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Centro Universitário de Caratinga - UNEC Mestrado Profissionalizante em Meio Ambiente e Sustentabilidade
PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA POPULAÇÃO DO ENTORNO DA
MATA DA EAFSJE-MG.
SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Mestre.
CARATINGA Minas Gerais - Brasil
Junho de 2006
ii
SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES
PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DA POPULAÇÃO DO ENTORNO DA
MATA DA EAFSJE-MG.
Dissertação apresentada ao Centro Universitário de Caratinga, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade para obtenção do Título de Mestre.
Aprovada em: 09 de junho de 2006. _______________________________________ ______________________________ Profª. D. Sc. Maria das Dores Saraiva de Loreto Profª: D. Sc. Pierina German Castelli _________________________________ ___________________________________ Prof. D. Sc. Antônio José Dias Vieira Prof. D. Sc. Leopoldo Loreto Charmelo
(Orientador)
iii
“O ambiente é o homem e o seu lugar. Mais do que isso, é o homem no seu
lugar, no seu entorno e a integração sistêmica que se dá entre o homem e o restante
interativo, com as suas devidas funções orgânicas de auto regulação”
(Oliveira, 1999).
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Dedico àqueles que me fazem ver as cores, flores e amores nos encantos e
nas dores da vida, e que juntos estamos construindo dia-a-dia o futuro que não
é amanhã, e sim agora. Meus filhos - Ângelo Augusto e Luan Caio.
Àquele que acreditou que eu era capaz, me deu força, carinho e amor, é meu
refúgio, meu porto seguro. Meu marido e companheiro pelos caminhos do
mestrado – Nildimar Gonçalves.
Aos meus pais que demonstrando seu amor depositaram em mim confiança e
respeito, com alegria compartilharam minhas conquistas e com apoio
encorajaram-me nas derrotas. Meus pais - Juquita e Aparecida.
Aos meus irmãos pelo apoio, compreensão e incentivo, especialmente à minha
irmã Sidinéia pelas vezes que em minha ausência acalentou e cuidou de meus
filhos.
Aos amigos “mais que demais”, que com companheirismo e força contribuíram
para que essa etapa fosse vencida – Celma, Edmar e Cláudio.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, criador de todas as coisas e detentor de toda verdade, agradeço pelas oportunidades de buscar o meu crescimento humano e espiritual; pela
força, paciência e coragem necessárias nesta caminhada.
À minha família pela compreensão e apoio, sem os quais não seria possível caminhar.
Aos amigos Joaquim, Alba e Isadora que com carinho e muita dedicação nos acolherem em seu lar e nos proporcionaram momentos de conforto,
atenção e muita alegria.
Às amigas e colegas de trabalho, Alcione, Eloísia, Margarida e Rita que por vezes se desdobraram e permitiu-me alcançar os objetivos. Em especial a
Eliane pela contribuição na redação deste trabalho.
A todos os funcionários da EAFSJE-MG, que de uma forma ou de outra participaram dessa etapa de minha vida. A equipe da direção pelo apoio e
incentivo.
A todos aqueles que nas pesquisas contribuíram com suas preciosas informações e apoio.
Aos professores Leopoldo e Jorge Luiz por orientar-me com paciência e
dedicação. Aos demais professores e servidores da Coordenação do Mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade do Centro Universitário de Caratinga,
pela grande contribuição à minha formação profissional.
À aluna do Curso Técnico em Meio Ambiente, Elizabeth pela força no trabalho de campo.
vi
BIOGRAFIA
SIDILENE APARECIDA SILVA GONÇALVES, filha de José Oliveira da
Silva e Maria Aparecida de Almeida Silva, nascida em São João Evangelista,
Minas Gerais em 18 de maio de 1970.
Concluiu o ensino fundamental na Escola Estadual “Josefina Pimenta” e o
2ª grau na Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG e Escola
Estadual “Josefina Pimenta”, São João Evangelista-MG, em 1987. Graduou-se
em Licenciatura em Economia Doméstica no ano de 1993, pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.
Prestou concurso em 1993 para professor contratado na Escola
Agrotécnica Federal de São João Evangelista, atuando até dezembro de 1994.
No final de 1994 prestou concurso público federal para a referida Escola, tendo
sua efetivação ocorrida em janeiro de 1995, desde então, atua como
Professora.
Concluiu os cursos de Especialização - O Processo Ensino Aprendizagem
“LATO SENSU” na Faculdade Clarentianas, Batatais, SP em 1994, e Nutrição
Humana e Saúde na Universidade Federal de Lavras, MG em 2000.
Submeteu-se à defesa de dissertação para obtenção do título de “Mestre”,
no Centro Universitário de Caratinga, MG, em 09 de junho de 2006.
vii
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ações de degradação na Mata da EAFSJE-MG................................. 4
Figura 2: Ações de degradação na mata da EAFSJE-MG................................. 5
Figura 3: Mapa de Localização do Município ..................................................... 8
Figura 4: O Bairro Engenho de Serra e parte da mata da EAFSJE-MG ............ 9
Figura 5: Planta Planimétrica da EAFSJE-MG................................................. 11
Figura 6: Evolução da população rural-urbano no Brasil ................................. 21
Figura 7: Mapa da área de Domínio da Mata Atlântica .................................... 44
Figura 8: Remanescente da Mata Atlântica. .................................................... 47
Figura 9: Área Atual de Mata Atlântica em Minas Gerais................................. 49
Figura 10: Imagem da atual vegetação remanescente de Mata Atlântica no
município de São João Evangelista. ................................................51
Figura 11: Tempo de residência no Bairro Engenho de Serra, São João
Evangelista, 2006.............................................................................56
Figura 12: Aspectos Positivos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção
dos Entrevistados, São João Evangelista, 2006. .............................57
Figura 13: Aspectos Negativos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção do
Entrevistados, São João Evangelista, 2006. ....................................58
Figura 14: Representação da “Mata” pelos moradores do Bairro Engenho de
Serra, São João Evangelista, 2006..................................................60
Figura 15: A Educação Ambiental, na percepção dos moradores do bairro
Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006..............................62
viii
LISTA DE QUADROS Quadro 1 : Uma diversidade de correntes em educação ambiental................. 35
Quadro 2 : Matriz 1- Identificação de problemas sociambientais ..................... 67
Quadro 3: Matriz 2 - Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável ....................................................................... 69
Quadro 4: Matriz 3 - Inter-relações entre problemas e potencialidades........... 70
Quadro 5: Matriz 4 - Seleção de problemas e possíveis soluções................... 71
ix
LISTA DE TABELAS Tabela 1– Área de Domínio da Mata Atlântica................................................. 44
Tabela 2- Remanescente da Mata Atlântica. ................................................... 48
Tabela 3: Faixa etária dos moradores entrevistados, São João Evangelista,
2006. ................................................................................................55
Tabela 4: Nível de escolaridade dos entrevistados, São João Evangelista,
2006. ................................................................................................55
Tabela 5: Ocupação de mulheres e homens, São João Evangelista, 2006. .... 55
Tabela 6: Renda média das famílias do Bairro Engenho de Serra, ................. 57
x
LISTA DE ABREVIATURAS
CEASA Central de Abastecimento
CNUMAD Comissão das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CODEMA Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio
Ambiente
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
EA Educação Ambiental
EAFSJE-MG Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista – Minas Gerais
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
ISA Instituto Socioambiental
MMA Ministério do Meio Ambiente
ONG Organização Não-Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais
PDA Projetos Demonstrativos
PIEA Programa Internacional sobre Educação Ambiental
Pnad Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
xi
PROPACC Proposta de Participação-Ação para a Construção do Conhecimento
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
xii
RESUMO GONÇALVES, SIDILENE A. SILVA. M. S., Centro Universitário de Caratinga, Junho de 2006. Avaliação dos impactos sociais das populações do entorno de áreas de matas nativas. Professor Orientador: Leopoldo Loreto Charmello. Co-orientador: Jorge Luiz de Góes Pereira.
Diante das perspectivas cada vez maiores de extrair da natureza matéria
prima necessária ao desenvolvimento das localidades, têm se verificado que as
reservas florestais, assim como tantos outros ecossistemas, têm sofrido
constantes interferências, provocando a sua degradação. Diante desse fato,
esse estudo procurou diagnosticar os motivos e as formas que levam as
populações localizadas no entorno de matas nativas a utilizarem
inadequadamente os recursos produzidos por elas, especificamente aquelas do
Bairro Engenho de Serra, localizado às margens da mata do campus da Escola
Agrotécnica Federal de São Evangelista-MG. Esta pesquisa teve como objetivo
central à análise dos impactos sociais das populações em relação à
interferência do homem no entorno da mata nativa, visando abordar o papel da
Educação Ambiental na conservação da natureza. Para tanto, procurou-se
construir uma discussão sobre a temática ambiental dentro das Ciências
Sociais em relação sociedade/natureza sob a ótica dos fenômenos
socioculturais. Dessa forma, considerou-se a necessidade de se efetivar um
processo de sensibilização, envolvimento e conscientização dos atores sociais,
optando pela utilização do método PROPACC, um método de capacitação de
xiii
recursos humanos para a Educação Ambiental fundamentado numa concepção
construtivista da aprendizagem, que considera o conhecimento prévio dos
atores e suas experiências. Esse método proporcionou a construção do perfil
desta população, mostrando uma estrutura com características próprias e
autônomas. Após a aplicação do método, constatou-se que no caso específico
do Bairro Engenho de Serra na cidade de São João Evangelista, MG, a
população expressa uma carência no que se refere aos aspectos
socioeconômicos não sendo a falta de formação educacional, a causa da
retirada de recursos naturais da mata, como se imaginava no início desse
estudo, visto que os moradores apresentaram um nível de escolaridade acima
do esperado. Em relação à falta de informação sobre os impactos da não
conservação do ambiente, pôde-se perceber que após orientações sobre a
importância de se preservar a mata nativa e o ambiente ao seu entorno, houve
um despertar dessas pessoas em relação aos seus deveres diante dos
problemas ambientais do bairro e do município, reforçando a necessidade de
se fazer da Educação Ambiental um instrumento de promoção da cidadania
para a preservação dos recursos naturais e do desenvolvimento econômico
com sustentabilidade no município. Sob essa perspectiva aferiu-se que o
caminho está na educação das novas gerações tendo como princípio básico o
que mais se compatibiliza com a realidade da localidade, instituição ou
município.
xiv
ABSTRACT GONÇALVES, SIDILENE A. SILVA. M. S., University Center of Caratinga, June 2006. Evaluation of the social impacts of the populations of the spill of areas of native woodses. Adviser: Prof. DSc Leopoldo Loreto Charmello. Comittee Member: Prof. DSc Jorge Luiz de Góes Pereira.
In front of the every time larger perspectives of extract of the necessary
raw material nature to the development of the places, they have if verified that
the forest reserves, as well as so many other ecosystems, they have been
suffering constant interferences, provoking your degradation. Ahead of this fact,
that study tried to diagnose the reasons and the forms that carry the populations
located in the spill of native woodses use her inadequately the resources
produced by them, specifically those of the Engenho Serra's District, located to
the margins of the woods of the campus of Escola Agrotécnica Federal of São
João Evangelista-MG. This research had as central goal to the analysis of the
social impacts of the populations regarding the man's interference in the spill of
the native woods, aiming board the paper of the Environmental Education in the
preservation of nature. For so much, it tried build a discussion about the
environmental thematic inside the Social Sciences in relation society/nature
under the optics of the sociocultural phenomena. Thus, it considered the need
to if it effect a sensibilizacion process, involvement and actors' social
understanding, opting by the utilization of the method PROPACC, a human
resources training method for the Environmental Education based in a
xv
conception construtivist of the learning, which considers actors' previous
knowledge and her experiences. That method provided the construction of the
profile of this population, showing a structure with own and autonomous
characteristics. After the application of the method, it verified that in the specific
case of the Engenho Serra's District in the city of São João Evangelista, MG,
the population expresses a lack with regard to the aspects socioeconomic not
being the lack of educational formation, the cause of the retreat of natural
resources of the woods, as if it imagined at the beginning of this study, since the
inhabitants introduced an education level above of the waited. Regarding the
information lack on the impacts of the not preservation of the environment, it
could realize that after orientations on the importance of if preserve the native
woods and the environment to your spill, there was one awake of these people
regarding their duties in front of the environmental problems of the district and
of the municipal district, reinforcing the need to if you do of the Environmental
Education a promotion instrument of the citizenship for the preservation of the
natural resources and of the economic development with sustainable in the
municipal district. Under this perspective it checked that the way is in the
education of the new generations having as basic principle that more if
harmonious with the reality of the place, institution or municipal district.
INDICE
Página LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... vii
LISTA DE QUADROS ........................................................................................ viii
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ ix
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................x
RESUMO ............................................................................................................ xii
ABSTRACT ........................................................................................................ xiv
INTRODUÇÃO ......................................................................................................1
1.1. Contextualização do Problema...................................................................1
1.2. Objetivos ....................................................................................................6
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..............................................................7
2.1. Caracterização da Área de Estudo.............................................................7
2.2. Delineamento da Pesquisa.......................................................................11
2.3. Metodologia de Análise: o Método PROPACC.........................................14
REVISÃO DE LITERATURA ...............................................................................16
3.1 Degradação Ambiental e Ação Antrópica.................................................16
3.2 O debate sobre a Sustentabilidade na questão ambiental .......................23
3.2.1 Cidadania, Educação e Desenvolvimento Sustentável. ...........................27
3.3 Educação Ambiental e Consciência Ecológica: O Trabalho Voluntário e
o Meio Ambiente.......................................................................................30
3.4 Mata Atlântica: um Patrimônio da Humanidade........................................41
3.4.1 Minas Gerais e a Mata Atlântica...............................................................48
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................54
3.5 Caracterização do Perfil Socioeconômico dos moradores do Bairro
Engenho de Serra ....................................................................................54
3.6 Percepção sobre o Ambiente dos Moradores do Bairro Engenho de
Serra.........................................................................................................57
3.7 Percepção da Liderança Local .................................................................63
3.8 Matrizes do Diagnóstico Participativo: Os encontros dos “Domingos
Ecológicos” ...............................................................................................65
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................75
RECOMENDAÇÕES...........................................................................................78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................81
ANEXOS .............................................................................................................85
APENDICE..........................................................................................................89
1
INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização do Problema
Desde a chegada das caravelas portuguesas ao Brasil até os dias atuais,
enormes riquezas foram construídas e o desenvolvimento vem, desde então,
acontecendo de maneira progressiva. Entretanto, para isso, o país vem
pagando ambientalmente um preço alto. Um dos principais danos recaiu
principalmente sobre a Mata Atlântica, explorada desde o início da colonização,
através da extração insustentável do pau-brasil no século XVI. Um século mais
tarde esta mesma mata sofre com o desmatamento para dar lugar aos
canaviais. Século após século a Mata Atlântica continuou sendo destruída com
a busca do ouro, a mineração, a agricultura, a pecuária e o extrativismo da
borracha; causando, assim, o desequilíbrio e quase extinção desse
ecossistema1.
Segundo Rocha (2001), as matas representam o mais completo êxito da
biodiversidade e uma exuberante manifestação da biosfera em função de seu
potencial nutritivo bem como pelo volume e diversidade dos habitat’s que
oferece. As matas representam, ainda, elemento regulador essencial ao
equilíbrio ecológico ao desempenhar diversas funções tais como: aumentar a
1 Hoje, se questiona se não estamos vivendo o ciclo da soja, visto as grandes extensões de terra que ela ocupa no serrado brasileiro e no Paraná.
2
capacidade de infiltração do solo e, com isso, garantir a manutenção dos
lençóis freáticos; diminuir as enxurradas e proteger o solo de erosões; servir de
abrigo de animais e plantas que, por sua vez, são materiais da riqueza do
banco de germosplasma do país para a evolução; ajudar a regular o clima;
além de armazenar carbono, reduzindo, assim, o efeito estufa.
Além das funções anteriormente apresentadas, as matas nativas podem
fornecer às populações do entorno, muitas vezes carentes2, recursos naturais
que, na maioria das vezes, se transformam em recursos econômicos.
Entretanto, a maneira como estas populações extraem os recursos naturais
nem sempre é ambientalmente mais correta. Verifica-se, assim, a importância
de que haja uma relação harmônica entre a população e seu meio ambiente,
por meio do desenvolvimento de uma cultura de utilização sustentável dos
recursos naturais. Ou seja, torna-se necessário a formação de um pensamento
ético, social e educacional com relação ao uso que se faz dos recursos que as
matas proporcionam. Recursos estes, chamados renováveis, mas não
inesgotáveis.
Entretanto, para buscar uma relação sustentável e uma mudança de
comportamentos faz-se necessário conhecer os aspectos que condicionam
essa relação. Percebe-se, por exemplo, um grau de subjetividade na maneira
como a problemática ambiental é tratada, tendo os atores envolvidos no
processo, interesses e pensamentos conflitantes, que devem ser considerados,
trabalhados e também negociados, para que possam ser criados criar políticas
e ações coesas e concretas que sejam realmente aceitas pela sociedade
interessada. As mudanças só se tornam realidade quando os atores sociais
tornam-se pró-ativos na busca de bem estar e qualidade de vida para o
ecossistema local.
