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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
CURSO DE FISIOTERAPIA
PERFIL DOS PACIENTES COM AFECÇÕES NEUROLÓGICAS
ATENDIDOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA/ADULTO
DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO/HUSF E ATUAÇÃO DA
FISIOTERAPIA
Bragança Paulista
2010
ANA PAULA IG. ABATEPAULO
FABIANE MARLUCE DE LIMA
PERFIL DOS PACIENTES COM AFECÇÕES NEUROLÓGICAS
ATENDIDOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA/ADULTO
DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO/HUSF E ATUAÇÃO DA
FISIOTERAPIA
Monografia apresentada ao Curso de Fisioterapia
da Universidade São Francisco, como requisito
parcial para obtenção do titulo de Bacharel em
Fisioterapia.
Orientadora Prof.ª M.ª: Gianna C. Cannonieri
Nonose
Bragança Paulista
2010
ABATEPAULO, Ana Paula Ignácio; Lima, Fabiane Marluce. Perfil dos pacientes com afecções
neurológicas atendidos na unidade de terapia intensiva/adulto do Hospital Universitário
São Francisco e atuação da fisioterapia. Trabalho de Conclusão de Curso. 2010. Curso de
Fisioterapia da Universidade São Francisco. Bragança Paulista.
Prof.ª M.ª: Gianna C. Cannonieri Nonose (Orientadora Temática)
Universidade São Francisco
Prof.ª Aline Maria Heidemann (Examinadora)
Universidade São Francisco
Prof.ª Drª: Rosimeire Simprini Padula (Orientadora Metodológica)
Universidade São Francisco
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus por nos abençoar com o dom para nos dedicar a tão sonhada missão de
ajudar a reabilitar pessoas. Por tantas vezes nos acolher em teus braços nas épocas mais difíceis
dos semestres, por nos dar coragem e intrepidez para superar medos e timidez.
Aos colegas que cursaram conosco essa jornada dividindo angústias e expectativas nesses quatro
anos de estudos.
Aos mestres que dividiram seus conhecimentos, colocando em nossa frente provocações e
desafios que nos fizeram ampliar nossas capacidades.
Aos funcionários da Unidade de Terapia Intensiva do HUSF, em especial a Dr. Giovana Colozza
Mecatti, pelo apoio em nossa coleta de dados e aos funcionários do setor de arquivo, o nosso
muito obrigada pela colaboração e paciência.
A nossa orientadora Prof.ª M.ª: Gianna C. Cannonieri Nonose pelas orientações, pela
perseverança, pela crença e incentivo, fundamentais para essa pesquisa.
Pela paciência de nossas mães, que por tantas vezes contaram com nossa ausência em reuniões
familiares e se orgulharam com nossa dedicação ao estudo, por todas as vezes que estivemos tão
perto, nos mantendo distantes, pelas palavras de apoio e por fazer de nosso sonho uma realização
especial para a vida deles.
Aos que fizeram parte de nosso convívio e muitas vezes se depararam com nossa aparência
cansada. Obrigada a àqueles que com paciência suportaram e nos encorajaram na caminhada
acadêmica e no trabalho.
E a todos que de alguma maneira compartilharam nossos sonhos, preocupações e conquistas, o
nosso muito obrigada.
“Não há ensino sem pesquisa e
pesquisa sem ensino. Esses quefazeres que se
encontram um no corpo do outro. Enquanto
ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino
porque busco, porque indaguei, porque indago e
me indago. Pesquiso para constatar, constatando
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso
para conhecer o que ainda não conheço e
comunicar ou anunciar a verdade.”
Paulo Freire
RESUMO
Estudos epidemiológicos são importantes, pois, geram informações para a equipe de terapia
intensiva sobre as condições que se encontrara uma unidade de terapia intensiva (UTI). A
informação em saúde deve ser compreendida como um instrumento para conhecer a realidade
sócio-econômica, demográfica e epidemiológica, sendo eficaz no planejamento, gerência,
organização e avaliação dos vários níveis que integram a UTI, além de ser importante norteadora
na melhora desse atendimento especializado de alto custo. As informações sobre taxas e causas
de hospitalização são importantes indicadores da qualidade da assistência oferecida,
possibilitando o incremento de ações capazes de reduzir o tempo de internação hospitalar
propiciando assim menor risco ao paciente e menor gasto para instituição. Dada a importância do
conhecimento sobre o perfil dos pacientes atendidos por um serviço de UTI, procurou-se, através
da análise de dados, traçar um perfil, com dados como sexo, média de idade, tempo de internação,
necessidade de ventilação mecânica e evolução clínica, dos pacientes internados na Unidade de
Terapia Intensiva do Hospital Universitário da Universidade São Francisco/Campus Bragança
Paulista, com foco no paciente com afecções neurológicas, no período de julho a dezembro de
2009. Verificou-se que dos 198 pacientes internados 72 possuíam afecções neurológicas como
hipótese diagnóstica, desses 74,6% eram do sexo masculino e 65,7% tinham menos de 60 anos.
As afecções neurológicas mais encontradas foram o traumatismo crânio-encefálico (TCE)
(49,3%), tumor cerebral (19,4%), acidente vascular cerebral (AVC) (14,9%), clipagem de
aneurisma cerebral (6%), sendo o TCE mais freqüente em homens com menos de 60 anos e em
mulheres com mais de 60 anos. O tempo médio de internação foi de 6,4 (±6) dias. 77,6% desses
pacientes evoluíram com alta do setor. O uso de suporte ventilatório ocorreu por, em média, 5,5
(±5,9) dias. 83,6% desses pacientes receberam atendimento fisioterapêutico, sendo que as
manobras mais usadas foram as que visavam prevenir afecções respiratórias e os exercícios
passivos. O estudo concluiu que houve uma prevalência de 36% de pacientes com afecções
neurológicas internados no período estudado, sendo em sua maior parte, homens com menos de
60 anos que necessitaram de suporte ventilatório e receberam atendimento fisioterapêutico
visando, principalmente, evitar ou minimizar complicações respiratórias.
Termos-chave: UTI adulto. paciente neurológico. fisioterapia intensiva. perfil epidemiológico do
paciente neurológico.
