Post on 26-Feb-2021
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração
Júnia Fátima do Carmo Guerra
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GESTÃO SOCIAL:
Um estudo da relação entre acadêmicos e praticantes
Belo Horizonte
2015
Júnia Fátima do Carmo Guerra
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GESTÃO SOCIAL:
Um estudo da relação entre acadêmicos e praticantes
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Administração da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Administração.
Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Belo Horizonte
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Guerra, Júnia Fátima do Carmo
G934p A produção de conhecimento sobre gestão social: um estudo da relação entre
acadêmicos e praticantes / Júnia Fátima do Carmo Guerra. Belo Horizonte, 2015.
235 f.: il.
Orientador: Armindo dos Santos de Sousa Teodósio
Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Administração.
1. Ciências sociais - Pesquisa. 2. Gestão do conhecimento. 3. Pesquisadores. 4.
Produção do conhecimento. I. Teodósio, Armindo dos Santos de Souza. II.
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em
Administração. III. Título.
CDU: 658.01
Júnia Fátima do Carmo Guerra
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GESTÃO SOCIAL:
Um estudo da relação entre acadêmicos e praticantes
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Administração da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Administração.
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Armindo dos Santos de Sousa Teodósio – PUC Minas (Orientador)
______________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Reis Rosa – UFES (Banca Examinadora)
_____________________________________________________________
Prof.ª. Drª. Lucília Regina de Souza Machado – UNA (Banca Examinadora)
________________________________________________________
Profª. Drª. Paula Chies Schommer – UDESC (Banca Examinadora)
_____________________________________________________
Profª. Drª. Rosa Maria Fischer – USP (Banca Examinadora)
Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2015
Dedicatória
Dedico aos meus pais, que mesmo ausentes sempre se fizeram presentes.
Aos que torceram por mim.
A todos que contribuíram para que essa pesquisa se realizasse.
AGRADECIMENTO
São tantos os agradecimentos!
Primeiro a Deus, OBRIGADA!!!
Agradeço a minha família, ao meu amado Guerrinha e querido marido pelo incentivo sempre
amoroso, pela força e pela carinhosa paciência.
Aos meus filhos, Joana, Bárbara e Arthur por ficarem ao meu lado mesmo quando eu não
podia ficar com eles. Pela doçura e alegria, ajudando-me a caminhar com mais leveza.
As Vieirinhas! Irmãs queridas e sobrinhos amados por ficarem sempre ao meu lado com
humor e graça.
Aos amigos do coração pela torcida e incentivos de coragem.
Ao meu orientador e querido amigo Téo por me ajudar a trilhar o conhecimento por
caminhos mediados de reflexão e crítica e pela generosidade de sempre.
Aos amigos do PPGA, queridos professores, amigos da secretaria que estão sempre com um
sorriso no rosto. Ao carinho e amizade revestidos de dádivas da velha guarda do NUPEGS,
Dani Viegas, Maria Flávia, Dani Cardoso, Danusa, Raquel, Yasmini e aos novos
companheiros, obrigada por tudo!
A todos que, de uma maneira ou de outra, me ajudaram na trajetória do Doidorado!
OBRIGADA!
"Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens.
Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação se não há amor que a infunda.
Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo.
Daí que seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação de dominação”.
Paulo Freire em “A Essência do Diálogo”
RESUMO
A tese busca analisar a relação entre academia e praticantes no contexto brasileiro de
produção de conhecimento sobre Gestão Social. Defende-se que a produção de conhecimento
sobre Gestão Social, mediada pela abordagem socioprática de aprendizagem, a qual se
constitui como resultado de interações e práticas compartilhadas pelos atores sociais dinamiza
e transforma o seu campo de atuação. É no limiar das relações entre acadêmicos e praticantes
e, a partir dos desafios que envolvem a universidade contemporânea, que reside a pergunta de
pesquisa, “como se dá a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir da relação
entre acadêmicos e praticantes desse campo?” A fim de responder essa pergunta buscou-se
explorar e discutir as abordagens cujos preceitos alinhassem às perspectivas da Gestão Social
e das relações que precedem as suas dinâmicas e articulações. Nesse âmbito, as discussões se
apoiaram nas abordagens de campos de poder associadas às perspectivas de habilidade social
e saberes híbridos. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, com análise dos
depoimentos, oriundos das entrevistas semiestruturadas realizadas com dezoitos acadêmicos e
praticantes da Gestão Social, e dos dados secundários provenientes dos sítios eletrônicos,
pesquisas e artigos relativos a produção de conhecimento dos centros de estudo e pesquisa e
das organizações da sociedade civil investigadas. Os resultados demonstram que a produção
de conhecimento sobre Gestão Social a partir das relações entre acadêmicos e praticantes vem
se efetivando através de disputas de poderes no seu campo. Nessa disputa se vislumbra um
aspecto tradicional da universidade contemporânea, assinalado pelo funcionalismo e pelo
instrumentalismo presente no eixo do ensino, da pesquisa e da extensão e por um aspecto
inovador o qual busca nos preceitos das ciências pós-moderna formas de interação e
dinâmicas permeadas pela habilidade social e por saberes híbridos. Este quadro evidencia
possibilidades de transformação e ressignificação do campo da Gestão Social ao observar que
a produção de conhecimento se baseia em saberes múltiplos e em propósitos que envolvem a
noção de coletividade social.
Palavras-chaves: Relação entre academia e praticantes. Gestão Social. Produção de
Conhecimento.
ABSTRACT
The thesis aims to analyze the relationship between academia and practitioners in the
Brazilian context of knowledge production on Social Management. It is argued that the
production of knowledge on Social Management, mediated by social practice approach to
learning, which is as a result of interactions and practices shared by social actors streamlines
and transforms their field. It is on the threshold of the relationship between academics and
practitioners, and from the challenges concerning contemporary university, lies the research
question, "how is the production of knowledge about Social Management from the
relationship between academics and practitioners in this field? "In order to answer this
question we sought to explore and discuss approaches whose precepts align the prospects of
Social Management and relations preceding their dynamics and articulations. In this context,
discussions supported the approaches of power fields associated with the prospects of social
skill and knowledge hybrids. The methodology used is qualitative, with the testimonies
coming from the semi-structured interviews with eighteen scholars and practitioners of Social
Management, and secondary data from the electronic sites, research and articles on the
production of knowledge of study and research centers and civil society organizations
investigated. The results show that the production of knowledge on Social Management of the
relations between academics and practitioners has been effecting through powers of disputes
in their field. In this dispute in sight a traditional aspect of the contemporary university,
marked by functionalism and the instrumentalism present in the axis of teaching, research and
extension and an innovative aspect which seeks the precepts of postmodern science forms of
interaction and dynamic permeated by social skills and hybrid knowledge. This table shows
possibilities of transformation and redefinition of the Social Management field to note that the
production of knowledge is based on multiple knowledge and purposes involving the notion
of social community.
Keywords: Relationship between academia and practitioners. Social management. Knowledge
production.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Temas e Abordagens na Produção de Conhecimento em Gestão Social.............. 44
FIGURA 2. Verbetes Presentes no Campo da Produção de Conhecimento em Gestão Social
.................................................................................................................................................. 45
FIGURA 3. Diagrama Conceitual das Esferas Pública e Privada que Localizam a Sociedade
Civil ......................................................................................................................................... 73
FIGURA 4. Campos de poder da Gestão Social ...................................................................... 97
FIGURA 5. Relações no Campo da Gestão Social: Perspectivas e Limites na Produção de
Conhecimento ......................................................................................................................... 194
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Configuração dos Centros de Estudos e Programas de Pesquisas Vinculados a
Gestão Social ......................................................................................................................... 103
QUADRO 2 - Organizações da Sociedade Civil Investigadas ............................................. 108
QUADRO 3 - Perfil dos Entrevistados: acadêmicos
................................................................................................................................................ 116
QUADRO 4 - Perfil dos Entrevistados: praticantes .............................................................. 117
LISTA DE SIGLAS
ABONG - Associação Brasileira das Organizações não Governamentais
ABRINQ – Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos
ANPAD – Associação Nacional da Pós-Gradução em Administração
AVSI- Associação de voluntários para o Serviço Internacional
CAPES – Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior
CBBC - Centro de Biologia da Conservação
CDM - Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana
CEAPG - Centro de Estudos em Administração Pública e Governo
CEATS - Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor
CEBS - Comunidades Eclesiais de Base
CIAGS - Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social
CNPJ – Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DNA – Ácido Desoxirribonucleico
EAESP - Escola de Administração de Empresas de São Paulo
EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública
EnANPAD – Encontro da Associação Nacional da Pós-Gradução em Administração
ENAPEGS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social
ESCAS - Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade
FASFIL – Mapeamento das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos
FEA - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
FGV – Fundação Getúlio Vargas
FGVTV - Fundação Getúlio Vargas de Televisão
FIA - Fundação Instituto de Administração
FIEMG - Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IES - Instituições de Ensino Superior
MBA - Master in Business Administration
MG - Minas Gerais
NEATS - Núcleo de Estudos de Administração do Terceiro Setor
NIPETS - Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos Sobre o Terceiro Setor
NUPEGS - Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social
NYU – New York University
ONG - Organização não Governamental
OSCs - Organizações da Sociedade Civil
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PEGS - Programa de Ensino de Gestão Social
PDG - Projeto de Desenvolvimento de Gestão
PDGS - Programa de Desenvolvimento e Gestão Social
PGPC - Programa de Gestão Pública e Cidadania
PPGA – Programa de Pós-Graduação em Administração
PUC - Pontifícia Universidade Católica
RAP – Revista de Administração Pública
RGS – Rede de Pesquisa em Gestão Social
REBRAMA - Rede Brasileira de Avaliação
SEKN - Social Enterprise Knowledge Network
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFRGS - Universidade do Rio Grande do Sul
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
2 GESTÃO SOCIAL: TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O SEU CAMPO .................... 30
3 PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOCIOPRÁTICA
INTEGRADAS AO CAMPO DA GESTÃO SOCIAL ...................................................... 49
3.1 Produção de conhecimento sobre Gestão Social no âmbito dos praticantes: desafios e
possibilidades ......................................................................................................................... 53
3.2 Produção de conhecimento acadêmica sobre Gestão Social: perspectivas que se
apoiam no ensino crítico da Administração
.................................................................................................................................................. 61
4 RELAÇÃO ENTRE ACADEMIA E PRATICANTES: CAMPOS DE PODER QUE
SE CONECTAM .................................................................................................................. 72
4.1 Campos de poder da universidade contemporânea
.................................................................................................................................................. 75
4.2 Dinâmicas de produção de conhecimento entre acadêmicos e praticantes da Gestão
Social ...................................................................................................................................... 85
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 99
5.1 Estratégias de coleta de dados ...................................................................................... 112
6 ANÁLISE DOS DADOS: A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GESTÃO
SOCIAL ENTRE ACADÊMICOS E PRATICANTES .................................................. 121
6.1 A trajetória dos acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social ................... 122
6.2 Habilidade social: possibilidades de ampliação da produção de conhecimento sobre
Gestão Social ........................................................................................................................ 135
6.3 A produção de conhecimento sobre Gestão Social: transformação e ressignificação
do campo? ............................................................................................................................ 143
6.3.1 Concepções críticas que permeiam a noção sobre Gestão Social ............................. 168
6.4 Relações entre academia e praticantes: desafios e possibilidades para o campo da
Gestão Social ........................................................................................................................ 177
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 199
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 210
APÊNDICES ....................................................................................................................... 228
14
1 INTRODUÇÃO
A Gestão Social tem sido amplamente pesquisada e discutida no Brasil desde a década
de 1990. Porém, existem importantes debates e divergências acerca de sua constituição e
natureza, bem como sobre o campo em que se manifesta e reproduz na vida social
contemporânea. Esses debates podem ser percebidos tanto entre os acadêmicos dessa área de
conhecimento, que notoriamente se concentra na Administração, quanto entre os praticantes
que operam as organizações da sociedade civil.
No âmbito dos acadêmicos destacam-se autores como Tenório (1997, 1998, 1999,
2004, 2005, 2008), R. M. Fischer (2001, 2002, 2005), Dowbor (1999, 2003, 2006, 2010),
Junqueira (2000, 2008, 2009), T. M. D. Fischer (2001, 2002, 2006), Carrion (2001, 2005,
2006, 2008), Boullosa e Schommer (2005, 2008), França Filho (2003, 2004), Pinho (2005),
Cançado (2011, 2013) e Araújo (2012). Suas abordagens revelam que o termo Gestão Social
permeia um campo teórico em construção, cuja discussão envolve temas que precedem às
dinâmicas do poder local, do território, das articulações entre Estado, sociedade e
organizações privadas.
Tais abordagens apontam os aspectos distintivos em relação a outros campos da
gestão e outras maneiras de gerir, como a gestão privada e a gestão pública. Sob essa
perspectiva, observa-se que a utilização do termo pode estar relacionada aos atores sociais que
a emprega, ao universo organizacional em que é exercida, às finalidades que se pretende
atingir ou, ainda, às características do processo de gestão a que se refere (R. M. Fischer, 2001,
Schommer & França-FIlho, 2008). Nesse aspecto, destacam-se as características
organizacionais vigentes no campo das organizações da sociedade civil, da Economia
Solidária e relativas à Responsabilidade Social Empresarial (Hoffman, 2001, Junqueira, 2010,
Teodósio, 2010, Abramovay, 2009). Além disso, elevam-se esforços em compreender os
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aspectos vinculados a participação social, a emancipação e o desenvolvimento social,
podendo associá-los aos princípios que norteiam as políticas públicas (T. M. D. Fischer, 2002,
Tenório, 2005, Boullosa e Schommer, 2009, Cançado, Pereira & Tenório, 2013).
O interesse em pesquisar e discutir a Gestão Social não se vincula somente às ciências
administrativas. Outros campos de conhecimento buscam compreender e integrar em suas
abordagens os aspectos que sustentariam a Gestão Social. Dentre eles, pode-se citar o Serviço
Social, a Comunicação, a Pedagogia e as Ciências Sociais. Entretanto, nota-se no campo da
Administração uma grande presença de investigadores, centros de pesquisa e iniciativas
visando desenvolver estudos referentes aos elementos atribuídos à Gestão Social, incorrendo
em uma acentuada participação nas discussões que a envolvem (Cançado, 2011, Mendonça,
Gonçalves-Dias & Junqueira, 2012).
Desse quadro surgiu a Rede de Pesquisadores sobre Gestão Social, que se constituiu a
partir da iniciativa de professores e pesquisadores de Administração e Serviço Social. As
propostas de produção e compartilhamento de conhecimento acerca das temáticas da Gestão
Social têm encontrado nos Encontros Nacionais de Pesquisadores em Gestão Social
(ENAPEGS), que estão hoje na sua oitava edição, um espaço para reunião de acadêmicos e
praticantes da Gestão Social.
A crescente visibilidade e importância da Gestão Social nos últimos anos, tanto no
meio acadêmico quanto empresarial e governamental, propiciou a oferta de estruturas de
formação acadêmico-profissional cujos pressupostos didático-metodológicos têm sido alvo de
discussões. Tais discussões, impulsionadas por hipóteses construídas sobre os temas
emergentes da Gestão Social, conduzem a significativas reflexões e críticas sobre as propostas
pedagógicas dos cursos em vigor no país com foco na formação do gestor. Segundo
Schommer e Boullosa (2010), é possível notar dinâmicas estruturais que favorecem a
instrumentalização dos cursos, os quais detêm processos de ensino e aprendizagem
16
tradicionais. Este procedimento contribuiria para delimitar precocemente um conceito ainda
em construção, uma vez que alimenta a perspectiva de um campo definido e orientado por
aqueles que o dominam e o ensinam sobre aqueles que o apreendem (Schommer e Boullosa,
2010).
Todavia, há dinâmicas de ensino-aprendizagem que buscam consolidar os preceitos da
Gestão Social por meio de práticas que se configuram na participação e na interação social.
Destacam-se no processo de consolidação de diferentes centros de investigação sobre Gestão
Social no país, experiências que buscam, sob diferentes óticas e baseadas em variadas
epistemologias e metodologias, reconfigurar os processos de produção de conhecimento,
ensino e aprendizagem em gestão voltada à formação de pessoas para atuar no campo da
Gestão Social.
Um dos exemplos dessa busca é a consolidação da chamada Social Enterprise
Knowledeg Network (SEKN), uma rede de investigação do campo da Gestão Social
envolvendo pesquisadores de diferentes países, sendo representada pelo Centro de
Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS) da Universidade de
São Paulo (USP), que tem procurado estabelecer um diálogo mais equilibrado entre centros de
pesquisa baseados em países centrais e em economias emergentes e em desenvolvimento, bem
como difundir nas escolas de administração o reconhecimento de empreendimentos que
muitas vezes passam despercebidos ou se tornam invisíveis para projetos de pesquisa
centrados no ethos tradicional funcionalista-gerencialista em Administração. Além disso,
experiências atuais de formação na pós-graduação levadas a cabo pelo CEATS/USP em
articulação com o Instituto IPÊ, se dando fora de instituições de ensino e processos
tradicionais de ensino-aprendizagem, são outro exemplo dos esforços de reconfiguração da
produção de conhecimento em Gestão Social levadas a cabo no contexto brasileiro.
17
Outra importante frente de trabalho é a da chamada Residência Social metodologia de
ensino apoiada na inserção do aluno no contexto investigado. Oriunda dos estudos de T. M.
D. Fischer e Melo (2006) e Carrion (2006), sua concepção e atuação são disseminadas por
trabalhos científicos e por experiências concretas de formação. Seguindo essa trilha, outras
pesquisas foram desenvolvidas no âmbito do processo de ensino-aprendizagem, “revelando
uma multiplicidade de interpretações que a temática alcança, assim como a diferença de
componentes curriculares e estratégias de ensino-aprendizagem” (Boullosa, Araújo, Melo,
Schommer & T. M. D. Fischer 2010 p. 380). Nesse aspecto, salientam-se os estudos de
Schommer e Santos (2010) que se apoioram na pesquisa “Comunidades de Práticas com
Bases da Aprendizagem em Processos de Desenvolvimento Sócio-territorial”, realizada entre
2006 e 2009. Durante este período, as pesquisadoras buscaram ampliar a compreensão de
processos de aprendizagem organizacional com base em comunidades de práticas no âmbito
de programas acadêmicos que visam contribuir para o desenvolvimento sócio-territorial no
Estado da Bahia. (Schommer e Santos, 2010).
Ainda no escopo dessa discussão, observam-se trabalhos que propõem a reflexão sobre
o significado da Gestão Social e sua importância para a Administração. Conduzidos por
práticas metodológicas de cunho integrativo e compartilhados tais trabalhos não buscam uma
posição hegemônica da academia sobre os atores investigados (Ospina, Godsoe & Schall,
2001, T. M. D. Fischer e Melo, 2006, Carrion, 2006, Boullosa e Schommer, 2010, Gianella,
2008). Percebe-se nesse contexto diversas iniciativas com metodologias que pretendem
reconfigurar e ressignificar a relação entre sujeito investigador, geralmente um acadêmico, e o
objeto investigado, geralmente um coletivo de sujeitos envolvidos na prática de um campo, os
praticantes da Gestão Social, no caso específico do foco desta tese.
Destaca-se que alguns constructos teóricos que delimitam a discussão sobre
aprendizagem da Gestão Social se fundamentam na abordagem socioprática, cujos
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pressupostos apoiam-se no resultado das interações e práticas compartilhadas pelas pessoas,
manifestando-se nas posturas cotidianas. Segundo Easterby-Smith, Araujo (2001) e Lave,
Wenger (1999), a aprendizagem não deve ser encarada como um objeto a ser analisado, um
produto ou um processo técnico que aconteceria na mente dos indivíduos, mas sim como uma
prática social que seria parte do processo de construção da realidade, entrelaçada com a
cultura e com a política.
Compreende-se que a noção de aprendizagem baseada na abordagem socioprática
vincula-se intrinsecamente ao conhecimento que é produzido no campo da Gestão Social. Isso
se deve ao fato de se observar uma busca de integração do conhecimento já existente neste
campo com as dinâmicas sociais, políticas, econômicas e culturais que envolvem os atores no
processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, pressupõe-se que a produção de
conhecimento precede as relações entre atores de campos diferentes que, ao interagirem por
meio da convergência ou divergência de ideias, induz a reflexão e a transformação de
significados. Essa perspectiva comunga com as temáticas que ancoram a Gestão Social ao
denotar possibilidades de envolvimento das pessoas, do relacionamento humano com vistas
ao desenvolvimento social (França Filho, 2008, Carrion & Calou, 2008). Ressalta-se ainda
que, o conhecimento configurado na ação socioprática implica no envolvimento de saberes
híbridos, os quais se traduziriam na interdisciplinaridade (Santos, 2004, Leff, 2001, Gianella,
2008, Campos, Mendonça & Alves, 2012).
Esse pressuposto permite analisar a relação entre academia e praticantes no contexto
brasileiro de produção de conhecimento sobre Gestão Social como um rol de interações
sociais que carregam em si possibilidades e limites para a transformação do seu campo. A
escolha desses dois grupos de atores (acadêmicos e praticantes) se deu por observar ações
orientadas para a produção de conhecimento sobre Gestão Social marcadas por articulações e
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interações, mesmo que revestidas de divergências e conflitos, que resultam em conhecimento
mediado por suas interpretações de mundo.
Vale destacar que o interesse primário em estudar e investigar a relação entre
academia e praticantes no contexto brasileiro de produção de conhecimento sobre Gestão
Social foi guiada pela trajetória acadêmica e profissional da autora da presente tese. O
trabalho desenvolvido como Secretária Municipal de Educação do município de São João del
Rei/Minas Gerais, no período de 2006 a 2009, foi um dos pilares para se refletir,
compreender, entusiasmar e desanimar com as com as maneiras inventivas e as agruras do
cotidiano que os diferentes atores envolvidos com a educação do município vivenciavam. Esta
experiência a conduziu para o mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento
Local do Centro Universitário UNA de Belo Horizonte/MG, a qual buscou analisar a
implementação da Pedagogia Empreendedora na rede municipal de ensino em São João Del
Rei com o intuito de discutir suas implicações e desdobramentos para o desenvolvimento
local. Motivada pelas discussões e pelas temáticas que abrangiam a Gestão Social, bem como
pela experiência acadêmica em lecionar disciplinas de cunho tradicional no âmbito da
Administração, na Universidade Federal de São João del Rei/MG, a pesquisadora seguiu para
o doutorado em Administração na PUC Minas, dando continuidade aos estudos sobre Gestão
Social e educação.
A participação no Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social (NUPEGS) do
Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da PUC Minas foi outro fator indutor
para a investigação da produção de conhecimento sobre Gestão Social e as relações derivadas
do envolvimento dos atores deste campo, uma vez que é um núcleo de pesquisa aberto não
somente a comunidade acadêmica, mas também aos praticantes interessados em discutir,
dividir, dialogar e refletir sobre suas práticas, dinâmicas e articulações no campo da Gestão
20
Social. Todos esses fatores foram relevantes para a escolha do tema e objeto de pesquisa aqui
desenvolvidos.
Percebe-se que na tentativa de aprofundar a interação entre acadêmicos e praticantes,
muitos desafios, dilemas, armadilhas e controvérsias se apresentam. Alguns deles remetem à
questões estruturais envolvendo o papel que o conhecimento científico e seus agentes,
notadamente as universidades, exercem nos tempos atuais. A universidade contemporânea se
destaca por ela incidir na construção e ampliação do conhecimento como fonte de
desenvolvimento do indivíduo e da sociedade. Nesse âmbito, nota-se a relevância da tríade
ensino, pesquisa e extensão, a qual envolve as relações entre academia e praticantes que, por
vezes, denotam os dilemas vivenciados pela universidade na atualidade (Chauí, 1999, Santos,
1997, 2004).
Tais dilemas a conduziram a ações contraditórias ao se aproximar dos preceitos
impostos pela lógica de mercado, configurando assim, uma crise institucional (Santos 1997).
Nota-se que essa crise coloca a especificidade organizativa da universidade contemporânea
em causa, de modo que modelos vigentes em outras instituições tidas como mais eficientes
são impostos às demais (Santos, 1997, Chauí, 2003, Bauman, 2008, Ribeiro, 2003). Neste
cenário, observam-se processos sociais que colocam em xeque a hegemonia do conhecimento
científico e das universidades na própria produção de conhecimento. Diferentes atores sociais,
de fora e de dentro da própria universidade, têm cada vez mais questionado a compreensão de
mundo que colocam a ciência e a universidade como únicas e exclusivas formas de produção
de conhecimento relevante (Santos, 2004).
A partir deste contexto, a universidade contemporânea se depara com outro dilema que
se apoia na legitimidade do conhecimento produzido por ela. Tal quadro se destaca em face
da contradição entre a hierarquia dos saberes especializados que passam a ter acesso restrito e
da credenciação das competências, e as exigências sociais e políticas da democratização da
21
universidade contemporânea (Santos, 2004, 1997). Essas crises se refletem na tríade ensino-
pesquisa-extensão, ao não conceber de forma mais pujante no âmago de suas diretrizes a
interrogação, reflexão, crítica, descoberta, invenção e criação. Pelo contrário, a atividade
científica seria cada vez mais mediada e dominada por processos burocráticos, pouco
inventivos e criativos de produção de conhecimento (Chauí, 1999).
No campo de conhecimento da Administração, nota-se um quadro crítico semelhante e
que parece, muitas das vezes, tornar ainda mais agudos esses desafios, contradições e dilemas.
Salienta-se o interesse de grande parte das Instituições de Ensino Superior (IES) em fortalecer
o ensino em detrimento da pesquisa, como forma de reproduzir a lógica do mercado e, com
isso, estabelecer laços mais sólidos com as corporações. Neste sentido, haveria forte interesse
em ampliar a participação no mercado de ensino corporativo e criar produtos e serviços
atrativos para esses atores (Paes de Paula e Rodrigues, 2006, Alcadipani, 2011, Spink e Alves,
2011).
O cenário acadêmico sempre foi marcado pela presença dos chamados praticantes,
visto que a suposta separação entre academia e mundo da vida ou entre teoria e prática,
comumente presente em discursos construídos pelos atores sociais, não passa de uma
racionalização e idealização sobre a própria realidade. A universidade, seus atores (os
acadêmicos como se denomina na presente tese) e seus processos de produção e difusão de
conhecimento se inserem e acontecem sempre dentro da sociedade e mediados por interações
com atores que estão dentro e fora do espaço acadêmico per si. Em muitos momentos da vida
acadêmica, a aproximação com atores que se vinculam a instituições não acadêmicas se torna
mais evidente e intensa, quer seja nos processos de ensino, pesquisa e ou extensão. Ainda
assim, no presente estudo mantém-se a denominação de praticantes para aqueles atores
vinculados à organizações não acadêmicas que se situam no campo da Gestão Social,
notadamente as organizações da sociedade civil (OSCs), como recurso para melhor estruturar
22
o processo investigativo desta tese e não como adesão à uma compreensão que remete à eles
apenas o papel de ativistas ou "fazedores". Em suma, acadêmicos e praticantes são, em
diferentes medidas e formas, atores que desenvolvem ação social (agem) e produzem
diferentes formas de conhecimento simultaneamente.
As interações oriundas desses atores demonstram perspectivas de relações que, mesmo
imbuídas de interesse comum, se afirmam mediante a presença de saberes híbridos e a
processos conflituosos. Ao serem observados a partir da visão complexa de mundo, a qual
desafia a compreensão da “multiplicação das formas de vida que convivem uma ao lado da
outra” (Gianella, 2008 p. 19), a própria natureza do conhecimento produzido mudaria de
traço, pois, “se trata de reconstruir juntos o sentido das diversas visões coexistentes e tentar
resolver os problemas derivantes da convivência” (Gianella, 2008, p. 19). Nesse sentido, o
problema do conhecimento se desloca para os efeitos da relação entre o saber e o ser em um
processo de reapropriação do mundo no qual se observa interações sociais complexas dentro
de um campo e a presença de saberes e formas de conhecimento híbridos (Leff, 2001, Morin,
2008).
A apropriação e produção de conhecimento que se manifesta por meio da abordagem
socioprática não se opõe aos processos cognitivos de aprendizagem. Ao contrário, eles são
compreendidos como complementares, sem hierarquias e sem a imposição da visão
dicotômica apregoada pelo paradigma positivista, no qual se observa oposições entre teoria e
prática (Santos, 1997, Gianella, 2008).
É nesse aspecto que reside a relevância em se analisar a relação entre academia e
praticantes no contexto brasileiro de produção de conhecimento sobre Gestão Social o qual
demonstra espaços de interação, de confronto relativo aos diferentes modos de ver, de
entender, dotados de possibilidades e de limites para a transformação do seu campo.
23
A outra questão que justifica a analise da relação entre academia e praticantes no
contexto brasileiro de produção de conhecimento sobre Gestão Social vincula-se a uma lacuna
teórica presente na literatura científica brasileira. Se por um lado percebe-se uma importante
trajetória de pesquisas e debates sobre a formação de gestores vinculados as discussões sobre
o ensino e aprendizagem em Gestão Social, por outro ainda reside um espaço para se explorá-
la. Este espaço se constitui da carência de estudos direcionados ao conhecimento que é
produzido sobre Gestão Social nas relações convergentes e/ou divergentes que se afirmam
entre acadêmicos e praticantes desse campo.
Infere-se que essas relações são constituídas por processos de colaboração e de
disputa. Porém, destaca-se que a disputa não se apoia em espaços sociais excludentes e
distintos, mas sim sobrepostos e híbridos. Conforme Bourdieu (1989, 1996), elas se
tencionam em campos de poder que são munidos de interesses comuns e individuais, de
práticas e dinâmicas que se convergem e que se divergem, permitindo observar a produção de
conhecimento sobre Gestão Social entre atores distintos.
As discussões procedentes dessa perspectiva teórica podem contribuir para se
problematizar com maior consistência e vigor a produção de conhecimento em Gestão Social,
bem como outras abordagens cujo cerne de seus pressupostos subsidia a produção
socioprática de conhecimento. Partiu-se do pressuposto que atores dotados de habilidade
social, a qual representa capacidade de fazer o outro a cooperar para um fim comum
(Fligstein, 2007), detém um demonstrativo de força a se converter a favor de um campo. Em
outras palavras, atores dotados de habilidade social contribuem para o fortalecimento de um
campo, no caso, o próprio campo da Gestão Social frente a outros campos de produção de
conhecimento em Administração. Por outro lado, apreende-se que, as perspectivas que
circundam a produção de conhecimento socioprático, assumida por esta tese como o cerne no
processo de construção de conhecimento da Gestão Social, podem ser compreendidas e
24
aprofundadas pelas discussões sobre saberes híbridos, gerados pelos atores sociais tanto no
âmbito da universidade quanto na prática da Gestão Social.
O conceito de hibridismo, oriundo das ciências biológicas, tomou uma dimensão mais
heterogênea ao ser adotado por outras ciências como possibilidade de mistura, de mesclagem.
Essa denotação, baseada nas relações entre atores sociais distintos, permite se considerar que
a produção de conhecimento sobre Gestão Social constitui-se de saberes híbridos, os quais,
conforme o tipo de relação prevalecente entre eles, mais autoritária ou mais colaborativa,
poderão se traduzir na força de um campo (Leff, 2001, Morin, 2008).
Mediante as discussões propostas que se vinculam ao objeto de estudo desta tese, as
relações entre acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social, se delineou a seguinte
pergunta de pesquisa: “Como se dão as relações entre acadêmicos e praticantes no contexto
brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão Social”?
A fim de avançar na investigação proposta pela pergunta de pesquisa que organiza a
presente tese foram selecionados sete centros de estudo e pesquisa em Gestão Social, bem
como seus programas de pós-graduação stricto sensu e oito organizações da sociedade civil.
Com relação aos acadêmicos, buscou-se investigar centros de estudos e pesquisas que
se destacassem por meio de práticas sociopráticas de produção de conhecimento em Gestão
Social a partir da interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Ressalta-se que alguns
desses centros de pesquisas são marcados pela presença de pesquisadores seniores que
contribuíram para a constituição deste campo de estudo no país.
Nesse contexto, as unidades de análise elegidas foram: o Centro de
Empreendedorismo Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS), do Departamento de
Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da
Universidade de São Paulo (USP), o qual se destacou por evidenciar um interesse em
desenvolver um olhar ampliado das questões sociais ao efetivar parcerias com universidades
25
de outras nacionalidades, passando a constituir a rede de pesquisadores Social Enterprise
Knowledge Network (SEKN).
O Programa de Estudos em Gestão Social (PEGS), vinculado à escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas (EBAPE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi outra
unidade de análise selecionada por ter sido pioneira no Brasil em apresentar o campo de
estudo da Gestão Social vinculado às relações sociedade-Estado, trabalho-capital e sociedade-
mercado.
Em uma vertente semelhante, porém pautada na perspectiva de apoio a iniciativas
inovadoras no campo da ação pública, elegeu-se o Centro de Estudos em Administração
Pública e Governo (CEAPG), pertencente a Escola de Administração de Empresas de São
Paulo (EAESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), juntamente com o Programa de Gestão
Pública e Cidadania (PGPC).
O Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade
Federal da Bahia (CIAGS/UFBA) foi outra unidade de análise escolhida. Ao se instituir
movido pelas abordagens do desenvolvimento sócio-territorial e por intervir na gestão pública
e gestão social por meio de dinâmicas ancoradas no ensino e a pesquisa, se destaca como um
lócus acadêmico que visa a produção e difusão de conhecimento em Gestão Social de cunho
integrativo e visando reconfigurar a relação entre acadêmicos e praticantes.
Outras unidades de pesquisa foram selecionadas, tais como o Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisas e Estudos Sobre o Terceiro Setor (NIPETS) da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS); o núcleo de Estudos de Administração do Terceiro Setor (NEATS)
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e o Núcleo de Pesquisa em Ética
e Gestão Social (NUPEGS) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas). Esses núcleos de estudos se destacaram por objetivarem contribuir para o
desenvolvimento dos diferentes segmentos da sociedade civil por meio da interação com
26
praticantes da Gestão Social. Além disso, outro critério relevante nessa escolha se deve à
antiguidade desses núcleos de pesquisa, dado que será mais bem explicado e justificado no
capítulo sobre procedimentos metodológicos.
No campo dos praticantes, foram selecionadas unidades de análise de forma
heterogênea com o intuito de abranger instituições da esfera pública, do Estado e do mercado,
uma vez que, apesar de trazerem em seu âmago as temáticas que envolvem a Gestão Social,
se constituíram a partir de realidades e grupos de atores sociais distintos, desenvolvendo
também dinâmicas diferentes de atuação na produção de conhecimento.
A relevância de suas práticas para a Gestão Social apoiadas na interseção e no diálogo
com atores de outros campos foi também outro ponto designado como crucial para a sua
escolha, a qual se deu a partir da observação em sítios institucionais de OSCs do Brasil que
apresentavam diferentes atividades e processos de produção de conhecimento sistematizadas
através de parcerias com diversos atores do campo da Gestão Social, em especial com os
acadêmicos. A pesquisa em periódicos científicos nacionais e internacionais, bem como
relatórios institucionais gerados por OSCs do Brasil, foi outra fonte que serviu para se
levantar a relevância sobre a produção de conhecimento desses atores investigados.
Mediante tais dados, foi possível observar que nas últimas décadas houve uma
expansão de pesquisas realizadas por diferentes praticantes da Gestão Social, a saber,
organizações da sociedade civil como a Fundação AVINA e a Associação Brasileira de
Organizações Não Governamentais (ABONG), fundações empresariais como o GIFE e o
Instituto Ethos, organismos internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano e
órgãos governamentais como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Nota-se
que todos eles têm procurado produzir conhecimento sobre a realidade social, disputando
espaço com os acadêmicos na produção de compreensões sobre os aspectos políticos,
culturais e econômicos contemporâneos que perpassam os debates do campo da Gestão
27
Social. Ora trabalham em articulação e parceria com os acadêmicos, notadamente as
universidades, ora produzem conhecimento com seus próprios recursos, inclusive humanos.
Neste âmbito, foram investigadas as seguintes organizações sociais: Fundação AVINA,
Fundação AVSI, Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM), Instituto
Hartmann Regueira, Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Grupo de Instituições,
Fundações e Empresas (GIFE), Instituto Camargo Corrêa e a Federação das Indústrias do
Estado de Minas Gerais (FIEMG).
A partir dessa realidade sobre a relação entre atores acadêmicos e praticantes da Gestão
Social, foram delimitados os seguintes objetivos de pesquisa.
Objetivo Geral:
Analisar a relação entre academia e praticantes no contexto brasileiro de produção de
conhecimento sobre Gestão Social.
Objetivos Específicos:
Identificar atores acadêmicos e praticantes da Gestão Social relevantes nos processos
de produção de conhecimento no Brasil;
Discutir a compreensão que acadêmicos e praticantes constroem sobre a produção de
conhecimento em Gestão Social;
Analisar as habilidades sociais e o hibridismo que se manifestam nas relações entre
acadêmicos e praticantes envolvidos no campo da Gestão Social no contexto
brasileiro;
Discutir possibilidades e limites para a superação dos problemas que envolvem a
produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir da relação entre acadêmicos e
praticantes desse campo no Brasil.
28
A proposição de analisar a relação entre academia e praticantes no contexto brasileiro
de produção de conhecimento sobre Gestão Social remete a aspectos ontológicos que
permeiam a subjetividade da realidade e do fenômeno investigado. Essa premissa exige uma
pesquisa fundamentada não somente nos fatos em sim, mas principalmente, que busque
alcançar o âmago de sua ocorrência e recorrência, de modo a observar todas as nuances que a
configuram, dando destaque às dinâmicas da ação social pautadas nas habilidades sociais e
nas possibilidades híbridas de conhecimento. Mediante esses aspectos optou-se pela pesquisa
qualitativa como epistemologia e metodologia estruturantes da investigação.
A tese foi estruturada em vários capítulos que se iniciam a partir do capítulo 2,
“Gestão Social: temáticas que permeiam o seu campo”, cuja discussão aborda a Gestão Social
como área interdisciplinar de conhecimento e de atuação. Buscou-se caracterizá-la conforme
os aspectos do contexto social no Brasil de forma a discutir as temáticas que a envolvem e
fundamentar o conhecimento que é produzido no seu campo de atuação. Na parte seguinte,
mais especificamente no capítulo 3, intitulado “Perspectivas de produção de conhecimento
socioprática integradas ao campo da Gestão Social”, analisaram-se as abordagens que
preconizam a produção de conhecimento socioprática, de forma a apontar sua interelação com
os pressupostos da Gestão Social e os seus desdobramentos entre acadêmicos e praticantes
dentro de um mesmo campo. O capítulo 4, “Relação entre academia e praticantes: campos de
poder que se conectam”, dedica-se a problematizar as relações estabelecidas entre academia e
praticantes, ancoradas pela discussão de campos de poder, considerando os desafios
vivenciados pela a universidade contemporânea, bem como as iniciativas desenvolvidas pelas
universidades como forma de enfretamento aos desafios apontados. Adiante, no capítulo 5,
“Procedimentos Metodológicos”, apresentam-se os recortes epistemológicos e metodológicos
da investigação, seguidos pela discussão dos procedimentos de coleta de dados. No capítulo 6,
29
intitulado “Análise dos dados: a produção de conhecimento sobre Gestão Social entre
academia e praticantes”, é analisada os dados de forma integrada às perspectivas teóricas
assumidas por essa tese. Por fim, nas considerações finais, foi retomado cada ponto explorado
na pesquisa com o intuito de desenhar o cenário da produção de conhecimento da Gestão
Social no Brasil associado às possibilidades de ressignificação e transformação do campo em
evidência a partir das interações entre acadêmicos e praticantes. Além disso, se propôs uma
nova agenda de pesquisa sustentada por temas paralelos, mas ainda não investigados, de
forma a suprir algumas lacunas referentes ao tema proposto.
30
2 GESTÃO SOCIAL: TEMÁTICAS QUE PERMEIAM O SEU CAMPO
O presente capítulo discute, brevemente, o cenário organizacional oriundo do quadro
industrial brasileiro marcado pelos os seus limites e desafios os quais vêm conduzindo as
novas abordagens de gestão orientada para a lógica social. Nesse âmbito, destaca-se a Gestão
Social como área interdisciplinar de conhecimento e de atuação. Porém, busca-se contemplar
os seus pressupostos e correntes temáticas apresentadas no campo da Administração, uma vez
que se propôs a pesquisar a produção de conhecimento sobre Gestão Social nos interstícios
das relações entre academia e praticantes envolvidas em organizações da sociedade civil.
A Gestão Social pode ser apreendida como uma forma de compreensão das
organizações e do gerenciamento que surge em um contexto marcado por uma “sociedade
managerial”, cujas características decorrem das ideias capitalistas como categorias
dominantes do pensamento econômico e do mercado, atribuindo à empresa e as práticas de
gestão um espaço central, de dominação e alienação da maioria (Chanlat, 1999 p. 16, Sachs,
Lopes & Dowbor, 2010).
Este fenômeno coloca em evidência as expressões gestão, gerir e gestor vinculadas aos
princípios administrativos da empresa privada, que elegeriam atributos como a eficácia,
produtividade, performance, competência, empreendedorismo, qualidade total, cliente,
produto e desempenho como prerrogativas de excelência organizacional (Aktouf, 1996).
Originário da indústria nascente, o universo da gestão é dominado pelos engenheiros
que escreveram os primeiros manuais de economia para manufaturas, predominando as
manifestações técnicas e econômicas em detrimento de outros aspectos sociopolíticos que
permeiam as organizações e sua gestão (Chanlat, 1999). O crescimento do tamanho das
empresas em alguns setores industriais e a expansão dos serviços, da produção e do mercado,
mais particularmente, no final do século XIX, levaram as empresas a se ampliar, aumentando
31
paralelamente a necessidade de regulamentação das funções de gestão e de controle das
corporações (Aktouf, 1996, Chanlat, 1999, Dowbor, 1999).
“A partir desse momento, a gestão de empresas conhece um grande desenvolvimento e
transforma-se em outra manifestação do crescimento da racionalização do mundo ocidental”
(Chanlat, 1999 p. 32). Esse movimento, sob a influência financeira e em nome da
globalização, é marcado por várias formas: as fusões e as aquisições, as reestruturações em
massa, a utilização de técnicas que buscam reduzir o tempo de resposta e os custos
operacionais das organizações que, até o presente momento, estão longe de alcançar os
objetivos estabelecidos inicialmente (Chanlat, 1999, Sachs et al, 2010).
Decorrente desse contexto, a “era das certezas pautada no pensamento mecânico
passou, levando muitos a olharem com surpresa e ansiedade a boa administração, as riquezas,
a produtividade e a eficiência econômica em detrimento da degradação da natureza e da
qualidade de vida” (Aktouf, 2001 p. 14).
Em face aos graves problemas afrontados pela sociedade, fragmentação do social,
empobrecimento, precariedade, exclusão, risco ecológico, urge a necessidade de se ampliar os
horizontes dos aspectos propriamente humanos. Assim, a dimensão social do
desenvolvimento deixa de ser um "complemento", para se tornar um dos componentes
essenciais da transformação social (Chanlat, 1999, Dowbor, 1999).
No decorrer de meio século, passamos de uma visão filantrópica, de
generosidade assistencial, de caridade, de um tipo de bálsamo tranquilizador
para as consciências capitalistas, para a compreensão de que a área social se
tornou essencial para as próprias atividades econômicas. Esta mudança
profunda de enfoque foi positiva. As áreas empresariais, com suporte de
numerosos estudos do Banco Mundial, passaram a entender que não se trata
de simples cosmética social, mas das próprias condições indispensáveis para
a produtividade empresarial (Dowbor, 1999 p. 8).
No cenário apontado, se observaria o retorno do ator social ao se destacar que toda
pessoa pode se constituir em um sujeito ativo e que a realidade das organizações se produz,
32
reproduz e se transforma por meio da interação dos diferentes grupos e indivíduos que as
compõem (Chanlat, 1999, Dowbor, 2005).
A partir do reconhecimento deste sujeito coletivo, imbuído de subjetividade, crítica e
reflexão de si mesmo, nasce a Gestão Social. Marcada pela ideia de centralidade do sujeito
nas esferas sociais, suas dinâmicas tentam articular o pensamento técnico dos que trabalham
com os processos econômicos com o pensamento imbuído de valores sociais. Essa
perspectiva, ainda que assinalada por aspectos que buscam mediar as “deformações das
prioridades que levou aos dramas atuais”, (Araújo, 2012 p. 15), sinaliza as dificuldades e os
conflitos presentes em processos no qual se prevê a interação entre o social, o econômico e o
político (Abramovay, 2012, Dowbor, 2010).
Tal visão aproximaria a Gestão Social a valores e práticas fundados na democracia e
cidadania, tendo em vista, o enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos
direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de
nova civilidade (Dowbor, 2008). “Estes referenciais apontam a práxis da Gestão Social,
enquanto mediação para a cidadania, que se contrapõe à perspectiva instrumental e mercantil
que vem sendo dada a este tema” (Maia, 2005 p. 16).
Vale destacar que a popularização do adjetivo "social" atrelada à gestão gera muita
ambiguidade sobre o que se está falando e tratando efetivamente (Pinho, 2010 p. 22), podendo
incorrer à prática da gestão dos problemas sociais ou ambientais e não a forma articulada de
organizar o conjunto para que funcione (Sachs et al, 2010). Nesse aspecto, poderia se
constituir uma "gestão contra o social", que conforme defende Maia (2005), se vinculam aos
processos de gestão no campo social, porém implementados a partir dos valores e propósitos
pouco democráticos, distantes da ampliação da cidadania e difusores de uma abordagem
extremamente tecnicista de gestão, além de alicerçar valores capitalistas. A partir desse foco,
os valores e propósitos do modelo de gestão adotado ficam facilmente identificados ao
33
reconhecer o homem neste projeto como objeto e não sujeito desse processo, já que a
centralidade da gestão residiria na técnica e no capital (Maia, 2005). Em decorrência disso, os
discursos e agendas de ação na esfera das políticas públicas, estratégias empresariais e
iniciativas da sociedade civil reduziriam a magnitude de transformação do campo da Gestão
Social ao traduzi-la em ações gerenciais na busca da eficiência e da eficácia de seus
resultados.
Por se tratar de um tema recentemente explorado no cenário brasileiro e por estar
associado às temáticas relativas às transformações do tecido social, o seu campo se encontra
em construção ou “in progress” (Bollousa, 2009). Percebe-se que a utilização do termo pode
se relacionar aos atores sociais que a empregam, ao universo organizacional em que é
exercida, às finalidades que se pretende atingir por meio da Gestão Social ou, ainda, às
características do processo de gestão a que se refere (Schommer e França-Filho, 2008). Esses
atributos têm motivado reflexões a respeito do significado da Gestão Social e de suas
características distintivas em relação a outros campos da gestão e outras maneiras de gerir.
Em meio a essas propriedades, assinala-se uma aproximação, mesmo que ainda tímida,
com o campo do trabalho social, decorrente da primazia dos valores democráticos e da defesa
de direitos, bem como pela essencial necessidade de inovação nas práticas de gestão, de modo
que se tornem mais relacionais e humanitárias (Araújo, 2012). Essa perspectiva estaria
aprofundado o discurso da Gestão Social no âmbito do Serviço Social, apontando novos
meios de implementar e gerir as políticas públicas territoriais com vistas à garantia dos
direitos para a promoção da cidadania (Maia, 2005).
Segundo Maia (2005), o Serviço Social constitui-se em um importante campo para a
afirmação da práxis da Gestão Social, especialmente pelo conjunto de compromissos e
referenciais ético e políticos, teórico e metodológicos e técnico e operativos, que objetivam a
afirmação dos valores da cidadania, democracia e justiça social. A autora ainda afirma que os
34
assistentes sociais contam com aportes significativos para contribuir na ampliação desse
debate, produções e práticas.
De forma similar, nota-se no campo da Administração um interesse não só em
desmistificar as "proezas convencionais" da gestão técnica e racional por meio de debates
teóricos e práticos relacionados à Gestão Social, como também em “construir novos
elementos, formas e finalidades de gerir as organizações e interorganizações voltadas para o
desenvolvimento socioterritorial” (Araújo, 2012 p. 19).
Nesse quadro, podem-se destacar as contribuições da Rede de Pesquisadores de
Gestão Social (RGS) as quais demonstram tentativas de desenvolver articulações
democráticas mediante uma visão intersetorial e interorganizacional (Mendonça, Gonçalves-
Dias & Junqueira, 2012).
A trajetória da Rede de Pesquisadores de Gestão Social iniciou em 2003,
informalmente, a partir da integração entre pesquisadores que já se articulavam
conjuntamente em diferentes iniciativas sócio organizacional. Decorrente dessa integração,
outros encontros de discussão e interações sob a perspectiva da Gestão Social foram
desenvolvidos, contemplando a apresentação de trabalhos científicos provenientes do campo
da Administração e áreas afins. Tais encontros eram e são promovidos pelo Encontro
Nacional de Pesquisadores em Gestão Social (ENAPEGS) que, desde 2007, vem buscando
ampliar o intercâmbio entre pesquisadores e atores sociais interessados na Gestão Social.
