comunidades a se mobilizarem para que
elas desenvolvam suas potencialidades e vocações e a partir daí,
resolvam os seus problemas.
Em outra abordagem, a responsabilidade social teria surgido, segundo
Mifano (2002, apud RICO, 2004 p.74), num contexto de crise mundial de
confiança nas empresas. As organizações empresariais começaram então a
22
promover um discurso politicamente correto, pautado na ética, implementando
ações sociais que pudessem significar ganhos em condições de qualidade de
vida e trabalho para a classe trabalhadora ou, simplesmente, pudessem se
tornar um mero discurso de marketing empresarial desvinculado de uma prática
socialmente responsável.
O investimento na área social tornou-se então estratégico para as
empresas, que ao serem reconhecidas como socialmente responsáveis,
tendem a ter sua imagem valorizada, podem aumentar a motivação de seus
funcionários, com consequentes ganhos de produtividade, bem como melhorar
a percepção do consumidor em relação aos seus produtos. (RICO, 2004 p.75).
Rico (2004 p.73) aborda que na compreensão dos institutos,
fundações, associações empresariais que vêm buscando assumir uma gestão
socialmente responsável nos negócios, a responsabilidade social empresarial é
uma forma de conduzir as ações organizacionais pautada em valores éticos,
integrando todos os protagonistas de suas relações, promovendo a igualdade
de oportunidades e a inclusão social no país. As empresas, adotando um
comportamento socialmente responsável, são poderosos agentes de mudança
ao assumirem parcerias com o Estado e a sociedade civil, na construção de um
mundo economicamente mais próspero e socialmente mais justo.
A definição de responsabilidade social da empresa (RSE) não é
objetiva, e muito se tem discorrido sobre suas abordagens na academia.
Marrewijik (2003, apud CINTRA, 2011 p.22), propõe uma separação
em três abordagens, cada uma incluindo e transcendendo as anteriores, com o
foco em para quem é voltada a responsabilidade da organização: 1)
abordagem do shareholder; 2) abordagem do stakeholder; 3) abordagem da
sociedade.
Na abordagem do shareholder, essencialmente econômica, a
responsabilidade da empresa se resume em prover produtos e serviços para a
sociedade por um lucro. Segundo Milton Friedman (1970), citação recorrente
em trabalhos acadêmicos, “responsabilidade social de uma empresa é gerar
lucros.” – acrescentando que a principal responsabilidade dos gestores de uma
23
empresa é para com seus acionistas (shareholders), agindo no interesse deles
na busca de lucros crescentes, embora respeitando as regras básicas da
sociedade, contidas na lei, na ética e nos bons costumes.
Na abordagem dos stakeholders, a organização precisa balancear os
múltiplos interesses de qualquer indivíduo ou grupo que pode afetar ou ser
afetado pela consecução dos objetivos da empresa (FREEMAN, 1984). Nesta
abordagem, toda a cadeia de relações da empresa deve ser considerada além
de seus próprios acionistas. Embora os acionistas sejam apontados como
possuindo interesses específicos e, por vezes, conflitantes aos dos demais
stakeholders, é consenso que a atenção aos diversos componente da cadeia e
a outros atores acrescentados à rede de partes interessadas, é necessária ao
sucesso do negócio. (CINTRA, 2011 p. 24).
Donaldson e Preston (1995 p. 68, 69) ilustram na Figura 1 o modelo
stakeholder como uma relação bilateral entre pessoas ou grupos com interesse
legítimo envolvidas no negócio e que buscam obter benefícios, sem que haja
prioridade de uns sobre os outros.
Figura 1 Modelo Stakeholder
Fonte: DONALDON; PRESTON, 1995 p. 69
Na terceira abordagem, a da sociedade, as empresas são
responsáveis pela sociedade como um todo e operam por consenso público
para servir construtivamente às necessidades da sociedade. Marrewijik (2003,
Empresa
aaa
Associações
Comerciais
Grupos
Políticos
Governo
Investidores
Empregados
dos
Fornecedores Clientes
Consumidores
dos
24
apud CINTRA, 2011 p.27). Esta abordagem é marginal, pois o paradigma
econômico ainda prepondera e direciona o sentido da sociedade (CINTRA,
2011 p. 28).
Segundo Garriga e Melé (2004 p.65), a maioria das teorias de RSE é
focada em quatro aspectos principais: (1) encontrar objetivos que produzam
lucro no longo prazo, (2) usando o poder do negócio de um modo responsável,
(3), integrando demandas sociais e (4) contribuindo para uma boa sociedade
através de ações eticamente corretas. (tradução livre2).
Para o Instituto Ethos3, Responsabilidade Social Empresarial é a forma
de gestão que se define pelo compromisso público de implementação de
processos produtivos, comerciais e gerenciais baseados em relações éticas,
transparentes e solidárias da empresa com todos os públicos afetados pelas
suas atividades e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis
com a sustentabilidade da sociedade, preservando recursos ambientais e
culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
igualdade. (INSTITUTO ETHOS, 2000). Em termos práticos, implementar a
RSE é cuidar da qualidade dos relacionamentos da empresa com os seus
diversos públicos e dos impactos econômicos, sociais, ambientais e culturais
de suas atividades.
[...] é preciso entender o conceito de responsabilidade social como o compromisso de cada um com a qualidade de vida, com a
preservação da natureza e com uma sociedade mais justa. E conclui
que não se pode esperar das empresas soluções mágicas para
resolver os graves problemas sociais da humanidade, mas reconhece
a relevância do papel das empresas em ações de transformação, por
serem estas, talvez, as principais responsáveis pelo funcionamento
de toda a cadeia de relacionamentos de uma sociedade. (Grajew,
2000, apud LIMA, 2005 p. 42).
2 Most of current CSR theories are focused on four main aspects: (1) meeting objectives that produce long-term profits, (2) using business Power in a responsible way, (3) integrating social demands and (4) contributing to a good society by doing what is
ethically correct. (GARRIGA; MELÉ, 2004 p. 65).
3 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as
parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. Criado em 1988 por um grupo de empresários e executivos da
iniciativa privada, o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de
ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade
social e o desenvolvimento sustentável.
25
No Brasil, foi lançada em 2004 uma norma certificável de sistema de
gestão e responsabilidade social – ABNT NBR 16001. Esta norma foi
atualizada em julho de 2012, baseada na diretriz internacional ISO 26000,
primeira norma internacional sobre responsabilidade social, publicada em
novembro de 2010, e não certificável.