ABSTRACT
Epidemiological studies are important because they generate information for the intensive care
team about the conditions they encountered in an Intensive Care Unit (ICU). The health
information must be understood as a means of evaluating the socio-economic, demographic and
epidemiological. Being effective in planning, management, organization and evaluation of the
various layers that make up the ICU, besides being important in guiding improvement in this
high-cost specialized care. Information on rates and causes of hospitalization are important
indicators of quality of care provided, enabling the increase of actions that reduce the length of
hospital stay thereby providing less risk to the patient and lower cost to the institution. Given the
importance of knowledge about the profile of patients attending a service in the ICU, it was
through data of analysis, draw a profile, with data such as gender, average age, length of stay,
need for mechanical ventilation and development clinic, patients admitted to the Intensive Care
Unit of University Hospital São Francisco, Bragança Paulista Campus, focused on patients with
neurological disorders in the period from July to December 2009. It was found that 72 of the 198
hospitalized patients had neurological disorders as a diagnosis, of these 74.6% were male, 65.7%
were under 60 years, the neurological disorders were the most frequent traumatic brain injury
(TBI) (49.3%), brain tumor (19.4%), cerebrovascular accident (CVA) (14.9%), cerebral
aneurysm clipping (6%). As the TBI with more common in men under 60 and women over 60
years, coinciding with the percentage of brain tumor in these patients. The average length of stay
was 6.4 (± 6) days. 77.6% of these patients developed high in the ICU. The ventilatory support
occurred on average 5.5 (± 5.9) days. 83.6% of these patients received physical therapy, and the
maneuvers used were more aimed at preventing respiratory infections and passive exercises. The
study concludes that there was prevalence of patients with neurological disorders during the study
period, being mostly men under 60 years who required ventilatory support and receiving physical
therapy aimed, mainly, to avoid or minimize respiratory complications.
Term-key: adult ICU. neurological patient. intensive physical therapy. profile epidemiologist of
the neurological patient.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Divisão dos pacientes de acordo com o tipo de afecção.......................................23
Gráfico 2- Divisão do total de pacientes por gênero...............................................................24
Gráfico 3- Evolução total dos pacientes................................................................................23
Gráfico 4- Divisão dos pacientes com afecções neurológicas por gênero..............................26
Gráfico 5- Faixa etária dos pacientes com afecção neurológicas...........................................26
Gráfico 6- Distribuição das afecções Neurológicas................................................................28
Gráfico 7- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário.................................29
Gráfico 8- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário-Sexo
masculino.................................................................................................................................30
Gráfico 9- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário-Sexo
feminino...................................................................................................................................31
Gráfico 10- Evolução dos pacientes com afecções neurológicas...........................................33
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Faixa etária dos pacientes com afecções neurológicas...........................................27
Tabela 2- Tempo de internação na UTI dos pacientes com afecções neurológicas.................32
Tabela 3- Tempo de uso de ventilação mecânica invasiva.....................................................29
Tabela 4- Condutas respiratórias mais utilizadas....................................................................35
Tabela 5- Condutas motoras mais utilizadas..........................................................................35
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AVC: Acidente Vascular Cerebral
HUSF: Hospital Universitário São Francisco
ICHC: Instituto Central de Hospital das Clínicas
MHB: Manobra de Higiene Brônquica
MRP: Manobra de Reexpansão Pulmonar
OMS: Organização Mundial da Saúde
PV: Padrão Ventilatório
TCE:Traumatismo Crânio-Encefálico
TU Cerebral: Tumor cerebral
UTI: Unidade de Terapia Intensiva
VM: Ventilação Mecânica
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................13
1.1. Importância do estudo do perfil dos pacientes atendidos na
Unidade de Terapia Intensiva.........................................................................................13
1.2. Papel da Fisioterapia na UTI..........................................................................................14
1.3. Atuação do Fisioterapeuta no Paciente com Afecções Neurológicas em Terapia
Intensiva............................................................................................... ..........................16
2. OBJETIVOS....................................................................................................................18
2.1 Objetivo geral..................................................................................................................18
2.2 Objetivos específicos.......................................................................................................18
3. MÉTODO.........................................................................................................................19
3.1. Desenho do estudo............................................................................... ..........................19
3.2. Local do estudo..............................................................................................................19
3.3. Critérios de inclusão............................................................................ ..........................19
3.4. Critérios de exclusão......................................................................................................19
3.5. Materiais ........................................................................................................................20
3.6. Procedimento....................................................................................... ..........................20
3.7. Análise dos dados................................................................................ ..........................20
4. RESULTADOS................................................................................................................22
4.1.Perfil geral dos Pacientes................................................................................................22
4.2.Perfil dos Pacientes com afecções Neurológicas............................................................25
5. DISCUSSÃO....................................................................................................................36
6.CONCLUSÃO...................................................................................................................41
REFERÊNCIAS...................................................................................................................42
ANEXOS...............................................................................................................................50
13
1.INTRODUÇÃO
Existem registros da existência de unidades de terapia intensiva desde o século XIX, que
se tornaram mais evidentes a partir de 1969, de acordo com Rogers et al (1972). Para Ferrari e
Autílio (2004) a unidade de terapia intensiva (UTI) vem passando por transformações desde sua
criação em meados de 1926 nos Estados Unidos.
Segundo Nácul (2004) o conceito de UTI teve início em 1852, época de guerra na
Europa, quando uma enfermeira de nome Florence Nithtingale toma a iniciativa de agrupar
pacientes mais graves com intuito de lhes prestar uma vigilância mais intensa. A primeira UTI
dos Estados Unidos da América do Norte foi criada em 1923, possuía 3 leitos destinados à
pacientes no pós-operatório de neurocirurgia. O surto de poliomielite na Dinamarca, em 1952,
deu inicio ao desenvolvimento da ventilação mecânica.
Sarmento, Vega e Lopes (2006) afirmam que o conceito de terapia intensiva possui
registros na Dinamarca, no período do grande surto de poliomielite em 1952, o que trouxe a
necessidade da criação da ventilação mecânica. Mais tarde, este conceito foi também aplicado aos
pacientes no período pós-operatório ou que necessitassem de cuidados específicos que não
pudessem ser supridos em outras unidades do hospital.
1.1 Importância do Estudo do Perfil Epidemiológico dos Pacientes Atendidos
na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
Estudos epidemiológicos são importantes na medida em que geram informações para a
equipe de terapia intensiva sobre as principais condições que encontraram em uma UTI, por
exemplo, a freqüência das doenças, e servem de guia para o tratamento de pacientes fornecendo
dados sobre as relações de causalidade (Martin, 2006).