Segundo Cançado (2011) e Mendonça et al (2012), o evento pode ser considerado,
hoje, no país, o principal espaço de discussão da temática, o que é confirmado pela quantidade
de artigos submetidos no período de 2010 a 2012, alcançando mais de 350 (trezentos e
cinquenta) submissões. Além das contribuições da Rede de Gestão Social, observa-se um
movimento de construção desse campo a partir do surgimento de centros de pesquisas que se
dedicam ao estudo da temática. Nesse contexto, destaca-se a criação do Programa de Estudos
35
em Gestão Social, vinculado à escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da
Fundação Getúlio Vargas (PEGS/EBAPE/FGV), em 1990, como centro pioneiro no estudo da
Gestão Social no Brasil (Cançado, 2011). Em seguida, o estudo da Gestão Social se prolifera
por meio do Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade
Federal da Bahia (CIAGS/UFBA), bem como, pelo o Centro de Empreendedorismo Social e
Administração em Terceiro Setor da Universidade de São Paulo (CEATS/USP). O Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos Sobre o Terceiro Setor da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (NIPETS/UFRGS) e o núcleo de Estudos de Administração do Terceiro
Setor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (NEATS/PUC-SP) também se
apresentam como espaço de debates para essa construção.
Conforme Araújo (2012), como precursores da discussão que embasa o estudo da
Gestão Social, destacam-se as contribuições de Tenório (1998); Dowbor (1999); T. M. D.
Fischer (2002); Carrion (2006) e Junqueira (2008).
Em sua trajetória científica, Tenório (2008) aponta a Gestão Social como
“possibilidade de uma gestão democrática, participativa, quer na formulação de políticas
públicas, quer naquelas relações de caráter produtivo” e faz uma crítica ao termo quando esse
é associado à “gestão de políticas sociais, de organização do terceiro setor, do combate à
pobreza e até ambiental” (Tenório, 2008 p. 148).
Destacam-se também as produções da professora Tânia Fischer, criadora do Programa
de Desenvolvimento e Gestão Social (PDGS), em 2001, institucionalizado como CIAGS na
UFBA, a partir das várias pesquisas e experiências de ensino que desenvolve (Araújo, 2012).
No âmbito de suas proposições, a autora remete à Gestão Social a gestão do território social,
ancorado-a ao contexto local e nas articulações dos vários atores que o constituem (T. M. D.
Fischer, 2002). Nessa vertente, Dowbor (1999, 2008), sugere a redefinição das relações entre
36
o político, o enconômico e o social, como ponto crucial para se repensar as formas de
organização social.
Ainda, conforme as abordagens iniciais da Gestão Social, Carrion (2007) e Junqueira
(2008) ampliam a temática com discussões oriundas do combate à pobreza, garantia dos
direitos de cidadania e promoção do desenvolvimento (Araújo, 2012).
Apreende-se que a compreensão da complexidade da realidade na qual a Gestão Social
se insere contribuiria para destacar o seu caráter interdisciplinar, uma vez que, complexidade
em latim, “Complexus significa aquilo que é tecido junto, entrelaçamentos múltiplos”
(Mariotti, 2000). Essa proposição integraria conhecimentos orientados para a solução de
problemas que afetam pessoas, organizações e a realidade social na qual se inserem
(Mendonça et al 2012). Nesse sentido, observa-se que o campo da Gestão Social vem se
constituindo por meio de múltiplos saberes, definições e práticas que precedem a lógica
social, não se limitando a um conceito único.
Alguns autores como Tenório (2004, 2005), Boullosa e Schommer (2005), Gondim, T.
M. D. Fischer e Melo (2006) e França-Filho (2008) destacam a abordagem da participação
como elemento fundamental da Gestão Social. Dessa forma, a participação é reconhecida
como um processo baseado não somente na estratégia, mas, especialmente, na comunicação e
no diálogo, em espaços nos quais todos compartilham o direito à fala e o direito de participar
das decisões sobre objetivos e meios para atingi-los (Gondim, T. M. D. Fischer & Melo,
2006).
Conforme os argumentos acima, Gondim et al (2006, p. 70) afirmam que “a Gestão
Social deve estar a serviço de muitos, de interesses sociais e do bem comum”, de forma que, a
identificação desses interesses, desejos e opiniões daqueles que pretendem servir a Gestão
Social se constitui por meio da “participação dos próprios beneficiários da gestão, em
interação e por meio de relações dialógicas” (Gondim et al 2006 p. 70).
37
Ao utilizar a razão a partir do consenso alcançado por ação social baseada, sobretudo,
na comunicação e no diálogo, evidenciar-se-ia a necessidade de acordos alcançados
comunicativamente (Tenório, 2004). Em outras palavras, a Gestão Social segundo Tenório
(2004), se orientaria para um processo de governança no qual se buscaria a inclusão daqueles
atores sociais que em outros contextos e modelos de gestão são tomados como meros objetos
e elementos passivos no processo administrativo. A solidariedade também apareceria como
um dos motivos constitutivos da própria gestão, que se encontraria em discordância com o
que se manifesta, sobretudo em muitas das abordagens e intervenções gerenciais no universo
das organizações empresariais privadas (Tenório, 2005). “Enquanto na gestão estratégica
prevalece o monólogo, o indivíduo, na Gestão Social deve sobressair o diálogo, o coletivo”
(Tenório, 2005 p. 36).
Ao destacar a inclusão dos autores em processos organizacionais de bases dialógicas,
observa-se que a Gestão Social contribuiria para a emancipação das pessoas, se colocando
como uma “gestão no qual o ser humano se desenvolve e com isto, a própria sociedade se
desenvolve nas mais variadas dimensões: ambiental, econômica e cultural” (Cançado, 2011 p.
124). Em relação à hegemonia da tradição positivista, centrada na racionalidade utilitária do
pensamento administrativo, compreende-se que Gestão Social poderia ser considerada como
uma “linha de fuga” na qual os agentes do processo, administradores e administrados,
desenvolvem suas ações de forma emancipatória” (Tenório, 2008 p. 31).
Nota-se que, a abordagem da Gestão Social atrelada aos preceitos que incorporam a
noção da participação e da emancipação social representa os meios no qual ela se articula,
configurando-se em processos. Porém, “a ideia de Gestão Social orienta-se à gestão das
demandas e necessidades do social” (França-Filho, 2008 p. 29), conferindo a ela a noção de
fim ou como uma finalidade a ser alcançada. Este escopo teria surgido no seio da
modernidade em uma sociedade na qual a esfera econômica desempenha efetivamente um
38
papel determinante, já que se vive em uma sociedade do trabalho e na qual o "social" seria
identificado como um dos espaços do não trabalho (França-Filho, 2008). Neste âmbito, nota-
se certa confusão ao compreender Gestão Social com gestão pública cuja ideia é contestada
por alguns autores como França-Filho (2008) Pinho (2010), T. M. D. Fischer (2008), Tenório
(2004).
Essa noção crítica permite orientar a discussão da Gestão Social para um novo
paradigma de interação entre Estado e sociedade (Boullosa & Schommer, 2005). Um modelo
no qual o Estado reveria sua suposta primazia na condução de processos de transformação
social e assumiria a complexidade de atores e de interesses em jogo como definidora dos
próprios processos de significação e construção de bens públicos. A partir dessa visão, o
público corresponderia a um espaço de interações entre diversos interesses que, articulados,
definiriam valores comuns, envolvendo os direitos dos cidadãos e sua participação na gestão
(Boullosa & Schommer, 2005, Gondim et al, 2006).
Além dessa aproximação teórica, observa-se que o termo Gestão Social se inseriria
também nos debates sobre a noção de desenvolvimento social orientado pela “transição entre
modelos do século passado e novas formas comprometidas com utopias de desenvolvimento
local, que os tempos de crise fazem emergir” (T. M. D. Fischer, 2006 p. 797).
Essa proposição parte das considerações apontadas por autores como T. M. D. Fischer
(2002), Carrion e Calou (2008) e Gondim et al (2006), ao considerarem a gestão do
desenvolvimento social ou gestão social como um processo de mediação que articularia
múltiplos níveis de poder na sociedade (T. M. D. Fischer, 2002). Nessa perspectiva, a gestão
não se constituiria em uma função exercida apenas por um gestor, mas por um coletivo que
poderia atuar em grau maior ou menor de simetria/assimetria e delegação, o que traria uma
carga potencial de conflito de interesses entre atores envolvidos e entre escalas de poder (T.
M. D. Fischer, 2002).
39
T. M. D. Fischer (2002, p. 29) amplia essa discussão ao definir desenvolvimento social
como um espaço “reflexivo das práticas e do conhecimento constituído por múltiplas
disciplinas”, permitindo significar a Gestão Social como gestão orientada para o social
(enquanto finalidade) e pelo social (enquanto processo), norteada pelos princípios da ética e
da solidariedade” (T. M. D. Fischer & Melo, 2006, p. 17). O local tornar-se-ia a esfera por
excelência da Gestão Social, e essa articulação levaria à construção de estruturas de
governança, com significativa participação da sociedade local, configurando um novo modo
de se tecer o desenvolvimento (Carrion & Calou, 2008 p. 17).
A noção de Gestão Social vinculada ao desenvolvimento social se insere em espaços
intersticiais de sobreposições com a esfera estatal e do mercado, nos quais se apresentariam
organizações com múltiplas configurações e, em vários casos, de natureza híbrida (Alves,
2002, Teodósio, 2010). Essas organizações, constituídas da conexão da sociedade civil,
Estado e mercado, ao mesmo tempo em que ganham identidade, se tornariam peças
estratégicas no jogo dos chamados poderes espacialmente localizados (T. M. D. Fischer &
Melo, 2006).
Suas características em relação ao tamanho, grau de formalização, volume de recursos,
objetivos institucionais e forma de atuação variariam de forma expressiva. Mas, nota-se um
consenso vinculado ao poder que desenvolvem relativo a auto-organização, ao potencial de
transformar suas estruturas e estratégias de regulação de seu próprio destino (Martelleto,
1997).
A identificação com a ética do bem comum e o uso do espaço público como contexto
de referência seriam outros atributos preponderantes na formação dessas organizações, que
permitiriam a elas serem interlocutoras importantes no campo das políticas públicas e das
ações de desenvolvimento socioterritorial (T. M. D. Fischer & Melo, 2006).
40
Sem incorrer no risco de reduzir as organizações da sociedade civil ao campo de ação
denominado terceiro setor, este espaço no qual se reconhece a atuação dessas organizações
seria constituído por “agentes de natureza privada que praticam ações visando a fins públicos”
(Alves, 2002 p. 2). Segundo Evers (1995, p. 161) as organizações podem ser traduzidas
“como um subespaço do espaço público nas sociedades civis, isso é, como um campo de
tensão sem fronteiras muito definidas, no qual diferentes racionalidades e discursos coexistem
e se interceptam”. As organizações do terceiro setor teriam características polivalentes,
incluindo fatores políticos e sociais. Seriam organizações híbridas e mesclariam recursos e
racionalidades de diversos setores (Evers, 1995, Salamon & Anheier, 1997) as quais são
vistas por muitos como as organizações centrais no campo de estudos e de ação da Gestão
Social. Em ambientes de políticas públicas caracterizadas pelo pluralismo, enfatiza-se no
terceiro setor, a mistura sinergética de recursos e de racionalidades, e passam para o plano
secundário os processos de mera substituição de uns setores por outros na promoção de
serviços e bens públicos (Alves, 2002).
Essa noção circunda o campo da Gestão Social ao se identificar programas públicos e
agentes governamentais, bem como atores empresariais privados vinculados à estratégias de
responsabilidade social. O resultado de tudo isso são múltiplas dimensões de ação e natureza
de ser na Gestão Social, trazendo encontros e desencontros, alianças e embates, racionalidades
híbridas e não necessariamente centradas na auto-organização comunitária, nem tampouco na
estrita racionalidade técnica e burocrática do mercado ou do Estado. Isso traria complexidade
à produção de conhecimento em Gestão Social, bem como ao campo no qual atores
acadêmicos e ligados à práxis da Gestão Social se encontram e desencontram.
Nas décadas de 1980 e 1990, há um crescimento mundial das organizações não
governamentais e tem início também uma fase de fortalecimento da ideia de responsabilidade
social (R. M. Fischer, 2005, Junqueira, Vinhas, Perret, & Teixeira, 2009). Nesse contexto,
41
nota-se aspectos que denotam a conscientização dos gestores sobre o próprio papel como
cidadãos, colocando em primeiro plano a vontade de colaborar com a sociedade com a qual
convivem antes da expectativa de vantagens para a organização que dirigem (Pinto, 2008 p.
409). Infere-se que essa perspectiva permite expressar ações e temáticas que fundamentam a
Gestão Social. Em outras palavras, exibe uma ideia ligada ao conceito de ética, de “boa
consciência”, estabelecendo a “certeza de agir como convém” (Durozoi & Roussel, 1996, p.
66).
Observa-se outra vertente que destaca a responsabilidade social da empresa
caracterizada pelo o interesse da administração em tomar decisões e ações que irão contribuir
para o bem-estar da sociedade. Ou seja, a responsabilidade dos dirigentes da empresa não se
restringiria exclusivamente à gestão do negócio para a obtenção do lucro, mas também a
respectiva influência de suas ações no âmbito social (Azevedo, 2002, Schwartz, 2003,
Abramovay, 2012).
Makover (1994) corrobora esta ideia ao afirmar que uma empresa socialmente
responsável procuraria ter uma visão de que tudo que ela faz gera uma variedade de impactos
diretos e indiretos dentro e fora dela, atingindo desde os consumidores e empregados até a
comunidade e o meio ambiente. Por definição, a responsabilidade social empresarial
ancoraria-se na noção de que as corporações possuem a obrigação de trabalhar para a
melhoria do bem-estar social (Frederick, 1994, Schwartz, 2003, Marini, 2005).
Intera-se que as perspectivas apontadas colocam as organizações em uma posição de
centralidade no qual seus interesses são evidenciados como prioridade. Nesse aspecto, a
sociedade deixa de ser o ator principal na relação com as empresas e outros setores, dando
continuidade a hierarquia de poderes estabelecida entre a economia e o social (Alves, 2002,
Azevedo, 2002, Abramovay, 2008, Sachs et al, 2010).
42
Outra dimensão organizacional na qual a literatura brasileira atribui aspectos de cunho
social, do bem coletivo e de articulação entre múltiplos atores é o da economia solidária,
entendida como o a construção de práticas solidárias entre trabalhadores sob o capitalismo
(Singer, 2000). Para Costa e Carrion (2006), a economia solidária compreenderia uma
pluralidade de tipos de empreendimentos, cooperativas, associações, grupos não formalizados
de geração de trabalho e renda pautados pela gestão coletiva, propriedade comum dos meios
de produção e relações de trabalho reguladas pelos princípios de autogestão, participação,
cooperação, desenvolvimento humano e igualitarismo.
Os autores ressaltam que a desigualdade insustentável da contemporaneidade,
conforme qualificou Boff (2001), estaria sensibilizando atores sociais de distintas ideologias
em torno de propostas alternativas de desenvolvimento, cenário esse no qual se institui a
perspectiva de uma economia solidária, como vetor de um desenvolvimento alternativo à ideia
clássica capitalista.
Porém, vale ressaltar que “a economia solidária se propõe ir além dos atributos
econômicos, pois ela compreende a inserção da dimensão política no mercado” (França-Filho
& Laville, 2004, p. 48). No entanto, é a ausência dessa dimensão política que mais
prejudicaria a tarefa de se promover um desenvolvimento alternativo segundo Cordeiro Neto,
Alves e Rigo, (2011). Conforme Furtado (1984, p. 12), “nenhum avanço real é exequível sem
desenvolvimento político, sem democracia substantiva. Nosso real atraso é político e não
econômico”.
Segundo França-Filho e Laville (2004), o entrelaçamento entre os campos econômicos
e políticos, é que constituíram o cerne da economia solidária. “Desse enlace a solidariedade
entre os indivíduos não dispensaria a participação estatal, mas esta última estaria articulada à
sociedade civil, que não seria um apêndice das políticas, possuindo autonomia e identidade
própria” (Cordeiro Neto et al, 2011, p. 176).
43
Além dessas vertentes temáticas, outros termos foram cunhados. São expressões que
ressignificam alguns temas já expressos neste campo, bem como termos oriundos de outro
campo, como o da “Outra Economia” (Cattani, 2009 p. 9), que denotam uma proximidade
conceitual com a Gestão Social.
A “Outra Economia”, expressão utilizada por Cattani (2009 p. 7), designa alternativa
material e humana superior à economia capitalista. Mediada por termos tais como “economia
solidária, economia do trabalho, novo cooperativismo e outros, essas formas são regidas pelos
princípios da solidariedade, da sustentabilidade, da inclusão, enfim, da emancipação social”
(Cattani, 2009 p. 7). Nota-se que esses termos amparam as articulações da Gestão Social e
buscariam traduzir nos anseios de atores que intermediam diferentes campos de ação social.
A abordagem política conferida à práxis da economia solidária, bem como das
discussões que permeiam a “Outra Economia” (Cattani, 2009 p. 7) permitiria recorrer às
múltiplas visões decorrentes de diferentes campos de estudo dentro da Gestão Social. O
mesmo se daria quanto à práxis da Gestão Social. Em linhas gerais, essa multiplicidade de
tipos organizacionais, racionalidades, propostas de gestão e intervenção socioambiental e
estabelecimento de objetivos podem ser compreendidas a partir de três frentes: sociedade civil
e suas organizações; programas e projetos governamentais visando a cidadania; a redução da
desigualdade e a democratização da sociedade; estratégias e ações de responsabilidade social
empresarial.
A Figura 1 “Temas e Abordagens na Produção de Conhecimento em Gestão Social”
apresenta, de forma sintética, as principais abordagens teóricas que se manifestam no campo
da produção de conhecimento sobre a Gestão Social.
44
Figura 1. Tema e Abordagens na Produção de Conhecimento em Gestão Social.
Destaca-se na Figura 1 “Temas e Abordagens Produção de Conhecimento em Gestão Social” uma sobreposição
dos temas que expressam a Gestão Social a fim de contemplar as convergências e disputas interpretativas,
teóricas e conceituais existente entre eles.
Fonte: Produção Própria
A partir desse arcabouço conceitual é possível vislumbrar processos de Gestão Social
heterogêneos orientados para um fim comum, representados pela noção de participação,
emancipação e desenvolvimento social. Essa perspectiva aponta uma construção mediada por
múltiplos saberes que contribui para a sua pluralidade discursiva e para a constituição de um
campo híbrido, no qual o aspecto econômico deixa de ser uma prioridade, acentuando-se a
centralidade na dimensão política (Schommer & França-Filho, 2008).
Como conexão entre a Figura 1 “Temas e Abordagens na Produção de Conhecimento
em Gestão Social” a Figura 2 “Verbetes Presentes no Campo da Produção de Conhecimento
em Gestão Social” apresenta um conjunto de verbetes construídos pela evolução crescente de
Organizações da Sociedade
Civil Alves (2002); Teodósio (2010); Tenório
(1999); Ever (1995).
Processo
Participação, Emancipação,
Desenvolvimento Social Fischer (2002, 2006, 2008); Boullosa e Schommer (2005);
Carrion & Calou (2008); Gondim et al (2006); Fischer e
Melo (2006); Cançado (2011); Tenório (2002, 2004,
2008); Marteleto (2012); França-Filho (2008); Pinho
(2010)
Finalidade
Responsabilidade Social Junqueira et al (2009); Pinto (2008);
Durozoi; Roussel (1996); Daft (1999);
Makover (1994); Frederick (1994).
Processo
Economia Solidária Singer (2000); Costa e Carrion (2006); Boff
(2001); França-Filho e Laville (2004);
Cordeiro Neto et al (2011).
Processo
Organizações da
Sociedade Civil
Processo
Participação, Emancipação,
Desenvolvimento Social
Finalidade
Economia Solidária
Processo
Responsabilidade Social
Processo
45
um cenário ancorado na lógica social e disseminado pelas redes que o compõem.
Figura 2. Verbetes Presentes no Campo da Produção de Conhecimento em Gestão Social
Como forma de expor o mapa conceitual da Gestão Social, a Figura 2 - “Verbetes Presentes no Campo da
Produção de Conhecimento em Gestão Social” traz contribuições de campos diferentes que enfatizam a
pluralidade de temas cujo alicerce se ergue em torno dos princípios da solidariedade, do coletivismo e da
transformação social como ato de cidadania.
Fonte: Boullosa, 2014; Cattani e Holzmann (2006); Cattani, Laville e Gaiger (2009).
46
Ressalta-se a intenção de demonstrar que todos os verbetes se enquadram nas esferas
da sociedade civil, do Estado e do Mercado sem uma lógica sequencial, o qual buscou
assinalar expressões e noções que os atravessam e os interligam, formando um campo de ação
para acadêmicos e praticantes.
Os pressupostos sobre Gestão Social apresentados nesse capítulo foram pesquisados a
partir das produções científicas nacionais. Porém, apesar do termo Gestão Social não ser
disseminado dessa forma na literatura internacional, há várias temáticas discutidas que
contemplam os fundamentos da Gestão da Social aqui analisados.
Estes temas podem ser identificados nas produções científicas internacionais ao
considerar as abordagens acerca do capital social, empreendedorismo social, voluntariado e as
delimitações conceituais sobre o terceiro setor. Tais abordagens discorrem sobre os processos
de engajamento social, consciência coletiva, confiança estruturada por meio de interesses
comuns, dialógicos e solidariedade (Leana e Pil, 2006, Fredette & Bradshaw, 2012), o que
permite inferir uma proximidade relacional com os estudos desenvolvidos pela produção
científica brasileira.
Os aspectos conceituais apontados pela literatura internacional cuja relevância se apoia
nos recursos sociais, ganharam destaque nos estudos sobre gestão e governança (Adler &
Kwon, 2002, Nahapiet & Ghoshal, 1998), ao demonstrarem aumentar desempenho coletivo,
partilha de informação e redução de conflito (Jehn, Northcraft & Neale, 1999). Porém, essas
temáticas não foram denominadas de Gestão Social. Compreende-se que esta terminologia é
uma apropriação da produção científica brasileira ao adicionar o adjetivo social a gestão, o
que permitiria expressá-la como um ato relacional que se estabelece entre pessoas, em
espaços e tempos relativamente delimitados, objetivando realizações e expressando interesses
de indivíduos, grupos e coletividade (T. M. D. Fischer, 2006).
47
Lewis (1998) argumenta que, a produção científica internacional ao abordar as
organizações não lucrativas ou do terceiro setor, direcionam seus estudos para características
gerenciais e organizacionais. Dessa forma, o autor evidencia duas categorias distintas de
pesquisa acadêmica ao considerar os países no qual são realizadas.
Em países do norte ou industrializados os trabalhos seriam focados na gestão das
organizações e em países do sul ou em desenvolvimento, a literatura sobre o Terceiro Setor se
apoia nas Organizações não Governamentais (ONGs), terminologia característica das
pesquisas desses países, que tem estado interessada no crescimento e evolução de suas
funções. Nesse sentido, destaca-se o trabalho focado na mudança social, pautados em assuntos
políticos sobre a relação das ONGs com o Estado e doadores, e com as comunidades no qual
estão inseridas (Lewis, 1998). Em geral, a literatura sobre ONGs tem focado as suas funções
nas práticas de desenvolvimento.
Em contraste, a produção científica sobre Organizações não Lucrativas, terminologia
característica das pesquisas realizadas em países do norte ou ocidentais, tem definido suas
prioridades diferentemente (Lewis, 1998). Tem se concentrado mais na prestação de serviços
de caráter organizacional do que organizações voltadas para a defesa de direitos e para a
mudança social (Billis, 1993, Salamon, 1994), dando mais prioridade à estrutura
organizacional e temas sobre gerenciamento interno das organizações (Lewis, 1998).
Corroborando essa ideia, os estudos de Mirabella e Young (2012), apontam que esta
distinção categorizada por Lewis (1998) pode ser explicada ao considerar que cada país tem
uma combinação diferente de sistemas jurídicos e políticos, desenvolvimento econômico ou
histórico e religioso o qual permite identificá-los como variáveis explicativas que determinam
a escala, o escopo e as funções do setor. Tais aspectos demonstram possibilidades de diálogos
mais adequados, menos hierárquicos e mais avançado entre tradições de pesquisas, saberes,
48
sociedade, atores sociais, centros de investigação e universidades (Teodósio, 2008, Alves,
2002).
Este capítulo, norteado pela questão, “Como se dão as relações entre acadêmicos e
praticantes no contexto brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão Social”
buscou destacar que existem inúmeros atores, acadêmicos e praticantes no campo da Gestão
da Social, com múltiplas abordagens e pressupostos sobre diferentes temas e focos de estudo,
produção de conhecimento e frentes de ação que configuram a Gestão Social, desde a inclusão
social, passando pela redução das desigualdades, pela promoção do desenvolvimento local
sustentável até chegar na governança compartilhada e democrática e no controle social do
mercado, das corporações e do próprio Estado. Apreende-se que todos esses aspectos tornam
o campo da Gestão Social um espaço social rico em embates, debates, conflitos, disputas de
poder e formas de ação, tanto em termos nacionais quanto internacionais, fazendo dele um
rico objeto de estudo sob o ponto de vista da produção de conhecimento.
Adiante, analisaram-se as abordagens que preconizam a produção de conhecimento
socioprática a fim de apontar sua interelação com os pressupostos da Gestão Social e os seus
desdobramentos entre os acadêmicos e os praticantes. Em outras palavras, entre o campo do
conhecimento científico e o campo do senso comum, empírico.
49
3 PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO SOCIOPRÁTICA DE CONHECIMENTO
INTEGRADAS AO CAMPO DA GESTÃO SOCIAL
É importante destacar que, “na gestão e, especialmente na Gestão Social, estão
compreendidas muitas formas de aprendizagem” (Schommer & Boullosa, 2010 p. 16). Por
outro lado, “na aprendizagem estão presentes as formas da gestão, por se tratarem ambas de
atos integradores entre pessoas que detém, em um determinado momento, em um espaço
delimitado, poderes assimétricos sobre resultados desejados e sobre os itinerários a escolher”
(Schommer & Boullosa, 2010 p. 16).
Supõe-se que a geração de conhecimento seria mediada por dimensões de cunho social
e organizativo, ao se conceber que a aprendizagem, embora possa ser verificada e analisada
no campo individual e psicológico, se fundamentaria em processos sociais (Schommer &
Boullosa, 2010, Bauman, 2008).
Essa concepção de aprendizagem derivaria da abordagem social ou socioprática cujos
aspectos fundamentam o estudo da produção de conhecimento adotado por esta pesquisa.
Partiu-se do pressuposto que a aprendizagem se constitui como resultado de interações e
práticas compartilhadas pelos atores sociais, manifestando-se nas posturas, formas de ação e
interação social cotidiano. A aprendizagem não seria compreendida como um objeto a ser
analisado, um produto ou um processo técnico que aconteceria na mente dos indivíduos, mas
sim como uma prática social que seria parte do processo de construção da realidade,
entrelaçada com a cultura e com a política (Easterby-Smith, Araujo, 2001, Lave & Wenger,
1991).
Para Schommer e Boullosa (2010) mais importante do que analisar processos
cognitivos individuais é perceber contextos culturais e sociais dos quais as pessoas interagem,
constroem suas práticas compartilhadas e seus repertórios cognitivos e emocionais. Contudo,
destaca-se que a percepção de aprendizagem configurada na prática social considera a prática
50
não como oposta da teoria ou de reflexão, mas como práxis, de ação e reflexão
permanentemente imbricadas, sempre em relação a um contexto em que faz sentido para o
praticante (Freire, 1987). “Ler, ouvir, pesquisar, parar, aquietar-se, refletir sobre o que foi
vivido, sistematizar conhecimento, tudo isso faz parte do processo de aprendizagem”
(Schommer & Boullosa, 2010 p. 21).
Esse processo estaria relacionado à reestruturação contínua do sistema de significados
e significantes, permitindo a consolidação da aprendizagem, que não se realizaria em um
contexto livre de modelagem (Schommer & Boullosa, 2010 p. 21). Pelo contrário, a
abordagem social ressalta que a aprendizagem aconteceria no seio das estruturas sociais e
culturais, enfatizando a interdependência relacional entre sujeito, mundo, atividade,
significado, cognição, aprendizagem e conhecimento. Este, num mundo socialmente
constituído, seria mediado pelo contexto histórico que o cerca e que se apresentaria aberto
para as mudanças (Lave & Wenger, 1991). Partindo dessas premissas, infere-se que onde há
aprendizagem há produção de conhecimento dinamizada pelas relações instituídas entre os
indivíduos.
Silva (2004) aponta para as diversas definições dadas para o conhecimento que
normalmente consideram diferenciações hierárquicas. Esta noção, em sua maioria, baseia-se
na ideia de que “conhecimento é formado por informação, que pode ser expressa, verbalizada
de cunho relativamente estável ou estática” (Silva, 2004 p. 145). Por sua vez, está em
“completo relacionamento com uma característica mais subjetiva e não palpável, que está na
mente das pessoas e que é relativamente dinâmica, envolvendo contextos, interpretação e
reflexão” (Silva, 2004 p. 145).
Tais proposições permitem observar duas partes constituintes do conhecimento que
seriam intrinsecamente relacionadas, o conhecimento subjetivo, identificado pelas habilidades
inerentes a uma pessoa; sistemas de ideias, percepção e experiência, bem como o
51
conhecimento formalizado, codificado, transferido por meio de textos, gráficos, tabelas,
figuras, desenhos; facilmente organizado em bases de dados e em publicações em geral
(Nonaka & Takeuchi, 1997). Estes dois tipos de conhecimento se apoiam no conhecimento
tácito e no conhecimento explicito.
Segundo Nonaka & Takeuchi (1997) um trabalho efetivo com o conhecimento
somente é possível em um ambiente em que possa ocorrer conversão entre esses dois
formatos (Silva, 2004).
Albagli e Maciel (2004) ampliam essa discussão ao destacarem a relevância do
conhecimento como capacidade de processar e recriar significados e, mais ainda, na
capacidade de converter esse conhecimento em ação, ou, mais especificamente, em inovação.
Essa concepção, ao elevar os aspectos do conhecimento e suas implicações para a
transformação social, orientam as bases epistemológicas deste estudo. Pressupõe-se, na
presente investigação, que a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir das
interações sociais, possibilitaria a mobilização, a ressignificação de saberes diversificados e
compartilhamento entre os atores do campo científico e os atores da sociedade envolvidos nas
lutas sociais.
A fim de expor as perspectivas e os limites acerca do conhecimento gerado pelos
acadêmicos e pelos praticantes da Gestão Social, as sessões adiante apresentam os contextos
nos quais esses atores estão inseridos e os processos de conhecimento decorrentes da
abordagem socioprática, como pano de fundo para essa discussão.
Para fins deste trabalho, a noção de praticantes vincula-se aos aspectos analisados por
Ospina et al (2001), que os considera como atores sociais reflexivos e trabalhadores ou
profissionais que visam em alguma medida encontrar novos conhecimentos aplicáveis ao
próprio contexto de trabalho. Compreende-se que os praticantes estão presentes ou podem
transitar tanto no âmbito acadêmico como no âmbito pertencente ao chamado mundo da vida.
52
Porém, ao se propor analisar a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir das
relações entre acadêmicos e praticantes, estabelece-se um quadro de dimensões que, apesar de
integrados, são compostos por atores que se articulam de forma diferente e que são
constituídos por distintos propósitos. À academia foi considerado, primordialmente, o aspecto
que caracteriza o seu campo institucional, o de produção e de disseminação do conhecimento
científico. Quanto aos praticantes consideraram-se os atores que estão inseridos em contextos
práticos da vida vinculados a processos organizacionais de cunho social. Todavia, se
reconhece que os praticantes podem transitar entre a práxis da Gestão Social e o espaço
acadêmico de investigação, produção e transmissão de conhecimento, construindo não
espaços sociais díspares, excludentes e distintos, mas sim sobrepostos, fluídos e híbridos.
Ainda assim, considera-se que acadêmicos e praticantes se constituem em grupos de atores
sociais distintos no campo da Gestão Social.
Nesse sentido, contemplaram-se na primeira parte os pressupostos teóricos e
evolutivos acerca das organizações da sociedade civil, bem como as possibilidades de
produção de conhecimento dos praticantes pertencentes a esse campo. Adiante, discutiram-se
as perspectivas que norteiam o conhecimento produzido pela academia as quais se ancoraram
nas abordagens do ensino crítico da Administração. A discussão guiou-se a partir dos aspectos
críticos do ensino da Administração por observar um intenso interesse de pesquisadores e
estudiosos deste campo sobre a Gestão Social e por nela residir perspectivas fundamentadas
nas possibilidades e nos limites da cientificidade pós-moderna a qual se considera basear as
discussões que permeiam a Gestão Social.
53
3.1 Produção de conhecimento sobre Gestão Social no âmbito dos praticantes: desafios e
possibilidades.
No domínio da esfera pública, salienta-se a articulação de diversas organizações,
oriundas de movimentos da sociedade civil, em torno de experiências de formação e
construção de novos conhecimentos. Porém, se observa um caráter reducionista ao tratá-las
como um todo do Terceiro Setor. Em outras palavras, as organizações não-lucrativas seriam
uma parte constitutiva da Sociedade civil, não sua totalidade (Alves, 2004).
Segundo Alves (2004, p.142), a alusão ideológica ao Terceiro Setor evoca “duas
formas de falseamento da realidade”. A primeira se expressa na tentativa de “reduzir o
aspecto político da Sociedade Civil ao transformá-la em um espaço de prestação de serviços
com a finalidade substituir o Estado” (Alves, 2004 p. 143). E a segunda, “excluindo
organizações de finalidade lucrativa da Sociedade Civil, os novos ideólogos pretendem
despolitizar o mercado, tornando-o apenas objeto de considerações técnicas” (Alves, 2004 p.
143).
A Sociedade Civil ao se constituir em um espaço de ação para indivíduos e
organizações de natureza múltipla (Sobottka, 2002, T. M. D. Fischer & Melo, 2006,
Teodósio, 2010, Alves, 2004) no qual se observa um continuum com o Estado, denota um
caráter político e não somente estrutural de delimitação da sociedade.
Esse aspecto político pode ser observado no cenário de atuação das organizações da
Sociedade Civil no Brasil, o qual seria composto por uma variedade de agentes e
organizações, sendo que alguns deles, historicamente, e por diferentes óticas e programas de
ação, vêm tentando ampliar a democratização da sociedade (Schommer, 2002, Alves, 2004,
Teodósio, 2010).
54
Derivadas dos ideais dos movimentos populares a favor da redemocratização no país,
a sua origem está ligada a tradição de mobilização de base brasileira, a qual alcançou o seu
auge na década de 1960, quando a sociedade organizou diferentes frentes de luta por reformas
no país (T. M. D. Fischer & Melo, 2006, Paes-Paula, 2005). Após o golpe de 1964, essas
mobilizações retornaram na década de 1970, período no qual a Igreja Católica catalisou a
discussão de problemas coletivos nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), inspirada pelos
ideais da teologia da libertação e da educação popular (Paes-Paula, 2005).
Este movimento se consolidou como um espaço alternativo para a mobilização política
ao estimular a participação popular no debate das dificuldades cotidianas, contribuindo para a
formação de lideranças populares (Paes-Paula, 2005). Alguns outros grupos também
protagonizaram mobilizações pelos direitos de cidadania, como, por exemplo, os movimentos
que protestavam contra o custo de vida, o desemprego, a repressão política e a opressão da
mulher (Gohn, 1995).
A partir da década de 1980, Centros Populares constituídos por militantes políticos
para facilitar sua atuação nas CEBs e nas bases comunitárias em atividades como as de
assessores, educadores e organizadores da mobilização popular, passaram a ser denominados
de Organizações não Governamentais (Paes-Paula, 2005).
No desenvolver de sua atuação, as ONGs ganharam importância por serem potenciais
parceiras do poder político, em decorrência de sua estruturação (Gohn, 1997). “Essa relação
de parceria passou a ser estimulada, uma vez que o discurso neoliberal pressupõe a retirada do
Estado de uma série de atividades e a primazia do mercado” (T. M. D. Fischer & Melo, 2006,
p. 27). Nesse cenário, observa-se uma reconfiguração do modelo de financiamento às ONGs
cujo caráter assistencialista submete-se a auto sustentabilidade (Gohn, 1997).
Sem deixar de trabalhar as consciências dos sujeitos das classes populares, nos últimos
anos, a ação das organizações da sociedade civil passa a interceder, por meio da
55
instrumentalização, as camadas populares, de modo que estas participem, junto ao poder
público, das decisões relativas à elaboração e implantação de políticas que resultem em
melhores condições de vida para a população (Marteleto & Ribeiro, 1997).
Destaca-se que os ideais que fundamentaram as ações das organizações da sociedade
civil se apoiaram na educação problematizadora de caráter libertador de Freire (1987). Para o
autor a libertação compreendia a luta de classes por meio da reflexão crítica sobre a própria
ação, a qual permitia descobrir por que razões atuam desta ou daquela maneira (Freire, 1987).
Apreende-se que essa perspectiva associa-se aos termos hoje empregados na Gestão Social os
quais demonstram orientar uma produção de conhecimento para a formação e para a ação no
campo. Todavia, ressalta-se a existência de organizações da sociedade civil desprovidas do
ideal politizador cujos propósitos se sustentam em serviços assistenciais e relacionados à ação
social de empresas.
A mediação com o Estado, sociedade, bem como com o mercado, conferem as
organizações da sociedade civil aspectos paradoxais e controversos por advogarem
autonomia, auto-organização e estratégias de regulação de seu próprio destino em
consonância com a ética do bem comum e do uso do espaço público como contexto de
referência (T. M. D. Fischer et al, 2006). “Sua legitimidade deriva das ações que empreendem
e do impacto que elas têm na sociedade civil em que se originam e que, de forma especial,
espelham” (T. M. D. Fischer et al, 2006, p. 791).
Essa perspectiva basearia-se em um pressuposto por elas construído historicamente,
que entende que o seu espaço de ação corresponde a um vazio criado, dentre outros fatores,
pela omissão do Estado no atendimento às necessidades básicas da população marginalizada e
pelo meio acadêmico, capaz de atender à sociedade com soluções técnicas, mas ainda de
forma crítica para o desenvolvimento social (Marteleto & Ribeiro, 1997).
56
Nesse âmbito, lhes seria incumbida a tarefa de construir novas transversalidades entre
espaços institucionais (Meister, 1992), possibilitando assim, em seu campo de formação e
ação, interseções simbólicas com os campos políticos, econômicos e científicos (Marteleto &
Ribeiro, 1997).
Tais interseções podem ser observadas através de sua atuação em empresas privadas
por meio de suas estratégias de responsabilidade social empresarial em que se vislumbram
ações e dinâmicas além da lógica de mercado. Nesse sentido, vale destacar que, de acordo
com a noção de espaço público, constituído por agentes com características diferentes, mas
com certos objetivos comuns, “parecem emergir valores e a consciência de que os desafios da
atualidade são responsabilidades de todos e somente o compartilhar de competências pode ser
capaz de enfrentá-los” (Schommer, 2002 p. 94).
Essa perspectiva permite salientar as dinâmicas que envolvem o investimento social
das empresas que, num sentido restrito, direcionam recursos de impacto direto nas
comunidades sem se relacionar diretamente à sua cadeia produtiva (Schommer, 2002,
Junqueira, 2010). Esta ação social pode ser protagonizada por empresas, fundações e
institutos de origem empresarial ou instituídos por famílias ou indivíduos (Junqueira, 2010 p.
302) nos quais se inserem os praticantes da Gestão Social.
No âmbito do Estado, também é possível verificar manifestação de praticantes da
Gestão Social por meio dos conselhos de políticas públicas que defendem diferentes agendas
como as causas socioambientais relativas ao combate a pobreza, desenvolvimento local,
redução das desigualdades, dentre outros. Esses canais de participação popular fazem parte do
processo de redemocratização, onde se busca a reforma do Estado e a construção de um
modelo de gestão pública capaz de torná-lo mais aberto às necessidades dos cidadãos
brasileiros, mais voltado para o interesse público e mais eficiente na coordenação da
economia e dos serviços públicos (Paes-Paula, 2005).
57
Institucionalizado no Brasil a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988,
os conselhos de políticas públicas atuam como canais de participação política, de controle
público sobre a ação governamental, de deliberação legalmente institucionalizada e de
publicização das ações do governo (Carneiro, 2002, Paes-Paula, 2005). São também
mecanismos de ação, que inserem na agenda governamental as demandas e os temas de
interesse público para que sejam absorvidos, articulados politicamente e implementados sob a
forma de políticas públicas (Gohn, 2004). Portanto, “mais do que um canal comunicacional
para ressonância das demandas sociais, os conselhos possuem dimensão jurídica e têm poder
de tornar efetivos as questões, os valores e os dilemas vivenciados no espaço da sociedade
civil” (Carneiro, 2002 p. 151).
Ressalta-se que, apesar das proposições legais que os amparam, os conselhos de
políticas públicas se deparam com dificuldades vinculadas aos processos de participação e de
democratização, os quais se configuram na concentração do poder do Estado ancorado na
eficiência gerencial ao controle social por meio da delegação e formulação de políticas
públicas direcionadas aos burocratas (Paes-Paula, 2005).
Nessa vertente, ainda que munidos de limites de ordem operacional e cultural, a
possibilidade de interação com atores de diferentes setores providos de experiências e saberes
híbridos fomentaria processos recursivos de cognição capazes de gerar conhecimento.
Associado a esfera do Estado nota-se também a presença de praticantes da Gestão
Social que desenvolveram carreira no âmbito do governo federal, estadual e municipal no
Brasil orientados pela luta das minorias, do desenvolvimento local e ampliação dos direitos
sociais.
Destaca-se que a atuação dos praticantes imbuídas pelo engajamento e pela
experiência prática, as quais envolvem atividade mental ancorada na ação e reflexão e a
58
perspectiva de produção de conhecimento compartilhada, contribuiriam para processos que
muitos autores designam de comunidades de práticas.
No Brasil, as comunidades de prática são pesquisadas por Souza-Silva e Davel (2006),
Schommer e França Filho (2008), Moura e Andrade (2006), Lucena e Melo (2006), dentre
outros investigadores. Elas podem ser entendidas como grupos de pessoas que interagem
regularmente, engajadas mutuamente em atividades compartilhadas, orientadas por um senso
de propósito comum, empreendimento coletivo (Kimble & Hildreth, 2004). No cotidiano do
processo de engajamento, as pessoas aprenderiam pelos outros e com os outros, assumindo
diferentes papéis e responsabilidades ao longo do tempo e em cada situação. Os membros
desenvolveriam um repertório próprio e habilidades para atingir objetivos e enfrentar desafios
(Schommer & França-Filho, 2008).
Wenger (1998) argumenta que as comunidades de prática surgiriam naturalmente nos
contextos de interação social, desenvolvendo um domínio de conhecimento que lhes é
próprio, o qual constitui o núcleo do engajamento voluntário e mútuo entre os seus membros.
Dessa forma, objetivam, por meio da busca de empreendimentos comuns, a partilha de
conhecimentos e geração de aprendizagem. Esses conhecimentos estariam intimamente
conectados à prática dos membros dessa comunidade. (Wenger, 1998).
Vale salientar que os pressupostos sobre engajamento implicariam em formas de
interação que se consolidam ao promover ganhos mútuos (Evans, 1997). As condições
favoráveis para a promoção do engajamento estariam associadas às estruturas sociais, a
percepção do indivíduo, a redefinição de problemas e a capacidade de ação coletiva que, por
outro lado, seriam influenciadas pela natureza dos conflitos sociais e pela natureza e extensão
das desigualdades entre as partes (Campos, Mendonça & Alves, 2012).
Essa perspectiva, ao apontar os conflitos e as desigualdades entre as parte relacionais,
permitiria aprofundar a compreensão sobre o conhecimento produzido pelas comunidades de
59
práticas. Segundo Yakhlef (2012), a aprendizagem de novos conhecimentos não requer,
somente, a participação na produção de conhecimento, pois essa pode ser insuficiente quanto
aos aspectos interacionais e reflexivos na obtenção de resultados de aprendizagem. Para o
autor, os indivíduos teriam acesso diferenciado aos recursos relativos a mudança de práticas,
além de apresentarem diferentes capacidades cognitivas, possibilitando contribuições
múltiplas para a constituição ou transformação da subjetividade.
Esse argumento pode contribuir para o enfretamento da dicotomia que envolve as
discussões sobre a aprendizagem individual e socioprática, ao conceber o conhecimento como
esquemas de aprendizagem e de conhecimento individual e social como complementares,
interdependentes e não opostos. Em outras palavras, sugere-se uma unidade constituída por
indivíduos em interação, uma posição que nem institui o individuo como fonte soberana e
independente da ação, e nem o assume como submisso em suas práticas ao contexto social
que o envolve (Yakhlef, 2012).
Yakhlef (2012) ainda destaca os pressupostos que norteiariam os fundamentos sobre a
participação ao afirmar que ela seria diferente de mero engajamento em uma prática. Os
indivíduos podem participar em graus variados de uma ação no âmbito da sociedade. Nessa
perspectiva, os indivíduos recém-chegados desfrutariam de uma participação limitada e
periférica, ao passo que participantes plenos atuam no núcleo da comunidade.
Segundo Handley, Sturdy, Fincham e Clark (2006), aqueles indivíduos que transitam
com sucesso de um caminho periférico para a participação plena podem ser classificados
como participantes. Sendo assim, o processo de conhecimento passaria pela perspectiva de
participar com competência necessária na complexa teia de relações entre as pessoas e nas
atividades que são desenvolvidas em sociedade (Freire, 1987, Schommer & Boullosa, 2010,
Yakhlef, 2012).
60
Conforme esse aspecto, na medida em que o resultado da aprendizagem de uma
prática transforma um praticante, não só para saber sobre a prática, a aprendizagem torna-se
um conhecimento, um modo de ser e tornar-se parte de processos sociais (Freire, 1987). Os
praticantes, rumo ao processo de plena participação, mais do que viver a sua prática,
necessitariam refletir sobre ela, para possivelmente, mudá-la. Sua atuação envolveriam
momentos reflexivos (Schommer & Boullosa, 2010, Yakhlef, 2012).
Sabendo que a prática exige o conhecimento que a concebe, além do engajamento dos
indivíduos com a atividade, seria necessária também a reflexão de experiências passadas que
podem estar ausentes, mas recordadas ou representadas na mente dos indivíduos (Yakhlef,
2012, Write, & Robinson, 1998). Essa proposição destaca que não é possível interpretar as
experiências dos indivíduos sem acesso a algum quadro de inteligibilidade, que ofereça um
contexto significativo para a experiência. Em outras palavras, a reflexão seria sempre
contextualizada e situada, marcada por seus condicionamentos sociais (Freire, 1987). Assim,
cognição e reflexão não são consideradas como bens armazenados, como pensamento,
representações, memórias e planos, mas sim como pensar reapresentando, lembrando e
planejando processos ativos que não podem ser reduzidos a interações retidas isoladamente do
contexto social (Yakhlef, 2012).
A partir desse enfoque e, conforme o objeto de pesquisa deste trabalho que se apoia
nas relações entre acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social, observa-se a
complexidade do processo de construção do conhecimento, ancorado nas questões que
permeiam tanto a aprendizagem cognitiva individual quanto a aprendizagem socioprática.
Nota-se que os praticantes da Gestão Social movidos pelo engajamento na intervenção
socioambiental e pelas perspectivas de formação de comunidades práticas, imbuídas de
conflitos e de formas distintas de participação, são mediados por processos de aprendizagem e
de produção de conhecimento que se pressupõe interpretação e reflexão contínua.
61
Segundo Marteleto e Ribeiro (1997), esses processos ressaltam o caráter mediador das
organizações da sociedade civil nas ações de democratização do acesso e emprego dos
conhecimentos produzidos socialmente. Para a autora, a promoção de espaços de interlocução
entre diferentes esferas do conjunto social, o Estado, o mercado e a sociedade, relacionados
aos valores da solidariedade, direito à igualdade e diferença, “cria foros comunicacionais de
natureza pública, nos quais fluem informações e constroem-se significados que levam a uma
leitura das potencialidades do conhecimento produzido pelos coletivos sociais em sua
conformação em redes” (Marteleto & Ribeiro, 1997 p. 5).