A ABNT (2012) define responsabilidade social como a responsabilidade
de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na
sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e
transparente que: contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a
saúde e o bem estar da sociedade; leve em consideração as expectativas das
partes interessadas; esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja
consistente com as normas internacionais de comportamento; e esteja
integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações.
Com o pressuposto da transparência, as ações de Responsabilidade
Social Empresarial demandam divulgação e prestação de contas, tornando
conhecidas informações relevantes para com os envolvidos na cadeia de
stakeholders. Este é o significado atribuído a accountability, que não tem um
termo correspondente na língua portuguesa, sendo de maneira simplificada,
considerado como ‘a obrigação de prestar contas’ e segundo Sinclair (1995,
apud CINTRA, 2011 p. 29), envolve um relacionamento no qual se requer das
pessoas se explicarem e se responsabilizarem por suas ações.
Segundo Machado (2010), as informações de caráter social e/ou
ambiental a serem divulgadas vão além daquelas monetárias, comumente
encontradas nas tradicionais demonstrações contábeis, e devem envolver
informações quantitativas e qualitativas. Estas informações têm sido
crescentemente divulgadas pelas empresas através de demonstrativos
estruturados denominados de ‘balanço social’, ‘relatório socioambiental’,
‘relatório ambiental’, ‘relatório de sustentabilidade’, entre outros. Aborda ainda
uma diferenciação do ‘relatório de sustentabilidade’ em relação aos demais
citados, aos quais trata por ‘balanço social’.
26
Esta nomenclatura será também adotada nesta pesquisa; nos itens 1.4 e
1.5 deste capítulo serão tratados conceitos de Balanço Social e de Relatório de
Sustentabilidade, esclarecendo a diferenciação.
1.2. Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável.
O adjetivo sustentável se aplicava, originalmente, à ecologia. Até final
dos anos 1970, era usado por algumas comunidades científicas para designar
a condição de um ecossistema não perder sua resiliência4, ou seja, sua
capacidade de absorver tensões ambientais sem alterar seu estado ecológico.
(VEIGA, 2011 p.11).
Segundo Veiga (2010 p. 190), há indícios de que a expressão
‘desenvolvimento sustentável’ tenha tido empregada fora do contexto científico
pela primeira vez em agosto de 1979, no Simpósio das Nações Unidas sobre
as Interrelações entre Recurso, Ambiente e Desenvolvimento, realizado em
Estocolmo, no texto apresentado por W. Burger: ‘A busca dos padrões
sustentáveis de desenvolvimento’. A ideia começou realmente a se firmar a
partir de 1987, quando ao apresentar do relatório ‘Nosso futuro comum’ à
Assembleia Geral da ONU, Gro Harlem Brundtland, presidente da Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, caracterizou
desenvolvimento sustentável como um “conceito político”, um “conceito amplo
para o progresso econômico e social”.
Em 1983, a ONU cria a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento como um organismo independente5. Em 1987, a
comissão sob a presidência de Gro Harlem Brundtland, primeira-
ministra da Noruega, materializa um dos documentos mais
importantes do nosso tempo – o relatório Nosso Futuro Comum,
responsável pelas primeiras conceituações oficiais, formais e
sistematizadas sobre o desenvolvimento sustentável – ideia-mestra
do relatório.” (TINOCO; KRAEMER, 2011 p.114).
4 “Conceito oriundo da física: propriedade de alguns materiais de, quando exigidos ou submetidos a
estresse, acumular energia em que ocorra ruptura. Atualmente o termo também é muito utilizado para caracterizar pessoas que são capazes de lidar com problemas sob pressão ou estresse.” (VEIGA, 2011 p. 11).
5 A comissão foi criada em 1983, após uma avaliação dos 10 anos da Conferência da ONU sobre o meio
ambiente, de 1972 em Estocolmo, com o objetivo de promover audiências em todo o mundo e produzir um resultado formal das discussões.
27
O relatório ‘Nosso Futuro Comum’, também conhecido como ‘Relatório
Brundtland’, definiu desenvolvimento sustentável como “[...] aquele que atende
às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem às suas próprias necessidades.” (Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991 p.46).
Elkington (2012) considera ‘Nosso futuro comum’ como um dos livros
mais importantes do final do século 20, colocando o desenvolvimento
sustentável firmemente na agenda política internacional. Os objetivos principais
observados pela comissão Brundtland incluíam:
[...] reativar o crescimento econômico, mas em uma nova forma
(“menos material e mais energia, porém, mais equitativo em seus
impactos”); atendimento das necessidades vitais de empregos,
alimentos, energia, água e saneamento; garantia de um nível
sustentável de população; conservação e aumento da base de
recursos naturais; reorientação tecnológica e do gerenciamento de
risco; e fusão das considerações ecológicas e econômicas nas
tomadas de decisão). (ELKINGTON 2012 p. 92).
Segundo Veiga (2010 p.114,189), a expressão desenvolvimento
sustentável acabou se legitimando para negar a incompatibilidade entre
crescimento contínuo e a conservação do meio ambiente. Reforça a
possibilidade de conciliação desses dois objetivos, isto é, crescer sem destruir.
Atenuou o temor gerado pela polarização “crescimento econômico” versus
“preservação ambiental”.
As expressões ‘desenvolvimento sustentável’ e ‘sustentabilidade’ são,
segundo Cintra (2011), usadas de maneira intercambiável. Destaca algumas
obras que introduziram a discussão e o processo de conscientização sobre o
tema: ‘Silent spring’, de Rachel Carson, publicado em 1962, um alerta para o
uso massivo de agrotóxicos levando à extinção de espécies; ‘Limits to growth’ o
Relatório do Clube de Roma, publicado em 1972, sobre o esgotamento de
recursos naturais. E mais recentemente, ‘Uma verdade inconveniente’ de Al
Gore, publicado em 2006, sobre o tema do aquecimento global e das
mudanças climáticas.(CINTRA, 2011 p. 18).
28
A definição de desenvolvimento sustentável do Relatório Brundtland,
uma das mais difundidas e aceitas, encontra alguns críticos.
Veiga (2010) cita Amartya Sen6 prêmio Nobel de Economia em 1998,
que questiona se o conceito proposto é suficientemente abrangente,
considerando-se que além das cruciais “necessidades” enfatizadas no
documento, as pessoas têm valores, como a capacidade de pensar, avaliar,
agir, participar. Avaliar as gerações atuais e futuras apenas em termos de
necessidades é fazer uma ideia muito insuficiente da humanidade. VEIGA
(2010 p. 166).
Para Steinbuka e Wolff (2007, apud Fragalli, 2014 p. 26) a definição
‘necessidades do presente sem comprometer necessidades de gerações
futuras’ é uma noção notoriamente difícil de ser transformada em ação
operacional.