Dessa forma, analisar as implicações sociais das aglomerações urbanas,
que são estabelecidas no entorno de matas nativas, assume interesse em
função dos impactos causados ao meio ambiente após a criação de um
2 É importante esclarecer que a degradação ambiental não está diretamente ligada à pobreza, numa relação de causa e efeito, mas a forma como determinados grupos sociais se apropriam do meio ambiente. Vários condomínios de luxo em cidades litorâneas têm representado degradação ambiental por estarem em áreas de Mata Atlântica ou reservas florestais. Entretanto, na Reunião da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Rio 92) enfatizou-se a questão de que a ”principal degradação ambiental é a miséria”, tanto econômica como cultural.
3
conjunto habitacional circundante. Para realizar este estudo tomou-se como
base o caso específico da mata do campus da Escola Agrotécnica Federal de
São João Evangelista-MG (EAFSJE-MG). Evidências sobre a realidade do
objeto de estudo mostraram que, após vinte anos da implantação do Conjunto
Habitacional Engenho de Serra, na cidade de São João Evangelista (localizado
no entorno da mata do campus da EAFSJE-MG) a existência de práticas
inadequadas à sustentabilidade das matas nativas, em termos de: a abertura
de caminhos de acesso a seu interior, clareiras provocadas pela retirada de
árvores, desaparecimento de animais nativos, lixo urbano-industrial (sacolas
plásticas e latas de bebidas) jogado em seu interior; além de outros sinais que
demonstram uma relação desconexa entre o homem e o meio ambiente. Uma
confirmação de comportamentos passados de pai para filho, com normalidade
e naturalidade, onde o papel da natureza é servir às necessidades humanas
como a madeira para construir a casa, a lenha no fogão, animais caçados para
servir à mesa, entre outras.
A Figura 1 mostra algumas das ações provocadas pela exploração dos
recursos naturais da mata da Escola, onde as fotos 1A e 1B apresentam a
destruição da cerca e o caminho feito para se ter acesso à mata; enquanto que
a foto 1C trás o corte de árvores, que acabaram abandonadas à margem da
mata; e a foto 1D mostra uma das várias aberturas de clareiras no interior da
mesma.
4
Figura 1: Ações de degradação na Mata da EAFSJE-MG
A Figura 2 trás outras fotos que reafirmam a existência de ações
predatórias no interior e arredores da mata, como por exemplo, na foto 2ª, o
corte de uma árvore e a presença de lixo doméstico em seu interior; na foto 2B,
uma trilha aberta no interior da mata; na foto 2C, retirada de lenha; e na foto
2D, o acúmulo de lixo às margens da mata.
1A 1B
1C 1D
5
Figura 2: Ações de degradação na mata da EAFSJE-MG
Diante desse cenário, observa-se uma necessidade eminente de se
promover ações que levem aos moradores do entorno da mata, a adotarem
comportamentos de mudança em relação à preservação do meio ambiente.
Para tanto, é necessário que se tenha uma nova visão da realidade,
pensamentos, percepções e valores; enfim, uma mudança do pensamento
cartesiano para o pensamento sistêmico. Apesar da sensibilização das
questões ambientais e da criação de políticas de incentivo a preservação do
meio ambiente, ainda há muito que se fazer para produzir mudanças de
mentalidade, condição necessária para a sobrevivência de todos os povos, a
preservação e conservação do meio ambiente (DIAS, 2002).
Nesse contexto, assume função importante a Educação Ambiental, vista
como um processo contínuo que busca sensibilizar as pessoas sobre sua
responsabilidade na preservação do meio ambiente para o pleno exercício de
sua cidadania. Na percepção de Dias (2002: 221),
2A 2B
2C 2D
6
“A Educação Ambiental por ser renovadora induz novas formas de conduta nos indivíduos e na sociedade, por lidar com as realidades locais, por adotar uma abordagem que considera todos os aspectos que compõem a questão ambiental – aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos, ecológicos, científicos e tecnológicos -, por ser catalisadora de uma educação para o exercício pleno e responsável de cidadania, pode e deve ser o agente otimizador de novos processos educativos que conduzam as pessoas por caminhos onde se vislumbre a possibilidade da sua experiência humana”.
A pesquisa teve como pressuposto inicial que a falta de informação, a
baixa escolaridade e o fácil acesso à mata pelos moradores do entorno sejam a
principal razão da relação desconexa entre a comunidade e o meio ambiente, o
que leva as pessoas a adotarem uma conduta ecologicamente incorreta, por
meio de uma relação de posse dos recursos naturais, sendo essa relação
cultural, passada de pai para filho. A hipótese foi estabelecida ao se analisar a
problemática ambiental na mata da Escola, com a implantação do Conjunto
Habitacional Engenho de Serra em seu entorno.
1.2. Objetivos
O presente trabalho objetivou analisar as percepções sobre as relações
que permeiam a interferência do homem do entorno de matas nativas, no uso
dos recursos da mesma, buscando abordar o papel da Educação Ambiental na
conservação da natureza. Especificamente, pretendeu-se: caracterizar o perfil
socioeconômico e examinar as percepções sobre ambiente dos moradores do
entorno da mata do campus da EAFSJE-MG; examinar as percepções da
liderança que detêm o poder de mudança, investimento e promoção de ações
educacionais da localidade; realizar um diagnóstico participativo com os
moradores, em relação às potencialidades e problemas socioambientais da
localidade; elaborar propostas de atividades que dê subsídio à produção de
conhecimentos e realização de ações de Educação Ambiental junto aos
moradores do entorno da mata do campus da EAFSJE-MG.
7
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O plano metodológico acerca da problemática ambiental permite agrupar
esforços de várias áreas do conhecimento, por meio da análise e reflexão da
realidade. Assim, como salienta Moraes (1997), a visão do objeto de pesquisa
e das formas de apreendê-lo derivam do equacionamento mais amplo da
realidade onde o mesmo está inserido; bem como da concepção que se
assume acerca dos movimentos e mudanças dessa realidade.
No estudo em questão procurou-se construir uma discussão sobre a
temática ambiental por dentro das Ciências Sociais; implicando abordar a
relação sociedade/natureza na ótica dos fenômenos socioculturais.
Para tanto, procurou-se caracterizar a área de estudo, delinear a forma de
coleta dos dados; bem como a metodologia de análise.
2.1. Caracterização da Área de Estudo
A área de estudo compreendeu o município de São João Evangelista, que
possui uma extensão de 478,29 km2, com uma população de aproximadamente
15.000 habitantes. Como pode ser evidenciado na Figura 3, o município
localiza-se no Vale do Rio Doce, mais especificamente na Bacia do Rio Suaçuí,
8
próximo aos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, estando a 280 km de Belo
Horizonte e a 140 km de Governador Valadares.
Figura 3: Mapa de Localização do Município
A região da bacia do Rio Suaçuí é de topografia montanhosa, com solos
degradados e de baixa fertilidade na grande maioria das áreas exploradas;
sendo sua estrutura fundiária predominante de pequenas e médias
propriedades.
A principal atividade econômica é a agropecuária, em sua maioria
marcada pela organização de natureza familiar, que é caracterizada pelo baixo
emprego de tecnologia e utilização de insumos, segue-se o setor de serviços,
especialmente o comércio e, em terceiro lugar aparece a indústria,
principalmente a de transformação de produtos oriundos da agropecuária
(especialmente leite).
A mata do campus da EAFSJE-MG constitui um remanescente da Mata
Atlântica, possuindo hoje, aproximadamente 78,17 hactares de mata nativa
9
fechada e de outras pequenas matas, que se encontram entremeadas por
pastagens e áreas utilizadas com cultivos, totalizando aproximadamente 144
hactares. A área da mata faz divisa ao Norte com a Rodovia BR 120
(BH/Capelinha), casas de morada e comerciais e o Bairro Engenho de Serra;
ao sul e ao leste com fazendas, a oeste com loteamento em fase de
implantação, ruas e fazendas.
O foco do estudo está centrado especificamente sobre a mata fechada,
que faz divisa, ao norte com o Bairro Engenho de Serra3, separada apenas
pelo Córrego São João e a leste com uma fazenda, separada pelo Córrego São
Domingos. A Figura 4 evidencia a aproximação do bairro em relação à mata e
à BR 120 (Bh/Capelinha), onde as fotos 4A e 4B mostram a parte mais antiga
do bairro que concentram as casas do Conjunto Habitacional (casas
populares). A foto 4C mostra uma extensão de casas não pertencentes ao
Conjunto Habitacional, mas que hoje integram o Bairro Engenho de Serra; a
foto 4D trás a imagem de parte da mata contornada pela BR 120.
Figura 4: O Bairro Engenho de Serra e parte da mata da EAFSJE-MG
3 O Bairro Engenho de Serra recebeu esse nome por estar situado em terras da Fazenda São João, construída pelos anos de 1835 por Capitão Idelfonso (um dos desbravadores da “Mata do Peçanha”), em cujo local funcionava um engenho que fazia funcionar uma serra.
4A
4C
4B
4D
10
O conjunto habitacional, localizado ao norte da mata, teve sua construção
iniciada em 1982 e povoamento inicial a partir de 1984, numa área doada pela
Prefeitura Municipal que, através de seus representantes, objetivou dar
melhores condições de moradia e qualidade de vida aos futuros moradores do
local. O projeto inicial constituía-se de 120 moradias, destinadas à população
de baixa renda, que não tinham residências próprias ou ocupavam os morros
da cidade, em situações irregulares e com risco de desabamento. Aos poucos
os então moradores do conjunto foram ampliando suas casas, enquanto o
bairro passava por melhorias, como canalização do esgoto sanitário,
iluminação, abastecimento de água tratada, telefone, criação de uma escola de
ensino fundamental, calçamento das ruas, dentre outras. A partir destas
benfeitorias, outros habitantes migraram para o Bairro Engenho de Serra
aumentando de 120 para mais de 300 casas construídas em novos lotes
circundantes à mata que, a exemplo do Conjunto Habitacional, não foram
pautadas em um prévio estudo e avaliação dos impactos ao ambiente.
A Figura 5 mostra a planta planimétrica do campus da EAFSJE-MG com
destaque para as áreas que ainda preservam remanescentes de Mata Atlântica
(cor verde).
11
Figura 5: Planta Planimétrica da EAFSJE-MG
2.2. Delineamento da Pesquisa
Segundo Gil (1991), o delineamento refere-se ao planejamento da
pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo tanto a sua diagramação
quanto à previsão de análise.
Baseando-se nas proposições de Santos (1999), o presente estudo
procurou estabelecer três critérios a serem utilizados para identificar a natureza
12
metodológica dos trabalhos de pesquisa, em termos de: objetivos, coleta de
dados e fontes de informações.
Quanto aos objetivos, optou-se pela pesquisa descritiva, pois a mesma
visa descrever as características de determinada população ou fenômeno, ou
mesmo o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de
técnicas padronizadas de coleta de dados, assumindo em geral a forma de
levantamento (GIL,1991).
Quanto à coleta de dados, foram utilizadas técnicas de levantamento
como o diagnóstico participativo e estudo de caso. O diagnóstico participativo,
segundo Gutiérrez (1993), “é um processo contínuo que gera um conhecimento
que enriquece na medida em que a realidade se transforma”. Segundo Gil
(1991), a técnica de levantamento consiste na interrogação das pessoas cujo
comportamento se deseja conhecer. Para Tachizawa & Mendes (1999, p. 49) o
estudo de caso “é uma análise específica da relação entre um caso real e
hipóteses, modelos e teorias”. O que permite uma análise profunda do objeto
em estudo, visando o exame detalhado do problema.
Para Ludke & André apud Nogueira (2003), o procedimento do estudo de
caso é caracterizado por três fases:
A primeira fase (aberta ou exploratória) é baseada em questões ou pontos
críticos iniciais; que podem ter origem na literatura; ser fruto de observações e
depoimentos feitos por especialistas sobre o problema; do contato inicial com
pessoas ligadas ao fenômeno estudado; ou da especulação baseada na
experiência pessoal do pesquisador. Nesse estudo, a primeira fase está
baseada na observação direta simples e contato com a área em estudo, na
qual pôde se observar um aumento da problemática de extração ilegal dos
recursos naturais na mata; procurou-se, ainda, fazer um registro fotográfico das
“marcas” deixadas pela ação do homem no interior da mata.
A segunda fase tem uma preocupação mais voltada para as
características próprias do objeto de estudo. Os instrumentos usados podem
ser mais ou menos estruturados, as técnicas mais ou menos variadas, embora
a coleta deva ser sistemática.
Na segunda fase do estudo de caso foram aplicadas entrevistas
estruturadas, utilizando-se de questionário (Anexo I) com questões abertas e
fechadas. A amostra correspondente a 35% da população total foi aleatória,
13
buscando-se representantes de 100 moradias circundantes à mata, mais
especificamente, moradores do Bairro Engenho de Serra, com o objetivo de
traçar um perfil dos residentes, sua relação com a mata, como também seu
conhecimento a respeito das questões ambientais. Outra técnica de coleta de
dados foi a entrevista semi-estruturada, cujo roteiro pode ser evidenciado no
Anexo II. Nesse caso, buscou se uma amostra intencional, objetivando ter o
depoimento de liderança local, mais ligada ao assunto em ponto (Diretor da
EAFSJEMG, Prefeito Municipal e Promotor(a) de Justiça); sendo o objetivo
examinar o interesse das partes em buscar projetos que visem à preservação
da mata.
Outro momento da pesquisa, nessa mesma fase, foi a realização de um
diagnóstico participativo, que consistiu de um levantamento da realidade local
feito com um grupo voluntário de moradores do bairro, com o objetivo de
caracterizar os principais problemas da localidade nas áreas social, econômica,
cultural, ambiental e política. Para realização de tal diagnóstico, optou-se por
uma adaptação bem simplificada da metodologia denominada Proposta de
Participação-Ação para a Construção do Conhecimento – PROPACC4, mais
detalhado a seguir, que foi concebida por Medina e Santos (2003).
A terceira fase do estudo de caso compreende a análise e interpretação
sistemática dos dados e suas conclusões. É importante ressaltar que essas
três fases se superpõem em diversos momentos sendo difícil precisar as linhas
que as separam.
De acordo com Santos (1999) as fontes de informações são lugares ou
situações de onde se extraem os dados que se precisa, podendo ser em três
grupos: Campo, laboratório e bibliografia. Nesse trabalho foi usada a pesquisa
de campo, caracterizada pela coleta de dados no local, através da observação
direta simples, além das entrevistas, por serem técnicas adequadas aos
estudos sobre a questão ambiental. 4 Metodologia de caráter participativo para a formação de multiplicadores em Educação Ambiental, formal e não formal.
14
2.3. Metodologia de Análise: o Método PROPACC
Segundo Medina e Santos (2003), o PROPACC é um método de
capacitação de recursos humanos para a Educação Ambiental fundamentado
numa concepção construtivista da aprendizagem, que considera o
conhecimento prévio dos atores, pautado em suas experiências. Na concepção
das autoras, o desenho do método é flexível e a ordem de aplicação das
matrizes pode ser modificada e adequada. O método consiste em uma
reelaboração teórico-prática à luz de três grandes perspectivas teóricas
emergentes em que se baseia a EA, a saber:
• O construtivismo num sentido amplo de construção do conhecimento e dos
processos de aprendizagem individuais e sociais;
• A concepção de uma perspectiva complexa da realidade, do conhecimento
e dos processos de ensino aprendizagem;
• A teoria crítica que supera a visão técnica e instrumental na busca pela
construção de novas formas de racionalidade.
Considerando a necessidade de se efetivar um processo de
sensibilização, envolvimento e conscientização dos atores sociais
caracterizados como objeto de estudo, optou-se pela utilização do método
PROPACC, sendo necessário adaptá-lo ao objetivo proposto de analisar sobre
o conhecimento e expectativas dos moradores do Bairro Engenho de Serra na
cidade de São João Evangelista-MG.
O método consiste na elaboração e reelaboração coletiva de doze
matrizes, onde as seis primeiras compõem o módulo I e as demais o módulo II.
Entretanto, diante da adaptação realizada, foram utilizadas apenas as quatro
primeiras matrizes, e as mesmas foram resumidas visando focar apenas o
município e o bairro em estudo.
As matrizes (sem modificações), utilizadas para o diagnóstico proposto,
são apresentadas a seguir:
• Matriz 1 – Identificação de problemas socioambientais: permite a análise e o diagnóstico sobre os problemas ambientais causados pelo modelo de desenvolvimento adotado pela atual sociedade, nos níveis: global, nacional, regional e local.
15
Matriz 1- Identificação de problemas socioambientais GLOBAIS NACIONAIS REGIONAIS LOCAIS
• Matriz 2 – Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável: permite a identificação das potencialidades de desenvolvimento
sustentável nos diversos níveis, não ficando a questão ambiental
exclusivamente como problema.
Matriz 2: Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável GLOBAIS NACIONAIS REGIONAIS LOCAIS
• Matriz 3 – Matriz de inter-relações: consiste em uma primeira
síntese onde se estabelece as inter-relações dos problemas e/ou
potencialidades, em busca de suas causas reais, a fim de construir uma visão
ampliada e crítica da assunto.
Matriz 3: Inter-relações
• Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções: é a segunda
síntese que possibilita a priorização e seleção de problemas socioambientais e
o exercício de identificação de possíveis soluções, além de suas inter-relações
verticais e horizontais.
Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções Seleção de
cinco problemas regionais
Possíveis soluções
Identificação de dez
problemas estaduais
Possíveis soluções
Inter-relações entre eles
16
REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura foi estruturada em função dos objetivos propostos,
em termos de: degradação ambiental e ação antrópica; o debate sobre a
sustentabilidade na problemática ambiental e sua associação com a educação
e cidadania; a Educação Ambiental e conscientização ecológica; e a questão
da Mata Atlântica.
3.1 Degradação Ambiental e Ação Antrópica
Segundo Lucci et al. (2003), o homem primitivo para sobreviver em nosso
planeta precisou aprender a superar grandes desafios, afinal era pequeno
demais para enfrentar a força de grandes caçadores como o tigre e o leão.
Assim, a saída encontrada pela espécie humana foi viver em sociedade. A vida
em grupo proporcionou-lhe condições de realizar grandes caçadas e então
sobreviver e evoluir até se tornar dominante. Entretanto, os problemas não
terminaram com o crescimento do grupo, pois os alimentos eram cada vez
mais escassos. Esses foram apenas os primeiros problemas ligados às
questões ambientais, o homem evoluiu dominando o fogo, as técnicas de
17
plantio e inventou máquinas explorando a natureza e disseminando a poluição
e a exploração irracional dos recursos naturais.
Entre os principais problemas ambientais causados pela ação humana,
Rocha (2001) destaca:
a) A água potável está cada vez mais rara. A ausência de mecanismos de
conservação do solo deteriora os grandes mananciais e o desmatamento leva
a seca às nascentes. Além do assoreamento e da erosão, os rios transformam-
se em gigantescos esgotos a céu aberto;
b) A fauna brasileira com características endêmicas sofre os efeitos do
desmatamento, o que reduz cada vez mais seu “habitat” natural para dar lugar
à pecuária, agricultura, áreas urbanas, extração de madeira entre outros; o
ambiente aquático também é afetado pela drenagem das áreas pantanosas,
assoreamento de rios e córregos, disposição de efluentes industriais e
domésticos em corpos hídricos. Outro problema enfrentado pela fauna
brasileira é a caça predatória que, apesar de proibida, ainda está sendo
realizada e o comércio de animais silvestres praticado clandestinamente.
c) A flora assim como a fauna está intensamente afetada com as
alterações de seu ecossistema, causadas pelas atividades humanas que
resultam em poluição do solo, da água e do ar, além do comércio ilegal.
Ainda Rocha (2001) afirma que a pior deterioração com relação aos
vegetais é encontrada no desmatamento indiscriminado (vegetações arbustivas
e arbóreas) em várias partes do mundo, especialmente no Brasil, que segundo
dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação -
FAO (1993), no período de 1981 e 1990, foi o país mais afetado pelo
desmatamento perdendo nesse período 3,6 milhões de hectares de florestas.
Outro sério problema ambiental em relação à ação humana tem sido o
crescimento urbano, muitas vezes sem planejamento se dá de maneira
desordenada. Em todo planeta, segundo Franco (1999), a humanidade migrou
para as cidades, passando de menos de 5% de urbanos existentes no início do
século XVIII para metade da humanidade localizada nas pequenas e grandes
cidades no início do século XX. Segundo dados do IBGE (2001), mais de 80%
da população brasileira reside em zonas urbanas, que, por sua vez, não se
estruturaram para recebê-la, formando assim as periferias das cidades
18
grandes, que não oferecem acesso ao mínimo de condições de vida, trazendo
conseqüências negativas aos biomas naturais. Os problemas ambientais
resultantes da aglomeração humana são interligados e interdependentes e
afetam as condições de sustentabilidade do planeta. A urbanização
desordenada há muito vem fazendo parte das pautas de diversos encontros ou
reuniões internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade, como na
Conferência de Estocolmo (1972), na Comissão de Brundtland (1983), na Rio
92 (1992), na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e
a Habitat II (1996). Entretanto o problema continua assolando cidades de vários
países. A realidade é que as cidades continuam crescendo e com elas o
aumento do consumo dos recursos naturais. Segundo Dias (2002) as grandes
cidades consomem 75% dos recursos naturais do planeta. Como conseqüência
contribui com a perda significativa da qualidade ambiental, principalmente
relacionado aos recursos hídricos, uma vez que o crescimento das cidades vai
“espremendo” os cursos d’água, poluindo e desprotegendo as nascentes com o
corte das árvores.
A urbanização desordenada se tornou um dos grandes problemas das
grandes cidades. Entretanto, nas pequenas cidades problemas semelhantes
são também comuns, tais como o crescimento desordenado, ocupação de
espaços sem planejamento ou avaliação dos possíveis impactos, empurrando
as classes menos favorecidas para áreas sem infra-estrutura adequada,
acentuando cada vez mais as diferentes camadas sociais. A falta de
planejamento e avaliação na criação de áreas urbanas coloca em risco áreas
naturais, aguçando o desequilíbrio da relação homem-natureza.
Para Franco (1999), conflitos como estes em pequenas aglomerações ou
em megalópoles que se expandem cada vez mais, vão levar à necessidade de
pensar, conceber e operar sistemas de gestão ambiental dos espaços urbanos,
para que cada cidadão tenha seus direitos respeitados, como descrito no Art.
225 da Constituição Federal (1988):
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
19
As cidades representam uma forma de organização socioespacial
complexa, diferentes em todas as partes do mundo, que guardam em sua
“fisionomia” a arquitetura, a história e o modo de ser de seus habitantes.
Contudo, todas possuem a mesma característica de desenvolver atividades
diferentes das que são realizadas no campo. A cidade teve seu surgimento
com as primeiras civilizações da Antiguidade, entretanto foi a partir da
Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, que se deu mais
significativamente o desenvolvimento urbano em todo mundo. A partir de então
as cidades assumiram o papel de comando na economia e no desenvolvimento
(Lucci, et al. 2003). No Brasil, as cidades nascem como produto de
monoculturas, reflexo da forma de colonização caracterizada por uma estrutura
de economia fundamentada na exploração de produtos agrícolas para
exportação (açúcar, algodão, tabaco e café) centralizando o poder econômico
no campo. As cidades se apresentavam como centros administrativos “vazios”.
A vida econômica e política partiram do campo para a cidade, diferentemente
dos paises europeus (MELLO, 2002).
Como fenômeno urbano, as cidades sofreram intensas mudanças no
decorrer da história. Na Antiguidade exerciam função comercial, militar, política
e religiosa. Na Antiguidade Clássica (século V a.C), as cidades localizadas no
continente europeu deixaram um legado cultural muito rico para a cultura
ocidental contemporânea. Do século V ao século XV (feudalismo) as cidades
passaram a ter importância secundária, uma vez que a exploração da
propriedade rural determinava seu caráter especialmente agrário. No século
XIV, a atividade comercial faz ressurgir a vida urbana em áreas pertencentes
aos senhores feudais. No período capitalista comercial (do século XV ao XVII),
uma reorganização da economia atraiu o excedente da mão-de-obra do campo
para as cidades, que já exerciam atividades próprias como o artesanato e a
monocultura (ALMEIDA e RIGOLIN, 2005).
Na segunda metade do século XIX, a industrialização e a urbanização se
consolidaram como um fenômeno mundial, intensificando a partir de então, os
debates sobre os problemas urbanos nos países industrializados que
constataram o fato de que o crescimento econômico conquistado com a
industrialização não levou à melhoria da qualidade de vida a população urbana.
Ao contrário, a miséria e as condições precárias de moradia das classes
20
urbanas menos favorecidas, representavam ameaças constantes de crises
sociais e revoltas populares. No século XX, o urbanismo utilizou-se dos
progressos tecnológicos da Segunda Revolução Industrial - concreto armado,
ferro, vidro, aço, alumínio e outros materiais foram incorporados às obras
arquitetônicas, criando novas possibilidades de instalações e moradias
urbanas. Em sua primeira metade, o século XX é marcado pelo funcionalismo
e racionalismo, em que o planejamento urbano e o projeto arquitetônico
passam a ser visto com finalidade de tornar o espaço urbano funcional e
racional. O mais importante exemplo da influência do urbanismo racionalista no
Brasil foi a construção da cidade de Brasília, projetada pelo urbanista Lúcio
Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer no final da década de 1950 (LUCCI,
2003).
Santos et al. (2002) afirmam que os problemas ambientais urbanos no
Brasil são mais acentuados por se tratar de um processo de urbanização
rápido e desigual, levando as populações de baixa renda a ocupar terras
periféricas, geralmente desprovidas de infra-estrutura ou a se instalar em áreas
ambientalmente frágeis.
Para Lucci et al. (2003), a urbanização no Brasil, de modo geral apresenta
semelhanças aos processos de urbanização dos demais países em
desenvolvimento, tais como: ser uma urbanização marcada pela formação de
grandes cidades com concentração expressiva das riquezas; chamada
“urbanização terciária”, ou seja, com crescimento de atividades terciárias pouco
especializadas e de baixo valor agregado; teve um ritmo acelerado de
crescimento entre os anos de 1950 e 1990 com intenso êxodo rural; o padrão
de crescimento é periférico, formação de amplas manchas urbanas com a
população de baixa renda se deslocando para áreas bem distantes do centro.
Este processo teve seu início na década de 1940 com a expansão das
atividades industriais nos grandes centros que atraiu trabalhadores das áreas
rurais vislumbrados pela possibilidade de maiores rendimentos e melhores
recursos nas áreas de saúde e educação. As atividades industriais
contribuíram com a dinamização de atividades econômicas ligadas ao comércio
e aos serviços, entretanto não houve geração de empregos suficientes para o
elevado número de migrantes do meio rural. O processo de urbanização
brasileiro emanou da modernização da sociedade e da economia, porém
21
muitos benefícios dessa modernização não chegaram à maior parte da
população, uma realidade que se agrava com a ineficácia das políticas
públicas, que freqüentemente são voltadas para as camadas sociais mais
privilegiadas, resultando em aumento da informalidade, surgimento de grandes
favelas, cortiços e moradores de rua (LUCCI, et al. 2003).
Países como o Brasil, têm suas cidades crescendo mais e rápido em
virtude de problemas enfrentados pela população rural como: concentração de
terra, desemprego, secas e falta de política adequada. A grande maioria da
população brasileira, ou seja, 79,7% dos habitantes residem em áreas urbanas
segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 1999. Sendo
as regiões Sudeste, Sul e Nordeste as que apresentam o maior índice de
crescimento, 88,7%, 78,4% e 63,6% de moradores urbanos, respectivamente.
O Brasil deixa de ser um país essencialmente agrícola no final da década de 60
graças à mecanização nas atividades de plantio e colheita que acaba por
expulsar os trabalhadores rurais que partem em busca de oportunidades de
emprego e melhores condições de vida nas cidades grandes. A Figura 6
apresenta dados comparativos do crescimento populacional urbano e rural no
Brasil nos últimos 60 anos, onde se vê que o crescimento rural que nas
décadas de 1970 a 1990 esteve à frente do crescimento urbano tem uma
acentuada queda no ano 2000.
200019961990198019701960195019400
20
4060
80
100
Brasil - Evolução da população rural-urbana entre 1940 e 2000
RuralUrbano
Figura 6: Evolução da população rural-urbano no Brasil Fonte: IBGE. Anuários Estatísticos do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997. IBGE.
Censo Demográfico, 2000.
22
Lucci, et al. (2003) apresenta tendências atuais da urbanização brasileira
que vêm se delineando principalmente a partir dos anos 1990, com o
surgimento de novos postos de serviços desvinculados da agricultura nas
áreas rurais, que se caracterizam com:
• Diminuição do êxodo rural;
• Aumento do número de trabalhadores e proprietários rurais com
residência em cidades;
• Aumento dos locais de lazer rural, freqüentados por pessoas do
espaço urbano;
• Aumento de trabalhadores rurais realizando atividades não-agrícolas
como na construção civil e no comércio;
• Alteração no ritmo de crescimento das cidades – cidades médias5
apresentam maior crescimento (4,8% em média nos anos 1990) se
comparados a cidades com mais de 1 milhão de habitantes (no
mesmo período, cresceram 0,9%).
De acordo com Lucci, et al. (2003) geógrafos, economistas e urbanistas
apontam alguns fatores para explicar essa nova tendência de crescimento
urbano no Brasil como o elevado custo de vida nas grandes cidades
(especialmente os aluguéis), redução de postos de trabalho, crescimento do
trabalho informal (precarização), direcionamento de investimentos privados
para as cidades médias.
Na visão de Santos, apud Lucci, et al. (2003:280) tem-se que:
Ao longo do século, mas, sobretudo nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com a pobreza cujo locus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria se desenvolve com a criação de pequeno número de empregados e o terciário associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.
5 Segundo Lucci, et al.(2003), entende-se por cidades médias as que possuem entre 100 mil e 500 mil habitantes.
23
O fato é que a falta de planejamento e políticas adequadas de
urbanização no Brasil e no mundo, ao longo da história, fez surgir,
principalmente nos grandes centros, gigantescas aglomerações desprovidas de
infra-estrutura, com loteamentos clandestinos, muitos implantados em áreas de
risco, refletindo negativamente no meio ambiente e na qualidade de vida de
toda população, resultantes de um desenvolvimento insustentável.
3.2 O debate sobre a Sustentabilidade na questão ambiental
O debate sobre sustentabilidade se formalizou entre os governos com a
realização da 1ª Conferência da ONU em 1972, que discutiu principalmente o
conflito entre desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais.
Tais discussões buscavam unificar o conceito dos termos sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável.
Capra (2002) esclarece que o conceito de sustentabilidade foi criado por
Lester Brown no início da década de 1980, que definiu como sociedade
sustentável aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem colocar
em risco a sobrevivência das futuras gerações. Afirma ainda, que esse conceito
foi posteriormente utilizado pela Comissão para Desenvolvimento do Meio
Ambiente da ONU, que em 1987 publicou o relatório chamado de “Nosso
Futuro Comum”, que posteriormente ficou conhecido por Relatório Brundtland,
que se tornou referência mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Tal
relatório parte de uma visão complexa das causas dos problemas
socioeconômicos e ecológicos da sociedade global; enfatiza a interligação
entre tecnologia, economia, sociedade e política; apresenta medidas a serem
tomadas no nível estado nacional, como a busca pelo desenvolvimento
sustentável e define metas a serem realizadas a nível internacional, em que as
organizações devem adotar estratégias de sustentabilidade. Assim, define
desenvolvimento sustentável como “aquele que atende as necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p.46).
24
As soluções para o desenvolvimento compatível com a proteção
ambiental, segundo o Relatório Bruntland, são baseadas no desenvolvimento
sustentável, sendo seu principal objetivo satisfazer as necessidades e
aspirações humanas. Em outros termos significa utilizar os recursos naturais de
maneira responsável, empregando processos e tecnologias que não gerem
poluições com taxas acima das que permitem a regeneração natural do meio
ambiente, promovendo a valorização dos recursos, fomentando suas condições
de renovação, evitando desperdícios e mau uso dos recursos naturais, bem
como, preservar e conservar habitats e ecossistemas frágeis e limitados.
A partir desse relatório, o mundo começa a perceber os problemas
ambientais de maneira diferente, pois o mesmo mostra que as possibilidades
de um estilo de desenvolvimento que atenda as necessidades presentes sem
comprometer as gerações futuras estão intrinsecamente ligadas aos problemas
de eliminação da pobreza, à satisfação das necessidades básicas de
alimentação, saúde e habitação, além da busca por um modelo energético que
privilegie as fontes renováveis e a inovação tecnológica.
Ainda segundo o Relatório de Bruntland, o cerne do desenvolvimento
sustentável está num processo de transformação onde a exploração dos
recursos, o norte dos investimentos, a direção do desenvolvimento tecnológico
e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e
futuro, a fim de atender as necessidades e aspirações humanas. Entretanto
Brügger (2004) lembra que muitos obstáculos deverão ser rompidos para que
se possa atingir o desenvolvimento sustentável de forma satisfatória em uma
determinada região ou do planeta como um todo, dizendo:
A economia não está isolada dos demais processos sociais e, assim, será preciso uma profunda revisão dos valores que compõem a nossa sociedade industrial. Do contrário, surgirão falsas alternativas como um Livre Comércio ‘maquiado de verde’ que continuará a reproduzir o sistema econômico que degradou a qualidade de vida no planeta (BRÜGGER, 2004, p.25).
Almeida (1997) e Leff (2001) indicam duas correntes adversas que
versam sobre desenvolvimento sustentável, assim, por um lado políticas
25
neoliberais6 agem capitalizando a natureza, a ética e a cultura; é a concepção
econômica que aponta novos mecanismos de mercado como solução para
condicionar a produção à capacidade de suporte dos recursos. Nessa corrente,
os potenciais da natureza são reduzidos à sua valorização de mercado como
capital natural; as potencialidades do homem e sua capacidade inventiva são
convertidas em formas de capital humano e tudo pode ser reduzido a um valor
de mercado. A outra corrente apontada pelos autores se contrapõe à idéia “[...]
da expansão desmesurada da esfera econômica” (ALMEIDA, 1997, p.50) e
propõe um desenvolvimento sustentável que garanta a diversidade
democrática dentro de uma ética ambiental de revalorização da vida, onde:
Os recursos ambientais se convertem em potenciais capazes de reconstruir o processo econômico dentro de uma nova racionalidade produtiva, propondo um projeto social baseado na produtividade da natureza, nas autonomias culturais e na democracia participativa (LEFF, 2001, p.31).