14
A informação em saúde, onde se realiza levantamento das doenças, da evolução clínica,
do tempo de internação, do aproveitamento da UTI, entre outras informações importantes, deve
ser compreendida como um instrumento para conhecer a realidade sócio-econômica, demográfica
e epidemiológica na qual a equipe de saúde se insere. Também é eficaz para planejar, gerenciar,
organizar e avaliar os vários níveis que integram a UTI, além de ser importante pela possibilidade
de orientar melhorias nesse atendimento especializado de alto custo (Corullón, 2007). Os gastos
de um hospital estão em torno da hospitalização de seus clientes. Caetano et al (2002) relatam
que as informações sobre taxas e causas de hospitalização são importantes indicadores da
qualidade da assistência oferecida, possibilitando o incremento de ações capazes de reduzir o
tempo de internação hospitalar propiciando assim menor risco ao paciente e menor gasto da
instituição.
1.2 Papel da Fisioterapia na UTI
Nozawa et al (2008) relata que a fisioterapia começou a ser inserida na UTI no final da
de 1970, estando esse profissional cada vez mais presente na terapia intensiva. Desde 1980 a
fisioterapia na terapia intensiva vem se tornando especializada no cuidado de paciente crítico. No
início o atendimento era composto apenas por técnicas que visavam o cuidado com a via aérea
artificial, hoje, com a tecnologia, esse atendimento vem se aprimorando com a assistência
ventilatória mecânica invasiva e não invasiva (Azeredo, 2002).
Sabendo das diversas necessidades dos pacientes em unidade de terapia intensiva é
visível a importância do atendimento fisioterapêutico, não só durante o dia, mas também à noite,
sendo que diversos serviços públicos e privados já têm atendimento noturno de fisioterapia. A
inserção de atendimento fisioterapêutico no período noturno em UTI pode reduzir o período de
internação no setor além de diminuir o número de reentubações, sendo esta uma das causas de
pneumonia associada à ventilação mecânica, como também diminui os gastos com antibióticos
(Catarina;Luiz e Silva, 2008).
15
A UTI atende dois tipos de doentes: os de doença grave e os de doença de alto risco. O
doente grave é aquele que apresenta um comprometimento das suas funções vitais, tais como
hemodinâmicas, já o doente de alto risco se apresenta estável, mas momentaneamente pode
apresentar alterações importantes de suas funções vitais como em pós-operatórios (Regenga,
2000).
A fisioterapia esta mais relacionada e responsável pelo cuidado respiratório do paciente
crítico como cuidado com ventilação mecânica invasiva, realizar manobras de higiene brônquica
e reexpansão pulmonar, ou seja, com cuidados para se evitar o acúmulo de secreções e possíveis
infecções respiratórias levando á um aumento do período de internação e gastos. Atua também no
manejo da ventilação mecânica juntamente com o intensivista e nas tomadas de decisões de
parâmetros para o desmame, além de cuidar da função musculoesquelética na prevenção de
encurtamentos, retrações de tendões, vícios posturais entre outras, lembrando da necessidade em
se manter a autonomia e independência do paciente para que assim, quando receber alta
hospitalar, possa voltar a sua rotina com uma menor perda funcional possível. Além disto, tem
um papel fundamental na utilização da ventilação mecânica não invasiva, visando diminuir o
trabalho muscular, melhorar as trocas gasosas e diminuir o uso de sedação e entubações
orotraqueal, evitando suas complicações (Rahal et al, 2005).
Para Brito (2009), destaca-se entre os objetivos da fisioterapia na UTI a melhora da
função pulmonar, o alívio de dores e de sintomas psicofísicos, além de prevenção de
complicações também nos sistemas cardiovascular e neurológico. Deve fazer parte de sua rotina a
preocupação com o respeito à vida humana e com a fragilidade emocional dos utentes, pois, esta
encontra-se intimamente ligada a sua condição física, podendo agir negativamente no seu
processo de adaptação ao setor e em sua relação com a equipe multiprofissional que estará
presente na UTI.
Por isso o fisioterapeuta que atua na UTI deve ser capaz de avaliar e determinar o
atendimento necessário ao paciente avaliando sempre o risco benefício que suas condutas podem
ter sobre o paciente crítico. Tendo sempre um bom relacionamento com toda equipe
16
possibilitando assim um tratamento interdisciplinar que favoreça um bom prognóstico (Azeredo,
2002).
Fica explícita a complexidade do trabalho do fisioterapeuta diante da cobrança pela
efetividade de suas condutas e da necessidade de controlar os riscos ao paciente. Sendo assim, é
imperativa a correta habilitação desse profissional para a sua plena inserção junto à equipe
multiprofissional atuante nas unidades de terapia intensiva (Yamaguti, 2005).
O fisioterapeuta que atua na UTI atende pacientes de diversas áreas como ortopedia,
neurologia, cardiologia entre outras, por isso o compromisso e a responsabilidade de estar sempre
atualizando seus conhecimentos sobre as diversas patologias e procedimentos estando atento às
novas tecnologias que irão fazer parte da rotina da unidade. Segundo Nobre (2004 apud Zorzi
2008) uma UTI pode conter uma diversidade de pacientes (UTI geral) ou prestar atendimento
específico.
Causa grande preocupação na equipe que atua neste setor o risco, sempre freqüente, de
contaminação e conseqüente infecção hospitalar. Para Nogueira et al. (2009) o risco de se
contrair uma infecção hospitalar chega a ser 5 a 10% maior para o paciente que se encontra em
uma UTI do que em outros setores do hospital. Oliveira et al. (2009) afirmam que de todos os
casos de infecção adquiridos em um hospital 10 a 25% ocorrem dentro da UTI, graças ao estado
critico dos pacientes e aos vários procedimentos invasivos neles ministrados, incluindo a
ventilação mecânica que pode aumentar de 3 até 10 vezes o risco do paciente adquirir pneumonia.
1.3 Atuação do Fisioterapeuta no Paciente com Afecções Neurológicas em
Terapia Intensiva
Os pacientes neurológicos na unidade de terapia intensiva são pacientes que necessitam
de cuidados adicionais devido à vulnerabilidade do sistema nervoso central.
17
A assistência ventilatória é extremamente importante, sobretudo na fase aguda das
lesões, visando à manutenção da oxigenação cerebral a fim de evitar a progressão das lesões
neurológicas existentes e a ocorrência de novas lesões. Através da monitorização dos parâmetros
hemometabólicos cerebral e hemodinâmico e da otimização da ventilação mecânica busca-se, não
somente a manutenção da vida e estabilização do quadro, mas também proporcionar maior
potencial de recuperação funcional desses indivíduos (Pasini et al., 2007).