Romeiro (2013) aponta a imprecisão desta definição, pela falta de
conceituação de ‘necessidades’, e de para quantas gerações se pretende
garantir estas necessidades. Considerando ainda que o estoque de átomos é
finito e os recursos são finitos, levanta algumas indagações. Como a definição
diferenciaria necessidades de desejos? Atualmente, 75% da energia do
Planeta é consumida por menos de 50% da população; qual seria então o
padrão de medida para as ‘necessidades’?
Elkington (2012 p. 92) cita a definição de Herman Daly7, economista do
Banco Mundial, como alternativa aos que buscam uma definição mais precisa.
“Uma sociedade sustentável precisa atender a três condições: suas taxas de
utilização de recursos renováveis não devem exceder suas taxas de
regeneração; suas taxas de uso de recursos não renováveis não devem
exceder a taxa pela qual a renovação sustentável dos substitutos é
desenvolvida; suas taxas de emissão de poluentes não devem exceder a
capacidade de assimilação do meio ambiente.
6 SEN, Amartya. “Por que é necessário preservar a coruja-pintada”. Folha de S. Paulo. 14 mar.2004,
caderno Mais! p. 16-18 7 HERMAN, Daly. Institutions for a steady-state economy. Steady State Economics, Island Press, 1991
29
Segundo Barbieri e Cajazeira (2012, p. 65 - 69), o movimento do
desenvolvimento sustentável baseia-se na percepção de que a capacidade da
Terra não poderá ser ultrapassada sem que ocorram grandes catástrofes
sociais e ambientais, e que problemas ambientais gravíssimos como o
aquecimento global, destruição da camada de ozônio, poluição de rios e
oceanos, extinção acelerada de espécies vivas, já sinalizam que limites
aceitáveis foram ultrapassados. Acrescentam ainda os problemas sociais,
como a pobreza, assentamentos urbanos desprovidos de infraestruturas
mínimas, violência urbana, tráfico de drogas, epidemias globalizadas. A
solução para estes problemas globais só pode ser viabilizada com a
participação de todas as nações, governos e sociedade civil, cada uma na sua
abrangência, e que as empresas cumprem papel central neste processo de
recuperação e condução para o desenvolvimento sustentável, pois muitos
problemas socioambientais foram produzidos e estimulados pelas suas
atividades.
Os debates sobre sustentabilidade se iniciaram na vertente ambiental,
numa tentativa de harmonizar o pilar financeiro com o pensamento emergente
do pilar ambiental e evoluíram para o terceiro elemento, da justiça social.
Sustentabilidade transcende o simples desafio de “esverdeamento”, tornando
os negócios mais eficientes e reduzindo custos. Questões e igualdade social e
o conceito de igualdade entre as gerações já estavam na agenda de
sustentabilidade do Relatório Brundtland. (ELKINGTON, 2012 p.108).
No âmbito das organizações em geral, a contribuição para o
desenvolvimento sustentável consiste em três dimensões: a econômica, a
social e a ambiental. Barbieri e Cajazeira (2012 p. 67) chamam atenção para o
fato de que estas três dimensões concentram o que é mais específico da
atuação das organizações, mas não implica em perda ou abandono de outras
possíveis dimensões.
Elkington (2004), atento às questões de sustentabilidade, concebeu em
1994 o termo ‘triple bottom line’ – TBL - com o intuito de integrar o teor
econômico e social ao ambiental, numa linguagem que tivesse ressonância no
mundo dos negócios e que facilitasse a divulgação dos conceitos de
30
sustentabilidade. ‘Bottom line’ faz alusão ao resultado líquido da demonstração
de resultado do exercício. Adotou o termo em 1997, no livro de sua autoria
‘Cannibals With Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business’, onde
ressalta que uma gestão empresarial que se pretendesse sustentável deveria
considerar, obrigatoriamente, de forma integrada, as dimensões sociais,
econômicas e ambientais do negócio. TBL passou a ser amplamente usado
como referência para sustentabilidade.
Segundo Savitz (2007), o Triple Bottom Line é uma maneira muito eficaz
de captar a conexão de sustentabilidade e lucratividade, ou seja, de como as
empresas podem tornar-se mais lucrativas, agindo de forma adequada. A partir
desta observação, é possível então se pensar na sustentabilidade como
oportunidades de negócios.
O título do livro foi inspirado por uma citação do poeta polonês
Stanislaw Lec, que certa feita indagou se seria considerado progresso um
canibal usar garfo. Elkington teria estendido a analogia para o capitalismo
corporativo, que também chamou de canibalismo corporativo (no sentido de
que em economias capitalistas crescentes, é natural que corporações devorem
as concorrentes). E respondeu com um “sim”; isto é, mudanças em ferramentas
e atitudes fariam o capitalismo mais ‘civilizado’, ou melhor, um capitalismo
sustentável. O garfo representa os três pilares da sustentabilidade:
prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social. (ELKINGTON,
2012 p.25).
A linha do pilar econômico, pilar convencional das empresas, é o lucro.
Uma empresa precisa dar lucro e ter seu valor de mercado aumentado,
gerando riqueza para seus acionistas. Em seu termo mais simples, capital
econômico é o valor total dos ativos da empresa menos suas obrigações. Pode
ser identificado de duas formas principais: capital físico (prédios, máquinas e
equipamentos) e capital financeiro. O conceito pode também ser estendido,
incluindo o capital humano, que congrega o conhecimento da empresa,
competência profissional, experiência e habilidades e o capital intelectual,
como marcas e patentes. (ELKINGTON, 2012 p. 111,114).
31
Elkington (2012) pondera que um conceito chave em relação às três
dimensões da sustentabilidade é o da externalidade, especialmente relevante
em relação aos custos ambientais e sociais. São os custos não registrados na
contabilidade. Barbieri e Cajazeira (2012 p. 73) definem externalidade como
“um fenômeno externo ao mercado e que não afeta o seu funcionamento”. As
externalidades ocorrem quando a empresa provoca impactos em pessoas não
envolvidas em suas transações.
Elkington (2012 p. 114) cita como um exemplo de externalidade na linha
do pilar econômico, a decisão de uma empresa em localizar uma fábrica de alta
tecnologia em uma região relativamente não desenvolvida, com impacto pelo
deslocamento de pessoal qualificado, e/ou impacto de preços na comunidade
local.
A dimensão social da sustentabilidade refere-se à possibilidade de cada
indivíduo e também da coletividade ter suas necessidades referentes à
alimentação, saúde, educação e de cidadania atendidos. SCANDELARI (2011
p.90).