Segundo Leff (2001), os princípios ecológicos não impedem o progresso e
o desenvolvimento tecnológico, o mesmo deve ser dirigido e orientado de
maneira a criar condições harmônicas de existência em um espaço que
compatibiliza o crescimento econômico, a conservação ambiental, a eqüidade
social, a qualidade de vida e o compromisso com as gerações futuras. Assim
viabilizar projetos sustentáveis implica mudanças de comportamento no plano
pessoal e social, transformando os modos de produção e de consumo a partir
da discussão e do comprometimento da sociedade rumo a ações sociais e
educativas em relação ao uso sustentável dos recursos naturais com
consciência e responsabilidade.
Sobre o padrão de consumo, Dias (2002, p.33) faz referência a um
“modelo de desenvolvimento que produz a exclusão social e a miséria por um
lado; consumismo, opulência e desperdício, por outro”. Argumenta que este
modelo gera degradação ambiental e conseqüentemente a perda da qualidade
de vida, são padrões de consumo insustentáveis, afirmando que para manter
os padrões de consumo e absorver os resíduos gerados por tal prática é
atualmente necessário um planeta 30% maior. Entretanto, acredita que a
6 Políticas que favorecem uma redução do papel do Estado na esfera econômica.
26
solução para os graves problemas ambientais depende de cada um de nós,
que “quando cada um internalizar a necessidade de mudança, e fizer sua
parte, poderemos alcançar as mudanças de percepção em nossas relações
com o ambiente, e com nós mesmos” (DIAS, 2002, p.89).
Na atualidade, os diversos meios de comunicação vêem informando as
diversas catástrofes, ou seja, a “fúria” da natureza em toda parte do mundo, e
que marcou o ano de 2005 de maneira bastante assustadora. São tempestades
violentas, furacões furiosos como o Wilma, Rita e Katrina, fenômenos que
fazem com que o mar avance sobre a terra, secas capazes de fazer com que
lugares como a Amazônia perca suas características naturais. Segundo a
revista ISTOÉ (2005)7 tais acontecimentos são reflexos do aquecimento global
e do mau uso da natureza, um cenário de oscilações climáticas que os
cientistas alertavam que viessem acontecer bem mais tarde, num horizonte de
50 a 100 anos, entretanto o ano de 2005 é antecipadamente marcado por tal
cenário. A todo instante se fala do efeito estufa causado pela emissão de
gases; da devastação das matas que são responsáveis pelo controle da
temperatura do planeta; das enxurradas de produtos químicos despejados
sobre os leitos dos rios. E o que o homem tem a fazer senão mudar sua
relação com o meio ambiente? É o que acredita Dias (2002), ao mencionar
como solução para os problemas ambientais, a necessidade de mudança na
relação do homem com a natureza internalizada em cada um de nós.
Através da iniciativa do Poder Público, privado e das Organizações não-
Governamentais (ONGs) muitos são os projetos que vem sendo realizados no
sentido de fomentar atividades econômicas sustentáveis no uso dos recursos
naturais, como a madeira, as plantas medicinais, os frutos e animais nativos,
entre outros. A exemplo, os Programas SOS – Sustentabilidade realizados pela
Fundação SOS Mata Atlântica, vem desenvolvendo modelos de
desenvolvimento sustentável que visam garantir a conservação dos
ecossistemas e remanescentes florestais; proteger a biodiversidade; valorizar a
identidade física e cultural, o desenvolvimento da cidadania e bem estar das
comunidades humanas locais. O desenvolvimento da cidadania se vê com o
processo participativo na gestão ambiental dos recursos que prevê a
7 ISTOÉ nº 1880 de 26/10/2005, páginas 92 a 97; caderno: Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente; matéria de Darlene Menconi e Francisco Alves Filho.
27
integração dos proprietários de terras, condomínios, pontos turísticos e
comunidades tradicionais locais, iniciativas privadas, Poder Público e ONGs.
3.2.1 Cidadania, Educação e Desenvolvimento Sustentável.
Baseado na definição de desenvolvimento sustentável apresentado pelo
Relatório de Bruntland pode-se considerar sustentável o desenvolvimento que
trata de forma interligada e interdependente as variáveis econômica, social e
ambiental de maneira estável e equilibrada garantindo melhor qualidade de
vida para as gerações presentes e futuras. Certo é que a implementação desse
desenvolvimento passa necessariamente por um processo que requer de toda
a sociedade uma discussão e um comprometimento, uma vez que o mesmo
implica em mudanças de comportamentos dos agentes sociais. Nesse
processo a Educação Ambiental torna-se um instrumento fundamental.
Por ocasião da Rio-92, aprovou-se um documento denominado Agenda
21, com o consenso de mais de uma centena de países que estabeleceram um
pacto pela mudança do padrão de desenvolvimento global para o século
seguinte. Os países assumiram o desafio de incorporar, em suas políticas,
metas que os coloquem a caminho do desenvolvimento sustentável,
consolidando a idéia de que desenvolvimento e conservação do meio ambiente
devem constituir um binômio indissolúvel, compatibilizando o direito ao
desenvolvimento e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas
atuais e futuras gerações. Foi ainda proposto que cada país adaptasse a
Agenda 21 à sua realidade, ordenando prioridades e maneiras de implementá-
la nas diversas áreas propostas. Tal documento representou um marco rumo à
unificação na visão do que seja o desenvolvimento sustentável por tratar de
temas como pobreza, crescimento econômico, industrialização e degradação
ambiental e propor ações, objetivos, atividades e meios de implementação
onde os diversos atores em nível mundial são convocados a buscar o
desenvolvimento sustentável.
O sucesso das ações que devem conduzir ao desenvolvimento
sustentável dependerá da influência da opinião pública, do comportamento das
28
pessoas e de suas decisões individuais, considerando que apesar de existir
interesse pela questão ambiental, há ainda falta de informação e conhecimento
dos problemas ambientais. Logo, a Educação Ambiental terá o objetivo de
informar e sensibilizar as pessoas sobre os problemas ambientais existentes
em sua localidade e as possíveis soluções, buscando transformar essas
pessoas em agentes participativos das decisões sobre seu futuro, exercendo
assim a cidadania e se tornando um instrumento indispensável no processo do
desenvolvimento sustentável. A cidadania se apresenta como um agente
transformador da sociedade, uma nova sociedade com autonomia sobre si
mesma, sua moradia e seu ambiente. Entretanto, para que a sociedade
transforme-se através da cidadania, é necessário que sejam criadas e
praticadas, políticas públicas de combate à pobreza e desigualdade social,
caso contrário, será utopia querer que as pessoas se sensibilize com os
problemas ambientais.
Segundo Leff (1999) para exercer a cidadania, não é suficiente conhecer
seus direitos e deveres, é necessário reivindicá-los no momento oportuno,
cobrar e exigir medidas a quem compete implementá-las, sendo assim um
cidadão ativo e participante nas decisões do coletivo. Uma das formas de levar
a Educação Ambiental às pessoas é promover discussões junto à sociedade na
busca da concepção e ou incremento de hábitos e atitudes sadios de
conservação e respeito à natureza, buscando transformá-las em cidadãos
conscientes e comprometidos com o futuro da humanidade.
Com o início do movimento ecológico na década de 80, surge a
necessidade de pensar a problemática ambiental dando assim, início ao
processo de conscientização da humanidade em relação ao caos em que se
encontra(va) o ambiente, numa tentativa de minimizar os danos cotidianos na
natureza, causados por práticas econômicas predatórias que colocam em risco
a sustentabilidade do planeta. A questão ambiental se torna então, assunto de
interesse público, debatido e estudado pela sociedade que vem buscando uma
nova civilidade e uma representação política integrada que possa fazer frente
ao capitalismo já estabelecido, sendo assim, a principal tarefa rumo a um futuro
de participação consciente dos indivíduos na vida pública, através da
construção de práticas concretas de sustentabilidade do meio e,
conseqüentemente, da vida.
29
É evidente a necessidade de um pacto entre a sociedade e governo em
busca da qualidade de vida e sustentabilidade do planeta, num entendimento
de que a natureza é vida e segurança para a humanidade. A participação da
sociedade nas discussões e práticas ecológicas é uma alternativa para
legitimar este pacto. Cabe a sociedade cobrar de seus governantes (em todas
as esferas – federal, estadual e municipal) a efetivação das políticas ambientais
e sociais e cumprir seu papel de cidadão consciente de sua responsabilidade
em relação à minimização do seu impacto causado ao meio ambiente. Sobre
essa evidência Gutierrez (1999) diz que a questão ambiental se tornou uma
causa social que convoca grupos voluntários em todos os níveis - local,
nacional, regional e global – e esses grupos com força política conseguirão
interessar outros atores sociais relevantes, como autoridades locais,
parlamentares, camponeses, trabalhadores, industriais, jovens e mulheres,
entre outros.
Promover a compreensão dos direitos e responsabilidades do cidadão no
que se refere ao meio ambiente e mobilizar ações voluntárias em todos os
níveis da sociedade é papel fundamental para a prática da cidadania. É
necessário então, como propõe Gutierrez (1999), entender o sentido de
cidadania como aquele em que o indivíduo comprometido com uma verdadeira
mudança de mentalidade, conceitos e valores, participa de forma crítica e
consciente da vida coletiva, reclama e exige seus direitos e exerce seus
deveres. O cidadão deve reaver o controle de sua vida cotidiana, recuperando
assim, os destinos econômico, social e ambiental de seu país. O autor ainda
diz que cidadania ambiental compreende as obrigações éticas que nos
vinculam tanto à sociedade quanto aos recursos naturais do planeta, em
conformidade com nosso papel social e na perspectiva do desenvolvimento
sustentável.
No Brasil, assim como em outros países, a problemática ambiental ganha
como resposta uma legislação avançada, entretanto, pouco sólida uma vez que
tais questões estão muito atreladas ao campo intelectual e pouco ligadas às
ações do dia-a-dia na sociedade. A conscientização dos problemas ambientais
precisa mais de mudança de valores em toda sociedade do que legislações
severas e discursos acalorados. Para Viola et al.(1995:136),
30
As políticas públicas estão hoje a meio caminho entre um discurso-legislação bastante ambientalizados e um comportamento individual-social bastante predatório, sendo que, por um lado, as políticas públicas têm contribuído para estabelecer um sistema de proteção ambiental no país, mas, por outro, o poder político é incapaz de fazer os indivíduos e as empresas cumprirem uma proporção importante da legislação vigente.
Assim, o que se percebe é uma contradição entre valores defendidos e
comportamentos diários e que pouco sucesso tem-se conseguido com as
campanhas de conscientização e de Educação Ambiental. O que não quer
dizer que essas campanhas não sejam necessárias, apenas que as mesmas
precisam se aproximar mais da sociedade, integrando a participação de
indivíduos que estabeleçam relações sociais e ações efetivas, numa busca
constante do exercício da cidadania que para Gadotti (2000:133), “é
necessariamente a consciência de direitos e deveres, que se manifesta pela
mobilização da sociedade para a conquista dos direitos sociais, políticos e
civis” e Leff (2001, p.29) declara que a cidadania “emerge da democracia
representativa que conclama o cidadão a assumir suas funções sociais”.
3.3 Educação Ambiental e Consciência Ecológica: O Trabalho Voluntário e o Meio Ambiente
Na década de 1980 enquanto a ONU procurava colocar em debate a
problemática ambiental, criando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1983), os movimentos ecológicos cresciam pelo mundo
reunindo pessoas das mais variadas áreas profissionais com o intuito de
conscientizar e denunciar problemas ambientais e seus agentes causadores.
Surgem então, várias entidades de apoio e proteção ao meio ambiente, das
quais pode-se citar tanto em âmbito nacional como internacional o
Greenpeace, WWF (Fundo Mundial para a Natureza), o Instituto
Socioambiental e a Fundação SOS Mata Atlântica, todas denominadas ONGs.
Muitas delas, além de atuarem nas questões ambientais, apresentam uma
linha de trabalho direcionada à melhoria das condições sociais, visto que o
31
homem é parte da natureza e não se pode ignorá-lo quando se quer preservar
essa natureza. Leff (2000) ao dizer que a questão ambiental é um assunto que
diz respeito não somente aos órgãos administrativos, mas à ampla sociedade
civil que deve participar redefinindo estilos de vida, relações de poder e modos
de produção, reforça a importância dos grupos sociais organizados em prol de
melhores condições de vida no planeta.
Essas entidades vêm desenvolvendo importantes trabalhos e obtendo
resultados expressivos como na ampliação das discussões acerca das
questões ambientais e até mesmo conseguindo mudanças de postura de
empresas, instituições, governos e pessoas em relação ao meio ambiente e ao
ser humano. São pessoas anônimas ou grandes empresas que em prol de um
objetivo comum, a educação, seja ela formal ou informal, unem forças e lutam
por seus ideais.
Muitos são os projetos desenvolvidos por essas pessoas ou empresas
como é o caso do Centro de Voluntariado de São Paulo que tem como objetivo
incentivar e criar a cultura do trabalho voluntário na cidade de São Paulo,
promovendo a educação para o exercício consciente da solidariedade e
cidadania; a Fundação Roberto Marinho que desenvolve projetos educacionais
que visam à preservação e revitalização do patrimônio histórico, cultural e
natural nos vários pontos do país; o Instituto Supereco que tem como missão o
uso da Educação Ambiental como ferramenta para a conservação do meio
ambiente, juntamente com o desenvolvimento do ser humano; o Greenpeace,
entidade que busca soluções para a crise ambiental mundial com a certeza de
que só a mobilização de cidadãos de todas as nacionalidades poder-se-á impor
uma política ambiental coerente para todo planeta; e a Fundação SOS Mata
Atlântica que através de seu voluntariado tem a missão de participar como
agentes multiplicadores, mobilizando e sensibilizando a sociedade sobre a importância
da preservação do meio ambiente, despertando-a para a mudança de valores e
fortalecendo o exercício da cidadania. Assim, acreditando que a educação é transformadora, percebe-se que
muitas são as experiências que vem sucedendo e demonstrando a
necessidade de um elo de ligação entre a educação formal e a informal,
principalmente quando o assunto é o meio ambiente e o homem nele inserido.
Ambas contribuem para a formação do cidadão mais consciente em relação
32
aos ideais de conservação e de valores ambientais. Mais que informações a
educação formal e informal precisa propor trabalhos que gerem atitudes,
formação de valores, ensino e aprendizagem de habilidade e procedimentos,
ficando evidente a necessidade de se educar as crianças e os jovens para que
no futuro ajam com responsabilidade e sensibilidade, conservando o ambiente
no hoje para o amanhã.
A Educação Ambiental (EA) iniciou-se com os primórdios da civilização,
quando os seres humanos começaram a interagir com o meio ambiente,
mesmo tendo naquela época, conotação de educação de uma forma geral.
Para Dias (1994), a expressão environmental education foi utilizada pela
primeira vez na Grã-Bretanha, em 1965 por ocasião da Conferência em
Educação, onde concluíram que a Educação Ambiental deveria se tornar parte
essencial da educação de todos os cidadãos.
No ano de 1968 surge o Conselho para Educação Ambiental, no Reino
Unido e o Clube de Roma que produziria mais tarde (1972) o relatório dos
“Limites do Crescimento Econômico”. Em 1972 aconteceu o grande marco
mundial da Educação Ambiental por ocasião da Conferência Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em Estocolmo na Suécia, onde
compareceram 113 países, incluindo o Brasil. Levando a Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a lançarem o Programa
Internacional sobre Educação Ambiental (PIEA) em 1975, reconhecendo que o
seu desenvolvimento era fundamental para minimizar a crise ambiental do
mundo (DIAS, 1994).
Seguindo a recomendação da Conferência de Estocolmo, realizou-se em
1975 na então Iugoslávia, o Encontro de Belgrado promovido pela UNESCO,
onde foram formulados os princípios e orientações para o programa de EA
mundial, tendo ao final da Conferência a elaboração da Carta de Belgrado.
Dias (1994) afirma que o reconhecimento em âmbito mundial sobre a
necessidade de se realizar programas de EA se deu em 1977 em Tbilisi
(Geórgia), por ocasião da Primeira Conferência Intergovernamental sobre
Educação Ambiental, promovida pela UNESCO e PNUMA, resultando na
definição de seus objetivos, características, estratégias e recomendações.
Sendo essas recomendações reforçadas na Conferência das Nações Unidas
33
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, no capítulo 36 da Agenda
21. Em 1979 foi realizado na Costa Rica o Seminário de Educação Ambiental
para América Latina, também promovido pela UNESCO e PNUMA.
No Brasil, a Educação Ambiental ganha espaço nas discussões a partir da
década de 70, quando as condições de sua ambiência tomavam rumos cada
vez mais precários, colocando o País no ranking dos países com deterioração
mais acelerada do mundo. Como movimento social, a questão ambiental teve
uma acentuada popularização a partir da década de 80 iniciando o processo de
mudanças no cenário sociopolítico do País. A promulgação da nova
Constituição Federal8 em 1988 marca o grande momento desse processo,
dedicando o Capitulo VI ao Meio Ambiente, determinando no Art. 225, Inciso VI
que “Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio
Ambiente”. Entretanto, já era percebida uma tendência de valorização do meio
ambiente através da Lei 6.9389, de 31 de agosto de 1981 que instituiu a
Política Nacional do Meio Ambiente e o Sistema Nacional do Meio Ambiente.
