Post on 19-Nov-2018
RAPHAEL JONAS CYPRIANO
PODE A MÚSICA INFLUENCIAR AS PLANTAS?
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à
Universidade Federal de Viçosa como parte das
exigências do Curso de Graduação em Ciências
Biológicas para a obtenção do título de
Bacharel.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2010
RAPHAEL JONAS CYPRIANO
PODE A MÚSICA INFLUENCIAR AS PLANTAS?
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à
Universidade Federal de Viçosa como parte das
exigências do Curso de Graduação em Ciências
Biológicas para a obtenção do título de
Bacharel.
Orientadora: Kacilda Naomi Kuki
Co-orientador: Reinaldo Duque Brasil Landulfo Teixeira
Co-orientadora: Alice Gontijo de Godoy
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2010
ii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, aos espíritos e energias positivas que agem no planeta
Terra, que me mostraram um caminho que me agradasse dentro das ciências.
Agradeço a minha família, pelo amor, carinho, sinceridade, respeito e educação. Na
verdade por tudo! Se existo hoje é por causa de vocês, Sonia, Aryvelto e Juliana.
Agradeço muito à professora Kacilda, Alice e Reinaldo, pela idealização e
concretização deste trabalho, que foi um desafio dentro do método c ientífico. Agradeço
a abertura à discussão e a tentativa de se compreender novas relações dentro das
ciências.
A todos(as) amigos(as) que fizeram parte de minha caminhada em Friburgo e Viçosa,
principalmente meus (minhas) eternos(as) companheiros(as) de república e da vida.
Ao ETNOIKOS UFV.
A todos os professores participantes da pesquisa etnocientífica que contribuíram para
uma maior compreensão deste tema dentro da ciência.
Ao Buldog e Ramirez, pelo auxílio na parte acústica do experimento; ao Marco Aurélio,
pela ajuda na metodologia e a Chapola, pelo auxílio nas análises estatísticas.
A Viçosa e a UFV por terem me abrigado nestes seis anos.
iii
SUMÁRIO
RESUMO.......................................................................................................................... v
1. INTRODUÇÃO GERAL.............................................................................................. 1
2. O EXPERIMENTO ...................................................................................................... 3
2.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3
2.2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 7
2.2.1. Local e Condições Experimentais .................................................................. 7
2.2.2. Montagem da estrutura ................................................................................... 7
2.2.3. O Experimento ................................................................................................ 9
2.2.4. Variáveis estudadas ...................................................................................... 11
2.2.5. Análises Estatísticas...................................................................................... 12
2.3. RESULTADOS ................................................................................................... 12
2.3.1. Trocas Gasosas ............................................................................................. 12
2.3.2. Dados Alométricos ....................................................................................... 14
2.3.3. Matéria Seca ................................................................................................. 16
2.3.4. Conteúdo de clorofilas e carotenóides .......................................................... 17
2.5. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 18
2.5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 22
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 22
3. A PESQUISA ETNOCIENTÍFICA ........................................................................... 24
3.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 24
3.1.1. A Ciência: uma construção humana ............................................................. 24
3.1.2. Em busca da simetria: a Etnociência da Ciência .......................................... 26
3.2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 29
3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 31
3.4. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 49
iv
4. CONCLUSÕES GERAIS........................................................................................... 50
5. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50
6. ANEXOS .................................................................................................................... 55
A música representa uma linguagem intelectual e emotiva que penetra
qualquer barreira, pois não depende de uma semântica pré-estabelecida
e conceitual. É atemporal, transcende ideologias e o mundo tangível.
BORGES
v
RESUMO
A onda sonora é uma vibração mecânica que carrega energia, uma das formas de
transmissão da energia sonora ocorre por meio da ressonância. Este fenômeno acontece
entre dois sistemas que possuem as mesmas frequências naturais de oscilação. Na
fotossíntese ocorre o fenômeno de ressonância, na escala quântica, entre elé trons de
clorofilas do complexo antena, transmitindo energia até o centro de reação. Desta
forma, partiu-se do pressuposto de que a música organizada pode entrar em ressonância
com frequências de oscilação natural das folhas, afetando o estado energético das
clorofilas e aumentando, consequentemente, a fotossíntese. Neste sentido, foi montado
um experimento com plantas de tomate (Solanum lycopersicum), para avaliar a
interferência da música na fotossíntese e em padrões morfológicos. As plantas foram
expostas a duas horas da música “Son of Mr. Green Genes” de Frank Zappa, nos
primeiros cinco dias e a quatro horas, nos doze dias subsequentes. Não foram
observadas diferenças significativas nos padrões de trocas gasosas ao longo do
experimento. Contudo, ao final foram verificadas alterações significativas na área foliar,
volume de raiz, massa seca de folhas e raízes, conteúdo de clorofilas a e b. Estas
variações podem ser explicadas tomando-se como base resultados de outros trabalhos
que apontaram modificações na divisão celular, conteúdo de proteínas, desenvolvimento
de raízes, fluidez de membrana, atividade de auxinas e expressão de genes em plantas
submetidas ao tratamento sonoro. Esta área do conhecimento possui poucos trabalhos e
novos experimentos devem ser realizados para melhor entender a influência da acústica
em plantas. Mas, o que professores acadêmicos acham da influência da música nas
plantas? A ciência é uma construção humana interessada no estudo dos fenômenos
naturais, como o descrito acima. Neste sentido é importante estudarmos a dimensão de
opiniões de cientistas sobre este fenômeno, associando-o com a parte experimental e
refletindo sobre a ciência como uma construção humana. Desta forma neste trabalho foi
realizada uma pesquisa etnocientífica com professores “especialistas” no entendimento
do organismo vegetal e da onda sonora. Foram entrevistados docentes de Biologia
Vegetal e Física da UFV, sendo utilizados questionários semi-estruturados. A maior
parte dos acadêmicos não acreditam que a música possa influenciar as plantas. Houve
convergências de argumentos e procedimentos da parte experimental com a opinião de
alguns professores, entretanto foi marcante a divergência de ideias dentro de cada grupo
acadêmico e entre eles. Os resultados demonstraram como a comunidade científica,
vi
mais especificamente a da UFV, pode ser divergente em relação a temas pouco
estudados por seu domínio cognitivo.
1
1. INTRODUÇÃO GERAL
A música é uma admirável manifestação artística humana. Ela faz parte de nossa
rotina, ouvimos músicas a todo o momento, para relaxar, dançar, comemorar, etc. As
músicas despertam em nós as mais diversas sensações e sentimentos. Entretanto será
que elas só têm ação em nós, seres humanos? E outros seres vivos, são influenciados
pelas músicas?
A presente pesquisa surgiu de uma curiosidade em se estudar cientificamente um
fenômeno que é considerado, por muitos, como esotérico e transcendental: a influência
da música em plantas.
Quando saímos desta escala metafísica e observamos estes dois sistemas
cientificamente, visualizamos que a música pode ser considerada como uma
interferência mecânica no meio ambiente, que carrega energia, e o organismo vegetal
como um ser vivo, que interage com os mais diversos fatores ambientais.
É importante reconhecermos as vibrações sonoras e o organismo vegetal como
sistemas complexos e, estudar as interrelações deles é desafiador, entretanto necessário
num momento em que enxergamos a possibilidade de novas associações entre áreas de
conhecimento das ciências naturais, mais especificamente a biologia e a física.
E os cientistas, o que acham da influência da música em organismos vegetais?
Este é um assunto considerado, até certo ponto, polêmico dentro da ciência.
Desta maneira, este trabalho também buscou compreender as opiniões dos cientistas,
“especialistas” no estudo das ondas sonoras e dos organismos vegetais, sobre este
fenômeno. O estudo dos conhecimentos científicos é importante num trabalho em que
se busca algo relativamente novo e nos faz refletir sobre a própria estrutura da ciência,
como um domínio cognitivo interessado em estudar o mundo natural.
Desta maneira, este trabalho se estruturou nas zonas de interação entre as
ciências naturais, física e biologia, e as humanas, epistemologia e música, procurando
novas relações e compreensões.
Num primeiro momento, expomos a parte experimental deste trabalho,
discutindo o embasamento físico-biológico do fenômeno, bem como sua metodologia,
resultados e discussões. Num segundo momento, trabalhamos a ciência como
construção humana, investigando por meio da etnociência a opinião dos cientistas sobre
2
o fenômeno proposto por esta pesquisa e relacionando-as com a parte experimental.
Concluímos o trabalho com um diálogo entre as pesquisas científica e etnocientífica.
3
2. O EXPERIMENTO
2.1. INTRODUÇÃO
A onda mecânica é uma perturbação que se propaga em meios elásticos, ou seja,
que possuem massa e elasticidade, como sólidos, líquidos e gasosos, vibrando as
partículas deste meio. O som é um tipo de onda mecânica longitudinal compreendida
numa determinada faixa de frequências, captadas pelo sistema auditivo humano.
Denominamos, assim, estas oscilações como vibrações sonoras (COSTA, 2003;
HENRIQUE, 2002; YOUNG & FREEDMAN, 2003).
As vibrações sonoras são transmitidas ao meio que circunda a fonte sonora. A
propagação do som segue a direção de oscilação dos pontos do meio e, se a propriedade
elástica deste é igual em todos os seus pontos, as ondas sonoras se difundem com
velocidade uniforme em todas as direções (YOUNG & FREEDMAN, 2003).
Podemos qualificar um som em relação a alguns componentes físicos de sua
onda mecânica como a altura e a intensidade (COSTA, 2003).
A Altura é determinada pela frequência. Sons graves possuem baixas
frequências, enquanto que sons agudos apresentam frequências altas. Os limites de
audição, para o ser humano, estão incluídos entre 20 e 20.000 Hertz (Hz), valores
abaixo de 20 Hz são denominados infra-sons e, acima de 20.000 Hz, ultra-sons. Os sons
musicais, foco desta pesquisa, estão compreendidos entre as frequências de 30 a 5.000
Hz. A série harmônica, utilizada na construção musical do homem, é o conjunto de
ondas composto pela frequência fundamental, mais baixa e forte, e por todos os
múltiplos inteiros desta, ao qual denominamos harmônicos (COSTA, 2003; YOUNG &
FREEDMAN, 2003).
A Intensidade do Som, por sua vez, se relaciona com sua intensidade energética,
sendo o produto da pressão acústica (amplitude) pela velocidade das partículas e
densidade do meio em que a onda se propaga. O ouvido humano consegue captar sons
na faixa de intensidade entre 0 a 120 decibéis (dB), sendo este último valor o limiar da
dor (HENRIQUE, 2002).
Uma das formas de transmissão de energias acústicas entre diferentes sistemas
ocorre pelo fenômeno físico da Ressonância (YOUNG & FREEDMAN, 2003).
Todo sistema natural possui uma ou mais frequências naturais (espontâneas) de
oscilação. Para que haja ressonância, é preciso pelo menos dois corpos vibrantes com
4
frequências naturais iguais. Se um deles é posto a oscilar próximo ao outro, este
também passa a vibrar, entrando em ressonância com o primeiro (YOUNG &
FREEDMAN, 2003).
A propriedade mais importante deste fenômeno é a transferência de energia.
Quando um sistema oscilante gera uma onda com uma determinada frequência, esta se
propaga e parte de sua energia é transferida a outros corpos por ela atingidos. Não
obstante, para aqueles que tiverem as mesmas frequências naturais do sistema gerador
da onda sonora, essa transferência de energia é máxima. Neste sentido, a ressonância
representa a tendência de um corpo a oscilar em máxima amplitude em certas
frequências. Este fenômeno ocorre também com frequências em escala, ou seja,
múltiplas inteiras entre si (GARCIA, 2002; YOUNG & FREEDMAN, 2003).