Em termos sociais, a empresa deve satisfazer aos requisitos de
proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus
empregados, procurando contemplar a diversidade cultural existente
na sociedade em que atua, além de propiciar oportunidade aos
deficientes de modo geral. Além disso, seus dirigentes devem
participar ativamente das atividades socioculturais de expressão da
comunidade que vive no entorno da unidade produtiva. Dias, (2006,
p. 40 apud SCANDELARI, 2011 p. 90).
A linha do pilar social está centrada na confiança dos stakeholders, no
enriquecimento das relações humanas. O capital social envolve o capital
humano na forma de saúde, habilidades e educação do pessoal interno; deve
abranger também medidas mais amplas de saúde da sociedade e do potencial
de criação de riqueza. (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012 p. 74).
Fukuiama apud Elkington (2012 p. 124) considera o capital social a
capacidade de as pessoas trabalharem juntas, em grupo ou organizações, para
um objetivo comum, capacidade esta que surge da prevalência da confiança
em uma determinada sociedade ou grupo.
32
A linha do pilar ambiental envolve os recursos naturais e se aplica a
bens e a serviços ambientais. Os bens referem-se às fontes de matérias primas
e em geral são classificados como renováveis ou não renováveis. No entanto,
uma fonte pode deixar de ser renovável, caso sua taxa de exploração supere
sua taxa de renovação. Esta classificação, portanto, não é absoluta. Os
serviços ambientais envolvem bens intangíveis proporcionados pela natureza,
como a polinização, a circulação do ar, e outros, que mantém a vitalidade dos
ecossistemas. (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012 p. 73).
Sustentabilidade ambiental é um processo decorrente da conservação,
proteção e redução do consumo de recursos naturais (água, solo, energia,
dentre outros) e do manejo adequado de resíduos, efluentes e substâncias
tóxicas, de forma a minimizar o seu impacto sobre a terra. (SCANDELARI,
2011 p. 93).
O modelo TBL pressupõe que uma empresa sustentável oriente suas
atividades e gestão baseada no tripé econômico social e ambiental e busque
alcançar seus objetivos atendendo, simultaneamente os critérios de equidade
social, prudência ecológica e eficiência econômica.
Para Savitz (2007, p.5, 42), a gestão da empresa deve gerar valor
nestas três dimensões e abrange a redução de custos, melhoria da
produtividade, eliminação de desperdícios desnecessários e garantia de
acesso a fontes de capital a custos mais baixos. Ele considera a ecoeficiência
componente básico da sustentabilidade, e a define como a redução de
quantidade de recursos utilizados para produção de bens e serviços,
aumentando o lucro da empresa e ao mesmo tempo reduzindo o impacto
ambiental; e chama atenção para o fato de que poluição gera desperdício.
Para Robles Jr. (2003, p.17), entende-se como desperdício a perda a
que a sociedade é submetida devido ao uso de recursos escassos. O
desperdício abrange recursos de material, mão de obra, energia, até horas de
treinamento e aprendizado que a empresa e a sociedade perdem devido, por
exemplo, a um acidente de trabalho.
33
Um desafio que se evidencia neste contexto, além de boas práticas de
gestão financeira e econômica, é o enfrentamento de limitações e problemas
ambientais e sociais, de modo a garantir a continuidade com resultados
consistentes.
Barbieri e Cajazeira (2012 p. 73) apontam que há divergências a
respeito de como considerar a sustentabilidade dos recursos naturais. Numa
linha, considerada ‘sustentabilidade fraca’, o capital natural não difere das
demais formas de capital, o econômico e o social, sendo considerados
perfeitamente substituíveis entre si e o importante é a manutenção e ampliação
do montante total de capital, independente de quais sejam seus componentes;
na outra linha, considerada ‘sustentabilidade forte’, as formas de capital são
complementares, e uma não pode substituir a outra.
Na linha batizada de sustentabilidade fraca, Solow (1993, apud VEIGA
2010, p.122, 23), considera que a natureza jamais constituirá sério obstáculo à
expansão. O progresso científico tecnológico sempre conseguirá alternativa a
qualquer elemento da biosfera que se torne limitante ao processo produtivo,
reequilibrando seus três ingredientes fundamentais: trabalho humano, capital
produzido e recursos naturais. Apesar deste otimismo tecnológico, defende que
a humanidade precisa evitar tudo o que possa ocorrer em detrimento de seus
descendentes, sejam eles os diretos ou os mais distantes, o que significa, em
seu ponto de vista, a preservação da capacidade produtiva para um futuro
indefinido, pela ilimitada substituição dos recursos não renováveis.
Hawken, Lovins e Lovins (2009, p.55), atribuem ao desperdício, devido à
natureza perdulária dos processos industriais atuais, a deterioração do meio
ambiente natural, além da dissolução de sociedades civis e da falta da vontade
pública necessária para promover o bem estar. O uso excessivo de recursos
para tornar pouquíssima gente mais produtiva é uma fórmula industrial cada
vez mais cara e já não serve para o presente e nem para o futuro.
A contabilidade está ainda em um estágio embrionário na representação
fiel dos efeitos do desperdício, das perdas de capital natural, dos possíveis
efeitos de desequilíbrios sociais em seus demonstrativos. Contudo, muito se
tem pesquisado e discutido sobre o assunto; informações sociais e ambientais,
34
que não configuram nas demonstrações financeiras das empresas, têm sido
incorporadas aos seus controles gerenciais e divulgadas por iniciativas
voluntárias e de responsabilidade social.
A perda dos serviços do capital natural já está impondo altos custos ao
crescimento do capital econômico. A economia não vai funcionar como um guia
confiável enquanto o capital natural não figurar nas folhas de balanços das
empresas, dos países e do mundo. (HAWKEN; LOVINS e LOVINS, 2009, p.
57).
1.3. Os Relatos Corporativos e a Sustentabilidade.
O movimento que impulsiona empresas a ações de responsabilidade
social e sustentabilidade também se reflete nos relatórios corporativos.
Até aproximadamente os anos 80, os relatórios corporativos continham
substancialmente informações financeiras e retratavam basicamente os bens
tangíveis. A partir dos anos 80, com o advento da “era da informação”, maior
atenção passou a ser dada aos intangíveis e as empresas começaram a
incursionar pelo tema da sustentabilidade e a divulgar, além de seus relatórios
contábil-financeiros, seus relatórios de sustentabilidade. (CARVALHO, 2013).