A década de noventa é marcada pela realização da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92 ou Rio-92,
que reforçava as recomendações de Tbilisi, sendo considerada a mais
importante reunião mundial do final do século XX. Cinco anos depois houve a
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e
Consciência Pública para a Sustentabilidade, que levou ao reconhecimento de
que o desenvolvimento da EA nos cinco anos pós-Rio 92 foi insuficiente. No
Brasil, a década de 90 também foi marcada pelo desfecho dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) que consolidaram a posição do Conselho
Federal de Educação em 1987, dando à Educação Ambiental o caráter de tema
transversal10. Entretanto, no final da década de 90 e início do novo século a
Educação Ambiental é reintroduzida nos currículos escolares com novo
8 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. 9 BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicações e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1981. 10 Tema Transversal – processos que estão sendo intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos em relação à intervenção no âmbito social e nas atitudes pessoais.
34
enfoque, sendo então integrante de uma parte diversificada e flexibilizada do
currículo escolar.
Atualmente, graças a iniciativas de ONGs, governo, escolas e pessoas
anônimas vários programas vêm sendo realizados, leis foram criadas e são, em
parte, cumpridas. É na formação da consciência que se deve calcar a busca do
desenvolvimento em um ambiente de qualidade, visto que a Educação
Ambiental toma um caráter preventivo e não a salvação de ambientes
degenerados por uma humanidade que em busca do desenvolvimento
econômico vem desde os primórdios usando os recursos naturais para
conseguir seu objetivo.
Muito se tem falado e investido na Educação Ambiental, e ao que parece
é a grande saída para a formação do cidadão ecologicamente consciente,
capaz de olhar o meio ambiente como a fonte de energia essencial à vida. Não
se constrói uma sociedade consciente sem educação, seja essa educação
formal adquirida em processo institucionalizado nas unidades de ensino, ou
informal caracterizada pela realização fora da escola, o que importa, entretanto,
é fazer da educação o caminho para formação de uma sociedade consciente
de seu papel em relação aos problemas ambientais.
Entretanto existem dúvidas se a Educação Ambiental dos bancos
escolares está sendo trabalhada de maneira eficaz. Ruscheinsky (2002) chama
a atenção para o fato de acreditar ser muito extenso o conteúdo envolvido na
Educação Ambiental, afirma ainda que a Educação Ambiental luta contra o
rigor academicista e o ensino livresco, propondo um ensino vivo e ativo.
Na abordagem da Educação Ambiental, os diferentes autores adotam
diferentes discursos e propõem maneiras de conceber e praticar a ação
educativa no campo ambiental. Trata-se das diferentes “correntes” em
Educação Ambiental que embora cada uma apresente um conjunto de
características específicas, certas correntes compartilham características
comuns. Sauvé (2005) sintetiza 15 correntes de Educação Ambiental em dois
grupos: as correntes que têm longa tradição e as correntes mais recentes;
ambas apresentadas em função dos seguintes parâmetros:
• Concepção dominante do meio ambiente;
• Intenção central da Educação Ambiental;
• Enfoques privilegiados;
35
• Exemplo(s) de estratégia(s) ou modelo(s) que ilustra(m) a corrente.
O Quatro 1 apresenta de forma resumida as características das correntes
sintetizadas por Sauvé no que se refere as suas concepções, objetivos,
enfoques e estratégias usadas. Quadro 1 : Uma diversidade de correntes em educação ambiental
C
orre
ntes
Concepções do meio
ambiente
Objetivos da EA Enfoques dominantes
Exemplos de estratégia
Cor
rent
e N
atur
alis
ta
Natureza Reconstruir uma ligação com a natureza
Sensorial, Experiencial, Afetivo, Cognitivo e Criativo/Estético.
Imersão, Interpretação, Jogos sensoriais, Atividades de descoberta.
Cor
rent
e C
onse
rvac
ioni
sta
/recu
rsis
ta
Recursos Adotar comportamentos de conservação. Desenvolver atividades relativas à gestão ambiental
Cognitivo Pragmático
Guia ou código de comportamentos; “Auditoria” ambiental; Projeto de getão/conservação.
Cor
rent
e re
solu
tiva
Problema Desenvolver habilidades de resolução de problemas (RP): do diagnóstico à ação.
Cognitivo Pragmático
Estudos de casos: análise de situações problema.Experiência de RP associada a um projeto.
Cor
rent
e si
stêm
ica
Sistema Desenvolver o pensamento sistêmico: análise e síntese para uma visão global. Compreender as realidades ambientais, tendo em vista decisões apropriadas.
Cognitivo Estudo de casos: análise de sistemas ambientais.
Cor
rent
e ci
entíf
ica Objeto de
estudos Adquirir conhecimentos em ciências ambientais. Desenvolver habilidades relativas à experiência científica.
Cognitivo Experimental
Estudo de fenômenos Observação, Demonstração, Experimentação, Atividade de pesquisa hipotético-dedutiva.
36
Continuação – Quadro 1
Cor
rent
e hu
man
ista
Meio de vida Conhecer seu meio de vida e conhecer-se melhor em relação a ele. Desenvolver um sentimento de pertença.
Sensorial, Cognitivo, Afetivo, Experimental, Cariativo/Estético.
Estudo do meio Itinerário ambiental Leitura de paisagem
Cor
rent
e m
oral
/ ét
ica
Objeto de valores
Dar prova de ecocivismo. Desenvolver um sistema ético.
Cognitivo Afetivo Moral
Análise de valores Definição de valores Crítica de valores sociais.
Cor
rent
e ho
lístic
a
Total Todo O ser
Desenvolver as múltiplas dimensões de seu ser em interação com o conjunto de dimensões do meio ambiente. Desenvolver um conhecimento “orgânico” do mundo e um atuar participativo em e com o meio ambiente.
Holístico, Orgânico, Intuitivo, Criativo
Exploração livre Visualização Oficinas de criação Interação de estratégias complementares
Cor
rent
e bi
orre
gio-
nalis
ta
Lugar de pertença Projeto comunitário
Desenvolver competências em ecodesenvolvi-mento comunitá-rio, local e regional.
Cognitivo, Afetivo, Experiencial, Programático, Criativo
Exploração do meio Projeto comunitário Criação de ecoempresas.
Cor
rent
e pr
áxic
a
Cadinho de ação/ reflexão
Aprender em, para e pela ação. Desenvolver competências de reflexão
Práxico Pesquisa-ação
Cor
rent
e cr
ítica
Objeto de transforma-ção, Lugar de emancipação
Desconstruir as realidades socioambientais visando transfor-mar o que causa problemas.
Práxico Reflexivo Dialogístico
Análise de discurso Estudo de casos Debates Pesquisa-ação
Cor
rent
e fe
min
ista
Objeto de solicitude
Integrar os valores feministas à relação com o meio ambiente
Intuitivo, Afetivo, Simbólico, Espiritual, Criativo/Estético
Estudos de casos; Imersão Oficinas de criação Intercâmbio, de comunicação.
37
Continuação – Quadro 1
Cor
rent
e et
nogr
áfic
a Território Lugar de identidade Natureza/ Cultura
Reconhecer a estreita ligação entre natureza e cultura. Aclamar sua pró-pria cosmologia. Valorizar a dimensão cultural de sua relação com o meio ambiente.
Experiencial, Intuitivo, afetivo, Simbólico, Espiritual, Criativo/Estético
Contos, narrações e lendas. Estudos de casos; Imersão Modelização.
Cor
rent
e da
ec
oedu
caçã
o
Pólo de interação para a formação pessoal Cadinho de identidade
Experimentar o meio ambiente para experimentar-se e formar-se em e pelo meio ambiente. Construir uma melhor relação com o mundo
Experiencial, Sensorial, Intuitivo, Afetivo, Simbólico, Criativo.
Relato de vida Imersão; Exploração Introspecção; Escuta sensível Alternância subjetiva objetiva Brincadeiras
Cor
rent
e de
de
senv
olvi
men
to
sust
enta
vel
Recursos para o desenvolvi-mento econômico Recursos compartilha-dos
Promover um desenvolvimento econômico respeitoso dos aspectos sociais e do meio ambiente. Contribuir para esse desenvolvimento
Pragmático Cognitivo
Estudo de casos Experiência de resolução de problemas Projeto de desenvolvimento de sustentação e sustentável.
Fonte: Sauvé (in Sato, Carvalho e Cols, 2005).
Brügger em seu livro Educação ou Adestramento Ambiental (2004) faz
uma reflexão sobre a indissociabilidade do binômio sociedade-educação que
questiona os pressupostos filosóficos da educação tradicional, fortemente
influenciada por conceitos que estruturam material e ideologicamente as
sociedades industriais. Adotando uma concepção característica da “corrente
crítica”, ela diz que a escola deve proporcionar ao aluno ocasiões que o leve a
tomar decisões, atuar de fato e exercer posturas que demonstrem o exercício
de valores relativos à proteção ambiental; promover uma educação crítica e
transformadora da realidade. O que significa que a escola deve incluir em seu
planejamento ações educativas que levem seus alunos a reconhecer e a evitar
a degradação, promovendo ao mesmo tempo a concretização de hábitos de
proteção, preservação, conservação e recuperação do meio ambiente.
38
Numa síntese provisória, Brügger (2004, p.164-166) descreve o que
chamou de os 10 princípios necessários à construção de uma educação
merecedora dos adjetivos “ambiental” e “crítica” como sendo:
1. A EA deve se fundamentar num conjunto de valores que formem uma
racionalidade contra-hegemônica podendo-se dizer que a EA deve ser um
campo epistêmico e que não deve estar separada da educação formal,
como vem ocorrendo.
2. A EA deve abandonar valores antropocêntricos e especistas,
promovendo abordagens e valores mais biocêntricos, ecocêntricos e
zoocêntricos, ou seja, deve ensinar a abrir mão de exercer domínio sobre
o outro.
3. Reconhecer a ausência de neutralidade axiológica tanto no sentido
epistemológico, quanto político, ético, etc.
4. Mover num campo inter ou transdisciplinar do conhecimento.
5. Estar alicerçada em visões de mundo e paradigmas sistêmicos,
ecológicos, reconhecendo a interdependência inerente aos processos,
naturais e sociais.
6. Reconhecer os limites da racionalidade instrumental dominante em
nossa cultura e valorizar os conhecimentos filosóficos, bem como os
conhecimentos e racionalidades de outros povos e culturas.
7. Incorporar a dimensão do conflito, ou seja, reconhecer o caráter não
consensual do conhecimento, bem como o caráter dialético da própria
realidade.
8. Estimular o florescimento de atributos pessoais e individuais, e ao
mesmo tempo, orientar a ética no que tange ao bem estar coletivo.
9. Procurar desenvolver um corpo de conhecimentos no qual haja
equilíbrio entre conhecimento quantitativo e qualitativo, e entre razão e
emoção.
39
10. Promover ideários e atitudes altruístas ou eco-ações, bem como uma
reaproximação entre homens e natureza.
Assim, a EA que se espera, tem importante papel a desempenhar, o de
propiciar à sociedade uma compreensão crítica e global do meio ambiente,
desenvolvendo nela a consciência ecológica que lhe permita fazer a correlação
entre qualidade de vida e a qualidade ambiental e com isso buscar as
mudanças que se fazem necessárias. Para Lucci et al. (2003), vive-se hoje
numa sociedade consumista que valoriza as pessoas pelos objetos que possui,
confundindo qualidade de vida com padrão de vida, onde os bens são a
demonstração de sucesso, uma vez que a desigualdade que caracteriza essa
sociedade não permite que todos possuam os mesmos bens. Na busca desses
objetos o Homem, visando somente à satisfação de seus desejos de consumo
extrapola sua condição de observador e avaliador da natureza, e passa a ser
visto como explorador acintoso que aumenta cada vez mais sua ganância,
pensando apenas no presente e no capitalismo do lucro imediato.
A sociedade urbana de formação consumista, com suas idéias voltadas
para um mundo virtual, ainda não se sente sensibilizada para o mundo natural
que, a cada ano diminui mais e mais, sendo invadido pela expansão urbana,
ficando quase impossível diferenciar as características que representam o rural
daquelas que representam o urbano. Dias (1994, p. 20) comenta: “Redescobrir!
Esta deverá ser a atividade mais sensata quando estivermos buscando
alternativas de soluções para os nossos problemas ambientais”. Em um trecho
da Carta de Belgrado, essa necessidade de mudança se confirma nos dizeres
“é absolutamente vital que os cidadãos de todo mundo insistam a favor de
medidas que darão suporte ao tipo de crescimento econômico que não traga
repercussões prejudiciais às pessoas...”. A sociedade de maneira geral precisa
ver a mudança no padrão de consumo e produção como o caminho rumo à
diminuição dos problemas ambientais do planeta.
40
A Educação Ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em um contexto social e histórico... Deve capacitar as pessoas a trabalhar conflitos e integrar conhecimentos, valores, atitudes e ações, buscando a transformação de hábitos consumistas e condutas ambientais inadequadas. É uma educação para a mudança (CNUMAD, 1997).
É eminente a necessidade de se cumprir a importante missão de
redirecionar os hábitos consumistas da atual geração com vistas a conseguir
minimizar os danos que o capitalismo e muitas vezes a falta de informação
provocam ao meio ambiente. Como recomendação da Conferência de Tbilisi
(1977), um objetivo fundamental da EA é conseguir que os indivíduos e a
sociedade compreendam a natureza do meio ambiente natural e do meio
ambiente criado pelo homem e adquiram conhecimentos, valores,
comportamentos e habilidades práticas para participar de maneira responsável
e eficaz da preservação e solução dos problemas ambientais, bem como da
gestão da qualidade do meio ambiente (DIAS, 1994).
Glória (2005) relata que a incorporação da Educação Ambiental na
EAFSJE-MG se deu a partir da década de 90 através de informações advindas
de conferências sobre Meio Ambiente. Após a ampla divulgação da ECO-92 é
que se percebeu uma mudança na abordagem feita nas escolas agrotécnicas,
inclusive a EAFSJE-MG, no sentido de proporcionar um ensino mais voltado
para tecnologias que permitissem um aumento na produtividade, focando
principalmente o cuidado com o meio ambiente, minimizando assim os
impactos ambientais no sistema produtivo. A partir de 1996 a EAFSJE-MG em
parceria com a EMATER, IEF-MG e a CENIBRA passa a realizar anualmente o
Seminário Ambiental, intensificando a partir de então as discussões e os
projetos voltados à preservação do meio ambiente, visando propiciar aos
alunos uma Educação Ambiental espelhada na corrente da sustentabilidade
procurando demonstrar a necessidade de se buscar o desenvolvimento
econômico de maneira sustentável, respeitando o meio ambiente e o indivíduo
nele inserido.
Sendo a degradação da flora brasileira um dos principais problemas que
ações humanas vêm causando em busca do desenvolvimento e satisfação das
necessidades de consumo, muitas são as entidades que se apóiam nas
41
diversas correntes da Educação Ambiental promovendo ações numa tentativa
de mitigar os efeitos dessa degradação e salvar os remanescentes das
florestas existentes em todo o país, como é o caso da Mata Atlântica que teve
seu território de domínio quase todo derrubado, tendo essas entidades travado
uma luta árdua para manter seus remanescentes em 8% do que era
originalmente.
3.4 Mata Atlântica: um Patrimônio da Humanidade
“Quando e como surgiu a Mata Atlântica ... Há mais de 400 milhões de anos, plantas vasculares fotossintetizadoras e multicelulares começaram a aderir às margens dos continentes. Logo esses organismos cobriram as costas rochosas, desaceleraram o fluxo da águas, formaram solos e avançaram para o interior. Formaram-se radículas absorventes de nutrientes, estames se achataram em folículos que captavam a luz solar e sementes substituíram esporos como agentes de dispersão” (DEAN, 2002. pág. 34).
Para Dean (2002), é extremamente antiga a linhagem das florestas
tropicais e subtropicais, de evolução rápida e multiforme sendo impossível
imaginar como era a Mata Atlântica antes da chegada dos primeiros homens.
As evidências da presença de coletores-caçadores na região da Mata Atlântica
datam de cerca de 11 mil anos, quando começou a interação entre o homem e
a natureza na América e a conseqüente intervenção na floresta. Evidência
essa, marcada por implementos de pedra dessa era, espalhados no extremo
sul da floresta onde a vegetação era caracterizada por campos abertos;
também foram encontrados fósseis humanos datados de 10 mil anos em
cavernas ao norte de onde hoje se encontra a cidade de Belo Horizonte, onde
também havia vegetação de campos abertos. O que se leva a acreditar que os
primeiros imigrantes humanos atraídos para o sul do continente tinham pouco
interesse pela Mata Atlântica e estavam mesmo a procura de caça
característica dos cerrados, sombra e água doce. Primeiro foram os caçadores-
coletores, depois vieram os agricultores itinerantes, entretanto, foi com a
chegada dos portugueses que o processo de exploração se intensificou. Aos
42
22 de abril de 1500 os marinheiros portugueses que alcançaram a costa da
floresta do continente sul-americano, dão início à destruição da Mata Atlântica
ao derrubarem a golpes de machado uma árvore e com seu tronco ergueram
uma cruz que para eles simbolizava a salvação da humanidade. Atônitos com a
grandeza da Mata Atlântica, por inúmeras vezes penetraram-na e dela traziam
relatos apenas sobre as pedras preciosas e o ouro.