Quando um corpo entra em ressonância, este passa a ser também um emissor de
som e é chamado de ressoador. A intensidade e a qualidade dos sons emitidos pelos
ressoadores dependem das características intrínsecas do sistema ressonante, como
elasticidade e densidade, e da geometria do ressoador (GARCIA, 2002).
No contexto deste trabalho, destacamos este fenômeno físico no funcionamento
de mecanismos biológicos, mais especificamente da fotossíntese. No processo
fotossintético, a ressonância na escala quântica tem papel central na transferência de
energia. Nos cloroplastos das plantas, as clorofilas se organizam em complexos antena,
que têm a função de captar a energia luminosa e enviá-la eficientemente para os centros
de reação com os quais estão associados. Nestes locais ocorrem as reações químicas da
etapa fotoquímica da fotossíntese (RAVEN et. al, 2007; TEIZ & ZEIGER, 2004). Mas
como acontece esse transporte de energia?
Durante a captação da energia luminosa, um fóton de luz é absorvido por um π
elétron da molécula de clorofila e é estimulado a vibrar, causando a mudança energética
de toda a molécula. Desta maneira, esta atinge um nível maior de energia, passando de
um estado basal para um estado excitado. O arranjo excitado da clorofila é
extremamente instável e a sua energia é liberada rapidamente. Esta energia pode ser
transferida para moléculas de clorofila vizinhas através de um processo denominado
transferência de energia por ressonância (NOBEL, 2004; TEIZ & ZEIGER, 2004).
Neste fenômeno, uma molécula de clorofila excitada induz um estado excitado
em uma segunda clorofila próxima, ao redor desta. A vibração eletrônica da primeira
molécula gera uma oscilação ressonante de algum elétron na segunda, com transferência
5
da energia da excitação. Quando esta transferência termina, o elétron da primeira
clorofila cessa sua oscilação e um elétron da outra molécula está agora em vibração.
Este processo ocorre sucessivamente entre as clorofilas, até atingir o centro de reação,
onde um elétron entra para a cadeia de transporte de elétrons. Excitações também
migram por ressonância dos carotenóides para as clorofilas (NOBEL, 2004).
No contexto deste trabalho é importante destacarmos as ideias do físico De
Broglie, que contribuíram para o surgimento de uma nova área de conhecimento no
início do século XX, a física quântica. Este autor descobriu que as partículas
microscópicas possuem um comportamento ondulatório, ou seja, elétrons podem se
comportar como ondas, com uma freqüência característica. Assim, para
compreendermos esta característica dual dos elementos da natureza, devemos utilizar o
princípio da complementaridade, que postula a necessidade de unir a descrição
corpuscular com a ondulatória (YOUNG & FREEDMAN, 2004)
Na perspectiva de união entre música, ressonância, física quântica e seres vivos,
merece ênfase a nova hipótese da “Ressonância em Escalas” do físico Joel Sternheimer.
Esta é uma tentativa de extensão dos conceitos de De Broglie para o funcionamento dos
organismos vivos. Segundo o autor, durante a síntese protéica, cada aminoácido “libera”
uma onda quântica característica, localizada 76 oitavas acima de nossa faixa audível.
Estas frequências podem ser transpostas em notas musicais, múltiplas inteiras destas,
que entrarão em ressonância com a vibração dos aminoácidos. Por este método, para
estimular a síntese de uma proteína, basta aplicar uma música composta pela sequênc ia
de frequências sonoras de seus aminoácidos. A hipótese de Sternheimer é a primeira que
tenta formular uma lei geral para o fenômeno de atuação da música em seres vivos
(STERNHEIMER, 1984).
Mas quando se iniciaram os estudos científicos sobre a interferência da acústica
em plantas?
Na década de 70, esta área de conhecimento começou a ter mais destaque com
os trabalhos de Pearl Weinberger e colaboradores (MEASURES & WEINBERGER,
1970; WEINBERGER & DAS, 1972; WEINBERGER & GRAEFE, 1973;
WEINBERGER & MEASURES, 1978). Entretanto foi a partir do ano 2000 que esta
linha de pesquisas sofreu um impulso, com trabalhos publicados, avaliando a
interferência de diferentes frequências e intensidades sonoras no desenvolvimento das
plantas. Alguns destes são descritos a seguir.
6
Bochu et al. (2004), estudando Chrysanthemum, verificaram uma redução do
ácido abscísico (ABA) e um aumento na atividade do ácido indol-3-acético (AIA) do
tratamento sonoro em relação ao controle. Um acréscimo deste foi identificado também
por Yiyao et al. (2002).
Bochu et al. (2003) constataram um aumento da massa fresca, altura das plantas,
número e comprimento total de raízes em plantas de arroz (Oryza sp). Yi et al. (2003a;
2003c), trabalhando com Chrysanthemum, detectaram um aumento na atividade da H+
ATP sintase de membrana, bem como no comprimento, massa seca, atividade da
amilase e conteúdo de açúcares e proteínas solúveis das raízes. Um aumento no nível de
proteínas solúveis é também relatado nos trabalhos de Yiyao et al. (2002) e Xiujuan et
al. (2003a)
Xiujuan et al. (2003b) evidenciaram um aumento na divisão celular também em
Chrysanthemum. Outros estudos (Yi et al., 2003b; ZHAO et al., 2002a; ZHAO et al.,
2002b) demonstraram a ação de sons na membrana plasmática, interferindo no conteúdo
e estado físico dos lipídeos, bem como na conformação secundária de proteínas de
membrana. Todos autores indicaram uma maior fluidez da membrana.
Trabalhos recentes (JEONG et al., 2007; WANG et al., 2010) foram mais
profundo no entendimento deste fenômeno físico-botânico, analisando a resposta
genética a estímulos sonoros. Os seguintes genes mostraram-se responsivos ao som:
Em Oryza sp (arroz): rbcS e ald (estimulados também pela luz)
Em Dendrobium candidium (uma orquídea): Clone-SA8 (aumenta a divisão
celular); Clone-SA5 (promove a expressão da alfa-tubulina); Clone-SG6
(aumenta a atividade da enzima H+ATPase); e Clone-CC7.
Na literatura científica foram encontrados dois trabalhos (CREATH &
SCHWARTZ, 2004; PETRAGLIA, 2008) envolvendo a interferência da música
organizada em plantas, mais especificamente na germinação. Petraglia (2008) foi o
único autor que estudou a hipótese da “Ressonância em Escala”, obtendo resultados
significativos na germinação de Phaseolus vulgaris L.
O presente estudo, diferente dos descritos anteriormente, tem por objetivo
analisar a interferência da música organizada na atividade fotossintética em plantas de
tomate (Solanum lycopersicum L.).
Parte-se da hipótese de que a música entra em ressonância com frequências de
oscilação natural dos tecidos foliares, podendo afetar o estado energético das clorofilas
7
e, consequentemente, a transmissão de energia por ressonância eletrônica para o centro
de reação, acarretando numa maior taxa fotossintética.
2.2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.2.1. Local e Condições Experimentais
O presente estudo foi realizado, durante o período de 16 de Agosto de 2010 a 08
de Outubro de 2010, na Unidade de Crescimento de Plantas (UCP), localizada no
Campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais.
No dia 16/08/10, sementes de tomate (S. lycopersicum), variedade Santa Clara I
– 5300, da marca Isla Pak Super Semente, foram germinadas em vasos de 3 litros. Foi
utilizado o substrato para plantas Tropstrato ®, Marca Vida Verde, saco 25 Kg. Foram
utilizados 15 vasos e em cada um deles foram germinadas três sementes, distribuídas
em círculo, ao redor do eixo central deste recipiente, totalizando após a germinação 45
plantas. Os vasos foram mantidos numa bancada, na casa de vegetação.
A emergência de plântulas foi observado entre 9 e 12 dias após o plantio (DAP).
Aos 27 DAP procedeu-se o desbaste, mantendo uma planta por vaso com padrão de
desenvolvimento similar. Destas 15 plantas restantes, foram selecionadas 10 que
participariam da parte experimental da pesquisa, as outras cinco foram reservadas para
possíveis trocas.
As dez plantas foram divididas em dois grupos de cinco para serem utilizadas na
parte experimental, sendo um grupo, o controle, sem música, e o outro, o tratamento
som, exposto à música. Os vasos foram etiquetados e cada planta identificada como
Controle ou Som, sendo numeradas de 1 a 5 em cada grupo.
2.2.2. Montagem da estrutura
Foram utilizadas duas salas da UCP no experimento, estas são localizadas em
construções diferentes, afastadas entre si, evitando, assim, contaminação sonora entre o
tratamento som e o controle. Foi montada uma estrutura, em cada delas, composta por:
refletores de 127V e 500W, marca FLC, ventiladores e termômetros de máximo e
mínimo. Foi medida a irradiância que atingia às plantas, utilizando um quantum-
radiômetro-fotômetro Li- cor, inc, modelo Li-185B; esta variável foi mantida entre 100
e 120 µmol fótons m-2 nos dois locais, durante todo o experimento.
Na sala com o controle foi utilizada no primeiro dia uma cubeta de água entre os
refletores e as plantas, entretanto isso acarretou uma temperatura s ignificativamente
8
mais baixa nesta sala em relação a do tratamento som (Figura 1). Assim, a estrutura foi
modificada no segundo dia do experimento, buscando equiparar as temperaturas entre
os tratamentos, mantendo também a irradiância no mesmo valor (Figura 2).
Na sala utilizada no tratamento sonoro, foi montado um microsystem modelo
Philips AS 425, composto por duas caixas de som, e um tocador de CD, modelo Sony
CDP-M35. O microsystem é o aparelho mais indicado para o experimento proposto, já
que reproduz bem todas as frequências sonoras, desde o grave até o agudo,
possibilitando que a acústica de todos os instrumentos saia com qualidade nas caixas de
som. A Figura 3 mostra a estrutura da sala com o tratamento som.
Figura 1: Plantas de S. lycopersicum do controle (1º dia).
A intensidade sonora aplicada ao tratamento foi averiguada com um Medidor
Digital de Intensidade Sonora, modelo Peak Tech 8000. O equipamento era posicionado
na altura da gema apical das plantas, durante 1 min, sendo registrada a intensidade
mínima e máxima atingida nesse tempo. Foram feitas ao todo dez medições, duas em
cada posição onde os vegetais eram arranjados no tratamento, uma na altura do ápice
das plantas ao começo do experimento e uma ao final do experimento, quando estas já
haviam se desenvolvido, aproximando-se da fonte sonora (Quadro 1). Para o cálculo,
foi feita uma média simples dos valores anotados. Desta forma, a intensidade média do
tratamento som foi de 93,71 dB, tendo como mínimo 90,6 dB e máximo 97 dB.
9
Figura 2: Plantas de S. lycopersicum do
controle (do 2º ao último dia).
Figura 3: Plantas de S. lycopersicum do
tratamento som.
Quadro 1: Valores da Intensidade Sonora no tratamento som. Medições do som que
atingia o ápice da gema apical do caule no começo e ao final do experimento.
Início Final
Posição Menor
valor (dB)
Maior
valor (dB)
Menor
valor (dB)
Maior
valor (dB)
Média Total
(dB)
1 91,6 95,1 90,8 96,1
2 92,8 95,3 90,6 96,7
3 91,5 96,2 91,7 97
4 91,5 94,7 92,4 96,7
5 91,9 95 91,7 95
Média (dB) 91,86 95,26 91,44 96,3 93,715
2.2.3. O Experimento
O experimento teve início aos 39 DAP, sendo finalizado aos 55 DAP,
totalizando 17 dias. As plantas eram mantidas em casa de vegetação durante todo o dia,
como mostrado na Figura 4, exceto em uma parte da manhã. Diariamente, a partir das
7:00AM, as plantas do tratamento som eram expostas à música na sala mostrada na
Figura 3. Simultaneamente, as plantas do controle eram direcionadas para a outra sala
(Figura 2).