Ao considerar as possíveis relações que esses praticantes desenvolvem com os
acadêmicos do campo da Administração, um dos campos de conhecimento mais profícuos na
produção de conhecimento e de debates sobre Gestão Social no Brasil contemporâneo, a
próxima sessão apresenta uma análise teórica acerca dos caminhos e descaminhos que a
universidade contemporânea tem vivenciado. Destacaram-se nesse contexto as abordagens do
ensino crítico da Administração por compreender que os seus fundamentos ao evidenciarem
críticas à lógica técnica e mercadológica acerca do processo de ensino e aprendizagem da
Administração, contribuem para a compreensão dos desafios, possibilidades e armadilhas da
própria produção de conhecimento sobre a Gestão Social.
3.2 Produção de Conhecimento em Gestão Social: perspectivas que se apoiam no ensino
crítico da Administração
A discussão a seguir orientou-se, primeiramente, a partir dos fundamentos que
norteiam os aspectos do ensino crítico da Administração. Essa escolha se deu por observar
críticas às características tecnicistas e fundadas em uma pretensa racionalidade mercantil
unívoca que caracterizaria a gestão em qualquer realidade social, que tem se constituído na
62
base de expansão da pesquisa, ensino e extensão relacionada à Administração no país. Além
disso, muitos dos esforços de produção de conhecimento e formação em Gestão Social
surgiram e tem buscado se consolidar como antítese a essa visão dominante sobre a natureza
da gestão, das organizações e da ação administrativa.
Os fundamentos que embasam as perspectivas do ensino crítico da Administração se
apoiariam em três proposições centrais: intenções desvinculadas da performance, visão
desnaturalizada da administração e reflexividade (Grey, Knights & Willmott 1996, Grey,
2005).
Conforme Alcadipani (2011), uma intenção desvinculada da performance envolveria
deslocar a ideia da racionalidade meios-fins, que reforça as relações de poder vigentes, em
direção à consideração de novas formas de ordenamento social. “A desnaturalização envolve
o reconhecimento de que a maneira como as coisas estão não pode ser vista como natural nem
inevitável; portanto, pode ser diferente” (Alcadipani, 2011 p. 346). Finalmente, a
“reflexividade envolve a rejeição da ausência de reflexão constituída em uma suposição
positivista de que a realidade existe lá fora, aguardando para ser apreendida pelo pesquisador”
(Alcadipani, 2011 p. 346). Ao invés disso, se reconhece o papel do analista na construção do
conhecimento (Alcadipani, 2011).
Tais proposições derivam das ciências administrativas fundamentadas nas teorias da
administração científica e clássica e de seus métodos, os quais “objetivavam o
aperfeiçoamento do desempenho gerencial dos profissionais e a solução de problemas ligados
à racionalização da administração das empresas em geral” (Conselho Federal de Educação,
1993 p. 289).
Nessa concepção, nota-se que a formação do administrador apenas obedece à lógica
proposta por autores tradicionais do pensamento administrativo como Taylor e Fayol que,
mesmo revista sob um enfoque sistêmico, representa todo um referencial teórico cujas bases
63
remontam à Revolução Industrial. Aponta-se que tais fundamentos têm hoje suas principais
características sob profundos questionamentos (Nicolini, 2003).
A partir dessa perspectiva, constituiu-se um currículo mínimo do ensino da
Administração que, segundo Nicolini (2003) buscava implementar um currículo pleno,
personalizado em cada escola, de acordo, pelo menos teoricamente, com as especificidades
regionais e necessidades de desenvolvimento setoriais (Nicolini, 2003).
A ordenação das matérias que os compõem, não seria o problema fundamental dos
currículos, mas sim a inter-relação delas. Nesse sentido, a divisão do estudo e a fragmentação
do saber ganhariam contornos preocupantes quando os mecanismos de interação entre as
matérias são constantemente esquecidos, ignorados ou mesmo desconhecidos (Nicolini,
2003).
Essa problemática trouxe consequências desfavoráveis, evidenciando a carência da
prática interdisciplinar cujos pressupostos derivam da convergência de matérias, componentes
básicos do curso e dinâmicas, atuando solidariamente no sentido de formar no aluno a visão
do todo no campo do conhecimento (Nicolini, 2003).
Tal aspecto merece destaque ao se observar que a visão do todo carrega em sua
essência a relação intrínseca adquirida por meio do equilíbrio entre a pesquisa e o ensino,
efetivados nos cenários externos da universidade, ou seja, no mundo da vida (Santos, 2004,
Chauí, 1999).
Mintzberg (2006 p. 368) afirma que “a pesquisa acadêmica sobre organizações e
gestão sofre de dois grandes problemas. Em primeiro lugar, não é muito eficiente. Em
segundo lugar, não é muito acessível”. Considerando a primeira problemática, o autor
argumenta que a pesquisa é contributiva quando traz à tona alguma coisa inesperada, em
outras palavras, quando viola a sabedoria convencional. Em relação à acessibilidade, tem-se
que entre os acadêmicos a pesquisa é bastante fechada, decidida, conduzida, julgada e
64
controlada por eles mesmos e, portanto, costuma ser impenetrável para outros atores,
sobretudo os praticantes da gestão.
Os aspectos de cunho tecnicista, racionalista e mercadológico evidenciados na práxis
acadêmica do campo da Administração demonstram que a demanda por ensino é muito maior
do que a por pesquisa e, por este motivo, os programas de ensino (principalmente no nível de
pós-graduação stricto e lato sensu) passariam a ser tratados como verdadeiras "vitrines" que
estreitariam os laços com a comunidade corporativa (Wood & Paula, 2004).
Por um lado, refletem o interesse de grande parte das Instituições de Ensino Superior
(IES) em fortalecer o ensino em detrimento da pesquisa, como forma de estabelecer laços
corporativos. Haveria forte interesse em ampliar a “participação no mercado de ensino”
corporativo e criar produtos e serviços atrativos (Calderón, 2004 p.107). Por outro lado, outra
parte das instituições defende o fortalecimento das pesquisas, sob o argumento de que “a
ausência da pesquisa impossibilita a reflexão crítica sobre a sociedade” (Calderón, 2004
p.107). Assim, uma universidade poderia ter fins essencialmente lucrativos ou uma “vocação
mais pública; poderia ainda ser uma universidade empreendedora em termos empresariais, ou
conservadora” (Calderón, 2004 p. 107). Este último aspecto nivelaria o status das
universidades à característica de empresa destinada a competir no mercado de ensino
universitário, sujeita a rankings, sistemas de avaliação e informações visando os
consumidores de conhecimento e formação (Oliveria & Sauerbronn, 2007).
Ao utilizar esta perspectiva, a universalização do acesso ao ensino de administração
incorreria no risco apontado por alguns autores como Paula & Rodrigues (2006) de se
fundamentar na tecnologia de fast food, ou no processo de Mcdonalização, como nomeiam
Alcadipani e Bresler (2000) esse processo, visando padronizar informações e maximizar a
quantidade de alunos. Segundo Paula & Rodrigues (2006 p.11), “nas universidades-
65
lanchonete”, professores “adestrados” apresentariam “receitas de bolo” e “doutrinas sagradas”
dos manuais de gestão.
Convergindo com esta ideia, Alcadipani (2011, p. 12) complementa argumentando que
a Mcdonalização do ensino da Administração promove os “cursos enlatados, o esvaziamento
da reflexão, os ataques à liberdade acadêmica”, a busca por ensinar aquilo que supostamente
funcionaria, o uso desenfreado de apostilas, a transformação do aluno em cliente, a difusão de
formas de avaliação de desempenho de professores similares a de empresas e a quantificação
da produção acadêmica.
A partir desses aspectos, vale ressaltar o papel do estudante na relação ensino-
aprendizagem, cuja produção acadêmica seria encarada como um fim em si mesmo
(Alcadipani 2011). Nesse contexto, os alunos fariam parte de uma geração que não pesquisa a
fundo, não apreende e não se desenvolve; apenas publica, “distanciam-se, assim, de seu papel
como sujeitos do processo de aprendizagem” (Nicolini, 2003 p. 51).
Este quadro pode ainda ser mais obscuro ao se considerar a subordinação dos
investigados, relegando-os ao potencial de consumidores dos resultados acadêmicos, e não
como integrantes ativos de um processo de produção de conhecimento, para o qual podem
contribuir efetivamente (Ospina & Dodge, 2005).
Essa discussão é destacada por Ospina et al (2001) ao argumentar que as evidências
sugerem que a colaboração mútua entre pesquisadores e praticantes podem oferecer
oportunidades promissoras construir a conexão entre teoria e prática. Neste sentido, o que se
propõe é muito diferente da vontade de contribuir apenas para a qualidade da pesquisa
acadêmica (Ospina et al, 2001). O proposto é contribuir também para a prática dos
investigados, desenvolvendo um trabalho de mão dupla, cuja relação entre pesquisadores e
pesquisados não precede a hegemonia do saber científico ao senso comum.
66
Mediante o cenário da Administração como campo de conhecimento aqui apresentado,
evidenciou-se uma complexidade nos processos de ensino dos estudos organizacionais que
nota-se promover uma dificuldade natural para apreendê-lo (Spink & Alves, 2011).
Compreende-se que esse aspecto se agravaria ao considerar as poucas décadas de efetiva
discussão (Spink & Alves, 2011). Contudo, ainda que as abordagens do ensino crítico da
Administração sejam complexas, a importância da consciência crítica vinculada a dinâmicas
metodológicas reflexivas elevariam a compreensão dos fenômenos organizacionais de forma
local e ao mesmo tempo global.
Nesse aspecto, se destacariam iniciativas no eixo da pesquisa, ensino e extensão do
campo da Administração e, mais especificamente, no campo da Gestão Social que
desenvolvem novos e válidos conhecimentos respaldados nos princípios da coletividade, do
diálogo e da transformação social. Essa perspectiva não se baseia em uma dualidade na qual
se observa metodologias ou propostas de ensino e aprendizagem melhor ou superior às outras
existentes, até por que essa ideia fomentaria a noção de hegemonia tão criticada no âmbito da
universidade. O que se pretende demonstrar é que a produção de conhecimento envolve
distintas áreas de conhecimento as quais permitem propor metodologias apoiadas em uma
visão multiparadigmática.
A Coprodução de Conhecimento é uma metodologia que se insere nesse contexto, ao
se constituir por meio da ação e reflexão de práticas, das interações sociais e do
desenvolvimento cognitivo, na qual se estabelece um trabalho de investigação conjunto entre
pesquisadores acadêmicos e praticantes (Schommer & Santos, 2010).
Nesse âmbito, destacam-se as pesquisas desenvolvidas no Research Center for
Leadership in Action (RCLA) da Wagner School of Public Service da New York University
(NYU), a partir dos estudos de Ospina et al (2001), as quais têm gerado produtos que são
coproduzidos pelos os pesquisadores e pesquisados. Essas investigações consideram os
67
praticantes de diferentes agendas do ativismo social como sujeitos do processo de pesquisa,
produção e sistematização do conhecimento. Essa perspectiva apresenta-se contrária às
práticas tradicionais de pesquisa que, mesmo quando se propõem a dar centralidade aos atores
sociais, sobretudo àqueles excluídos e marginalizados, acaba por trata-los como meros
“objetos” de investigação. Tal dinâmica requer a aceitação de cada um dos pontos de
referência e valorização do que cada ator social traz para a discussão. Baseia-se na
experiência de ambos os envolvidos no processo, praticantes e estudiosos, sem privilegiar um
conjunto de experiência ou habilidades sobre o outro (Ospina et al, 2001).
Nota-se nas dinâmicas que norteiam a pesquisa coproduzida noções que fundamentam
a aprendizagem socioprática pautadas nas diversas formas de participação e nos processos
cognitivos que cada praticante carrega consigo, ampliando as possibilidades de conhecimento
e de transformação do meio.
Um resultado evidente nesse tipo de trabalho, segundo Ospina et al (2001), é uma
prática fundamentada na pesquisa, que por outro lado pode ser revertida em informação para
outras experiências. Essa dinâmica permite aumentar a produtividade da pesquisa e, em
muitos casos, a qualidade, bem como uma ligação mais estreita e robusta entre teoria e prática
(Ospina et al, 2001).
O que se propõe é muito diferente da vontade de contribuir apenas para a qualidade da
pesquisa acadêmica, ao observar uma contribuição múltipla, em que os praticantes e os
acadêmicos se beneficiam dos estudos e pesquisas aplicadas na sua prática.
Apreende-se que a concepção da Coprodução de Conhecimento associa-se a algumas
correntes e abordagens da Gestão Social, ao tomar como pressuposto as relações horizontais e
dialógicas atuantes em processos de planejamento e avaliação de práticas, tendo como pano
de fundo, a produção de conhecimento em novas bases, capazes de superar e transformar, pelo
68
menos em parte, os problemas e riscos presentes nos processos tradicionais de pesquisa,
ensino e extensão protagonizados pelas universidades contemporâneas.
Essa possibilidade se efetiva “na medida em que todos os participantes têm
oportunidade de manifestar seus saberes e de se engajarem na construção de novos saberes,
com legitimidade para definir, adaptar ou interpretar as ações e seus significados” (Schommer
& França-Filho, 2008. p 77), o que permitiria associar a prática da pesquisa a uma
participação plena, rumo ao cerne das discussões e decisões coletivas.
É pertinente destacar que nem sempre essa lógica de participação mútua e construtiva
vinculada à teoria e a prática é evidente e real. Entre as muitas experiências de buscas
projetadas ou planejadas de produção de conhecimento, denota-se uma característica
específica em que muitas vezes se considera que o outro, geralmente o não pesquisador ou
aquele que está em posição de demanda de apoio em termos de alguma intervenção ou
consultoria, está em situação social inferior a qual deveria ou poderia estar (Schommer &
Boullosa, 2010).
Tal premissa pressupõe um conjunto de conhecimento unidirecionado de um grupo de
atores para outro grupo, em outras palavras, os que ensinam e os que aprendem (Schommer &
Boullosa, 2010). Quando isso ocorre, tem-se que a produção de conhecimento é limitada e
enviesada, pois o sistema de aprendizagem passa a ser compreendido como um “sistema de
ensinamento, onde, no máximo, se ajusta o modo de ensinar ao público local que deve
aprender, respeitando as suas práticas, mas não as assumindo como unidade de pesquisa”
(Schommer & Boullosa, 2010 p. 36).
Ospina e Dodge (2005) corroboram esta ideia ao afirmar que pesquisadores com
credenciais acadêmicas tendem a fazer a maioria das pesquisas no campo, a partir da
subordinação do papel dos praticantes investigados, relegando-os ao potencial de
consumidores dos resultados acadêmicos. Este cenário pode se traduzir em uma pesquisa
69
produzida em laboratório, cuja compreensão daqueles que serão pesquisados segue
independente de seus interesses no desenvolvimento da teoria (Opina & Dodge, 2005,
Pettigrew, 2001).
Numa tentativa de inibir o contexto unidirecionado da produção de conhecimento no
âmbito do ensino-pesquisa-extensão, a chamada “Investigação Narrativa” se apresentaria
como uma forma de pesquisa interpretativa, na qual a narrativa dos pressupostos e práticas de
investigação ilustram formas de integrar rigor e relevância como duas dimensões inseparáveis
(Ospina, 2005, p. 288). Este tipo de pesquisa é destacado por Ospina e Dodge (2005) ao
observar que há espaço para uma maior fluidez nos papéis tradicionais do pesquisador e do
pesquisado. “Levando a sério a narrativa das práticas e os pressupostos que a compõem foi
possível dar aos praticantes um papel mais significativo no processo de pesquisa” (Ospina &
Dodge, 2005 p. 287).
Essa proposição pode-se beneficiar com a conversão de parte do conhecimento tácito
dos praticantes em algum tipo de conhecimento explícito ao ser transformado em conceitos e
hipóteses configurados em metáforas ou dedução e indução (Yakhlef, 2012). Essa dinâmica
faz uso da linguagem figurada na tentativa de externalizar a maior fração possível do
conhecimento que lhes é próprio (Yakhlef, 2012), de modo a contribuir para a ressignificação
e reflexão dos saberes múltiplos que a cerca, bem como o compartilhamento de seus
conhecimentos com a academia.
Outra metodologia de produção de conhecimento que tenta superar as visões
tradicionais acerca da pesquisa e da formação em Gestão Social é a chamada Residência
Social. Essa metodologia, desenvolvida por algumas universidades brasileiras, sinaliza a
capacidade de empreender a tríade ensino, pesquisa e extensão a partir de saberes
interdisciplinares que permitam a valorização não apenas do saber acadêmico formal, mas
70
também dos saberes dos atores sociais envolvidos no processo de formação (Schommer &
França-Filho, 2006).
Esta é uma tecnologia de ensino que busca proporcionar ao aluno um espaço de
aprendizagem prático-reflexiva a partir da sua imersão continuada em contextos práticos
organizacionais diferentes dos seus contextos habituais de ação. Estes espaços podem ser
organizações, instituições, empresas ou mesmo projetos ou programas interorganizacionais,
desde quando interessados em acolher experiências de compartilhamento de saberes. Tal
imersão buscaria dar condições para que o estudante desenvolvesse capacidades e
competências inerentes à função de gestor social (Schommer & França-Filho, 2006), a partir
da articulação de três dimensões de ação prática-reflexiva, socialização de diferentes saberes,
compreensão mais complexa da realidade e, conexões entre ensino, pesquisa e extensão
(Boullosa & Barreto, 2010).
Considerando a sua atuação em cursos, programas ou centros de estudos que articulam
a Gestão Social, observa-se que a Residência Social é uma metodologia de importante
relevância para a produção de conhecimento. Isso se dá, sobretudo, porque busca aprofundar
as interações e o envolvimento entre os diversos atores sociais, trazendo os seus saberes, suas
perguntas e suas incertezas, bem como sua disposição para o diálogo para o processo de
produção de conhecimento e formação em gestão, embora alguns dos participantes nem
sempre estejam preparados para esse diálogo (Schommer & França-Filho, 2006).
Apreende-se que as metodologias de ensino como a Coprodução do Conhecimento,
Investigação Narrativa e Residência Social contribuiriam para a produção de conhecimento
sobre Gestão Social ao promoverem construções coletivas e de bem comum, intermediadas,
respectivamente, pelas percepções e experiências vividas pelos praticantes e pela
sistematização do conhecimento teórico que a academia desenvolve.
71
Entretanto, para que tal ocorra, há necessidade de um elevado grau de diálogo e
reflexão entre acadêmicos e praticantes amparados pela a valorização do conhecimento prévio
e da vivência de cada parte envolvida.
Compreende-se que essa perspectiva vincula-se a ideia de relação a qual será discutida
no próximo capítulo por meio das abordagens que explicitam a noção de campos de poder e
de habilidade social.
72
4 RELAÇÃO ENTRE ACADEMIA E PRATICANTES: CAMPOS DE PODER QUE
SE CONECTAM
A discussão proposta neste capítulo buscou contextualizar as relações estabelecidas
entre a academia e praticantes, oriundas da interseção entre diferentes campos, considerando
os limites desafiantes vivenciados pela a universidade contemporânea, bem como as possíveis
articulações e dinâmicas promovidas por ela como forma de enfretamento aos desafios
apontados. Nesse intento, buscou-se analisar as possibilidades de produção de conhecimento
em Gestão Social como perspectiva de transformação e ampliação do seu campo.
A fim de compreender a constituição das relações entre a universidade e os
praticantes, desenvolveu-se nesse capítulo uma discussão orientada pela noção de campos de
poder conforme os compreende Bourdieu (1989, 1996). Apreende-se que essa perspectiva
possibilita a análise do conhecimento que é produzido entre os atores envolvidos nas tramas
objetivas e subjetivas articuladas pela universidade e os praticantes da Gestão Social, as quais
seriam revestidas de habilidade social, saberes híbridos e de interesses múltiplos que, por
vezes, são conflituosos.
A Figura 3 “Diagrama Conceitual das Esferas Pública e Privada que Localizam a
Sociedade Civil”, representada pelo modelo explicativo das esferas da sociedade (Janoski,
1998 p. 13) permite exibir uma visão que pode ser considerada "meso" das relações entre
academia e praticantes, por explicitar o campo macro em que atuam e as possíveis interseções
e movimentos precedidos por eles. Infere-se que essas dinâmicas não se determinam pela
imposição das estruturas sociais sobre a ação social, nem tampouco se determinam guiadas
pelos pressupostos da agência sobre a transformação social, segundo os quais a mudança
social se daria fundamentalmente a partir da ação dos atores sociais, independentemente das
estruturas sociais. Ao contrário, assume-se nessa pesquisa que a ação social é fruto da
73
articulação entre instituições e seus atores sociais, que criam dimensões "meso" de vida em
sociedade, nas quais se pode manifestar a transformação social e possibilidades para os atores
sociais.
Figura 3. Diagrama Conceitual das Esferas Pública e Privada que Localizam a Sociedade
Civil.
Na Figura 3 “Diagrama Conceitual das Esferas Pública e Privada que Localizam a Sociedade Civil” observa-se
uma articulação e sobreposição entre as esferas públicas, privadas, de mercado e estatal, derivadas das
complexas relações entre diferentes atores, interesses, racionalidades e valores, no qual é possível oferecer
elementos de propriedade analítica sobre as sobreposições, influências recíprocas e ampliação e retração das
esferas privadas, públicas, do Estado e do mercado na sociedade contemporânea.
Public
Sphere
e
Private
Sphere
Market
Sphere
Executive Police
Military
Judiciary Secrety Police
Espionage
Bureaucracy
State Sphere
Political
parties
Public Welfare state, media,
education &
R&D
Voluntary
associations:
welfare, public interest, religious
Self-help groups
Private media,
Education healt
Social movements
People’s private
lives disclosed in
the media & courts
Union federations
Employer associations
Consumer associations
Defense Regulation
contracting
Firms Unions
Market
Family firms
& elite club
network
Family
Friends &
acquaintances
Love and
affection
Sexual relations
74
Fonte: Janoski, T. (1998). Citizenship and Civil Society: A Framework of Rights and Obligations in Liberal,
Traditional, and Social Democratic Regimes. Cambridge: University Press.
A perspectiva apresentada por essa Figura 3, intitulada “Diagrama Conceitual das
Esferas Pública e Privada que Localizam a Sociedade Civil”, a partir do objeto de pesquisa
proposto, relações entre academia e praticantes do campo da Gestão Social, recorre a visões
sobre ação social tais como a ideia de estruturação de Giddens (2003) e de habilidades sociais
de Fligstein (2007), que pressupõem também que as estruturas sociais não determinam
inexoravelmente a ação social, nem que os atores são livres das limitações e imposições
sociais para construir sua ação. A produção de conhecimento entendida a partir das
habilidades sociais, da estruturação proposta por Giddens (2003) e da própria ideia de campos
de poder de Bourdieu (1989, 1996) pressupõe que os atores podem reconstruir suas práticas
de pesquisa, ensino, extensão e transmissão, bem como elaboração coletiva de saberes, ao
mesmo tempo em que têm sua ação delimitada por instituições e níveis meso de interação
social, tais como os campos de poder que permeiam seu fluxo de ação vis-a-vis a coletividade.
Destaca-se que o interesse em contextualizar as relações entre academia e praticantes
vincula-se ao caráter institucional de produção de conhecimento que a universidade detém por
meio da tríade ensino, pesquisa e extensão, o qual denota relações além dos muros que a
delimitam.
Essa ideia permite inferir processos de produção de conhecimento ancorados na
aprendizagem cognitiva individual e, sobretudo, na aprendizagem social, cujos arranjos
provêm da interação e integração entre múltiplos saberes oriundos dos atores acadêmicos e
não acadêmicos ou praticantes, no caso do recorte da presente pesquisa, praticantes da Gestão
Social. Nesse sentido, parte-se do pressuposto da relevância da pesquisa em sintonia com o
ensino e a extensão ao direcioná-la para o mundo real. Isso, segundo Bushouse and Sowa
(2011), supõe o equilíbrio teoria e prática, bem como criar pesquisa que não seja apenas
teórica, mas também promotora de insights que possam ser utilizados na prática.
75
Além do caráter institucional de produção de conhecimento decorrente da
universidade contemporânea, compreende-se que os praticantes oriundos do campo da Gestão
Social, a partir das articulações que os envolvem, carregariam consigo “ações definidoras do
seu ethos”, as quais por definição estariam relacionadas às dinâmicas de conhecimento
(Marteleto e Ribeiro, 1997 p.7).
Nesse sentido, aponta-se como atividade principal das organizações da sociedade civil
uma “relação de assessoria contratual, associada à transmissão de alguma competência de
conhecimento, que envolve confiança mútua e certa afinidade de propósitos” (Fernando &
Carneiro, 1991 p. 8). Assessoria, neste caso, seria com frequência uma “forma de relacionar
intelectuais, de um lado, e organizações ou movimentos sociais, de outro, sem que este
relacionamento implique um vínculo hierárquico entre as partes” (Fernando & Carneiro, 1991
p. 8).
As próximas sessões norteadas pela abordagem de campos de poder se estruturaram
com o intuito de avançar na compreensão da produção de conhecimento em Gestão Social a
partir dessa perspectiva.
4.1 Campos de Poder da Universidade Contemporânea
No mundo contemporâneo, os questionamentos e as alusões sobre as limitações das
ciências modernas assinaladas no século XX, configuram-se em apelos por mudanças de
conduta relacionadas ao papel que a ciência e tecnologia desempenham para a sociedade,
evidenciando a complexa situação em que se encontra a universidade e os desafios em
produzir dinâmicas de conhecimento que estejam em sintonia com um contexto
multiparadigmático (Bursztyn, 2002, Santos, 1997, Bauman, 2008, Leroy & Pacheco, 2006,
Gianella, 2008).
76
É nesse contexto que se destaca a relação entre academia e praticantes, ao
compreender que a articulação entre saberes plurais, um dos pilares da universidade,
contribuiria para a produção de conhecimento em Gestão Social.
Apreende-se que as relações objetivas ou subjetivas se configuram em espaços sociais
constituídos de campos de poderes que se configuram em capital (Bourdieu, 1989). Por sua
vez, conforme Bourdieu (1989 p. 61), o capital é um conhecimento adquirido e também um
haver que ele considera como um habitus. O habitus, a hexis (equivalente grego de habitus),
indica a “disposição incorporada”, quase postural, de um agente em ação. Trata-se de chamar
a atenção para o “primado da razão prática” (Bourdieu, 1989 p.61). Pode, portanto, ser
descrito como um senso prático que incentiva os agentes a atuar e reagir sem a utilização do
cálculo específico, que não é caracterizado pela obediência consciente a regras (Bourdieu,
1996). “Ele é o princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e
relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto unívoco de
escolhas de pessoas, de bens, de práticas” (Bourdieu, 1996 p. 22).
Nesse aspecto, salienta-se que ser um indivíduo em um espaço, é ser diferente, é ser
significativo. “É ser dotado de categorias de percepção, de esquemas classificatórios, de um
gosto que lhe permite estabelecer diferenças” (Bourdieu, 1996 p. 23).
Em um mundo social, constituído em várias dimensões, espaços, os agentes ou grupos
de agentes se definem pelas suas posições relativas neste espaço. Em outras palavras, por suas
diferenças, sejam elas objetivas ou subjetivas. Cada um está disposto numa posição ou classe
em uma região determinada do espaço (Bourdieu, 1989). “Na medida em que a propriedade
tida em consideração para se construir este espaço são propriedades atuantes, ele pode ser
descrito também como campo de força, quer dizer, como um conjunto de relações de forças
objetivas impostas a todos os que entrem nesse campo” (Bourdieu, 1989 p. 134).
77
Tais propriedades atuantes ou forças constituiriam diferentes espécies de poder ou de
capital, que ocorrem nos diferentes campos. O capital poderia se configurar em forma de
propriedade ou em um estado incorporado, capital cultural, representando um poder sobre um
campo num dado momento e, mais precisamente, sobre o produto acumulado do trabalho
passado (Bourdieu, 1989).
As espécies de capital são os poderes que definem as probabilidades de ganho num
campo determinado. A posição de um determinado agente no espaço social poderia assim ser
definida pela posição que ele ocupa nos diferentes campos, ou seja, na distribuição dos
poderes que atuam em cada um deles, seja, sobretudo, o capital econômico, nas suas
diferentes espécies, o capital cultural, o capital social e o capital simbólico, geralmente
reconhecido como prestígio e reputação (Bourdieu, 1989).
Segundo Flinsgtein (2007), o surgimento de novos campos ocorre quando um número
significativo de membros de diferentes grupos percebe oportunidades de transformação da
realidade social e seus campos. A crise dos novos campos reflete o fato de que não surgiram
regras estáveis de interação e que os grupos estão ameaçados de extinção.
Compreende-se que ao considerar o campo característico da universidade
contemporânea, o qual sinaliza um forte capital simbólico intelectual, agregam-se a ele alguns
desafios vigentes na perspectiva de integração entre a ciência e o senso comum, cujas
implicações, segundo Santos (2004) conduziram-na para uma crise da hegemonia, de
legitimidade e institucional, evidenciando campos de poderes por vezes antagônicos.
Morin (2008) corrobora essa ideia ao ressaltar que o desenvolvimento científico,
técnico e social está cada vez mais em inter-retroação. Em outras palavras, significa que a
experimentação científica constitui por si mesma uma técnica de manipulação e o
desenvolvimento das ciências experimentais desenvolve os poderes manipuladores da ciência
sobre as coisas físicas e vivas (Morin, 2008, Francelin, 2004, Santos, 2002). Este favorece o
78
desenvolvimento das técnicas, que remete a novos modos de experimentação e de observação,
que nesse contexto, potencializaria a manipulação no caráter da ciência (Morin, 2008).
Em função desse processo de inter-retroação, a situação e o papel da ciência na
sociedade teriam se modificado profundamente, de forma que, hoje ela tornou-se uma
poderosa instituição no centro da sociedade, subvencionada, alimentada e controlada pelos
poderes econômicos e estatais (Morin, 2008).
Por outro lado, há concepções que revelam outras proposições para a ciência, as quais
não a reduzem somente a experimentos. O critério de cientificidade, ou seja, o experimento
científico seria um dos pontos fundamentais para o desenvolvimento das ciências exatas e
biológicas ou da natureza, mais bem representadas pela física e pela biologia, especialmente
através de seus desdobramentos disciplinares nas últimas décadas do século XX. Porém, esse
mesmo “cientificismo” não seria partilhado pelas disciplinas que compõem as chamadas
ciências humanas e sociais (Francelin, 2004, Teixeira, 2004 p. 58).
Nesse aspecto, o pensamento científico não se forma nem se transforma apenas pelo
experimento, pelo contrário, anterior à práxis científica estão as ideias, o pensamento, o
“conhecimento do conhecimento” e a filosofia da ciência, que trariam à tona as discussões em
torno da epistemologia, dos paradigmas, da ética, da moral e da política. Enfim,
características relacionadas e inter-relacionadas ao desenvolvimento do conhecimento e aos
possíveis desdobramentos e consequências que possam trazer sobre a realidade social
(Francelin, 2004).
Decorrente dessa ideia, Francelin (2004) redefine a gênese científica, justificando a
necessidade de uma aproximação entre ciência e senso comum. Conforme argumenta, os
conceitos que nascem no cotidiano (senso comum) são apropriados pelo meio científico e
tornam-se científicos ao romperem com esse cotidiano, com esse senso comum.
Complementando esta ideia, Santos (2002, p. 10) propõe um "novo senso comum" que
79
parte do desaparecimento da distinção hierárquica entre conhecimento científico e
conhecimento vulgar. Nesse sentido, a “prática será o fazer e o dizer será a filosofia prática”
(Santos, 2002, p.10).
O autor lembra que a ciência moderna “construiu-se contra o senso comum”,
considerando-o “superficial, ilusório e falso” e a ciência pós-moderna vem para reconhecer os
valores (“virtualidades”) do senso comum que enriquecem a “nossa relação com o mundo”,
ou seja, o senso comum também produz conhecimento, mesmo que ele seja um
“conhecimento mistificado e mistificador” (Santos, 2002, p.12).
Na mesma linha de análise sobre a ciência moderna, Ribeiro e Aguiar (2006)
compreendem que a modernidade representaria uma forma de organização social centrada na
razão científica, empiricista, mecânica e dicotômica. Marcada pela “flecha irreversível do
tempo, a modernidade orienta-se por uma noção de tempo avante em direção a um estado
civilizacional superior e universal, centrado na perspectiva do devir” (Ribeiro & Aguiar, 2006
p. 4). O pensamento moderno seria baseado na dualidade, no “ou isto ou aquilo”, o qual
impõe uma racionalidade dicotômica presente entre razão/mito, sujeito/objeto,
objetividade/subjetividade, progresso/atraso e sociedade/natureza, sustentadas pela a “ciência
como saber superior e antagônico a todas outras formas de conhecimento” (Ribeiro & Aguiar,
2006 p. 4).
Quanto a ciência na pós modernidade, Santos (2002) observa que as ciências se
deparam com a oportunidade de se tornarem “enfim verdadeiras sabedorias, assumindo uma
face filosófica, pela recuperação de uma espécie de ‘douta ignorância’ e por um novo estilo de
aproximação da natureza, mais qualitativo, mais holista, mais dinâmico e, por isso, mais
humano” (Ribeiro & Aguiar, 2006 p. 8). As “ciências teriam, agora, a chance de se redimirem
dos prejuízos de sua estratégia reducionista, analítica, quantitativa, estática perante uma
natureza que não merecia tanta indiferença” (Ribeiro & Aguiar, 2006 p. 8).
80
Tais proposições permitem anunciar modos de participação e de deliberação, isto é,
“de adesão ao novo acordo civil que substitui a apartação natureza e sociedade pelo conceito
uno de coletivo” (Ribeiro & Aguiar, 2006 p. 9). Latour (2001) e Ribeiro Aguiar (2006)
percebem que a crise da modernidade não significa seu colapso, mas sim o surgimento de
novas possibilidades de configuração da relação entre atores na produção de conhecimento.
A partir dessa noção, no qual a “compreensão da ciência exige não a contemplação,
mas a aplicação prática, o modo de pensamento que nele se exprime” (Bourdieu, 1989 p. 64),
destacam-se os desafios que a universidade contemporânea vivencia configurados pela luta
entre campos de poderes precedidas pela força do senso comum, imbuída de capital cultural, e
pela força do conhecimento científico, oriundo do capital intelectual.
Na esteira dessa discussão, destacam-se três fins principais da universidade
contemporânea, a investigação, o ensino e a prestação de serviços que, apesar do atrofiamento
da dimensão cultural e da dominância do seu uso conteudista, utilitarista e produtivista,
explodiram em uma multiplicidade de funções por vezes contraditórias entre si (Santos,
1997). A fim de explicitar esse quadro, é preciso recorrer às contribuições analíticas que
Santos (1997, 2001, 2002) confere aos dilemas que a universidade contemporânea vivencia,
destacando que essas contribuições apenas servem de pano de fundo para melhor
compreender as relações entre acadêmicos e praticantes da Gestão Social no Brasil.
Segundo esse autor, as funções contraditórias decorrem de um processo de crise que se
apoiam nas questões de cunho hegemônico, de legitimidade e institucional. A primeira, entre
conhecimentos exemplares e conhecimentos funcionais, manifesta-se a crise de hegemonia
que se apresenta “sempre quando uma dada condição social deixa de ser considerada
necessária, única e exclusiva” (Santos, 1997 p. 190). A segunda contradição revela-se como a
de legitimidade. “A universidade sofre uma crise de legitimidade na medida em que se torna
socialmente visível a falência dos objetivos coletivamente assumidos” (Santos, 1997 p. 190).
81
A terceira e última contradição, entre autonomia institucional e produtividade social,
apresenta-se como a crise institucional, em que a sua especificidade organizativa é posta em
causa e modelos vigentes noutras instituições tidas como mais eficientes são impostos ao
espaço acadêmico, notadamente os modelos empresariais de gestão universitária (Santos,
1997).
Dentre elas, nota-se que a crise hegemônica seria a mais ampla em sentido histórico,
por que nela está em causa a exclusividade dos conhecimentos que a universidade produz e
transmite, evidenciando a fragilidade da reflexão crítica e da consciência própria da
universidade e dos atores acadêmicos acerca da realidade humana e social contemporâneas
(Santos, 1997, Bauman, 2008).
Ressalta-se que a centralidade da universidade na condição de lugar privilegiado da
produção de alta cultura e conhecimento científico avançado é um fenômeno do século XIX.
Esse escopo agregado à exigência posta no trabalho universitário intelectual, a liberdade de
discussão, o espírito crítico, a autonomia e o universalismo dos objetivos fizeram da
universidade uma instituição única, dotada de grande prestígio social e considerada
imprescindível para a formação das elites (Santos, 1997). Porém, esta concepção da
universidade, no período do capitalismo liberal (até finais do século XIX), já se encontrava
em relativa dissintonia com as exigências sociais, entrando em crise, sobretudo a partir dos
anos sessenta. A universidade como espaço de provisão de capital cultural e simbólico
encontra-se em xeque, em questão, deixando espaço para que novos atores e seus processos
de produção de conhecimento, notadamente os praticantes da gestão, da Gestão Social no
contexto específico da presente pesquisa, também construam posições de maior poder e
influência em um determinado campo social, o próprio campo da Gestão Social.
Com a demanda pelo envolvimento da universidade e do conhecimento por ela
produzido na resolução de problemas econômicos e sociais prementes, denota-se uma
82
proximidade imperativa entre senso comum e conhecimento científico, cujas bases
questionariam a dicotomia entre a teoria-prática e as tensões decorrentes geradas por
mecanismos diferentes institucionais relacionados à academia (Santos, 1997).
A universidade teria passado a vivenciar uma problemática que se traduz em dois
princípios: a da natureza da investigação básica e das virtualidades e limites da investigação
aplicada no espaço acadêmico (Santos, 2002). O primeiro princípio tornou-se problemático
devido aos seus custos aumentarem exponencialmente e pela conversão progressiva da ciência
em força produtiva, que acabou por pôr em causa a própria validade da distinção entre
investigação básica e aplicada. Santos (2002) argumenta que a questão dos custos agravou-se
com a crise financeira do Estado e com a multiplicação dos centros universitários. Em
consequência, a exclusividade da universidade na investigação básica passou a ser problema
contabilizado como custo.
Esta característica pode ser notada na transformação das grandes empresas
multinacionais, as quais criaram seus próprios centros de investigação básica e aplicada, de
forma que a excelência de seus resultados pode rivalizar com os dos centros universitários. O
Estado também inaugurou centros de investigação não universitário e, além disso, procurou
selecionar as universidades e os centros de investigação com maior capacidade de
investigação para concentrar neles os recursos financeiros disponíveis (Santos, 1997).
Observa-se que este cenário caracteriza a crise de legitimidade ao considerar a
revolução tecnológica permanente e continuada, que transformaria a técnica adquirida e os
hábitos aprendidos em desvantagens, e não mais em bens. Além disso, seria encurtado
drasticamente o período de vida de habilidades úteis, que muitas vezes perdem sua utilidade e
poder habilitante em menos tempo do que se leva para adquiri-los e certifica-los por meio de
um diploma universitário (Chauí, 1999, Santos, 1999, Bauman, 2008).
83
Consequentemente, numa tentativa desesperada de fazer da necessidade uma virtude,
os intelectuais, coletivamente degradados pela competição de mercado, estariam se
convertendo em promotores zelosos de critérios de mercado na vida universitária: este ou
aquele curso ou projeto é bom se tem boa abertura para o mercado, se vende bem, sendo que a
capacidade de vender se encontra com a demanda de satisfazer as necessidades humanas
contidos nos critérios supremo dos currículos, cursos e títulos adequados (Bauman, 2008).
Este seria o contexto que caracterizaria tanto a crise hegemônica quanto a crise de
legitimidade. A universidade, ao responder a crise hegemônica por meio da incorporação
limitada da cultura de massas, da formação profissional, da investigação aplicada e da
extensão à comunidade (Santos, 1997), estaria buscando legitimidade diante de um quadro
marcado pela produtividade baseada em critérios de natureza mais mercadológica do que
acadêmicos per si.
Quanto à crise institucional, destaca-se o quadro socioeconômico no qual se inserem
os seus fundamentos. Chauí (1999) contextualiza essa crise a partir das premissas da Reforma
do Estado brasileiro, que pretendeu modernizar e racionalizar as atividades estatais,
redefinidas e distribuídas em setores, um dos quais é denominado Setor dos Serviços Não-
Exclusivos do Estado, isto é, aqueles que podem ser realizados por instituições não estatais,
na qualidade de prestadoras de serviços. Nesses serviços estariam incluídas a saúde, a cultura
e a educação, entendidas como “organizações sociais” prestadoras de serviços que
celebrariam “contratos de gestão” com o Estado (Chauí, 1999 p. 12).
A partir deste princípio, a universidade tenderia a vigorar como organização e não
mais como instituição social. Observa-se que o valor que está em causa na crise institucional é
a autonomia universitária (Chauí, 1999, Santos, 1997). Essa autonomia se reduziria à gestão
de receitas e despesas, de acordo com o contrato de gestão pelo qual o Estado estabelece
84
metas e indicadores de desempenho, que determinam a renovação ou não renovação do
contrato (Chauí, 1999, Santos, 1997).
Dessa forma, as universidades poderiam ficar por vezes a mercê dos resultados que
atores não acadêmicos esperam receber, perdendo autonomia dos objetivos científicos e
educacionais a que gostaria de se dedicar e reproduzindo em seu seio um espírito empresarial,
empenhado em maximar a rentabilidade do investimento em educação (Santos, 1997, Leff,
2001).
As abordagens acerca da crise da universidade contemporânea evidenciam a
necessidade da academia em atender as prerrogativas de caráter econômico para sustentar as
demandas do mercado, o que contribuiria para a não legitimação de seu campo, uma vez que
seria induzida a subverter os princípios do conhecimento científico. Este, por outro lado, ao
não reconhecer o conhecimento popular ou o senso comum, cria um campo antagônico
revestido pela dicotomia entre a teoria e a prática, reverberando e ampliação sua crise
hegemônica.
Apreende-se que essas duas contradições limitariam a completude de seu campo, pois
descrevem um quadro do que se espera da universidade como instituição de formação
científica do conhecimento que precisaria aderir a outras exigências para contribuir na
transformação do meio no qual ela se insere.
Misoczky (2003) reforça essa interpretação ao salientar os argumentos proferidos por
Bourdieu (1996), o qual afirma que a prática em um campo é aquela que atingiu o status de
ser considerada como fato dado, não sujeita a questionamentos. Passa, então, a compor o
capital cultural do campo; é parte do que aqueles que estão no campo são capazes de
identificar como natural e legítimo. Quando este tipo de capital cultural se perde, o campo se
torna aberto a questionamentos e redefinições. “Esta noção de tipos de capital leva,
85
naturalmente, a uma reavaliação das concepções a respeito do ambiente na perspectiva
institucional” (Misoczky, 2003 p.25).
Reconhece-se que as interações entre acadêmicos e praticantes, quando manifestada a
partir das tramas apontadas por Santos (2002), Bauman (2008) e Chauí (1999) implicariam
em riscos para a produção de conhecimento academicamente adequado e efetivamente
relevante para a sociedade. Todavia, consideram-se as possibilidades de transformação dos
campos de poder por meio das habilidades sociais e dos conhecimentos gerados que envolvem
as ações dos atores inseridos nessa trama. Ações essas que não sobrepõem e nem são
sobrepostas pelas bases sociais estruturantes impostas.
4.2 Dinâmicas de Produção de Conhecimento entre Academia e Praticantes da Gestão
Social
Reconhece-se que a delimitação dos campos de forças não precede a uma lógica
racional e determinística ao se considerar a presença de relações de poder objetivas e
subjetivas. A partir desse aspecto, “os atores, em condições institucionais tanto estáveis
quanto instáveis, não se limitariam apenas aos significados compartilhados em seus campos,
entendidos como roteiros que devem ser interpretados por profissionais ou burocratas do
governo” (Fligstein, 2007 p. 66). Eles emergem como contraponto à concepção racionalista da
ação, ao demonstrar que “não podem processar todos os dados sensoriais num cálculo
racional e que fazem uso e formam conceitos que, baseados em sua experiência anterior, os
ajudam a tomar decisões e a agir” (Carvalho, Goulart, & Vieira, 2005 p. 3).
Nesse sentido, verifica-se a possibilidade de formação de processos relacionais
complementares, que permitiriam diminuir o antagonismo entre os campos e dentro de
determinado campo, o que possibilitaria a ampliação da produção de conhecimento.
86
Tais processos relacionais podem se apoiar em uma visão sociológica da ação que
Fligstein (2007 p. 61) denomina de “habilidade social”. Segundo o autor, a ideia é que atores
precisam induzir a cooperação dos outros. “A habilidade de motivar os outros a tomar parte
de uma ação coletiva é uma habilidade social que se prova crucial para a construção e
reprodução de ordens sociais locais” (Fligstein, 2007 p. 61).
Essa abordagem destaca que atores sociais hábeis compreendem a percepção dos
conjuntos de atores de seu grupo em relação às suas múltiplas concepções de interesse e
identidade em situações específicas para proporcionar uma interpretação da situação e
determinar ações que estejam de acordo com os interesses e as identidades existentes
(Fligstein, 2007).
A partir deste propósito, vale ressaltar o conceito de agência, que segundo Selznick
(1992) denota competência, intencionalidade e calculabilidade. Ser um agente é atuar com
propósito. Giddens (1984) também associa agência à intencionalidade. Contudo ele admite
que a intenção é aspecto relevante, porém, não o suficiente para explicar a capacidade de
agência. Assim considera que agência não consiste, tão somente, na intenção que os
indivíduos possuem de realizar as coisas, mas na sua habilidade de fazer tais coisas em
primeiro lugar, o que implica em poder.
Nesses termos, agência seria a capacidade de interferir em eventos, não necessariamente
de modo intencional. Agir, mais do que pretender algo, é ser significativo na sua ocorrência,
na medida em que a “ação depende da capacidade do indivíduo de fazer uma diferença em um
estado pré-existente de coisas ou cursos de eventos” (Giddens, 1984, p.14).
Conforme essa noção específica de agência associada à perspectiva da habilidade social,
Machado-da-Siva et al, (2005) entendem que se torna possível, enfim, visualizar a
interdependência entre estruturas e ações sociais, sem sucumbir à ideia de causalidade linear
87
entre elas. Os autores afirmam que seria nesse sentido que Giddens (1984) entende estruturas
como traços da memória que se manifestam, se reproduzem e se expressam como tal.
Misoczky (2003, p.42) contribui com essa ideia ao recorrer ao “estruturalismo
construcionista”, presente nos estudos de Bourdieu (1990, p. 149), o qual designaria uma
“articulação dialética entre objetivismo e subjetivismo na sua teoria, ou seja, a articulação
dialética entre estruturas mentais e sociais”.
É no escopo dessa abordagem que se destaca a produção de conhecimento, como
resultado da aceitação de determinada ação que, ao ser condicionado por atores constituídos
de habilidade social e interpretado como legítima, seria reproduzida pelos agentes na prática
social, fortalecendo os campos de poder no qual se inserem. Apreende-se que esse aspecto
vincula-se a abordagem socioprática da aprendizagem, uma vez que decorre de relações
estabelecidas entre múltiplos atores sociais que, por outro lado acolhem determinados
preceitos da Gestão Social ao se consolidar a partir de interações pautadas na participação e
no interesse comum.
Essa perspectiva permite verificar a possibilidade de produção de conhecimento cujos
pilares se baseiam na convergência e na cooperação entre os campos, bem como nos distintos
poderes que são precedidos de conflitos por se fundarem pela multiplicidade de saberes e de
interesses.
Nessa ordem, observam-se algumas proposições apontadas por metodologias e
práticas reflexas e dialógicas da universidade, no sentido de responder aos desafios por ela
vivenciados.
Em um contexto macro, evidenciam-se maneiras das instituições em lidar com as
crises, reagindo à mudança no ambiente, articulando problemas e buscando soluções.
Compreende-se que esse é um modo de colocar a questão, o de um observador interno. Outro
modo de colocar a questão e que se aproxima da abordagem dialética entre estrutura e agência
88
seria a de um observador externo cujas crises seriam notadas como produtos comuns da
percepção da situação, como crítica, de forma que vá ao encontro do que a situação torna
possível e/ou desejável (Bauman, 2008).
Nesse aspecto, algumas ideias-mestras presidem a uma reforma criativa e democrática
da universidade de hoje. Talvez a primeira questão seja saber quem são os sujeitos das ações
que seriam preciso empreender para enfrentar eficazmente os desafios que defrontam a
universidade (Santos, 2004). Mas, para identificar os sujeitos é necessário definir previamente
o sentido político da resposta a tais desafios.
Observa-se que o contexto global, além de se dispor à globalização neoliberal, disporia
também de espaço para articulações nacionais e globais baseadas na reciprocidade e no
benefício mútuo (Santos, 2004). A partir desse pressuposto, Santos (2004) argumenta que a
reforma da universidade contemporânea deveria refletir um projeto de país centrado em
escolhas políticas solidárias, que qualifiquem a sua inserção em contextos de produção e de
distribuição de conhecimentos cada vez mais transnacionalizados.