Antes da chegada dos portugueses a paisagem que predominava na
costa brasileira era de densa e exuberante floresta atlântica com gigantescas
árvores que se estendia do litoral, passando pelo continente em direção ao
interior. Apesar de densa a floresta não era intocada, pois estima-se que antes
dos europeus já haviam cerca de 5 milhões de índios no Brasil, seus primeiros
habitantes, que utilizavam da floresta materiais para construção de seus
abrigos, alimentos, remédios e cultivos principalmente de milho e mandioca,
sendo necessário para tais atividades a abertura de clareiras na floresta densa
(VESENTINI, 2004).
De 1500 a 1530 os europeus não se preocuparam com um projeto de
colonização do Brasil, apenas extraíram o pau-brasil, como pagamento de
impostos a coroa portuguesa e uso de mão-de-obra indígena, o que resultou
até 1850 em enormes áreas de mata devastadas de maneira desordenada, às
custas da mão de obra escrava (índios e africanos). A colonização do Brasil
teve um caráter de “colônia de exploração”, significando sua inserção na
“política mercantilista”11 da época, baseado na exploração do pau-brasil.
Juntamente com a extração comercial do pau-brasil, as florestas sofreram com
a destruição para a implantação da monocultura da cana-de-açúcar, que
representou a principal atividade econômica nos séculos XVI e XVII, plantada
em latifúndios que ocupavam imensas áreas para conseguir suprir o mercado
europeu. O traço marcante da colonização brasileira foi a de servir para o
enriquecimento das metrópoles (as nações européias), organizada para
fornecer ao comércio europeu açúcar, tabaco e outros gêneros; mais tarde
ouro e diamante; depois algodão e, em seguida, café. Isso acarretou em
11 Política mercantilista ou mercantilismo foi a doutrina econômica dos reinos europeus durante a época moderna (séculos XVI a XVIII), que propunha uma balança comercial favorável, exportando bens manufaturados a preços elevados e importando matérias-primas a baixos preços.
43
algumas marcas à economia e à sociedade brasileira que em alguns casos
podem ser vistas até hoje:
• Povoamento intenso na faixa atlântica, onde estão os portos;
• Utilização dos melhores solos para a produção de gêneros destinados
à exportação;
• Formação de uma sociedade constituída principalmente por uma
minoria de altíssima renda (mantém relações econômicas com o
exterior) e uma maioria de baixa renda, que serve de força de trabalho
barata;
• Dependência econômica em relação aos centros mundiais do
capitalismo.
O latifúndio monocultor, apoiado no trabalho escravo, formou a base do
Antigo Sistema Colonial. Apesar de definidas as atividades economicamente
rentáveis da época, o desenvolvimento do engenho exigiu atividades
complementares, ou seja, secundárias, entretanto foram fundamentais para a
produção açucareira, destacando a agricultura de subsistência e a pecuária.
Assim como a cana de açúcar, as atividades pecuárias se concentraram no
nordeste brasileiro, porém em terras do interior, cumprindo um duplo papel de
complementar a economia do açúcar e o de iniciar a conquista e o povoamento
do interior do Brasil. A partir do século XVII a atividade pecuária se expandiu,
ocupando cada vez mais as terras no interior com áreas de pastagens.
Quando os colonizadores portugueses chegaram ao Brasil, a Mata
Atlântica se estendia por toda a costa, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande
do Sul e cobria centenas de quilômetros pelo continente chegando à Argentina
e ao Paraguai. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, a Mata
Atlântica ocupava originalmente uma área de 1,3 milhão de km2, ou seja, 15%
do território brasileiro, abrangendo 17 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito
Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí,
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Sergipe e São Paulo (Figura 7 e Tabela 1).
44
Figura 7: Mapa da área de Domínio da Mata Atlântica Fonte: IBGE (1993).
45
Tabela 1– Área original da Mata Atlântica segundo definição do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA
Área UF Área Original (DMA) UF Km2 (1) Km2 (2) %(3) AL 27.933 14.529 52,01 BA 567.295 177.924 31,36 CE 146.348 4.878 3,33 ES 46.184 46.184 100,00 GO 341.290 10.687 3,13 MS 358.159 51.536 14,39 MG 588.384 281.311 47,81 PB 56.585 6.743 11,92 PE 98.938 17.811 18,00 PI 252.379 22.907 9,08 PR 199.709 193.011 96,65 RJ 43.910 43.291 98,59 RN 53.307 3.298 6,19 RS 282.062 132.070 46,82 SC 95.443 95.265 99,81 SE 22.050 7.155 32,45 SP 248.809 197.823 79,51
TOTAL 3.428.783 1.306.421 38,10 (1) IBGE, 1999; (2) ISA, 1999; (3) Sobre a área da UF; DMA- Domínio da Mata Atlântica (CONAMA, 1992) Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica.
Mesmo reduzida a Mata Atlântica é de grande importância
socioambiental, considerada pela UNESCO em 1999 Patrimônio da
Humanidade (DIAS, 2002). Atualmente é um dos mais ricos conjuntos de
ecossistemas em diversidade biológico, rico em espécies endêmicas do
Planeta. Situada na região mais povoada e industrializada do país é a quinta
área mais ameaçada do mundo. Representa grande valor, pois exerce
influência direta na vida de mais de 100 milhões de brasileiros que vivem na
área de seu domínio, regulando o fluxo dos mananciais hídricos que
abastecem cidades e metrópoles brasileiras, além de milhares de pequenos
cursos d’água que afloram em seus remanescentes; assegurando a fertilidade
do solo; regulando clima, temperatura, umidade e chuvas; além de preservar
um imenso patrimônio histórico e cultural. Segundo dados da Fundação SOS
Mata Atlântica, devido às ações devastadoras do desenvolvimento capitalista, a
área original da MA foi reduzida a aproximadamente 99 mil km2, ou seja,
menos de 7% de sua extensão original, restando remanescentes altamente
fragmentados e espalhados ao longo da costa brasileira como mostra a Figura
46
8 e Tabela 2. Dias (1994) ainda afirma que as áreas restantes, muitas
transformadas em unidades de conservação, continuam sofrendo com ações
do homem principalmente com o corte das árvores e com os incêndios que
provocam a perda de grandes áreas, além de sua fragilização e fragmentação.
Após mais de 500 anos de exploração ininterrupta da Mata Atlântica os
poucos remanescentes continuam e continuarão sofrendo impactos em direção
a quase extinção total, sendo que entre os principais motivos estão: a política
desenvolvimentista da década de 197012, a poluição ambiental, o crescimento
desordenado das principais capitais brasileiras, a reforma agrária praticada na
década de 198013, a falta de política florestal nacional, a prática de queimadas
para criação de áreas de pastagens, entre outros.
O desmatamento, segundo Leff (2000), pode representar o rompimento
dos mecanismos protetores e perturbações do funcionamento dos ciclos
naturais da floresta original como solos esgotados rapidamente pelo
escoamento de seus nutrientes e exposição direta à radiação do sol que pode
provocar o endurecimento do mesmo de maneira irreversível, impedindo a
recuperação do ecossistema original. A Mata Atlântica é um forte exemplo da
redução desse capital florestal que vem sofrendo interferência de fatores como
impactos dos ciclos de exploração e da alta densidade demográfica, fazendo
com que sua vegetação natural fosse drasticamente reduzida.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto
Socioambiental (ISA), através de monitoramento realizado em parceria com a
12 A política desenvolvimentista da década de 1970 caracteriza-se pela retomada do crescimento econômico através da chegada das empresas internacionais fornecedoras de máquinas, sementes, fertilizantes e defensivos. Foi o surgimento dos chamados “complexos agroindustriais (CAI)”, por meio da prática de tecnologias agropecuária para a padronização e homogeneização dos produtos agrícolas; o incentivo à pesquisa com a criação da “Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária” (EMBRAPA), responsável pela política de ciência e tecnologia agropecuária e a construção das Centrais de Abastecimentos (CEASA). levando a um repensar da tecnologia e um incentivo ao uso racional de insumos por meio dos pacotes tecnológicos (MELLO, 2003). 13 Nos anos 80, com a recessão econômica, foi necessária a adequação das técnicas às condições naturais e sociais de situações específicas, na utilização racional e na preservação dos recursos naturais, incentivando as tecnologias alternativas. Nos períodos compreendidos entre 1985 e 1989 o Estado visava: adaptar os pequenos e médios produtores às tecnologias com o objetivo de aumentar a produção de alimentos básicos através de tecnologias de preservação do meio ambiente; incentivar as pesquisas sobre biotecnologia e microbiologia do solo e estimular maior articulação entre pesquisa, extensão e organizações de produtores (MELLO, 2003).
47
Fundação SOS Mata Atlântica, mostrou que em apenas cinco anos, de 1990 a
1995, mais de um milhão de hectares de florestas foram destruídos nas regiões
Sul, Sudeste e Centro Oeste, o que representa uma velocidade de derrubada
equivalente a um campo de futebol derrubado a cada 4 minutos. Tal derrubada
estaria atrelada à grande importância econômica que as árvores representam
através de suas propriedades. Segundo Bertoni & Lombardi Neto (apud
ROCHA, 2001) foi classificada pelo Serviço Florestal dos EUA uma relação de
4500 diferentes usos da madeira. Não se tendo nenhum outro material capaz
de fornecer tanta variedade de emprego: fibras, alimentos, combustíveis,
derivados químicos, estruturas, construções entre outros.
Figura 8: Remanescente da Mata Atlântica. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).
48
Tabela 2- Remanescentes florestais no Domínio de Mata Atlântica (DMA)
UF Área DMA (1) Remanescentes florestais Km2 Km2 %DMA % Área da UF
AL 14.529 877(2) 6,04 3,14 BA 177.924 12.674(3) 5,44 1,17 CE 4.878 2.743(2) 56,23 1,87 ES 46.184 3.873(4) 8,39 8,39 GO 10.687 65(4) 0,61 0,02 MS 51.536 396(4) 0,77 0,11 MG 281.311 11.251(4) 4,00 1,91 PB 6.743 584(2) 8,66 1,03 PE 17.811 1.524(2) 8,56 1,54 PI 22.907 24(2) 0,10 0,01 PR 193.011 17.305(4) 8,97 8,67 RJ 43.291 9.289(4) 21,46 21,15 RN 3.298 840(2) 25,46 1,58 RS 132.070 5.065(4) 3,83 1,80 SC 95.265 16.662(4) 17,49 17,46 SE 7.155 1.367(2) 19,11 6,20 SP 197.823 17.916(4) 9,06 7,20
TOTAL 1.306.421 102.455 7,84 2,90 (1) ISA, 1999 (2) Sociedade Nordestina de Ecologia (3) Fundação SOS Mata Atlântica e Inpe (dados de 1990) (4) Fundação SOS Mata Atlântica, Inpe e ISA (dados de 1995) DMA – Domínio de Mata Atlântica (CONAMA, 1992)
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica
3.4.1 Minas Gerais e a Mata Atlântica
Minas Gerais responde por 10% da população brasileira com seus 853
municípios e cerca de 18 milhões de habitantes. É um estado possuidor de
uma paisagem bastante acidentada, com diferentes formas de relevo,
características específicas de solo, clima e recursos hídricos que proporcionam
ao estado, uma cobertura vegetativa extremamente rica e diversificada,
agrupada em três biomas: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Segundo dados
da Fundação SOS Mata Atlântica e do INPE (2000), 49,2% do território mineiro
é caracterizado como de domínio da Mata Atlântica, entretanto, restam apenas
14,65% (FIGURA 9) desse percentual com remanescentes pequenos e de
valor ambiental reduzido, sobrando poucas áreas contínuas de floresta, sendo
um dos estados que mais sofreram com a devastação da Mata Atlântica no
País, contando hoje com grandes extensões de terra ocupadas pela agricultura.
49
Figura 9: Área Atual de Mata Atlântica em Minas Gerais Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).
Na história de Minas, o impacto sobre seus ecossistemas florestais passa
pelo ciclo de extração do pau-brasil, da introdução da cultura do café e da
utilização do capital florestal como insumo energético, sendo parte considerável
dessa energia baseada na exploração de recursos florestais nativos. No
entanto, ainda existem no estado ricos remanescentes de Mata Atlântica a
serem conservados, como o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro e o
Parque Nacional do Caparaó, entre outros.
De acordo com Pimenta (1966), os problemas ambientais relacionados
com a região de inserção do município de São João Evangelista tiveram seu
início em longa data. Até a metade do século XVII a Região da Bacia do Rio
Doce era inacessível aos colonizadores, pois habitavam nela os ferozes índios
Aimorés e Botocudos. Nos anos de 1573 a 1600 acontecem as primeiras
interferências dos homens “civilizados”, com as expedições de Fernando
Legenda Limites Interestaduais Ferrovias Drenagem Principal Limites Municipais Flor. Ombrófila Mista Flor. Ombrófila Aberta Domínio da Mata Atlântica Brasil
50
Tourinho e de Marcos de Azeredo que entraram pelo litoral a procura da Serra
das Esmeraldas, subindo o Rio Doce até alcançar suas nascentes na Serra
Geral, transpuseram-na e atingiram a região das esmeraldas. Pelos anos de
1758 uma expedição chefiada pelo Guarda-Mor João Peçanha Falcão chega à
região dos afluentes do Rio Doce, extensa área de matas virgens, com a
missão de catequizar tribos indígenas; início da conquista e colonização do
nordeste de MG. Ao alcançar o Rio Suaçuí Grande, a expedição seguiu rio
abaixo até o Rio Doce, atingindo o Rio Suaçuí Pequeno e encontrando
vestígios de ouro, a expedição estabeleceu pousada e o local passou a se
chamar “Descoberto do Peçanha”, originando mais tarde o povoado de Santo
Antônio do Peçanha, hoje a cidade de Peçanha. Em pouco tempo, a fama das
matas deste descoberto de terras de extraordinária fertilidade, da abundância
de suas águas e da beleza de suas florestas correu toda a Província, iniciando
assim a colonização da região da então, “Mata do Peçanha”.
São João Evangelista teve seu povoamento iniciado nos primeiros anos
do século XIX, quando 200 indígenas da Tribo dos Monoxós, fundaram uma
aldeia nas margens do Ribeirão São Nicolau Grande, a quatro léguas (5 km) de
onde, em 1875, nasceu o Arraial de São João Evangelista, com a fixação da
primeira família “civilizada” no território do município. Advindos de 1817, vários
portugueses e moradores de regiões em decadência, afluíram para a região da
“Mata do Peçanha”, então tranqüila e de uma beleza natural esplêndida,
instalando suas fazendas de cultivo da cana-de-açúcar, ao longo do Ribeirão
São Nicolau em São João Evangelista.
Pode-se assim, constatar que para acontecer todo processo de
colonização e desenvolvimento da região da “Mata do Peçanha”, atual Vale do
Rio Doce, remanescente de Mata Atlântica, suas densas florestas virgens aos
poucos foram sendo destruídas para dar lugar aos canaviais, pastos, cafezais e
moradias, a exemplo do que ocorreu em grande parte do Brasil.
Atualmente, na região de São João Evangelista, os principais problemas
que ameaçam os remanescentes da Mata Atlântica são: a criação de bairros,
loteamentos rurais e urbanos de maneira desordenada e sem avaliação; as
práticas de desmatamento e queimadas para plantio de pastagem; além da
falta de ação da política florestal. Política essa que em 1988 através da
Constituição Federal declara a Mata Atlântica patrimônio nacional, e em 1993
51
através do decreto 750, define legalmente o seu domínio e a proteção de seus
remanescentes florestais. Porém o decreto que deveria ter sido transformado
em lei complementar para consolidar a proteção federal à Mata Atlântica não o
foi, ficando enquanto isso a definição das regras para contenção do
desmatamento a cargo dos estados que nem sempre se mostram capazes. A
Figura 10 mostra como está fragmentada a área de Mata Atlântica no município
de São João Evangelista, que outrora era densa e quase impenetrável.
Legenda Limite municipal
Estradas Principais
Drenagem Principal
Limites Municipais
Formações Pioneiras
Flor. Ombrófila Aberta
Flor. Estacional Semidecidual
Domínio da Mata Atlântica Figura 10: Imagem da atual vegetação remanescente de Mata Atlântica no
município de São João Evangelista. Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica (2003).
O Poder Público, através do Ministério do Meio Ambiente (MMA) vem em
parcerias com ONGs, governos estaduais e municipais, instituições privadas e
52
pessoas anônimas travando uma árdua batalha em busca da preservação dos
remanescentes da Mata Atlântica. Em 2004 o MMA lançou uma publicação
avaliando alguns projetos do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA)
voltados exclusivamente para a Mata Atlântica, com o objetivo de ressaltar a
importância da organização, da união, da vontade política e do voluntariado. A
publicação aborda erros e acertos que esses projetos enfrentaram e enfrentam,
para que sirvam de exemplos e incentivos, concluindo assim que valeu a pena
investir: “Os benefícios que permaneceram para as comunidades, famílias e
para o meio ambiente são evidentes” (BRASIL, 2004:6).