10
Figura 4: Plantas de S. lycopersicum dos tratamentos na bancada da casa de vegetação
As plantas eram regadas duas vezes ao dia, antes e após o tratamento. A variação
das médias de temperatura, de máximo e mínimo, ao longo dos dias é mostrada pela
Figura 5. Não houve diferenças significativas neste padrão.
Figura 5: Temperatura das salas dos tratamentos controle e som durante os dias do
experimento.
As plantas do tratamento sonoro foram expostas ao som durante duas horas, das
7:15AM às 9:15AM, nos primeiros cinco dias, e à quatro horas, das 7:15AM às
11:15AM, nos outros 12 dias de experimento, excetuando os dias de medição da
fotossíntese, em que esse período era estendido até às 12:00AM.
No quinto dia do experimento, o Tratamento Som 2 adquiriu uma doença e foi
trocado por uma planta reserva, evitando o contágio de outras plantas.
11
2.2.4. Variáveis estudadas
2.2.4.1. Trocas Gasosas:
Foram feitas medições da taxa fotossintética (A), condutância estomática (gs),
carbono interno (Ci) e transpiração (E), utilizando o Analisador de Gás no
Infravermelho (IRGA) LiCor (LiCor-EUA), aos 38, 44, 46, 51 e 55 DAP, entre as
10:00AM e 12:00AM. A primeira avaliação foi realizada antes do início da aplicação
dos tratamentos, para avaliar se estas estavam tendo uma atividade fotossintética
semelhante, evitando, assim, erros experimentais devido a diferenças significativas na
fisiologia dos vegetais. Enquanto que as outras, ocorreram durante o tratamento. Foram
utilizadas as folhas mais basais, ou do primeiro ou do segundo nó, as medições eram
feitas sempre na mesma folha de cada planta.
2.2.4.2. Dados Alométricos:
Ao final do experimento foram feitas as seguintes medições:
Altura:
Foi medida utilizando uma régua de 50 cm, esta era posicionada na base do
caule, e a altura era considerada até o último nó, formado entre a última folha e a gema
apical do caule.
Número de folhas:
Contou-se o número total de folhas, excluindo os cotilédones e as gemas apicais
e laterais.
Número de nós:
Foram contados todos os nós, excluindo o do cotilédone, sendo considerado o nó
mais superior, o encontro entre a última folha e a gema apical do caule.
Número de botões florais:
Foram contados todos os botões que podiam ser diferenciados nas plantas,
independente de seu tamanho.
Área foliar:
Esta medida considerou a área dos folíolos, excluindo a ráquis, que foi
considerada como caule. Os folíolos foram retirados ao final do experimento, e sua área
foi calculada utilizando o equipamento denominado Sistema de Medida de Área,
modelo Delta T Devices Ltda, Burwell, Cambridge, Inglaterra.
Volume da raiz:
12
Ao final do experimento, a terra foi encharcada possibilitando a retirada da raiz
inteira. Seu volume foi verificado, utilizando uma proveta de 500 ml. Esta era enchida
de água até 400ml, a raiz seca era imersa na água, o volume de água que subia na
proveta apontava o volume da raiz.
2.2.4.3. Matéria Seca:
Ao final do experimento, raiz, caule (contando a ráquis da folha) e folhas
(excluindo a ráquis) foram separadas. Cada uma delas foi colocada em um pacote de
papel e secadas na estufa Retilinia, marca Fanem Ltda, São Paulo, regulada a 75º C.
Cinco dias após, as respectivas massa foram averiguadas utilizando a balança de
precisão, marca Micronal, modelo B-160.
2.2.4.4. Pigmentos:
Três discos, de 5mm de diâmetro cada, foram retirados da folha utilizada nas
medições de fotossíntese, estes foram colocados em vidros fechados exteriormente com
papel alumínio, numa solução de DimetilSulfóxido [(CH3)2SO], conhecido como
DMSO. A leitura da solução com as clorofilas e carotenóides foi feita no equipamento
Espectofotômetro UV min, modelo i-1240. Foram realizadas três leituras, uma
utilizando radiação com comprimento de onda de 665nm, faixa de absorção ótima da
clorofila a; outra a 649nm, ótimo da clorofila b; e a última à 480nm, referente radiação
de absorção dos carotenóides.
2.2.5. Análises Estatísticas
Todos os dados foram submetidos a análises estatísticas de variância e as médias
comparadas pelo teste “F” a 5% de probabilidade. Valores entre 5 e 10% de
probabilidade foram considerados marginalmente significativos. Para análise dos dados
e construção dos gráficos foram utilizados o Software R e o Microsoft Office Excel
2007.
2.3. RESULTADOS
2.3.1. Trocas Gasosas
Ao final de 17 dias de experimento, a taxa fotossintética das plantas do
tratamento som não apresentaram diferenças significativas em relação ao tratamento
controle. O mesmo foi observado para as demais variáveis fotossintéticas, como
mostrado no Quadro 2, Figura 6 e Anexo 1.
13
A)
B)
C)
D)
Figura 6: Variáveis de trocas gasosas ao longo dos dias em S. lycopersicum : A) Taxa
Fotossintética (A) (µmol fótons m2 s-1), B) Condutância Estomática (gs), C) Carbono
Interno (Ci) e D) Transpiração (E).
14
Quadro 2: Análise de Variância dos dados de trocas gasosas ao longo dos dias em S.
lycopersicum.
Variáveis
Medição
Fotossíntese
Condutância
Estomática
Carbono
Interno
Transpiração
1 F1,7=1.02 p=0.35 F1,7=0.01 p=0.94 F1,7=0.79 p=0.40 F1,7=0.07 p=0.79
2 F1,8=3.77 p=0.09 F1,8=1.08 p=0.33 F1,8=0.92 p=0.37 F1,8=0.88 p=0.38
3 F1,8=2.58 p=0.15 F1,8=3.84 p=0.09 F1,8=2.67 p=0.14 F1,8=5.53 p=0.05*
4 F1,8=0.06 p=0.82 F1,8=0.22 p=0.65 F1,8=2.63 p=0.14 F1,8=0.36 p=0.56
5 F1,8=1.19 p=0.31 F1,8=1.1 p=0.33 F1,8=0.97 p=0.35 F1,8=0.06 p=0.82
De todas as análises fotossintéticas realizadas, apenas a transpiração demonstrou
uma diferença significativa no terceiro dia de medições. Entretanto, não consideramos
este resultado como significativo no contexto geral, contando todos os dias.
Os padrões fotossintéticos seguiram, no geral, a tendência de redução ao longo
dos dias, sendo um resultado esperado, já que as folhas foram amadurecendo,
diminuindo sua atividade fotossintética.
2.3.2. Dados Alométricos
Ao contrário da fotossíntese, algumas variáveis morfológicas demonstraram
alterações significativas positivas do tratamento som em relação ao controle, dentre elas
área foliar e volume de raiz. A altura apresentou uma diferença marginalmente
significativa (Quadro 3, Figura 7 e Anexo 2).
Quadro 3: Análise de Variância dos dados alométricos em S. lycopersicum.
Variáveis Analisadas F1,8 Probabilidade
Altura (cm) 3,36 0,10
Nº de folhas 1,98 0,20
Nº de nós 2 0,19
Nº de botões florais 1,51 0,25
Área foliar (cm2) 7,31 0,03*
Volume de raiz (ml) 9,5 0,02*
15
A)
Controle Som
Tratamentos
Altura
(cm
)
01
02
03
04
05
06
0
B)
Controle Som
Tratamentos
Nº
de
fo
lha
s
05
10
15
20
C)
Controle Som
Tratamentos
Nº
de
nó
s
02
46
81
0
D)
Controle Som
Tratamentos
Nº
de
bo
tõe
s f
lora
is
02
46
81
0
E)
Controle Som
Tratamentos
Are
a.f
olia
r(cm
2)
02
04
06
08
01
00
12
0
F)
Controle Som
Tratamentos
Volu
me.r
aiz
(ml)
05
10
15
20
25
Figura 7: Variáveis alométricas em S. lycopersicum. A) Altura (cm), B) Nº de folhas, C)
Nº de nós, D) Nº de botões florais, E) Área foliar (cm2) e F) Volume de raiz (ml)
16
2.3.3. Matéria Seca
As massas secas das folhas e raízes também apontaram alterações significativas,
sendo maiores no tratamento som, enquanto que a massa seca do caule não indicou
diferenças. Os dados e análises são mostrados no Quadro 4, Figura 8 e Anexo 3.
Quadro 4: Análises de Variância da matéria seca em S. lycopersicum.
Variáveis Analisadas F1,8 Probabilidade
Massa seca das folhas (g) 6,09 0,04*
Massa seca do caule (g) 2,79 0,13
Massa seca das raízes (g) 5,75 0,04*
A)
Controle Som
Tratamentos
Ma
ssa
se
ca
de
fo
lha
s (
g)
01
23
45
6
B)
Controle Som
Tratamentos
Ma
ssa
se
ca
de
ca
ule
(g
)
01
23
45
6
C)
Controle Som
Tratamentos
Ma
ssa
se
ca
de
ra
íze
s (
g)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Figura 8: Matéria seca em S. lycopersicum. A) Massa seca das folhas, B) Massa seca
dos caules e C) Massa seca das raízes.
17
2.3.4. Conteúdo de clorofilas e carotenóides
Mais uma vez, houve diferenças significativas positivas do tratamento som em
comparação com o controle, agora para o conteúdo de clorofila a e de clorofila b. O
conteúdo de carotenóides foi marginalmente significativo (Quadro 5, Figura 9 e Anexo
4).
Quadro 5: Análises de Variância do conteúdo dos pigmentos fotossintetizantes em S.
lycopersicum.
Variáveis Analisadas F1,8 Probabilidade
Conteúdo de clorofila a 12,71 0,01*
Conteúdo de clorofila b 10,33 0,01*
Conteúdo de carotenóides 4,38 0,07
A)
Controle Som
Tratamentos
Clo
rofila
a (
µg
cm
-2)
05
10
15
20
B)
Controle Som
Tratamentos
Clo
rofila
b (
µg
cm
-2)
02
46
81
0
C)
Controle Som
Tratamentos
Ca
rote
nó
ide
s (
µg
cm
-2)
01
23
45
Figura 9: Conteúdo dos pigmentos fotossintetizantes em S. lycopersicum. A) Conteúdo
de clorofila a (µg cm-2), B) Conteúdo de clorofila b (µg cm-2) e C) Conteúdo de
carotenóides (µg cm-2).
18
A Figura 10 mostra a variação do desenvolvimento das plantas entre o tratamento
som e o controle.
Figura 10: Plantas de S. lycopersicum ao final do experimento: a esquerda, o tratamento
controle e a direita, o tratamento som.
2.5. DISCUSSÃO
Não foram observados efeitos significativos da música organizada nos
parâmetros de trocas gasosas (A, gs, Ci e E) em S. lycopersicum. Entretanto foram
verificadas alterações positivas em vários padrões morfológicos destas plantas, como
área foliar, volume de raiz, massa seca de folhas e de raízes, conteúdo de clorofila a e b
e carotenóides.
Nenhum relato de pesquisas sobre a influência da música organizada em
organismos vegetais adultos foi encontrado na literatura científica. Da mesma forma não
foram localizados estudos envolvendo a ação das vibrações sonoras na fotossíntese.