O tempo de internação de pacientes com alterações neurológicas tende a ser longo e por
manter-se muito tempo no leito, podem apresentar disfunções cinesio-funcionais. Sendo assim a
fisioterapia neurológica deve estar atenta em proporcionar ao pacientes trocas de decúbito,
evitando úlceras de pressão, proporcionar diversas formas de estimulação sensorial (visual,
auditiva, vestibular, tátil) e iniciar, assim que possível, o treino de equilíbrio e motricidade,
evitando contraturas e deformidades e incentivando o retorno da atividade funcional. (Paraibuna
2004). Desta forma fisioterapia atua com o paciente neurológico com técnicas cinesioterapêuticas
que visão minimizar desordens neurofuncionais. Através dos recursos e técnicas, manter a
consciência tátil e sinestésica, tendo cuidado nas movimentações ativa e passiva, realizar
cuidados de higiene brônquica, aspiração, manter níveis de oxigênio e de monóxido de carbono
adequados, pois o cuidado sistêmico e cauteloso da fisioterapia pode atuar de forma à favorecer
o prognóstico do paciente diminuindo seu tempo na unidade de terapia intensiva, complicações
clinicas e conseqüentemente diminuindo os gastos hospitalares. (Paraibuna, 2004).
Em uma UTI geral, como a do Hospital Universitário São Francisco (HUSF), podemos
encontrar pacientes com diversos diagnósticos e suas particularidades, e através deste estudo
poderemos caracterizar o perfil dessa população. A catalogação dos dados obtidos nesse estudo
permitirá aumentar o conhecimento sobre a população estudada e facilitará a elaboração de
estratégias aperfeiçoem a assistência oferecida.
O presente trabalho busca analisar quais patologias neurológicas mais freqüentes na
unidade de terapia intensiva adulto do HUSF e a atuação da fisioterapia nestes pacientes.
18
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Realizar um levantamento de dados sobre o número total de internações na Unidade de
Terapia Intensiva-Adulto do HUSF e as variáveis sexo, idade, tipo de doença, tempo de
internação e evolução traçando o perfil desses pacientes.
2.2 Objetivos Específicos
Analisar a porcentagem de internação de pacientes com afecções neurológicas na
Unidade de Terapia Intensiva do HUSF, bem como as patologias mais freqüentes, as variáveis
sexo, faixa etária, tempo de internação, necessidade e tempo de uso de ventilação mecânica,
evolução clínica.
Analisar a atuação da fisioterapia na unidade de terapia intensiva em pacientes
neurológicos, enfocando as condutas fisioterapêuticas utilizadas (fisioterapia respiratória/
fisioterapia motora).
19
3. MÉTODO
3.1 Desenho do Estudo
Estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo realizado por meio de análise de
prontuários.
3.2 Local do estudo
O estudo foi realizado no setor de arquivo do Hospital Universitário da Universidade
São Francisco, campus Bragança Paulista.
3.3 Critérios de inclusão
A pesquisa utilizou como critério de inclusão, pacientes que foram admitidos na UTI do
referido hospital, no período de julho a dezembro de 2009, portadores de afecções neurológicas
como hipótese diagnóstica. Nos prontuários dos pacientes deveria constar o diagnóstico clínico,
idade, sexo, data de admissão, data de alta ou óbito na UTI.
3.4 Critérios de exclusão
20
Foram excluídos da pesquisa pacientes com diagnóstico clínico sem confirmação e
pacientes cujos prontuários apresentaram os dados, necessários para essa pesquisa, preenchidos
de forma incompleta.
3.5 Materiais
Os materiais utilizados foram: a ficha de controle de internações da UTI, os prontuários
de pacientes que estiveram internados no setor no período de julho de 2009 a dezembro de 2009 e
a ficha de coleta de dados.
3.6 Procedimento
O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São
Francisco para aprovação( ANEXO I) juntamente com a solicitação, já aprovada do diretor
clínico do HUSF (ANEXO II) para análise dos prontuários dos pacientes, recebendo aprovação
sob o número de protocolo: CAAE: 0046.0.142.000-10.
Em um primeiro momento os dados do controle de internações da UTI adulto foram
coletados e realizada triagem dos pacientes com afecções neurológicas. Posteriormente, a
pesquisa prosseguiu no setor de arquivo do hospital, onde foram coletados os dados desses
pacientes utilizando-se uma ficha de coleta de dados, desenvolvida especialmente para o estudo
(Anexo III).
Por se tratar de pesquisa baseada em análise de prontuários não houve necessidade do
uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, mas, sim de uma justificativa (Anexo IV).
3.7 Análise dos dados
21
Os dados obtidos na ficha de avaliação própria do estudo foram transcritos para o
programa Microsoft Office Excel 2007 e analisados descritivamente, sendo os resultados
apresentados em forma de gráficos e tabelas.
22
4. RESULTADOS
4.1. Perfil Geral dos Pacientes
Dos 198 pacientes internados na UTI adulto do Hospital Universitário da Universidade
São Francisco, campus Bragança Paulista, no período de julho a dezembro de 2009, 72
apresentavam afecções neurológicas como hipótese diagnóstica (36,4%); 48 prontuários eram
referentes a pacientes que pertenciam à clínica de cirurgia geral (24,2%); 32 prontuários eram
referentes a pacientes que pertenciam à clínica médica (16,2%); 28 prontuários eram referentes a
pacientes com afecções cardíacas (14,1%); oito prontuários eram referentes a pacientes com
afecções ortopédica (4,0%); sete prontuários pertenciam a pacientes da clínica de traumatologia
(3,5%) e três prontuários pertenciam a pacientes da clinica de ginecologia e obstetrícia (1,5%)
(Gráfico 1). Dos prontuários que pertenciam aos pacientes neurológicos cinco foram excluídos,
um prontuário porque não apresentou dados referentes ao período pesquisado (segundo semestre
do ano de 2009) e quatro prontuários não se encontravam no setor de arquivo durante a fase de
coleta de dados. Fizeram parte então desta análise 67 prontuários pertencentes aos pacientes com
afecções neurológicas, que foi o alvo deste estudo.
23
Gráfico 1- Divisão dos pacientes de acordo com o tipo de afecção
Entre o total de pacientes internados a média de idade foi de 51(±18,5) anos, sendo que a
idade máxima foi de 92 anos e a idade mínima foi de 14 anos. 64,6% dos pacientes eram do sexo
masculino e 35,4% do sexo feminino (Gráfico 2).
36,4%
14,1%
24,2%
2,5%
16,2%
4,0% 3,5% Neurológicas
Cardiológicas
Cirurgia geral
Ginecológicas/Obstétricas
Clínica Médica
Ortopédicas
Traumatológicas
24
Gráfico 2- Divisão do total de pacientes por gênero
O tempo médio de internação na UTI do total de pacientes foi de 12,8 (±6,9) dias,
variando de 1 a 58 dias de internação. Dos pacientes internados no período estudado, constatamos
que: 146 (73,7%) evoluíram para alta da UTI; ocorreram 41 óbitos (20,7%); seis pacientes (3,0% )
permaneceram internados e cinco (2,5%) foram transferidos do serviço (Gráfico 3).
