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I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Franca, 22 a 24 de setembro de 2014
O PIBID como política de formação docente e o fortalecimento das
Licenciaturas em Filosofia: reflexões sobre a experiência na Universidade
Federal do Maranhão
Almir Ferreira da S. Junior1
RESUMO
A comunicação tem como objetivo analisar a importância do PIBID/UFMA/CAPES para o fortalecimento da Licenciatura em Filosofia da UFMA, considerando sua
reorientação teórico-metodológica para o ensino de filosofia e a realização de um diálogo pedagógico contínuo com a escola, a partir de 2009. Considerando as atividades desenvolvidas pelo Pibid em Filosofia, mediante sua implantação na UFMA, ressalta-se
que a formação de professores não pode estar apenas voltada a uma racionalidade educacional burocrática e técnico-conceitual , mas comprometida com o fazer pensar
contextualizado à escola e ao mundo da vida (Lebenswelt).Eis o que também justifica a importância do Pibid, enquanto uma política de formação de professores, no processo de ressignificação do curso de filosofia na UFMA.
Palavras chave: Formação de professores, aulas de filosofia, Pibid.
ABSTRACT
The communication aims to analyse the importance of Pibid/UFMA/CAPES to the
stregthening of Licensures in Philosophyof UFMA, considering its theoretical-
methodological reorientation for the philosophy teaching and therealization of a continuous pedagogical dialogue with the school, from 2009. Considering the activities developed by Pibid in Philosophy, under its deployment in UFMA, it’s high litedthat
teachers’formation can’t be turned Just to a technical-conceptual and burocratic educational rationality, but committed with the contextualized to make to think to
school and to the life world (Lebenswelt). This is what also justifies the importance of Pibid, as a policy of teacher educacion, in the processofredefinition of the Philosophy degreeat UFMA.
Key-words: Teachers formation, Philosophy lessons, Pibid, School
1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, as reflexões cada vez mais amplas em torno da temática
“formação de professores” continuam abordando um grande desafio não limitado
apenas à discussão do processo de democratização de um ensino de qualidade que
1 Coordenador de Gestão do PIBID/UFMA. Docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA/São Luis).
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garanta o acesso e permanência das crianças e jovens nas escolas, mas contemplando
ainda o processo de enfrentamento de obstáculos e problemas nos cursos de
licenciaturas oferecidas pelas instituições de ensino superior (IES). Além de registrar
uma carência nacional de professores para atuarem na educação básica, sobretudo na
rede pública de ensino em todas as áreas, as pesquisas do Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) em seus dados de 2013
(BRASIL, 2013), identificam que, se por um lado, o acesso à escolaridade avançou
significativamente, por outro esses mesmos dados contabilizam uma perda expressiva
dos alunos matriculados, comprometendo em algumas regiões a permanência dos
mesmos nas escolas. Mesmo não podendo responsabilizar essa ocorrência
exclusivamente ao perfil profissional dos professores que atuam nas escolas, também
não podemos deixar de reconhecer o quanto a formação competente do professor se
constitui um elemento decisivo para a eficiência do processo do ensino-aprendizgem.
Desde 2007, tanto sob a forma de discurso quanto através da implementação de
ações, a CAPES definiu com uma de suas mais importantes ações o investimento na
formação de professores da educação básica, valorizando o magistério em seus
diferentes níveis, repensando o compromisso com a educação de crianças, jovens e
adultos e, sobretudo, colocando-se o desafio de discutir a identidade dos professores
como “autores da educação”. O entusiasmo das reflexões e discursos originou, em
cenário nacional, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID e
com ele novas apostas e direcionamentos em busca da transformação da realidade
educacional brasileira, bem como do aperfeiçoamento e a valorização da formação de
professores para a educação básica.
Atento à diversidade das licenciaturas, o compromisso com a formação de
professores, desde então, vislumbrava um envolvimento efetivo e planejado entre as
instituições de ensino superior (IES) e as escolas públicas construindo relações de
parcerias e trocas de experiências formativas diferenciadas. O PIBID, ao lado do Plano
Nacional de Formação (PARFOR), conforme destacou o presidente da CAPES,
desponta como uma significativa expressão do movimento de valorização docente com
no intento de “[...] apoiar a formação de novos professores estimulando pela concessão
de bolsas específicas, a dedicação plena de estudantes de licenciatura, o envolvimento
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de seus docentes-orientadores, e bem assim dos professores escolas públicas parceiras
dos projetos.”(GUIMARÃES, 2011, p. 8).