Também não foram encontrados trabalhos da atuação da acústica em plantas de S.
lycopersicum. Desta maneira, esta tentativa é nova em muitos aspectos.
A hipótese de que a música pode estimular uma maior vibração nas folhas e nos
elétrons das clorofilas, através da ressonância, aumentando a fotossíntese em S.
lycopersicum, foi refutada pelas medições realizadas com o IRGA. Contudo, podemos
inferir que apesar da taxa fotossintética imediata, ou seja, realizada no momento da
avaliação com o IRGA, não ter apresentado diferenças significativas entre os
tratamentos, houve um aumento na taxa fotossintética geral das plantas do tratamento
som, devido a sua maior área foliar e conteúdo de clorofilas e carotenóides.
Tratamento
Som
Tratamento
Controle
19
O processo de ressonância física ocorre em frequências sonoras específicas,
entretanto na música aplicada as frequências são muito variáveis, oscilando entre
diferentes notas; isso pode ter dificultado a transmissão de energia vibracional por
ressonância.
O padrão de vibração natural das folhas ainda é pouco conhecido, isto dificulta a
escolha de sons que entrem em ressonância com estas frequências específicas. Álvares-
Arenas et al. (2009) verificaram a frequência de oscilação das folhas de quatro espécies
vegetais. Os autores identificaram que em todas as plantas, as frequências se encontram
na faixa do ultra-som. Nas folhas de Prunus laurocerasus, o padrão de vibração variou
entre 275 e 283 KHz, em Ligustrum lucidum, entre 260 e 275 KHz, em Platanus x
hispanica, oscilou entre 640 e 805 KHz e em Populus x euroamericana, entre 598 e 730
KHz.
As medições de fotossíntese com o IRGA foram feitas nas folhas do primeiro ou
do segundo nó. Ao longo do experimento, ocorreu o amadurecimento destas que pode
ter contribuído para a redução de sua capacidade fotossintética; este fator pode ter
interferido nas medições. Além disso, as plantas foram mantidas numa luminosidade
artificial baixa ao longo do tratamento, entre 100 e 120 µmol de fótons m-2 s-1; isto
dificultou a abertura dos estômatos e as avaliações do IRGA. Outra possibilidade é de
que a câmara de medição do IRGA possa interferir na passagem das vibrações sonoras
do ambiente para a folha, dificultando a transferência de energia mecânica e a
visualização de alterações na atividade fotossintética pelo equipamento.
Apesar dos padrões de trocas gasosas não apresentarem modificações
significativas nas medições realizadas com o IRGA, esta pesquisa verificou diferenças
positivas em todas as variáveis morfológicas do tratamento som em relação ao controle,
indicando uma tendência de crescimento geral das plantas de S. lycopersicum estudadas.
Alguns dados alométricos, de matéria seca e de conteúdo de pigmentos foram
significativos do tratamento som em comparação com o controle.
Xiujuan et al. (2003b) mostraram uma redução de células nas fases G1 e G2 do
ciclo celular e um aumento da fase S, em caules de Chrysanthemum, com estímulos
sonoros à 100 dB e 1.000 Hz. Os autores sugerem que o som desencadeou uma maior
divisão celular e, consequentemente, um acréscimo no crescimento da planta. Esse
aumento da divisão celular pode estar relacionado com a expressão gênica. Wang et al.
(2010), estudando Dendrobium candidium, demonstraram uma maior expressão do gene
20
Clone-SA8, relacionado com o aumento da divisão celular. Este acréscimo da divisão
celular pode explicar as alterações positivas observadas em algumas variáveis
morfológicas das plantas de S. lycopersicum estudadas.
Xiujuan et al. (2003a), Yi et al. (2003a; 2003c), utilizando Chrysanthemum
expostas à 100 dB e 1.000 Hz, identificaram um aumento no conteúdo de proteínas
solúveis. Yiyao et al. (2002) também evidenciaram um aumento nestas moléculas
orgânicas empregando diferentes estímulos sonoros, tendo seu máximo à 100 dB e 800
Hz. Segundo Yi et al. (2003a), o nível de proteínas solúveis está muito relacionado ao
crescimento e divisão dos tecidos vegetais e a acumulação destas reflete não só o estado
de uma substância específica, mas também o conteúdo de enzimas e o nível relativo de
metabolismo. Estes resultados convergem com a hipótese da “Ressonância em Escalas”
que expõem uma possibilidade de aumento da síntese protéica sobre alguns padrões
sonoros específicos.
Neste sentido, o aumento observado nos padrões de crescimento pode ter relação
com um maior conteúdo de proteínas, e logo um incremento da atividade enzimática e
do metabolismo geral da planta.
Vale ressaltar também o acréscimo na atividade do gene Clone-SA5, que
promove a expressão da alfa-tubulina, em plantas de Dendrobium candidium. Esta
molécula faz parte dos microtúbulos do citoesqueleto, estrutura celular relacionada com
o aumento da divisão, crescimento e diferenciação da célula (RAVEN et al., 2007).
Alterações nesta estrutura da célula pode também ter ocasionado maiores taxas de
desenvolvimento do tratamento som.
Outros trabalhos pesquisaram a influência das oscilações sonoras na membrana
plasmática. Zhao et al. (2002b) identificaram um decréscimo na quantidade de
fosfodiésteres e aumento de fosfomonoésteres, com consequente aumento da fluide z de
membrana, em Chrysanthemum exposto a sons de 100 dB e 1.000 Hz. Zhao et al.
(2002a) constataram um aumento da estrutura secundária em α-hélice e redução da
conformação β em proteínas de membrana de células de tabaco, à 100 dB e 400/800 Hz.
Os autores inferem que a estrutura secundária das proteínas de membrana pode ser
altamente sensitiva à vibração sonora, ocasionando também uma maior fluidez de
membrana.
Segundo Zhao et al. (2002b), a fluidez é um importante fator no controle do
transporte transmembrana, seu aumento imediatamente resulta numa promoção do
21
transporte de substâncias e de sinais pela membrana, que promove metabolismo, divisão
e crescimento. No presente trabalho, foi detectado um acréscimo na área foliar e na
massa seca de folhas do tratamento som em relação ao controle. Dentre outros aspectos,
estes resultados podem ter relação com a maior fluidez da membrana, atividade
enzimática e consequente aumento da divisão celular. Além disso, possíveis variações
na estrutura da membrana podem ter ocasionado uma maior expansão celular.
Outros trabalhos avaliaram a interferência da acústica em diversos mecanismos
radiculares. Bochu et al. (2003) verificaram um aumento no comprimento e número
total de raízes em plantas de Oryza sp, à 106 dB e 400 Hz. Yi et al. (2003a) relataram
um acréscimo no comprimento, massa seca, atividade da amilase e conteúdo de
açúcares e proteínas solúveis das raízes. Esta pesquisa mostrou uma maior atividade da
H+ATP sintase de membrana nas raízes, uma enzima central na formação de ATP para
as plantas. No estudo de Wang et al. (2010), foi identificado um acréscimo na expressão
gênica de Clone-SG6, gene que aumenta a atividade da H+ ATP sintase.
Na presente pesquisa, foi apontado um maior volume e massa seca das raízes do
tratamento som para o controle. Estes resultados concordam com os estudos relatados
acima, e pode ter relação com uma maior atividade enzimática, como da H+ ATP
sintase de membrana, enzima central do metabolismo vegetal.
O incremento no desenvolvimento da raiz entre os tratamento pode também estar
relacionado com alterações em hormônios vegetais. Yiyao et al. (2002) e Bochu et al.
(2004), estudaram Chrysanthemum, demonstrando um aumento na atividade do ácido
indol-3-acético (AIA). O AIA é uma auxina natural que, dentre outras funções, promove
a formação de raízes laterais, estimulando as células do periciclo radicular, e expansão
celular, pela ação na parede celular (RAVEN et al., 2007). Bochu et al. (2004), também
apontaram uma redução do ABA em seu estudo. Estes autores sugerem que uma
ativação da AIA e redução do ABA estimula um aumento do crescimento.
O padrão morfológico que demonstrou maior diferença entre os tratamentos foi
o conteúdo das clorofilas a e b, sendo que os dados dos carotenóides foram
marginalmente significativos entre o tratamento som e o controle. Não foram
encontrados na literatura pesquisas mostrando influências de estímulos sonoros em
pigmentos vegetais fotossintéticos. Contudo, podemos citar o trabalho de Peng e Yan
(1998) que aplicando um campo magnético a plântulas de Oryza sp obteve um aumento
no conteúdo das clorofilas.
22
As vibrações sonoras aplicadas no presente experimento podem ter promovido
um acréscimo no conteúdo de cloroplastos das células do mesofilo ou ter interferido em
algum processo do metabolismo destes pigmentos fotossintetizantes, como por exemplo
aumento das moléculas precursoras ou da atividade enzimática.
O crescimento generalizado das plantas do tratamento som em relação ao
controle pode ter relação com muitos dos aspectos morfofisiológicos destacados nos
trabalhos descritos acima. Entretanto, é importante enfatizarmos que um dos fatores
fundamentais para o acréscimo no desenvolvimento de organismos vegetais é a síntese
de compostos orgânicos, promovida pela atividade fotossintética. Desta forma, mais
uma vez, realçamos que apesar das medições realizadas com o IRGA não demonstrarem
alterações significativas na taxa fotossintética, podemos inferir que esta variável
aumentou do tratamento som em comparação com o controle.
Ao final deste estudo surgem mais perguntas que respostas. São poucos os
trabalhos realizados nesta área de conhecimento, sendo que a maioria deles estudaram
plantas de Chrysanthemum, aplicando frequências sonoras específicas e não músicas.
Grande parte dos pesquisas foram realizadas na China; há apenas dois registros na
literatura de trabalhos no Brasil (PETRAGLIA, 2008; SOUZA, 1990), ambos avaliando
a germinação de sementes de Phaseolus vulgaris.
2.5. CONCLUSÃO
Algumas conclusões podem ser registradas com base neste experimento e nos
dados levantados na literatura científica:
O estímulo sonoro, incluindo a música organizada, influencia a vida das plantas.
Esta interferência sonora pode ocorrer em aspectos centrais dos vegetais, desde a
expressão gênica até a atividade de hormônios.
Os estudos sobre este fenômeno são recentes, sendo que não há uma teoria geral
que esclareça satisfatoriamente como acontece esta interação som/planta.
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Novos trabalhos devem ser realizados tanto para avaliar a possibilidade de
interferência da acústica na fotossíntese como para entender mais profundamente as
tendências de variações morfológicas observadas neste experimento.
Para um próximo estudo, sugerimos a identificação do padrão de vibração das
folhas, com aplicação de frequências sonoras que estejam em escala com frequências
23
naturais de oscilação desta estrutura vegetal, estimulando a ressonância entre elas. Além
disso, estes devem buscar a avaliação de folhas mais novas que apresentam uma maior
atividade fotossintética, utilizando, de preferência, as que tenham se desenvolvido após
o início da aplicação sonora.
É importante enfatizarmos, também, a dificuldade metodológica de controlar
todas as variáveis ambientais, incluindo o som, entre os tratamentos controle e sonoro.
No presente trabalho, não conseguimos locais isolados acusticamente, pois essa
tecnologia é cara. Neste contexto, os pesquisadores devem discutir maneiras viáveis de
se estudar este fenômeno cientificamente.