Um desafio para a elaboração dos relatórios corporativos é a
consistência entre as informações que se apresentam nos relatórios contábeis
(obrigatórios) e nos relatórios sociais ou de sustentabilidade (em geral de
iniciativa voluntária).
Carvalho (2013) aponta para situações em que os relatórios de
sustentabilidade apresentam uma situação positiva sobre determinados temas,
mas o relatório financeiro contradiz com provisões de contingências sobre o
mesmo tema (por exemplo, na área trabalhista).
Peter Bakker ressalta outro lado em que, quando os relatórios
financeiros não são suficientes para identificar ações sociais positivas da
empresa, estas devem ser, de alguma forma, relatadas. “[...] Precisamos
garantir que os relatos corporativos deixem claro como uma empresa está
35
fazendo seu dinheiro, não só quanto dinheiro ela está fazendo.” (BAKKER,
2013).
As dimensões básicas da sustentabilidade – econômica, social e
ambiental devem ser consideradas interrelacionadas nas ações para a busca
do desenvolvimento sustentável e, por consequência, na forma como essas
ações são reportadas nos relatórios corporativos. Diversas organizações têm
se mobilizado para propor modelos de relatórios e indicadores adequados para
avaliação da sustentabilidade nas empresas. Nos capítulos 1.6 e 1.7 serão
apresentadas algumas dessas iniciativas
Mais recentemente, um debate sobre a necessidade de os relatórios
corporativos refletirem, numa mensagem integrada e coerente, o processo de
geração de valor nas empresas, e de como a sustentabilidade está inserida
neste processo, resultou numa nova forma de divulgação dos relatórios
corporativos: o relato integrado, que será apresentado no capítulo 1.7.
1.4. Balanço Social
O objetivo do balanço social empresarial é tornar pública a
responsabilidade social da empresa, evidenciando suas ações para com a
sociedade.
Balanço Social é um instrumento de gestão e de informação que visa
evidenciar, de forma mais transparente possível, informações
financeiras, econômicas, ambientais e sociais, do desempenho das
entidades, aos mais diferenciados usuários, seus parceiros sociais.
(TINOCO; KRAEMER, 2011 p.12).
O tema balanço social é introduzido no Brasil com a constituição em São
Paulo da ADCE, Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, dando início
à discussão sobre a responsabilidade dos dirigente da empresa nas questões
sociais. Em 1977 a ADCE, organizou o 2º Encontro Nacional de Dirigentes de
Empresas, tendo como tema central o Balanço Social das Empresas. Porém,
somente em 1984 se dá a primeira experiência de balanço social no Brasil,
publicado pela Nitrofértil, BA. Em 1997, no Rio de Janeiro, Herbert de Souza, o
Betinho, um dos fundadores do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais
e Econômicas) inicia campanha pela divulgação de um Balanço Social das
empresas no Brasil. Rioli, (apud TINOCO e KRAEMER, 2011 p.80).
36
O Balanço Social tem sido, com raras exceções8, de iniciativa voluntária.
Também não há padrão para a forma de apresentação, tampouco quanto às
informações que devem ser divulgadas e como.
Entende-se que as informações de natureza social e ambiental vão
além das informações monetárias, comumente encontradas nas
tradicionais demonstrações contábeis, e devem envolver tanto
informações quantitativas quanto qualitativas e, em alguns casos,
fogem das especialidades dos contabilistas, os quais devem recorrer
a profissionais qualificados, porém sem se eximir da responsabilidade
pela veracidade e qualidade da informação prestada. (MACHADO,
2010 p.32).
Quatro vertentes, pelo menos, norteiam um balanço social:
demonstração do valor adicionado, balanço de recursos humanos, balanço
ambiental e benefícios e contribuições à sociedade em geral. Para caracterizar
um demonstrativo como um balanço social, estas vertentes podem se
apresentar isoladamente ou em conjunto. (IUDÍCIBUS; MARTINS; GELBCKE,
2007, apud MACHADO, 2010 p.38).
A demonstração do valor adicionado (DVA), como descrita no CPC 09,
deve proporcionar aos usuários das demonstrações contábeis informações
relativas à riqueza criada pela entidade em determinado período e a forma
como tais riquezas foram distribuídas. Minimamente, deve ser detalhada em:
(a) pessoal e encargos;
(b) impostos, taxas e contribuições;
(c) juros e aluguéis;
(d) juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos;
(e) lucros retidos/prejuízos do exercício.
Cabe destacar que a DVA é obrigatória para companhias abertas,
conforme artigo 176, da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº 11.638/07.
O balanço de recursos humanos deve divulgar informações acerca do
corpo de funcionários da empresa, quantificando dados monetários e não
8 Exemplificando uma exceção, Machado (2010, p. 39) cita exigência de agências reguladoras, como a ANEEL, que determina que as concessionárias devem utilizar o modelo de balanço social do Ibase, adaptado, quando aplicável, aos termos e especificações
relacionados às concessionárias do setor elétrico, com adaptações para o setor.
37
monetários, tais como: remuneração, benefícios concedidos, rotatividade da
mão de obra, nível de escolaridade, treinamento, além da divulgação de
condições de trabalho, como por exemplo, de segurança.
O balanço ambiental reflete a conduta da empresa em relação à gestão
ambiental. Segundo Robles e Bonelli (2012, p. 44), a gestão ambiental consiste
em um conjunto de medidas e procedimentos definidos e adequadamente
aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um
empreendimento sobre o meio ambiente. Bonelli in ROBLES (2003, p. 131,
133) acrescenta que a conscientização ambiental dos dirigentes de uma
empresa orienta suas prioridades estratégicas, e o meio ambiente é visto como
uma oportunidade de negócios; a qualidade ambiental é parte inseparável da
qualidade total das empresas que pretendem se manter competitivas num
mercado exigente e globalizado.
Para Machado (2010 p.38), o balanço ambiental deve demonstrar a
postura da empresa com os recursos naturais, evidenciando gastos com a
preservação e proteção do meio ambiente, investimentos em equipamentos e
tecnologia para preservação do mesmo.
Segundo Tinoco e Kraemer (2011 p.144), a contabilidade ambiental
deve evidenciar e espelhar a relação das empresas e da Nação com o meio
ambiente, destacando as ações ambientais que decorrem das atividades
operacionais das empresas, ao reconhecerem a existência de compromissos
com o meio ambiente.
Quanto à vertente de benefícios e contribuições à sociedade em geral,
usualmente são divulgadas informações quanto a doações para bens sociais e
culturais, tais como escolas, creches, hospitais, centros culturais, esportivos,
dentre outros, refletindo o lado filantrópico e a interação da empresa com a
comunidade.