35,4%
64,6%
F
M
25
Gráfico 3- Evolução do total de pacientes
4.2. Perfil dos Pacientes com Afecções Neurológicas
Ao analisar os pacientes com afecções neurológicas encontramos 50 indivíduos (74,6%)
do sexo masculino e 17 indivíduos (25,4%) do sexo feminino (Gráfico 4).
73,7%
20,7%
3,0% 2,5%
Alta
Óbito
Perm. Int.
Transf.
26
Gráfico 4- Divisão dos pacientes com afecções neurológicas por gênero
A idade média foi de 44 (±19,2) anos, sendo que o sujeito de maior idade possuía 78
anos e o de menor idade possuía 14 anos. 65,7% apresentavam menos de 60 anos e 35,2% mais
de 60 anos (Gráfico 5).
Gráfico 5- Faixa etária dos pacientes com afecções neurológicas
25,4
74,6
F
M
65,7%
34,3%< 60 anos
≥ 60 anos
27
Ao separarmos os pacientes por faixa etária observamos os resultados conforme tabela
abaixo:
Tabela 1-Faixa etária dos pacientes com afecções neurológicas
Em relação às afecções neurológicas encontradas no período estudado, como motivo de
internação no setor, observamos a seguinte disposição entre os pacientes: 33 com traumatismo
crânio-encefálico (TCE) (49,6); 13 com tumor cerebral (19,4%); 10 com acidente vascular
cerebral (AVC) isquêmico/hemorrágico (14,9) e quatro com clipagem de aneurisma cerebral
(6%), as outras patologias menos freqüentes (má formação arterio-venosa cerebral, trauma
raquimedular, neuropatia periférica a esclarecer, hidrocefalia, derivação ventricular) que levaram
Faixa etária de pacientes com
afecções neurológicas
n %
De 14 a 19 anos 7 10,5
De 20 a 29 anos 13 19,4
De 30 a 39 anos 9 13,4
De 40 a 49 anos 7 10,5
De 50 a 59 anos 8 11,9
De 60 a 69 anos 12 17,9
Acima de 70 anos 11 16,4
Total 67 100
28
os pacientes a internação na unidade de terapia intensiva ou apareceram como complicações
secundárias, ocorreram em sete sujeitos (10,4%), em um dos sujeitos houve registro de
associação de duas hipóteses diagnósticas, TCE e AVC, porém, neste estudo, não houve análise
deste caso em particular (Gráfico 6).
Gráfico 6- Distribuição das afecções neurológicas
Ao separarmos as afecções neurológicas mais freqüentes entre adultos jovens (abaixo de
60 anos) e idosos (maior igual a 60 anos, segundo OMS) podemos observar que entre os
indivíduos com menos de 60 anos, 27 apresentaram como diagnóstico o TCE (61,4%), seis
tumor cerebral (13,6%) e três AVC (6,8%). Considerando todos os pacientes com mais de 60
anos os dados demonstram que entre os pacientes, seis tinham diagnóstico de TCE (26,1%), sete
possuíam diagnóstico de AVC (30,4%) e sete possuíam diagnóstico de tumor cerebral(30,4%)
(Gráfico 7).
33
1310
47
49,3%
19,4%14,9%
6%
10,4%
TCE TU cerebral AVC Clipagem de aneurisma
Outros
n %
29
Gráfico 7- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário
Considerando todos os pacientes do sexo masculino constatamos que 27 pacientes
possuíam diagnóstico de TCE (54%), nove pacientes possuíam diagnóstico de AVC (18%), oito
possuíam diagnóstico de tumor cerebral (16%). Entre os pacientes masculinos com menos de 60
anos, de acordo com os dados observamos que 24 pacientes possuíam diagnóstico de TCE
(68,6%), dois pacientes possuíam diagnóstico de AVC (5,7%), quatro pacientes possuíam
diagnóstico de tumor cerebral (11,4%). Nos pacientes do sexo masculino com mais de 60 anos
ocorreram três diagnósticos de TCE (20%), sete de AVC (46,7%) e quatro de tumor cerebral
(26,7%) (Gráfico 8).
61,4%
6,8%
13,6%
26,1%30,4% 30,4%
TCE AVC TU cerebral
Total < 60 anos (n 44) Total ≥60 (n 23)
30
Gráfico 8- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário-Sexo masculino
Entre os pacientes neurológicos do sexo feminino seis possuíam diagnóstico de TCE
(35,3%), um possuíam diagnóstico de AVC (5,9%), cinco possuíam diagnóstico de tumor
cerebral (29,4%). Entre os pacientes do sexo feminino com menos de 60 anos a ocorrência foi de
três pacientes com diagnóstico de TCE (33,3%), um paciente com diagnóstico de AVC (11,1%),
dois pacientes com diagnóstico de tumor cerebral (22,2%). Entre as pacientes com mais de 60
anos a ocorrência foi de três pacientes com diagnóstico de TCE (37,5%), o mesmo número de
pacientes com diagnóstico de tumor cerebral, sendo que não ocorreu AVC neste grupo de
pacientes durante o período (Figura 9).
68,6%
5,7%
11,4%20%
43,8%
26,7%
TCE AVC TU cerebral
Homens < 60 (n 35) Homens ≥60 (n 16)
31
Gráfico 9- Distribuição das afecções mais freqüentes por grupo etário-Sexo feminino
O tempo médio de internação dos pacientes com afecções neurológicas no setor foi de
6,4 (±6,0) dias, variando de 1 a 27 dias. 40 pacientes permaneceram internados por menos de
cinco dias (59,7%), 11 pacientes permaneceram internados por um período entre 5 a 10 dias
(16,4%), 10 pacientes permaneceram internados por um período de 10 a 15 dias (14,9%), quatro
pacientes permaneceram internados por um período de 15 a 20 dias (6%) e dois pacientes
permaneceram internados por um período acima de 20 dias (3%) (Tabela 2).
33,3%
11,1%
22,2%
37,5%
0,0%
37,5%
TCE AVC TU cerebral
Mulheres < 60 anos (n 9) Mulheres ≥60 anos (n 8)
32
Tabela 2- Tempo de internação na UTI dos pacientes com afecções neurológicas
Com relação à evolução clínica desses pacientes, os dados demonstraram que 52
pacientes receberam alta durante da UTI (77,6%), 12 pacientes evoluíram para óbito (17,9%),
dois pacientes (3,0%) permaneceram internados no setor e um paciente (1,5%) foi transferido do
serviço (Gráfico 10).