Por outro lado, mediante a inserção da filosofia como campo de conhecimento
imprescindível ao currículo do Ensino Médio, o seu reconhecimento como disciplina
obrigatória, a partir de 2006, pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação (CNE) implantou o grande desafio de uma formação de qualidade em busca
de uma educação crítico-reflexiva ancorada no exercício do pensar livre e de uma
educação cidadã. Tal meta, por conseguinte, além de estimular a discussão sobre as
diretrizes para educação básica e sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
demanda responsabilidades às instituições de ensino superior (IES) no tocante à
ressignificação das licenciaturas em filosofia tendo em vista uma reorientação didático
metodológica de ensino, e uma rearticulação significativa entre teoria e prática no
processo de formação de professores de filosofia para o nível médio do ensino.
Assim, o objetivo da comunicação proposta é analisar a importância do
PIBID/UFMA/CAPES), para o fortalecimento da Licenciatura em Filosofia da UFMA,
considerando a reorientação teórico-metodológica desenvolvida no conjunto de suas
atividades em parceria com as escolas, a partir de 2009 e aqui sucintamente descritas.
Duas questões inspiram a investigação: É possível formar professores de filosofia
voltados não apenas a uma racionalidade educacional burocrática e técnico-conceitual ,
mas comprometidos com o fazer pensar contextualizado à escola ? Como as políticas
educacionais, em especial o PIBID têm contribuído com essa meta na UFMA?
2 O PIBID NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – REFLEXÕES
SOBRE IMPLANTAÇÃO E DESBOBRAMENTOS
A inserção do PIBID na UFMA remonta desde 2008 quando essa instituição
desenvolveu uma experiência interna e sem financiamento da CAPES contemplando
seis licenciaturas,dentre elas a de filosofia. Um pouco mais tarde, a UFMA participou
do EDITAL Nº 02/2009 – CAPES/DEB com o projeto institucional intitulado
Formação Redimensionada: as licenciaturas da UFMA na Educação Básica do
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Maranhão. Sua proposta de implantação institucional do referido programa para um
período inicial de 02 (dois anos) tomou como referência as particularidades sócio-
educacionais do Estado do Maranhão e o seu grande desafio: a transformação
qualitativa do panorama educacional haja visto o registro dos mais baixos e alarmantes
índices de IDH e IDEB do Brasil. Afinal, se a mudança dessa realidade requer o esforço
e atuação de instituições públicas de ensino, o propósito da UFMA ao implantar o
PIBID/CAPES UFMA privilegiou sua responsabilidade com uma política de formação
profissional da educação baseada no desenvolvimento e inovação de experiências de
ensino-aprendizagem e no estabelecimento da relação teoria e prática no espaço da
escola.
Essa iniciativa resultou de um diálogo estabelecido entre a UFMA, em sua
representação docentes, discentes, técnicos educacionais, e uma equipe técnica da
Secretaria de Educação do Estado do Maranhão, com o objetivo de reconstruir metas,
ações e parcerias, tendo em vista a qualificação da Educação Básica do Maranhão,
privilegiando, e a implantação de um processo ensino-aprendizagem efetivamente
comprometido com a melhoria dos índices do desempenho escolar nas áreas da
Matemática e Letras, para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio;
Física, Química, Biologia, Sociologia Filosofia, Geografia, Historia e Artes, para o
Ensino Médio; e Pedagogia, nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Os subprojetos que integraram o projeto institucional UFMA foram subdivididos
em prioritários e complementares. Os prioritários contemplaram seis licenciaturas -
Matemática, Física, Química, Biologia, Letras e Filosofia – cada uma delas, de acordo
com sua área de conhecimento, com 01 (um) coordenador de área, 02 (dois)
supervisores junto às escolas e 20 (vinte) bolsistas, com exceção do subprojeto de Física
que manteve-se apenas com 16 (dezesseis) bolsistas. Os subprojetos complementares
privilegiaram 06 (seis) cursos de licenciatura: Artes, Geografia, História, Pedagogia,
Sociologia e Educação para o Campo. Sua estruturação também foi composta por 06
(seis) coordenadores de área, 02 (dois) professores supervisores por área do
conhecimento, com exceção da Educação para o campo que contou com 3 (três)
supervisores e 20 (vinte) bolsistas por área de conhecimento com exceção de Educação
para o Campo que obteve 24 bolsistas.