Essa proposta se assentaria nas novas tecnologias de informação e de comunicação e
na constituição de redes nacionais e globais, nas quais circulam novas pedagogias, novos
processos de construção e de difusão de conhecimentos científicos e também novos
compromissos sociais, locais, nacionais e globais. O objetivo consistiria em resituar o papel
da universidade contemporânea na definição e resolução coletiva dos problemas sociais que,
sendo locais ou nacionais, não são resolúveis sem considerar a sua contextualização global
(Santos, 2004).
No eixo dessa discussão, o projeto político teria de ser sustentado por forças sociais
disponíveis e interessadas em protagonizá-lo, o que pode ser feito, primeiramente, pela
própria universidade, ou seja, quem nela está interessado em uma globalização alternativa,
configurando-se assim, no primeiro sujeito de ação (Santos, 2004).
89
Infere-se que essa concepção traduz a articulação dialógica entre estrutura e agência ao
perceber que as bases institucionais da universidade podem ser modificadas a partir das
demandas sociais, constituídas de atores (agentes) imbuídos de habilidade social e de saberes
híbridos. Esse aspecto evidencia uma via de mão dupla, na qual universidade e sociedade
podem agir coletivamente no enfrentamento dos problemas sociais que marcam a produção de
conhecimento. As propostas epistemológicas de construção e difusão do saber em Gestão
Social, notadamente a Coprodução, a “Investigação Narrativa” e a Residência Social podem
assumir papel relevante como estratégias para alterar as posições de poder nesse campo, de
forma a democratizar a universidade, reconhecer e dialogar com saberes não acadêmicos,
tradicionais e hegemônicos e produzir novas compreensões e alternativas de ação social frente
aos problemas sociais e ambientais contemporâneos.
Chauí (2003) responde a esse princípio de reforma da universidade ao destacar alguns
pontos que podem ser a condição e a forma dessa mudança. Um desses pontos é a própria
universidade se colocar claramente contra a exclusão como forma da relação social definida
pelo neoliberalismo e pela globalização. Outra questão pertinente englobaria a percepção da
educação superior como um direito do cidadão, “na qualidade de direito, ela deve ser
universal” (Chauí, 2003 p. 14). Além disso, a autora defende a universidade contemporânea
tanto pela ampliação de sua capacidade de absorver, sobretudo, os membros das classes
populares, quanto pela firme recusa da privatização dos conhecimentos. Nesse sentido, apesar
da crise da instituição universitária percebe-se também que novas possibilidades de
reconfiguração democrática da universidade brasileira têm aparecido nos últimos anos, tais
como os programas de bolsas para alunos oriundos de grupos de baixa renda e as cotas, ainda
também que reações contrárias e críticas agudas acompanhem essa abertura da academia a
públicos que tradicionalmente enfrentam grandes dificuldades de inserção nesse espaço.
90
Outro agente da resposta aos desafios seria o Estado nacional sempre e quando ele
optar politicamente pela globalização solidária da universidade (Santos, 2004). Essa
perspectiva toma a educação pelo prisma do investimento social e político, o que só seria
possível se a educação for considerada um direito e não um privilégio, nem um serviço
(Chauí, 2003).
Nesses termos, propõe-se uma universidade comprometida com novos paradigmas de
formação. Não haveria mais lugar para sujeitos passivos e conformistas ou para simples
demandantes de emprego (Ribeiro, 2003). A universidade brasileira precisaria ser capaz de
educar cidadãos empreendedores e criativos, preparados para serem mestres da ação solidária
(Chauí, 1999). Destaca-se a importância à dialética das múltiplas dimensões interativas entre
tempos e espaços, conhecimentos e interesses, vivências e práticas sociais que conformariam
os seres humanos e as sociedades como singulares e interdependentes, individuais e coletivos,
desiguais e combinados, particulares e universais (Ribeiro, 2004).
Nesse contexto, os objetivos e fins da universidade precisariam ser estabelecidos a
partir de uma dinâmica social dialógica, culturalmente comprometida, e não simplesmente a
partir de um compromisso abstrato e alienado com uma racionalidade desprovida de qualquer
inserção social local (Mello, Almeida, & Ribeiro, 2004).
Em um âmbito micro, o enfrentamento aos desafios da universidade contemporânea
busca ações acadêmicas sob novos paradigmas de formação, o qual exigiria a formulação de
políticas pedagógicas que articulem o ensino, a pesquisa e a extensão. A articulação dessa
tríade propõe viabilizar a relação transformadora entre universidade e sociedade, mobilizando
para o ensino, possibilidades, metodologias e estratégias alternativas no exercício da
aprendizagem e na construção do conhecimento (Chauí, 1999, Carrion, 2005, Santos, 1997).
91
Dessa forma, requer-se fomento suficiente, regular e sustentado a programas de
extensão voltados, em todas as áreas do conhecimento, à solução e/ou assistência de
problemas socialmente relevantes (Chauí, 1999).
Este critério se estabelece na ideia de formação, explicito em 1996, a partir da Lei n.
9.394, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a qual reafirma e detalha, entre os
objetivos da universidade, a extensão universitária. Atribui-se a ela o “processo educativo,
cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a
relação transformadora entre Universidade e Sociedade” (Plano Nacional de Extensão, 1988).
A extensão universitária é concebida ainda como uma via de mão dupla, com trânsito
assegurado à comunidade acadêmica, que encontraria na sociedade a oportunidade de
elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico (Plano Nacional de Extensão, 1988).
Esse fluxo que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, teria
como consequências a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade
brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da
comunidade na atuação da universidade. Além deste processo dialético, presente no campo da
teoria/prática, a extensão se constituiria em um trabalho interdisciplinar que favorece a visão
integrada do social. (Plano Nacional de Extensão, 1988).
É sabido que alguns cursos já incorporam em seus projetos pedagógicos atividades de
extensão, como é o caso dos estágios supervisionados (Chauí, 1999). De forma mais incisiva,
há experiências que se denominam de “socialização de conhecimentos práticos”. Nelas
prevalecem a aprendizagem com a prática e o desenvolvimento de competências sociais,
criando assim, espaço para a adaptação de modelos teóricos (Carrion, 2005 p. 22).
Outras práticas de extensão são observadas. Entre elas precedem a aprendizagem em
três níveis inter-relacionados: aprendizagem de indivíduos, planejada e acompanhada com
base em um marco desejado de competência; aprendizagem do coletivo e dos indivíduos em
92
interação; e a aprendizagem das interorganizações (Carrion, 2008 p. 180). Este é um tipo
especial de atividade de aprendizagem prático-reflexiva que supõe a imersão do estudante em
empreendimentos/programas/projetos de natureza diversificada (T. M. D. Fischer, Roesch &
Melo, 2006).
Numa perspectiva interdisciplinar, busca-se articular conhecimento teórico e prático,
análise e/ ou intervenção organizacional, consolidando, assim, a formação universitária
engajada a habilitar os alunos a lidar com problemas práticos e de interesse coletivo, por meio
da associação inteligente e criativa do conhecimento e da técnica (Chauí, 1999). Essa lógica é
imposta pela superação de uma visão puramente instrumental ou tecnicista do conhecimento,
que rejeita os reducionismos inerentes à linearidade e fragmentação do saber (Santos, 2004,
Bauman, 2008).
Observa-se que processos de aprendizagem ancorados em dinâmicas que vislumbram
a interação entre a teoria e a prática, seja por meio da extensão universitária ou por meio de
outros mecanismos interdisciplinares, podem contribuir para a ampliação de relações mais
horizontais entre estrutura e agência. Esses processos detém o potencial de contribuir para a
produção de conhecimento em Gestão Social, uma vez que se apoiam em relações de poder,
geradas por mecanismos de compartilhamento entre atores acadêmicos e praticantes.
A revalorização da pesquisa também se destacaria nesse cenário ao estabelecer as
condições de sua autonomia, as condições materiais de sua realização, a criação de novos
procedimentos de avaliação que sejam regidos pelas noções de qualidade e de relevância
social e cultural (Chauí, 2003). Em outras palavras, a autonomia precisaria ser pensada como
autodeterminação das políticas acadêmicas, dos projetos e metas das instituições
universitárias e da autônoma condução administrativa, financeira e patrimonial (Chauí, 2003).
Essa autonomia se relacionaria com o princípio de uma universidade preocupada em
adotar ações alternativas, de forma a superar a globalização neoliberal (Santos, 2004). Cabe a
93
ela haver, internamente, o funcionamento transparente e público das instâncias de decisão;
realizar, externamente, de modo público e em períodos regulares fixados, o diálogo e o debate
com a sociedade civil organizada e com os agentes do Estado, tanto para oferecer a todos as
informações sobre a vida universitária, como para receber críticas, sugestões e demandas
vindas da sociedade e do Estado (Chauí, 2003). Desse modo, a universidade asseguraria o
acesso a ela pela qualidade e pelo nível dos outros graus do ensino público (Chauí, 2003).
Além de a pesquisa ser pensada como possibilidade de autodeterminação das políticas
acadêmicas, a de se atribuir a ela as perspectivas de transformação do campo de poder quando
desenvolvidas a partir de interações múltiplas e imbuídas de saberes híbrido. Nesse sentido, o
pesquisador seria compreendido como agente capaz de influenciar a estrutura do
conhecimento disponível no campo (Fligstein, 2001, 2007). Entende-se que esse aspecto está
associado à interpretação da realidade social, compreendida como capacidade de monitoração
reflexiva do ator social em processar cognitivamente determinados contextos coletivos, sob a
concepção da racionalidade limitada, e atribuir significado a estímulos contextuais (Machado-
da-Silva, Fonseca & Fernandes, 2000; Machado-da-Silva et al, 2005). Todavia, ainda em
acordo com esses autores e em consonância com Giddens (2003), não se atribui prioridade à
agência individual, mas à reciprocidade entre os atores sociais, que em interação constroem e
reconstroem os sistemas sociais em que estão imersos, o que ocorre por meio de práticas
sociais que acessam os quadros de referência (estruturas) disponíveis e resultantes da
atividade social. Em outras palavras, o conhecimento quando produzido socialmente a partir
da interação entre agentes múltiplos possibilitaria novos arranjos sociais acompanhados pela
transformação do campo de poder.
Cronin (1994) e Leydesdorff (1998) apresentam outras possibilidades que a pesquisa
traria para a academia ao considerar que as práticas sociais de produção científica influenciam
a estrutura intelectual da área, seja pela interação social entre pesquisadores ou por sua
94
representação substantiva nas comunicações acadêmicas. Em face disso, tem sentido
considerar que pela atividade social se promove o compartilhamento de um quadro de
referência que serve como estoque de conhecimento. Tal quadro pode ser definido por
esquemas de interpretação expressos na forma de artigos e nas práticas rotineiras de produção
científica, desde a seleção do conhecimento válido por autores no ato de citar suas fontes, até
o modo como esse processo representa práticas valorizadas socialmente (Cronin, 1994,
Leydesdorff, 1998).
Outra questão que presidiria uma reforma democrática e voltada à emancipação na
universidade contemporânea e que contribuiria para a sua legitimação é o estabelecimento de
parcerias com os cidadãos individualmente ou coletivamente organizados como os grupos
sociais, sindicatos, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e suas redes,
interessados em fomentar articulações cooperativas entre a universidade e os interesses sociais
que representam (Santos, 2002). Esses atores sociais ou agentes são reconhecidos como
praticantes no âmbito do presente estudo cujo poder pode se traduzido em capital cultural e
simbólico, que por sua vez, evidenciam a presença de habilidades sociais.
Segundo Flisgtein (2007), todos os seres humanos teriam alguma habilidade social em
função de sua atuação em grupo. Nesse sentido, compreende-se que os atores se compõem em
grupos constituídos de habilidade social ao tentarem obter cooperação entre os diferentes
agentes que se relacionam em um campo ou arena de natureza diversa.
A partir dessa concepção se destaca a relação dos praticantes das organizações da
sociedade civil com a universidade por meio de articulações de caráter cooperativo. Vale
ressaltar que o termo cooperação tem sua origem na “tradição sociológica, sendo uma das
formas de ação coletiva intrínsecas à sociedade” (Arruda, 2012 p. 4). Tal conceito envolve a
relação entre os atores sociais e a noção do esforço compartilhado, convergência de objetivos
e coordenação em níveis diferenciados (Arruda, 2012).
95
Compreende-se que essa definição vincula-se à ideia de sinergia, cujo significado
associa-se a noção de engajamento da sociedade como uma forma de interação capaz de gerar
ganhos mútuos (Campos, Mendonça & Alves, 2011). Essa percepção, evidenciada por Evans
(1997), vincula-se as estruturas sociais, a redefinição de problemas e a capacidade de ação
coletiva o qual é influenciada pela natureza dos conflitos sociais e pela natureza e extensão
das desigualdades entre as partes (Campos et al, 2011). Nesse sentido, a fim de alcançar
objetivos sociais comuns, o conceito de sinergia implicaria certo grau de colaboração entre as
partes interessadas cuja capacidade de produzir benefícios para ambas as partes, não é
constituído, necessariamente, por um processo harmonioso, pelo contrário, é geralmente
permeada por conflitos particulares (Campos et al, 2011).
A abordagem sobre cooperação permeada pela ideia de sinergia e engajamento entre
atores de campos diferentes, além de permitir a universidade trilhar caminhos convergentes
com as demandas sociais, contribuiria para a produção de conhecimento sobre Gestão Social
apoiada na interação entre diversos atores constituídos de saberes híbridos que, em oposição a
especialização de saberes da ciência moderna, incentivaria a auto-reflexividade, a
compreensão dos processos que conectam conceitos, proposições e realidades.
Rodrigues e Barbieri (2008) corroboram esta ideia ao considerarem que diferentes
proposições de produção de conhecimento decorrem da diversidade dos contextos e de atores
com distintos valores e interesses. Tal diversidade poderia ser caracterizada pelos
pressupostos que norteariam o conceito de hibridismo que, segundo Ribeiro e Aguiar (2006),
associa-se à noção de resultado de cruzamento de espécies. Entretanto, o uso deste conceito
tem, no senso comum, diversos alcances, todos associados a ideia de mistura, de “novo ser”,
de múltiplas origens (Ribeiro & Aguiar, 2006 p. 11).
A conjunção de saberes híbridos imbuídos em contextos de produção de conhecimento
se desdobra como estratégias de enfrentamento aos limites desafiantes da universidade
96
contemporânea ao propor, concomitantemente, possibilidades de “transgressão do modelo de
racionalidade hegemônica, bem como novas perspectivas de inteligibilidade da vida por meio
das múltiplas linguagens científicas” (Ribeiro & Aguiar, 2006 p. 7). Porém, compreende-se
que essa perspectiva não é a proposição de um novo método totalizante, tal como apregoava a
ciência moderna na busca de formas mais concretas e efetivas de produção de conhecimento.
Como dito anteriormente, é uma possibilidade.
Com o propósito de sintetizar as concepções abordadas no construto teórico que se
apoiaram na pergunta de pesquisa “Como se dão as relações entre acadêmicos e praticantes
no contexto brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão Social”? a Figura 4
“Campos de Poder da Gestão Social” apresenta o campo de poder da Gestão Social
caracterizado pelas articulações entre os acadêmicos e praticantes.
97
Figura 4. Campos de Poder da Gestão Social
Na Figura 4 “Campos de Poder da Gestão Social” observa-se o campo social redimensionado no centro das
esferas sociais o qual demonstra estar ocupando o eixo das interseções entre as esferas pública, do Estado, do
mercado e privada. Esta posição permite destacar a constituição do campo social que se ancora em atores
organizacionais híbridos cuja atuação, mesmo oriunda de outros campos, convergiria para dinâmicas de cunho
social.
Fonte: Produção própria adapatada por Janoski, T. (1998). Citizenship and Civil Society: A Framework of Rights
and Obligations in Liberal, Traditional, and Social Democratic Regimes. Cambridge: University Press.
A noção que se pretendeu exprimir nesta Figura 4, “Campos de Poder da Gestão
Social”, baseia-se na perspectiva de que se trata de campos fluídos e em transformação, nos
quais se manifestam interesses entre atores que ora se colidem e ora se convergem.
Campo da
Gestão Social
Saberes híbridos
Habilidade Social
Esfera
Privada
Esfera
do
Mercado
Esfera
Pública
Esfera
do
Estado
“Como se dão as relações entre acadêmicos e praticantes no contexto
brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão Social”?
98
O tracejado que delimita o campo da Gestão Social demonstra que este se encontra em
construção, podendo se ampliar a partir de processos de interação entre agentes e estrutura.
Nessa perspectiva, nota-se uma fluidez entre para a esfera pública e estatal, na qual se
encontram os praticantes pertencentes às OSCs, às universidades e aos Centros de Estudos.
Na esfera mercadológica, pode se observar a presença do campo da Gestão Social por meio da
inserção dos praticantes atuando em empresas privadas. E na esfera privada, ressaltam-se
atores individuais, imbuídos de habilidades sociais que levam outros atores sociais a
cooperarem para determinado processo de produção de conhecimento em Gestão Social.
A fim de responder a pergunta de pesquisa, “Como se dão as relações entre
acadêmicos e praticantes no contexto brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão
Social”? o capítulo subsequente apresenta as estratégias e o planejamento da pesquisa
adotados na produção desta tese, que, conforme já apontado anteriormente, se fundamentou
na pesquisa qualitativa.
99
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O procedimento metodológico desta pesquisa baseou-se na pesquisa qualitativa por
entender que ela permite se analisar com maior profundidade a interpretação que os atores
sociais estabelecem de sua realidade, permitindo se avançar na compreensão de como o
campo em que atuam se organiza e quais seriam as dinâmicas que marcam a produção de
conhecimento e as relações entre acadêmicos e praticantes da Gestão Social nesse campo.
A escolha por esse método justifica-se também pelos aspectos conferidos a pesquisa
qualitativa a qual se fundamenta na apreensão e explicação do fenômeno social com o menor
afastamento possível do ambiente investigado (Godoi & Balsini, 2006). Nesse cenário, não se
buscam regularidades, mas o que levou os agentes a agirem de forma singular. “Essa
empreitada só é possível se os sujeitos forem ouvidos a partir da sua lógica e exposição de
razões” (Godoi & Balsini, 2006 p. 91).
Considerando que a Gestão Social envolve diferentes temáticas, cujos processos são
marcados por interações híbridas, apreende-se que o conhecimento gerado nesse campo
necessita ser observado mediante uma perspectiva multiparadigmática. Nesse sentido, o
objeto a ser analisado depende de uma pesquisa cunhada pela integração entre investigador e
mundo social, na qual se observaria atores subjetivos tomados de racionalidades múltiplas.
Tal lógica permite exprimir o fenômeno social que se pretende investigar, localizado no nível
do não verificável, mas do interpretável mediante a atribuição de um sentido (Godoi &
Balsini, 2006).
O recorte observacional para se analisar a produção de conhecimento sobre Gestão
Social a partir das relações entre acadêmicos e praticantes deu-se em função dos aspectos
contidos na estrutura de seu campo, bem como nos aspectos de suas ações. Tal recorte se
100
configura na dimensão meso caracterizada pelo campo e pelo espaço social da estruturação no
qual é possível observar a movimentação dos campos de poderes.
A partir desta dimensão, manifesta nas esferas sociais conforme o modelo explicativo
elaborado por Janoski (1998), foram selecionadas quinze (15) instituições de cunho
acadêmico e social, sendo sete (07) centros de estudo e programas de pesquisa provenientes
de universidades públicas e privadas e oito (08) organizações da sociedade civil.
A seleção das unidades de análise foi realizada de maneira intencional, tendo em vista
a possibilidade de reunir informações relevantes para o conhecimento das categorias básicas
de análise. Destaca-se que as unidades institucionais em evidência foram escolhidas mediante
a sua natureza representativa no mundo social, permitindo classificá-las como acadêmicos e
praticantes ambos do campo da Gestão Social. Nessa vertente, os praticantes se configuram
em profissionais atuantes no cenário sócio político e interessados em desenvolver novos
conhecimentos aplicáveis ao próprio trabalho (Ospina et al, 2001). Apreende-se que, os
acadêmicos também podem se inserir nessa perspectiva ao atuarem por meio do ensino,
pesquisa e extensão, no âmbito social. Todavia, consideraram-se os aspectos de sua
constituição, um de natureza cultural, em que se evidencia o conhecimento fundamentado
mais na ordem científica, e outro de cunho social, ancorado pelo conhecimento oriundo do
senso comum, do mundo da vida. Porém, conforme a análise social, quando se denomina
determinado ator como acadêmico e outro como praticante, não se pressupõe que uma
condição ou status elimina o outro, visto que praticantes podem se inserir, e muitas vezes o
fazem, no ambiente acadêmico por um período determinado ou mesmo indefinidamente, o
mesmo se dando com os chamados acadêmicos.
A característica fundamental que provocou o interesse em pesquisar os acadêmicos e
praticantes selecionados para análise nessa pesquisa se orientou pelos princípios de
valorização e articulação do conhecimento sobre Gestão Social. Não se trata de uma amostra
101
que represente qualquer conjunto e tão pouco não se constitui em um grupo que deve ser
tomado como caso de sucesso sobre a de produção de conhecimento em Gestão Social. São
unidades de análise diferentes entre si, mas permeadas por relações de influência mútua que,
convergentes ou divergentes, produzem conhecimento que está relacionado aos temas e áreas
de atuação que compreendem o campo da Gestão Social no Brasil contemporâneo. Enfim, são
atores sociais relevantes e reconhecidos como tal por outros atores envolvidos na Gestão
Social.
No âmbito dos acadêmicos, os centros de estudo e programas de pesquisa escolhidos
para se analisar a produção de conhecimento sobre Gestão Social desempenham atividades
científicas dinamizadas sob a forma de serviços e produtos que atendam às demandas das
comunidades envolvidas. O foco de atuação dessas unidades acadêmicas corresponde as
organizações da sociedade civil, governamentais e corporações que visam o desenvolvimento
de ações e estratégias de responsabilidade social empresarial. Sua ação, segundo informam os
dados secundários analisados, busca por princípios que postulam o desenvolvimento social
apoiado na cidadania, na democracia substantiva, no empreendedorismo social, na ética e
sustentabilidade sócio-empresarial.
Feito o recorte com base na dimensão meso foram objeto de investigação os seguintes
centro de estudos e programas de pesquisa acadêmicos: o Centro de Empreendedorismo
Social e Administração do Terceiro Setor (CEATS), do Departamento de Administração da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
(FEA/USP); o Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG),
pertencente a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), juntamente com o Programa de Gestão Pública e Cidadania (PGPC); o
Programa de Estudos em Gestão Social, vinculado à escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (PEGS/EBAPE/FGV); o Centro
102
Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia
(CIAGS/UFBA); o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos Sobre o Terceiro Setor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NIPETS/UFRGS); o núcleo de Estudos de
Administração do Terceiro Setor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(NEATS/PUC-SP) e o Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (NUPEGS/PUC Minas).
No Quadro 1, intitulado “Configuração dos Centros de Estudos e Programas de
Pesquisas Vinculados a Gestão Social”, tem-se um panorama geral desses centros de estudo e
programas de pesquisa demonstrando alguns aspectos que configuram o seu campo de
atuação. Este foi construído a partir das informações constantes nos seus respectivos sítios
eletrônicos institucionais, na análise de artigos científicos, bem como por meio das entrevistas
concedidas pelos docentes investigados. Essas informações procuraram caracterizar em linhas
gerais as dinâmicas de ação e as articulações provenientes de seus arranjos institucionais.
103
Quadro 1
Configuração dos Centros de Estudos e Programas de Pesquisas Vinculados a Gestão Social
IES
Centro/Programa
Missão Linhas de Pesquisa e projetos Produções científicas e
técnicas
Parcerias
CEATS/FEA/USP
Constituído em 1988
Gerar e disseminar conhecimentos e
práticas de gestão em
empreendedorismo social por meio
de pesquisas, cursos e publicações
focados no desenvolvimento
socioambiental sustentável.
Alianças Intersetoriais;
Avaliação de Projetos Sociais;
Desenvolvimento Sustentável;
Direitos da Criança e do Adolescente;
Empreendedorismo Social;
Gestão no Terceiro Setor;
Responsabilidade Social
Livros e capítulos de livros;
Artigos relacionados ao
Empreendedorismo Social e ao
Terceiros Setor;
Teses e dissertações;
Relatórios de pesquisa
Fundações e Instituições;
Empresas e Grupos de
Empresas;
Escolas, Instituições de Ensino e
Grupos de Pesquisa;
Social Enterprise Knowledge
Network (SKEN)
Organizações da Sociedade
Civil;
Organizações Governamentais
CEAPG/EAESP/
FGV
Constituído em 1998
Aprofundar o conhecimento sobre
governança pública, com foco no
desenvolvimento local e na garantia
de direitos da cidadania, por meio de
abordagem que priorize a pesquisa de
campo, produzindo, armazenando,
sistematizando e disseminando ideias,
dados e informações, com especial
atenção à inovação na ação pública.
Análise de Políticas Públicas Locais -
Educação;
Desenvolvimento Local;
Segurança Pública;
Grupos Vulneráveis;
Meio-ambiente;
Redução de desigualdades e Cultura.
Articulação, Estado e Sociedade -
Estado, movimentos sociais e agentes
privados; Transparência e Controle
Social.
Formação, Treinamento e Produção
Acadêmica - Registro de Experiências
Inovadoras; Redes de pesquisadores;
Formação de Gestores Públicos
Periódico: Cadernos Gestão
Pública e Cidadania;
Casos: coleção "20 Experiências
de Gestão Pública e Cidadania";
Livros: publicações do CEAPG,
derivadas de projetos e
pesquisas realizados pelo
Centro;
Vídeos: produzidos pelo
CEAPG, disponíveis em um
canal exclusivo no FGVTV;
Áudio: programas de rádio
produzidos pelo CEAPG
GVpesquisas
Portal do Conhecimento da
FGV – apoia e fomenta o
desenvolvimento da pesquisa
científica e aplicada;
Centro de Estudos em
Sustentabilidade – GVces;
Fundação Ford
104
PEGS/EBAPE/
FGV
Constituído em 1990
Desenvolver atividades de ensino,
pesquisa e extensão a fim de
institucionalizar o campo de estudos
em gestão social nas relações
sociedade-Estado, trabalho-capital e
sociedade-mercado.
Gestão Social, ensino, pesquisa e
prática;
Transferência de Tecnologia em
Gestão Social;
Participação e Cidadania nos
Conselhos Municipais;
Turismo em comunidades pacificadas
Livros e capítulos de livros
publicados;
Periódico Cadernos
EBAPE.BR;
Relatórios de pesquisa;
Dissertações
Escola de Administração
Pública e de Empresas
(EBAPE) Fundação Getúlio
Vargas (FGV)
CIAGS/UFBA
Constituído na
década de 1990
Promover o desenvolvimento sócio-
territorial mediante a criação de
tecnologias sociais reaplicáveis, a
partir de conhecimentos gerados pela
qualificação de gestores do
desenvolvimento social, nos âmbitos
da graduação e pós-gradução
Ensino, pesquisa e intervenção em
gestão pública e gestão social;
Economia solidária e sustentabilidade
ecológica;
Gestão criativa, diversidade e
interculturalidade;
Políticas públicas, políticas sociais e
gestão;
Gestão e responsabilidade
socioambiental;
Gestão do desenvolvimento territorial,
interorganizações e tecnologias sociais;
Marketing social;
Intersetorialidades na gestão de
políticas em gênero e raça/etnia
Livros e capítulos de livros;
Periódico Caderno de Gestão
Social;
Teses e dissertações;
Relatórios de pesquisa
Rede Brasileira de Avalição
(REBRAMA);
Procomitê Gestor do Artesanato
Baiano
NIPETS/UFRGS
Constituído em 1998
Contribuir através da pesquisa, do
ensino e da extensão, para a
construção democrática no plano
regional e global, salientando as
questões de inclusão social, de
pobreza, desigualdade, políticas
sociais e Terceiro Setor
Relação Estado-sociedade;
Processo de reconstrução democrática
e inclusão de países de extrema
precariedade;
Gestão do Terceiro Setor articulada aos
movimentos sociais globais;
Movimentos Sociais locais;
Economia Solidária;
Governança
Livros e capítulos de livros;
Artigos científicos;
Teses e dissertações;
Relatórios de pesquisa
Escola de Administração
UFRGS
105
NEATS/PUC-SP
Constituído em
1998
Produzir e difundir conhecimento
interdisciplinar sobre o Terceiro Setor
e áreas afins, contribuindo para o
desenvolvimento dos diferentes
segmentos da sociedade civil
Gestão de Organizações Sem Fins
Lucrativos;
Gestão Social e Terceiro Setor;
Pensando o Direito;
Educação para Sustentabilidade
Livros e capítulos de livros;
Artigos científicos;
Teses e dissertações;
Relatórios de pesquisa
Escola de Administração da
PUC/SP
NUPEGS/PUC
Minas
Constituído em
2004
Contribuir para a pesquisa e
dinâmicas sociais centradas nos
estudos da Ética Empresarial, Gestão
Social e Responsabilidade Social
Empresarial
Ética Empresarial e Responsabilidade
Social Empresarial;
Gestão Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável;
Gestão Social e Gestão Pública
Artigos científicos;
Teses e Dissertações
Programa de Pós-Graduação em
Administração (PPGA) - PUC
Minas;
Federação das Indústrias do
Estado de Minas Gerais
(FIEMG);
Fundação Avina do Brasil
Fonte: elaboração própria com base em análise de documentos e entrevistas.
106
Observa-se no Quadro 1 “Configuração dos Centros de Estudos e Programas de
Pesquisas Vinculados a Gestão Social” que as unidades acadêmicas selecionadas apresentam
no escopo de suas intenções e arranjos institucionais o interesse em contribuir e expandir com
o campo que permeia a Gestão Social. Esse interesse se expõe por meio das linhas de
pesquisas e projetos desenvolvidos, atrelado à produção de conhecimento científico e às
dinâmicas sociais.
Destaca-se que a data de constituição, originária da década de 1990, e os propósitos de
cada centro de estudo e programa de pesquisa evidenciam um contexto histórico marcado pela
institucionalização e expansão das organizações sociais no Brasil (T. M. D. Fischer & Melo,
2006, Marteleto e Ribeiro, 1997), cujos objetivos eram “promover o desenvolvimento
econômico local, impedir a degradação ambiental, defender os direitos civis e atuar em áreas
onde o Estado era incipiente” (Gohn, 2004 p. 29). Esse aspecto denota um interesse da
academia em compreender o movimento sociopolítico que a sociedade brasileira vivenciava à
época.
No contexto das organizações da sociedade civil primou-se pela seleção de
instituições, fundações e organizações da sociedade civil que tivessem no seu âmago
prerrogativas do campo da Gestão Social. Em outras palavras, objetivou-se analisar as
possibilidades e desafios da produção de conhecimento sobre a Gestão Social em
organizações cuja constituição e trajetória profissional atendessem as demandas sociais e
políticas de transformação socioambiental da realidade.
Destaca-se que os aspectos relevantes dessas organizações decorrem dos processos de
conhecimento gerados pelo apoio sistemático de intensas pesquisas sobre problemas sociais e
ambientais. As estratégias criadas para disseminar esse conhecimento a um maior leque de
profissionais da sociedade civil foi outra questão se considerou para os fins dessa pesquisa.
107
Com base nessas perspectivas, foram selecionadas oito (08) unidades de análise:
Fundação AVINA, Fundação AVSI, Organização da Sociedade Civil Cooperação para o
Desenvolvimento e Morada Humana (CDM), Instituto Hartmann Regueira, Instituto de
Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Grupo de Institutos e Fundações GIFE, Instituto Camargo Corrêa
e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).
Feito esse recorte, realizou-se uma investigação documental nos sítios eletrônicos de
várias organizações da sociedade civil que permitisse pesquisar o objeto de estudo proposto.
Apreende-se que, as unidades de análise escolhidas se inserem num campo
institucional cuja dimensão apresenta organizações que, mesmo de caráter social, são
heterogêneas tanto na sua constituição como na sua atuação. Portanto, essas unidades de
análise não definem e nem servem de exemplo de práticas de produção de conhecimento
sobre Gestão Social, elas contribuem para responder o problema de pesquisa em questão e,
concomitantemente para a construção do campo da Gestão Social ao se analisar o
conhecimento proveniente de sua atuação e interação social.
De forma sintética, os aspectos institucionais de cada organização social podem ser
visualizados no Quadro 2 “Organizações da Sociedade Civil Investigadas”. A sua elaboração
se deu a partir da observação documental e por meio das entrevistas semiestruturadas
realizadas com os gestores das respectivas organizações.
108
Quadro 2
Organizações da Sociedade Civil Investigadas
Organizações da
Sociedade Civil
Missão Agendas Produções técnicas e científicas Parcerias
Fundação AVINA
Constituída em 1999
(Brasil)
Área de atuação – Onze
países da América
Latina
A partir da América Latina,
contribuir para o
desenvolvimento
sustentável, viabilizando os
processos de articulação e
colaboração entre atores
diversos, de todos os setores.
Acesso a água;
Cidades sustentáveis;
Energia;
Estratégia para o bioma amazônico;
Grande Chaco americano;
Indústrias extrativas;
Institucionalidade democrática;
Migrações;
Reciclagem inclusiva e solidária
Livros - publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Fundações e Instituições;
Empresas e Grupos de Empresas;
Escolas, Instituições de Ensino e
Grupos de Pesquisa; Organizações
da Sociedade Civil
Fundação AVSI Brasil
Associação Voluntários
para o Serviço
Internacional
Constituída na década de
1980 (Brasil)
Área de atuação países
da África, leste Europeu
e América Latina
Promover a dignidade da
pessoa por meio de
atividades de cooperação ao
desenvolvimento, com
especial atenção à educação.
Desenvolvimento urbano;
Direitos humanos;
Educação,
Energia e ambiente;
Formação profissional e Geração de
renda;
Responsabilidade social corporativa
Livros - publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Organizações internacionais;
Organizações nacionais públicas e
privadas;
Fundações, ONGs, Associações e
Universidades
Cooperação para o
Desenvolvimento e
Morada Humana
(CDM)
Constituída em 1986
Área de atuação Brasil
– Estados de Minas
Gerais, Rio Janeiro e
Bahia
Promover e sustentar o
desenvolvimento humano e
social de pessoas e
realidades locais, com
particular atenção à
educação e à promoção da
dignidade da pessoa humana
em todas as suas expressões,
em sintonia com os
ensinamentos da Doutrina
Social da Igreja Católica.
Educação;
Desenvolvimento urbano;
Saúde;
Trabalho e renda
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Organizações internacionais;
Organizações nacionais públicas e
privadas;
Fundações, ONGs, Associações e
Universidades
109
Instituto Hartmann
Regueira
Organização da
Sociedade Civil de
Interesse Público
(OSCIP)
Constituída em 2003
Área de atuação Brasil –
Estado de Minas Gerais
Fortalecer a gestão de
organizações para que elas
cumpram sua Missão Social
Programa de Desenvolvimento em
Gestão para Organizações de
Terceiro Setor – PDG.org;
Programa avançado de formação,
com foco em gestão destinado às
organizações sociais;
Anti-bullying;
Alô Cidadão;
Universo Social;
Fórum de Investidores Sociais
Fóruns, blogs e boletins
eletrônicos, com estudos de caso e
relatos de experiências;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas
Secretaria de Estado de Educação
de Minas Gerais;
Fundação AVINA;
Federação das Indústrias do Estado
de Minas Gerais (FIEMG);
Oi Futuro;
Fundação Roberto Marinho;
Instituto Unibanco;
Banco Mundial;
Instituto Votorantim;
Instituto Camargo Corrêa;
Fundação Itaú Social e
Universidades.
Instituto de Pesquisas
Ecológicas (IPÊ)
Organização da
Sociedade Civil de
Interesse Público
(OSCIP)
Constituído em 1992
Área de atuação Todas
as regiões do Brasil
Desenvolver e disseminar
modelos inovadores de
conservação da
biodiversidade que
promovam benefícios
socioeconômicos por meio
de ciência, educação e
negócios sustentáveis.
Promoção de cursos de curta
duração e mestrado
Agendas/Projetos por região e
localização
Pontal - Grande Reserva do Pontal do
Paranapanema;
Nazaré Paulista - projetos de pesquisa
e educação ambiental, atrelados a
ações de conservação na região;
Baixo Rio Negro (Amazonas),
projetos que visam à conservação da
biodiversidade e a sustentabilidade
socioambiental;
Superagüi-Ariri, região do Parque
Nacional do Superagüi (PR);
O Pantanal - Iniciativa Nacional de
Conservação da Anta Brasileira;
Região de Buri - Programa de
Conservação para o Mico-leão-preto
Artigos publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Dissertações;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Relatórios anuais;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Instituições e Fundações nacionais
e internacionais;
Organizações privadas, públicas e
não governamental;
Pessoas físicas (parceiros e
colaboradores individuais);
Financiadores nacionais e
internacionais.
110
Grupo de Institutos e
Fundações
Empresariais GIFE
Constituído em 1995
Área de atuação Todas
as regiões do Brasil
Aperfeiçoar e difundir
conceitos e práticas do uso
de recursos privados para o
desenvolvimento do bem
comum.
Promoção do desenvolvimento
sustentável do Brasil, por meio do
fortalecimento político-institucional e
do apoio à atuação estratégica de
institutos e fundações de origem
empresarial e de outras entidades
privadas que realizam investimento
social voluntário e sistemático,
voltado para interesse público.
Congresso GIFE/Espaços de
articulação/Eventos/Advocacy;
Censo GIFE
Livros - publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Associados;
Fundação/Institutos Empresariais;
Independentes; Familiares;
Comunitários e Empresariais;
Universidades.
Instituto Camargo
Corrêa
Constituído em 2000
Área de atuação Brasil –
cidades no qual as
unidades de negócios do
grupo estão presentes
Articular e fortalecer
organizações que
contribuam para a formação
integral de crianças,
adolescentes e jovens,
visando ao desenvolvimento
comunitário sustentável
Desde 2007 - atuação focada em
quatro áreas: Primeira Infância;
Educação Básica; Juventude e
Voluntariado
Livros - publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Revista Ideal Comunitário;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas;
Produções técnicas para download
no sítio eletrônico
Os parceiros variam por programas
e localidades. São organizações da
sociedade civil, do poder público e
outras empresas dos municípios
onde os projetos são implantados;
Rede Interamericana de Fundações
e Ações Empresariais para o
Desenvolvimento de Base
(RedEAmérica); Movimento
brasileiro Todos pela Educação
Federação das
Indústrias do Estado
de Minas Gerais
(FIEMG)
Área de interesse
Desenvolvimento
Socioambiental –
constituída na década de
2000 -
Assessorar e apoiar em áreas
vitais as indústrias do Estado
de Minas Gerais.
Desenvolvimento
socioambiental Equilibrar
as dimensões econômica,
social e ambiental para a
criação de negócios
sustentáveis
Atendimento a Indústria;
Conhecimento e Mobilização;
Gestão de Recursos Hídricos;
Gestão de Resíduos Sólidos;
Inclusão de Pessoas com Deficiência
na Indústria;
Licenciamento Ambiental;
Minas Sustentável;
Produção Sustentável;
Relacionamento com a Sociedade
Livros - publicações de estudos e
pesquisas relativos as área de
atuação;
Relatórios e pareceres;
Guias, manuais e cartilhas;
Vídeos Institucionais de práticas
em projetos e programas
Indústrias mineiras associadas,
organizações privadas e públicas,
organizações não governamental,
instituições do Ensino Superior
Fonte: elaboração própria com base em análise de documentos e entrevistas
111
Conforme evidência o Quadro 2 “Organizações da Sociedade Civil Investigadas”, a
natureza, bem como a missão das organizações investigadas, guiadas pelo propósito do
desenvolvimento social, local e sustentável, permite identificá-las como praticantes da Gestão
Social. Nesse contexto, destacam-se suas produções técnicas, sociais e científicas as quais
evidenciam sistematizar e disseminar o conhecimento que é gerado por meio da interação
colaborativa com outros atores da Gestão Social, aspecto esse pouco expressivo na atuação de
outras organizações da sociedade civil.
Outra característica relevante é a estrutura organizacional dessas OSCs dinamizada
pelas parcerias entre atores da sociedade civil, Estado e mercado a qual permite perceber
interesses oriundos de esferas sociais distintas conectados por propósitos comuns. Esses
atores são provenientes da esfera privada, como o Instituto Camargo e Corrêa que pertence ao
Grupo Camargo e Correa, os representantes de empresas através da Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o grupo de organizações privadas que se articulam por
meio da Fundação GIFE. Em conformidade estão as organizações da sociedade civil AVINA,
AVSI e CDM, bem como as OSCIPs representadas pelo Instituto IPÊ e pelo Instituto
Hartmann Regueira que se originaram na esfera pública e do Estado. Tais características
denotam a presença de interações setoriais híbridos, característica que permeia a noção
multiparadigmática da Gestão Social.
A próxima seção apresentará as bases epistemológicas que nortearam a escolha dos
instrumentos de coleta de dados implementados nessa pesquisa e os critérios que motivaram a
utilização da análise do discurso para se apreender o fenômeno investigado. Destaca-se que as
escolhas metodológicas se guiaram tendo em vista a visão ontológica referente ao objeto de
estudo, a qual envolve a noção de processos históricos e sociais precedentes às ações e
práticas sociais.
112
5.1 Estratégias de Coleta dos dados
As estratégias de coleta de dados permearam a visão ontológica que norteia a
compreensão do objeto de estudo desta tese ao considerar o conhecimento produzido sobre
Gestão Social como processo dinâmico e dialético produzido a partir de realidades sociais
historicamente construídas.
Nessa vertente e, ao tomar a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir da
noção de aprendizagem socioprática, assume-se um multiparadigma epistemológico cujas
bases se fundamentam através de relações entre atores de natureza distinta, acadêmicos e
praticantes, mas com fins próximos, direcionados para algum ou alguns dos temas centrais da
Gestão Social, ou seja, que marcam a intervenção social visando a solução de problemas
socioambientais (Cançado, Pereira & Tenório, 2013).
A fim de explorar a produção de conhecimento sobre Gestão Social sem incorrer o
risco de prescrevê-la em bases tradicionais dos processos de ensino e aprendizagem (Boullosa
& Schommer, 2008) a coleta de dados se processou através de ampla pesquisa a bases de
dados científicas e acesso a fontes secundárias e primárias de informações acerca da produção
de conhecimento sobre Gestão Social.
Para a revisão bibliográfica e mapeamento da produção sobre temas e objetos de
investigação relevantes para a Tese, foram consultadas bases como a da Comissão de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Portal CAPES de Períodicos, J-
STOR e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Além da pesquisa em bases virtuais,
foram consultados livros que versam sobre os pressupostos e perspectivas sobre a Gestão
Social, sobretudo aqueles oriundos das edições do ENAPEGS.
Nesses levantamentos, ficou evidenciado que a produção científica sobre o
conhecimento gerado em Gestão Social a partir das relações entre acadêmicos e praticantes é
113
pouco expressiva e torna-se mais insignificante quando se busca discussões acerca de seus
desdobramentos e implicações para a ressignificação do campo da Gestão Social.
Para o levantamento de informações das instituições produtoras de conhecimento
sobre Gestão Social foram realizadas visitas aos sítios dos programas e projetos na Internet,
análise de relatórios, de cartilhas, leitura de material de divulgação e acesso a artigos
publicados sobre as experiências analisadas, o que se constituiu nas principais estratégias de
levantamento de informações secundárias nessa investigação. Destaca-se que ela foi útil por
permitir que os documentos pudessem ser usados como entradas para o roteiro de entrevista,
bem como por traçar a história das instituições, confirmando declarações feitas por pessoas
chave a posteriore (Meyer, 2001).
A coleta de dados primários envolveu a realização de dezessete entrevistas
semiestruturadas com os atores imbricados nas dinâmicas e interações das instituições
pesquisadas. Procurou-se coletar os dados de forma a favorecer a interação comunicativa
entre entrevistado e entrevistador, de forma a provocar leves reações e comportamentos
linguísticos (Mattos, 2006), de parte a parte, determinando o verdadeiro significado das
respostas e o rumo das falas.
Os critérios utilizados para a escolha dos atores entrevistados se pautaram na
vinculação formal com as instituições investigadas. Para tanto, se considerou os aspectos
histórico-políticos, de representatividade e legitimidade. A acessibilidade aos dados e aos
sujeitos constituintes da amostra foi outro fator relevante.
As entrevistas foram individuais, com roteiros semiestruturados (Apêndice A, B e C)
com as mesmas questões, porém direcionadas para cada perfil do grupo de entrevistados,
acadêmicos e praticantes. O roteiro se estruturou em dezenove e vinte questões abertas,
desmembradas em subitens, a fim de reorientar a entrevista durante a coleta das informações
(Gaskell, 2002). As questões foram definidas segundo os aspectos do campo que os
114
constituem, bem como as dimensões temáticas predefinidas no planejamento do referencial
teórico.
O roteiro foi dividido em cinco blocos de perguntas: caracterização da trajetória
profissional do entrevistado vinculada à instituição de atuação (2 questões); compreensão
sobre a Gestão Social e as dinâmicas representativas de sua ação (3 questões); noção do
conhecimento sobre a Gestão Social gerado pela instituição investigada e pelo o seu campo
organizacional (7 questões); análise da relação entre organizações da sociedade civil e
universidades, tendo a produção de conhecimento sobre a Gestão Social como pano de fundo
(6 questões); futuro da instituição investigada e da produção de conhecimento sobre a Gestão
Social no Brasil e no mundo (2 questões). Essas temáticas foram discutidas de forma a fazer
emergir no discurso e na reflexão os significados que os atores atribuem às ações, as práticas
interativas, valores, interesses, recursos e jogos de poder envolvidos na produção de
conhecimento sobre gestão, além das suas implicações na construção do campo da Gestão
Social.
A construção dos roteiros de entrevista buscou gerar instrumentos de coleta de dados
capazes de se evitar respostas idealizadas ou construções conceituais, de modo a captar a
vivência dos atores pesquisados. Este propósito exigiu esforço analítico e reflexivo redobrado,
o qual se efetivou por meio da análise do discurso dos depoimentos dos respondentes.
Realizadas no período compreendido entre setembro de 2013 a janeiro de 2014, as
entrevistas foram efetivadas presencialmente e a distância, usando o recurso tecnológico do
Skype, que proporcionou compatibilizar das disponibilidades dos pesquisados e do
pesquisador. Apenas uma entrevista foi realizada por telefone, o que não comprometeu a sua
objetividade. Todavia, algumas dificuldades relativas à acessibilidade e a disponibilidade
foram observadas entre alguns atores que se buscou investigar. As duas situações derivaram
do universo das organizações da sociedade civil, sendo que uma delas teve o contato
115
estabelecido, porém sem a concretização da entrevista decorrente da ausência do indivíduo a
ser entrevistado nos momentos agendados. Na outra situação, houve várias tentativas de
contato com o agente de interesse, mas não se obteve sucesso em nenhuma delas.
Vale destacar que as duas primeiras entrevistas foram realizadas presencialmente, no
Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração
(EnANPAD) em setembro de 2013, junto a dois respondentes selecionados do campo
acadêmico com o intuito de testar o roteiro de entrevista elaborado.
Cada entrevista durou em média de uma a duas horas, sendo integralmente gravadas e
transcritas. Todos os entrevistados tiveram explicações prévias sobre a pesquisa e autorizaram
a análise e a reprodução dos relatos. Durante as etapas da análise, o vocabulário dos
entrevistados e dos documentos foram respeitados e utilizados na íntegra, visando unicamente
a auxiliar na definição de temas e categorias e registrar com fidelidade a percepção dos
sujeitos entrevistados.
Porém, a fim de garantir o anonimato dos entrevistados, a sua identificação se deu por
meio de códigos que indicassem o seu campo de atuação. O Quadro 3 “Perfil dos
Entrevistados: acadêmicos” e o Quadro 4 “Perfil dos Entrevistados: praticantes” exibem uma
lista codificada, acompanhada pela descrição da formação acadêmica e profissional de cada
um com o intuito de evidenciar a relevância dos entrevistados nos processos de produção de
conhecimento sobre Gestão Social decorrente das interações entre academia e praticantes. Nas
análises e transcrições de trechos de falas, foram utilizados os códigos em evidência.