Tempo de internação n %
Até 5 dias 40 59,7
Até 10 dias 11 16,4
Até 15 dias 10 14,9
Até 20 dias 4 6
Acima de 20 dias 2 3
Total 67 100
33
Gráfico 10- Evolução, na UTI, dos pacientes com afecções neurológicas
O estudo verificou que entre os pacientes com afecções neurológicas oito não fizeram
uso de ventilação mecânica invasiva (11,9%), enquanto que o restante dos pacientes fez uso por
em média 5,5 (±5,9) dias. 36 pacientes fizeram uso de ventilação mecânica por até cinco dias
(53,7%); 10 pacientes fizeram uso de ventilação mecânica por até 10 dias (14,9%); oito pacientes
fizeram uso de ventilação mecânica por até 15 dias (11,9%); três pacientes fizeram uso de
ventilação mecânica por até 20 dias (4,4%) e dois pacientes necessitaram de ventilação mecânica
por mais de 20 dias (2,9%) (Tabela 3).
77,6%
17,9%
3,0%1,5%
Alta
Óbito
Perm. Inter.
Transf.
34
Tabela 3- Tempo de uso de ventilação mecânica invasiva
Entre os pacientes neurológicos, 56 (83,2%) receberam atendimento fisioterapêutico. De
acordo com os dados coletados, nas sessões de fisioterapia respiratória as condutas mais usadas
foram: manobras de higiene brônquica (MHB) em 50 dos pacientes (89,3%), aspiração de vias
aéreas em 46 dos pacientes (82,1%), manobras de reexpansão pulmonar (MRP) em 43 dos
pacientes (76,8%) e padrão ventilatório (PV) associado a exercício ativo em 14 dos pacientes
(25%) (Tabela 4); nas sessões de fisioterapia motora as condutas mais usadas foram: exercícios
ativos em 22 dos pacientes (39,3%), exercícios metabólicos em 24 dos pacientes (42,9%) e
exercícios passivos em 44 dos pacientes (78,6%) (Tabela 5).
Uso de VM invasiva (dias) n %
Não usaram 8 11,9
Até 5 36 53,7
Até 10 10 14,9
Até 15 8 11,9
Até 20 3 4,4
Acima de 20 2 2,9
Total 67 100
35
Tabela 4- Condutas respiratórias mais utilizadas
Tabela 5- Condutas motoras mais utilizadas
Condutas n %
MHB 50 89,3
Aspiração 46 82,1
MRP 43 76,8
PV associado exercício de MMSS 14 25
Condutas n %
Exercício ativo 22 39,3
Exercício metabólico. 24 42,9
Exercício passivo 44 78,6
36
5. DISCUSSÃO
O presente estudo analisou, através de revisão de prontuários de pacientes internados na
Unidade de Terapia Intensiva do HUSF, características epidemiológicas dos pacientes em um
período de 6 meses.
Dos 198 pacientes atendidos no período estudado, 72 apresentaram afecções
neurológicas como motivo da internação (36,4%). Carrilho et al (2004) também registraram
prevalência de 26,3% dos pacientes com afecções neurológicas em uma UTI geral do Paraná com.
Já no estudo de Feijó et al. (2006) esta porcentagem ficou pouco acima dos 15% de pacientes
com esse tipo de afecção em uma UTI geral do Ceará, não sendo o tipo de patologia mais
presente. Enquanto Balsanelli et al. (2006) registraram em seu estudo uma porcentagem de 48,3%
de pacientes, a maior parte, com afecções neurológicas em UTI de um hospital escola do estado
de São Paulo, porém, neste estudo os autores coletaram dados apenas de pacientes que passaram
por procedimento cirúrgico.
Os dados aqui apresentados nos mostram que houve predomínio do sexo masculino,
tanto quando consideramos o total de internações (64,6%) quanto se considerarmos apenas as
internações dos pacientes com afecções neurológicas (74,6%), assim como na maioria das
referências consultadas, como o estudo de Padilha et al. (2009) que constataram predomínio de
56,70% de indivíduos do sexo masculino em análise realizada em 4 UTIs do município de São
Paulo. Em seu estudo Beccaria et al. (2009) também registraram predomínio do sexo masculino
com 52,3% das internações em uma UTI do noroeste do estado de São Paulo, a mesma
prevalência, com valor de 56,7% aparece no estudo de Nogueira et al. (2009) que abordou
pacientes em uma UTI geral do município de Fortaleza-CE. É valido ressaltar que o presente
estudo tem uma porcentagem consideravelmente acima dos estudos aqui citados.
O tempo médio de internação dos pacientes neste estudo, considerando o total de
internações no período, foi de 12,8 (±6,9) dias variando entre um e 58 dias. Já entre as pacientes
com afecções neurológicas, o tempo médio de internação foi de 6,4 (±6,0) dias, sendo que a
37
maioria dos pacientes (59,7%) permaneceu internada por até cinco dias, ao contrário do que se
esperava, os pacientes com afecções neurológicas apresentaram uma média de dias de internação
menor que a dos outros pacientes. Comparando o tempo de internação do total de pacientes com
o encontrado nas referências pesquisadas é possível constatar que existe uma variação de acordo
com cada serviço, estando os resultados desse estudo, por exemplo, acima do encontrado por
Ducci et al. (2004) que relatam em seu trabalho um tempo médio de permanência igual a 8 dias
variando de 2 a 52 dias em UTI de um hospital universitário, assim como o estudo de Silva et al.
(2010) com uma média de 8,9 (±10,9) dias, segundo registros de 4 UTIs gerais, ambos os
estudos realizados em hospitais de São Paulo. Resultado com valores acima dos registrados por
este estudo foram citados por Conishi e Gaidzinski (2007) em seu estudo, realizado em dois
períodos de sete dias em UTI geral também de São Paulo, onde o tempo médio de permanência
no setor foi de 17 (±20,4) dias. Oliveira et al. (2010), em estudo sobre UTI adulto de um hospital
universitário em São Paulo, registraram uma média de 8,2 (±10,8) dias para o tempo de
internação na UTI. Não foram encontrados dados específicos sobre o tempo de internação de
pacientes com afecções neurológicas que permita comparações, porém, Abellha et al. (2006) na
Universidade de Porto em Portugal, encontraram uma média de internação de 4,1 dias entre
pacientes de uma UTI geral. O que, mais uma vez, demonstra haver variação entre os estudos
quando comparamos o tempo médio de internação. Garcia et al.(2005) em estudo em uma UTI
geral de SP constataram que 51,7% dos pacientes permaneceram internados por até 5 dias, a
maioria dos pacientes, assim como em nosso estudo.Traquitelli e Ciampone (2004), revelaram
com dados de seu estudo que 72% dos pacientes permaneceram internados por um período de 1 a
4 dias, em uma UTI geral do município de São Paulo. O que comprova que embora haja pequena
variação na média de dias de internação entre os estudos, a maioria dos pacientes permanecem
internado por até 5 dias, o que também foi observado em nosso estudo.