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Para consolidar a relação de parceria entre a Universidade e a Escola foram
selecionadas 10 escolas, sendo uma delas o Colégio de Aplicação da UFMA – COLUN
- em São Luis e 02 escolas no interior do Maranhão; 01(uma) no município de Largo
do Junco e a outra no município de Turiaçu nas quais as atividades do Pibid em
Educação para o campo puderam ser desenvolvidas.
Posteriormente, em 2011, a CAPES renovou a vigência dos projetos
institucionais contemplados em pelo EDITAL Nº 02/2009 – CAPES/DEB que
atenderam às exigências institucionais pré-estabelecidas e lançou um novo, o EDITAL
Nº001/2011 – CAPES/DEB, que por sua vez contemplou em sua avaliação o projeto
institucional PIBID/UFMA As novas Licenciaturas na Educação Básica das Escolas
urbanas e rurais do interior do Maranhão. Sua meta foi a expansão do
Pibid/UFMA/CAPES aos novos cursos de licenciatura de formação interdisciplinar
(Ciências Humanas, Ciências Naturais e Linguagens e Códigos) implantados nos campi
do continente, nos municípios de Bacabal, Codó, Grajau, Imperatriz, Pinheiro e São
Bernardo.
Com a publicação do EDITAL Nº 61/2013 – CAPES/DEB tornava-se cada vez
mais claro que programa PIBID/CAPES correspondia a uma política de formação de
professores e com fluxo contínuo. A UFMA mais uma vez teve o seu projeto
institucional aprovado contemplando 36 (trinta e seis projetos) nas mais diversas áreas
de conhecimento, inclusive na modalidade interdisciplinar; resultado de sua
consolidação e ampliação nas licenciaturas do campus sede em São Luis, nos campi do
continente e, consequentemente, contemplando um número maior de escolas parceiras.
Desse modo, o PIBID/UFMA, sob a coordenação institucional do prof.. Dr.
Acildo Leite da Silva, passa a constituir-se o maior programa institucional de bolsas da
Universidade Federal do Maranhão com 1167 (hum mil cento e sessenta e sete)
bolsistas, dentre licenciandos, supervisores, coordenadores de área, coordenadores de
gestão e coordenador institucional.
3 O PIBID E A LICENCIATURA EM FILOSOFIA: ARTICULAÇÕES INICIAIS
E ENCAMINHAMENTOS A UMA PEDAGOGIA DO DIÁLOGO.
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No período de 2007 e 2008 a Licenciatura em Filosofia da UFMA, em seu
propósito de consolidar suas novas diretrizes para revisão do seu projeto político-
pedagógico, dado o caráter de obrigatoriedade da filosofia, como disciplina em nível
médio da educação básica, desenvolveu fóruns de discussão sobre o ensino de filosofia
nos níveis fundamental e médio reabilitando o diálogo com o ensino de filosofia na
educação básica, e ressignificando a discussão interna sobre a licenciatura em filosofia
enquanto curso de formação de professores. Também em 2008, sob a coordenação da
professora Rita de Cássia Oliveira, o curso de filosofia desenvolveu sua primeira
experiência no PIBID/UMA, implantado inicialmente na UFMA com recursos próprios.