116
Quadro 3
Perfil dos Entrevistados: acadêmicos
Setor
Código Local de Trabalho Formação Acadêmica Cargo de Ocupação
Acadêmico
Centros de Estudo e
Programas de
Pesquisa
ACAD 1 CEATS/FEA/USP Graduação em Economia e Mestrado e Doutorado em
Administração
Coordenadora do CEATS/FEA/USP
ACAD 2 CEATS/FEA/USP Livre Docência, Mestrado em Ciências Sociais, Doutorado em
Ciências Políticas e Pós-Doutorado USP (Brasil)
Fundadora e Coordenadora do
CEATS/FEA/USP
ACAD 3 CEAPG/EAESP/FGV Graduação em Direito, Mestrado em Administração de
Empresas, Doutorado em Administração de Empresas e Pós-
Doutorado – área Administração (Canadá)
Membro pesquisador do
CEAPG/EAESP/FGV
ACAD 4 CEAPG/EAESP/FGV Graduação em Psicologia e Doutorado em Psicologia
Organizacional
Membro e fundador do
CEAPG/EAESP/FGV e um dos fundadores
do Programa de Gestão Pública e Cidadania
(PGPC)
ACAD 6 NEATS/PUC-SP Graduação em Ciências Sociais, em Filosofia, Mestrado em
Saúde Pública e Doutorado em Administração da Saúde
Coordenador Geral do NEATS/PUC-SP
ACAD 7 NIPETS/UFRGS
Graduação em Sociologia, Mestrado em Sociologia das
Organizações, Doutorado em Administração e Pós-Doutorado
em Institute de Recheche Pour Le Développement (França)
Coordenadora do NIPETS/UFRGS
ACAD 8 NUPEGS/PUC Minas Graduação em Filosofia e Psicologia, Mestrado em
Administração e Doutorado em Administração
Vice Coordenador do NUPEGS/PUC Minas
ACAD 9 PEGS/EBAPE/FGV Graduação em Administração, Mestrado em Educação e
Doutorado em Engenharia da Produção
Coordenador Geral do PEGS/EBAPE/FGV
ACAD 10 CIAGS/UFBA Graduação em Pedagogia, Mestrado em Administração e
Doutorado em Administração, Pós-Doutorado em França,
Estados Unidos, Canadá e Espanha
Coordenador Geral do CIAGS/UFBA
Fonte: elaboração própria.
117
Quadro 4
Perfil dos Entrevistados: praticantes
Praticantes
Organizações da
Sociedade Civil
PRAT 1 Cooperação para o
Desenvolvimento e
Morada Humana
(CDM)
Graduação em Contabilidade e
Tecnologia Informacional
Diretor de Gerenciamento de Projeto
PRAT 2 Fundação AVSI Graduação em Economia das instituições internacionais Responsável pela sede de administração da
fundação AVSI no Brasil
PRAT 3 Federação das
Indústrias e Empresas
de Minas Gerais
(FIEMG)
Graduação em Serviços Sociais Coordenadora do setor de Responsabilidade
Social
PRAT 4 Instituto IPÊ Graduação em Ciências Biológicas, mestredo e doutorado em
Educação Ambiental
Vice presidente do IPÊ e Reitor da Escola
superior de conservação e sustentabilidade
PRAT 5 Fundação AVINA Graduação em Pedagogia e Especialização em Pedagogia
Social
Diretor de Alianças Estratégicas
PRAT 6 Instituto Camargo e
Corrêa
Graduação em Administração Diretor do Instituto Camargo Correia
PRAT 7 Instituto Hartmann
Regueira
Graduação em Terapia Sistêmica Diretora Executiva do Instituto Hartmann
Regueira
PRAT 8 Grupo de Institutos e
Fundações GIFE
Graduação em Ciências Sociais Coordenadora da Área de Gestão de
Conhecimento
Fonte: elaboração própria.
118
Conforme demonstra o Quadros 3 “Perfil dos Entrevistados: acadêmicos” e o Quadro
4 “Perfil dos Entrevistados: praticantes”, buscou-se pesquisar atores cujo cargo de ocupação
na instituição representasse um potencial investigativo acerca dos objetivos dessa pesquisa.
Essa perspectiva fundamenta-se pela escolha metodológica da análise do depoimento dos
respondentes que prevê organizar a reconstrução dos sentidos das respostas em sua situação
micro e macrossocial de enunciação (Godoi, 2005). Guiada pela fenomenologia, pela
etnologia e pela Teoria Crítica da Sociedade, objetivou-se encontrar um modelo de
representação e de compreensão do texto concreto em seu contexto social e na historicidade
de suas proposições (Alonso, 1998, p. 188), o que se pressupôs ser possível por meio da
investigação de atores que exprimissem maior conhecimento sobre os fatores macro e
microssociais relativos à instituição a qual representam.
O Quadro 3 “Perfil dos Entrevistados: acadêmicos” e o Quadro 4 “Perfil dos
Entrevistados: praticantes” também descrevem a formação acadêmica de cada um, sendo
possível se observar no âmbito dos praticantes uma preponderância na área das Ciências
Sociais Aplicadas. A mesma observação pode ser feita para os acadêmicos cuja formação
além de contemplar a área das Ciências Sociais Aplicadas, também se concentra no campo de
conhecimento da Administração. Esses dados permitem notar uma formação em áreas de
conhecimento similares.
Destaca-se que o intuito do Quadro 3 “Perfil dos Entrevistados: acadêmicos” e do
Quadro 4 “Perfil dos Entrevistados: praticantes” foi apenas de descrever, de forma sintética,
o perfil dos entrevistados. A análise dos dados primários se efetivará no próximo capítulo,
cuja base metodológica se ancorou na análise dos depoimentos dos respondentes selecionados
em bases da pesquisa qualitativa.
A análise dos depoimentos ancorou-se nas concepções teóricas e temáticas que
ancoram o campo da Gestão da Social as quais, para fins desta tese, consideraram-se as que se
119
fundamentam na ação racional substantiva, intersubjetiva e dialógica entre interorganizações,
voltadas para o desenvolvimento social do território (T. M. D. Fischer, 2002, Tenório, 2005,
Carrion, 2008, Boullosa & Schommer, 2008).
Apreende-se que essa aproximação teórica exige do investigador, uma visão pautada
no indeterminismo e nas diferenças microssociais de cada ator investigado, o que requer uma
análise abrangendo um domínio mais vasto que o da conversação no sentido estrito, incluindo
aspectos não verbais da comunicação (Godoi, 2005). O discurso não pode ser analisado no
vácuo contextual, lembra Godoi (2005) a partir de Lakoff (2005), visto que ele é inerente à
vida social. Dessa forma, buscou-se observar as “diferenças e descontinuidade dos planos de
onde o sujeito fala” (Godoi, 2006, p. 387), não se pretendendo considerar as “regularidades no
discurso, mas sim a dispersão” (Godoi, 2006, p. 387).
A partir desta perspectiva e em consonância com as abordagens teóricas adotadas
nessa pesquisa, procurou-se identificar e explorar: I) a noção que os atores investigados
constroem sobre a produção de conhecimento em Gestão Social a partir das ações e dinâmicas
representativas desse campo; II) as habilidades sociais e o hibridismo que se manifestam nas
relações entre organizações da sociedade civil e universidades, tendo como pano de fundo a
perspectiva de campos de poder; III) as possibilidades e os limites para a superação dos
problemas que envolvem a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir da relação
entre acadêmicos e praticantes desse campo no Brasil. Destaca-se que tais categorias serviram
como suporte na orientação da análise dos dados coletados, sem, entretanto, engessar o
conteúdo das respostas que se deu de forma integrada com as observações e argumentações
do entrevistador. Em outras palavras, a análise apresentada não foi fragmentada por blocos de
falas divididos em categorias, mas sim pela conjunção de ideias que respondiam o item a ser
observado. A realização dessa dinâmica se revelou em um desafio, pois, a todo o momento os
120
relatos tinham que ser analisados buscando-se uma integração com outras questões
ponderadas pelos atores entrevistados e em consonância com a discussão teórica apresentada.
121
6 ANÁLISE DOS DADOS: A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE GESTÃO
SOCIAL ENTRE ACADEMICOS E PRATICANTES
A análise inicial abrangeu as categorias de análise vinculadas a noção e a compreensão
acerca da Gestão Social, considerando as características que contribuíram para a estrutura
desse campo vinculado às possibilidades de habilidade social. Nessa perspectiva, vale
destacar os fatores que nortearam e que orientam os trabalhos desenvolvidos pelas unidades
de análise que, conforme demonstrado pelos atores investigados, são provenientes de um
contexto sociopolítico marcado pelos movimentos sociais reivindicatórios dos anos 1980 e
1990.
Este período, caracterizado por Gohn (1995) como dois momentos de ativismo
brasileiro, evidenciou um conjunto de práticas que se traduziram numa cultura de cidadania.
Segundo a autora, era algo “novo num país de tradição centralizadora, autoritária,
patrimonialista e clientelística. As ações abriram espaço que demarcaram novos lugares para a
ação política, especialmente ao nível do poder local” (Gohn, 1995, p. 63).
Tais movimentos decorreram de organizações da sociedade civil que, em 1980
geraram um cenário de grande participação civil, seguido pela criação de espaços de
interlocução entre o Estado e a sociedade civil e pela transição democrática no país (Gohn,
1995). Esse advento, apoiado pela promulgação da nova Constituição brasileira orientou-se
para a união da democracia direta à democracia participativa visando a “participação na
definição das formas de gestão dos equipamentos e serviços, a definição da implantação das
Leis Estaduais e Municipais, a construção dos diferentes Conselhos e Câmaras de
interlocutores do Estado com a sociedade” (Gohn, 1995, p. 64).
A perspectiva de inserção no Estado por meio de canais interlocutores e participativos
da sociedade civil e o surgimento ou renascimento de novas lutas sociais de caráter cívico,
122
bem como a criação das redes de economia informal ou comunitária, determinou a mudança
no tipo predominante de associativismo nos anos 1990 (Gohn, 1995, Marteleto & Ribeiro,
1997, T. M. D. Fischer & Melo, 2006).
Observou-se que, este cenário influiu na trajetória inicial de alguns centros de estudo e
programas de pesquisa investigados, notadamente, o CEATS/USP, o CEAPG/FGV, o
CIAGS/UFBA e o NEATS/PUC-SP. Essa observação será evidenciada no item a seguir, o
qual discutirá as características que permeiam a ação dos atores investigados apreendidos por
meio das entrevistas semiestruturadas e pesquisa documental.
6.1 A trajetória dos acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social
Segundo a fundadora e coordenadora do CEATS/USP, o surgimento do centro de
estudos e pesquisa se deu a partir de uma observação constante e sistematizada de
movimentos da sociedade civil que vinham se organizando e adquirindo CNPJ, tal como as
organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos (ACAD 2, 2013).
(...) Com todas essas ideias de terceiro setor que eu observava nos Estados
Unidos, aí eu disse: bom, temos que encontrar essas organizações e criar
projetos onde elas se liguem com o governo, com empresas locais para o
desenvolvimento local. Veja que interessante né, surge o conceito de parceria
de alianças estratégicas e isto é mais ou menos em 1991 e 1992, estes
projetos tomaram um corpo muito forte dentro da faculdade onde nós
resolvemos criar um espaço de estudo do terceiro setor e foi assim que surgiu
o CEATS (ACAD 2, 2013).
Essa percepção adicionada ao crescente número de organizações do terceiro setor no
Brasil, desde meados dos anos 1980, refletiu no “reconhecimento da magnitude e da
importância que o terceiro setor vinha adquirindo no universo das organizações que
conformam a sociedade contemporânea” (Scaico, 1997 p. 74). Com o aumento da demanda de
apoio consultivo, palestras e conferências dos docentes, assim como no desdobramento do
interesse dos pesquisadores por esse fenômeno organizacional, em 1997, o CEATS/USP foi
concebido não somente com o intuito de “nuclear atividades acadêmicas e científicas, mas
123
também para, concomitantemente, dinamizá-las sob a forma de serviços e produtos que
atendessem às necessidades da comunidade” (Scaico, 1997 p. 74).
O CEAPG/FGV, outra unidade acadêmica observada sob esse aspecto, foi fundado a
partir de um contexto no qual se aglutinavam ideias que iam além da administração das
políticas públicas. Conforme o relato do professor fundador desse centro de estudo, a
Administração pública ampliava o discurso para outras formas de relacionamento com a
sociedade civil, “não era só administração pública e governo, era muito mais amplo” (ACAD
4, 2013). Essa perspectiva, associada a um novo curso de mestrado em Administração Púbica
e Governo oferecido pelo CEAPG/FGV contribuiu para que esse centro de pesquisa, a partir
de 1989, orientasse os seus propósitos para questões mais amplas da administração pública.
Essas questões concentram o interessem em aprofundar o conhecimento sobre governança
pública, com foco no desenvolvimento local e na garantia de direitos da cidadania.
Quanto ao CIAGS/UFBA, o seu processo de ensino e pesquisa sobre a Gestão Social,
iniciou inspirado nos ideais de uma comunidade solidária que era liderada por uma pessoa
aberta e que dialogava com todas as correntes de movimentos políticos e populares, a
professora Ruth Cardoso (ACAD 10, 2014). Sob essa perspectiva, o centro de estudo se
consolidou no início da década de 1990 como um espaço de articulação entre saberes teóricos
e práticos voltados para a promoção e aproximação entre discentes, professores e
pesquisadores de Gestão Social com o Estado, a sociedade civil e empresas.
Já o NEATS/PUC-SP foi influenciado pelo interesse de alunos da PUC/SP, que
vinham observando um movimento de estudos e pesquisas na USP sobre o terceiro setor. Em
1998, o núcleo de estudo surgiu mobilizado por alunos e professores da PUC/SP empenhados
em melhor compreender a sistemática do terceiro setor. Cadastrado desde 2000 no CNPQ
com a linha de pesquisa Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos, Gestão Social e
Terceiro Setor, este núcleo de estudo tem por objetivo realizar pesquisas, atividades de
124
formação e de consultoria, produzir e difundir conhecimentos, articular redes e apoiar a gestão
de organizações do terceiro setor, bem como a gestão das políticas sociais.
Destaca-se que essas dinâmicas da ação social foram também observadas sob a ótica
de uma praticante do campo da Gestão Social que, ao atuar em diversas organizações privadas
interessadas em atender uma demanda social e política em São Paulo, ilustrou um quadro bem
similar ao apresentado pelos docentes, evidenciando a relevância do papel dos praticantes e
acadêmicos nesse processo de construção e de disseminação de ações de interesse público.
O primeiro estudo que eu vi para o social sendo desenvolvido pelas empresas
em São Paulo foi do instituto C&A, realizando trabalhos diretamente na
comunidade durante a década de 1990. Depois entrou a Associação Brasileira
dos Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ) e mais adiante o movimento do
voluntariado com a professora Ruth Cardoso. Em São Paulo a questão do
voluntariado já estava borbulhando, ai eu percebi uma relação interessante
por que a Fundação Getulio Vargas de lá entrou com uma formação para
administradores para gerir o social, diretamente para o terceiro setor, e eles
montaram um centro para o terceiro setor. Isso deve ter sido em 1995. Em
1998 foi fundado o Instituto Ethos. Nesse período eu trabalhei em outra
empresa cujo diretor geral mais outros 24 gestores e diretores fizeram o 1º
curso MBA para altos executivos da USP. Nesse curso foi proposto uma
agenda para o século XXI no qual houve um ponto unanime entre eles que
era construir um trabalho de desenvolvimento social. Esses alunos, após o
termino do curso continuaram se reunindo aos sábados, mais ou menos duas
vezes por mês para entender o que era esse social por detrás das empresas, e
desses encontros se formou a associação dos alunos dos MBAs da USP. Logo
após, já na segunda turma de MBA da USP, a gente começou uma discussão
sobre as possibilidades da USP em oferecer uma especialização como a da
Fundação Getulio Vargas, que era direcionada para as questões do terceiro
Setor. O propósito era pegar o conhecimento de gestão que esses executivos
tinham para trabalhar a gestão social. Depois foi criado o CEATS da USP.
Daí a associação dos ex-alunos conseguiu, apesar da competição entre USP e
Fundação Getulio Vargas juntar essas duas instituições para construir
algumas coisas que a gente percebia que eram importantes, de algo que fosse
útil para a sociedade (PRAT 3, 2013).
Esse relato corrobora com o cenário desenhado pelos acadêmicos ao identificar, por
exemplo, atores como a professora Ruth Cardoso, que é vista como uma figura central para os
estudos sobre solidariedade e voluntariado. Neste ínterim, além da presença de fundações
como a C&A, a ABRINQ e o instituto Ethos, a USP e a Fundação Getúlio Vargas foram
apontadas como universidades mediadoras e promotoras dessa discussão, sinalizando um
ambiente marcado por atores de diversos setores, porém, guiados pela perspectiva de atender
uma demanda que se afirmava no âmbito social, econômico e político na década de 1990.
125
A atuação das instituições praticantes investigadas foi influenciada pelo mesmo
quadro sociopolítico desenhado pelos acadêmicos, no qual se percebia uma movimentação no
âmbito da sociedade civil organizada. A fim de melhor compreender esse quadro, vale
destacar algumas tipologias criadas por Gohn (1997, p. 12 - 14), que caracterizaram as OSCs
atuantes no Brasil dos anos 1990, visto que, das 8 (oito) unidades analisadas, 7 (sete) se
constituíram nesse período.
A década de 1990, marcada por uma desconcentração de várias atividades estatais na
área social, levou a transferência da operacionalização de vários serviços para o setor privado
sem fins lucrativos e para organizações sociais que, segundo Gohn (1997), podem ser
sintetizadas como OSCs caritativas, OSCs desenvolvimentistas, OSCs cidadãs e OSCs
ambientalistas.
As primeiras, referenciadas como caritativas concentravam suas ações a partir de
categorias específicas e assistencialistas, voltadas para atores do cenário urbano como os
menores, mulheres e idosos. A sua atuação envolvia espaços de trabalho com meninos e
meninas de rua e de educação infantil oferecida por creches que, mais adiante, atendendo as
exigências constitucionais substituiu o caráter filantrópico para creches conveniadas o qual
ampliou as possibilidades de OSCs bem articuladas nessa área.
As OSCs desenvolvimentistas teriam surgido a partir de propostas de intervenção no
meio ambiente. Baseiam-se em propostas de desenvolvimento sustentável, intervindo
regionalmente em áreas de barragens, reservas ecológicas e naturais, reservas indígenas ou de
produção alternativa de produtos do mercado popular. Articulam-se, por vezes, em redes de
caráter internacional.
Direcionadas para a reivindicação dos direitos de cidadania, as OSCs cidadãs atuariam
no espaço urbano, orientadas para a construção de redes de solidariedade que promovem ou
participam de programas e serviços sociais básicos e emergenciais e para atuação junto a
126
minorias discriminadas. Elas têm uma ampla inserção junto aos canais de comunicação e em
nível de políticas públicas.
As OSCs ambientalistas, sob a premissa do desenvolvimento sustentável na área
urbana, contribuiriam para a mudança do perfil das cidades brasileiras. “Praças e prédios
históricos são recuperados por força de suas ações” (Gohn, 1997, p. 14).
Destaca-se que, essas tipologias não descrevem todas as características de formação e
de organização das OSCs no Brasil; elas apresentam os aspectos gerais que as abrangem, pois
são marcadas pela pluralidade de sua constituição e pelos ideais que as norteiam no campo de
sua atuação (Gohn, 1997, Marteleto & Ribeiro, 1997, Alves, 2002, Teodósio, 2005, T. M. D.
Fischer & Melo, 2006).
Apreende-se que os aspectos apontados relativos a formação e atuação híbrida das
OSCs no Brasil contribuem para melhor compreender o cenário sociopolítico no qual elas se
constituíram, trazendo perspectivas que elucidam as características do campo que as
envolvem.
Duas fundações e institutos originários da esfera do mercado salientaram aspectos
similares com relação ao quadro sociopolítico no qual se formaram o Grupo de Institutos e
Fundações Empresariais GIFE e a FIEMG.
O GIFE, organização que prevê em seu escopo de atuação a articulação de institutos,
fundações e empresas diretas interessadas em discutir e dinamizar o investimento social foi
marcada, no cenário de sua concepção, por pressões da sociedade civil de São Paulo a qual
questionava os impactos dos negócios das empresas sobre a sociedade e o meio ambiente. A
coordenadora do setor de Gestão do Conhecimento relatou que a fundação “surgiu muito a
partir de um movimento do campo empresarial, preocupados com a pressão que eles vinham
sofrendo da sociedade” (PRAT 8, 2013). Consolidada em 1995, a partir de um amplo período
de discussões entre empresários e executivos interessados em compreender as contribuições
127
que o investimento social poderia repercutir para a sociedade civil, a Rede GIFE é marcada
pela diversidade de seus investidores, que reúne hoje centro e trinta (130) associados,
operando projetos próprios ou viabilizando os de terceiros. Suas ações se orientam para a
articulação, diálogo e troca de experiências entre os associados, bem como para a difusão dos
conhecimentos provenientes dessas articulações. Dessa forma, seus documentos oficiais
afirmam que a organização busca aprimorar o investimento social por meio de troca de
experiências e pela construção de referências para a atuação de investidores. Outra iniciativa
seria desenvolvimento de um trabalho de representação perante o governo e outras redes e
associações, acompanhando e influindo no ambiente regulatório do Terceiro Setor. Essas
linhas de atuação congregam suas forças para a articulação, gestão do conhecimento e para a
advocacy (PRAT 8, 2013).
Na FIEMG, observou-se um quadro semelhante influenciado pelas pressões da
sociedade civil. Esse órgão de representação das indústrias mineiras criou no início da década
de 2000 um núcleo com o objetivo de fomentar o espírito voluntariado nos empresários,
denominado Voluntariados das Gerais. “Esse trabalho tinha a intenção de se tornar
independente, como uma ONG, uma coisa que o torna da sociedade, só que ele tornou algo de
extrema importância para a FIEMG, a qual resolveu chamá-lo de responsabilidade social”
(PRAT 8). Posteriormente, este núcleo veio a se consolidar como um espaço institucional da
FIEMG representativo da responsabilidade social das indústrias associadas.
Percebe-se que essas instituições não se enquadram nas tipologias desenhadas por
Gohn (1997), mas retratam OSCs que podem ser observadas como do terceiro setor, por se
caracterizarem como organizações/empresas que atuam na área da cidadania empresarial,
incorporando critérios da economia de mercado do capitalismo para a busca da qualidade e
eficácia de suas ações (Gohn, 1995). Elas também atuam segundo “estratégias de marketing e
128
utilizam a mídia para divulgar suas ações, bem como desenvolvem uma cultura política
favorável ao trabalho voluntário nos seus projetos” (Gohn, 1995 p. 65).
Essas características permeiam o escopo de atuação do Instituto Camargo Corrêa que,
assim como o Instituto e Fundações Empresariais GIFE, desenvolve iniciativas de
investimento social, porém, oriundas do Grupo Camargo Corrêa. Em outras palavras, a sua
atuação considera a diversidade e abrangência dos negócios do grupo e das comunidades
envolvidas.
De acordo com o diretor do instituto, o propósito de integração estratégica aos
negócios do grupo ocorreu a partir de 2007, ano em que ele iniciou sua trajetória na
instituição. Antes, o objetivo do instituto permeava os desígnios do desenvolvimento social,
todavia ancorado na perspectiva filantrópica e assistencialista, no qual as empresas apenas
aportavam recursos para que pudesse desenvolver os projetos sociais na área da infância e
alguns na área da educação. A partir de 2007, os objetivos da instituição se concentraram em
três programas chamados estruturantes, sendo eles, Infância Ideal, Escola Ideal e Futuro Ideal.
Além desses, há um quarto programa que permeia os três, denominado Ideal Voluntário.
Segundo o relato do diretor do Instituto, o trabalho é direcionado para a “defesa dos direitos
da infância, melhoria da qualidade da educação publica de ensino fundamental e num outro
programa, empreendedorismo e geração de renda focada em jovens” (PRAT 6, 2013).
Outras três unidades de análise pesquisadas, pertencentes ao grupo das organizações
da sociedade civil e de característica propositiva semelhante às tipologias empregadas por
Gohn (1989), sinalizaram, a partir da análise dos dados secundários e primários um cenário
sociopolítico mediado por pressões de natureza ética com propósitos direcionados, não só
para as questões ambientais, bem como para as possibilidades de relacionamento entre o
Estado e a sociedade.
129
Destaca-se que, entre essas três OSCs, duas são de cunho internacional e um dos
aspectos que apontam a centralidade de suas ações reside no interesse acerca dos problemas
sociais mundiais, oriundos, principalmente de países emergentes.
A Fundação AVINA é uma das OSCs internacionais pesquisadas. Com sede na Costa
Rica, e tendo como foco de atuação a América Latina, essa organização, a partir da presença
do seu fundador na Rio-92, o qual lhe conferiu a possibilidade de conhecer melhor o ambiente
das organizações sociais latino americana, incrementou a sua atuação na região ao verificar
que poderia complementar a contribuição que vinha sendo destinada para o crescimento da
região via investimento social (PRAT 5, 2013).
A partir da abertura de um escritório na Argentina, em 1994, a Fundação AVINA cujo
objetivo central era investir em pessoas com interesse e com agendas criativas, apoiadas pelos
princípios éticos, inovadores e empreendedores para um desenvolvimento sustentável,
ampliou seu território de atuação na América Latina. O Brasil se tornou um foco de atenção
para os investimentos da Fundação, ao observarem um contexto social dotado de criatividade
e de práticas empreendedoras sociais diversificadas. Em 1997, criou-se um escritório no Rio
de Janeiro denominado “Centro de Serviços” da AVINA destinados aos seus aliados no Brasil
e para as pessoas que já trabalhavam no país (PRAT 5, 2013).
Segundo o Diretor de Alianças Estratégicas da Fundação AVINA,
depois que ela passa a se institucionalizar, como eu digo, quando
deixa de ser um investimento social do fundador e passa ser um
investimento social das empresas com as quais o fundador estava
mais vinculado, aí entra uma fase de institucionalização da AVINA
no Brasil. Então, o trabalho da AVINA resultou da experiência dos
aprendizados que tinha feito nos outros países, resultou da
identificação do ambiente positivo para a AVINA atuar dentro da
lógica que ela trabalhava, apoiando os líderes sociais e indivíduos
empreendedores (PRAT 5, 2013).
A outra fundação investigada, também de origem internacional, foi a AVSI que tem
em seu âmago o intuito de apoiar a valorização da dignidade da pessoa por meio de ações de
fortalecimento da sociedade civil, através da adesão a família, a criança, às organizações
130
comunitárias e a parcerias com diversos atores sociais, pertencentes a países emergentes ou
em desenvolvimento.
Ela iniciou a sua trajetória profissional de atendimento a populações carentes e
vulneráveis no Brasil na década de 1980, concentrando inicialmente os seus trabalhos na
região do nordeste que, posteriormente foram expandidos para os Estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
Apreende-se, baseado nos princípios que a norteiam, que o cenário brasileiro
composto por questões sociais, políticas e econômicas emergentes foi o fator indutor para o
empreendimento de suas ações.
A organização não governamental Cooperação para o Desenvolvimento e Morada
Humana (CDM), surgiu em meados da década de 1980 como uma alternativa de qualificação
profissional para jovens de uma comunidade carente que se localizava em um bairro
periférico de Belo Horizonte. Parceira e similar em alguns aspectos propositivos com a
Fundação AVSI, a CDM atua por meio de projetos e prestação de serviços sociais voltados à
redução da pobreza de populações residentes em áreas que concentram pobreza e degradação
humana, social e física. Tem o objetivo de contribuir com a promoção e o desenvolvimento
integral da pessoa humana nos âmbitos econômico, social, físico, urbanístico, ambiental,
cultural, educativo e formativo. Todos esses aspectos permite inferir que os fatores
motivacionais que dinamizaram o início de suas atividades vinculam a um quadro social
característico de comunidades desprovidas de garantias sociais e econômicas, no qual se
percebeu a necessidade de qualificação profissional de jovens para inserção no mercado.
(...) Então era um grupo de amigos que se juntou para desenvolver
ações de trabalho e renda para pessoas de comunidades carentes.
Depois, sendo chamada de Centro de Solidariedade, ela criou uma
serie de alternativas com essa finalidade, criou uma pizzaria, uma
loja de tecelagem e construiu um primeiro embrião no terreno em
que se encontra hoje a CDM (PRAT 1, 2013).
131
Destaca-se que essas três OSCs assemelham às características das OSCs cidadãs
proferidas por Gohn, (1997) que, por meio da atuação em áreas urbanas e ambientais
vulneráveis, se articulam através de redes e parcerias sociais e solidárias para a dinamização
de suas práticas. O exemplo disso é o envolvimento da Fundação AVINA com várias outras
organizações sociais tais como a FIEMG, o GIFE e o Instituto Hartmann Regueira, bem como
a parceria entre a Fundação AVSI e CDM. Nota-se que essas parcerias oriundas de
organizações de natureza similar demonstram o poder de um campo no qual se observa
possibilidades dele se ampliar e de se empoderar.
O Instituto de Pesquisa Ecológica (IPÊ) e Hartmann Regueira, outros dois das oito
organizações praticantes da Gestão Social investigadas, são constituídos legalmente como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
O Instituto Hartmann Regueira foi criado como decorrência de experiências anteriores
relacionadas a um pequeno grupo de terapeutas que trabalhavam em uma clínica de terapia
sistêmica. Suas atividades em comunidades carentes, ainda como clínica terapêutica,
iniciaram após um convite da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, a qual
solicitou atendimento a uma escola municipal que vinha apresentando sérios problemas de
violência. Conforme relatou a fundadora e coordenadora do instituto, como era um trabalho
sistemático, as intervenções não poderiam focar somente nos problemas da escola. Decidiram,
assim, incidir também na família dos alunos e na comunidade no qual estava inserida.
Posteriormente, a comunidade sensibilizada com o fato de uma clínica terapêutica
querer conhecê-la melhor, bem como discutir e fomentar as fortalezas locais apontou outras
demandas as quais o grupo buscou contribuir por meio da formação de uma associação de
pais de amigos da escola e um projeto de liderança jovem (PRAT 7, 2013).
Movidos pela vulnerabilidade da comunidade atendida, o pequeno grupo de terapeutas
decidiu continuar os seus trabalhos oferecendo atendimento na clínica. Entretanto, os demais
132
profissionais que ali exerciam suas atividades em parceria não concordaram, implicando na
separação do grupo e na criação do Instituto Hartmman Regueira.
Conforme a entrevistada “o instituto foi fruto de uma pressão social que não fazia
parte da sua visão de futuro, direcionado para um trabalho social na dimensão que chegou-se
a fazer” (PRAT 7, 2013).
De perspectiva de atuação diferente das demais, o IPÊ foi impulsionado por motivos
que, apesar de se apoiarem em lacunas de natureza social, se relacionavam com questões
distintas das demais unidades de análise. Como o seu próprio nome aponta, Instituto de
Pesquisa Ecológica, o cerne de sua atuação está vinculado à pesquisa. Entretanto, conforme
relatado por seu fundador e coordenador, o instituto é fruto de uma demanda que a
universidade contemporânea não conseguiu suprir, principalmente, na área que envolve a
biodiversidade. Convencido de que a universidade brasileira, por se pautar em profundos
processos burocráticos não conseguiria atender uma demanda ambiental na qual exigia, não
somente a pesquisa, mas também a prática no campo, o IPÊ foi criado com o seguinte
princípio, “nós fazemos pesquisa não para as prateleiras da universidade, mas para a ação de
mudanças” (PRAT 4, 2013). O IPÊ seria o “braço não governamental” (PRAT 4, 2013) para
fazer na academia o que ele não conseguiu fazer. “Então eu falei: vou sair, se eu não consigo
fazer dentro da academia, eu vou fazer isso fora da academia, vou transferir tudo para uma
organização do terceiro setor” (PRAT 4, 2013).
Essa perspectiva, que se apoia nos dilemas enfrentados pela universidade
contemporânea, os quais são apresentados nesta tese como um dos elementos estruturais
relevantes para se discutir a produção de conhecimento sobre Gestão Social, fica mais
evidente quando o entrevistado diz que, “no mundo acadêmico era uma pesquisa muito mais
aplicada do que aquelas que vinham sendo feitas até aquele momento, tentando pesquisar
soluções para os problemas que estávamos vivendo no mundo moderno” (PRAT 4, 2013).
133
Junto a esse fator central, outra questão que influenciou o início da trajetória do IPÊ
foi a frustração de vários pesquisadores da área da biologia da conservação que percebiam
tratar de um tema em extinção no qual eles ficavam apenas estudando.
Era um grupo de pesquisadores importante na ecologia, que estava
disposto a dar energia para reduzir o impacto que estava sendo
causado na natureza e na biodiversidade, não só no mundo
acadêmico, mas no mundo das ações também (PRAT 4, 2013).
Fundado em 1992, o IPÊ segundo o entrevistado, nasceu da confluência desses fatores,
da frustração com a burocracia da Universidade de São Paulo, da disposição em fazer
pesquisa científica com o cunho de responder perguntas mais objetivas no ramo da biologia
da conservação e de um grupo de jovens entusiasmados que o elegeram como mentor para a
implementação das ações. Compreende-se que esse último aspecto denota as perspectivas que
embasam a habilidade social, por demonstrar a habilidade de um ator em promover a sinergia
e o engajamento de outros atores de um mesmo campo.
Nós somos acadêmicos, mas somos acadêmicos que estamos
dispostos a publicar menos e fazer mais. Então, a gente faz pesquisa
e faz ação, fazemos as duas coisas. O gráfico que eu fiz no começo
da nossa trajetória é um gráfico de pizza com três fatias, onde eu
dizia para os jovens: quem trabalha aqui tem que fazer 3 coisas, tem
que fazer pesquisa e publicar como é no mundo acadêmico e a outra
fatia é, tem que fazer ação oriundas destas pesquisas e a terceira é
tem que captar recursos, porque eu não sou patrão de ninguém.
Então, eles são meus companheiros na criação de uma instituição.
Agora, o tamanho da fatia, cada um faz o seu tamanho, mas as três
coisas tem que fazer, não importa se é pequena ou grande a fatia.
Assim tem sido o IPÊ, nasceu disso e funciona desta forma até hoje
(PRAT 4, 2013).
Todos esses relatos foram apresentados com o intuito de evidenciar as características e
o poder de um campo cujo senso comum ancorado em uma racionalidade integrada a uma
ordem subjetiva que alimenta e externaliza um lugar próprio contribuiu para dimensionar o
capital que ele tem como perspectiva de transformação do campo.
O capital abrange uma série de disposições que vão envolvendo a compreensão dos
atores sobre a realidade social e direcionando o que consideram relevante, legítimo, desejável
e apropriado para a atuação em determinado campo. Nesse sentido, o que foi se construindo
134
de comum entre os acadêmicos e praticantes, caracterizando a emergência de uma
transformação do campo da Gestão Social, é a constatação da necessidade de se criar novas
formas de atuação no âmbito da sociedade civil, do próprio Estado e das organizações de
mercado. Quanto aos problemas socioambientais observa-se que seria preciso formar pessoas
para atuar nessa transformação, sobretudo a partir de uma visão de profissionalização da
gestão das organizações e dos programas e projetos voltados aos temas socioambientais.
Concomitantemente, nota-se a necessidade de estabelecer novas formas de atuação da
academia, mais direcionadas e conectadas com a realidade social. Essa mesma perspectiva se
insere no contexto das OSCs e das empresas, as quais passaram a voltar mais a sua atenção
para os grandes processos de transformação que as envolvem, induzindo-as a gerar
conhecimento sobre a realidade social de forma não só a entendê-la mas, sobretudo, a
transformar a realidade social em que atuam. Esse é o campo que vai se transformando.
O campo de poder, além de se configurar nas interações entre estrutura e agência
também se explicita por meio das habilidades sociais, que representa a capacidade de atores
envolverem outros atores a cooperar para um bem comum em determinada ação. Acredita-se
que a análise desse aspecto a partir dos depoimentos dos respondentes contribui para a
compreensão da produção de conhecimento sobre Gestão Social entre acadêmicos e
praticantes por nela incidir a ideia de integração colaborativa entre atores diferentes.
A próxima seção discutiu as habilidades sociais observadas em algumas unidades de
análise investigadas com o intuito de avançar na análise das possibilidades e limites que esta
perspectiva pode trazer para a produção de conhecimento em Gestão Social. Foram também
ressaltadas as dinâmicas e articulações que assinalaram a trajetória inicial de alguns centros de
estudos e pesquisa a fim de demonstrar a sua contribuição para a produção de conhecimento
sobre Gestão Social.
135
6.2 Habilidade social: possibilidades de ampliação da produção de conhecimento sobre
Gestão Social
A ideia que atores são dotados de capacidade para motivar outros atores de setores
diferentes a tomar parte de uma ação coletiva, a qual implica a transformação e a reprodução
de ordens sociais locais (Fligstein, 2007), motivou o propósito de discutir os traços de
habilidade social presente entre os atores que constituem as unidades de análise dessa
pesquisa.
Por meio dos relatos dos entrevistados e dados secundários constantes nos sítios
eletrônicos de cada um, foi possível notar em algumas das organizações da sociedade civil
investigadas, além das influências do contexto local, a presença de habilidade social entre os
seus gestores. Este traço demonstrou ter sido relevante para a atuação em conjunto com atores
de natureza diferente e primordial para a ampliação da produção de conhecimento sobre
Gestão Social.
Neste contexto, a Fundação AVINA e o GIFE manifestaram práticas e ações que
induziram a produção de conhecimento sobre a Gestão Social a partir da atuação em redes
solidárias de perspectiva social.
Essa perspectiva se baseia no depoimento do Diretor de Alianças Estratégicas da
AVINA o qual relatou que o objetivo inicial da organização se pautava no apoio a líderes
sociais individuais e organizacionais que tinham em sua agenda uma proposta de
desenvolvimento social, independente do tema que estava sendo explorado. Mas que, na
segunda etapa de sua atuação, a Fundação AVINA, buscou articular líderes sociais com
agendas similares em processos de rede. “Eram organizações que não trabalhavam com as
mesmas coisas, mas que se complementavam. O propósito era apoiar projetos de rede,
136
projetos de agendas compartilhadas sempre com base nos territórios de atuação da fundação”
(PRAT 5, 2013).
Compreende-se que os aspectos apresentados nesta segunda etapa de atuação da
AVINA cujos processos podem ser reconhecidos como comunidades de prática por conseguir
organizar em rede vários interesses e ações para um fim comum, se apoiam nos princípios que
integram o conceito de habilidade social. Parte-se do pressuposto, que a consolidação de uma
rede de atores demanda habilidade social na conversão de ideias distintas. Essa convergência,
mesmo que conflituosa, reflete na produção de conhecimento entre os atores envolvidos
conforme aponta o entrevistado, “esta segunda etapa da AVINA demonstrou muita
aprendizagem, pois processos similares estavam acontecendo” (PRAT 5, 2013).
O Grupo de Fundações e Instituições GIFE também se apoia na perspectiva da
articulação para fomentar o investimento social. Esse aspecto é ressaltado pela Coordenadora
da Área de Gestão de Conhecimento ao afirmar que “o processo de articulação é o DNA da
organização” (PRAT 8, 2013). Segundo a respondente, o GIFE que é uma associação de
investidores, é uma rede na qual se reúne fundações, institutos empresariais, institutos
familiares independentes e também empresas que fazem o serviço social indiretamente, sem o
apoio de uma fundação ou de um instituto para se articula (PRAT 8, 2013).
Essa articulação se amplia ao se conectarem com outros atores de diferentes esferas
sociais com o propósito de produzirem conhecimento sobre investimento social corporativo
no Brasil. Como exemplos foram citadas parcerias com universidades, principalmente em São
Paulo a qual a entrevistada salientou a Fundação Dom Cabral, bem como instituições do
governo como o Instituto de Pesquisa em Economia e Aplicada (IPEA) e o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Por meio dessas duas últimas parcerias é desenvolvida uma
pesquisa chamada Mapeamento das Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos
(FASFIL) que conta também com a participação da ABONG. Esta é uma pesquisa realizada
137
com todas as organizações sem fins lucrativos no Brasil que ocorre a cada quatro ou cinco
anos e recebe a contribuição do governo por meio do banco de dados nacional disponibilizado
pelo IBGE (PRAT 8, 2013).
Através desta pesquisa é possível ter uma dimensão do tamanho do
setor de investimento social no Brasil que tem hoje duzentos e
noventa mil ONGs, segundo a última Fácil. Há mais de dez anos que
esta parceria deu certo e este é um outro nível de atores que
contribuem para a produção de conhecimento. Sem duvida estes
órgãos governamentais contribuem muito e tem muito a contribuir
(PRAT 8, 2013).
Apreende-se que esse quadro sinaliza articulações que demandam habilidade social
para se conseguir motivar outros atores a tomar parte de uma ação coletiva (Fligstein, 2007) e
aponta como consequência a produção e sistematização de conhecimento sobre Gestão Social
mais robusta por ela se apoiar em diferentes olhares e ideias, cada qual carregando as suas
características, o que contribui para um conhecimento multiparadigmático, peculiar dos
pressupostos que circundam a Gestão Social.
Outro aspecto que emerge do GIFE referente à habilidade social ancora-se na criação
da organização, a qual foi marcada por um movimento empresarial informal sustentado pela
perspectiva de discutir o que cada empresário/organização estava fazendo sobre
responsabilidade social e investimento social (PRAT 8, 2013). O grupo cresceu e se afirmou a
partir dessa vertente, sendo institucionalizado na década de 1990.
O GIFE surgiu, informalmente, no finalzinho da década de oitenta, a
partir de um grupo de empresários e de executivos que passaram a se
reunir lá na Câmera de Comércio Americana para conversar sobre
responsabilidade social, investimento social. Na época este termo
ainda era usado, mas eles eram empresários, executivos que
percebiam a cobrança da sociedade por uma maior responsabilização
das empresas em relação ao impacto dela gerado pelo negocio. Aí,
eles passaram a se reunir para discutir um pouco o que cada um
estava fazendo em relação a isso. Este grupo foi se reunindo
informalmente, durante cinco anos. Em 1995 o GIFE foi
formalmente fundado. Este grupo decidiu institucionalizar a criação
de um grupo de instituto de fundações e empresas (PRAT 8, 2013).
138
Considera-se também relevante explicitar as dinâmicas empreendidas por alguns
atores envolvidos nesta pesquisa por nelas conterem aspectos que contribuíram para tornar o
seu campo de atuação como referência na produção de conhecimento da Gestão Social.
Relativo aos acadêmicos do campo da Gestão Social observou-se que o CEATS/USP,
assim como a sua fundadora e coordenadora aponta, foi uma extensão da sua estória de vida.
Veja, tudo tem muito haver com a estória de vida da gente. Nada
acontece na vida profissional que não tenha jeito com a forma que
fomos criados e como nos formamos. Eu vim da escola de ciências
sociais da USP, na década de 1969, 1970 que foi uma época muito
difícil para nós os estudantes e para a universidade. A universidade
perdeu os seus principais quadros em virtude da repressão. Nas
ciências sócias nós tínhamos uma formação extremamente rigorosa
em metodologia de pesquisa, em filosofia e etc... Tínhamos também
uma militância política alguns mais radicais outros menos, mas isso
de alguma forma, a grande maioria dos alunos e professores tinha
uma ideologia de esquerda. Desde a minha adolescência eu
trabalhava com populações faveladas, era um misto de filantropia e
ideologia política. Só que ao mesmo tempo eu sou uma pessoa muito
pragmática e quando eu termino o curso de ciências sociais e já
começo o mestrado com professores como o Fernando Henrique
Cardoso, Ruth Cardoso, Francisco Belfort eu começo a ficar ainda
muito atraída pelo perfeccionismo acadêmico, pela precisão
metodológica que havia nas ciências sociais, mas muito descontente
com a falta de pragmatismo (...) o que me levou a fazer o meu
concurso público para docente da universidade aqui na faculdade de
economia e administração. (...) Isso tudo influiu muito na minha
formação pessoal que me fez uni essas duas vertentes da minha
formação. Fiz o mestrado e o doutorado nas ciências sociais, na
ciência política e apesar de ser professora aqui, mas isso é permitido
dentro da universidade, acabei vindo a fazer a livre docência e a
titularidade aqui na FEA. (...) Eu tinha as minhas ideias consideradas
revolucionárias do tipo: “porque que vamos ensinar para o aluno que
administrar é administra empresas? Porque não administrar
organizações, hoje chamadas, de terceiro setor? Elas também
necessitam de administração. Porque que a gente forma o nosso
aluno só para disputar emprego no mercado de capitais, para
disputar emprego em áreas de marketing em grandes corporações e a
gente não foca o aluno para outras oportunidades profissionais? Isso
começou a já ser um diferencial na minha atuação e desempenho
aqui dentro e eu comecei a introduzir discussões sobre
desenvolvimento social, sobre os problemas da exclusão
socioeconômica para disciplinas que não tinham este objetivo ou que
não tinham este foco (ACAD 1, 2013).
Agregada à sua formação profissional, a entrevistada relatou que teve a oportunidade
de oferecer projetos de consultoria através da Fundação Instituto de Administração (FIA) para
trabalhadores "boia frias" nas agroindústrias o qual “eram projetos como consultoria que
realmente faziam a mudança acontecer” (ACAD 1, 2013).
139
Nessa perspectiva, ela observou-se que “não estava estudando teoria da
responsabilidade social” (ACAD 1, 2013). Como estava trabalhando com os usineiros e com
donos de indústria, mostrando a eles que, ao terem responsabilidade com os seus empregados
eles teriam mais vantagens do que desvantagens (ACAD 1, 2013), notou-se um processo de
mediação orientado para a integração de interesses o qual convergia para a sustentabilidade do
trabalho.
Esses aspectos no qual se buscava envolver abordagens de ordem mais humanística,
política e social no campo da administração foram determinantes para que o CEATS/USP se
consolidasse na Faculdade de Economia e Administração (FEA). Juntamente a esse fator,
pode-se inferir que a presença de outros atores acadêmicos interessados em compreender e
atuar nas dinâmicas do terceiro setor foi primordial para a evolução do centro de estudos.
O PEGS da EBAPE/FGV foi outro programa o qual teve como ponto de apoio as
iniciativas de seu coordenador que, oriundo de uma linha em que o mercado não era um
determinante e interessado em redirecionar as discussões da gestão pública, introduziu
“temáticas de responsabilidade social vinculada à questão da sustentabilidade, governança e
etc” (ACAD 9, 2013).
Conforme o entrevistado,
a intenção era manter aquela preocupação anterior da sociedade com
o estado, por meio da cidadania e eu pensei a mesma coisa em
relação ao mercado. Então, daí veio a ideia de criar o grupo de
estudos para a Gestão Social, em 1990. Junto a isso eu já vinha
trabalhando um projeto com comunidades aqui do Rio de Janeiro e
isso facilitou a discussão (ACAD 9, 2013).
Observa-se que a iniciativa do coordenador foi essencial para que o PEGS/FGV se
consolidasse como um programa cujo objetivo centra-se nas discussões da sociedade como
fator central nas relações com o mercado e com o Estado. “A ideia foi manter aquela
preocupação, que também é uma preocupação de outra linha de pensamento existente, como é
140
o pessoal Frankqfurtiano ou próprio Guerreiro Ramos, que vai discutir a necessidade de você
pensar a sociedade determinando as demais relações” (ACAD 9, 2013).
O NEATS/PUC/SP iniciou as suas atividades com o objetivo de discutir sobre o
terceiro setor, tendo como pano de fundo a intersetorialidade. Esse aspecto vincula-se a
formação profissional do fundador e coordenador do núcleo de estudo que teve participação
em processos de políticas públicas no setor da saúde no qual desenvolveu tentativas de
integração com outras áreas do poder público. Nota-se que essa habilidade se espelhou na
constituição do núcleo de estudos que hoje abrange grupos interdisciplinares de
administradores, advogados, psicólogos, sociólogos e de praticantes do terceiro setor.
Segundo o entrevistado
O nosso grupo é aberto. Nós trabalhamos com pesquisas, buscamos
temas e financiamento. Estamos trabalhando também com editorial
interinstitucional. Estamos também participando desta questão de
Gestão Social com o grupo lá da Bahia, o observatório da Rosana.
Fizemos no ano passado, pelo NEATS, o congresso do Enapegs e
participamos do PRÓ-ADM (ACAD 6, 2013).
O outro centro de estudos e pesquisas no qual foi possível observar a importância das
dinâmicas de seu coordenador para a produção de conhecimento sobre Gestão Social foi o
NIPETS/UFRGS. Observou-se que os objetivos iniciais e atuais do núcleo de estudo e
pesquisa contemplam a trajetória de formação acadêmica e profissional da coordenadora a
qual é formada em sociologia e em administração na área da sociologia das organizações.
Orientada pela temática que envolve a construção democrática em contexto local e
internacional por perceber que as questões sociológicas no âmbito do trabalho não
conseguiam respostas, as ações do NIPETS orientam-se para fatores sociais que se relacionam
com o terceiro setor, porém de forma mais abrangente. Essa perspectiva é possível de ser
verificada no relato da entrevistada.