Este estudo registrou que, no referido período, grande parte do total dos pacientes
(73,7%), sem discriminar o tipo de afecção, evoluíram com alta do setor enquanto 20,7%
evoluíram com óbito, 3% permaneceram internados na UTI e 2,5% foram transferidos do serviço,
enquanto que entre a população foco do estudo encontramos uma porcentagem de 77,6% altas,
17,9% óbitos, 3% de permanência na UTI e 1,5% transferências do serviço. Não temos dados
38
sobre a porcentagem alta/óbito de paciente neurológico em UTIs, porém, no estudo de Nogueira
et al. (2007) a taxa de óbito de 29,7% permaneceu notoriamente abaixo da taxa de alta do setor
na UTI do Hospital Estadual do Grajaú. Também Bitencourt et al. (2007) registraram uma
porcentagem de óbitos igual a 13,6% em uma UTI da Bahia, ou seja, que se manteve abaixo da
porcentagem de altas do setor. Silva (2007), em seu estudo em duas UTIs de São Paulo, registrou
que 79,4% dos pacientes evoluíram com alta do setor. Nascimento (2002) registrou em UTI de
São Paulo a ocorrência de 67,21% de alta entre os pacientes desse setor. Enquanto Ferreira e
Aparecida (2010) registraram uma porcentagem de óbito de 53,97%, superando o número de altas,
no seu estudo que buscou traçar o perfil de pacientes atendidos em uma UTI de Mato Grosso do
Sul. Moraes, Fonseca e Leoni (2005) registraram uma porcentagem de óbitos de 60,6%, em um
período de seis meses em UTI geral do Rio Grande do Sul. . Nogueira et al. (2009) mostrou a
ocorrência de 54,1% de óbitos do pacientes internados em uma UTI pública em Fortaleza-Ceará.
Podemos observar que a relação alta/óbito tende a variar de acordo com a UTI e região estudada,
embora sejam dados relativos a pacientes de UTI geral, ou seja, não são específicos de pacientes
neurológicos, essa variação também pode ser observada em outros estudos (Moraes, Fonseca e
Leoni, 2005; Silva, 2007; Nascimento, 2002; Nogueira et al., 2009; Padilha et al., 2009) .
Com relação ao perfil epidemiológico de pacientes com afecções neurológicas
internados em UTIs, constatamos que existe uma grande carência de estudos para que se possa
fazer uma comparação com o estudo aqui apresentado. A idade média desses pacientes foi de 44
(±19,2) anos, variando entre 14 e 78 anos. Siqueira et al. (2010) analisaram uma amostra de 31
pacientes neurológicos de uma UTI geral de Pernambuco e constataram que no período
pesquisado a média de idade dessa amostra foi de 47,61 (±15,99), porém, neste estudo, foram
incluídos apenas pacientes que estavam em suporte ventilatório, já que não se tratava de um
estudo epidemiológico, mas sim de avaliação de dois sistemas de umidificação. Ao dividirmos os
pacientes em dois grupos sendo um de idosos (acima de 60 anos) e outro de não idosos (abaixo
dos 60 anos), percebemos que a maioria dos pacientes se encontra no segundo grupo representado
65,7% dos indivíduos. Também Acuña et al. (2007) registraram em seu estudo, em uma UTI
geral do Acre, predomínio de população com menos de 60 anos representando 62% dos pacientes
avaliados.
39
As afecções neurológicas mais freqüentes no estudo foram: TCE em 49,3% dos
pacientes, TU cerebral em 19,4%, AVC em 14,9% e clipagem de aneurisma cerebral em 6% dos
pacientes. Zorzi et al. (2008) em seu estudo sobre as principais doenças atendidas pela
fisioterapia em UTI geral do Paraná, relatam que o TCE foi a patologia mais freqüente entre
todas as atendidas pelos estagiários do curso de fisioterapia nas duas UTIs que fizeram parte da
pesquisa, sendo o AVC a segunda. Enquanto nos dados do presente estudo a segunda afecção
mais freqüente foi o TU cerebral. Em estudo realizado em UTI geral de Mato Grosso, Alves et al.
(2003), por outro lado, constataram que de todos os prontuários analisados 8,65% traziam
hipótese diagnóstica de AVC, ocupando o primeiro lugar entre as disfunções neurológicas
ocorridas no período de um ano. Os autores dos estudos acima não discriminam as demais
doenças neurológicas.
Relacionando as afecções mais freqüentes com sexo e faixa etária foi possível observar a
prevalência de TCE em pacientes do sexo masculino com menos de 60 anos, enquanto o AVC
ocorreu, na maioria das vezes, em pacientes do sexo masculino, porém, com idade acima de 60
anos. Já entre mulheres com idade abaixo dos 60 anos o TU cerebral foi a patologia mais
freqüente. Piras et al. (2004), analisaram a epidemiologia do TCE em uma UTI geral do Espírito
Santo, constataram que a maioria dos pacientes (87,62%) pertencia ao sexo masculino, sendo que
quando consideraram a idade os autores encontraram prevalência na faixa etária de 15 a 29 anos,
assim como no presente estudo, não houve elevada incidência de TCE em idosos. Martins, Silva
e Coutinho (2003), em seu estudo abordando dados a respeito de pacientes com diagnóstico de
TCE grave em Santa Catarina, também constataram que na população do sexo masculino (85%),
abaixo dos 60 anos (12 a 40 anos) o TCE foi prevalente. Estudando a incidência de AVC em
idosos do Rio de Janeiro, Pereira et al. (2009) não encontro diferença de ocorrência em relação
ao gênero, diferente de nosso estudo que não registrou ocorrência em mulheres acima de 60 anos
no período estudado. Esse fato pode ter ocorrido devido ao curto período de acompanhamento (6
meses). Santos et al. (2001), em estudo sobre tumores do sistema nervoso central em um hospital
do Rio Grande do sul, registraram que 52% dos pacientes com essa patologia eram do sexo
feminino com idade média de 50,2 anos. No estudo aqui apresentado, entre as mulheres com
menos de 60 anos também houve prevalência de tumores.