1.5. Relatório de Sustentabilidade
Elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir, divulgar e
prestar contas para stakeholders internos e externos do desempenho
organizacional visando ao desenvolvimento sustentável. “Relatório de
Sustentabilidade” é um termo amplo considerado sinônimo de outros
38
relatórios cujo objetivo é descrever os impactos econômicos,
ambientais e sociais (triple bottom line) de uma organização, como o
relatório de responsabilidade social empresarial, o balanço social, etc.
(GRI, 2006).
O relatório de sustentabilidade deve então basear-se no tripé
econômico, social e ambiental para sua caracterização. Para o balanço social,
por sua vez, como mencionado no item 1.4 basta que se apresente uma dentre
as vertentes recursos humanos, ambiental, relações com a sociedade ou valor
adicionado. Nota-se então que um relatório de sustentabilidade pode ser
caracterizado como um balanço social, porém nem todo balanço social pode
ser caracterizado como um relatório de sustentabilidade (MACHADO, 2010
p.43).
No Brasil há diversas referências para divulgação de balanço ou de
indicadores sociais, como o modelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas), os indicadores Ethos (para negócios sustentáveis e
responsáveis), dentre outros. No entanto, o modelo GRI (Global Reporting
Initiative) tem se destacado com número relevante de empresas com
publicações aderentes a este padrão.
A KPMG realiza uma pesquisa, desde 1993, na qual divulga uma visão
geral da tendência de relatórios de responsabilidade empresarial, gerando
subsídios para empresários e gestores, além de investidores, estudantes,
agências de rating e profissionais interessados em sustentabilidade, quer para
o aprimoramento de seus relatos de responsabilidade empresarial, quer para
uma análise crítica de interessados no assunto. Em 2013 divulgou a oitava
pesquisa, cobrindo 4.100 empresas, em 41 países. (KPMG, 2013).
Do universo da pesquisa, consideram-se as cem maiores empresas de
cada país (N100) e as 250 maiores empresas listadas no ranking da revista
Fortune (500 maiores do mundo) (G250). A KPMG destaca que as diretrizes do
modelo GRI são citadas pela maioria das empresas com divulgação voluntária
de relatório de responsabilidade empresarial – em 2013, 78% dentre as N100
(crescimento de 9 pontos percentuais desde 2011) e 82% dentre as G250 (era
78% em 2011).
39
O Itaú Unibanco S/A, objeto desta pesquisa, segue diretrizes da GRI na
apresentação de seu relatório de sustentabilidade.
1.6. GRI – Global Reporting Iniciative
A GRI - Global Reporting Iniciative é uma organização não
governamental, fundada em 1997, em Boston, pela CERES (Coalition for
Environmentaly Responsible Economies) e pelo Instituto Tellus, organizações
norte americanas sem fins lucrativos.
Inicialmente era um departamento da CERES. Em 1998 foi estabelecido
um Comitê Diretor, multi-stakeholder, com um mandato para desenvolver as
diretrizes da GRI, com escopo social, econômico e de governança.
A primeira versão das Diretrizes GRI (Guidelines GRI) foi lançada no ano
2000. No ano seguinte, por recomendação do Comitê Diretor, GRI tornou-se
uma instituição independente da CERES.
A segunda versão de Guidelines GRI – G2 foi divulgada em 2002, em
Johannesburg, durante a World Summit on Sustainable Development. GRI foi
uma das referências para divulgação de relatórios de sustentabilidade. Nesta
ocasião, a UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente)
convidou países membros da ONU para sediar a GRI. Desde então GRI é uma
organização formalmente designada como colaboradora da UNEP, e sediada
em Amsterdã, Holanda. A GRI conta também com representantes regionais,
em diversos países: Austrália, Brasil, China, Índia, África do Sul e Estados
Unidos, chamados Pontos Focais (Focal Points). É uma rede mundial de cerca
de 30.000 pessoas.
Em 2006 foi lançada a terceira versão do Guidelines GRI – G3. Foi
desenvolvida com o apoio de mais de 3.000 especialistas das áreas de
negócios, sociedade civil e da área trabalhista. Em 2011 foi publicada uma
revisão, a versão G3.1, expandindo orientações em relação a direitos
humanos, impactos na comunidade local e gênero (human rights, local
community impacts, and gender).
40
Em maio 2013, GRI divulgou a quarta versão de Guidelines – G4. Nesta
versão, é dado maior foco em materialidade. Ainda que materialidade não seja
um assunto novo, a versão 4.0 do GRI demanda explicitamente esforços na
análise da materialidade – impactos, riscos e oportunidades, para a divulgação
dos temas referentes à sustentabilidade.
A missão da GRI é fazer com que a prática de relatórios de
sustentabilidade se torne padrão, fornecendo orientação e suporte para as
organizações. A visão da GRI é uma economia global sustentável onde
organizações possam medir seus desempenhos e impactos econômicos,
ambientais, sociais bem como os relacionados à governança, de uma maneira
responsável e transparente. (GRI 2012 - Pontos de Partida).
As informações divulgadas a seguir foram extraídas das Diretrizes
(Guidelines) GRI - G3 (GRI 2006), G3.1 (GRI 2011) e G4 (GRI 2013).
A estrutura de relatórios da GRI foi delineada com o objetivo de servir
como um modelo amplamente aceito para a elaboração de relatórios sobre o
desempenho econômico, ambiental e social de uma organização. Foi
concebida para ser utilizada por organizações de qualquer porte, setor ou
localidade. Um relatório de sustentabilidade baseado nas Diretrizes da GRI,
entre outros propósitos, pode ser usado como:
padrão de referência (benchmarking) e avaliação do
desempenho e sustentabilidade com respeito a leis, normas,
códigos, padrões de desempenho e iniciativas voluntárias;
demonstração de como a organização influencia e é influenciada
por expectativas de desenvolvimento sustentável;
comparação de desempenho dentro da organização e entre
organizações diferentes ao longo do tempo.
O relatório de sustentabilidade é um processo e uma ferramenta vivos,
que não se inicia nem termina com sua publicação. Possibilita uma sólida
avaliação do desempenho da organização e pode dar suporte à melhoria
contínua do desempenho ao longo do tempo. Auxilia as organizações a
41
estabelecer metas, aferir desempenho e gerir mudanças com vistas a tornar
suas operações mais sustentáveis.
Os relatórios são organizados seguindo certos princípios, visando à
garantia da qualidade das informações relatadas e ao estabelecimento do limite
do relatório. Os princípios estão organizados em dois grupos: princípios para
determinar quais temas e indicadores a organização deverá relatar e princípios
para assegurar a qualidade e a adequada apresentação das informações
relatadas.