Em 2009, surge o subprojeto específico na área de filosofia intitulado
Licenciatura em Filosofia – Filosofia e formação: vivenciando metodologias para a
docência de filosofia, elaborado por alguns estudantes da licenciatura sob a consultoria
da professora Ms. Maria Olilia Serra, e com vistas a integrar o projeto institucional
PIBID/UFMA, aprovado pelo Edital Nº 02/2009 – CAPES/DEB. Tal proposta
justificou-se por um triplo reconhecimento: a) antes de tudo, pela memória de que o
estado do Maranhão, na década de 80, foi um dos pioneiros na implantação do ensino de
filosofia, em nível médio, resultado do esforço e mérito de um trabalho realizado pela
então professora do Departamento de Filosofia da UFMA, profª Elza Maria Brito
Patrício; b) pelo registro de inúmeras deficiências no desenvolvimento do ensino de
filosofia na escola pública, considerando sua especificidade, o perfil de atuação do
professor de filosofia decorrente de sua formação superior e por vezes um pouco menos
preocupado com a transposição didático-metodológica do ensino; c) a necessidade
urgente de um comprometimento mais eficiente e efetivo da licenciatura em filosofia da
UFMA com a realidade sócio-educacional do ensino de filosofia em nível médiobásica.
Consciente dessa demanda a meta era oportunizar aos licenciandos em filosofia
uma vivência antecipada do cenário educacional em nível médio nas escolas públicas,
através de observações, reflexões sistematizadas, interferências metodológicas e, acima
de tudo aze-los pensar em sua formação para o exercício futuro de professores de
filosofia na educação básica.
O PIBID em Filosofia iniciou suas atividades em março de 2010 sob a coordenação
de área da profa Ms. Maria Olilia Serra e, posteriormente do prof. Dr. Almir Ferreira da
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Silva Junior ((DEFIL/CCH/UFMA). Atendendo ao disposto no Edital nº 094/2010 –
PROEN/Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à docência – PIBID/MEC foram
selecionados 20 (vinte) bolsistas, estudantes da licenciatura em Filosofia, duas escolas e
dois supervisores. Inicialmente as atividades foram realizadas no COLUN- Colégio de
Aplicação da UFMA, sob a supervisão do prof. Marcos Ramon e no CEGEL - Centro
de Ensino Edson Lobão, sob a supervisão da profa Cecília Ordoñez. Em decorrência da
incompatibilidade de horários entre o turno de funcionamento do ensino médio e as
aulas na Licenciatura em Filosofia (UFMA) e o afastamento da profa Cecilia Ordoñez
da escola supracitada, as atividades do PIBID foram deslocadas, a princípio, para a
escola Centro de Ensino Nerval Lebre, sob a supervisão do prof. Ermilton César
Fonseca e, para o BCA - Centro de Ensino Bernardo Coelho de Almeida (BCA), sob a
supervisão do prof. Fabiano Nogueira, o que não resultou avanços duradouros. Mais
uma vez fez-se necessário o deslocamento da atividades, o que conduziu o PIBID em
Filosofia ao Centro de Ensino Liceu Maranhense, sob a supervisão do professor
Thomaz e, mais uma vez ao CEGEL, sob a supervisão da professora Samia Raquel de
Lima e Lima.
A dinâmica do funcionamento, as reuniões de estudos e planejamento, realizadas
no espaço acadêmico da universidade e, algumas vezes, nas escolas, priorizou como
referencial teórico de discussões a temática Educação e Emancipação, à luz das
reflexões de Theodor Adorno, bem como as reflexões em torno do ensino da filosofia
nas escolas no Brasil. Afinal, problematizar o lugar da filosofia nas escolas públicas do
nível médio não poderia prescindir de uma reflexão sobre as formas de ensinar filosofia.
Com destacam Kohan e Gallo (2000, p.177-179) existem três formas dominantes
de se ensinar filosofia muito frequentes no Brasil. O ensino baseado no legado da
história da filosofia, cuja primazia em destacar as teorias dos grandes filósofos
compromete significativamente a problematização daquilo que circunstancialmente se
está refletindo e, consequentemente, a relação direta com o cotidiano do aluno. O ensino
baseado em torno da formulação e organização de problemas filosóficos mais
diretamente vinculados ao cotidiano escolar dos alunos; o que pode gerar um circuito
dialógico limitado ao senso comum e em sua densidade crítico-reflexiva. Por fim, o
ensino de habilidades cognitivas e/ou atitudes filosóficas, cuja meta é o
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desenvolvimento do conjunto de habilidades de pensamento singulares ao ato de
filosofar; o que gera uma grande dificuldade por não se poder separar o ensino de
filosofia do ato de filosofar.