40
Em relação ao uso de ventilação mecânica (VM) este estudo mostrou que 88,1% dos
pacientes neurológicos fizeram uso de ventilação mecânica, por em média 5,5(±5,9) dias, com
mais da metade dos pacientes (53,7%) mantendo uso por até 5 dias e outros 14,9% por até 10 dias.
Não foram encontrados na literatura dados de pacientes neurológicos em outras UTIS, mas,
Damasceno et al. (2006) em seu estudo sobre ventilação mecânica nas diferentes regiões
brasileiras relata que do total de pacientes internados em 21 UTIs.da região sudeste 58,6%
usaram ventilação mecânica com tempo médio de 11 dias, contrastando com o nosso estudo.
Freitas e David (2003), em estudo que avaliou o sucesso de desmame da VM em um centro de
terapia intensiva (CTI) do Rio de Janeiro, encontraram uma média de 18,93 (±18,39) dias de VM.
Guimarães e Rocco (2006) registraram em seu estudo, em uma UTI do Rio de Janeiro, que 78,4%
dos pacientes fizeram uso de VM por, em média 7 dias. Isso pode indicar que os pacientes com
afecções neurológicas necessitem de maior suporte ventilatório.
Dos pacientes incluídos no estudo 83,2% receberam atendimento fisioterapêutico.
Podemos supor que os que não receberam atendimento encontram-se os pacientes que receberam
alta no primeiro pós operatório, pacientes com quadros clínicos que denotavam maior gravidade
(TCE grave, choque e pacientes que vieram a óbito em 1 dia de internação ou menos). Entre os
pacientes com afecções neurológicas que receberam atendimento fisioterapêutico as condutas
respiratórias mais utilizadas foram: manobras de higiene brônquica, aspiração de vias aéreas,
manobras de reexpansão pulmonar, padrão ventilatório associado a exercício ativo de MMSS. Já,
com relação a fisioterapia motora foram realizados exercícios ativos, exercícios metabólicos e
exercícios passivos. Jerre et al. (2007) relata que as condutas fisioterapêuticas visam minimizar e
prevenir complicações respiratórias e motoras. David (2001) afirma que essas condutas tem
objetivo de prevenir incapacidades, eliminar secreções respiratórias, preservar volume pulmonar,
diminuir trabalho respiratório e prevenir alterações conseqüentes da imobilidade no leito. Ribeiro
(2004) relata serem cada vez maiores as evidências de que a fisioterapia imediata pode
maximizar a recuperação física, tendo como objetivo aperfeiçoar a capacidade funcional e evitar
complicações secundárias. Silva; Maynard e Cruz, 2010 sugerem que a cinesioterapia pode
reverter a fraqueza muscular, diminuir o tempo de desmame da ventilação mecânica e de
internação do paciente crítico.
41
6. Conclusão
Os resultados obtidos nesse estudo permitiram constatar que no período estudado a UTI
do HUSF apresentou um número maior de internações de homens com menos de 60 anos que
evoluíram com alta do setor, sendo que a maioria das afeccções era de ordem neurológica
(36,3%). A doença mais freqüente nessa população foi o TCE, acometendo principalmente os
adultos jovens do sexo masculino. Foi constatado que a atuação da fisioterapia na população
estudada UTI abordou tanto condutas respiratórias quanto motoras sendo que as condutas
respiratórias mais utilizadas foram MHB, acompanhada de aspiração, fundamentais para manter
pérvias as vias aéreas. Já as condutas motoras mais utilizadas foram os exercícios passivos
acompanhada de exercícios metabólicos, realizadas geralmente em pacientes não contactuantes
ou colaborativos e importantes para evitar complicações decorrentes da síndrome da imobilização.
A média de tempo de internação dos pacientes neurológicos foi de cinco dias e 52% fizeram uso
de Ventilação Mecânica. A evolução dos pacientes foi favorável com 73% de alta e 20% de óbito
do total de pacientes internados e 78% de altas quando analisamos somente os pacientes com
afecções neurológicas.
Ficou evidente a escassez de estudos epidemiológicos que busquem caracterizar o
paciente crítico com afecções neurológicas, bem como a abordagem fisioterapêutica específica
para o mesmo. Embora existam estudos que comprovem a importância da fisioterapia nessa
população não foram encontrados dados estatísticos sobre esse atendimento (porcentagem de
pacientes atendidos, número de atendimentos, entre outros), sendo valida a realização de estudos
que tracem o perfil dessa população.
42
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52
ANEXO II ––Solicitação de autorização para coleta de dados dos prontuários hospitalares
Bragança Paulista, 15 de dezembro de 2009.
ILMO Sr Pedro Izzo,
Ana Paula Ignácio Abatepaulo e Fabiane Marluce de Lima, acadêmicas do Curso de Fisioterapia
da Universidade São Francisco, vêm solicitar de Vossa Senhoria, autorização para coletar dados
dos prontuários de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva - Adulto do Hospital
Universitário São Francisco no período de julho a dezembro de 2009, por motivo de Trabalho de
Conclusão de Curso.
Esperando sua preciosa atenção, desde já agradecem e a este subscrevem.
___________________________
Acadêmica: Ana Paula Ignácio Abatepaulo
__________________________
Acadêmica: Fabiane Marluce de Lima
___________________________
Orientadora Temática: Professora Gianna C. Cannonieri Nonose
53
ANEXO III–– Ficha de coleta de dados do paciente
Numero do prontuário:
Sexo: Idade:
Doença:
Tempo de internação:
Fez uso de ventilação mecânica? Sim ( ) Tempo de uso:
Não ( )
Numero de atendimentos de fisioterapia Respiratória/Condutas:
Numero de atendimentos de fisioterapia Motora/Condutas:
Desfecho do caso:
Alta hospitalar? Sim ( ) Não ( )
Óbito? Sim ( ) Não ( )
54
ANEXO IV––Justificativo de não apresentação do Termo de Consentimento Livre
Esclarecido
Bragança Paulista, 12 de março de 2010
Justificativa de não apresentação do Termo de Consentimento Livre Esclarecido
O Projeto de Pesquisa “Perfil dos pacientes com afecções neurológicas
atendidos na Unidade de Terapia Intensiva/Adulto do Hospital Universitário/HUSF e
Atuação da Fisioterapia” refere-se à pesquisa em banco de Dados do Hospital Universitário São
Francisco – HUSF (análise de prontuários).
Sendo assim, comprometo-me a cumprir as normas da resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde relacionado em IV. 1.g. “a garantia do sigilo que assegure a privacidade dos
sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa”.
__________________________
Acadêmica: Fabiane Marluce de Lima
___________________________
Orientadora Temática:
Professora Gianna C. Cannonieri Nonose