Princípios para a definição do conteúdo do relatório:
inclusão dos stakeholders: a organização deve identificar seus
stakeholders e explicar no relatório que medidas foram tomadas em
resposta às suas expectativas e interesses pertinentes;
contexto da sustentabilidade: o relatório deve apresentar o
desempenho da organização no contexto mais amplo da
sustentabilidade, focando como a organização contribui ou pretende
contribuir no futuro para a melhora ou deterioração das condições
econômicas, ambientais e sociais, no âmbito local, regional ou global;
materialidade: o relatório deve abordar aspectos que reflitam os
impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da
organização; ou que possam influenciar, substancialmente, as
avaliações e decisões de stakeholders. A materialidade é o limiar a partir
do qual os ‘aspectos’ tornam-se suficientemente expressivos para serem
relatados;
abrangência / completude: a cobertura dos temas e indicadores
relevantes, assim como a definição do limite do relatório, deverão ser
suficientes para refletir os impactos econômicos, ambientais e sociais
significativos e permitir que os stakeholders avaliem o desempenho da
organização no período analisado – escopo, limite e tempo.
Princípios para assegurar a qualidade do relatório:
42
equilíbrio: o relatório deve refletir aspectos positivos e negativos do
desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação
equilibrada do desempenho geral;
comparabilidade: as questões e informações devem ser selecionadas,
compiladas e relatadas de forma consistente, de modo a permitir aos
stakeholders analisar mudanças no desempenho da organização ao
longo do tempo e subsidiar análises sobre outras organizações;
exatidão: as informações devem ser suficientemente precisas e
detalhadas para que os stakeholders avaliem o desempenho da
organização;
periodicidade / tempestividade: o relatório é publicado regularmente e
as informações são disponibilizadas a tempo para que os stakeholders
tomem decisões fundamentadas;
clareza: as informações devem estar disponíveis de uma forma que
sejam compreensíveis e acessíveis aos stakeholders que fizerem uso do
relatório;
confiabilidade: as informações e processos usados na preparação do
relatório devem ser coletados, registrados, compilados, analisados e
divulgados de forma que o mesmo possa ser revisado e que seja
estabelecida a qualidade e materialidade das informações.
O conteúdo básico para compor um relatório GRI deve conter
informações que forneçam o contexto geral para a compreensão do
desempenho organizacional, incluindo sua estratégia, perfil e governança;
informações sobre a gestão; e indicadores de desempenho, passíveis de
comparação.
Os indicadores de desempenho de sustentabilidade do relatório GRI são
constituídos nas categorias econômica, ambiental, social. Os indicadores de
desempenho social são subdivididos em quatro subcategorias: Práticas
Trabalhistas, Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto.
Estas classificações são desdobradas em diversos aspectos e para cada
aspecto são elencados os indicadores propriamente ditos. Para cada indicador
43
será indicada a obrigatoriedade ou a faculdade de resposta, por tipo de
adesão.
Para a GRI, o Desempenho Econômico tem por objetivo retratar o fluxo
de capital entre as diversas partes interessadas e os principais impactos
econômicos da organização sobre a sociedade. Considera o aspecto financeiro
fundamental para compreender uma organização e a sua própria
sustentabilidade, contudo esta informação é habitualmente disponibilizada nas
demonstrações financeiras das instituições.
Na dimensão ambiental são analisados os impactos da organização
sobre ecossistemas, terra, ar e água. Os indicadores abrangem o desempenho
relacionado a insumos (como material, energia, água) e a produção (emissões,
efluentes, resíduos), além dos impactos de seus produtos e serviços.
A dimensão social se refere aos impactos da organização nos sistemas
sociais nos quais ela opera. Baseia-se em normas internacionalmente
reconhecidas, tais como Declaração dos Direitos Humanos, Declaração da
Organização Internacional do Trabalho, e outras. Busca também informações
sobre riscos associados a suborno, corrupção, influência indevida na
elaboração de políticas públicas e práticas de monopólio.
Os indicadores setoriais são referentes a impactos dos produtos e
serviços disponibilizados pela organização.
As diretrizes GRI preveem duas opções para a elaboração dos relatórios
de sustentabilidade: a ‘Essencial’ e a ‘Abrangente’. As opções não têm relação
com a qualidade do relatório ou com o desempenho da organização. Elas
refletem a conformidade do relatório de sustentabilidade da organização com
as Diretrizes escolhidas.
A opção ‘Essencial’ contém os elementos essenciais de um relatório de
sustentabilidade. Nesta opção a organização relata impactos do seu
desempenho econômico, ambiental, social e de governança. Na opção
‘Abrangente’, além das informações da opção ‘Essencial’ são exigidas
informações adicionais sobre a estratégia, análise, governança, ética e
integridade da organização. Além disso, optando por esta modalidade, a
44
organização deve comunicar seu desempenho de forma mais ampla, relatando
todos os indicadores referentes aos aspectos materiais identificados. Ainda,
para ambas as opções, pode haver conteúdo padrão específico para o setor de
atuação da organização.
Nas versões 3 e 3.1 o sistema GRI de relatórios contempla três níveis de
estrutura: C, B e A, para atender às necessidades de relatores iniciantes,
intermediários e avançados. Na versão 4 esta classificação foi descontinuada.
Enquanto nas versões 3 e 3.1 o relatório é assinalado com um sinal “+” caso
seja assegurado por uma entidade externa que não a própria empresa, na
versão 4 a indicação de aderência deve ser atribuída para cada aspecto
individualmente, caso a organização opte pela validação de uma entidade
externa.
A GRI solicita ao usuário de suas Diretrizes que lhe envie uma
notificação sobre a publicação do relatório. A organização pode também
solicitar à GRI que examine seu nível de aplicação autodeclarado.
O Itaú Unibanco, objeto desta pesquisa, divulgou os relatórios na opção
abrangente até 2012 e na opção essencial em 2013. Adotou as diretrizes 3.0
(2009 e 2010) e 3.1 (2011 e 2012), no nível A+ e as diretrizes 4.0 em 2013.
1.7. IIRC e Relato Integrado
Com o objetivo de desenvolver sistemas de relatórios e de tomada de
decisão capazes de responder aos desafios de sustentabilidade do século 219,
o Príncipe de Gales - His Royal Highness The Prince of Wales - lançou em
2004 o Projeto do Príncipe de Gales para a Sustentabilidade - The Prince´s
Accounting for Sustainability Project – (A4S). O projeto A4S trabalha com
empresas, investidores, governos, a classe contábil, acadêmicos e a sociedade
civil para construir um consenso internacional sobre a necessidade de uma
9 “Estamos lutando para enfrentar desafios do século 21 com, na melhor das hipóteses,
sistemas de relatórios e de tomada de decisão do século 20”. (Príncipe de Gales, apud A4S, 2014).