Ele surge no programa de pós graduação trabalhando com as questões de
inclusão social, de pobreza, desigualdade, politicas sociais e desenvolvimento
para tentar entender elementos da economia solidária por exemplo. Uma
141
linha, eu diria que hoje o NIPETS está voltado para a questão da
compreensão de um lado de como se dá o processo de reconstrução e
inclusão de países de extrema precariedade, como no caso do Haiti e da
Bósnia. Como se dá a reconstrução democrática! Isso esta muito mais voltado
para a questão da democracia do que Terceiro Setor, entende? Num país
como o Haiti, que tem uma crise brutal, um país como Cabo Verde por
exemplo, um país onde se tinha pobreza mas não tinha miséria e este país
entra de uma forma assim, avalanche, no termo do capitalismo globalizado.
Como a sociedade reage? Então, é a sociedade frente ao Estado com as suas
políticas de inclusão. E aí entrando também, as agencias internacionais de
cooperação, e aí também as ONGs, super voltadas para a questão dos
movimentos sociais, mas tudo isso se articulando com o plano do local. Local
no internacional (ACAD 7, 2013).
O NUPEGS/PUC Minas e o NIPETS/UFRGS surgiram dentro de programas de Pós-
Graduação em Administração (PPGA). O primeiro deles teve forte influência, em sua criação,
da temática da ética filosófica e empresarial, que constitui um das expertises de pesquisa de
dois de seus fundadores. Convencido de que, “onde há um programa de pós-graduação tem
que haver pesquisa” (ACAD 8, 2013), convidou dois professores da PUC Minas,
caracterizados por ele como pares a fim de criarem o núcleo de pesquisa. A partir de então, o
NUPEGS/PUC Minas desenvolve pesquisa sobre responsabilidade social, sustentabilidade e
estão social.
Posteriormente, com a transformação do tema responsabilidade social para
sustentabilidade que, conforme o entrevistado “é um tema mais adequado para os fins
econômicos da empresa, ficando restrito a alguns projetos sociais e a fundações” (ACAD 8,
2013), o foco do NUPEGS/PUC Minas passou a ser sustentabilidade. Hoje, o núcleo de
estudo concentra suas pesquisas na Gestão Social em virtude da coordenação estar sob a
responsabilidade de um dos professores fundadores que detém em sua práxi acadêmica e
profissional as temáticas “sobre intersetorialidade e parcerias em prol de uma sociedade
melhor” (ACAD 8, 2013).
Apreende-se que as dinâmicas empreendidas pelos coordenadores e fundadores dos
centros de estudos e programas investigados denotam as intenções de alteração do campo da
administração por meio do combate ao tecnicismo, à noção unidirecionada relegada ao estudo
142
e conceito da gestão estratégica. Tais dinâmicas se destacam nas lutas que eles estavam
empreendendo, como a criação de estudos com foco em problemas sociais e ambientais
quando ninguém ou pouquíssimos atores no campo da administração pensavam que se devia
estudar isso, bem como o reconhecimento à época da relevância da responsabilidade social
empresarial. A inserção de uma visão de estudos da administração pública voltada mais para a
sociedade civil do que para o Estado foi outro ponto a ser considerado como um
enfrentamento as abordagens tradicionais deste campo de conhecimento.
No âmbito dos praticantes, duas OSCs investigadas também apresentaram atores cuja
ação contribuiu para o fomento da produção de conhecimento sobre Gestão Social.
A CDM foi uma organização social que se despontou através de práticas que induzisse
a produção de conhecimento. De acordo com o relato do Gerente de Projetos desta
organização social sua trajetória inicial contou além da equipe de trabalho, com o ativismo de
um dos gestores da instituição que o convidou para desenvolver um setor de cartografia a fim
de delimitar as áreas de pobreza da região atendida (PRAT 1, 2013). Compartilhando a ideia
de desenvolver tal projeto, ele se dispôs a compreender o programa AUTOCAD, necessário
para a sua realização, utilizando vários manuais que tinham disponíveis. Em seguida, com a
atuação de outro agente social, de nacionalidade italiana, que veio ao Brasil a fim de
implantar o georprocessamento, o trabalho de cartografia se consolidou contribuindo para o
desenvolvimento dos projetos propostos pela OSC e para a produção de conhecimento,
mesmo que não sistematizada (PRAT 1, 2013).
Nessa vertente, vale destacar o relato do coordenador do NEATS/PUC/SP sobre o
surgimento do ENAPEGS, o qual foi induzido e mobilizado pela fundadora e coordenadora
do CIAGS/UFBA (ACAD 6, 2013). “Isso foi criado no fundo pela Tânia Fischer, pessoa que
tem uma liderança enorme. Foi ela quem começou a discutir a Gestão Social, essa rede veio
dela” (ACAD 6, 2013).
143
Com o intuito de aprofundar na análise da produção de conhecimento sobre Gestão
Social na seguinte seção buscou-se observar o conhecimento que é produzido entre os atores
investigados sob a ótica que eles têm da Gestão Social a partir de suas dinâmicas
desenvolvidas neste campo.
6.3 A produção de conhecimento sobre Gestão Social: estratégia de transformação e
ressignificação do campo?
A presente tese baseia-se no pressuposto que a produção de conhecimento sobre
Gestão Social a partir das relações entre acadêmicos e praticantes contribui para a
transformação do seu campo, fomentado pela interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão
e pelas dinâmicas que marcam a produção de conhecimento tácito, informal, local e
tradicional no âmbito dos praticantes.
A fim de responder a esse pressuposto, buscou-se analisar o conhecimento produzido
no âmbito dos atores investigados atrelado a noção que eles detêm sobre a Gestão Social,
considerando as suas dinâmicas e articulações no seu campo de atuação.
Um primeiro aspecto realçado pelos respondentes e que se julgou de extrema
relevância, por nele apresentar a base para se dinamizar as proposições que envolvem a
Gestão Social, foi a ideia de que os problemas sociais, políticos e econômicos não são de
responsabilidade de um setor ou de uma esfera só, são de todos, de modo a incidir em
soluções compartilhadas.
Essa primeira compreensão permite integrar à Gestão Social os pressupostos que
envolvem as abordagens relativas a visão intersetorial. Além dessa inferência, apreende-se
que a noção intersetorial conduz a ideia de interdisciplinaridade, devido a necessidade de
envolver campos de conhecimento diferentes, que se interagem, de forma convergente ou
144
divergente, com o intuito de ampliar as possibilidades de enfrentamento às questões sociais
impostas.
Outro aspecto considerado apoia-se na perspectiva de que relacionamentos
intersetoriais expressam o poder derivado da interação dos campos em disputa, mas que se
aproximam movidos por uma lógica comum. Nesse sentido, compreende-se que a
intersetorialidade induz a alteração de posições de poder no campo ao permitir inaugurar o
discurso da parceria como melhor e desejável em detrimento do conflito entre OSCs e
empresa e das OSCs em relação ao Estado. Todavia, acredita-se que essa ideia merece um
olhar atento ao contribuir para a formação de parcerias que acabariam por fomentar uma
democracia fraca, visto que a ausência de conflito poderia suprimir o debate e o embate
presente em qualquer tipo de relação, expressando um consenso que não existe, baseado
inclusive em uma relação autoritária.
Apreende-se que esse cenário marcado pela visão intersetorial contribuiria para elevar
a habilidade social por que vai exigir que atores distintos, com racionalidades e lógicas
distintas, ao atuarem articulados entre atores de outras esferas se abririam na tentativa de
compreender a lógica de cada campo envolvido.
Destaca-se que todos os respondentes analisados apresentaram no escopo de sua
atuação relações com diversos setores sociais, implicando em ações e articulações
intersetoriais. Entretanto, buscou-se ressaltar as organizações da sociedade civil e os
programas de estudo e pesquisa que salientaram esse aspecto como primordial para o avanço
no campo da Gestão Social.
O relato do Diretor da Fundação AVSI quando questionado sobre os desafios que a
fundação precisa superar, traduziu bem essa ideia.
Novos desafios estão sendo enfrentados com o envolvimento do
setor privado no âmbito do setor social, porque cada vez mais é
necessário um trabalho onde todas essas atividades estejam
envolvidas. Não pode ser um programa só do governo ou só das
ONGs, mas sim realizadas em conjunto. Portanto o principal desafio
145
é adequar a nossa organização com o ponto de vista de trabalho da
divisão das responsabilidades a este novo cenário econômico,
geopolítico, social que estamos atravessando (PRAT 2, 2013).
Nota-se que essa preocupação teve implicações no processo de gerenciamento do
conhecimento criado pela OSC entre 2011 e 2012 cujo objetivo é sistematizar em cada país de
sua atuação o conhecimento gerado a partir de suas dinâmicas e articulações sociais. Todas as
informações e conhecimento produzidos são sustentados por um centro de gestão localizado
na Itália o qual é dividido em setores, sendo cada um responsável por uma agenda alimentada
pelas diversas experiências vivenciadas nos países sede da AVSI. Além do enfoque nas
práticas vigentes em cada país, os documentos gerados, que não são manuais, apresentam
discussões e pesquisas permeadas pela experiência da organização, por exemplo, sobre como
a AVSI compreende a responsabilidade social. Segundo o entrevistado, espera-se que o
conhecimento sistematizado gere diretrizes corporativas comuns e que possam ser construídas
e compartilhadas entre todos os envolvidos e entre aqueles que tiverem interesse (PRAT 2,
2013). “Esse processo conduz a um esforço de permeabilidade do conhecimento por envolver
culturas distintas em contextos econômicos e político sempre em mudanças” (PRAT 2, 2013).
Observou-se que a tentativa de buscar conhecimentos comuns entre países com
culturas diferentes é possibilitada por fatores que se assemelham entre quase todos eles
(PRAT 2, 2013). Tal fator envolve a responsabilidade social corporativa de empresas privadas
que, ao investirem em países emergentes ou em desenvolvimento impõem diretrizes as quais
os receptores terão que respeitar seja na educação, na saúde ou em qualquer outra área (PRAT
2, 2013).
Esse relato permite inferir a presença de uma conduta hegemônica, a qual prevalece os
interesses daqueles que se encontram na situação de doador e que vai à contramão das
discussões que apoiam a Gestão Social por demonstrar não haver diálogos precedidos de
decisões deliberativas. Esse contexto aproximaria das abordagens de Santos (1997, 2004)
146
sobre os dilemas da universidade contemporânea ao percebê-la como mera prestadora de
serviços de consultoria para a sociedade, para as empresas e para as OSCs, impondo por
vezes, a força de seu capital o qual se apoiaria no conhecimento científico.
No âmbito do CEATS/USP, esse aspecto não foi observado, segundo relato dos
entrevistados. Uma de suas coordenadoras exprimiu a ideia de integração entre atores de
diversos setores em prol de objetivos comuns ou paralelos, ao evidenciar uma das propostas
do centro de estudo a qual associava a visão intersetorial.
A fundadora do CEATS sempre teve uma discussão na sociologia. E
quando ela entra na Administração ela vai para o campo da gestão de
pessoas, da cultura e poder. É quando ela vê a oportunidade de
maior integração entre órgãos públicos, sociedade civil e também a
contribuição de empresas no desenvolvimento sustentável. Então, é
um campo novo que foi surgindo muito por uma observação
empírica e que foi estimulado por alguns financiamentos
internacionais que começaram a incentivar a intersetorialidade
(ACAD 1, 2013).
Nota-se que a perspectiva de integração entre diferentes setores em um campo como o
da Administração o qual é marcado por discussões e abordagens funcionalistas, implicaria em
soluções que envolveria atores de diversos setores. Em sintonia com essa proposta de atuação,
a noção expressada sobre Gestão Social comunga com os aspectos que sustentam a visão
intersetorial.
Olha, eu acho que tem um reconhecimento de que a problemática
social não é um problema de um único ator, é a reversão da pobreza.
O que é pobreza e como eu reverto situações de desigualdades é um
problema coletivo, é um problema de todos nós. Como é um
problema de todos nós, ninguém é onipotente, ninguém é dono da
solução. Então, as soluções elas partem de um trabalho colaborativo,
quem colabora com quem. Então, acho que tem o reconhecimento
do esgotamento do Estado, no sentido dele conseguir sozinho dar
conta, embora, seja premissa de um direito de você ter acesso a
educação, a saúde, ou moradia. Mas de fato, ele nasceu dessa
capacidade de provisão? Então, se é incapaz, ao invés da gente ficar
discutindo isso, por que não pensamos em como os outros atores
podem de fato contribuir para essa questão, que é também um
problema deles, não só um problema do Estado. O maior avanço que
eu vejo é de você incluir a temática de Gestão Social na pauta de
todos os atores. Assim como em atores mais alienados, como eram
as empresas, onde já há um reconhecimento que a própria
sobrevivência da empresa passa por um olhar do que esta
acontecendo no entorno, em como ela lida com os diferentes setores.
Então ela também vai procurar a dimensão do social. A gente pode
147
criticar que é muito lenta e que às vezes é só superficial, mas que há
um reconhecimento de que todos devem agir, de que todos são
culpados e que todos de alguma maneira são responsáveis pela
solução há. Então, Gestão Social e a responsabilidade social são
incorporadas como um valor da sociedade (ACAD 1, 2013).
Essa visão demonstrou incidir nas atividades desenvolvidas pelo CEATS/USP o qual,
segundo a entrevistada, teve relevante participação na criação de uma rede de pesquisadores
Iberoamericana, o Social Enterprise Knowledge Network (SEKN), de iniciativa de um
professor da universidade de Harvard. “Essa rede foi muito interessante por que foi uma
forma de sair desse mundo, dessa realidade brasileira, onde os problemas são continentais,
que pouco se basta com o um único olhar” (ACAD 1, 2013).
Tal perspectiva permitiu ao CEATS/USP integrar seus trabalhos a eixos de pesquisas
orientados pelo SEKN o qual contemplava um “olhar daquilo que acontecia no Brasil
concomitantemente, direcionados para aquilo que insurgia na América Latina e que era
emergente no campo social” (ACAD 1, 2013). O primeiro eixo de pesquisa desenvolvido foi
Alianças Intersetoriais, o segundo eixo foi a Gestão de Empreendimentos Sociais e o terceiro
Negócios Inclusivos.
A fundadora e também coordenadora do CEATS/USP, ao relatar o surgimento do
centro de estudo apontou as mesmas demandas de trabalho interdisciplinar orientada para o
terceiro setor por meio de parcerias com governo e empresas locais e, posteriormente, através
da associação com o SEKN, no período de 2001 a 2002.
Destaca-se que essa associação ocorreu quando o CEATS/USP já havia acumulado
uma experiência de dez anos de trabalho com OSCs como o Instituto Ethos, o GIFE e
pesquisas realizadas para Fundação Ford, o qual lhe rendeu um patrimônio de conhecimento,
incentivando o convite da Harvard. “O propósito era contribuir na formação de um Network
de empresas que pudesse construir conhecimento sobre, inicialmente, parcerias entre
empresas com responsabilidade social e organizações sem fins lucrativos” (ACAD 2, 2013).
148
Este propósito possibilitou uma pesquisa comparativa com outros países associados ao
SEKN que, por estarem trocando informações, rendeu-lhes um senso de realidade para saber
como caminha o ensino, a pesquisa e mesmo a consultoria dentro destes temas (ACAD 2,
2013).
A proposta de criação do CEATS/USP integrada a visão intersetorial demonstra
fomentar a produção de conhecimento socioprática da Gestão Social. Essa perspectiva se
baseia na articulação e produção de pesquisas as quais se desenvolveram por meio da
integração com atores de diversos setores, inclusive de outras nacionalidades e que incidiu na
ampliação do olhar acerca dos problemas sociais que não se limitavam somente aos
problemas locais. Ressalta-se que esses aspectos apenas ilustram alguns elementos que
constituem a abordagem socioprática de conhecimento a qual foi analisada pela ideia de
intersetorialidade, visão essa apontada entre todos os respondentes da pesquisa.
Outra questão relevante, segundo a fundadora e coordenadora do CEATS/USP se
traduz na compreensão da emergência gerencial tomada pelas ONGs cuja notoriedade se deu
a partir da vinculação com o SEKN, permitindo-lhes avançar nos estudos do terceiro setor e
responsabilidade social em direção ao empreendedorismo social.
Vimos isso acontecer na realidade com as organizações do terceiro
setor, tendo que se tornar autossuficientes financeiramente e, então,
começaram a se capacitar, a serem quase empresas, a terem
atividades geradoras de renda e a saber sobre receitas e etc. Ao
mesmo tempo vemos um fenômeno, que eu acho que é o mais atual
e que tem duas vertentes. Uma é o surgimento de empreendimentos
que já aparece, já são criados com finalidade socioambientais. São
empreendimentos que são empresas normais, empresas de mercado
com investidores, mas são empresas que querem gerar além do valor
econômico um valor social. A segunda vertente desse fenômeno, que
são empresas tradicionais, que estão buscando gerar algum valor
social é ter o social no próprio negocio, na própria forma de se fazer
o negócio... Esses são os fenômenos que eu considero como os mais
atuais (ACAD 2, 2013).
A intersetorialidade, enquanto elemento chave para se conduz a Gestão Social foi
observada no relato de outros atores investigados como o Diretor de Alianças Estratégicas da
149
Fundação AVINA. A fim de ilustrar a sua concepção sobre as práticas intersetoriais no âmbito
da Fundação, ressaltou-se as diferentes fases de arranjos organizacionais a qual ela passou.
Na primeira etapa, o foco de ação se concentrava no indivíduo empreendedor social, o
qual a AVINA investia com o intuito de dinamizar os seus propósitos. Eram diversos líderes
sociais, cada qual, com um tema ou agenda vinculada ao desenvolvimento social, “o
importante era o perfil destes indivíduos, não tanto as agendas nas quais eles estavam” (PRAT
5, 2013).
Na segunda etapa, as ações da AVINA se direcionaram para o apoio a projetos de
rede, projetos de agendas compartilhadas com base nos territórios. Em outras palavras, ela
investia na articulação de líderes com agendas contendo alguns aspectos similares em
processos de rede. “Eram organizações que não trabalhavam com as mesmas coisas, mas se
complementavam” (PRAT 5, 2013).
A terceira etapa, empreendida no período de 2008 a 2012, focou na construção de
agendas coletivas por meio de trabalhos em rede com alcance continental. Nessa fase
procurou-se articular organizações de interesses diversos oriundas de campos diferentes como
empresas privadas, OSCs, governos, academia, movimentos de base.
A atual fase, iniciada em 2013, é denominada de AVINA facilitadora e tem o
propósito de promover a viabilização de processos de colaboração, em âmbito continental,
entre atores e organizações de interesses diversos vinculados as várias agendas temáticas
criadas pela Fundação.
A missão dessa nova fase, segundo o entrevistado é:
A partir da América Latina, implicar no desenvolvimento
sustentável, viabilizando os processos de articulação e colaboração
entre atores diversos. Agora a AVINA passa a atuar com atores de
todos os setores, porque entende que para a superação dos desafios
que nós temos não dá para dizer que a liderança vai ser da sociedade
civil, ou vai ser do empresariado, ou vai ser do governo, ou vai ser
das universidades, sinal que é necessário uma concertação de
articulação, de alinhamento entre os vários interesses e entre os
vários setores (PRAT 5, 2013).
150
Ao longo dos processos de arranjos organizacionais da AVINA notou-se que na
primeira fase o foco de ação recaia no discurso e na formação de líderes individuais, mesmo
que pertencentes a setores diferentes. Infere-se que essa ação não contribuiria para formar
líderes da sociedade civil como um todo o que implicaria em uma contradição em relação à
proposta de atuar coletivamente, de transformar a realidade social a partir de várias frentes de
ação. Além disso, reproduziria um cenário, mesmo que com foco na Gestão Social, de um
ethos gerencial nos mesmos moldes das escolas tradicionais de formação de executivos, de
administradores, ou seja, foco no gestor, que teria capacidade de liderar os demais, sendo ele
sim, o foco da mudança social.
Quanto às outras etapas de atuação da Fundação AVINA, observou-se um propósito
de integração entre atores de diferentes setores com agendas similares o que se acredita ter
incidido em ações de caráter intersetorial. Nessas etapas percebe-se a presença de esforços de
transformação do campo, porém, esses esforços se dão dentro dos campos e de suas lógicas,
das características vigentes e suas relações de força, podendo representar mudanças de menor
envergadura, não mudanças mais agudas e profundas, podendo representar a continuidade de
velhos poderes dentro de um discurso de novidade.
Ainda assim, foi possível perceber nas diretrizes do desenvolvimento sustentável que
amparam a Fundação perspectivas de produção de conhecimento híbrida e multidisciplinar.
A expressão, desenvolvimento sustentável, deveria permanecer em
nossa missão, porque se percebe que na sociedade vem crescendo
uma compreensão e clareza que a promoção do desenvolvimento
sustentável depende muito de um fator, que nós não considerávamos
muito na primeira etapa, que é o fator das relações de poder. Assim,
o desenvolvimento sustentável não é compromisso só de um setor ou
de outro, ou de determinadas praticas das empresas ou dos governos,
na medida que tomam as decisões de políticas publicas. Para
promovê-lo nós temos que incidir em como as grandes decisões são
tomadas sejam no âmbito da empresa, seja no âmbito da sociedade
civil, seja no âmbito dos governos. O que a gente tá querendo dizer é
que desenvolvimento sustentável se alcança na medida em que
gerarmos bens públicos, daqueles bens que sejam acessíveis a todos
com a mesma quantidade e qualidade. Aí a gente fala da promoção
de processos de colaboração entre atores diversos que chegam ao
mesmo diálogo com interesses diversos. A AVINA entende que é
151
possível quitar espaços de concertação, não de consenso, mas de
concertação. É possível conviver com certas coisas que não sejam
exatamente como eu penso e nestes espaços a gente vem entendendo
que os novos diálogos são cada vez mais estratégicos (PRAT 5,
2013).
Esse relato exprime o poder das relações entre campos diferentes que, ao se depararem
com uma demanda, caracterizada pela lógica econômica e política que não se configurou em
solução para os problemas atuais, se vêm induzidos a transformar a estrutura interna. Nesse
processo, se vislumbra atores sociais dotados de habilidade social, mas interessados em um
cooperar para um fim comum.
Alinhada à perspectiva de desenvolvimento sustentável, a produção de conhecimento
gerada pelas dinâmicas e articulações da Fundação AVINA se materializam por meio da
“capacidade de experimentação e de aprendizagem com o outro” (PRAT 5, 2013). Segundo o
entrevistado, a AVINA não tem uma área de gestão do conhecimento. Entretanto, se
“reconhece a necessidade de acompanhamento, de atenção àquilo que vai sendo gerado dos
diversos processos e pelas relações entre os vários interlocutores a fim de repensar e
reposicionar a sua prática, sua forma de contribuir, repensar o seu papel nessas relações”
(PRAT 5, 2013).
Outra forma de consolidação do conhecimento se dá por meio do apoio a publicações
de livros, cartilhas e material institucional das organizações e de empreendedores sociais
aliados. Conforme demonstra o Diretor de Alianças Estratégicas da AVINA, “a gestão do
conhecimento que é produzido por todos envolvidos, a gestão das relações, a gestão social
que a Fundação promove ou participa dela, deve ser sólida. Se ela não servir para o conjunto
dos aliados associados não servirá para a AVINA” (PRAT 5, 2013).
Esse testemunho reflete a importância que a Fundação dá as formas de produção de
conhecimento ao expressar interesse na eficiência dos serviços ofertados a seus aliados, nas
contribuições que seus aliados oferecem às agendas, no compartilhamento desses serviços e,
152
em que medida isso é possível de ser aplicado em cada realidade concreta para que tenham a
capacidade de gerar o máximo de impacto (PRAT 5, 2013).
Nota-se que, o conhecimento ao ser compartilhado exprime interlocução entre pessoas,
entre setores cunhados por relações de cooperação e de competição o qual possibilita ação
reflexiva e dialógica entre os envolvidos.
O Instituto Hartmann Regueira também exerce as suas ações por meio de dinâmicas
intersetoriais. Baseado no fortalecimento do capital social e do capital humano o Instituto foca
no fortalecimento da gestão das organizações sociais já existentes de forma a fomentar a
liderança dentro das organizações. Esse trabalho que vigora a mais de oito anos, designa-se
como Projeto de Desenvolvimento de Gestão (PDG). Iniciado em organizações sociais de
Minas Gerais, hoje ele atua em doze Estados do Brasil, contabilizando cem turmas atendidas
nesse processo de colaboração.
Segundo a fundadora e coordenadora do Instituto, as organizações sociais acolhidas
têm características distintas e precisam de recursos para sobreviver que, por vezes, são
oferecidos por grandes empresas construtoras e extrativistas, cujo débito social que geram as
induz a investir nas comunidades na qual estão inseridas. Nesse processo, o Instituto
Hartmann Regueira é contratado por empresas corporativas, como o Grupo Camargo Corrêa a
fim de fortalecer a gestão e as ações sociais dessas organizações.
Outras organizações como prefeituras municipais e secretarias estaduais de governo
também se associam ao Instituto para que ele realize o PDG em instituições sociais vinculadas
ao seu quadro de atuação.
O PDG é a missão específica do Instituto. Nós fazemos consultoria
para empresa, nós fazemos consultoria para o Estado. Nós agora, por
exemplo, estamos tentando construir uma parceria com as
prefeituras para a gente apoiá-las junto as organizações sociais, por
que o Governo sozinho não dá conta, então nós precisamos ajudar.
As organizações sociais têm dificuldade de fazer a prestação de
conta da prefeitura. Então, esse tipo de trabalho é a missão do
instituto, esse é o papel da sociedade civil organizada, de fazer parte
(PRAT 7, 2013).
153
Além das parcerias firmadas as ações do Instituto primam pela interação entre os
setores privados e sociais a fim de alcançar sustentabilidade que, de acordo com a fundadora e
coordenadora “esse é um processo que no Brasil está começando a se desenvolver” (PRAT 7,
2013).
Conforme o relato nota-se a compreensão sobre o papel da sociedade civil organizada
na esfera social como parte relevante no processo de integração entre diversos atores para o
desenvolvimento social. Esse aspecto agrega-se às formas de produção de conhecimento
conduzidas pelo Instituto que tem como premissa registrar e compartilhar os resultados
alcançados com os envolvidos no processo, bem como todas as outras organizações que se
interagem com o Instituto. De acordo com a entrevistada o compartilhamento se dá por meio
da web, utilizando o blog e o sítio eletrônico do Instituto como canal de discussão e troca de
experiências o qual a mesma atesta como um processo muito rico (PRAT 7, 2013).
Todas as experiências são compartilhadas. Se tem alguma parceria
com algum município, nós também avisamos para as organizações
locais daquele município para que eles entrem em contato. Quando
nós visitamos ou nós fazemos uma capacitação, nós fazemos um
coach para fazer um trabalho com as organizações no local em que
elas funcionam (PRAT 7, 2013).
Os propósitos de atuação e de produção e disseminação de conhecimento firmada pelo
Instituto Hartmann Regueira demonstram que no campo da Gestão Social há diferentes visões
sobre competências e a formação necessária a um gestor social. Para alguns, os gestores do
campo social, das OSCs devem aprender com os gestores empresariais, para outros, há uma
especificidade na Gestão Social que precisa ser respeitada. O Instituto defende o
empresariamento das OSCs, gerenciadas com as competências e ferramentas da gestão
empresarial. Nessa vertente, observa-se que o CIAGS/UFBA caminha a partir da visão que as
ações devem valorizar a Gestão Social de cada praticante como específica de cada contexto,
tentando contribuir a partir de suas demandas sociais.
154
Essas perspectivas de atuação no campo da Gestão Social aponta para uma tensão ora
cunhada em aspectos contraditórios as abordagens que permeiam a Gestão Social e ora a
favor de suas especificidades, o que demonstra que a prática nem sempre é congruente com as
temáticas científicas discutidas
O relato de um dos fundadores do CEAPG/FGV sobre as parcerias que são firmadas
entre atores de diferentes organizações para a promoção do desenvolvimento social ou para
consolidação da Gestão Social corrobora com a perspectiva apresentada pela Fundadora do
Instituto Hartmann Regueira e vai mais adiante ao apresentar uma crítica que se debruça na
utilidade do conceito híbrido para essa questão.
Para o entrevistado, os aspectos que norteiam a definição de hibridismo são úteis até
certo ponto. O que está em questão é a interface entre duas espécies que são distintas sem
haver a sobreposição de uma sobre a outra (ACAD 4, 2013). Nesse sentido, ele apresenta
como exemplo as práticas organizacionais de empresas privadas e estatais ao ofertarem
“cursinhos para as organizações sociais aprenderem a preencher os formulários da prefeitura”
ou outro mecanismo de atuação que elas podem vir a ter (ACAD 4, 2013).
É aquela coisa, quero ser bonzinho e captar dinheiro da prefeitura
para a nossa empresa. Ao invés de você dizer, escuta eles tem uma
maneira de organização, porque se não, eles não estariam lá. Nós
temos uma maneira de organização, nós temos que criar um terceiro
espaço que não subordina nem A e nem B, mas que permite um
contato com A e B e que atenda as diferentes que são importantes
para eles sem perder a sua entidade. Isso é trabalhar junto, e esta é a
grande questão. Onde estão estes trabalhos (ACAD 4, 2013).
Esse aspecto foi apontado pela ex-coordenadora do setor de Responsabilidade Social
da FIEMG ao argumentar que a prestação de contas exigida das organizações da sociedade
civil parceiras de órgãos públicos e privados difere da valorização do processo de gestão. “Em
Minas tem muita tradição de verbas governamentais. Para esse governo é importante que as
155
instituições prestem contas, se não ela está fora. Não interessa se ela é valorizada ou se tem
gestão para isso” (PRAT 3, 2013).
Esse argumento sinaliza relações que, mesmo demonstrando convergência, apontam
para um aspecto nefasto, a hegemonia de processos que se dizem parceiros, mas que se
configuram em aspectos de domínio de um setor sobre outro. Talvez, para essas dinâmicas
intersetoriais se efetivarem como parcerias colaborativas, devessem aferir quais são as
práticas de gestão e organização de cada parte para depois, juntos, definirem aquelas que irão
satisfazer a todos. Essa perspectiva de atuação que se configura em possibilidades limitadas
àquilo que se deseja ensinar poderia reduzir processos hegemônicos de atuação que dificultam
a transformação de um campo.
Este quadro se aproxima das dinâmicas propostas pelo Instituto Hartmann Regueira,
ainda que providas pelo desejo de desenvolvimento social por meio do fortalecimento do
capital humano e social das comunidades atendidas.
A intersetorialidade também pôde ser observada nas dinâmicas e articulações
conduzidas pelo CEAPG/FGV cuja produção de conhecimento e a noção que envolve a
Gestão Social se instituem a partir das relações que são estabelecidas entre os atores e
organizações objeto de estudo e de assistência prática do centro de estudos.
Ela tornou-se evidente no Programa de Gestão Pública e Cidadania criado em 1995,
que tinha como objetivo premiar as práticas inovadoras na gestão pública subnacionais dos
governos brasileiro. Estruturado em rede por pesquisadores em torno do Brasil, envolvendo
atores de organizações não governamentais, governos e universidades, as pesquisas se
efetivavam no local investigado, conduzidas por um roteiro de entrevista (ACAD 4 e ACAD
3, 2013). Segundo o entrevistado, o interesse em compreender o propósito e, sobretudo, saber
quais secretarias ou órgãos do governo estava envolvido no projeto, foi o elemento propulsor
para entender as dinâmicas que emergiam de suas práticas.
156
A pesquisa baseada nesses argumentos demonstrou que, somente em 20% dos casos a
atividade que estava sendo comunicada a eles era realizada por uma única repartição pública
sobre o clássico “eu e o meu projeto” (ACAD 4, 2013). Nos demais 80% dos casos, havia
outras organizações públicas, organizações da sociedade civil ou ambos envolvidos nas
dinâmicas propostas.
Para o fundador e ex-coordenador do CEAPG/FGV a “necessidade demonstrada em
elaborar contatos, relações, apoios, construindo redes de relações que, mais tarde seria
reconhecido como parcerias ou coisas assim, foi o que mais chamou atenção do grupo”
(ACAD 4, 2013).
Associado a isso, outro fator destacado refere-se ao perfil das organizações da
sociedade civil parceiras dos programas ou projetos públicos.
Elas não eram as ONGs ou as novas formas organizacionais sociais
das empresas que estavam e ainda continuam interessadas nos seus
próprios projetos do que nos projetos dos outros. Elas eram
organizações locais de base, pequenas empresas como as
organizações religiosas, sindicatos e associações sindicais de
trabalhadores agrícolas, associações comerciais, de moradores e
algumas vezes as universidades locais (ACAD 4, 2013).
Mediante esse quadro, o entrevistado chama atenção para o modo como os acadêmicos
do campo da Gestão Social observam as organizações de base de fé que, segundo ele, não são
apontadas nos estudos. Para ele, essas organizações que não são de cunho religioso, mas sim,
de base composta pela fé e, que por isso, chamam as pessoas para junto, são de extrema
relevância para se compreender, por exemplo, o cenário de 1970 até os dias de hoje (ACAD 4,
2013).
Vale destacar, segundo outro professor e membro do CEAPG/FGV que, o Programa
de Gestão Pública e Cidadania detém um acervo muito grande de experiências catalogadas
provenientes de quase novecentos municípios brasileiros (ACAD 3, 2013). Sua contribuição
ancorada no conhecimento produzido se refletiria nos dias atuais no acervo virtual do centro
de estudo. Nele constam as publicações do periódico Cadernos de Gestão Pública e
157
Cidadania, uma coleção de 20 experiências de Gestão Pública e Cidadania, que reúne textos
sobre as iniciativas finalistas de cada um dos ciclos de premiação, bem como livros, vídeos e
áudios, apresentando e discutindo os projetos e pesquisas realizados pelo centro.
Mediante esse aspecto, observaram-se traços de conhecimento socioprático mediado
por articulações interacionais com a realidade pesquisada. Tais conhecimentos eram
sustentados a partir do que os atores envolvidos tinham a oferecer e ao considerarem os locais
e o território de sua constituição como espaços de inovação (ACAD 3, 2013).
Destaca-se que, apesar de buscar a inovação no reconhecimento de novos saberes, em
bases não estritamente científicas, ou seja, em bases que integram ação e prática, muitas vezes
as ações, tanto de atores da academia, quanto da sociedade civil, do Estado e das empresas
resultam em produtos derivados da construção de conhecimento tradicional. Estes podem ser
observados a partir da produção de livros ou outros instrumentos que recorrem a
procedimentos tecnológicos novos como sítios e bancos de dados, mas que acaba
reproduzindo lógicas clássicas de coleta, análise, tratamento de dados e disseminação de
conhecimento.
A noção de território, assim como assinalada pelo CEAPG/FGV também circunda os
trabalhos desenvolvidos pelo CIAGS/UFBA cujas premissas abrangem a noção de Gestão
Social intercedida pelos aspectos da intersetorialidade. Conforme os dados secundários
obtidos pelo site do centro de estudo, este é um espaço no qual se busca o desenvolvimento
sócio-territorial mediante a criação de tecnologias sociais replicáveis, considerando os
conhecimentos gerados pela qualificação de gestores do desenvolvimento social, nos âmbitos
da graduação e pós-graduação.
Este objetivo prevê uma aproximação entre discentes, professores e pesquisadores da
Gestão Social com o Estado, a sociedade civil e empresas por se compreender que o
158
desenvolvimento territorial e da Gestão Social estão referenciados a um território que, por sua
vez, expressa a construção cultural (ACAD 10, 2014).
Nesse sentido, a fundadora e coordenadora do CIAGS/UFBA apresenta o quadro de
atuação do centro, mediante um exemplo vivenciado por ela no qual relata a sua relação com
o mundo do Estado, das políticas públicas, dos moradores líderes de comunidades baianas,
das empresas privadas e dos alunos que os compõem, traduzindo-os em “praticantes e
interlocutores que alimentam o centro” (ACAD 10, 2014).
Eu tive uma reunião hoje de manhã com a prefeitura de Salvador,
com pessoas que representam as secretárias, o secretário adjunto, o
da administração e com outro grupo que esta trabalhando com a
recuperação de espaços públicos, como as praças, especialmente
aquelas que estão próximas das igrejas e dos terreiros de candomblé.
Bom, depois eu estive em uma reunião com o secretário de
administração que discutiu comigo a entrada da cidade de salvador
no mestrado que oferecemos. Bom, ontem nós tivemos contato com
esses representantes das prefeituras do interior. Ao mesmo tempo,
teremos amanha e depois, outro encontro para um projeto que
estamos desenvolvendo que é agitação de base a pedido da Caixa
Econômica Federal para os Programas Minha Casa Minha Vida que
vai ser uma escola digital para jovens que não estudam e nem
trabalham. Nós vamos até lá nos relacionarmos com os praticantes
de um desses empreendimentos. Lá estarão os jovens, os líderes,
dentre estes líderes você tem cinco pastores que se uniram para
tentar conter o que é um certo crescimento de lideranças
inconvenientes em todos os sentidos, em todo espaço público.
Enfim, nós vamos fazer uma primeira reunião com eles. Então, eu
diria que considero praticante todos esses atores que nós nos
envolvemos (ACAD 10, 2014).
Nota-se que as dinâmicas e articulações que sustentam o CIAGS/UFBA vigoram em
bases multidisciplinares de interlocução intersetorial, evidenciadas por preceitos sociais que
se desdobram por meio dos conflitos territoriais e atuais.
Essa perspectiva demarca a compreensão que o centro anuncia sobre a Gestão Social,
amparada pela noção que ela “não é a gestão da exclusão ou da pobreza, ela é a gestão da
sociedade, e que precisa ser resignificada conforme as demandas contemporâneas. Por isso é
chamada de social” (ACAD 10, 2014).
A Gestão Social não é um voto ou um adjetivo que dure para
sempre. Quando ele não for necessário, ele cai. Então, na verdade, a
gestão social é um circunstancia. A não ser que a gente esteja
159
absolutamente sempre sensível às novas demandas da gestão e da
sociedade. É um problema não pensado e é um problema social,
temos problemas novos. Estamos hoje com essa dificuldade de
relacionamento mais sensível com os novos problemas da sociedade
e pela a sociedade. Como que a sociedade se gere? E como é que nós
pensamos nos diferentes territórios que constituem a sociedade tanto
físicos, quanto virtuais (ACAD 10, 2014)?
O NIPETS/UFRGS também agrega em seu plano de atuação a ideia de transformação
dos problemas sociais, configurada por tensões que vão se alterando a medida que a sociedade
vai evoluindo. Segundo a coordenadora do núcleo de estudos, hoje os questionamentos
envolvem discussões sobre movimentos sociais e não mais sobre orçamento participativo. “As
coisas vão se modernizando, antes se trabalhava com pobreza e agora com a desigualdade”
(ACAD 7, 2013).
Tal compreensão corrobora com as proposições apresentadas por Cançado et al (2013)
ao sustentar as categorias temáticas que envolvem a Gestão Social pela ótica da dialética
cujos fundamentos baseiam-se no modo de se pensar as contradições da realidade que estão
em permanente transformação. Em outras palavras, o construto Gestão Social, caminha na
incongruência do sistema hegemônico.
O PEGS/FGV ao ser instituído como um programa no qual se discute as relações da
sociedade com o Estado e com o mercado por meio da cidadania, propõe, enquanto base
epistemológica, a interdisciplinaridade. Suas dinâmicas e articulações derivadas desse aspecto
se efetivam em campos de conhecimento distintos à Administração o que enuncia relações
múltiplas entre setores da esfera social.
O relato do fundador e coordenador do programa elucida essa ideia ao significar a
Gestão Social a partir de dimensões amplas e interdisciplinares por entender que, como ela se
apoia na sociedade que é múltipla, somente um campo de conhecimento não conseguiria
discuti-la em sua totalidade (ACAD 9, 2013).
160
Associado a esse princípio, o entrevistado aborda algumas questões críticas sobre a
visão limitada desenvolvida por alguns acadêmicos sobre a Gestão Social. Para ele, quando as
pessoas discutem a questão social permeiam muito a linha do assistencialismo, do terceiro
setor com preocupações direcionadas às políticas públicas. “Quando discutimos Gestão Social
no grupo, desde a década de 1990, é feito numa linha da democratização das relações sociais.
O assistencialismo, as políticas públicas e o terceiro setor fazem parte, mas o fundamento é
que o social parte da interação das pessoas” (ACAD 9, 2013).
A partir dessa ideia sobre Gestão Social, o programa desenvolve alguns projetos
apoiados pela lógica de conhecimento socioprático. Um deles é financiado pela CAPES e é
denominado de Gestão Social e Prática cujas dinâmicas operam em parceria com outras dez
universidades para o desenvolvimento do tema “Território de Cidadania” (ACAD 9, 2013).
Há o projeto que realiza um laboratório de transferência de tecnologia social junto a algumas
comunidades do Rio de Janeiro. Neste há curso direcionado para a gestão comunitária e
sustentabilidade. Há também outro destinado a formação de conselheiros municipais. Além
dessas iniciativas, acrescentam-se as publicações de livros e artigos científicos (ACAD 9,
2013).
A perspectiva de se discutir as relações entre sociedade, Estado e mercado, como
sendo o cerne da Gestão Social também norteia os trabalhos desenvolvidos pelo
NIPETS/UFRGS.
Segundo a fundadora e coordenadora do núcleo de estudo os temas abordados
concentram-se na reconstrução da democrática local e global para o estudo da reação da
sociedade frente ao Estado e as suas políticas de inclusão vinculadas a agências internacionais
de cooperação, as ONGs e aos movimentos sociais.
Para ela, a lógica social relaciona-se a uma situação global de problematização da
democracia que se conecta com a questão da governança a qual a mesma questiona as
161
possibilidades de se estudar diferentes atores. “O nosso debate é realmente de sociologia
política, sempre voltada para o local” (ACAD 7, 2013).
Apreende-se que esse depoimento vigora nas linhas de pensamento dos outros atores
investigados e citados, principalmente os coordenadores do CIAGS/UFBA e do PEGS/FGV
os quais desenvolvem uma abordagem sobre Gestão Social proveniente das situações locais,
dos territórios integrados aos aspectos sociais de ordem democrática. Nesse eixo, observam-se
processos que demandam a práticas intersetoriais que, por sua vez, remete a
interdisciplinaridade, a saberes híbridos os quais merecem especial atenção para não serem
conduzidos sob a ótica hegemônica, assim como proferiu o fundador do Programa de Gestão
Pública e Cidadania do CEAPG/FGV.
O GIFE, que tem como finalidade o investimento social, desenvolve também suas
atividades sustentadas pela a ideia da intersetorialidade. Essa afirmativa deriva das formas de
atuação que o grupo efetiva no âmbito da responsabilidade social e que se traduz na sua
concepção e na produção de conhecimento.
Segundo a coordenadora da área de Gestão de Conhecimento, o tema responsabilidade
social advém de um movimento antigo, que ficou forte e evidente na década de 1990. Sua
influência incidiu no fortalecimento da sociedade civil organizada a qual teve um papel claro
e determinante vinculado a questionamentos, a reivindicações de cunho social (PRAT 8,
2013).
A tentativa era de chamar a atenção das empresas, mostrando que
elas eram também responsáveis pelas mudanças, pelas
transformações sociais, econômicas e políticas. Não era só o Estado
responsável pelos problemas sociais, mas as empresas também. A
partir daí iniciaram-se diversos movimentos sociais, o GIFE é um
sintoma disso (PRAT 8, 2013).
Além do aspecto relativo a sua constituição, destaca-se o conhecimento produzido
pelo grupo que se atribui à articulação entre diversos atores e que se consagrou em 2010 como
o ponto vital da organização (PRAT 8, 2013).
162
De acordo com a entrevistada, o GIFE apresenta uma série de iniciativas para a
socialização e disseminação das experiências e conhecimentos relativos ao investimento
social dos associados. Tais iniciativas se traduzem em projetos realizados regularmente, como
uma pesquisa que se realiza a cada dois anos para se analisar a histórica evolução do
investimento social no Brasil e traçar tendências. A partir desta pesquisa gera-se uma série de
materiais que são disponibilizados pela Web. São artigos produzidos a partir de dados
derivados de pesquisas quantitativas e qualitativas extensas, relatórios e um senso com dados
específicos e atuais dos associados do GIFE (PRAT 8, 2013). “Espera-se que a base do
conhecimento possa ser expandida para outras organizações e outras pessoas” (PRAT 8,
2013).
A partir do exposto e, conforme dados oriundos do sítio eletrônico da organização,
observou-se que as tendências traçadas por se tratar de experiências práticas provenientes das
empresas associadas esboçam interesses que são comuns a elas, traduzindo-se em dinâmicas
que têm como eixo central a empresa doadora. Esse aspecto exprime as disputas entre campos
diferentes os quais revelam a hegemonia das empresas investidoras sobre as instituições e
comunidades receptoras, manifestando-se em limites para a ampliação e consolidação da
Gestão Social.
De constituição e natureza similar, o Instituto Camargo Corrêa também exprimiu
perspectivas de atuação uni direcionada ao exercer o papel de investidor social alinhado aos
negócios do grupo empresarial. Esse propósito partiu do pressuposto de se potencializar todo
o conhecimento existente dentro da empresa para atender as demandas das comunidades
envolvidas (PRAT 6, 2013), elevando assim, a supremacia do seu conhecimento sobre os
demais em prol dos interesses dos negócios do grupo e não das comunidades na qual se
inserem.
163
Congruente a isso e, em sintonia com as preocupações expressadas pela Coordenadora
de Gestão do Conhecimento do GIFE, a compreensão sobre responsabilidade social anunciada
pelo diretor do Instituto denota inquietações acerca da necessidade das organizações privadas
se posicionarem mais próximas da sociedade civil.
Eu acho que a responsabilidade social como um todo é um tema que
cada vez mais está presente do dia-a-dia das empresas né. O
Instituto, dentro desse guarda chuva maior da responsabilidade
social, cuida do chamado investimento do social privado que é mais
a relação com as comunidades próximas da empresa. Então a gente
percebe uma evolução muito grande no sentindo das empresas
perceberem cada vez mais o valor do investimento social até para
próprio negocio (PRAT 6, 2013).
Segundo o diretor do Instituto, todos os projetos são criados e desenvolvidos, bem
como monitorados e avaliados de forma interativa por meio de um portal. Porém, não foi
possível observar se essa interação é de fato efetivada com a participação das comunidades e
nem como se processa essa participação.
Quanto à produção de conhecimento, esta é fomentada a partir do processo interativo
via portal eletrônico e ação direta nas comunidades o qual é difundido por meio de uma
revista trimestral que apresenta os quatro programas desenvolvidos pelo Instituto (PRAT 6,
2013). “Há uma tiragem de cerca de dez mil exemplares que circulam tanto internamente
quanto externamente. Então, é uma forma da gente difundir um pouco mais e criar a cultura
de investimento social nas empresas” (PRAT 6, 2013).
Nota-se que esse processo de construção coletiva, agrega possibilidades de
conhecimento socioprático por promover uma interação mediada por diversos interlocutores e
suas disposições sociais, entretanto, essa perspectiva pode ser minada se prevalecer os
domínios decorrentes das proposições e dinâmicas do Instituto.
A noção de Gestão Social expressada pelo coordenador do NEATS/PUC/SP se
debruça na visão intersetorial e interdisciplinar as quais envolvem ideia de coletividade. Para
ele a Gestão Social é todo processo de trabalho na área social com o objetivo de coletividade
164
(ACAD 6, 2014). Entretanto, destacou que, apesar da saúde, educação e outros setores
desenvolverem trabalhos direcionados para os mesmos grupos de atores, estes são elaborados
e efetivados isoladamente por meio de programas e projetos diferentes (ACAD 6, 2014).
O fundamental é o coletivo e pra mim política pública é isso, política
social é isso, então você não pode falar que não tem a gestão. O que
é gestão? É você mobilizar recursos para conseguir agir e trabalhar
neste social. A questão pública ela se caracteriza por lidar com o
coletivo, o bem público. Isso não vai ser outra coisa. O social é
complexo, gerenciar isso é também difícil. Então, você tem que
gerenciar e mobilizar para que as pessoas tenham uma qualidade de
vida e isso passa pela forma que você olha a realidade e lida com
ela. Isso é uma questão fundamental, o coletivo social é o que
interessa, a realidade social é o que interessa e, ser social é ser
complexo (ACAD 6, 2013).
Conforme o relato nota-se que a intersetorialidade se traduz como um meio de
expressão dos interesses sociais, os quais podem ser dinamizados pela mobilização de
recursos dotados de habilidade social. Porém, o envolvimento de atores de diferentes setores
com diferentes saberes para causas comuns não significa em integração. E este aspecto,
segundo o entrevistado, decorre da complexidade das relações sociais.