Além disso, é importante a realização de estudos científicos para avaliar a
hipótese da “Ressonância em Escalas” de Sternheimer, já que na lite ratura só foi
encontrado um trabalho (PETRAGLIA, 2008)
Esta é a primeira tentativa no Brasil de analisar a ação da música em organismos
vegetais adultos. Para além de qualquer discussão dos resultados deste experimento,
faz-se necessário uma problematização do por que da ausência de pesquisas analisando
este estímulo ambiental em plantas dentro da ciência brasileira.
Uma das formas de verificar a lacuna nesta área de conhecimento é estudando
os cientistas, para compreender seus posicionamentos sobre este fenômeno. Esta
dimensão de opiniões dos acadêmicos será abordada no próximo capítulo.
24
3. A PESQUISA ETNOCIENTÍFICA
3.1. INTRODUÇÃO
3.1.1. A Ciência: uma construção humana
A ciência é complexa em sua essência, porque é inseparável de seu contexto
histórico, social e cultural. A ciência moderna só pôde emergir na efervescência da
Renascença e da organização econômica, política e social característica da Europa, nos
séculos XVI e XVII. Tem como alguns de seus grandes ícones René Descartes, Francis
Bacon e Isaac Newton. O primeiro destacou-se pela sua idéia racionalista e
metodológica para se conhecer a realidade, o segundo pela elaboração de um método
experimental objetivo para estudar o mundo e o último pela capacidade de unir, na
prática, estas idéias num método racionalista e experimentalista aplicável para estudar o
mundo natural (KUHN, 1998; MORAIS, 2007; MORIN, 2008; CAPRA, 2006)
Essa matriz epistêmica conduziu àquilo que hoje conhecemos como o mito da
razão absoluta. Este se refere à crença na infinita capacidade racional do ser humano,
além de realçar a experimentação como o único meio válido de descobrir a ordem da
natureza, sendo os resultados desta via metodológica expressos por meio de
quantidades e relações matemáticas. Neste contexto, os fatos observados são
independentes do observador, construindo um mundo essencialmente objetivo
(SCHWARTZ, 1975; HEISENBERG, 1980; CAPRA, 2006).
Desde então, a ciência se associou progressivamente à técnica e à tecnologia,
introduzindo-se no âmago das sociedades. Neste processo, o papel da ciência adentrou
em uma dimensão de ação inimaginável na realidade humana (MORIN, 2008).
Entretanto, quando estudamos profundamente a ciência como atividade humana
destinada à construção de conhecimentos, algumas perguntas surgem: O que é o
conhecimento científico? Quem o produz e como ele é construído? Será ele “melhor”,
“verdadeiro”, “real”? (MORAIS, 2007)
Segundo o biólogo Maturana (2001), o uso de explicações científicas pelos
membros de uma comunidade para validar suas afirmações define a ciência como um
domínio cognitivo. Desta maneira, o meio científico não é diferente de outras esferas
cognitivas, pois é caracterizado por um campo de ações, em que um critério de
25
validação ou aceitabilidade é utilizado, pelos membros da sociedade, para aceitar suas
hipóteses como “verdadeiras”.
Dentre estas técnicas, é importante ressaltar a forma como esta sociedade
humana constrói e valida seu conhecimento. De acordo com Maturana (2001),
explicamos um fenômeno pela ciência formal no momento em que se satisfazem quatro
condições:
1. Ter o fenômeno a explicar ou uma pergunta a responder (O quê?): este surge no
emocional do cientista, que é um sujeito interessado em descobrir o “novo”.
2. Elaborar uma hipótese explicativa para este fenômeno (Por quê?): esta é
construída se baseando em conhecimentos científicos já creditados como verdadeiros.
3. Utilizar uma metodologia para testar a hipótese (Como?): esta se fundamenta em
trabalhos já realizados, utilizando métodos considerados científicos.
4. Analisar os resultados obtidos e sintetizar conclusões: o experimento originará
dados quantitativos a serem interpretados estatisticamente. A comparação destes
resultados com os de outros trabalhos, já realizados na área, irá informar sobre sua
“veracidade”. Assim, a hipótese de trabalho será refutada ou não.
Mas será que ao chegarmos ao final de todo este processo, teremos realmente
“comprovado” que aquele fenômeno existe ou será que apenas teremos evidências de
como um fenômeno pode ocorrer sob determinada situação experimental? Será que a
ciência consegue explicar todos os acontecimentos através de seu arcabouço teórico e
metodológico?
A objetividade é considerada uma forma correta de análise, já que é determinada
por observações e verificações concordantes. Neste sentido, o conhecimento científico é
“certo” somente na medida em que se baseia em dados verificados e está apto a fornecer
previsões de acontecimentos. Contudo, a obra de todos os grandes cientistas naturais
não foi uma simples reunião de fatos; foram trabalhos construtivos, na linguagem, na
arte, na religião e na ciência. O homem não pode fazer mais que construir seu próprio
universo – simbólico – que lhe permite compreender e interpretar sua experiência
humana (CASSIRER, 1972; PRIGOGINE, 2001).
O próprio Descartes (2010, p.76), no “Discurso do método”, deixa claro a
influência de Deus, tratado como um “ser superior e infinito”, na “veracidade” do
método proposto por ele:
26
“Mas se não soubéssemos de modo algum que tudo que existe
em nós de real e verdadeiro vem de um ser superior e infinito,
não teríamos, por claras e distintas que fossem nossas ideias,
razão alguma que nos assegurasse que elas teriam perfeição de
ser verdadeiras.”
Alves (2007) destaca que a ciência é o que os cientistas fazem, ou seja, é a
atividade de construção de conhecimentos exercida por um grupo social bem definido:
os cientistas. Sendo assim, metaforicamente, o conhecimento científico pode ser
considerado tudo aquilo que pode ser pescado no “rio da realidade” com uma rede
chamada método científico. No entanto, o autor realça que toda rede,
independentemente da seletividade e eficiência de sua malha, deixa passar mais coisas
do que pode pegar.
Segundo Heisenberg (1980), um dos maiores físicos do séc. XX, parece ser
pretensão da ciência intervir eficazmente no universo com um método que isole e
ilumine cada fenômeno, avançando de uma para outra relação de fatos. O progresso das
certezas científicas não caminha na direção de uma grande certeza. A física, do séc. XX,
mostrou que todos os conceitos e teorias são aproximados e limitados (CAPRA, 2006).
Neste contexto, a ciência atual tem necessidade não apenas de um pensamento
apto a considerar a complexidade do real, mas desse mesmo pensamento para
considerar sua própria complexidade e a complexidade das questões que ela levanta
para a humanidade (MORIN, 2008).
3.1.2. Em busca da simetria: a Etnociência da Ciência
Como abordado no tópico anterior, a ciência é uma construção humana.
Entretanto, são os próprios cientistas que fazem suas ciências, seus discursos sobre a
ciência, sua ética da ciência e suas políticas da ciência, e a sociedade não estuda esta
conjuntura. Neste sentido, o conhecimento científico é um conhecimento que não se
conhece cientificamente, é uma constituição humana que desenvolveu metodologias tão
surpreendentes e hábeis para apreender todos os objetos a ele externos, sem dispor de
métodos para se conhecer e pensar sobre si mesmo (LATOUR & WOOLGAR, 1997;
MORIN, 2008).
27
Quando a ciência abre espaço para uma relação dialética de análises entre a
pesquisa e os pesquisadores, um completa o outro e, mais do que completarem-se,
interfecundam-se, sendo assim, mais possível chegar-se a uma compreensão complexa e
rica da ciência e do mundo explicado por ela (MORAIS, 2007).
Neste sentido, a análise das condições sociais, dos contextos culturais e dos
modelos de organização da investigação científica ocupa papel relevante na pesquisa.
Nosso tempo exige um posicionamento que busque equilíbrio entre a crítica a os
elogios, avaliando a ciência em sua condição de produto humano e enxergando ao
mesmo tempo sua grandeza e sua problematicidade. Dedicar-se a estudar a realidade
científica considerando suas diversas formas de expressão cultural e comportamental é
uma forma de tanto questionar quanto respeitar e valorizar a ciência em sua
complexidade, proporcionando a esta uma visão mais abrangente e profunda (MORAIS,
2007; SOUSA SANTOS, 1988; PRIGOGINE, 2001).
Nesta linha de pensamento, destaca-se a idéia da simetria do antropólogo Bruno
Latour. Segundo ele, vivemos numa sociedade que acredita ser “moderna”,
caracterizada pela assimetria criada por duas grandes divisões arbitrárias, sendo a
primeira, entre natureza e cultura (consequentemente, entre ciências naturais e ciências
humanas/sociais), e a segunda, entre “nós” (“modernos”) e “eles” (“primitivos”).
Apenas nós diferenciamos de forma absoluta natureza e cultura, ciência e sociedade,
enquanto que em todas as outras culturas estes elementos são quase co-extensivos. A
sociedade também é construída, tanto quanto a natureza, e é preciso compreender como
as duas são, ao mesmo tempo, imanentes e transcendentes (LATOUR, 1994).
A busca pela simetria se inicia quando estudamos ao mesmo tempo a produção
da natureza e dos humanos que estudam esta natureza, ocupando uma posição
intermediária. O objetivo do princípio da simetria não é apenas o de estabelecer a
igualdade, ou seja, o de regular a balança no ponto zero, mas também o de gravar as
diferenças, as assimetrias que surgem quando contexto e conteúdo são confrontados
(LATOUR, 1994).
Essas idéias compactuam com as de Einstein (1936), um dos cientistas mais
conhecidos no mundo. Segundo ele, a relação recíproca entre a epistemologia e a
ciência é de uma espécie notável, em que uma depende da outra. A epistemologia sem
contato com a ciência torna-se um esquema vazio, bem como a ciência sem
epistemologia é primitiva e confusa.
28
Ainda de acordo com Einstein (1936), quando procuramos um fundamento mais
sólido para um fenômeno, o cientista não pode simplesmente ceder ao filósofo a
contemplação crítica de seus pressupostos teóricos, pois é o próprio cientista que
distingue melhor seu sistema de conhecimentos. Na busca de um novo fundamento, ele
deve tentar tornar claro para si próprio os conceitos que utiliza e as práticas que realiza.
Importante destacar que alguns dos maiores críticos da ciência não são os
sociólogos, antropólogos ou epistemólogos. São sim os próprios cientistas, dentre eles
muitos renomados dentro da academia, como Albert Einstein (Nobel de Física, 1922),
Werner Heisenberg (Nobel de Física, 1932), Ilya Prigogine (Nobel de Química, 1977),
além de Humberto Maturana, Thomas Kuhn e Fritjop Capra (MORAIS, 2007). Por isso,
estes são referências centrais deste trabalho.
No contexto de integração entre estudos naturais e sociais, surgem as
Etnociências. As Etnociências podem ser consideradas ramos das ciências que nasceram
do entrecruzamento entre a Sociolingüística, a Antropologia Cognitiva e as Ciências
Naturais, e lidam com o estudo dos sistemas culturais (MARQUES, 2001). Neste
sentido, segundo Cardona (1985, p.10), é uma área de pesquisa transdisciplinar que
estuda “(...) todas as formas de classificação que o homem escolheu para dar ordem e
nome àquilo que ele vê em torno de si (...)”
As etnociências sempre concentraram seus estudos em etnias indígenas e outras
comunidades consideradas “tradicionais”. Não obstante, segundo Latour (2000), o
prefixo “etno” transpõe este contexto, abrigando diferentes abordagens na interação do
pesquisador com o “outro”, aspecto chave dos estudos etnocientíficos. Uma de suas
aplicações envolve a transformação do pesquisador (observador) em pesquisado
(observado), em que os cientistas podem ser estudados por seus pares acadêmicos.
