Post on 19-Feb-2020
Trocascomerciaissuperamo PIB pelaprimeira vezE um marco histórico: valordas importações e exportaçõesultrapassa o da economia.
CONJUNTURA
Trocas comerciaissuperam o PIBpela primeira vezA economia portuguesa nunca teve uma relação tão intensa com o exterior como agora. No
arranque de 2019, o grau de abertura, medido pelo peso das exportações e das importaçõesno PIB, superou pela primeira vez os 100%. Mas esta mudança também acarreta riscos.
TIAGO VARZIM
tiagovarzim@negocios.pt
O grau de abertura da
economia portu-guesa atingiu ummarco histórico no
arranque do ano.No primeiro trimestre de 2019, as
exportações e as importações de
Portugal atingiram os 100% do PIBpela primeira vez.
Esse dado é destacado pelo Nú-cleo de Estudos de Conjuntura daEconomia Portuguesa (NECEP)da Católica na folha de conjunturarelativa ao segundo trimestre divul-
gada esta quarta-feira: "Na frenteexterna é de assinalar a obtenção de
um grau de abertura ao exterior su-
perior a 100% no I.° trimestre."Isto significa que a soma daqui-
lo que o país comprou ao exterior
(importações) e do que vendeu ao
exterior (exportações) j á é superiorao montante em euros do PIB, ou
seja, ao valor acrescentado da eco-nomia portuguesa. Incluem-se tan-to as importações e as exportaçõesde bens como as de serviços.
GRAU DE ABERTURA NUNCA FOI TÃO ELEVADOPeso da soma das exportações e das importações de bens e serviços no PIB (em %)
0 conjunto das exportações e das importações já é superior ao valor acrescen-
tado bruto gerado na produção da economia portuguesa. Este rácio, que é uti-lizado a nível internacional, traduz o grau de abertura de uma economia.
Este indicador pode ser supe-rior a 100% uma vez as importaçõesentram com sinal positivo neste rá-cio enquanto no cálculo do PIB en-tram com sinal negativo (são des-
contadas das exportações).
Contudo, esta abertura tambémacarreta uma inevitabilidade: Por-
tugal fica ainda mais vulnerável face
aos desenvolvimentos exteriores. "A
economia portuguesa está, hoje,mais exposta a choques com origem
externa, em particular, decorrentes
do comércio internacional", alertaoNECER
Certo é que "desta forma, Por-
tugal aproxima-se dos países maisdesenvolvidos também ao nível des-
te importante indicador", destacam
os economistas da Católica. Em paí-ses como a Irlanda, a Bélgica, a Di-namarca, a Suíça, o Luxemburgo,por exemplo, o grau de abertura
tambémjá supera os 100%.Este indicador da economia
pode ser dividido em dois: a inten-sidade exportadora e a penetraçãodas importações. Em Portugal, o
peso das exportações no PIB é mais
baixo, ainda que ligeiramente, do
que o peso das importações.É essa diferença que tem levado
à deterioração da balança comer-cial, outro dos potenciais efeitos co-laterais da abertura ao exterior. No
primeiro trimestre de 2019, Portu-
gal voltou a registar um saldo co-mercial negativo (-1% do PIB), o
que não acontecia há sete anos.
Novo investimentocompensa desgasteEste não foi o único marco do arran-
que de 2019. Também há sete anos
que o novo investimento não com-
pensava o desgaste do capital exis-
tente. Foi isso que se verificou no
primeiro trimestre de 2019, perío-do em que o investimento cresceude forma significativa (17,8%).
"É também de assinalar o re-
gresso da formação bruta de capital
líquida de amortizações ao terreno
positivo (0,2% do PIB), após umlongo interregno de sete anos", des-
tacam os economistas da Católica.Desde 2012 que o investimento lí-quido tinha sido negativo no total da
CATÓLICA VÊ PIBA ACELERAR
Os economistas da Universidade Ca-
tólica consideram que o investimen-
to vai manter o "crescimento inten-
so" no segundo trimestre, o que le-
vará a uma aceleração do PIB. A es-timativa de crescimento económico
no 2.° trimestre é de 0,6% em ca-
deia e de 1,8% em termos homólo-
gos. A previsão do NECEP não vai ao
encontro de outras previsões, como
é o caso do ISEG e do BPI que ante-
cipam uma manutenção do ritmo de
crescimento ou do Barclays que an-
tecipam uma travagem. Já para aZona Euro, a Católica prevê uma tra-
vagem de um crescimento de 0,4%em cadeia (1,2% em termos homó-
logos) no primeiro trimestre para0,3% (1,1%) no segundo trimestre.
economia e, em particular, nas ad-
ministrações públicas.Em termos simples, o que isto
significa é que o investimento feitoentre janeiro e março deste ano foisuficiente para compensar o consu-
mo de capital fixo (desgaste do in-vestimento passado). Este indica-dor é difícil de calcular, mas repre-senta a depreciação dos ativos,como por exemplo o desgaste nor-mal ou a obsolescência de máqui-nas ou outros equipamentos.