Adotando o princípio da coletividade, o conhecimento produzido pelas dinâmicas de
trabalho do núcleo de estudo é aplicado em projetos direcionados ao terceiro setor de forma
interdisciplinar. Como exemplo, ele cita um projeto concebido a partir de um edital do
Ministério da Justiça no qual houve uma ampla integração entre o pessoal do Direito e da
Administração, implicando em uma vasta repercussão (ACAD 6, 2014).
O nosso grupo é aberto. Nós trabalhamos com pesquisas,
buscamos temas e financiamento. Estamos trabalhando
também com editais interinstitucionais e participando desta
questão da Gestão Social com o grupo do observatório da
Rosana, na Bahia. Fizemos no ano passado, pelo NEATS, o
congresso do ENAPEGS e participamos também do Pró-
ADM, que foi mais com o pessoal da Administração porque
ele é mais administração (ACAD 6, 2013).
O entrevistado também mencionou um curso de extensão ofertado pelo núcleo de
estudo que é uma especialização direcionada a projetos sociais e organizacionais para o
165
terceiro Setor cuja relevância o conduziu a formação de sete turmas. Há outras iniciativas no
âmbito da extensão que são cursos menores de 20 horas e 60 horas para o campo das políticas
públicas e para a educação destinada à sustentabilidade, bem como um curso chamado
Introdução ao Terceiro Setor, de 40 horas, o qual é realizado aos sábados em parceria com o
grupo comunitário da PUC/SP (ACAD 6, 2014). “Este é o nosso forte, os cursos de
formação” (ACAD 6, 2014).
Observou-se que a intersetorialidade também permeia as dinâmicas do IPÊ ao
desenvolver atividades guiadas pelo modelo IPÊ de Conservação que tem na base o que eles
chamam de Programa Integrado de Conservação e Desenvolvimento. É um modelo de ação
integrado que inclui pesquisa de espécies ameaçadas, educação ambiental, restauração de
habitat, envolvimento comunitário com desenvolvimento sustentável, conservação da
paisagem e envolvimento comunitário com desenvolvimento sustentável, conservação da
paisagem e envolvimento em políticas públicas. O propósito é combinar desenvolvimento
regional com a conservação da biodiversidade (PRAT 4, 2013).
Esse modelo surgiu com base nas experiências dos anos de trabalho que, segundo o
fundador do instituto, iniciou com a pesquisa de campo onde eles atuavam seguidos pela
formação das pessoas envolvidas por meio da oferta de cursos curtos. Entretanto, essas
dinâmicas não se traduziam na solução para a conservação da fauna e flora brasileira. Para o
entrevistado, havia presença de outras variáveis que se exprimiam na ação humana e não só
no conhecimento sobre biodiversidade (PRAT 4, 2013).
A partir dessa constatação, as atividades do instituto passaram a aglutinar
conhecimentos biológicos com educação ambiental na expectativa de envolver as pessoas no
processo com foco na mudança do comportamento para a conservação da natureza (PRAT 4,
2013). Porém, essa iniciativa também não foi o suficiente, se estendendo, de forma integrada
a economia regional, as necessidades do território e das paisagens que, por outro lado,
166
demonstrava a relevância do governo na elaboração das políticas públicas, as quais passaram
a ser foco de intervenção na tentativa de influenciá-las a favor dos territórios naturais e sociais
(PRAT 4, 2013). De acordo com o entrevistado,
isso virou um gráfico que parece uma cebola, que tem a
biodiversidade na base e vai crescendo para o habitat, educação
ambiental, economia regional e paisagem e políticas públicas. De
um lado tem envolvimento comunitário e do outro lado tem
pesquisa. Este gráfico ficou apelidado de Cebolão do CP, mas na
verdade, por muitos anos ele virou o nosso modelo de conservação,
que hoje nós expandimos para vários locais do Brasil (PRAT 4,
2013).
No âmbito da produção de conhecimento, notou-se que o histórico do instituto
contribuiu de forma determinante para a práxis de sua atuação, o qual demonstra preocupação
com o compartilhamento do conhecimento adquirido em suas pesquisas. As informações
constantes em seu sítio eletrônico corroboram essa ideia ao divulgar os trabalhos acadêmicos
e práticos oriundos do Centro de Biologia da Conservação (CBBC) e da Escola Superior de
Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS), universidade criada em parceria com a
Natura e Instituto Arapyaú.
Destaca-se que essa universidade, sediada em Nazaré Paulista junto ao IPÊ, dispõe de
mais de trinta cursos de curta duração, MBA em Gestão de Negócios Socioambientais e
Mestrado Profissional em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável.
Por ano, seus cursos são responsáveis pela capacitação de cerca de 500 pessoas do Brasil e
exterior, oferecidos na sua sede, em sedes de parceiros ou ainda in company.
Mas, o que mais chama atenção é a “geração de conhecimento com espírito aplicado e
independente em relação às tentativas de inovação” (PRAT 4, 2013). Este propósito
fundamenta-se na perspectiva que o mundo das organizações socioambientais sofre influencia
das grandes organizações internacionais que, são em geral, as criadoras de inovação e que
dominam, em certa medida, o cenário cientifico e de governança, criando padrões de
conservação da biodiversidade (PRAT 4, 2013).
167
Se você não é um criador, você acaba sendo um aplicador de padrão
e isso te põe em uma situação de não ter poder decisório. Nós
compreendemos isso há muitos anos atrás e fazemos um esforço
grande para não nós deixarmos levar pelo canto da seria e não
virarmos um prestador de serviço para ganhar dinheiro com isso e
perder o poder, ainda que pequeno para se criar novos modelos
(PRAT 4, 2013).
Nota-se que essa preocupação expressa uma tentativa de superação aos desafios
institucionais vivenciados pelas universidades contemporâneas cuja autonomia precede o
modelo desenhado pelo mercado e pelo campo organizacional no qual se está inserido. Ao
propor a geração e aplicação do conhecimento produzido entre academia e comunidades afins,
além de ressignificar o conhecimento científico, este demonstra ser legitimado por todos os
envolvidos.
Conforme o entrevistado, hoje a atuação do IPÊ se dá a partir de três braços. O
educacional e, considerado por ele, como “o mais forte”, um de ação no modelo IPÊ de
conservação da biodiversidade e outro que é o dos negócios (PRAT 4, 2013).
O envolvimento do IPÊ com este último braço se apoia em negócios sustentáveis ou
no “business sustentável”, o qual é desenvolvido por uma empresa prestadora de serviços com
o intuito de “gerar negócios que rendam recursos para as comunidades locais, transformando
as externalidades negativas da economia em positivas” (PRAT 4, 2013).
A perspectiva intersetorial, observada como um meio para se exprimir as dinâmicas da
Gestão Social, carrega em seus preceitos noções de interdisciplinaridade por supor a interação
entre conhecimentos distintos e constituídos por saberes múltiplos gerados por distintos
atores. A noção interdisciplinar, apesar de ter sido evidenciada no âmbito das dinâmicas e
proposições dos grupos de atores investigados foi considerada por alguns acadêmicos como
um desafio a ser superado ao enfatizar a necessidade de se reconhecer a concepção da Gestão
Social atrelada a outros campos de conhecimento. Além disso, a noção da Gestão Social
desenvolvida na prática foi outro aspecto crítico relatado por alguns praticantes investigados,
168
os quais demonstraram haver uma inconformidade do termo com a prática. Essas percepções
são apresentadas na sessão seguinte.
6.3.1 Concepções críticas que permeiam a noção sobre Gestão Social
A constituição do campo da Gestão Social, segundo o fundador e ex-coordenador do
CEAPG/FGV pouco se considera as organizações de base de fé. Para ele há um déficit
coletivo em termos de conhecimento sobre o tema no âmbito da grande rede ENAPEGS, pois
as pessoas já identificaram as organizações cultuadas como base para se estudar o fenômeno.
Os estudos foram feitos, mas não foi capturado coletivamente o
suficiente das massas dessas organizações para intervir de alguma
maneira. Nós estamos com uma agenda que só focaliza as
organizações de Gestão Social e os novos tipos de organização com
uma agenda que está apoiando os contornos da sua intercessão com
o Estado. Então, essa agenda de investigação me preocupa” (ACAD
4, 2013).
A fundadora e coordenadora do CIAGS/UFBA traça uma ideia paralela ao expor a
noção de Gestão Social aplicada pelo centro de estudos. Ela destaca que o tema era discutido
e dinamizado nos primórdios da história do Brasil pela igreja católica. As instituições
internacionais também tiveram papel importante neste cenário, bem como os movimentos
sociais dos anos de 1980 e 1990 que se consagraram como antecedentes práticos e
acadêmicos (ACAD 10, 2014). “Então eu diria que nós não antecedemos, fomos uma geração
intermediária, temos que reconhecer os que nos antecederam e que isso não é invenção nossa”
(ACAD 10, 2014).
Essa visão, segundo a coordenadora do centro de estudos se expande para as
abordagens que envolvem a responsabilidade social que, uma vez mais ampla, mais
territorializada, implicando em relações sociais que vislumbram individuo e sociedade, grupos
169
sociais, sociedade-sociedade, se constitui na Gestão Social (ACAD 10, 2014). Para ela, “o
momento atual compreende uma revisão de rumos no qual se observa uma polissemia, pelo
fato das pessoas compreenderem a Gestão Social de maneiras diferentes” (ACAD 10, 2014).
Outra perspectiva crítica acerca da compreensão que os atores acadêmicos detêm sobre
a Gestão Social deriva do campo da Administração e que é salientada pela coordenadora do
NIPETS/UFRGS. Sua percepção dialoga com o campo da Administração decorrente da
experiência de desenvolver temáticas sobre Gestão Social no âmbito de uma escola de
Administração centrada no bussiness. Segundo ela, um curso oferecido nesta escola fora do
eixo empresarial era denominado de Administração Pública e Gestão Social, mas não era
reconhecido como um curso novo e no diploma o título conferia habilitação em
Administração. “Hoje a escola é constituída de profissionais de várias áreas como a
psicologia, a antropologia a matemática, mas digamos que quem está no poder é o pessoal da
ANPAD” (ACAD 10, 2013).
Para a entrevistada, as temáticas que circundam a Gestão Social já emergiam na
discussão sobre desenvolvimento local e sobre políticas públicas os quais foram fomentados
no NIPETS/UFRGS pelos estudos oriundos da metodologia de ensino denominada Residência
Solidária (ACAD 10, 2013). Entretanto, para o campo da Administração, essa discussão era
algo estranho por associar ciência política e estudar pobres. A
questão da vulnerabilidade social não cabe na escola bussiness. Na
administração tem vários nichos, então alguns se reúnem, foi a
minha visão, mas me preocupa a Gestão Social, porque de modo
geral é uma discussão que nasce dentro da administração. Tem que
entrar profundamente na sociologia e antropologia, com o método,
tem que entrar o sujeito da psicanálise e isso me preocupa porque
não acontece na administração! Isso me preocupa muito (ACAD 10,
2013).
O coordenador do NEATS/PUC-SP evidenciou o mesmo dilema ao relatar o início dos
trabalhos envolvendo a Gestão Social no curso de Administração na PUC/SP os quais lhe
170
renderam críticas como: “que absurdo eu ouvindo sobre voluntariado e terceiro setor aqui na
PUC! Eu fui quase rechaçado” (ACAD 6, 2013).
A coordenadora do NIPETS/UFRGS exprimiu outra preocupação relativa a concepção
da Gestão Social ao considerar que não há teorias profundas para se formar um campo de
conhecimento. Para ela a “Gestão Social tenta abraçar tudo sem ter uma construção teórica
robusta para dar conta realmente de tudo que é proposto. O que falta é um olhar integrado”
(ACAD 10, 2013).
Tal preocupação também se evidenciou no relato do Fundador do CEAPG/FGV ao
afirmar que a Gestão Social traz consigo uma “discussão bastante confusa” (ACAD 4, 2013).
Segundo ele, há integração com os aspectos relativos ao social, com intercessões entre a área
pública e outras organizações que estão presentes em suas dinâmicas e vice-versa (ACAD 4,
2013). “O que acontece é que nós ficamos em terrenos minados com opiniões e nós não
somos capazes de analisar mais claramente o que é viver nestes espaços diferentes. Pode falar
hibrido, mas é muito diferente de como você faz isso acontecer efetivamente” (ACAD 4,
2013).
Para o coordenador do NEATS/PUC-SP, o conhecimento científico que é produzido
no Brasil se debruça muito na palavra Gestão Social. Ele cita como exemplo a compreensão
que lhe é conferida tomando como pressuposto as ideias de Habermas baseadas na
racionalidade substantiva e nas relações permeadas pela participação deliberativa. Essa
perspectiva “desqualifica a gestão que é estratégica”, afastando a Gestão Social do campo da
Administração (ACAD 6, 2013).
No campo dos praticantes notou-se que a noção crítica acerca da Gestão Social recaiu
sobre a ideia equivocada que os atores deste campo formam sobre o terceiro setor. Observou-
se também que o termo Gestão Social não é utilizado por eles como forma de expressão e de
descrição dos processos, dinâmicas e articulações desenvolvidas em suas práticas.
171
Nessa vertente, destaca-se o relato do Coordenador da Fundação AVSI, que aponta no
Brasil uma visão amadora sobre o terceiro setor ao ser configurado como um grupo de
pessoas que se une para atuar respondendo as necessidades específicas dos cidadãos. Para ele,
até certo ponto, está perspectiva se comprova pelo fato de existirem ONGs que ainda
precisam incluir nos seus processos elementos que aumentem a eficácia dos seus recursos.
“Não basta ter só boa vontade para fazer algo de boa qualidade” (PRAT 2, 2013). Outro
aspecto observado pelo entrevistado se debruça na imagem que a sociedade civil detém sobre
o terceiro setor ao relacioná-lo a problemas de corrupção do governo ou de outras instituições.
Elas também são notadas como um instrumento que vai resolver algo que o setor público não
consegue responder. Esta concepção não é compartilhada pelos propósitos que sustentam a
Fundação AVSI o qual salienta que cada sociedade exige certa eficiência (PRAT 2, 2013).
O Diretor de Gerenciamento de Projeto da CDM apresentou uma percepção critica
paralela ao do Coordenador da Fundação AVSI sobre a noção que os praticantes do campo do
terceiro setor detêm sobre ele que, inclusive, é assinalada pelos técnicos da CDM.
O que eu ouço muito, inclusive dos nossos técnicos é que a
gente precisa sempre estar fazendo uma conversão, é que o
terceiro setor sempre existe onde o Estado não esta
presente. E esse é um equivoco que eu tento sempre
combater porque o terceiro setor ele é uma expressão
legitima da sociedade. Assim como a iniciativa privada
parte de uma necessidade, de uma pessoa, o terceiro setor
também percebe essa necessidade e ele não faz disso
necessariamente uma atividade lucrativa, então eu acho que
esta é a diferença entra a iniciativa privada e o terceiro
setor.
Sua percepção sobre o terceiro setor no Brasil remete a uma desorganização e
desarticulação da sociedade civil, pelo fato de não haver nenhuma entidade expressiva que o
represente. O entrevistado citou o GIFE e a ABONG como organizações pouco significativas
em se tratando do número de ONGs que há no Brasil. Ressaltou também que as organizações
que compõe a ABONG operam mais no âmbito das lutas por direitos humanos do que no da
172
educação. Para ele o setor é pouco valorizado, mesmo nos centros de pesquisa universitários
que, de uns anos para cá, iniciaram uma discussão sobre o campo (PRAT 1, 2013).
As possibilidades de produção de conhecimento gerada pela CDM foi outro desafio
apontado pelo Coordenador o qual envolve a sistematização e a difusão dos resultados
provenientes dos trabalhos desenvolvidos pela a organização entre as suas equipes.
Nós temos projetos em áreas separadas com equipes específicas.
Para fazer esse conhecimento se tornar um conhecimento transversal
para todos é algo muito difícil porque não parte da necessidade das
pessoas. Em determinados projetos elas não tem, necessariamente,
essa necessidade de aprender a respeito dos outros projetos que a
gente envolve, estão muito mais empenhadas em desenvolver
atividades livres. Então, fazer as pessoas também participarem do
patrimônio intelectual da CDM é um desafio gigante para a gente
(PRAT 1, 2013).
Observou-se que o dilema relativo à qualificação dos profissionais que atuam no
campo do terceiro setor é outro desafio vivenciado pela OSCs. Conforme o entrevistado, “a
retenção de talentos é muito difícil, por que para retê-los é necessário seguir uma lógica de
remuneração do mercado e isso, por vezes, inviabiliza a permanência de pessoas importantes
no quadro profissional da CDM” (PRAT 1, 2013).
Além dessas percepções críticas relativas à noção sobre Gestão Social outra
abordagem foi evidenciada por um acadêmico cuja perspectiva decorre do termo
responsabilidade social empresarial e sustentabilidade.
Segundo o ex-coordenador do NUPEGS/PUC Minas, a temática da responsabilidade
social empresarial orientava as discussões iniciais do núcleo de pesquisa. Nesse contexto, o
entrevistado apontou duas percepções sobre a compreensão que a comunidade academia havia
desenvolvido sobre a responsabilidade social. A primeira é que o conceito estava sendo
construindo de forma genérica, não acompanhando a percepção das pessoas. A noção sobre
“responsabilidade social foi crescendo do ponto de vista conceitual, muito influenciado pelo
Instituto Ethos que, na época era uma referência utilizada para esse diálogo” (ACAD 8, 2013).
173
Dessa forma, o conceito caminhou para a ideia que a empresa deveria ser responsável
por todos os stakeholders, abrangendo uma dimensão ética. Entretanto, a atuação da empresa,
conforme dados científicos, não envolvia todos os stakeholders e não envolvia a questão ética,
que está em outro patamar (ACAD 8, 2013).
De acordo com a percepção do ex-coordenador do núcleo de pesquisa, a academia
estava contribuindo para as empresas usarem o conceito que era ideológico.
a empresa faz algo parcial num setor que traz para ela um marketing
para a marca dela, ou um setor que esta ligado ao negocio dela.
Então ela consegue se apropriar, agregar valor a esse investimento
social, dando a entender que toda empresa ética faz isso, o conceito é
amplo. Então, tem a dificuldade enorme de comunicação, por mais
que a gente usasse esse conceito, na pratica ele não era esse. Havia o
uso ideológico do conceito pelas empresas de uma maneira (ACAD
8, 2013).
Essa perspectiva contribuiu para desenvolver no entrevistado uma visão crítica em
termos teóricos sobre a responsabilidade social cuja definição remonta de uma tradição
epistemológica consequencialista, ou seja, “quem é responsável por definição é quem
responde por seus atos, então, ser responsável é arcar com as consequências dos seus atos, é
responder por” (ACAD 8, 2013).
Outra influência apontada por ele remete a um conceito discutido pela literatura
internacional a qual o associa a sustentabilidade. Este conceito nasce com a preocupação das
consequências da atuação empresarial e industrial, na natureza, na população e na economia,
com o princípio de adesão social (ACAD 8, 2013). Em outras palavras, essa noção indaga
“como ganhar dinheiro preservando o meio ambiente, promovendo o bem social”. Na visão
do entrevistado o termo sustentabilidade é mais interessante” (ACAD 8, 2013).
A perspectiva da sustentabilidade enquanto fator crítico foi um quesito apontado pelo
fundador e coordenador do IPÊ ao ser questionado sobre como as organizações da sociedade
civil compreendem a gestão socioambiental. Conforme explicitado por ele, “na vida tudo
segue uma espécie de moda que vem de padrões internacionais criadas por algumas
174
organizações e grupos de grande expressividade, como o Banco Mundial o qual exprime uma
grande influência no âmbito socioambiental” (PRAT 4, 2013). O entrevistado ainda ressaltou
que as influências se associam às possibilidades de captação de recursos, sendo este um dos
interesses primários destes órgãos (PRAT 4, 2013).
Outras perspectivas relativas à responsabilidade social foram observadas, porém,
oriundas do campo dos praticantes. A ex-coordenadora do setor de Responsabilidade Social
da FIEMG traçou algumas considerações acerca da compreensão que as organizações da
sociedade civil no Brasil têm sobre a responsabilidade social, possibilitando inferir que há
uma polaridade em termos geográficos e culturais.
Segundo a entrevistada, há uma diferença do que é responsabilidade social em São
Paulo e em Minas Gerais.
Em São Paulo as instituições sociais construíram uma
relação, uma aliança com as empresas. Houve um
crescimento nesse sentido muito fomentado pela
universidade, podendo citar o CEATS/USP com a
profissionalização do terceiro setor, fortalecendo o seu
conhecimento. Essa foi uma união entre empresas,
organizações da sociedade civil e universidade que
aconteceu de forma muito forte na cidade e que ajudou a
quebrar a distância entre eles. Lá as organizações são vistas,
são reconhecidas, são referências, a mídia procura, as
universidades procuram, as empresas procuram, essa
relação é diferente, ela está estruturada, ela se posiciona
(PRAT 3, 2013).
Sua percepção sobre as organizações sociais de Minas não aponta relações
intersetoriais, visão e prática destacada como relevante pelos atores entrevistados por esta
pesquisa. “As mobilizações são entorno de temas que são trabalhados em um determinado
período, mas não há interesse de nenhuma parte que isso se torne uma coisa grande, que tenha
sustentabilidade, que tenha continuidade” (PRAT 3, 2013). A possibilidade de
relacionamentos sustentáveis apoia-se no perfil do ator dotado pelo estigma do herói ou da
heroína, sem proximidade com a profissionalização e formação do sujeito (PRAT 3, 2013).
175
Em contrapartida, as empresas percebem as organizações sociais como um
componente importante para elas, porém, com relações que se aproximam do assistencialismo
(PRAT 3, 2013).
Este cenário comunga com a noção que o ex-coordenador do NUPEGS proferiu sobre
a responsabilidade social exercida pelas empresas ao abordar uma relação com os seus
stakeholders mais vinculada a construção de uma imagem positiva do que a uma proposição
de cunho ético.
Nesse contexto, segundo a entrevistada, se as organizações sociais procuram as
empresas elas estão mendigando. Se fizerem parceria com as empresas por meio de um edital
ela irá selecionar o projeto que ela quer desenvolver orientado pelo interesse da empresa
escolhida (PRAT 3, 2013). “Nessa relação ela não é reconhecida, o processo de gestão não
tem valor. E se ela se profissionalizar ela corre o risco de não sustentar tal relacionamento,
pois poderá demonstrar que ela não precisa mais de ajuda” (PRAT 3, 2013).
Outra questão que a ex-coordenadora do setor de Responsabilidade Social da FIEMG
chamou atenção recai na profissionalização dos atores que atuam na Gestão Social. Assim
como apontou o Diretor da Fundação AVSI, este é um setor em que se percebe profissionais
dotados de boa vontade, mas amadores e mal remunerados (PRAT 3, 2013).
Indo mais adiante, a compreensão que ela tem sobre as organizações sociais é que
essas percebem a responsabilidade social proferida pelas empresas como possibilidade de
arrecadar fundos de dinheiro para sobreviver (PRAT 3, 2013). Todavia, ela ressalta que “tem
empresas que ainda não ouviram e não sabem como tratar a responsabilidade social, e tem
outras que estão lá na frente. Isso demonstra um tema crescente que ainda não congrega um
público muito grande, ele ainda está distante” (PRAT 3, 2013).
A análise sobre a noção que os atores investigados têm acerca da Gestão Social
atrelada as suas dinâmicas e articulações permitiu observar possibilidades de produção de
176
conhecimento significativas para a transformação e ampliação do campo da Gestão Social.
Porém, conforme os acadêmicos, a falta de teorização robusta sobre o tema e de um olhar que
contemple não só as políticas sociais, mas, principalmente as relações provenientes de atores
de diferentes setores engajados em solucionar problemas comuns, se traduzem em limites para
a transformação do campo da Gestão Social.
Outro desafio apontado e relevante refere-se à condução dos processos práticos da
Gestão Social. Constatou-se em algumas situações a presença de interações distantes e de
caráter hegemônico precedidas pela imposição dos interesses provenientes das empresas
privadas, governo e universidade sobre as organizações sociais. Este aspecto pode se
configurar em um empecilho para a produção de conhecimento em Gestão Social e para a
ampliação do seu campo de poder. Observou-se que tal situação pode ter um impacto mais
negativo quando as organizações sociais validam as ações impostas pelas empresas e governo
na tentativa de obter financiamento para suas atividades, diminuindo o caráter de partilha de
soluções para os problemas sociais.
Nessa vertente, destaca-se a tensão que permeia o campo da Gestão Social apoia-se na
disseminação da ideia de que o assistencialismo representa um aspecto arcaico que deveria ser
substituído por uma nova visão tanto por acadêmicos que analisam a Gestão Social quanto
pelos os praticantes desse campo. Alguns em busca dessa transformação defenderam ou
defendem a substituição do assistencialismo pelo pragmatismo e pelas competências
gerenciais de orientação e influência da gestão privada. Outros enxergam esse campo como a
ampliação dos direitos de cidadania e de conquista da emancipação democrática.
Essas tensões e lutas se traduzem nas perspectivas e práticas empregadas no campo da
Gestão Social. A Fundação AVINA, o GIFE, o Instituto Hartmann Regueira, Instituto
Camargo e Corrêa, bem como o CEATS/USP empreendem ações mais na linha do fim do
assistencialismo via eficiência gerencial empresarial. O CIAGS/UFBA, PEGS/FGV,
177
NIPETS/UFRGS, NEATS/PUC-SP e o IPÊ se articulam mais na linha da emancipação e
avanço da democracia.
No final das contas, o que está em jogo são as formas como se representa o que é a
Gestão Social renovada, avançada no Brasil contemporâneo e isso envolve uma leitura, uma
produção de saberes e conhecimentos capazes de justificar a prevalência de uma visão de
mundo, de determinados poderes.
Com o intuito de ampliar a compreensão acerca dos limites e possibilidades de
produção de conhecimento sobre Gestão Social, a próxima sessão analisará as relações
estabelecidas entre acadêmicos e praticantes, considerando as disputas entre os campos
envolvidos.
6.4 Relações entre academia e praticantes: desafios e possibilidades para o campo da
Gestão Social
Esta tese partiu do pressuposto que as relações entre academia e praticantes do campo
da Gestão Social, convergentes ou divergentes, ampliam a produção de conhecimento que,
por sua vez, contribui para a transformação do seu campo. A fim de analisar essa perspectiva
buscou-se verificar a compreensão que os atores entrevistados têm sobre a relação entre
academia e praticantes, considerando a ideia de disputa entre campos de poder.
As indagações decorrentes deste item tentaram problematizar e explorar as
possibilidades de interação entre academia e praticantes por meio do ensino, da pesquisa e da
extensão, bem como a importância do diálogo entre acadêmicos e praticantes para a produção
de conhecimento sobre Gestão Social.
178
A primeira questão observada, conforme o relato de alguns entrevistados demonstrou
interações distantes e incipientes entre academia e praticantes, reverberando os próprios
dilemas vivenciados pela universidade contemporânea.
Esta perspectiva foi apontada pelo ex-coordenador do CEAPG/FGV, o qual anunciou
que a relação entre academia e praticantes “vai mal por viver sob a égide de um apartiamento
da universidade com a sociedade” (ACAD 3, 2013). O entrevistado destacou que essa não é
uma discussão nova e que decorre de uma lógica produtivista (ACAD 3, 2013). Conforme a
sua reflexão esse contexto contribuiu para fortalecer o campo da Gestão Social cujas bases
apoiadas na ação e reflexão emergiu como resposta ao enfraquecimento do capital intelectual
da universidade contemporânea.
Outro membro e também ex-coordenador do CEAPG/FGV corrobora este cenário, ao
qualificá-lo como perigoso ao ser conduzido por pesquisas de gabinete. Esta se sustenta por
meio de uma base de dados secundários, induzindo o pesquisador a permanecer no gabinete
que, por sua vez, fica desconectado da realidade a ser investigada (ACAD 4, 2013). “Esse
processo ao ser avaliado não ajuda por que a pesquisa de gabinete é bem rápida, focada e
contribui para publicar” (ACAD 4, 2013). Infere-se que esse aspecto, assim como profere
Mintzberg (2006), induz ao arquivamento das pesquisas em prateleiras de bibliotecas as quais
se distanciam da sociedade.
O entrevistado argumentou que há um preço para coletar e ficar conectado com
sociedade. A investigação leva mais tempo, há a necessidade de ganhar o direito de ficar e
exige responsabilidade com aquilo que é coletado. “Na área que estamos as pessoas não veem
claro o que foi produzido” (ACAD 4, 2013).
Nesse contexto, destaca-se uma pesquisa realizada pelo CEAPG, que envolveu os
fóruns locais de uma determinada região no qual foram conectados os atores que estão no dia-
179
a-dia destes territórios para, progressivamente, descobrir que havia outros atores e que eram
aqueles que não seriam encontrados pela porta da frente (ACAD 4, 2013).
Este exemplo demonstra a relevância de uma pesquisa de campo robusta ao
possibilitar produção de conhecimento socioprática integrada a interpretação, a reflexão,
gerando novos olhares capazes de ampliar a compreensão do campo do investigado. Segundo
o entrevistado,
esses processos geram muito conhecimento, conhecimento sobre as
tensões entre as organizações de base e o Estado, recuperando
história dos movimentos que estão ocorrendo em São Paulo sobre
mobilidade, por que as organizações locais querem estas histórias.
Este caminho permitiu reconstruir a ponte para se chegar de volta na
comunidade e recriar outras bases, mostrando que, primeiro é
possível e que, sair do gabinete tem um preço... E que você tem que
aguentar este preço. Por outro lado você reconecta em bases mais
horizontais (ACAD 4, 2013).
Essa perspectiva foi ampliada pela coordenadora do CIAGS/UFBA ao argumentar que
“um programa de Gestão Social não pode se inserir em uma academia impondo modelos”
(ACAD 10, 2013). A mesma explicitou que as categorias utilizadas na academia para se
desenvolver uma pesquisa ou um projeto de extensão não são compreendidas da mesma forma
pelos atores sociais envolvidos, exigindo uma construção com as palavras pertencentes ao seu
eixo de atuação o qual poderá incidir em uma proposta coletiva (ACAD 10, 2013).
De forma semelhante, o ex-coordenador do NUPEGS/PUC-Minas apontou a sua
percepção mediante as interações entre universidade e praticantes ao argumentar que o
discurso da academia é completamente distinto ao do praticante e que, ao direcioná-lo a ele o
mesmo não o compreende, não conseguindo colocá-lo em prática. Este cenário se expressou
em uma experiência vivenciada pelo entrevistado. O mesmo relatou que o conhecimento
acadêmico é citado por pessoas que querem a formação. No entanto, os praticantes com quem
ele estava interagindo não pretendiam a formação, queriam a orientação prática. “Essa
experiência foi absolutamente diferente do que a gente fazia, ela era muito mais popular”
(ACAD 8, 2013).
180
Uma das coordenadoras do CEATS/USP também caracterizou a relação entre a
universidade e sociedade como insuficiente. Para ela esta interação é um pouco tímida e
necessita sempre estar em busca de mais, bem como a construção e o resgate de uma
democracia que iniciou de um processo em 1988, incidindo em trinta e vinte anos sem a
ditadura (ACAD 1, 2013). Apreende-se que essa construção ou arranjo precede uma
compreensão de mundo vigente no qual se vislumbra um núcleo de poder mais pulverizado e
menos hegemônico (ACAD 10, 2013). Essa percepção vincula-se a universidade não mais
como a única a ofertar processos de produção de conhecimento, mas como mais uma dentre
outros espaços intelectuais (ACAD 10, 2013).
Vislumbrando uma perspectiva de enfrentamento para esses dilemas o ex-coordenador
do NUPEGS/PUC Minas apontou como alternativa o financiamento de programas de
extensão por agências de fomento e a sua valorização pela CAPES. O mesmo compreende
que se a extensão fosse pontuada tanto quanto a produção científica o governo daria uma
indução para esse diálogo (ACAD 8, 2013).
No âmbito das abordagens da responsabilidade social o entrevistado assinalou que há
uma produção de conhecimento científica na literatura brasileira dividida em duas dimensões.
Uma provém de um grupo de autores considerados ingênuos por abraçarem o conceito dado,
direcionando-o a prática na empresa. Esse grupo é caracterizado como acríticos por eles
colocarem o conceito de responsabilidade social a serviço da empresa, do investimento social.
A outra dimensão é oriunda daqueles que são críticos, mas que não apresentam muita solução
(ACAD 8, 2013). Na sua concepção, esse grupo dificulta o diálogo entre a universidade e a
sociedade, pois não leva conhecimento útil ao praticante. “Ele não propõe, ele só destrói”
(ACAD 8, 2013).
A percepção que os praticantes entrevistados apresentaram sobre a relação entre
academia e sociedade se aproxima da visão dos acadêmicos ao caracterizá-la como distante e
181
insuficiente, apesar de terem destacado que, no âmbito das empresas em que atuam
vivenciaram experiências positivas com a academia.
Essa visão é apontada pelo diretor da Fundação AVSI ao relatar que a relação das
universidades com a fundação é muito positiva. Ele agrega esse aspecto ao fato de que o
terceiro setor precisa de um apoio teórico para a sistematização e produção de seu
conhecimento, convergindo com as características que compõem um praticante cuja definição
se apoia no profissional reflexivo e interessado em obter novos conhecimentos para a
ressignificação de sua atuação prática (Ospina, 2001).
No caso da AVSI, o entrevistado apontou uma relação direta com as universidades
como a PUC Minas que contribui com o conhecimento teórico por meio de sua aplicação em
alguns setores e assessora na criação de associações e formação profissional para o terceiro
setor.
Na verdade a produção de estudos acadêmicos sobre o
funcionamento e o papel do terceiro setor são muito legais,
inclusive, utilizamos como referencial teórico para a nossa
projeção. Quando você se aproxima daquele que tem a
oportunidade de colocar um ideal em ação ele pode
complementar aquilo que você pensa (PRAT 2, 2013).
Esse processo de proximidade entre atores de campos diferentes ainda foi destacado
por ele como uma oportunidade de construir conhecimento acadêmico a partir de uma
realidade a qual permite avaliar ou reavaliar uma hipótese (PRAT 2, 2013).
Entretanto, quando se trata de atuar diretamente no território com os beneficiários
direto das organizações sociais, o diretor da Fundação percebe uma limitação derivada da
forma como os acadêmicos se expressam para esses grupos, utilizando uma linguagem
científica e que não se traduz no que os praticantes gostariam de receber.
Outro aspecto que o entrevistado chamou atenção relaciona-se às dinâmicas
provenientes do trabalho de extensão das universidades. Essas demonstram apenas cumprir
uma meta, o de fazer extensão (PRAT 2, 2013). Para ele, o beneficiário não se sente completo
182
nessa circunstância, incidindo em uma necessidade de aprimorar a relação, sobretudo no
âmbito social (PRAT 2, 2013). “O relacionamento entre empresas e universidades é diferente.
O da universidade como avanço tecnológico funciona bem, já no social é preciso trabalhar
mais as formas de se fazer isso” (PRAT 2, 2013).
Essas percepções evidenciam os critérios da cientificidade vivenciados pela
universidade contemporânea ao valorizar mais os experimentos e o conhecimento das ciências
naturais e de cunho tecnológico do que os das ciências humanas e sociais (Francelin, 2004,
Morin, 2006), revelando aspectos da crise hegemônica e de legitimidade (Santos, 2004).
Nesse sentido, observa-se o interesse da universidade em investir em inovações tecnológicas
que se propõem a suprir as demandas do mercado, demonstrando uma hierarquia do
conhecimento em que as ciências humanas parecem se posicionar em segundo plano.
No contexto de atuação da OSC CDM foi possível notar um quadro semelhante ao
ilustrado pelo diretor da AVSI. De acordo com o Diretor de Gerenciamento de Projetos a
organização tem vários projetos desenvolvidos em parceria com as universidades. Existe uma
proposição de determinados temas o que promove ações mais aderentes (PRAT 1, 2013). Para
ele “a própria relação em si gera uma grande quantidade de conhecimento que decorre da
interação de histórias e de vivências, o que facilita o aprendizado mutuo” (PRAT 1, 2013).
Ao longo dos anos, o entrevistado destacou que a CDM tem vivenciado uma
expressiva aprendizagem em termos de tecnologia, metodologia e conteúdo com as
universidades. Em consonância com esse aspecto, o mesmo apontou que as universidades
parecem aprender com a diversidade de cunho prático (PRAT 1, 2013).
Numa perspectiva de ordem mais instrumental e racionalista o diretor do Instituto
Camargo Corrêa relatou que a organização busca se aproximar da academia quando observa
que ela pode ser uma parceira na operação de algum projeto do instituto. “Nós não temos
183
nenhuma relação com a academia no sentido de estimular, investir ou apoiar que seja o estudo
da academia sobre o terceiro setor” (PRAT 6, 2013).
Na sua concepção a relação entre academia e praticantes é insignificante e
descontínua, elas não precedem a um objetivo comum. “As ONGs não demonstram essa
preocupação de interação com a academia, a parceria quando surge é somente quando há o
interesse em desenvolver algo em prol de suas necessidades” (PRAT 6, 2013). As
universidades demonstram a mesma intenção, se aproximam do campo dos praticantes
quando se faz necessário a sua observância para o aprimoramento do conhecimento teórico.
Mesmo uma necessitando da outra para o desenvolvimento de suas atividades, percebe-se que
as iniciativas de interação são induzidas por interesses pontuais, somente de ordem técnica
(PRAT 6, 2013). O entrevistado salientou que a iniciativa parece surgir das academias por
meio dos centros de estudos, sem vínculo com os cursos de graduação.
Quando questionado sobre a importância do diálogo para a relação entre academia e
praticantes o mesmo argumentou ser fundamental, destacando que ele contribuiria muito se
tivesse uma relação mais estreita, cada qual desempenhando o seu papel. Para o entrevistado,
a academia tem a capacidade, a competência para gerar e
sistematizar conhecimento, então essa experiência é muito
importante para fortalecer o terceiro setor e promover o seu
crescimento e desenvolvimento. As organizações do terceiro setor
são organizações em geral que lutam para sobreviver e no seu dia-a-
dia consomem muito tempo, muita energia com isso. Então, da parte
delas eu acho que dificilmente partiria essa iniciativa de ir até a
academia e sugerir uma parceria e com isso produzir conhecimento.
Eu acho que a iniciativa deveria acontecer a partir da academia, das
universidades, elas é quem deveriam ter um olhar mais atento ao
terceiro setor e buscar essa aproximação, então cabe mais a elas a
busca dessa aproximação (PRAT 6, 2013).
Observou-se nesse relato traços da hegemonia do saber acadêmico sobre os praticantes
por meio da separação dos papéis de cada ator, indicando a dissociação da teoria com a
prática, bem como o posicionamento daqueles que ensinam sobre aqueles que aprendem. Essa
noção evidencia uma posição de inferioridade dos praticantes aos lhes atribuir apenas a
184
função da prática sem nela constar a capacidade de produção de conhecimento, traduzindo-se
em limitação para se recriar e transformar o campo.
A ex-coordenadora do setor de Responsabilidade Social da FIEMG também observou
um distanciamento na relação entre academia e praticante ancorada na falta de legitimidade da
universidade frente aos praticantes. Segundo ela, a presença da universidade na empresa é
muito questionada. Há pessoas que aceitam e há aquelas que acreditam ser perda de tempo, de
dinheiro e energia devido ao baixo aproveitamento do produto gerado enquanto resultado
dessa relação. “Se é feito um manual contra a corrupção em parceria com a acadêmica a
empresa não vai utilizar. Mas, se ele é trabalhado somente pelos praticantes, a organização a
qual ele será destinado vai utilizá-lo por nele conter uma linguagem prática, que é bem
diferente da academia” (PRAR 3, 2013).
A Diretora Executiva do Instituto Hartmman Regueira compartilha da mesma ideia,
porém percebida por outro ângulo. Sua observação recaiu na pouca importância e apoio que
os professores dão aos alunos quando esses vão a campo para algum tipo de inserção na
comunidade. “Parece que, não só os professores, mas os alunos também têm pouco tempo
para fazer a pesquisa ou o trabalho em parceria com as comunidades” (PRAT 7, 2013).
Constatou-se que essa compreensão se aproxima das colocações apontadas pelo diretor da
Fundação AVSI ao argumentar que o trabalho de extensão das universidades demonstra
apenas cumprir uma meta.
Vale destacar que, em termos de pesquisa, a entrevistada relatou parecer haver uma
curiosidade relativa aos trabalhos desenvolvidos no Instituto, explicitando já ter sido
procurada pelos alunos da Universidade Federal de Minas Gerais, pelos da PUC Minas e da
Fundação Dom Cabral para responder aos questionários dirigidos (PRAT 7, 2013).
Convergente com a noção de distanciamento entre academia e universidade, o Vice
Presidente do IPÊ relatou que não há uma parceria real entre esses campos, mas sim algumas
185
tentativas mais significantes em determinadas instituições. Para ele, a academia deveria ser a
“casa do novo” (PRAT 4, 2013). Porém, “ela exprime ações conservadoras e socialistas que
se traduzem em dilemas, envolvendo a sua legitimidade mediante uma sociedade no qual se
observa uma gestão de conhecimento bem diferente do que era antes” (PRAT 4, 2013).
Quando questionado sobre o posicionamento que a Escola Superior de Conservação e
Sustentabilidade do Instituto tem em relação a este contexto o mesmo relatou que eles se
consideram uma escola diferente, que busca se arranjar independente dos modelos vigentes.
“A gente quer se posicionar de forma criativa no mundo da educação e isso significa dar
importância a outras formas de aprendizagem fora da sala de aula. O mundo das novas
tecnologias é parte também desse mundo moderno” (PRAT 4, 2013).
Apreende-se que essa concepção de ensino acadêmico apresenta-se como
possibilidade de enfrentamento aos desafios vivenciados pela universidade contemporânea
que, conforme os relatos relacionam-se á hegemonia do saber científico sobre o senso comum
e a sua legitimidade. Nota
Notou-se que o instituto IPÊ conseguiu romper com alguns condicionantes impostos
por agências de regulação da produção científica que dificultam e delimitam realidades para a
ação dos atores de determinado campo ao atuar academicamente em novas bases e em espaço
institucional não tradicional da universidade. Nessa vertente, infere-se que o que está em
xeque não é o papel que ela desempenha enquanto produtora de conhecimento científico, mas
as formas de interação com outros atores sociais.
Essa compreensão corrobora com uma tentativa mais articulada e eficiente dos
próprios acadêmicos da Gestão Social, como a Rede de Pesquisadores que busca alterar esse
quadro institucional ao valorizar o produtivismo por meio de novas formas de produção e
disseminação de conhecimento. Estas se configuraram por meio dos livros publicados pelo
ENAPEGS, quando só há valor junto ao CNPQ para os artigos de revistas científicas, nas
186
pesquisas aplicadas, palestras não acadêmicas, produções técnicas como vídeos e filmes de
curta metragem apresentados como produto científico no ENAPEGS.
Por outro lado, a partir do depoimento do ex-coordenador do CEAPG/FGV, nota-se
uma visão mais arraigada ao aspecto tradicional da universidade ao proferir que a ela é
legítima por ela funcionar dentro da legalidade, dentro de critérios que a própria sociedade a
imagina como esfera pública de capacidade científica. Porém, assina-la se ai um risco de se
incorrer a “pesquisas de gabinete" que, por sua vez, são expostas nas prateleiras das
universidades (Mintzberg, 2006). Tal percepção demonstra o seu afastamento da sociedade e
dos praticantes da Gestão Social cujas consequências incidem na produção de conhecimento
por essa se apoiar nas abordagens da aprendizagem socioprática.
Nos demais depoimentos, notou-se outro aspecto que sustenta a crise da universidade
contemporânea. Este se configura no dilema institucional que, ao se apoiar no produtivismo
acadêmico, de uma maneira ou de outra, mina as pesquisas empíricas e fortalece as pesquisas
de gabinete. O trabalho de extensão, assim como apontado pelos praticantes entrevistados,
denota também aspectos desafiantes da universidade contemporânea ao se traduzir em
interesses pontuais e divergentes da sociedade.
A Coordenadora da Área de Gestão de Conhecimento do GIFE demonstrou
compreender a relação entre academia e praticantes de maneira semelhante aos demais
entrevistados ao explicitar que a interação hoje ocorre em níveis diferentes e com um baixo
grau de aproveitamento dos praticantes em relação aos conhecimentos científicos que a
universidade pode oferecer.
Entretanto, a sua percepção ancora-se nos princípios que fomenta a hegemonia da
universidade contemporânea ao considerar que seu conhecimento científico antecedente ao
conhecimento da base ou do senso comum dos praticantes. No âmbito do GIFE, que está
187
sediado em São Paulo, a entrevistada apontou uma interação benéfica com as universidades
parceiras da organização apoiada nessa visão hegemônica.
O GIFE é uma associação que esta inserida em um meio
onde se tem muito acesso a informação bruta e para ele ter
mais credibilidade é sempre bom trabalhar junto a
universidade que tem o corpo técnico, que vai conduzir da
forma mais rigorosa possível as pesquisas e os projetos de
conhecimento. Ela tem, com certeza, um aporte muito
grande de conhecimento anterior em cima deste novo
conhecimento que está sendo gerado pelo GIFE. Aqui a
gente não tem uma capacidade institucional tão grande
assim, a gente não tem funcionário suficiente para produzir
tanta coisa assim de conhecimento e nós poderíamos
aproveitar muito melhor as parceiras com a universidade
para gerar mais conhecimento a partir do conhecimento que
já é gerado dentro do GIFE (PRAT 8, 2013).
Conforme a entrevistada, a universidade, contribui para dar mais credibilidade e
sustentação aos trabalhos desenvolvidos pelas organizações, as quais possuem um
conhecimento de base (PRAT 8, 2013).
Notou-se nesse relato a legitimidade da academia sendo expressa mediante o seu
reconhecimento enquanto instituição produtora de conhecimento científico, porém, “tal
relação seria muito favorável se ela fosse mais bem aproveitada” (PRAT 8, 2013).
A partir desse contexto, a mesma ressaltou que o GIFE tem intenção de estimular a
mudança no eixo das parcerias que são firmadas com as universidades. Essas não seriam
somente contratadas como fornecedoras, mas parceiras em desenvolver projetos que não
sejam nem do GIFE e nem da FGV por exemplo. Nessa vertente, a entrevistada disse
compreender que esse processo é mais penoso, demandando tempo para negociações e
superação dos conflitos os quais ela acredita ser um dos fatores dificultador na relação entre
praticantes e academia (PRAT 8, 2013).
Congruente com a percepção relativa aos benefícios que uma parceria pode trazer para
acadêmicos e praticantes, o Diretor de Alianças Estratégicas da Fundação AVINA citou a
atuação da Pontifícia Universidade Católica de Córdoba no movimento latino Nossa Córdoba
cuja participação significante incide em uma contribuição de mão dupla (PRAT 5, 2013).
188
A fim de evidenciar essa possibilidade de relação mútua, o mesmo relatou um
depoimento do reitor da universidade ao ser questionado sobre os motivos que os levaram a
ser um dos líderes nesse movimento.
todos os elementos que o Nossa Córdoba vem trabalhando,
os indicadores que vem-se discutindo, as experiências que
vem promovendo na relação com o município, a
mobilização dos vários setores para participar devem servir
de referência para a graduação. A graduação deve estudar
estes indicadores, a Arquitetura tem que estudar isso, a
Engenharia, a Pedagogia, o Serviço Social... Então o Nossa
Córdoba tem contribuído para novas funções e para a nossa
universidade. Para a extensão isso é muito relevante, os
nossos estudantes podem estar nas organizações que fazem
parte do Nossa Córdoba. Então quem estava estudando
Sociologia, Ciência Política, Relações Internacionais, pode
ter no Nossa Córdoba aprendizagem, estágios, que nós não
teríamos. Depois a Pós-graduação deve aprofundar o
conhecimento sobre isso que está acontecendo para que, na
medida que se estuda e aprofunda seja possível devolver ao
Nossa Córdoba novas formas de compreensão do
movimento, novas formas de agir, de contribuir com
movimento (PRAT 5, 2013).
Apreende-se que este tipo de articulação traz como perspectiva possibilidades de
enfrentamento aos desafios postos pela universidade contemporânea por permitir uma
aproximação entre teoria e senso comum mediada por um processo no qual um contribui com
o outro.
Mediante os relatos expostos, destacam-se os argumentos do Fundador e ex-
coordenador do CEAPG/FGV, ao exprimir a sua compreensão sobre as tensões que a
academia vivencia que, segundo ele, são historicamente construídas, se reconstruindo
constantemente (ACAD 4, 2013).
