Post on 15-Jul-2015
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON
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85960-000 - MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PR
CURSO DE LETRAS –
PORTUGUÊS/ALEMÃO/ESPANHOL/INGLÊS
LITERATURA BRASILEIRA II – 3º ANO
NOVEMBRO, 2014
POETAS DA CONTEMPORANEIDADE: ADÉLIA PRADO,
MANOEL DE BARROS E JOSÉ PAULO PAES
Docente: Paulo Konzen
Acadêmicas: Annye Marye Albuquerque
Paula Regina Back
ADÉLIA PRADO
Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, nodia 13 de dezembro de 1935.
Começou a escrever seus primeiros versos em 1950, após ofalecimento de sua mãe.
A escritora teve o apoio do importante poeta, também mineiro, CarlosDrummond de Andrade, que adorou os poemas de Adélia e sugeriuque fossem publicados.
Em 1975, Drummond sugere a Pedro Paulo de Sena Madureira, daEditora Imago, que publique o livro de Adélia, cujos poemas lhepareciam "fenomenais". O poeta envia os originais ao editor daqueleque viria a ser Bagagem. No dia 09 de outubro, Drummond publicauma crônica no Jornal do Brasil chamando a atenção para o trabalhoainda inédito da escritora.
Adélia Prado ficou conhecida na literatura brasileira pelos
poemas que valorizavam a mulher e falavam da fé cristã.
Sob o olhar feminino, os poemas de Adélia Prado utilizam
um vocabulário simples para falar sobre religiosidade,
família e cotidiano. A poetisa recebeu o Prêmio Jabuti, na
categoria Poesia, por “O Coração Disparado”, lançado em
1978.
A poetisa pode ser classificada como uma escritora da
literatura contemporânea. Adélia Prado costuma colocar a
perspectiva da mulher em seus poemas, colocando
sempre o feminino em primeiro plano.
ESTILO
A fé católica sempre se fez presente nospoemas da autora, que costuma tratar detemas ligados a Deus, à família e,principalmente, à mulher.
O vocabulário simples e a linguagemcoloquial produzem poemas leves e desuavidade marcante.
Adélia Prado também coloca o erótico emseus escritos, de forma delicada e leve,características de sua poesia.
OBRAS (INDIVIDUAL)
Poesia:
Bagagem, Imago - 1976
O coração disparado, Nova Fronteira - 1978
Terra de Santa Cruz, Nova Fronteira - 1981
O pelicano, Rio de Janeiro - 1987
A faca no peito, Rocco - 1988
Oráculos de maio, Siciliano - 1999
A duração do dia, Record - 2010
EXEMPLO DE POEMAS:Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
PRADO, Adélia. Bagagem
.
Dia
As galinhas com susto abrem o bico
e param daquele jeito imóvel
- ia dizer imoral -
as barbelas e as cristas envermelhadas,
só as artérias palpitando no pescoço.
Uma mulher espantada com sexo:
mas gostando muito.
Impressionista
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
Exausto
Eu quero uma licença de dormir,perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhara leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vidafoi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.Semente.
Muito mais que raízes.
Parâmetro
Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.
MANOEL DE BARROS
O poeta Manoel Wenceslau Leite de Barros,
mais conhecido como Manoel de Barros, nasceu no Beco da
Marinha, em Cuiabá, Mato Grosso, no dia 19 de dezembro de
1916.
Aos 19 anos, Manoel de Barros escreveu seu primeiro poema,
e a partir de então sua veia poética não mais deixou de pulsar.
O poeta ganhou prêmios importantes, como o Prêmio Orlando
Dantas, em 1960, doado pela Academia Brasileira de Letras,
pelo livro Compêndio para Uso dos Pássaros. Sua obra
posterior, Gramática Expositiva do Chão, foi contemplada com o
Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, enquanto Livro
Sobre Nada ganhou outra honraria, desta vez de contexto
nacional.
CARACTERÍSTICAS MARCANTES DA POESIA DE
MANOEL DE BARROS
Uso de vocabulário coloquial-rural e de uma sintaxe que remetediretamente à oralidade, ampliando as possibilidadesexpressivas e comunicativas do seu léxico através da formaçãode palavras novas (neologismos).
Assim, pelo uso que Manoel de Barros faz da língua escrita,seu trabalho tem sido muitas vezes comparado ao deGuimarães Rosa, sendo chamado como "o Guimarães Rosa dapoesia”.
Manoel de Barros nunca se afasta do "vanguardismoprimitivista”, como se pode notar pelo título "Poesia Rupestre"(2004), ganhador de vários prêmios literários de repercussãoem todo o Brasil.
Temática regionalista indo além do valor documental parafixar-se no mundo mágico das coisas banais retiradas docotidiano.
Inventa a natureza através de sua linguagem,transfigurando o mundo que o cerca. Sendo a naturezasua maior inspiração.
“Para entrar em estado de árvore é preciso partir deum torpor animal de lagarto às três horas da tarde,
no mês de agosto.Em dois anos a inércia e o mato vão crescer em
nossa boca.Sofreremos alguma decomposição lírica até o mato
sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.”
O livro das ignorãças, de Manoel de Barros
PRINCIPAIS OBRAS
1937 — Poemas concebidos sem pecado
1960 — Compêndio para uso dos pássaros
1966 — Gramática expositiva do chão
1989 — O guardador das águas
1990 — Poesia quase toda
1991 — Concerto a céu aberto para solos de aves
1993 — O livro das ignorãças
1996 — Livro sobre nada
1999 —Exercícios de ser criança
2001 — O fazedor de amanhecer
2004 — Poemas rupestres
EXEMPLO DE POEMAS:
Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza do homemé a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.Não aguento ser apenas um
sujeito que abreportas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
A namorada
Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.