Dentro da proposta deste trabalho, podemos destacar a emergência da
Etnobotânica. Esta área de estudo das etnociências se concentra no entendimento da
inter-relação direta entre pessoas, de determinada cultura, e as plantas de seu meio
ambiente. Um de seus focos de investigação envolve a análise do significado cultural da
relação pessoas/plantas (ALBUQUERQUE, 2005).
A parte experimental deste trabalho tem como foco o estudo da interação entre
música e organismos vegetais, sendo este um tema pouco estudado, tanto dentro como
fora do meio acadêmico/científico.
29
O presente trabalho pretende colocar em prática uma Etnociência da Ciência que
visa complementar o “conhecimento das coisas” com o “conhecimento do
conhecimento das coisas”, investigando a compreensão que os “especialistas” no estudo
das ondas sonoras e das plantas têm sobre as interrelações destes elementos. Esta
proposta de pesquisa tem por finalidade abrir um novo caminho, em que o cientista
investiga simultaneamente a esfera dos objetos e dos sujeitos que estudam estes objetos.
Desta forma, o presente trabalho etnocientífico teve por objetivo analisar as
opiniões de professores de física e biologia vegetal sobre a influência da música nas
plantas, associando-as aos resultados do experimento científico realizado sobre o
mesmo tema.
3.2. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido entre os meses de Junho e Outubro de
2010, no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Segundo Mejía (2002),
em uma pesquisa etnocientífica é importante defin ir o espaço social de observação, ou
seja, o grupo social a ser estudado.
Neste sentido, foi empregada uma amostragem intencional, que consistiu na
escolha de grupos específicos que possuem um maior aprofundamento sobre os temas
focalizados no trabalho (ALBUQUERQUE et al., 2008). Em se tratando de uma
pesquisa sobre a opinião de “especialistas” sobre o tema “influência da música na vida
das plantas”, o espaço social de observação foi definido, a princípio, como o grupo
composto por professores universitários de Biologia Vegetal, Física e Música.
Entretanto devido à falta de um curso superior de música na UFV, e a dificuldade de se
locomover até o curso mais próximo, localizado na Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP), este último grupo não foi entrevistado neste trabalho.
Ao todo, foram convidados a participar da pesquisa 19 professores de Biologia
Vegetal, todos vinculados ao Departamento de Biologia Vegetal (DBV) da UFV, e 18
professores de Física, dentre os quais, 17 são do Departamento de Física (DPF) da UFV
e um é vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), porém estava em
intercâmbio na UFV na época do estudo e mostrou interesse em participar da pesquisa.
No total, o DPF/UFV é composto por 30 professores, enquanto o DBV/UFV possui 21
docentes.
30
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas nas quais cada informante foi
questionado sobre as mesmas perguntas previamente estabelecidas (ALBUQUERQUE
et al., 2008). Foi utilizado na pesquisa um Questionário (ANEXO 5) composto por
cinco perguntas abertas sobre o tema de interesse do estudo, elaboradas com o intuito de
permitir aos entrevistados maior liberdade para interpretação aos questionamentos e
para expressão de suas opiniões. As perguntas são descritas abaixo:
1. Você acha que a música influencia a vida das plantas?
2. Como? (Positivamente? Negativamente? De diferentes formas?)
3. Por quê?
4. Como você testaria a influência da música sobre as plantas?
5. Qual(is) estilo(s) musical(is) você acredita influenciar positivamente as plantas?
E negativamente?
Nas entrevistas, o projeto foi apresentado aos professores e estes convidados a
participarem da pesquisa. O questionário foi deixado com os docentes para ser
respondido e recolhido posteriormente. Os entrevistados também receberam um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO 6), consentindo ou não em
participar do estudo. Este foi assinado pelos professores participantes, permitindo a
utilização das respostas de seu questionário neste trabalho.
A análise dos dados foi feita qualitativamente uma vez que os dados obtidos
neste estudo são essencialmente compostos por textos, discursos. A manipulação
qualitativa é um procedimento eclético, não havendo uma fórmula fixa para isso.
Envolve uma atividade reflexiva, em que o pesquisador se desloca constantemente dos
dados adquiridos para o nível conceitual mais abstrato e vice-versa (ALBUQUERQUE
et al., 2008).
A principal ferramenta intelectual empregada na análise qualitativa é a
comparação. O método de comparar e contrastar é usado para formar categorias,
estabelecer limites entre elas, designar segmentos de dados e sumarizar o conteúdo. O
objetivo é discernir similaridades conceituais e descobrir padrões (ALBUQUERQUE et
al., 2008).
Desta forma, a análise seguiu os seguintes passos:
1. Codificação: foi feita uma visualização geral dos dados e uma reflexão sobre
seus significados, buscando comparar as respostas.
31
2. Formação de categorias: os professores foram divididos em três grupos, os que
acham que a música influencia as plantas, os que não acreditam neste fenômeno
e os que não souberam responder ao primeiro questionamento.
3. Comparação entre Físicos e Botânicos: foi realizado um discernimento de
similaridades e contrastes conceituais dentro e entre os dois grupos acadêmicos.
4. Etnociência unida à ciência: por último, os resultados desta pesquisa
etnocientífica foram discutidos de acordo com os resultados obtidos na parte
experimental do trabalho.
Os resultados foram expostos em gráficos, mostrando as tendências dentro de
cada grupo. É importante destacar que, em alguns gráficos, existem mais dados que
professores, isto porque algumas respostas eram muito grandes e foram divididas em
um ou mais dados que compõem o gráfico. Esta metodologia facilitou a observação das
tendências dentro de cada grupo, já que possibilitou unir partes de respostas que eram
concordantes.
3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os professores de física convidados a participar da pesquisa, dois se
recusaram a responder o questionário. Um deles não justificou sua rejeição, enquanto o
outro, quando questionado sobre seus motivos, argumentou que o trabalho é um absurdo
e não tem sentido dentro da academia, e que, desta forma, não lhe convinha responder o
questionário. Quando o pesquisador contra-argumentou, explicando o sentido físico-
biológico do estudo, baseado na ressonância, o professor alegou que a “ressonância da
física é diferente da ressonância da biologia”, e que os biólogos não entendiam de física.
Este primeiro resultado demonstra que dentro de um amplo domínio cognitivo,
como é o científico, há, até certo ponto, uma disputa de poder, em que um subgrupo,
como no caso os físicos, deslegitima o conhecimento produzido por outro grupo, os
biólogos, sobre um mesmo tema. Além disto, esta fala demonstra o problema do
especialismo, destacado por Morais (2007). Segundo este autor: “o especialismo é a
hipertrofia deformante das especializações”, isto porque numa cultura complexa como
a acadêmico-científica, as especializações são necessárias e inevitáveis, mas é
fundamental apreciar sua área de conhecimento no contexto mais amplo, como no caso
em que o conceito físico de ressonância é aplicado ao funcionamento de um ser vivo.
32
Assim, devido às rejeições, dezesseis professores responderam ao questionário.
Destes, oito docentes acreditam que a música “não” influencia a vida das plantas, estes
foram referidos como “Grupo 1”. Quatro entrevistados não souberam responder,
formando o “Grupo 2”. E os outros quatro acadêmicos, constituem o “Grupo 3”, que
propõe que “pode ser”, que “talvez” ou que “sim!” (Figura 11).
Figura 11: Respostas dos professores de física à 1ª pergunta: Você acha que a música
influencia a vida das plantas?
Desta maneira, o Grupo 1 é formado pelos cientistas que acham que a música
não influencia organismos vegetais. Enquanto que o Grupo 2 é composto pelos que não
sabem se tem interferência. E finalmente, o Grupo 3, constituído pelos que acreditam
neste fenômeno ou ao menos consideram essa possibilidade.
As respostas às outras perguntas são mostradas nas Figuras 12, 13, 14 e 15.
Dentre os professores de biologia vegetal convidados a participar da pesquisa,
sete responderam que a música não influencia as plantas e um acredita ser pouco
provável, formando, a exemplo da interpretação dos dados da física, o “Grupo 1”. Três
professores não souberam responder, ou afirmaram não possuir
conhecimentos/informações a respeito do assunto para opinar, estes constituem o
“Grupo 2”. E os outros oito entrevistados compõem o “Grupo 3” da pesquisa, em que
sete docentes indicam que “sim”, a música pode influenciar as plantas e um acha que “é
possível algum efeito” (Figura 16).
33
A)
B)
C)
Figura 12: Respostas das professores de física à 2ª pergunta: Como? A) Grupo 1, B)
Grupo 2 e C) Grupo 3.
34
A)
B)
C)
Figura 13: Respostas dos professores de física à 3ª pergunta: Por quê? A) Grupo 1, B)
Grupo 2 e C) Grupo 3.
35
A)
B)
C)
Figura 14: Respostas dos professores de física à 4ª pergunta: Como você testaria a
influência da música sobre as plantas. A) Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3.
36
A)
B)
C)
Figura 15: Resposta dos professores de física à 5ª pergunta: Qual(is) estilo(s)
musical(is) você acredita influenciar positivamente as plantas? E negativamente? A)
Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3
37
Figura 16: Respostas dos professores de biologia vegetal à 1ª pergunta: Você acha que a
música influencia a vida das plantas?
Desta forma, como na física, os acadêmicos foram divididos entre os que não
acreditam que a música pode influenciar organismos vegetais (Grupo 1); os que não
sabem se tem interferência (Grupo 2); e os que confiam na influência da música sobre
as plantas, ou acredita na possibilidade deste fenômeno (Grupo 3).
A análise das outras respostas é mostrada nas Figuras 17, 18, 19 e 20.
Houve uma grande divergência de ideias entre os professores dentro de cada
área acadêmica e entre elas, entretanto houve semelhanças entre o pensamento de
alguns cientistas e os resultados obtidos na parte experimental deste trabalho.
Antes de discutir as respostas dos professores, é importante enfatizar as críticas
feitas às perguntas desta pesquisa etnocientífica. Quatro professores de física e dois de
botânica questionaram os termos “acha” e “acredita” utilizados, respectivamente, na
primeira e quinta perguntas. Segundo eles, estas palavras não são adequadas dentro da
ciência, já que os cientistas não acham, eles se fundamentam em trabalhos concretos
que “provam a veracidade” dos fatos, como é evidenciado pela fala abaixo, durante a
conversa com um dos entrevistados de física: “(...) é ou não é, não existe esse negócio
de achar na ciência!”
38
A)
B)
C)
Figura 17: Respostas dos professores de biologia vegetal à 2ª pergunta: Como? A)
Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3.
39
A)
B)
C)
Figura 18: Respostas dos professores de biologia vegetal à 3ª pergunta: Por quê? A)
Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3.
40
A)
B)
C)
Figura 19: Respostas dos professores de biologia vegetal à 4ª pergunta: Como você
testaria a influência da música sobre as plantas? A) Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3.
41
A)
B)
C)
Figura 20: Respostas dos professores de biologia vegetal à 5ª pergunta: Qual(is)
estilo(s) musical(is) você acredita influenciar positivamente as plantas? E
negativamente? A) Grupo 1, B) Grupo 2 e C) Grupo 3.
42
Estes posicionamentos demonstram bem o determinismo científico, baseado na
busca por “verdades absolutas”, de forma que aspectos que não foram “provados” por
métodos respaldados cientificamente não são considerados válidos por seu domínio
cognitivo (MATURANA, 2001).
Voltando às respostas dos professores. Entre os acadêmicos de física, 50% não
acham que a música possa influenciar as plantas, 25% admitem a possibilidade de
ocorrência deste processo e 25% não souberam responder. Enquanto que na biologia
vegetal, as opiniões foram mais divididas, 42% não confiam neste fenômeno, 42%
acreditam nesta interferência e os outros 16% não souberam responder. Considerando
todos os professores avaliados, 46% não acham que a música atua nas plantas, 34%
acreditam que sim e 20% não sabem.