Ela é um pedaço fundante da sociedade civil no momento que nós
começamos a debruçar para além da bíblia... O movimento
escolástico que tinha como base os mosteiros. As universidades
tradicionais são de base religiosa, é uma reflexão que emerge a partir
disso. Você diz que a universidade de hoje vive tensões, eu vou
dizer que eles sempre viveram tensões mesmo! Ela nasceu
tensionada! Os intelectuais da idade média estavam lá... O formato
das universidades clássicas seguia o formato dos mosteiros da
Inglaterra. Há sempre tensões. Você pode pegar a universidade de
Chicago na década de 1930 que começa a romper com o modelo que
existia e que foi muito importante para as ciências sociais, pois foi
um lugar fora da universidade trabalhando nos lugares do dia-a-dia,
fazendo pesquisa de campo trazendo a experiência antropológica
para dentro da universidade. Há as novas universidades da França e
189
em outros lugares onde tem aquela tensão de estar envolvido. Como
qualquer tensão, ela tem este cabo de guerra... as vezes você vai pra
lá e as vezes você consegue avançar para cá (ACAD 4, 2013).
Infere-se que esse argumento incide na noção crítica sobre o curso de Administração o
qual o entrevistado revelou sofrer da tendência de ser ahistórico. Ou seja, o ensino e a
pesquisa se debruçam naquilo que está acontecendo agora, reduzindo as possibilidades de se
compreender as modificações ocorridas (ACAD 4, 2013). “As fotos são tiradas, mas não tem
filmes” (ACAD 4, 2013).
Tais argumentos demonstram que a historia dos acontecimentos no contexto da
universidade contemporânea amplia as perspectivas epistemológicas de pesquisa ao fornecer
dados e fatos ainda não revelados e analisados.
Considerando o objeto de estudo dessa pesquisa que se ancora nas relações entre
acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social, julgou-se pertinente analisar a
importância que os atores investigados dão ao diálogo presente nessas relações. A partir dessa
perspectiva considera-se que o diálogo promove a socialização e a reflexão. Este por sua vez
se apoia no conhecimento prévio e cognitivo de cada parte envolvida, se traduzindo em
processos de produção de conhecimento.
Para o coordenador do PEGS/FGV o diálogo deveria ser acentuado, entretanto isso
não ocorre por que a intenção das universidades é preparar o aluno para o mercado de
trabalho que, por sua vez, remete apenas a lógica racional instrumental no qual há pouco
espaço para a dialogicidade. O entrevistado ainda salientou que essa é uma leitura da
universidade brasileira desde a década de 1980 a qual exprime a importância de se estar bem
com o mercado de trabalho, com o mundo empresarial dotado de estratégias. Nesse âmbito, se
“percebe a desvalorização do estado mínimo, das políticas públicas, aspecto que não permite a
conectividade da prática universitária com a sociedade” (ACAD 9, 2013).
190
A fundadora e coordenadora do CEATS /USP exprimiu uma compreensão congruente
com as abordagens que delimitam os limites da universidade contemporânea e que se
aproxima da visão de alguns atores entrevistados. Segundo ela, “há certa prepotência de quem
está na academia, de um olhar de que tudo eu sei, de querer ensinar e não de ser humilde na
postura de que eu preciso aprender com quem eu estou fazendo, e talvez, ordenar e dar
sentido para o que aquela pessoa está fazendo ou faz” (ACAD 2, 2013). Essa perspectiva
muda o propósito da interação ao não apontar as falhas o qual permite ao outro rever o que se
está fazendo, possibilitando a reflexão (ACAD 2, 2013).
A atuação do CEATS/USP neste cenário é sustentada pela metodologia da
pesquisação, dinâmica que os aproximou dos praticantes (ACAD 2, 2013).
Sempre procurei trabalhar com técnicas e metodologias que
trouxesse o sujeito da pesquisa para dentro da pesquisa. O
fato de estar acontecendo todos os movimentos das
organizações sociais fazia com a gente estivesse refletindo,
analisando, escrevendo, publicando sobre tais movimentos
e, ao mesmo tempo, participando deles, conhecendo os
líderes desses movimentos, fazendo um network, com isso
(ACAD 2, 2013).
O relato proferido pelo ex-coordenador do CEAPG/FGV converge com as ideias
apontadas acima ao argumentar que “a universidade tem que trabalhar dando voz as pessoas”
(ACAD 3, 2013). Seus processos de produção de conhecimento se dão a partir das pessoas,
dos locais, da inovação explícita que não é dada pela academia. Nesse sentido, “busca-se o
diálogo não para apartar a sociedade da universidade” (ACAD 3, 2013). Indo mais além, para
ele a natureza dos conflitos entre academia e praticantes está na não observância da relevância
do outro por não considerá-lo como sujeito de conhecimento, mas como objeto de pesquisa.
Complementando, o mesmo destacou que o praticante, por sua vez, não considera relevante o
trabalho produzido pela academia (ACAD 3, 2013).
O fundador e também ex-coordenador do CEAPG/FGV externalizou a sua
compreensão sobre a importância do diálogo nas relações entre academia e praticantes em
191
uma única frase a qual evidenciou que o conhecimento emerge do diálogo, logo, se não há
diálogo, não se produz conhecimento (ACAD 4, 2013).
Para o diretor da Fundação Avina, o diálogo é fundamental, sem ele não há interação e
essa perspectiva pode conduzir a universidade a um “encapsulamento” (PRAT 5, 2013).
Quando a gente entra no campo da administração, na gestão
social, na sociologia, ciências humanas e tal, eu vejo que
quanto maior e mais plena for esta relação maior pode ser o
ganho de lado a lado. Você que está na universidade tem
mais vivência do que eu e deve compreender isso melhor,
as interações com a academia parece muito com isso, o meu
conhecimento, a minha pesquisa, o meu campo de
aprofundamento. E isso eu acho que é limitador. Acredito
que quanto maior é a relação, digamos uma relação com
maior porosidade com o outro setor, maior será a
oportunidade de reconhecimento e de posicionamento da
academia com o setor fora dela (PRAT 2, 2013).
Os relatos evidenciaram a relevância do diálogo nas relações entre academia e
praticante, demonstrando perspectiva de interação mais convergente e reflexiva entre os
atores envolvidos. Essa compreensão se traduz em possibilidade de enfrentamento aos
dilemas vivenciados pela academia ao se debruçar em processos de produção de
conhecimento socioprática que se apoiam na interação com a realidade vivida conectada a
experiências passadas. Nota-se que o diálogo também contribui para fomentar a habilidade
social ao promover interações entres atores diferentes que ao lidarem com as divergências e
conflitos oriundos dessas relações terão que desenvolver processos colaborativos para um
mesmo fim.
Nessa vertente, destacam-se algumas contribuições da academia para a produção de
conhecimento sobre Gestão Social. Essas se apoiam na tríade ensino, pesquisa e extensão.
Para o coordenador do PEGS/FGV, o convívio com a comunidade, a partir das
dinâmicas extensionistas do programa, tem promovido produção de conhecimento sobre
Gestão Social cujos produtos, além do material gerado acerca das pesquisas, podem ser
verificados na forma de livros. Segundo o entrevistado, já foram lançados quatro livros,
192
relatando as experiências sobre as atividades de extensão do programa junto às comunidades
envolvidas e, para 2015 serão divulgados mais dois livros com o mesmo propósito (ACAD 9,
2013).
No CEAPG/FGV, conforme afirmou o fundador e ex-coordenador do programa, a
aprendizagem é derivada da integração com a comunidade investigada no qual se observa o
outro. “Este outro pode ser o governo que patrocina a pesquisa, bem como as pessoas
envolvidas em uma determinada associação” (ACAD 4, 2013).
As pesquisas, a partir dos programas de mestrado e doutorado são realizadas,
basicamente, no âmbito social dos atores investigados e são disseminadas a partir de uma
“espécie de colegiado solto no qual os professores, pesquisadores e alunos, conversam sobre o
que estão vendo, formando um processo mais horizontal, permeado de ideias que vão fluindo
de um lugar para outro” (ACAD 4, 2013). De acordo com o entrevistado, esta é uma dinâmica
voluntária e não um coletivo que fixa posições. Para ele, isso é considerado satisfatório, por já
haver regras suficientes na universidade (ACAD 4, 2013).
Outro ponto destacado pelo entrevistado ancora-se na distinção entre ensino, pesquisa
e extensão que ele compreende como uma “estratificação de um modelo codificado para se
entender melhor as coisas” (ACAD 4, 2013). Conforme a sua percepção, o ensino está
acontecendo em todos os lugares, ele promove a fluidez do conhecimento, mesmo que de
forma menos codificada. Ele deriva da conversa, das interações entre as pessoas. Para ele o
conhecimento permite avançar sobre aquilo que te sustenta, consequentemente, o diálogo é a
base da produção de conhecimento. Tal perspectiva sinaliza uma interseção dinâmica da ação
entre ensino, pesquisa e extensão, “a separação não faz muito sentido, por que não acontece
um primeiro e depois outro” (ACAD 4, 2013).
Seguindo a mesma lógica, as dinâmicas de trabalho do CEATS/USP evidenciam
propostas participativas as quais, segundo a fundadora e coordenadora do centro de estudo,
193
“permite observar o conhecimento sendo aplicado, validado, revisto e criticado” (ACAD 2,
2013). A mesma apontou como exemplo a participação ativa de alunas orientandas do
mestrado com o fenômeno investigado, promovendo a ressignificação do que entendiam sobre
empreendedorismo social ou Gestão Social, bem como a transformação da realidade da qual
estavam pesquisando (ACAD 2, 2013).
Para o ex-coordenador do NUPEGS/PUC Minas a produção de conhecimento,
principalmente no campo da Administração seria mais dinâmica se houvesse uma articulação
próxima com as incubadoras de empresa e com os praticantes, de forma a auxiliá-los no seu
crescimento. Entretanto, essa perspectiva é somente observada no âmbito da graduação. Aos
cursos de Pós-Graduação orientados para o mestrado acadêmico e profissional a formação
baseia-se na pesquisa, na produção científica o que ocasiona em uma lacuna orientada para a
extensão, pois, poucos são os alunos egressos que irão continuar desenvolvendo pesquisas
(ACAD 8, 2013). A maioria irá lecionar ou direcionar-se para o âmbito empresarial e/ou
social, buscando aplicar o que aprendeu sem antes, porém, ter tido uma integração com a
comunidade e com o local a ser trabalhado (ACAD 8, 2013). Conforme o entrevistado, não
existe uma integração da pesquisa com a extensão que possibilite o desenvolvimento das
competências desenvolvidas nos cursos. “Essa é uma articulação muito aquém do desejado”
(ACAD 8, 2013).
Decorrente da pergunta de pesquisa que indagou sobre as relações entre acadêmicos e
praticantes no contexto brasileiro da produção de conhecimento sobre Gestão Social
desenhou-se, em consonância com o referencial teórico algumas categorias analíticas a fim de
guiar a discussão proposta. Nessa vertente, destacaram-se os aspectos oriundos de cada campo
de poder pesquisado, o traço de habilidade social entre os atores investigados como
perspectiva de transformação da estrutura social, a produção de conhecimento sobre Gestão
Social a partir das relações entre acadêmicos e praticantes apoiadas em saberes híbridos.
194
A Figura 5 “Relações no Campo da Gestão Social: perspectivas e limites de produção
de conhecimento”, ancorada na interseção das esferas sociais concebidas por Janoski (1998),
apresentam as instituições investigadas, destacando seus campos de poder e as conexões que
os envolvem.
Interações entre acadêmicos e praticantes
Interações entre acadêmicos e acadêmicos
Interações entre praticantes e praticantes
Figura 5. Relações no Campo da Gestão Social: perspectivas e limites na produção de
conhecimento
CEATS/USP
CEAPG/FGV
PEGS/FGV
CIAGS/UFBA
NIPETS/UFRGS
NEATS/PUC/SP NUPEGS/PUC
Minas
AVSI
AVINA
Esfera do
Estado
CDM
FIEMG
Camargo
Correia
IPÊ
GIFE
Hartmann
Regueira
Saberes
Híbridos
Habilidade
Social
Intersetorialidade
Interdisciplinaridade
Esfera
Pública
195
As setas indicam as relações observadas entre os acadêmicos e praticantes investigados, no entanto, outras
interações no campo da Gestão Social se manifestam, seja entre os acadêmicos ou entre os praticantes.
Fonte: Produção própria adaptado de Janoski, T. (1998). Citizenship and Civil Society: A Framework of Rights
and Obligations in Liberal, Traditional, and Social Democratic Regimes. Cambridge: University Press.
A Figura 5 “Relações no Campo da Gestão Social: perspectivas e limites na produção
de conhecimento” ao evidenciar as esferas pública, privada, de mercado e estatal exprimiu
uma teia de relações entre atores distintos permeados por interesses, racionalidades e valores
que, ora se convergem e ora se divergem no âmbito de sua atuação. Esse aspecto interacional
permitiu alocar as instituições pesquisadas conforme as relações instituídas por seus atores e a
natureza constitutiva de cada um no âmbito da Gestão Social que é representada pela
circunferência central, indicando a presença e a permeabilidade desse campo nas diversas
esferas sociais. Concomitantemente, as abordagens analisadas que sustentaram a discussão da
Gestão Social foram apresentadas e orientadas para o eixo central do campo da Gestão Social
a fim de ilustrar os fatores que permeiam as relações entre acadêmicos e praticantes.
A partir dessa perspectiva, os acadêmicos se concentram, principalmente, na esfera
pública, cuja estrutura acolhe instituições sociais heterogêneas. Porém, eles se posicionam nas
intercessões das esferas pública, do Estado e privada por manifestarem interações com os
atores e instituições oriundas dessas esferas. Ressalta-se a presença de todos os acadêmicos na
esfera privada por se tratarem de centros de estudos e programas de pesquisas de cunho
educacional, ocasionando a formação de um quadro discente.
Outro ponto a ser destacado refere-se a posição do CEATS/USP. Este foi disposto de
forma a adentrar mais na esfera do mercado por manter um número significante de interações
com organizações privadas provenientes das parcerias realizadas com fundações e instituições
desta esfera.
Quanto aos praticantes, às relações instituídas por esses atores, bem como a origem de
cada organização social promoveram agrupamentos distintos nas esferas sociais. Essa
perspectiva permite posicionar a AVSI, CDM e IPÊ vinculados à esfera pública, com pouca
196
proximidade com a esfera do mercado. A Fundação AVINA se posiciona entre todas as
esferas sociais por apresentar interações oriundas do trabalho que é desenvolvido nas agendas
por eles propostas. Entretanto, buscou-se situá-lo mais próximo da esfera de mercado por
notar uma fluidez nas relações com atores pertencentes a este campo. Já os Institutos Camargo
Corrêa, Hartmann Regueira, FIEMG e GIFE se concentram na esfera do mercado por se
envolverem de forma predominante com os atores oriundos desse campo.
Ao considerar a produção de conhecimento sobre Gestão Social a partir das relações
entre acadêmicos e praticantes no âmbito de suas dinâmicas e articulações, observaram-se
interações entre as instituições investigadas, sendo algumas do mesmo campo de poder. Entre
os acadêmicos, esse aspecto foi demonstrado por meio das setas com traçado de cor verde e
direto, indicando as relações que as conectam. Nessa vertente, buscou-se explicitar, conforme
a análise dos dados secundários, as interações entre esses acadêmicos mediados pela Rede de
Pesquisadores da Gestão Social.
Referente aos praticantes buscou-se assinalar as relações entre a Fundação AVINA,
FIEMG, GIFE e Instituto Camargo Corrêa que foram apontadas pelas setas de cor vermelha e
traçado pontilhado. Tais relações orientam-se para a disseminação do papel das organizações
privadas no campo da responsabilidade socioempresarial e ambiental.
No âmbito das relações entre atores de campos diferentes, destacaram-se, através das
setas de cor preta e de traçado pontilhado as interações da Fundação AVINA com dois centros
de pesquisas, NUPEGS/PUC Minas e CEATS/USP que se manifestaram por meio de
dinâmicas de difusão de conhecimento sobre a Gestão Social.
O NUPEGS/PUC Minas também evidenciou relações orientadas para a socialização e
disseminação do conhecimento sobre Gestão Social com organizações da sociedade civil.
Dentre elas, ressaltaram-se a Fundação AVINA, AVSI, CDM, Hartmann Regueira e a
FIEMG.
197
As dinâmicas que envolvem as unidades de análise investigadas se configuraram na
visão intersetorial, na habilidade social e nas interações entre atores diferentes que, por vezes,
demonstraram parcerias entre academia e praticantes ainda que configuradas em relações de
interesse pontuais e unidirecionais. Tal perspectiva permite traduzir o velho aspecto da
universidade contemporânea ancorado na hierarquia entre aqueles que detêm o conhecimento
científico e aqueles que detém o conhecimento prático, o senso comum. Ou entre aqueles que
acreditam que o fomento das lideranças sociais devem se pautar na gestão empresarial, por
isso a necessidade de se profissionalizar as OSCs. Perspectivas essas compreendidas pelo
instituto Hartmann Regueira, Camargo Corrêa e FIEMG.
Todavia, as relações demonstraram dinâmicas concretas de enfrentamento e superação
desse quadro ao observar tentativas de inovação e transformação da produção de
conhecimento em Gestão Social pautados em diferentes caminhos. Tais dinâmicas podem ser
representadas pelas ações empreendidas pelo CIAGS/UFBA, que buscam interagir com os
praticantes, sejam da Gestão Social ou de outros campos, por meio de uma relação na qual
não se impõem as diretrizes da universidade como um contrato, uma condição, mas como
atores que compartilham de um mesmo problema territorial social.
Outro exemplo que ilustra essa perspectiva são os esforços do Instituto IPÊ que
mesmo sendo caracterizado por esta pesquisa como praticante se articula no campo dos
acadêmicos criando metodologias de ensino onde se observa a valorização não só da
integração com atores das comunidades na qual atuam, como da produção de conhecimento
que tenta atender as necessidades de todos os envolvidos. Ressalta-se ainda que, o fato desta
instituição transitar tanto no campo acadêmico como no campo dos praticantes permitem a
eles desenvolverem saberes híbridos que se compreende contribuir para o diálogo, para a
reflexão e para a práxis do campo da Gestão Social.
198
A Figura 5 “Relações no Campo da Gestão Social: Perspectivas e Limites na Produção
de Conhecimento” buscou sintetizar as relações que permeiam a produção de conhecimento
sobre Gestão Social baseadas nos aspectos que envolvem este campo de poder.
Adiante, nas considerações finais, evidenciaram-se sinteticamente, as análises que
decorreram da relação entre academia e praticantes no contexto brasileiro de produção de
conhecimento sobre Gestão Social.
199
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se que à Gestão Social são conferidos aspectos da vida social que a tornariam
singular mediante os tipos de gestão assumidos pelas organizações no âmbito da sociedade
civil, do Estado e do mercado.
Nessa realidade, destaca-se a centralidade do ator social caracterizado como agente de
um campo conforme as ações empregadas na estrutura social. Observam-se também processos
de aprendizagem e de produção de conhecimento apoiados na intercessão entre diferentes
atores da sociedade, destacando-se uma relação mediada pelo diálogo, aproximação e
articulação colaborativa, mas também por conflitos, resistências, embates e disputas, que
algumas vezes são marcadas pelo domínio de um determinado grupo ou conjunto de atores
sobre o outro.
É no limiar dessas relações que se torna relevante a pergunta de pesquisa “Como se
dão as relações entre acadêmicos e praticantes no contexto brasileiro da produção de
conhecimento sobre Gestão Social”?
A fim de responder essa pergunta buscou-se explorar e discutir as temáticas cujos
preceitos alinhassem às perspectivas da Gestão Social e as relações entre acadêmicos e
praticantes presentes em seu campo. Nesse âmbito, as discussões teóricas caminharam para
dimensões que sustentassem as possibilidades e os limites de transformação de um campo
apoiadas nas abordagens de campos de poder. A habilidade social compreendida como
possibilidade de conexão entre agente e estrutura foi outro elemento teórico relevante na
análise, bem como a perspectiva de estar alinhada a processos de produção socioprática de
conhecimento entre atores de saberes híbridos (Lave & Wenger, 1991, Bourdieu, 1996,
Fligstein, 2001, Machado-da-Silva, 2005).
200
Na condução da pesquisa proposta, destaca-se a relevância do marco teórico
construído para a investigação por nele residir os aspectos ontológicos relativos à Gestão
Social. Infere-se que ao considerar a Gestão Social enquanto campo de poder inserem-se nele
perspectivas de conexão entre atores de campos diferentes permeados por embates, conflitos,
aproximações colaborativas e ações que se apresentam como possibilidade de transformação
de um campo.
A partir dessas perspectivas que podem ser observadas como visão intersetorial, o
recorte empírico ancorou-se em bases epistemológicas que buscassem responder de forma
mais consistente a pergunta de pesquisa. Nesse sentido, foi possível observar uma relação
estreita entre as discussões apontadas no marco teórico e os achados oriundos da pesquisa de
campo, permitindo constatar que a produção de conhecimento sobre Gestão Social que vem
se efetivando a partir das relações entre acadêmicos e praticantes é marcada por diferentes
poderes no seu campo. Nesse campo se vislumbra um aspecto tradicional da universidade
contemporânea, assinalado pelo funcionalismo e pelo tecnicismo presente no eixo do ensino,
da pesquisa e da extensão e por um aspecto inovador que busca nos preceitos da pós-
modernidade formas de interação e dinâmicas permeadas pela habilidade social e por
saberes híbridos. Este quadro evidencia possibilidades de transformação e ressignificação do
campo da Gestão Social ao observar que a produção de conhecimento, mesmo mediada por
embates, se baseia em saberes múltiplos e em propósitos que envolvem a noção de
coletividade social.
A fim de melhor explicitar as ideias que ancoraram os achados desta investigação,
teceram-se algumas considerações. Os objetivos dessa tese conduzidos pela pergunta de
pesquisa serão a seguir explicitados sinteticamente a luz da análise realizada.
A primeira questão que se colocou referiu-se a noção que os acadêmicos e praticantes
detêm sobre a Gestão Social a partir das ações e dinâmicas representativas de seu campo de
201
atuação. Observou-se que a noção sobre a Gestão Social, tanto dos acadêmicos quanto dos
praticantes foi marcada pelo contexto sociopolítico brasileiro dos anos 1980 e 1990
caracterizado pela forte presença de movimentos sociais reivindicatórios. Este cenário
sociopolítico mediado por pressões de natureza ética e democrática na busca de novas formas
de relacionamento entre o Estado, a sociedade e o mercado, gerou um interesse comum em
querer compreender e atender às demandas sociais vigentes, influenciando decisivamente a
práxis de cada um que se traduziu em dinâmicas e articulações de cunho coletivo.
A ideia de coletividade, observada como princípio norteador na busca de soluções para
os problemas sociais, econômicos e políticos demonstrou constituir a noção que todos os
atores investigados têm sobre a Gestão Social. Essa percepção, relatada por todos os
entrevistados baseia-se na ideia de que “o problema é de todos e por isso a solução deve vir de
todos também”.
Tal aspecto permitiu observar outra noção que circunda uma das temáticas discutidas
sobre a Gestão Social, a ideia de desenvolvimento social marcada pela noção de território. Tal
perspectiva foi constante nos relatos apontados por diferentes atores entrevistados, como por
exemplo do CIAGS/UFBA, do NIPEGS/UFRGS, do CEAPG/FGV, do instituto IPÊ, da
fundação AVINA, do GIFE e das OSCs AVSI e CDM.
A visão intersetorial, aspecto apontado pelos respondentes como crucial nas relações
que são efetivadas no campo da Gestão Social é legitimada pela necessidade de conexão entre
atores de diferentes setores, o que conduz à ideia de interdisciplinaridade e de possibilidades
de formação de saberes híbridos, bases para a produção de conhecimento mediada pela
abordagem socioprática. Vale destacar que esta abordagem pareceu ser a mais adequada para
embasar a produção de conhecimento sobre Gestão Social por ela se ancorar em aspectos que
se referem à construção coletiva, intermediada, respectivamente, pelas percepções e
202
experiências vividas pelos praticantes marcadas pelas dinâmicas e interseção com outros
contextos sociais.
Outra questão explorada decorre da análise do campo de poder da Gestão Social
mediado pela possibilidade de habilidade social e do hibridismo que se manifestam nas
relações entre acadêmicos e praticantes.
No campo da Gestão Social notou-se a presença de um aspecto constituído de uma
simbologia retratada pelo poder intelectual dos acadêmicos e por um aspecto marcado pelo
poder do conhecimento derivado da experiência profissional dos praticantes. Estes dois
poderes configuram-se em embates no campo da Gestão Social. Ao manifestarem-se em bases
interativas percebeu-se que por vezes a relação entre acadêmicos e praticantes acabava por
legitimar, mesmo que a intencionalidade da ação não fosse essa, processos de produção de
conhecimento que tornavam hegemônico o campo científico. Porém, notou-se também a
presença de relacionamentos em que se evidenciou a valorização de atores de outras esferas e
setores da Gestão Social, bem como o conhecimento de suas práticas o que os conduziu a
novas reflexões e práxis da Gestão Social.
Estes aspectos podem ser percebidos nos relatos dos acadêmicos ao apontarem
interações com os praticantes da Gestão Social mediadas pela valorização de seus saberes e
práticas que demonstravam se configurar em aprendizagem e em conhecimento para todos os
envolvidos. Todavia, tanto os acadêmicos como os praticantes disseram observar um
distanciamento entre esses dois tipos de atores, ao afirmarem que a academia ainda pouco
dialoga com os praticantes e que quando o faz é movida por interesses individuais. Tal
interesse pontual e unilateral também foi observado no campo dos praticantes ao
evidenciarem que estes se aproximam da academia por iniciativa própria (e não
necessariamente de suas organizações) a fim de adquirir base teórica para sustentar suas
práticas e projetos.
203
A presença da habilidade social foi outro elemento analisado como característica de
um campo capaz de contribuir para a sua transformação. Mediante esse aspecto que se baseia
na capacidade de envolver outros atores a colaborarem para um mesmo fim, pode-se destacar
as dinâmicas e articulações que nortearam a aglutinação de esforços de atores acadêmicos e
praticantes da Gestão Social, seja dentro de uma esfera, como por exemplo do mercado, seja
cruzando as fronteiras entre a esfera estatal, pública e do mercado e, com isso, aprofundando
o hibridismo organizacional e as próprias formas que o conhecimento sobre Gestão Social
adquire.
Observou-se a presença de outro elemento derivado da análise, a formação de saberes
híbridos. Essa perspectiva mostrou-se possível mediante as articulações entre atores diferentes
as quais permitiram criar novas atividades, serviços e produtos distintos de sua natureza. De
forma a ilustrar esse quadro destacam-se as práticas do NEATS/PUC-SP que se apoiam em
projetos e pesquisas constituídos por atores e alunos de cursos variados e, mesmo orientados
para o terceiro setor, direcionam as discussões e produções de conhecimento para outros
campos de conhecimento como o do Direito e do Serviço Social.
O instituto IPÊ pode ser outro exemplo de formação de saberes híbrido no campo da
Gestão Social, uma vez que ele se constituiu como uma OSCIP e, ao mesmo tempo oferece
cursos acadêmicos na área da conservação ambiental.
A Fundação AVINA, conforme dados secundários observados, ao firmar parcerias
com diferentes atores da esfera social como a academia, o Estado e as empresas produzem
trabalhos e pesquisas de diferente natureza que trazem aspectos e saberes de cada campo
envolvido, contribuindo não só para os praticantes, mas também para os outros atores
envolvidos.
204
Atrelado a perspectiva de campo de poder, outro objetivo proposto se apoiou nas
possibilidades e limites para a superação dos problemas que envolvem a produção de
conhecimento entre praticantes e acadêmicos.
Neste âmbito, notou-se que tanto no campo dos acadêmicos quanto no dos praticantes
as dinâmicas que sustentam a produção de conhecimento apoiam-se na visão intersetorial por
nela expressar possibilidades de compartilhamento de responsabilidades.
Entre as instituições acadêmicas investigadas, observou-se que o conhecimento
produzido no seu campo de atuação é amparado pela visão intersetorial e pela
transversalidade das ações de ensino, pesquisa e extensão. Apreende-se que tais dinâmicas
comungam com as abordagens que fundamentam a Gestão Social, ao ressaltarem propostas
metodológicas de participação entre os atores envolvidos de modo a possibilitar a reflexão da
práxis vigente nos territórios.
Essa percepção contribuiu para inferir que o conhecimento produzido pelos centros de
estudos e pesquisas sobre Gestão Social integra-se às propostas de superação dos dilemas
enfrentados no ensino da Administração, principalmente, por se alinharem a proposta de
trabalho interdisciplinar ancorada pela integração de saberes híbridos. Todavia, notou-se no
relato de alguns atores acadêmicos uma crítica relativa aos cursos de Administração por não
identificarem a Gestão Social como perspectiva relevante e integrativa desse campo de
conhecimento, relegando-a, quando implementada, como discussão paralela e transversal.
Esse apontamento demonstra um limite presente no âmbito dos acadêmicos que pode ser
expresso pela restrita noção de interdisciplinaridade, reduzindo as possibilidades de produção
de conhecimento sobre a Gestão Social.
Outra crítica que os acadêmicos entrevistados denunciaram e que se compreende
traduzir em um desafio para a produção de conhecimento sobre Gestão Social vincula-se ao
seu campo de construção. A ausência de teorização robusta é um desses limites, caracterizado
205
pela falta de um olhar integrado que contemple não só as temáticas apontadas, mas as relações
provenientes desse campo. Outra questão que se evidencia como um limite decorre do fato de
que muitos atores, sejam eles praticantes ou acadêmicos acreditam que ainda imperam na
Gestão Social o assistencialismo, o voluntarismo e a baixa profissionalização.
Enquanto possibilidades de geração de conhecimento congruentes com os preceitos da
Gestão Social e com a abordagem socioprática destacam-se as práticas adotadas pelo
CEATS/USP cujos estudos e pesquisa se estendem para um universo fora da realidade
brasileira e contam com a parceria de um grupo de universidades internacionais interessadas
em pesquisar assuntos que refletem o campo da Gestão Social.
O IPÊ, cuja constituição deriva do campo dos praticantes, mas com forte atuação
acadêmica, merece também atenção especial. Observou-se que o processo de aprendizagem e
de produção de conhecimento circundam propostas de interação com os diversos atores
envolvidos em um ecossistema de forma recíproca e mútua e que há uma preocupação em
enfrentar o dilema institucional vivenciado pela universidade contemporânea ao não se
submeter aos apelos econômicos vigentes e/ou aos modelos burocráticos e gerencialistas de
condução de instituições acadêmicas.
No campo dos praticantes a noção que impera sobre a Gestão Social também é
marcada pela visão intersetorial e pela ação coletiva. Todavia, observou-se a presença de
processo de produção de conhecimento munido pela perspectiva hegemônica ao se constituir
através de parcerias em que há a presença de uma hierarquia de conhecimento. O Estado
quando se articula com as organizações da sociedade civil impõe suas regras ancoradas em
princípios previamente definidos sem maior interação e diálogo com atores de outras esferas.
Por outro lado, as organizações da sociedade civil que desempenham o papel de assessoria e
consultoria a outras instituições sociais, reproduzem a mesma característica ao difundirem
para outros atores praticantes da Gestão Social soluções pré-programadas, formatadas e
206
difundidas como verdadeiras "receitas de sucesso", muitas vezes baseadas em um ethos
gerencial privado ou empresarial.
Outro aspecto que se configurou em desafio para a produção de conhecimento sobre a
Gestão Social entre os praticantes refere-se a forma como os atores deste campo a reconhece.
Conforme o relato de alguns entrevistados, a perspectiva de Gestão Social permanece
associada às dinâmicas oriundas do terceiro setor e a práticas de responsabilidade social,
sendo que, esta muitas vezes não é compreendida como ato de cidadania, de coletividade para
o bem comum, mas apenas como meio para as organizações sociais conseguirem um apoio e
investimento financeiro.
Todos os entrevistados julgaram relevante reconfigurar as bases das relações que
constituem o campo da Gestão Social, de forma a promover uma maior aproximação entre os
atores através de interações baseadas no interesse comum, trocas que resultem em ganhos
efetivos para os envolvidos na colaboração e valorização das partes envolvidas, relativizando,
mitigando ou mesmo eliminando relações de poder que levam a hierarquias e hegemonias a
partir da natureza (científica ou não, profissionalizada ou não, ...) dos atores e dos saberes
(científico ou não, formalizado ou não, ...) que produzem. Entretanto, apontaram essa
realidade ainda como muito distante e incipiente, por nela se observar desafios que emergem
dos dilemas vivenciados pela universidade contemporânea como a presença da hegemonia
acadêmica sobre o senso comum do outro que não é acadêmico e a institucionalização da
academia por sofrer pressões do mercado, induzindo a produção de conhecimento sustentada
pela "pesquisa de gabinete" e pelo "produtivismo acadêmico".
O diálogo nessa interação evidenciou-se essencial, mas também marcado pelo
distanciamento com que a universidade se relaciona com os praticantes, o que dificulta as
conexões recursivas e, concomitantemente, a produção de conhecimento sobre Gestão Social.
207
A percepção de um relacionamento distante e, por vezes, divergente da academia
também foi apontada pelos praticantes investigados, apesar de todos terem demonstrado
vivenciarem experiências positivas com as universidades que têm contato.
No campo de atuação da Gestão Social foi perceptível a sobreposição do
conhecimento acadêmico sobre o senso comum dos praticantes como legítimo da
universidade e, por isso passível de reproduzir uma relação hegemônica, mesmo que
acompanhada por interações cordiais e cooperativas.
As formas de condução e de organização das dinâmicas que integram a extensão
universitária também foram questionadas pelos praticantes ao observarem que tais práticas
muitas vezes são desenvolvidas com o intuito de suprir uma demanda que é da academia e
não necessariamente da própria sociedade.
Como perspectiva de enfretamento aos dilemas apresentados, observou-se que o
diálogo entre os atores dotados de saberes híbridos, mediado pela convergência de interesses e
sem fortes assimetrias de poder seriam os elementos propulsores para dinâmicas capazes de
fazer avançar para novas e mais promissoras formas de produção de conhecimento no campo
da Gestão Social. No entanto, essa noção de aproximação e diálogo não pode ser idealizada e
romantizada, como muitas vezes acontece no discurso de atores de diferentes esferas, seja da
sociedade civil, do Estado ou mesmo do mercado, quando estão em jogo empreendimentos
compartilhados e coletivos, no presente estudo, empreendimentos que visam a produção de
conhecimento no campo da Gestão Social. Conforme destacam Rosa, Tureta e Paço-Cunha
(2006), as propriedades formais das palavras, alicerçadas pelas abordagens de Bourdieu
(1996), “desvelam seu sentido apenas se estiverem articuladas às suas condições sociais de
produção, ou seja, às posições ocupadas por seus autores no campo de produção” (Rosa,
Tureta & Paço-Cunha, 2006 p. 7).
208
A partir dos resultados encontrados, concluiu-se que as formas de conhecimento
produzidas entre acadêmicos e praticantes do campo da Gestão Social possibilitam a
transformação e a ampliação de seu campo, mesmo este sendo tencionado conforme os
moldes delimitados pelos acadêmicos. Observou-se que há um embate entre acadêmicos e
praticantes na medida em que os mesmos demonstram a necessidade de serem reconhecidos e
legitimados como atores relevantes na produção de conhecimento, ou seja, de compreensões
gerais válidas sobre o próprio campo da Gestão Social. Essa percepção baseou-se nos limites
apresentados perante as relações estabelecidas entre eles e que se expuseram revestidos de
alternativas de enfrentamento e de superação dos dilemas recorrentes.
A presente pesquisa buscou avançar na compreensão da relação entre academia e
praticantes no contexto brasileiro de produção de conhecimento sobre Gestão Social.
No seu decorrer foi possível analisar não somente os atributos que circundam a prática
da Gestão Social como também as relações que se estabelecem em seu âmbito e que foram
apontadas pelos próprios entrevistados como elementos relevantes de análise quanto à
produção de conhecimento.
No processo de construção desse campo novas agendas de pesquisa vão surgindo e
novas lacunas vão sobressaindo, ressaltando a necessidade de investigações ulteriores acerca
das circunstâncias sociais e locais que vão surgindo. Conforme ressaltado por um dos
acadêmicos entrevistados, a Gestão Social se consolida nos territórios mediante as demandas
vigentes.
Agendas futuras de investigação que se fazem relevantes e promissoras envolvem a
problematização dos saberes ambientais e sua inserção na construção de conhecimento em
Gestão Social, a relação entre centros de investigação baseados nos países centrais e em
países emergentes e periféricos, a trajetória de indivíduos que alternam carreiras entre o
espaço acadêmico e a prática da Gestão Social e a relação entre o contexto sociopolítico e os
209
temas centrais que originam pesquisas, análises e diferentes produtos de divulgação de
conhecimento científico e saberes produzidos por praticantes desse campo. Esses são alguns
dos temas que espera-se sejam constitutivos de novas investigações que acabem por,
recursivamente, levar os atores acadêmicos e praticantes da Gestão da Social a repensar seu
lugar, ação e sentido nesse campo.
210
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228
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA DE TESTE
APLICADA AOS ACADÊMICOS
1) Fale sobre sua trajetória profissional e seu envolvimento no centro de estudo e
pesquisa.
2) Como surgiu o centro de estudo e pesquisa? Qual a proposta e os objetivos iniciais
dele? Como o centro de estudo e pesquisa evoluiu ao longo do tempo? Quais são as
principais atividades desenvolvidas atualmente por ele? Quais os avanços obtidos e os
desafios a serem superados?
3) Na sua avaliação, qual a compreensão que a comunidade acadêmica brasileira
desenvolveu ao longo dos anos sobre a Gestão Social? Quais são os grupos de
pesquisa e pesquisadores mais relevantes nessa trajetória?
1) Como o centro de estudo e pesquisa compreende a Gestão Social? Quais são os
principais elementos que compõem o campo da Gestão Social para o centro de estudo
e pesquisa? Como deve ser estudada a Gestão Social segundo o centro de estudo e
pesquisa?
2) Qual o papel dos seguintes elementos na produção de conhecimento em Gestão Social:
a) Interdisciplinaridade;
b) Articulação entre teoria e prática;
c) Formação crítica para o exercício da gestão;
d) Politização das discussões e análises.
3) Quais são os principais atores que compõem os chamados praticantes da Gestão
Social? Qual o papel dos praticantes na produção e difusão de conhecimento sobre
Gestão Social?
229
4) Como você avalia a produção de conhecimento sobre Gestão Social gerada por ONGs,
órgãos governamentais, organismos internacionais e mídia? O que essa produção
contém de relevante? Quais são os desafios a superar?
5) Como você analisa a relação entre universidade e sociedade hoje no Brasil? Você acha
que a legitimidade da universidade está em xeque nos dias atuais? Quais avanços
aconteceram nessa interação? E os desafios ainda por superar? Como o centro de
estudo e pesquisa se posiciona nesse contexto?
6) Como você analisa a relação entre ensino, pesquisa e extensão na produção de
conhecimento sobre Gestão Social? Como se dá a relação entre o ensino, pesquisa e
extensão no centro de estudo e pesquisa? Como ele tenta superar os problemas da
desarticulação entre ensino, pesquisa e extensão?
7) Como você analisa o chamado produtivismo acadêmico? Quais os seus impactos na
produção e difusão de conhecimento sobre Gestão Social? Como o centro de estudo e
pesquisa tenta fazer frente aos problemas gerados pelo produtivismo acadêmico?
8) Qual a importância do diálogo entre acadêmicos e praticantes para a produção de
conhecimento sobre Gestão Social? Quais são os fatores que facilitam e dificultam a
aproximação entre acadêmicos e praticantes da Gestão Social? Qual o impacto desses
fatores na produção e difusão de conhecimento sobre Gestão Social?
9) É possível gerar conhecimento academicamente consistente que também seja capaz de
gerar impactos relevantes sobre a realidade dos praticantes da Gestão Social? Quais
são os desafios a serem superados? Como o centro de estudo e pesquisa procura atuar
para que isso aconteça?
10) Como se dá a aprendizagem dos praticantes da Gestão Social a partir do
conhecimento gerado pelo centro de estudo e pesquisa?
230
11) E como se dá a aprendizagem pelo centro de estudo e pesquisa daquilo que é
produzido pelos praticantes da Gestão Social? Quais os principais avanços e os
desafios a superar na inserção de acadêmicos na realidade dos praticantes da Gestão
Social?
12) Qual o papel do público beneficiário na produção de conhecimento sobre Gestão
Social? Como o centro de estudo e pesquisa trabalha a relação com o público
beneficiário em seus projetos de investigação e produção de conhecimento? Quais os
elementos que facilitam e dificultam a interação com o público beneficiário?
13) Qual o projeto desenvolvido pelo centro de estudo e pesquisa que teve maior
relevância para a produção e difusão de conhecimento em Gestão Social? Quais
elementos levaram esse projeto ter essa projeção?
14) Como ocorre atualmente o financiamento da produção de conhecimento sobre Gestão
Social? Quem são os principais financiadores da pesquisa sobre Gestão Social
atualmente? Quais os avanços alcançados e os desafios a serem superados quanto ao
financiamento de pesquisas sobre Gestão Social?
15) Como você enxerga o futuro do centro de estudo e pesquisa? Quais são os desafios a
superar?
16) E o futuro da produção de conhecimento sobre Gestão Social no Brasil e no mundo?
17) Você gostaria de acrescentar alguma informação?
Escolaridade/Formação:
Tempo de Trabalho:
Atual organização onde trabalha:
Cargo no centro de estudo e pesquisa:
Tempo de Trabalho no centro de estudo e pesquisa:
Presta consultoria?
231
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADA
APLICADA AOS ACADÊMICOS
18) Fale sobre sua trajetória profissional e seu envolvimento no centro de estudo e
pesquisa.
19) Como surgiu o centro de estudo e pesquisa? Qual a proposta e os objetivos iniciais
dele? Como o centro de estudo e pesquisa evoluiu ao longo do tempo? Quais são as
principais atividades desenvolvidas atualmente por ele? Quais os avanços obtidos e os
desafios a serem superados?
20) Qual a sua avaliação sobre a compreensão que a comunidade acadêmica brasileira
desenvolveu ao longo dos anos sobre a Gestão Social? Quais são os grupos de
pesquisa e pesquisadores mais relevantes nessa trajetória?
21) Como o centro de estudo e pesquisa compreende a Gestão Social? Quais são os
principais elementos que compõem o campo da Gestão Social para o centro de estudo
e pesquisa? Como deve ser estudada a Gestão Social segundo o centro de estudo e
pesquisa?
22) Qual o papel dos seguintes elementos na produção de conhecimento em Gestão Social:
e) Interdisciplinaridade;
f) Articulação entre teoria e prática;
g) Formação crítica para o exercício da gestão;
h) Politização das discussões e análises.
23) Quais são os principais atores que compõem os chamados praticantes da Gestão
Social? Qual o papel dos praticantes na produção e difusão de conhecimento sobre
Gestão Social?
232
24) Como você avalia a produção de conhecimento sobre Gestão Social gerada por ONGs,
órgãos governamentais, organismos internacionais e mídia? O que essa produção
contém de relevante? Quais são os desafios a superar?
25) Como você analisa a relação entre universidade e sociedade hoje no Brasil? Você acha
que a legitimidade da universidade está em xeque nos dias atuais? Quais avanços
aconteceram nessa interação? E os desafios ainda por superar? Como o centro de
estudo e pesquisa se posiciona nesse contexto?
26) Como você analisa a relação entre ensino, pesquisa e extensão na produção de
conhecimento sobre Gestão Social? Como se dá a relação entre o ensino, pesquisa e
extensão no centro de estudo e pesquisa? Como ele tenta superar os problemas da
desarticulação entre ensino, pesquisa e extensão?
27) Como você analisa o chamado produtivismo acadêmico? Quais os seus impactos na
produção e difusão de conhecimento sobre Gestão Social? Como o centro de estudo e
pesquisa tenta fazer frente aos problemas gerados pelo produtivismo acadêmico?
28) Qual a importância do diálogo entre acadêmicos e praticantes para a produção de
conhecimento sobre Gestão Social? Quais são os fatores que facilitam e dificultam a
aproximação entre acadêmicos e praticantes da Gestão Social? Qual o impacto desses
fatores na produção e difusão de conhecimento sobre Gestão Social?
29) É possível gerar conhecimento academicamente consistente que também seja capaz de
gerar impactos relevantes sobre a realidade dos praticantes da Gestão Social? Quais
são os desafios a serem superados? Como o centro de estudo e pesquisa procura atuar
para que isso aconteça?
30) Como se dá a aprendizagem dos praticantes da Gestão Social a partir do
conhecimento gerado pelo centro de estudo e pesquisa?
233
31) E como se dá a aprendizagem pelo centro de estudo e pesquisa daquilo que é
produzido pelos praticantes da Gestão Social? Quais os principais avanços e os
desafios a superar na inserção de acadêmicos na realidade dos praticantes da Gestão
Social?
32) Qual o papel do público beneficiário na produção de conhecimento sobre Gestão
Social? Como o centro de estudo e pesquisa trabalha a relação com o público
beneficiário em seus projetos de investigação e produção de conhecimento? Quais os
elementos que facilitam e dificultam a interação com o público beneficiário?
33) Qual o projeto desenvolvido pelo centro de estudo e pesquisa que teve maior
relevância para a produção e difusão de conhecimento em Gestão Social? Quais
elementos levaram esse projeto ter essa projeção?
34) Como ocorre atualmente o financiamento da produção de conhecimento sobre Gestão
Social? Quem são os principais financiadores da pesquisa sobre Gestão Social
atualmente? Quais os avanços alcançados e os desafios a serem superados quanto ao
financiamento de pesquisas sobre Gestão Social?
35) Como você enxerga o futuro do centro de estudo e pesquisa? Quais são os desafios a
superar?
36) E o futuro da produção de conhecimento sobre Gestão Social no Brasil e no mundo?
37) Você gostaria de acrescentar alguma informação?
Escolaridade/Formação:
Tempo de Trabalho:
Atual organização onde trabalha:
Cargo no centro de estudo e pesquisa:
Tempo de Trabalho no centro de estudo e pesquisa:
Presta consultoria?
234
APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADA
APLICADA AOS PRATICANTES
1) Fale sobre sua trajetória profissional e seu envolvimento na OSC.
2) Como surgiu a OSC? Qual a proposta e os seus objetivos iniciais? Quais são as
principais atividades desenvolvidas atualmente pelos projetos da OSC?
3) Como você observa a compreensão que as organizações da sociedade civil, privadas e
públicas desenvolveram ao longo dos anos sobre a responsabilidade social?
4) Como a OSC compreende a responsabilidade social?
5) Como a OSC compreende o conhecimento que é gerado a partir de suas práticas e
articulações intersetoriais? De que forma esse conhecimento é produzido e
disseminado por ele?
6) Quais são os principais atores que compõem os chamados praticantes da
responsabilidade social? Qual o papel desses praticantes na produção e difusão de
conhecimento sobre o desenvolvimento social?
7) Como você avalia a produção de conhecimento sobre a responsabilidade social gerada
por ONGs, órgãos governamentais, empresas privadas?
8) Como você analisa a relação entre organizações da sociedade civil, privadas e públicas
e universidade hoje no Brasil? Você acha que a legitimidade da universidade está em
xeque nos dias atuais? Como a OSC se posiciona nesse contexto?
9) Qual a importância do diálogo entre praticantes e acadêmicos para a produção de
conhecimento sobre a responsabilidade social? Quais são os fatores que facilitam e
dificultam a aproximação entre praticantes da responsabilidade social e acadêmicos?
10) Existem conflitos entre praticantes do campo das organizações privadas e
acadêmicos? Qual a natureza desses conflitos? Por que eles ocorrem? Qual o impacto
deles na produção e difusão de conhecimento sobre a responsabilidade social?
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11) É possível gerar conhecimento sobre a responsabilidade social consistente que
também seja capaz de gerar impactos relevantes sobre a realidade da academia? Quais são
os desafios a serem superados? Como a OSC procura atuar para que isso aconteça?
12) Como se dá a aprendizagem dos praticantes das organizações privadas a partir do
conhecimento gerado pela OSC?
13) E como se dá a aprendizagem pelos praticantes das organizações privadas daquilo que
é produzido pela academia?
14) Qual o projeto/programa desenvolvido pela OSC que teve maior relevância para a
produção e difusão de conhecimento sobre o Desenvolvimento social? Quais
elementos levaram esse projeto/programa a ter essa projeção?
15) Como ocorre atualmente o financiamento da produção de conhecimento sobre a
responsabilidade social no âmbito dos praticantes? Quais os avanços alcançados e os
desafios a serem superados quanto a esse tipo de financiamento?
16) Como você enxerga o futuro da OSC?
17) E o futuro da produção de conhecimento sobre a responsabilidade social no Brasil e
no mundo?
18) Você gostaria de acrescentar alguma informação?
Escolaridade/Formação:___________________
Idade: _________________________________
Tempo de Trabalho: ______________________
Organização Atual: _______________________
Cargo na OSC:_________________________
Tempo de Trabalho na OSC:______________
Presta consultoria?_________________________