Entre os projetos apoiados pelo PDA em áreas de Mata Atlântica, foi
avaliada uma amostra representativa de recuperação da mata e que em seu
conjunto, propõe modelos de uso e conservação do bioma Mata Atlântica; uma
amostra de localidades que lutam para melhorar sua qualidade de vida,
mudando a dura realidade do meio em que vivem, entendendo a importância
da preservação ambiental para o presente e principalmente para o futuro.
Dentre os projetos avaliados na publicação em questão, destaca-se aqui
alguns da região sudeste:
Espírito Santo - ES: Projeto Conservação e Recuperação de
Ecossistemas Costeiros, seu foco principal está na recuperação ambiental da
restinga na área continental e insular do litoral sul do ES; teve como principais
benefícios a consolidação do Parque Estadual Paulo César Vinha e o estado
de conservação das ilhas.
Minas Gerais – MG: Foram dois projetos avaliados: a) Projeto de
Desenvolvimento Rural Sustentável e Conservação dos Remanescentes de
Mata Atlântica no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
Mata do Sossego, que segundo opinião dos agricultores o maior benefício
conseguido foi a redução de 40% nas despesas com a mão-de-obra nas
culturas do café consorciado e orgânico. b) Projeto Educação e Recuperação
Ambiental da Mata Atlântica no Vale do Rio Doce: nasceu da necessidade de
aumentar as áreas de conservação e uso sustentável do município de Aimorés;
tem como principais atividades, a recuperação de áreas degradadas e a
realização de cursos de EA por meio da implantação e consolidação do Centro
de Educação e Recuperação Ambiental; seus principais benefícios têm sido
53
mostrar a viabilidade de reflorestar uma área degradada, formar massa crítica
na população e um bom resultado na captação de recursos.
São Paulo – SP: Entre os três projetos avaliados no estado de SP
destaca-se aqui: Projeto Gestão Ambiental Participativa e Desenvolvimento
Econômico do Quilombo de Ivaporunduva: visa promover a melhoria da
qualidade vida e a conservação ambiental dessa área; seu grande avanço está
em buscar opções para a monocultura da banana (uma atividade de forte vetor
de desmatamento), incluindo a diversificação como o palmito Jussara (BRASIL,
2004).
Percebe-se em todo País a existência de vários projetos que visam a
melhoria da qualidade ambiental e conseqüentemente da qualidade de vida do
cidadão presente e futuro. Entretanto a exemplo dos projetos citados acima,
vê-se que apenas com vontade, organização e união entre sociedade, poder
público e privado se faz possível a realização de projetos ambientais que
geram benefícios para o meio ambiente e para a sociedade como um todo.
Percebe-se também que é crescente em todo o mundo o trabalho
desempenhado por voluntários que trabalham em prol de um ambiente menos
deteriorado, como exemplo, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
(2001), nos Estados Unidos uma a cada três pessoas prestam serviço
voluntário, sendo que seis em cada dez são jovens. No Brasil, a ação
voluntária ainda é pequena, entretanto percebida como essencial pelo MMA
que em 1998 regulariza o trabalho voluntário pela Lei 9608/98 e em 2001, Ano
Internacional do Voluntariado, iniciou várias ações voltadas para o incentivo ao
trabalho voluntário com objetivo de criar no País a tradição que existe em
outros países, que é o estímulo ao envolvimento da sociedade com as
unidades de conservação por meio de trabalhos voluntários. Essas são ações
fundamentais tanto para a preservação da Mata Atlântica como para a natureza
de maneira geral.
54
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram discutidos em conformidade com os objetivo da
presente proposta em termos: caracterização do perfil socioeconômico dos
moradores do entorno da mata e suas percepções sobre o ambiente; além
disso, procurou-se examinar as percepções da liderança local, envolvida com a
temática em questão.
3.5 Caracterização do Perfil Socioeconômico dos moradores do Bairro Engenho de Serra
No que concerne ao perfil dos entrevistados, os resultados mostraram
conforme exposto na Tabela 03, que relaciona os grupos por faixa etária, que a
maioria dos entrevistados não ultrapassa a faixa etária de 45 anos (80%),
sendo a idade média de 35 anos. Desses, 64% é do sexo feminino e 36% do
sexo masculino; a representação familiar correspondeu a 58% mães, 32% pais
e 10% filhos.
55
Tabela 3: Faixa etária dos moradores entrevistados, São João Evangelista, 2006.
Grupos de Idade Percentual (%) 17 a 25 anos 30,0 26 a 35 anos 20,0 36 a 45 anos 30,0 46 a 55 anos 10,0 56 a 64 anos 10,0
Total 100,0
A escolaridade média da amostra foi de 9 anos, onde a maioria (78%)
tem pelo menos o ensino fundamental completo (cursou até a 8a série). O que
demonstra não ser a baixa escolaridade um fator que conduza os moradores a
interferir nos recursos naturais da mata de maneira insustentável (Tabela 4). Tabela 4: Nível de escolaridade dos entrevistados, São João Evangelista,
2006. Nível de Escolaridade % Mulheres % Homens Total (%) Analfabeto 0 0 0 Fundamental Incompleto (até 4a série)
4 7 11
Fundamental Completo 23 12 35 Médio Incompleto 21 11 32 Médio Completo 10 5 15 Superior Incompleto 6 1 7 Superior Completo 0 0 0
Total 64 36 100
A ocupação principal do seguimento feminino foi de donas de casa, o que
pode ser reflexo da falta de oportunidades de emprego para as mulheres no
município; visto que a ocupação seguinte era de costureira, uma vez que o
município conta com 6 pequenas empresas de confecção. Quanto aos homens,
mais da metade dos mesmos (61%) trabalhava na construção civil ou no
comércio, funções essas que não exigem muita escolaridade e que é reflexo da
pouca oferta de emprego no município (Tabela 5).
Tabela 5: Ocupação de mulheres e homens, São João Evangelista, 2006.
56
MULHERES HOMENS Ocupação Total em
percentagem Ocupação Total em
percentagemDona de casa 42 Trabalhador na
construção civil 31
Costureira 17 Trabalhador no comércio 30 Empregada doméstica
16 Motorista 19
Professora 13 Comerciante 11 Trabalhadora no comércio
6 Estudante 6
Estudante 6 Carpinteiro 3 Total 100% de 64
mulheres Total 100% de 36
homens
No que concerne ao tempo de residência dos moradores percebeu-se,
conforme Figura 11, que a maioria já está no bairro a mais de 10 anos. Dos
100 entrevistados 53% são nativos de São João Evangelista e 47% são de
cidades vizinhas ou vindos de “grandes centros” como São Paulo e Belo
Horizonte.
11%
21%
34%
24%
10%
Até 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
16 a 20 anos
> 20 anos
Figura 11: Tempo de residência no Bairro Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006.
No que diz respeito ao padrão econômico dos moradores entrevistados,
constatou-se, conforme Tabela 6, que no bairro ainda reside uma população
com características semelhantes às descritas quando de seu projeto de criação
que se destinava a uma população de baixa renda, uma vez que a média
57
salarial de 77% dos moradores era 2 salários mínimos por família. Ainda, de
acordo com o projeto de criação, 74% dos entrevistados declararam ter casa
própria dos quais 90% adquiriram-na através de financiamento. Tabela 6: Renda média das famílias do Bairro Engenho de Serra, Renda Familiar Total em percentagem Entre -1 e 3 salários 77,0 Entre 3 e 5 salários 18,0 Mais de 5 salários 5,0
Total 100,0
3.6 Percepção sobre o Ambiente dos Moradores do Bairro Engenho de Serra
A percepção que os moradores têm do bairro é demonstrada na Figura
12. Para eles o bairro é bom por ser um lugar tranqüilo e seguro, destacando a
proximidade à mata e a convivência com os vizinhos, como algo que lhes
proporcionam prazer.
4427
2
85
020406080
100
Tranquilidade eSegurança
Proximidade com aNatureza
Relação entreVizinhos
Outros
Aspectos Positivos
Nº d
e Vo
tos
Figura 12: Aspectos Positivos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção dos
Entrevistados, São João Evangelista, 2006.
É provável que a tendência em ver o bairro como um lugar tranqüilo e
seguro, esteja relacionado ao fato de que 47% dos entrevistados vieram de
58
outras localidades, como cidades vizinhas e “grandes centros”. Para Moreira
(2003) essa visão assemelha-se a uma forma histórica de campo e cidade,
marcada pela presença de uma economia e sociedade de base rural, onde os
indivíduos se limitam a um horizonte geográfico de vida local.
Ao apontarem o que menos gostam no bairro, conforme retratado na
Figura 13, a grande maioria declarou não gostar da distância que separa o
bairro do centro da cidade, uma vez que na mesma não tem nenhum tipo de
transporte público; e, em segundo lugar, a escassez de serviços públicos, com
destaque para a falta de calçamento em algumas ruas.
55
35
5
71
01020304050607080
Distância docentro
Faltamserviçospúblicos
Falta áreade lazer
Insegurança
Aspectos Negativos
Nº d
e Vo
tos
Figura 13: Aspectos Negativos do Bairro Engenho de Serra, na Percepção do
Entrevistados, São João Evangelista, 2006.
Existe nesse sentido uma ambigüidade de sentimentos quando os
moradores apontam a distância do centro e a dificuldade de acesso como
pontos negativos, uma vez que, ao mesmo tempo, a maioria dos entrevistados
destaca a tranqüilidade e o sossego, como pontos positivos no bairro.
O gosto pela vida no bairro é salientado, quando 67% dos moradores
dizem considerar a vida que levam no bairro boa, 26 % consideram ótima e
apenas 7% disseram levar uma vida regular. O prazer de morar no bairro é
nitidamente percebido pelos moradores mais velhos que, ao contrário dos
jovens, gostam de uma vida sossegada, sem barulhos ou perturbações, visto
59
que o bairro guarda ares de rural na sua formação, tendo casas, na maioria,
sem muros, com pomares, hortas e jardins.
Sendo o foco de estudo a mata, as questões relacionadas ao meio
ambiente foram direcionadas para a percepção e relação que os moradores
tinham com a mesma. Quando questionados sobre o que a mata representa
para eles, verificou-se conforme Figura 14, que a mata na percepção dos
moradores é um bem valioso que oferece: ar puro (55%), saúde (42%), belezas
(40%), qualidade de vida (20%) e fonte de recursos (9%).
A representação da mata para os moradores está focada na oferta de
“bens”, numa visão de que ela está lá para “servir”, seja por meio de recursos
intangíveis como sua beleza ou como o oxigênio que nos proporciona saúde e
o bem estar, como também pelos seus recursos palpáveis, como a lenha e a
madeira. Brandão em sua obra “O Afeto da Terra” (1999) relata que ao indagar
a um velho morador da localidade em estudo, o porque de ele mesmo
aposentado (do FUNRURAL), continuava trabalhando no quintal com a enxada,
obteve a seguinte resposta: ‘é que eu sou muito amoroso com terra, eu tenho
um grande afeto por ela’. O valor que os moradores do Bairro Engenho de
Serra deram à mata, assemelha-se à visão desse senhor que diz amar a terra,
entretanto não condiciona esse afeto ao que ela pode oferecer.
Brandão (1999:64) aborda essa questão, da seguinte forma:
“Há um prazer fecundante que torna parceiros de uma relação amorosa o lavrador e a terra. Eu reconheço que neste enlace de afeto está o desejo de tornar ”culturalmente” culto o inculto, civilizado o selvagem, socializado e útil aquilo que, dado pela natureza ao homem, somente parece completar o ciclo de seu valor quando transformado de floresta em campo, de campo em terra de lavoura, de terra de lavoura em lavoura plantada e colhida”. BRANDÃO
60
47 44
2312
59
010203040506070
Ar Puro Saúde Beleza Qualidade deVida
Fonte deRecursos
Representação da "Mata"
Nº d
e Vo
tos
Figura 14: Representação da “Mata” pelos moradores do Bairro Engenho de
Serra, São João Evangelista, 2006.
Entretanto, pode-se afirmar que apesar da representação da Mata
conferida pelos moradores, a relação da maioria dos moradores é de respeito à
mata, onde 59% disseram nunca ter entrado na mata e dos 41% que declaram
ter entrado, 88% foram com o objetivo de conhecer ou passear, apenas 12%
moradores assumiram ter buscado lenha na mata; apesar de reconhecerem
que ela é particular, justificando o ato com o alto custo do gás de cozinha.
Com relação a ver outras pessoas entrarem na mata 50%, disseram já
terem visto outras pessoas, a maioria não residentes do bairro, que entravam
na mata para extrair dela lenha, madeira ou animais. A maioria dos moradores
(83%) não acha correto que se entre na mata e extraia qualquer de seus
recursos, enquanto que o restante(17%) afirmou que não vêem mal algum em
retirar apenas lenha da mata, já que são árvores ou galhos mortos. Contudo, a
informação que se teve com moradores informalmente, é que as pessoas que
extraem lenha muitas vezes cortam galhos ou pequenas árvores e deixam
secar para depois buscar. Ou seja, existe a extração de madeira para uso
principalmente na construção de telhados e cercas.
Essa prática é destacada por Silva (2001), afirmando que sendo o homem
um ser que busca saciar suas curiosidades, tentando ampliar seus
conhecimentos, nem sempre suas ações com relação ao meio em que vive ou
do qual está próximo, são corretas e adequadas. No caso da mata as pessoas
61
que nela entram nem sempre estão ali para apreciar sua beleza, por vezes
abusam e a exploram de maneira indevida, outras vezes deixam suas marcas
através do lixo largado no caminho por onde passam.
Os moradores, em sua maioria absoluta, vêem a mata como um bem
importante tanto para a saúde da população do bairro, como da cidade como
um todo. Consideram que é a maior beleza da cidade de São João Evangelista,
sendo muito importante que a Escola continue vigiando e cuidando para que
ela não acabe nunca. Essa percepção de que é a Escola que deve vigiar e
cuidar da mata é reflexo da maneira como a própria Escola se coloca diante da
situação, alegando ser a mata uma propriedade particular, delimitando seu
espaço e proibindo a entrada de “estranhos” em seu interior. Fica evidente que
os instrumentos até então usados pela Escola, afastam cada vez mais a
possibilidade de a população local unir forças para a conservação e uso
sustentável da mata, vislumbra-se a eminente necessidade das pessoas
responsáveis pelos projetos de integração entre a Escola e a Comunidade
buscarem mecanismos de conscientização e de apoio não só dos moradores
como de todo a sociedade evangelistana para o uso sustentável da mata.
Enfim, sanar a curiosidade e desenvolver o espírito de que a natureza não é de
ninguém e é de todos ao mesmo tempo; de que é necessário a prática da
cidadania, no uso dos diretos e dos deveres.
Outro aspecto trabalhado foi o da coleta seletiva do lixo, constatando que
95 % dos entrevistados disseram saber o que era lixo reciclável. Entretanto
apenas 20% desses disseram separá-lo para facilitar a coleta. Como na cidade
não se realiza coleta seletiva, acredita-se que esses 20% separam garrafas,
vidros e latas que os mesmos reutilizam ou comercializam. Evidencia-se assim,
a necessidade de implantação da coleta seletiva na cidade, uma vez que
mesmo ela não acontecendo já se conta com a vontade de alguns moradores
em realizá-la, o poderá resultar numa adesão significativa ao instituí-la no
município, se a mesma for calcada na oferta de informações aos moradores a
respeito da importância da seleção do lixo, tanto para o ambiente que será
menos agredido, quanto para a sociedade, uma vez que a coleta seletiva
mantém a cidade limpa e pode gerar emprego e melhor qualidade de vida, a
exemplo de muitas associações de catadores organizadas em todo país.
62
Sobre os conhecimentos dos moradores em relação à Educação
Ambiental pôde-se constatar, conforme Figura 15, que apenas 39 % dos
entrevistados disseram ter um conhecimento básico sobre Educação
Ambiental, dos quais 64% disseram tê-lo construído através da mídia, mais
especificamente em programas de televisão; 23% obtiveram as informações na
escola e outros 12% no trabalho. Em função do nível de escolaridade dos
entrevistados, evidencia-se a necessidade de se avaliar como se pode
trabalhar melhor a Educação Ambiental informal, uma vez que o conhecimento
que ficou marcado para os poucos moradores que disseram conhecer sobre
EA estava concentrado no aporte da mídia, aproveitando-se do grande alcance
oferecido pelos meios de comunicação, empregá-los mais efetivamente em
projetos de formação de cidadãos conscientes de seus deveres, inclusive no
que se refere ao meio ambiente em que vive.
Mesmo a maioria tendo declarado não ter conhecimento sobre EA, ao ser
solicitado a todos que dissessem com que a EA se relaciona, as opções mais
marcadas demonstraram a existência de um conhecimento básico sobre EA
quando fazem relação dela com itens de grande importância, como a da
preservação da natureza.
49 4839 37
25
3
81
0102030405060708090
Preservaçãoda Natureza
Poluição Lixo Animais Reciclagem Saúde Outros
Percepção de Educação Ambiental
Nº d
e Vo
tos
Figura 15: A Educação Ambiental, na percepção dos moradores do bairro
Engenho de Serra, São João Evangelista, 2006.