O grande desafio resultante dessas formas de ensinar indicava um desafio ainda
maior, qual seja, como articular no ambiente cultural das escolas parceiras um ensino de
filosofia que integre as teorias histórico-filosóficas, o desenvolvimento de habilidades
para o pensar filosófico e a problematização, tarefa tão peculiar ao filosofar ?
A inserção do PIBID de Filosofia nas escolas pôde comprovar essas
configurações pertinentes ao lugar que a filosofia, enquanto disciplina, ocupava no
ensino médio mediante observações realizadas tanto no ambiente educacional escolar
como um todo, quanto e na ministração das aulas. Isto foi viabilizado pela aplicação e
análise de questionários dirigidos à gestão da escola, ao professor(a) de filosofia e aos
alunos, com vistas a estabelecer um perfil sobre o ensino de filosofia, em
desenvolvimento.. Nos resultados apresentados, em geral, foi bastante enfatizada a
necessidade de uma aula mais dinâmica e mais vinculada com a realidade cotidiana
vivenciada na contemporaneidade, em contraponto a uma aula mais orientada por uma
teoria histórico-filosófica. Ainda que a maioria reconhecesse a importância da filosofia
para o desenvolvimento da reflexão crítica, para aqueles alunos, o exercício do livre
pensar precisava ser melhor estimulado mediante a utilização das novas tecnologias
educacionais, com uma maior frequência do uso de imagens, dinâmicas diferenciadas e
uma contextualização mais vinculada ao dia a dia. Além disso, foram levantadas outras
questões tais como: a importância da leitura do texto filosófico, senão em sua íntegra
pelo menos em fragmentos; a necessidade e importância da problematização como um
procedimento metodológico criativo e fundamental para uma aula filosofia.
De fato, a competência do professor precisa também estar comprometida em
estimular os alunos a uma leitura da realidade cotidiana e construção de saberes.Nesse
sentido, destaca Kuenzer( 1999, 1971), ele
“[...]precisará adquirir a necessária competência para, com
base nas leituras da realidade e no conhecimento dos
saberes tácitos e experiências dos alunos, selecionar
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conteúdos, organizar situações em que as interações entre
aluno e conhecimento se estabeleçam de modo a
estabelecer as capacidades de leitura, e interpretação do
texto e da realidade, comunicação, análise, síntese,
crítica,criação, trabalho em equipe e assim por diante”.
As atividades de interferência pedagógica no processo de ensino-aprendizagem
nas aulas de filosofia, foram realizadas em duas perspectivas teórico-metodológicas:
filosofia e cinema investindo na seleção de filmes e posterior discussão com base nas
fundamentações filosóficas previamente abordadas e Oficina de leitura filosófica. Esta
última privilegiava não necessariamente textos clássicos da filosofia, mas a
possibilidade de uma leitura filosófica de textos em geral buscados na realidade
cotidiana e, ocasionalmente pensados à luz de um marco teórico-filosófico
desenvolvido em sala de aula. Uma leitura não limitada a um conjunto de regras e
chaves de interpretação, mas comprometida com o fenômeno, com a realidade e com a
transformação daquele que lê e busca um sentido. Como sustenta Lyotard (1993, p.117):
“É preciso acentuar que uma leitura não é filosófica
apenas porque os textos são tidos por filosóficos – ou
porque seus autores são considerados autores da história
da filosofia, de Platão a Sartre -, uma vez que se pode ler
textos filosóficos sem filosofar e ler textos considerados
artísticos, políticos, jornalísticos filosoficamente” .