Em nenhum dos dois grupos avaliados houve uma predominância de respostas
positivas para a primeira pergunta. Entretanto, verificamos que os professores de
biologia vegetal entrevistados confiam mais neste fenômeno que os de física, mesmo
que esta idéia não se sobressaia dentro de seu grupo acadêmico. Considerando todos os
cientistas entrevistados, houve uma maior descrença sobre esta influência. Ou seja, as
opiniões da maioria dos docentes entrevistados divergem em relação aos resultados
alcançados na parte experimental deste trabalho.
Um dos professores de botânica citou que “como são ondas eletromagnéticas, é
possível algum efeito (...).” Isto demonstra uma falta de conhecimento deste sobre a
caracterização física do som, que é uma onda mecânica e não eletromagnética.
Em relação à segunda pergunta, na física, as respostas com maior número de
citações foram “de forma nenhuma” e “não sei”, ambas com 19%. Enquanto na
botânica, os professores acreditam que “depende” (21%) ou que pode interferir “de
diferentes formas” (21%). Isto indica, mais uma vez, que na física predomina a idéia da
não ocorrência deste fenômeno. Enquanto na biologia vegetal, os acadêmicos
consideram que esta interação depende principalmente da música, como citado por três
dos entrevistados.
Um físico argumentou que: “(...) ondas sonoras (não música especificamente)
pode afetar plantas dependendo da intensidade e frequência.”
A maior parte dos trabalhos realizados sobre a influência da acústica em plantas
envolveu a aplicação de freqüências e intensidades específicas, apesar de haver
experimentos com músicas. Neste sentido, a citação acima compactua com a literatura
43
científica. No entanto, este pensamento parece um pouco contraditório, já que a música
é composta por ondas sonoras, organizadas em harmônicos, e possui frequência e
intensidade (YOUNG & FREEDMAN, 2003).
Na terceira pergunta, foram verificadas muitas opiniões diferentes para o porquê
da ocorrência ou não desta interferência. Entretanto, houve certa convergência entre o
Grupo 1 de cada área e também dentro do Grupo 3, como descrito abaixo.
No Grupo 3 da botânica, as idéias mais preponderantes, são de que o som é um
movimento vibratório (uma perturbação) que carrega energia e pode ser absorvido pelos
vegetais, gerando correntes elétricas, alterações no metabolismo e influenciando os
seres vivos de alguma forma. Estas opiniões acordam com o Grupo 3 da física que
propôs, também, que a onda sonora carrega energia que pode ser absorvida, perturbando
o ambiente e reações químicas, e alterando a temperatura do sistema.
Todos estes posicionamentos descritos acima estão de acordo, até certo ponto,
com os trabalhos já realizados nesta área de conhecimento, e também com os
fundamentos e resultados da parte experimental deste trabalho.
Na física, o conceito mais difundido entre os que não consideram o fenômeno
(Grupo 1) é de que vibrações tênues, como a sonora, não influenciam vegetais; este foi
citada por quatro entrevistados.
Enquanto que alguns docentes de biologia vegetal acham que as plantas não são
sensíveis a música, com duas citações para ausência de sistema nervoso nestas, uma no
Grupo 1 e outra no Grupo 2. Estes resultados acompanham o posicionamento de dois
acadêmicos de física, do Grupo 1, que mencionaram:
“Planta não tem ouvido. Se tem ainda não foi descoberto.”
“As plantas não têm emoção.”
Estas falas demonstram a crença de que a única forma de detecção e absorção do
som ambiente possa ser através da recepção auditiva, onde se faz necessário a presença
de um sistema nervoso nas plantas para captação da harmonia musical. Essas ideias
discordam, até certo ponto, com a de um professor do Grupo 3 de botânica cujo
argumento é de que:
44
“Porque em seres humanos a música tem influência, então
penso que pode ter também influência nos organismos
vegetais.”
Outros dois professores de biologia vegetal, em resposta a terceira pergunta,
citaram o seguinte:
“Não há nenhum suporte científico, nem de longe, para tal.”
“Não há dados experimentais e nem observacionais que
suportem essa hipótese.”
Estes opiniões indicam uma falta de conhecimento dos trabalhos realizados nesta
área de estudos, sendo que a primeira fala demonstra uma descrença sobre a
possibilidade de haver pesquisas científicas. Kuhn (1998) argumenta que a novidade
somente emerge com dificuldade, que se manifesta através de resistências.
Contudo, um botânico que acredita neste fenômeno mostrou que conhece
experimentos científicos na área, citando um dos trabalhos referenciais desta pesquisa:
“Genes cuja expressão é alterado por ondas sonoras já foram
encontrados em arroz. (Ver: New Scientist (2007) 2619)”.
Em relação a como testariam a influência da música na vida das plantas, houve
muitas respostas concordantes com a literatura científica, com a metodologia e
argumentação da parte experimental deste estudo.
Muitos físicos e alguns botânicos sugeriram a organização de um experimento
com um tratamento controle e um sonoro, onde as variáveis ambientais seriam
controladas, sendo que alguns destacaram a necessidade de repetição do experimento,
de avaliação de várias plantas e de isolamento acústico. Este resultado era esperado já
que a comunidade científica, a qual o autor do presente trabalho também faz parte,
estuda a natureza por meio desta metodologia experimental, voltada para a observação
da relação entre as variáveis de interesse, preocupando-se com repetições e o devido
controle das variáveis externas.
45
Referindo-se aos aspectos da onda sonora e do organismo vegetal a ser estudado,
os docentes da biologia vegetal apresentaram a seguinte tendência: realizar uma análise
de variáveis morfofisiológicas de crescimento como alongamento de internós, potencial
de membrana, expressão de genes e aspectos energéticos, por exemplo, a fotossíntese.
Outras possibilidades mencionadas foram: a determinação da “qualidade sonora”, a
utilização de diferentes frequências/intensidades/ritmos e a geração de dados
estatísticos. É importante enfatizar a seguinte fala de um botânico:
“(...) em parceria com pesquisadores de física para conhecer as
características do som utilizado”
Este posicionamento é significativo dentro do contexto deste trabalho, já que
mostra a necessidade de parceria destas duas áreas de conhecimento para uma
compreensão mais profunda deste fenômeno interdisciplinar.
Alguns físicos, por sua vez, recomendaram medições de crescimento, funções
vitais, estímulos elétricos, fotossíntese, bem como da química dos vegetais. Além disso,
indicaram a utilização de diferentes sons/intensidades/frequências e a necessidade de se
examinar as plantas durante e após a exposição sonora.
Vale destacar algumas respostas desta comunidade estudada em relação a como
testariam a interação das músicas com as plantas, descritas abaixo:
“Sem condições devido à ausência de sistema perceptor.”
“Não testaria. Se tivesse influência, deveria ser provada
cientificamente, mas não acredito que tenhamos condições para
isso.”
Estas falas se mostram contraditórias dentro da ciência, que é uma área do
conhecimento humano preocupada com o estudo de todos os fenômenos da natureza.
Além disso, aponta como a ciência formal é um empreendimento não dirigido para as
novidades e que a princípio tende a suprimi- las. Vale destacar a expressão “provada
cientificamente” que demonstra a ideia da ciência cartesiana de provar como os
46
acontecimentos ocorrem, buscando uma verdade absoluta (KUHN, 1998; CAPRA,
1993).
A impossibilidade de teste, exposta por estes professores, é contrária à grande
parte das proposições encontradas nos questionários, como exemplificado pelas falas
abaixo:
“Só fazendo um experimento para avaliar.” (Resposta a 2ª
Pergunta - Física)
“Apenas através de experimentos seria possível verificar a
hipótese de influência da música na vida das plantas.”
(Resposta a 3ª Pergunta - Física)
“Só experimento” (Resposta a 5ª Pergunta - Física)
“Sem fazer o experimento, não é possível afirmar nada.”
(Resposta 5ª Pergunta - Física)
“Experimentalmente” (Resposta a 4ª Pergunta – Biologia
Vegetal)
Estes resultados demonstram uma grande contradição dentro da comunidade
científica estudada que “prova” fatos através de experimentos, mas que propõe, ao
mesmo tempo, a impossibilidade de se montar um experimento para estudar a
interferência da música nas plantas.
Além disso, mostra evidências de que na verdade, não importa o quão diferente
um mecanismo gerativo proposto possa parecer inicialmente. Se este é validado através
do método científico, ele se torna “legítimo” (MATURANA, 2001).
A última pergunta apontou, a exemplo das outras, uma elevada divergência de
opiniões. Entre os botânicos, houve citações para heavy metal, música clássica, sons
suaves, com muitas notas/melodias, com maior freqüência/intensidade, sem
especificações de como agiriam. Enquanto alguns docentes consideram que sons suaves,
com freqüências baixas, de “boa qualidade” poderiam interferir positivamente. Já outros
47
acham que sons barulhentos (agitados) e de “má qualidade” influenciariam
negativamente. Na física houve cinco registros da resposta “nenhum”, contudo um
professor citou que sons altos poderiam atrapalhar, independente do estilo.
Estes resultados discordam com os resultados obtidos na parte experimental do
trabalho, já que nesta foi aplicada uma música considerada barulhenta e agitada (rock’n
roll), numa altura relativamente alta (93 dB), ocasionando alterações positivas nos
padrões de crescimento das plantas.
Para o quinto questionamento, houve uma citação de um físico que concordou
muito com o sentido físico/biológico da pesquisa, baseado na ressonância entre
vibrações biológicas e musicais:
“Teria 1º de saber qual é o espectro geral dos ruídos
biológicos, um 1º chute eu diria ultra som.”
Enquanto outras respostas se mostraram irônicas como:
“Não creio que as rosas “gostem” de valsas e as begônias de
tango.” (Física)
“Talvez o pessoal da filosofia ‘induísta’ e seus gurus, que
costumam animalizar as plantas e animais possa responder à
pergunta. Talvez dissessem: "Que tal um bom rock?" (Biologia
Vegetal)
Este último posicionamento evidencia a depreciação do conhecimento de outros
coletivos (LATOUR, 1994), bem como mostra o conservadorismo de alguns cientistas
por temas que são considerados “esotéricos”, não sendo, assim, considerados passíveis
de estudo por seu domínio cognitivo.
O conhecimento sobre os organismos vegetais e de suas formas de interação
com o ambiente se mostrou preponderante para considerar a existência do fenômeno,
em detrimento de um conhecimento mais aprofundado da onda sonora. Isto também
pode ser evidenciado pela fala de um físico, exposta abaixo:
48
“Não consigo enxergar correlação entre uma coisa e outra.”
Destaca-se nestes questionários o alto índice de respostas em branco, que, em
muitos casos, se mostrou maior do que qualquer tendência de respostas. Isto indica ou
uma dificuldade por parte dos professores de expor suas opiniões ou, até mesmo, uma
certa indisposição a responder às cinco perguntas, que pode ser refletido pela resposta
abaixo:
“Sem condições de informar” (Resposta a 4ª pergunta –
Biologia Vegetal)
Esta pesquisa etnocientífica propôs interrogar o meio acadêmico da UFV sobre
uma “nova” hipótese. As respostas demonstraram uma alta divergência de opiniões que
é normal quando novas associações e novas possibilidades surgem (MORIN, 2008).
Segundo Kuhn (1998), a nova hipótese implica uma mudança nas regras que
governam a prática anterior da ciência formal, por isso esta repercute inevitavelmente
sobre muitos trabalhos científicos. É por isso que o novum, por mais particular que seja
seu âmbito de aplicação, quase nunca é um mero incremento ao que já é conhecido. Sua
assimilação requer a reconstrução da teoria precedente e a reavaliação dos fatos
anteriores.