45
estrutura integrada de relatórios corporativos que seja aceita de modo geral, e
também para desenvolver diretrizes e ferramentas básicas para incluir
sustentabilidade nos processos de tomada de decisão. (CARVALHO; KASSAI,
2013 p. 11).
Desenvolver uma sistemática de pensamento integrado, tendo a
sustentabilidade como parte integrante da estratégia das empresas, direciona
as linhas de trabalho do A4S. Muitas empresas apresentam um discurso
alinhado com esta prática em seus relatórios de sustentabilidade, porém nem
sempre o discurso e a prática são coerentes, sendo possível verificar nos
relatórios financeiros passivos exigíveis e contingências não compatíveis com
as ações socioambientais relatadas nos demais relatórios.
Carvalho (2013 p.60) pondera que várias razões podem contribuir para
este desalinhamento entre os relatórios corporativos, destacando como uma
das principais o “mal do silo dentro da empresa”, ou seja, estruturas
departamentais verticalizadas, sem comunicação lateral umas com as outras,
ficando os diversos relatórios na responsabilidade de departamentos diferentes
e que não dialogam entre si.
Em setembro de 2009, considerando a criação de uma estrutura de
relatório integrado como essencial para ajudar a transição para uma economia
sustentável, o Príncipe de Gales iniciou um movimento internacional visando a
integrar os relatórios corporativos de forma a estarem alinhados em uma
mensagem única e coerente entre si. Este movimento resultou na criação do
International Integrated Reporting Council (IIRC) - Conselho Internacional de
Relato Integrado, anunciada em 02 de agosto de 2010 pelo The Prince’s
Accounting for Sustainability Project (A4S), em conjunto com o Global
Reporting Initiative (GRI).
A missão do IIRC é de criar uma estrutura globalmente aceita de
contabilidade para sustentabilidade. Uma estrutura que reúna informações
financeiras, ambientais, sociais e de governança em um formato claro, conciso,
consistente e comparável – em síntese, em um formato “integrado”. A intenção
é de contribuir com o desenvolvimento de informações mais abrangentes e
compreensíveis sobre o desempenho total de uma organização, tanto
46
prospectiva quanto retrospectivamente, para atender às demandas de um
modelo econômico emergente e mais sustentável. (CARVALHO; KASSSAI,
2013 p.10).
O IIRC é um grupo pluridisciplinar e multinacional e reúne
representantes da sociedade civil, dos setores empresarial, de contabilidade,
de investimentos em ações, de regulação, ONGs (organizações não
governamentais), OIGs (organizações intergovernamentais) e normatizadores.
Na primeira reunião oficial do IIRC, realizada em Londres, o Brasil
estava representado por Nelson Carvalho (FEA/USP), Roberto Pedote (Natura)
e Maria Helena Santana (na época presidente da CVM e do Comitê Executivo
da IOSCO – International Organization of Securities Commissions).
(CARVALHO; KASSSAI, 2013 p.10). Atualmente, representam o Brasil no
conselho: Nelson Carvalho (FEA/USP), Roberto Pedote (Natura), Marco
Geovanne (PREVI) e Sandra Guerra (IBGC). (IIRC, 2014a).
No Brasil foi criada uma comissão – Comissão Brasileira de
Acompanhamento do Relato Integrado, coordenada por Vania Borgerth,
assessora da presidência do BNDES – com objetivo de desenvolver um plano
de implementação do Relato Integrado no país. Cinco grupos de trabalho
atuam nesta comissão: GT1 Exposure Draft, GT2 Comunicação com as partes
interessadas, GT3 Empresas pilotos, GT4 relação com investidores e GT5
Road show (CARVALHO; KASSSAI, 2013 p.10).
A partir de sua fundação, O IIRC organizou diversos trabalhos para a
preparação da Estrutura (Framework) do Relato Integrado. Estabeleceu um
Programa Piloto envolvendo uma rede de empresas e uma rede de
investidores institucionais que ajudam a desenvolver a Estrutura, seja com
críticas e sugestões, seja testando sua aplicação a suas próprias estratégias,
processos, e ciclos de geração de relatórios. Mais de 100 empresas e mais de
35 investidores institucionais participam do Programa Piloto, representando 26
países (situação em junho de 2014). O Programa Piloto deve se estender até
setembro de 2014, enquanto as empresas testam a versão 1.0 da Estrutura em
seus ciclos de relatórios. O Brasil está entre os países com maior número de
empresas participantes do Programa Piloto, (Quadro 1), que são: AES Brasil,
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BNDES, BRF S.A., CCR S.A., CPFL Energia, Fíbria Celulose S.A., Grupo
Segurador Banco do Brasil e MAPFRE, Itaú Unibanco, Natura, Petrobras, Via
Gutenberg e Votorantim Industrial. (IIRC 2014b).
De abril a julho de 2013 o IIRC submeteu a minuta da estrutura
conceitual do Relato Integrado a uma consulta pública - The Consultation Draft
of the International Framework (CD) - que reuniu comentários e sugestões
de 359 participantes de diversos países e que foram analisados para a
formulação da versão 1.0 da Estrutura do Relato Integrado, lançada em
Dezembro de 2013. (IIRC, 2014c).
A Estrutura tem como objetivo estabelecer Princípios Básicos e
Elementos de Conteúdo que guiem o conteúdo geral de um relato integrado e
explicar os conceitos fundamentais que os sustentam. Um Relato Integrado
deve ser elaborado de acordo com a Estrutura. (IR, 2014 p.4).
Nesta primeira versão (IR, 2014 p.2), o Relato Integrado foi apresentado
com os objetivos de:
Quadro 1 Quadro 2
PaísQuantidade de
empresasPaís
Quantidade de
investidoresBrasil 12 Reino Unido 8Reino Unido 12 Austrália 6Holanda 10 Estados Unidos 5Estados Unidos 8 França 3Itália 8 Holanda 3África do Sul 7 África do sul 2Espanha 7 Alemanha 2Alemanha 6 Japão 2Austrália 5 União Européia 1Japão 4 Noruega 1Russia 4 Singapura 1Canadá 3 Suécia 1França 3 Suiça 1Índia 2 Baseado em IIRC 2014b Singapura 2Turquia 2B