A partir de 20011 o PIBID em Filosofia, sob a coordenação de área dos
professores Dr. Alexandre Jordão e Dra Maria Olilia Serra, tem se voltado ainda mais a
uma perspectiva didático-metodológica de caráter dialógico em consonância com os
PCN´s para o ensino médio e sob a fundamentação teórica da dialética socrático-
platônica e da hermenêutica-filosófica gadameriana. Nesse sentido, a comprovação de
uma aula de filosofia cada vez mais restrita a uma elucidação teórico-conceitual por
parte do professor tem ilustrado bem aquilo que Hans Geog-Gadamer apontou como
“incapacidade para o diálogo” sob o testeunho das relações pedagógicas em sala de
aula, oriunda da monologização do discurso do professor, esse “autêntico transmissor da
ciência”.Eis o que também reflete uma leitura feita por Tomazetti (2012, p. 1030), isto
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é, que subsiste “...em nossas universidades, uma formação ainda pautada pelo monólogo
do professor, pela escuta por parte dos alunos, e consequentemente pela
desconsideração do outro no contexto da sala de aula”. A incapacidade para o diálogo,
diz Gadamer ((2002, p.244) “[...]refere-se, antes, à possibilidade de alguém abrir-se para
o outro e encontrar nesse outro uma abertura para que o fio da conversa possa fluir
livremente”
Com o desenvolvimento e consolidação do PIBID em Filosofia na UFMA, o
reconhecimento de sua importância tem registrado muitas contribuições na perspectiva
de rearticular a parceria entre a UFMA (Licenciatura em Filosofia) e a escola (escolas
parceiras). Além de proporcionar uma aula mais dinâmica tendo em vista o exercício de
uma pedagogia do diálogo e a realização de leituras filosóficas reintegrando a filosofia
ao seu compromisso direto com as experiências do mundo da vida (Lebenswelt),
sobressai como registros nas avaliações e relatórios o seguinte: o aumento significativo
do interesse dos alunos pelas aulas de filosofia,dentre eles o depoimento de que o
PIBID conseguiu dar um sentido novo à importância da filosofia na escola e no fazer
pensar a partir do exercício indagativo: o que é, como é e por que é? Também chamou
atenção, como registro de avaliação de supervisores do PIBID, a afirmação de que ao
longo de ano de 2011 as notas atribuídas aos alunos na disciplina filosofia melhoraram
progressivamente; o que nos parece um dado relevante, mesmo digno de investigações..
Assim, sustenta-se que o PIBID contribuiu significativamente para o
fortalecimento da licenciatura em Filosofia da UFMA, enquanto um curso de formação
de professores, não apenas pelo conjunto das ações desenvolvidas nas escolas parceiras,
mas pelo surgimento de um novo perfil de discente que ganha expressão na própria
academia. Tem sido notório o caráter diferencial expresso por muitos estudantes -
bolsistas PIBID - em seu desempenho político-educacional mais consciente e
transformador, tanto nas disciplinas de cunho mais teórico, como nas Práticas
Investigativas e no Estágio Docência, no ensino fundamental e médio nas escolas.
Viabilizado pelo PIBID, o diálogo com a escola não só responde ao desafio da
UFMA em construir e assegurar formação de professores de qualidade, mas também
nos permite contemplar o reflexo da nossa própria prática docente enquanto professor
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de um curso de formação de professores que não pode ser mais indiferente aos apelos e
responsabilidades político-educcacionais. Afinal,
“No que concerne a formação de professores, uma
verdadeira revolução nas estruturas instituições
profissionais formativas e nos currículos de formação é
necessária. [...] A formação de professores não pode ser
pensada a partir da ciência e dos seus diversos campos
disciplinares, mas a partir da função social própria à
escolarização- ensinar às novas gerações o conhecimento
acumulado e consolidar valores e práticas coerentes com a
nossa vida civil” (GATTI, 2011, p. 87)
Por fim, o fortalecimento das licenciaturas de filosofia mediante o conjunto de
experiências desenvolvidas pelo PIBID permite, sobretudo, a reflexão sobre o processo
formativo de aprendizagem do futuro professor em sua perspectiva de “ensinar a
pensar”. Daí que, em sua formação, precisam ser estimuladas criatividades e ousadias
capazes de atender às novas demandas do ensino e da educação, por sua vez voltadas à
interdisciplinaridade, à diversidade e ao interculturalismo e à consciência da escola
como um espaço de reconstrução e diálogo entre os projetos existenciais e sócio-
político-educacionais aí vigentes.
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