Se as ondas sonoras mostrarem realmente evidências de interação com as
plantas, como demonstrado nesta tentativa, a ciência deve difundir a necessidade de
controle desta variável ambiental dentro de seu método, já que não sabemos até que
ponto a acústica pode interagir com organismos vegetais.
Para que a ciência avance em suas teorias é necessário uma atividade de crítica,
em que as teorias se confrontem, que existam pontos de vista diferentes. Portanto, não
podem existir somente fatores comunitários consensuais, mas também, conflitantes. É
um meio social onde existem antagonismos (MORIN, 2008).
Percebemos que a ciência é uma construção humana que expressa os interesses
dos cientistas apesar de suas alegações de objetividade e independência subjetiva
(SOUZA SANTOS, 1988), como foi demonstrado por respostas conservadoras de
alguns professores entrevistados.
49
Contudo temos que enfatizar neste trabalho a posição dos docentes que
cumpriram seu papel de educadores ao se abrirem para a discussão, diálogo e reflexão
sobre o tema, contribuindo muito para uma maior compreensão sobre como podemos
estudar e compreender este fenômeno dentro do meio científico.
Morin (2008, p.35) resume bem algumas ponderações que podemos fazer com
base nesta pesquisa etnocientífica:
“(...) se é verdade que o surgimento e o desenvolvimento de uma
nova ideia precisam de um campo intelectual aberto, onde se
debatam e se combatam teorias e visões do mundo, se é verdade
que toda novidade se manifesta como desvio e aparece
frequentemente ou como ameaça, ou como insanidade aos
defensores das doutrinas e disciplinas estabelecidas, então o
desenvolvimento científico, no sentido de que esse termo
comporte necessariamente invenção e descoberta, necessita
fundamentalmente de duas condições: 1) manutenção e
desenvolvimento do pluralismo teórico (ideológico, filosófico)
em todas as instituições e comissões científicas; 2) proteção do
desvio, ou seja, tolerar/favorecer os desvios no seio dos
programas e instituições (...).”
3.4. CONCLUSÃO
Os professores do Departamento de Biologia Vegetal da UFV acreditam mais na
influencia da música em plantas do que os docentes do Departamento de Física, apesar
desta ideia não ser predominante entre os botânicos. Considerando todos os
entrevistados, a maior parte não acredita nesta interação. Houve similaridades entre a
opinião de alguns acadêmicos e a parte experimental do trabalho, contudo, no geral, as
respostas apresentaram divergências, e algumas delas remeteram a um conceito
esotérico desta área de conhecimento. Vale ressaltar a ênfase à via metodológica para se
estudar este fenômeno, destacada em muitos questionários, apesar de alguns docentes
não acreditarem nessa possibilidade.
50
4. CONCLUSÕES GERAIS
No segundo capítulo demonstramos que a acústica pode influenciar organismos
vegetais, atuando em diversos mecanismos centrais do desenvolvimento das plantas.
Este experimento é importante dentro do contexto científico, mais especificamente o da
UFV, pois expõe a necessidade de um estudo mais aprofundado de um fenômeno
natural pouco compreendido pela ciência.
O terceiro capítulo mostrou que os cientistas da UFV apresentaram muitas
divergências de opiniões sobre um assunto pouco estudado por seu domínio cognitivo.
Além disso, apontou aberturas ao diálogo de alguns docentes e fechamento e
conservadorismo de outros a novas propostas dentro da academia.
Na conjuntura desta pesquisa, as associações entre conteúdo e contexto
científico, dentro da UFV, foram enriquecedoras para se obter uma maior compreensão
de como estudar este fenômeno. Vale ressaltar também, que a carência de pesquisas
científicas nesta área do conhecimento pode estar relacionada com a descrença na
atuação das músicas nas plantas, bem como pela falta de interesse de muitos cientistas
em compreender esta interação.
Fazer ciência e criticá- la ao mesmo tempo foi uma tarefa delicada e árdua, pois a
qualquer momento podemos nos contradizer, já que o conhecimento científico utilizado
para embasar o experimento foi o mesmo conhecimento discutido ao longo dele. A ideia
deste trabalho não foi a de desconstruir a ciência, já que os que destroem a ciência estão
destruindo a si mesmos, mas sim de partir dela para refletir sobre sua base. As
novidades, para que existam dentro da academia, dependem das aberturas dos cientistas
e a investigação de suas opiniões pode contribuir em pesquisas que proponham estudar
fenômenos ainda pouco compreendidos pelos domínios da ciência.
5. REFERÊNCIAS
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55
6. ANEXOS
ANEXO 1: Medições dos dados de trocas gasosas em S. lycopersicum.
A (µmol Co2 m-2 s-1) gs (mol m-2 s-1) Ci E (mol H2O m-2 s-1)
Dia N C S C S C S C S
1
1 11,03333 11,71667 0,1195 0,129833 216,6667 218,3333 2,458333 2,573333
2 12,38333 10,86667 0,220667 0,081617 271,3333 149,5 3,845 1,848333
3 8,931667 11,06667 0,081783 0,112167 198,8333 203,5 1,92 2,278333
4 NA 11,85 NA 0,179667 NA 252,8333 NA 3,275
5 11,71667 14,98333 0,140833 0,187667 237,1667 225,6667 3,051667 3,436667
2
1 6,91 6,253333 0,091917 0,057417 241,1667 191,6667 2,165 1,288333
2 5,346667 10,36333 0,055467 0,120667 208,6667 218,6667 1,473333 2,808333
3 6,125 7,183333 0,066383 0,0747 214,3333 205,1667 1,76 2,085
4 6,621667 7,251667 0,080683 0,09835 229,8333 241,1667 2,046667 2,466667
5 6,536667 7,72 0,072733 0,080717 217,5 206 1,886667 1,996667
3
1 7,021667 5,853333 0,080283 0,068233 242,1667 236,6667 1,453333 1,565
2 5,856667 5,881667 0,059017 0,06145 220,8333 220,8333 1,25 1,36
3 6,18 9,023333 0,065117 0,127833 225,3333 255 1,446667 2,325
4 5,64 6,803333 0,061083 0,085133 228,5 243 1,381667 1,671667
5 5,76 8,84 0,056967 0,107667 213,5 234,6667 1,325 2,28
4
1 5,958333 4,886667 0,0778 0,052583 250,5 224,8333 2,145 1,538333
2 4,675 5,28 0,05975 0,060533 247,1667 232,3333 1,72 1,771667
3 4,521667 4,876667 0,0518 0,063233 231,5 249,1667 1,561667 1,833333
4 4,598333 6,661667 0,064283 0,083 255 240,3333 1,908333 2,321667
5 5,065 3,741667 0,0622 0,035733 237,6667 205,5 1,916667 1,141667
5
1 4,203333 5,17 0,053917 0,076433 277,5 269,1667 1,306667 1,745
2 4,781667 4,813333 0,067117 0,071667 271,6667 268,6667 1,636667 1,67
3 3,548333 4,24 0,0484 0,068133 268 279,1667 1,213333 1,455
4 4,675 3,891667 0,06925 0,05485 274,6667 264,6667 1,631667 1,215
5 4,231667 5,146667 0,057583 0,0558 263 227,6667 1,403333 1,278333
A = Taxa fotossintética; gs = Condutância estomática; Ci = Carbono interno;
E = Transpiração; N = Nº do tratamento; C = Controle; S = Som
56
ANEXO 2: Medições dos dados alométricos em S. lycopersicum.
Altura (cm) Nº do folhas Nº de nós
Nº do
tratamento
Controle Som Controle Som Controle Som
1 52,3 50,2 10 9 8 8
2 47,4 46,1 10 9 8 8
3 46,2 53,1 9 11 8 9
4 44,8 58,5 9 16 8 9
5 50,1 63,1 11 23 9 10
Nº de botões
florais
Área foliar (cm2) Volume de raiz
(ml)
Nº do
tratamento
Controle Som Controle Som Controle Som
1 7 9 47,29 89,31 15 22,5
2 4 5 43,44 62,35 15 20
3 9 9 42,09 59,63 10 15
4 7 10 30,44 94,05 10 25
5 9 12 64,72 146,06 17 31
57
ANEXO 3: Medições de matéria seca em S. lycopersicum.
Massa seca de
folhas (g)
Massa seca de
caule (g)
Massa seca de
raízes (g)
Nº do
tratamento
Controle Som Controle Som Controle Som
1 3,416 4,68 3,758 4,407 1,377 1,89
2 3,117 3,349 4,157 3,094 1,361 1,613
3 2,993 3,63 3,184 3,7 1,068 1,215
4 2,21 5,624 2,587 5,449 0,901 2,076
5 3,789 6,843 3,797 6,847 1,48 2,821
58
ANEXO 4: Medições do conteúdo de clorofilas e carotenóides em S. lycopersicum.
Conteúdo de
clorofila a (µg cm-2)
Conteúdo de
clorofila b (µg cm-2)
Conteúdo de
carotenóides (µg cm-2)
Nº do
tratamento
Controle Som Controle Som Controle Som
1 12,399 15,582 5,596 7,370 3,305 3,607
2 10,900 16,618 5,494 6,867 3,069 3,778
3 12,208 16,589 5,965 9,922 3,593 4,002
4 12,165 17,730 6,263 9,645 4,006 4,818
5 14,990 23,237 7,657 10,568 3,702 5,369
59
ANEXO 5: Questionário aplicado aos docentes de biologia vegetal e física.
Questionário
Nome:________________________________________________________________
Área: ( ) Biologia vegetal ( ) Música ( ) Física
Especialidade:__________________________________________________________
1. Você acha que a música influencia a vida das plantas?
2. Como? (Positivamente? Negativamente? De diferentes formas?)
3. Por quê?
4. Como você testaria a influência da música sobre as plantas?
5. Qual(is) estilo(s) musical(is) você acredita influenciar positivamente as plantas?
E negativamente?
60
ANEXO 6: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, solicitando aos professores a
utilização das respostas de seus questionários na pesquisa.
Termo de Consentimento
Você está sendo convidado para participar da pesquisa intitulada: “Pode a
música influenciar a fotossíntese?”. Esta refere-se ao Trabalho de Conclusão do Curso
de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa (UFV) realizado pelo
estudante Raphael Jonas Cypriano, matrícula: 52793, RG: 21663538-3.
O presente estudo tem como objetivo avaliar, de forma experimental, como a
música interfere no desenvolvimento de organismos vegetais. Paralelamente, pretende-
se investigar os conhecimentos que professores acadêmicos possuem sobre este assunto.
Desta maneira, foram selecionados, para esta pesquisa, todos os docentes do
Departamento de Biologia Vegetal e de Física da UFV, bem como professores de
Ecologia.
Sua participação consistirá em preenchimento de um questionário estruturado,
onde são abordadas algumas questões sobre o tema de trabalho. Os dados adquiridos
serão utilizados numa pesquisa etnocientífica, que consistirá na interpretação e
comparação das respostas de cada grupo acadêmico.
A participação não é obrigatória e a qualquer momento você pode desistir de
participar e retirar seu consentimento. As informações obtidas serão confidenciais e
asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados serão divulgados de forma que a
identidade dos entrevistados não será revelada.
Eu, ___________________________________________________________________,
RG______________________________, abaixo assinado, concordo em participar do
estudo acima descrito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador sobre
a pesquisa e os procedimentos nela envolvidos,
Local e data: ___________________/______/________
Assinatura do sujeito ou responsável: ____________________________________