Prefácio
Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terraDependimentos demais
E tarefas muitas —Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois nãoQue as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar oSilêncio das coisas anônimas —
Passaram essa tarefa para os poetas.
Tratado geral das grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.Meu fado é o de não saber quase tudo.Sobre o nada eu tenho profundidades.Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
Os deslimites da palavra
Ando muito completo de vazios.Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.Essas coisas me mudam para cisco.A minha independência tem algemas
JOSÉ PAULO PAES
O poeta nasceu em Taquaritinga - SP, em 22 de julho de 1926.Foi para Curitiba e formou-se em Química Industrial. Fez parte,também, do grupo da livraria Ghignone e escreveu na revista“Joaquim”, fundada por Trevisan (com circulação nos anos 40).
Em 1947, José Paulo Paes publicou seu primeiro livro depoemas, “O aluno”. Radicou-se em São Paulo em 1949,exercendo a profissão de químico. Paes tornou-se amigo deGraciliano Ramos, de Jorge Amado e de Oswald de Andrade.Em1952, publicou seu segundo livro.
Paes abandonou a profissão de químico e trabalhou durantevinte e cinco anos como tradutor de escritores gregos,dinamarqueses, italianos, norte-americanos e ingleses. Aforaos dezessete livros de poesia, publicados de 1947 a 2001,escreveu onze obras ensaísticas. Morreu em 1998.
CARACTERÍSTICAS DA POESIA DE JOSÉ
PAULO PAES
A dedicação à permanente pesquisa estética faz comque se torne, em linhas gerais, o poeta capaz de, apartir da herança modernista, negar o formalismo dadenominada “Geração de 45” – à qual estaria ligadocronologicamente –, aproximar-se de vanguardas comoa poesia Concreta, e, simultaneamente, partir em buscada construção de linguagem breve e pessoal,caracterizada por concentrar na estrutura poéticaapenas o que há de mais essencial;
De poética marcadamente irônica e concisa, o escritortambém se revela um cidadão permanentemente atentoàs intenções, ações e condições do homem moderno eurbano;
Interpretar poeticamente o mundo dos homens e dos
livros foi a tarefa a que se dedicou José Paulo Paes.
Para tal, lançou mão, em sua poética, de recursos como
o epigrama, a ironia e o chiste. Além disso, manteve-se
sempre atento à possibilidade de produzir uma literatura
em que pudesse concentrar o máximo no mínimo;
A miniaturização do mundo, ou a ordenação poética – e
subjetiva – da experiência cotidiana em pequenos
poemas, ilustra exatamente o perfil, avesso a excessos,
do poeta;
A comicidade e a ironia da poesia de Paes, justamente,
criticar o imediatismo de uma sociedade imersa em
interesses financistas e calcada, muitas vezes, em
valores pouco solidários.
PRINCIPAIS OBRAS:
O aluno (1947);
Cúmplices (1951);
Novas cartas chilenas (1954);
Mistério em casa (1961);
Resíduo (1973);
Calendário perplexo (1983);
É isso ali (1984);
Gregos e baianos (1985);
Prosas seguidas de odes mínimas (1992);
A poesia está morta mas juro que não fui eu (1988);
De ontem para hoje (1996);
Um passarinho me contou (Premio Jabuto 1997);
Melhores poemas (1998);
Uma letra puxa a outra (1998);
Ri melhor quem ri primeiro (1999);
O lugar do outro (1999).
EXEMPLOS DE POEMA:
L'Affaire Sardinha
O bispo ensinou ao bugre
Que pão não é pão, mas Deus
Presente na eucaristia.
E como um dia faltasse
Pão do bugre, ele comeu
O bispo, eucaristicamente.
(De “Novas cartas chilenas”, 1954)
Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.
Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.
(De “Cúmplices”, 1951)
Bucólica
O camponês sem terra
Detêm a charrua
E pensa em colheitas
Que nunca serão suas.
(De “Epigramas”, 1958)
A Verdadeira Festa (12 de junho - namorados)
mas pra que fogueira
rojão
quentão?
basta o fogo nas veias
e a escuridão
coração.
(De “A poesia está morta mas juro que não fui
eu”, 1988)
REFERÊNCIAS:
A voz da poesia. Disponível em: <http://www.avozdapoesia.com.br/autores.php?poeta_id=299> Acesso em: 08 nov. 2014
Educação. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/autores/adelia-prado.html> Acesso em: 02 nov. 2014
Info escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/adelia-prado/> Acesso em: 02 nov. 2014
Info escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/escritores/manoel-de-barros/> Acesso em: 08 nov. 2014
Intervox. Disponível em:
<http://intervox.nce.ufrj.br/~clodo/jose_paulo_paes.htm>
Acesso em: 02 nov. 2014
Letras. Disponível em:
http://www.letras.ufmg.br/poslit/08_publicacoes_pgs/Em-
tese-2004-pdfs/25-Maur%C3%ADcio-Guilherme.pdf>
Acesso em: 02 nov. 2014
Releituras. Disponível em:
<http://www.releituras.com/aprado_bio.asp> Acesso em: 02
nov. 2014
Revista bula. Disponível em:
<http://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-
de-manoel-de-barros/> Acesso em: 08 nov. 2014