"Esta evolução recente do inves-
timento é especialmente importan-te porque o agregado não recuperoucompletamente das fortes quebrasregistadas entre 2008 e 2013, estan-
do, ainda, e apesar da forte recupe-ração do I.° trimestre, cerca de 27%abaixo do nível de 2001", argumen-tam os economistas da Católica que
antecipam uma "dinâmica muito fa-
vorável" do investimento nos pró-ximos meses. ¦
Comissão Europeiamantém previsão doPIB para PortugalA Comissão Europeia manteveinalterada a previsão de crescimen-
to da economia portuguesa em1,7%, tanto para 2019, como para2020. Apesar de o primeiro trimes-tre do ano ter sido melhor, no con-
junto a projeção não se altera e a ari-
vidade deve manter-se no nível jáanunciado. As previsões de verão fo-
ram publicadas esta quarta-feira.A projeção da Comissão para
Portugal continua assim ligeira-
mente abaixo da meta de cresci-mento definida pelo ministro das
Finanças. Mário Centeno aponta
para um aumento de 1,9% do PIB,um valor que fica também acima da
previsão do FMI, OCDE, Banco de
Portugal eCFP.No documento, os peritos co-
munitários explicam que "o cresci-
mento do PIB deverá abrandar
marginalmente ao longo do hori-zonte de projeção, refletindo maio-ritariamente um ambiente externomenos favorável". "O crescimentodo consumo privado deverá abran-
dar, enquanto o investimento deve-
rá acelerar, impulsionado pelo ciclo
de absorção dos fundos da UniãoEuropeia", antecipa a Comissão.
Em termostrimestrais, o perío-do de janeiro a março deverá tersido o mais forte, com um cresci-mento de 0,5% face ao final de 2018,e de 1,8% em termos homólogos.Para o resto do ano, a Comissão an-
tecipa um ritmo de crescimento de
0,4% a cada trimestre.
Porém, Portugal vai continuar aexibir um ritmo de crescimento li-geiramente mais dinâmico que o da
média da Zona Euro. A média dos
países da moeda única vai travar no
segundo trimestre e manter-se emtorno dos 0,3% daí em diante.
Bruxelas mais pessimistacom Zona Euro em 2020A Comissão Europeia continua a
prever que a Zona Euro cresça 1,2%este ano, tal como previa na prima-vera, mas reviu em baixa o cresci-
mento económico de 2020 de 1,5%
para 1,4%, em termos homólogos.Já aprevisão do PIB para o conjun-to da União Europeia manteve-seem 1,4% em 2019 e 1,6% em 2020.
Esta revisão em baixa é susten-
tada pelo aumentar dos "riscos des-
cendentes" que afetam a economiamundial. "Um prolongamento da
confrontação económica entre os
EUA e a China, conjugado com a
elevada incerteza à volta da políticacomercial norte-americana, pode-rá prolongar a atual desaceleraçãodo comércio global e da indústria,afetando outras regiões e setores",
explica a Comissão, assinalando
que há o perigo de haver "disrupçõesnos mercados financeiros".
Atensão comercial é o principalrisco identificado por Bruxelas, mas
as tensões no Médio Oriente e as
suas consequências na cotação do
petróleo assim como a incerteza re-lacionada com o Brexit, a travagemno setor industrial europeu e a di-
minuição da confiança dos agenteseconómicos também são fatores
que penalizam a economia.Ainda assim, o PIB em 2020
deverá crescer a um ritmo superiorao de 2019 porque nesse ano há
mais dias de trabalho. Nos dois anos,a Comissão vê todos os países a
crescer, ainda que Itália fique pertoda estagnação em 2019 (0,1 %).
Parajá, tem sido aprocura inter-na a beneficiar oPlßdaZona Euro,o que também é fruto da política or-
çamental de alguns Estados-mem-bros que aumentou o rendimento
disponível dos cidadãos. "Aprocu-ra interna, particularmente no con-
sumo privado, continua a ser o mo-tor do crescimento económico da
Europa com ajuda de uma contínua
melhoria do mercado de trabalho",destaca Bruxelas. ¦ mp e tv