A maioria dos entrevistados elegeu as escolas como o local mais
apropriado para se ensinar sobre EA, seguidos da casa e da comunidade. Ver
63
a escola como o local mais adequado para se ensinar EA reforça, ainda mais, a
responsabilidade que a EAFSJE-MG tem de levar à localidade a informação
que os moradores necessitam e, assim, conseguir deles o apoio na
preservação da mata, através de parcerias que visem oferecer às escolas do
município um suporte técnico, para que através do ensino formal, apontado
como melhor maneira de se ensinar EA, possa-se levar mais conhecimento aos
moradores tanto do bairro em estudo como a toda a cidade.
3.7 Percepção da Liderança Local
Buscando complementar e enriquecer os depoimentos dos moradores,
procurou-se examinar as percepções das pessoas que detêm o poder de
mudança, investimento e, principalmente, de promoção de ações educacionais,
especificamente o Diretor da EAFSJE-MG e a Secretária Municipal da
Educação, representando o Prefeito Municipal. Os resultados mostraram que é
atribuída uma significativa importância da mata para a vida das pessoas, tanto
a nível nacional e mundial, em função do decréscimo que as áreas verdes têm
sofrido em todas partes do mundo, causando diversos problemas ambientais,
como por exemplo, a diminuição da biodiversidade e a destruição da camada
de ozônio. A nível local consideram que a mata, com uma dimensão superior a
100 hectares, é de fundamental importância para o município, tendo em vista
que é a maior área verde que circula o mesmo; além de ser um gigantesco
laboratório natural para trabalhos voltados às questões ambientais, tanto para
pesquisas científicas in loco, como apenas para exemplo de preservação.
Destacaram, também, que a mata é um patrimônio de valor inestimável, tanto
pelo aspecto ecológico pelas questões de exuberância e raridade, levando-se
em conta o desmatamento descontrolado na região, com reflexos negativos
sobre os poucos remanescentes de Mata Atlântica.
No que concerne ao grau de conhecimento da liderança local sobre a
relação dos moradores do Bairro Engenho de Serra com a mata da Escola,
destacou-se ser esta relação, de certa forma, conflituosa, tendo em vista
denúncias feitas por alguns moradores do Bairro Engenho de Serra,
64
especificamente em termos do desmatamento da mata. Ressaltou-se,
entretanto, que deve ser levado em consideração fatores socioeconômicos, já
que por questões de sobrevivência esses moradores utilizam produtos dessa
mata (lenha e madeira) como uma fonte de renda. Salientaram que a culpa não
é apenas dos moradores; mas, principalmente, das desigualdades
socioeconômicas no município, a exemplo do que acontece no país, além do
baixo nível educacional da população local, principalmente no que se refere às
questões da área ambiental.
Portanto, não é desconhecido pelos representantes do poder local, a
existência do problema, o que talvez ainda não seja claro são as reais causas
da interferência dos moradores na mata, como os mesmos apontaram a baixa
escolaridade da população local, hipótese essa que não foi comprovada ao
traçar o perfil socioeconômico dos moradores do bairro Engenho de Serra.
Em termos das ações, que têm sido realizadas no sentido de promover a
consciência ecológica junto aos moradores do Bairro Engenho de Serra,
reconheceu-se que é de suma necessidade um trabalho mais efetivo nessa
área; ressaltando-se a importância da criação do Curso Técnico em Meio
Ambiente na EAFSJE-MG. Desconhece-se a existência de ações de vulto
nessa área, em termos de projetos de conservação e preservação do meio
ambiente.
Apesar dessa realidade, constata-se a existência de propostas de
trabalho de conservação e preservação do meio ambiente, no âmbito do
município, como por exemplo, as Áreas de Proteção Ambiental - APAs,
Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente - CODEMA e
trabalho de ONGs. Ou seja, as ações específicas com respeito à mata são
mais para resolver problemas como é o caso da parceria com a Polícia
Florestal.
Enfim, reconhece-se a interferência dos moradores na mata como um
problema; embora não houveram ações mais efetivas envolvendo a sociedade,
em especial os moradores do Bairro Engenho de Serra.
Acredita-se que a formação de parcerias entre a Escola e a sociedade,
com participação direta da própria comunidade, seja de grande utilidade para a
minimização dos problemas existentes, por meio da conscientização da
população sobre a importância da mata e de toda a natureza.
65
Como se percebeu as instituições representadas são receptivas à
realização de projetos no sentido de buscar um maior equilíbrio entre o homem
e a natureza e estão dispostas a fazer com que os mesmos aconteçam,
deixando de ser apenas propostas passando a ser ações.
3.8 Matrizes do Diagnóstico Participativo: Os encontros dos “Domingos Ecológicos”
Diferentemente do objetivo a que foi criada a metodologia PROPACC
(capacitação de recursos humanos para Educação Ambiental), neste trabalho
valeu-se da metodologia pelo desenho de suas matrizes visando a obtenção de
um diagnóstico participativo que levasse os moradores a vislumbrar as
potencialidades do local onde residem, bem como os principais problemas
socioambientais, muitas vezes despercebidos por eles ou até mesmo não
sentidos como problemas. Formalmente não se buscou capacitar recursos
humanos, entretanto sabe-se que o conhecimento adquirido na vida é sempre
compartilhado com as pessoas mais próximas, podendo assim, esperar que os
mesmos sejam multiplicados informalmente.
A primeira tentativa, obviamente fracassada14, foi a realização de um
encontro com convite feito informalmente. Entretanto, nesse encontro contou-
se apenas com a presença de um morador conhecido da pesquisadora e sua
esposa que muito sincera disse: “não quero te desanimar, mas o povo daqui
não participa de nada, pois têm medo de ser questões políticas”.
A estratégia foi mudada e buscou-se então, um contato mais direto e o
apoio de pessoas mais influentes entre os moradores que se dispuseram a
incentivá-los e orientá-los a participar dos encontros. Assim, fizeram-se
convites pessoais com esclarecimentos quanto ao objetivo do encontro e sua
programação prévia. Foi então possível arrebanhar mais moradores, que
movidos pela curiosidade compareceram ao segundo encontro. O mesmo teve
como objetivo principal motivar e apresentar a proposta da pesquisa, 14 O fracasso se deu em função de não se ter divulgado previamente o objetivo a que se propunha o encontro. Os moradores do Bairro Engenho de Serra sentiram receio de estarem sendo usados para questões políticas.
66
organizado da seguinte maneira: primeiro a realização de dinâmica de quebra-
gelo para entrosamento dos moradores com a pesquisadora, demonstrando
que o trabalho era particular sem nenhum cunho político; segundo foi feito a
exibição de um vídeo (Ecossistemas Brasileiros – Juréia: O último resíduo
verde de São Paulo. SBJ Produções - 1995) e leitura de textos relacionados
aos problemas socioambientais a que o planeta está passando (textos extraído
de revistas, jornais e Internet); e no terceiro momento realizou-se uma
discussão dirigida sobre o conteúdo do vídeo e dos textos, onde todos tiveram
a oportunidade de se expressar, ora espontaneamente, ora respondendo
questionamentos feitos pela pesquisadora/coordenadora . Para o levantamento
das potencialidades e os problemas do bairro, foram desenvolvidos encontros
apelidados pelos próprios participantes de “domingos ecológicos”. No primeiro
encontro foi apresentado a proposta e, no segundo encontro foram montadas
as matrizes 1 e 2 que se referem aos problemas socioambientais e as
potencialidades ambientais da cidade e do bairro ora estudado, contando com
a participação do mesmos 36 do encontro anterior. No entanto, para se chegar
a primeira matriz não foi fácil, uma vez que os participantes tiveram grande
dificuldade em identificar os problemas socioambientais, visto que os mesmos
viam no bairro um ótimo lugar para se morar. Para tanto, precisou-se usar de
metodologias simples e bem objetivas para que os mesmos encontrassem os
problemas e as potencialidades da localidade.
Na busca por informações teóricas que proporcionassem aos moradores
subsídios que os levassem a compreender as questões socioambientais da
localidade em que vivem. O segundo encontro foi iniciado com leituras de texto
e reportagem, seguido da exibição de vídeo que abordavam temas de
relevância ao estudo e que foram buscados nos veículos de comunicação
como jornal, revistas e programas de televisão que apresentaram reportagens
como o desmatamento da Amazônia, a desigualdade social, modelos de
desenvolvimento sustentável, entre outros, que depois de apresentados foram
comentados por todos.
Só então, passou-se ao objetivo principal do encontro que foi a
construção das matrizes. Para a construção das matrizes 1 e 2 o grupo foi, no
primeiro momento, dividido em dois subgrupos para que os mesmos
apontassem os problemas socioambientais e as potencialidades do bairro e da
67
cidade em que vivem, rumo ao desenvolvimento sustentável. A palavra
problema, no entanto, levou a princípio a um resultado não esperado, pois para
29 dos 36 moradores ali presentes, o bairro não tinha problemas. Assim, ao
invés de pedir que citassem os problemas (inexistentes para a maioria) foram
feitas duas perguntas: O que falta ao Bairro Engenho de Serra para que o
mesmo se torne para você um local ideal de se viver? O que gostariam que
melhorasse na cidade de São João Evangelista? Assim os problemas
apareceram e deu origem a primeira matriz. Quadro 2 : Matriz 1- Identificação de problemas sociambientais
MUNICIPAIS LOCAIS 1. Desemprego; 2. Saúde (atendimento não satisfatório); 3. Educação (não ter ensino superior); 4. Infra-estrutura (algumas ruas sem calçamento, iluminação e água tratada; crescimento desordenado, imóveis caros) 5. Não ter agência do Banco do Brasil; 6. Divisão política (as pessoas que apóiam o partido que perde não colaboram para o crescimento da cidade); 7. Falta opção de lazer, quadra poliesportiva; 8. Visão pública pouco voltada para os problemas ambientais. 9. Desenvolvimento é lento; 10. Falta de segurança; 11. Desigualdade social, baixa qualidade de vida; 12. Não tem tratamento de esgoto e reciclagem de lixo.
1. Ausência de assistência médica e social no bairro 2. Ruas sem calçamento, muita poeira, ausência de transporte coletivo, iluminação pública não satisfatória; 3. Córrego poluído e exalando mal cheiro; 4. Ausência de supermercado, padaria, farmácia, e outros; 5. Distância do bairro em relação ao centro da cidade; 6. Ausência de policiamento, segurança pública. 7. Degradação da mata; 8. Falta escola de 5ª a 8ª séries. 9. Instalação de uma fábrica de tijolo (degradação ambiental); 10. Crescimento urbano local sem planejamento; 11. Poucos telefones públicos; 12. Falta de emprego; 13. Falta de áreas de lazer.
Na síntese dessa matriz (Quadro 2) considera-se que os participantes
tiveram uma identificação significativa dos problemas locais e boa percepção
da questão ambiental a nível municipal, acredita-se que as discussões e relatos
realizados anteriormente serviram para começar a despertar a visão crítica e a
percepção de seu meio. Vale destacar que o problema em estudo (a
degradação da mata) não foi a princípio apontado pela maioria dos
68
participantes como um problema do bairro. Consideravam sim um problema,
mas para eles muito mais da Escola do que dos moradores. O que na verdade,
é essa a imagem que muitas vezes a Escola deixa passar colocando-se como
proprietária e guardiã da mata. Entretanto, quando se procedeu ao debate e a
análise das matrizes elaboradas pelos grupos menores, para integrar numa
visão de grupo, aqueles que haviam apontado-na como problema para o bairro
a mata, foram tão convincentes em suas colocações que o grupo entendeu que
a situação deveria ser adicionada como um problema e ao mesmo tempo uma
potencialidade do Bairro.
Como metodologia de trabalho para a elaboração da matriz 2 (Quadro 3),
o grupo foi novamente dividido no primeiro momento e depois juntos
construíram uma só matriz, como na anterior. A segunda matriz pareceu mais
fácil de ser determinada, visto que os moradores presentes foram unânimes em
dizer que “o bairro é um local bom de se viver”, ainda considerado “muito
tranqüilo” e “seguro”. Em relação à cidade os participantes também
concordaram em muitos pontos levantados como potencialidades,
principalmente a existência da Escola Agrotécnica Federal de São João
Evangelista que colabora em muito com o desenvolvimento da cidade, além do
ponto de inserção da cidade que é cortada pela estrada que liga várias cidades
da região a Belo Horizonte ou Governador Valares que são cidades de
referência especialmente na busca de saúde e educação. Vale ressaltar que o
grupo acredita muito no potencial do município em se desenvolver
principalmente em relação à educação. Quanto ao bairro, o grupo aponta em
especial o ambiente bem próximo à natureza que faz do bairro um local
tranqüilo e bom de se viver com qualidade de vida, apesar das carências
apontadas na matriz anterior.
69
Quadro 3: Matriz 2 - Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável
MUNICIPAIS LOCAIS 1. A Escola Agrotécnica Federal; 2. Fábricas (cerâmica e confecção) que são fontes de empregos; 3. A localização da cidade em relação à região de inserção; 4. Investimentos do poder público em ações de proteção ao meio ambiente; 5. Tem estrutura física que possibilita o funcionamento de faculdades e áreas para instalação de indústria, comércio e escolas; 6. A cidade é bonita, bem cuidada, de clima agradável, povo acolhedor e tranqüilo; 7. Há investimento crescente na agropecuária; 8. Região de ricos recursos naturais (solo, água, fauna e flora) 9. Uma bela mata às suas margens; 10. Boas escolas de ensino fundamental e de segundo grau; 11. Cidade calma e segura (pouca violência); 12. Proporciona qualidade de vida; 13. Atendimento á saúde é bom e tem como melhorar;
1. Lugar tranqüilo e bom de se viver; 2. Uma mata nativa bem próxima que proporciona ar puro, saúde e qualidade de vida aos moradores, uma beleza natural inigualável; 3. Aluguel barato; 4. Boa convivência entre vizinhos, poderá gerar grupos de trabalho; 5. Fábrica de tijolos próxima ao bairro (gera empregos); 6. Água tratada, luz e telefone; 7. Tem área disponível para construção de área de lazer (quadra e praças); 8. Os moradores gostam do bairro.
O terceiro encontro, e último teve como objetivo a construção das
matrizes 3 e 4, seguido da conclusão e avaliação dos trabalhos. No primeiro
momento juntos fizeram uma síntese dos problemas locais em 5 áreas:
educação, desemprego, planejamento urbano, saneamento básico e saúde; só
então, em grupos menores buscaram a relação das possíveis causas, gerando
a matriz 3.
Para a matriz 4 de seleção dos problemas e possíveis soluções, o grupo
foi dividido em 3 grupos onde cada um escolheu 3 problemas que julgaram de
maior relevância, estabelecendo possíveis soluções. Em seguida o resultado
dos 3 grupos foram fundidos em um só, concretizando a matriz 4 com a
seleção de 5 problemas municipais e 8 locais com suas prováveis soluções.
70
Para Medina (2003), a matriz 3 objetiva o estabelecimento das inter-
relações entre os problemas ambientais identificados, procurando as causas
reais e possibilitando a compreensão dos sistemas ambientais, suas relações e
determinações, construído num modelo de fluxograma (Quadro 4). Entretanto,
o grupo com o qual estava-se trabalhando não conseguiu estabelecer as inter-
relações através de fluxogramas. Para que não houvesse interferências
induzindo o grupo, permitiu-se que os mesmos construíssem-na da maneira
que entenderam, dando resultado a um quadro que relata a relação do que
poderia estar sendo a(s) causa(s) dos problemas locais estabelecidos na matriz
1 de forma horizontal e com nítida dificuldade em fazê-la. Quadro 4: Matriz 3 - Inter-relações entre problemas e potencialidades Matriz 3: Inter-relações
Educação
• Os representantes públicos não preocupam em buscar projetos de criação de uma escola pública que ofereça até o ensino médio em local mais próximo do bairro. • Não se realiza projeto de EA no local.
Desemprego
• A falta de qualificação da mão de obra; pouco acesso a cursos técnicos e de qualificação de mão de obra; falta incentivo a criação de empresas ou comércio local. • Faltam linhas de financiamento (ou informações) para abertura de micro e pequenas empresas.
Planejamento urbano, infra-estrutura.
• Falta de organização dos moradores (Associação de Bairro) para se fazerem representar junto ao poder público, buscando investimento quanto ao calçamento, projetos adequados de loteamento, rede de esgoto, iluminação, construção de áreas de lazer e outros.
Saneamento básico (córrego poluído)
• O descuidado dos moradores que jogam no córrego lixo, dejetos de animais e outros, associado à falta de manutenção (limpeza) do mesmo, assoreamento do córrego e falta tratamento do esgoto. • Ausência de palestras informativas e preventivas (Educação Ambiental).
Saúde (falta atendimento médico local)
• A inexistência de um PSF no bairro, uma vez que sua localização é distante do hospital. • Ausência de informações sobre saúde preventiva.
71
Na etapa final de construção das matrizes adaptadas da metodologia
PROPACC, o grupo procurou através da matriz 4 apresentar possíveis
soluções para os problemas mais relevantes, abordados anteriormente. Com a
construção da matriz 4 fica evidente a necessidade de se caminhar para
discussões populares em relação a ações de desenvolvimento sustentável do
município, uma vez que ficou evidenciado um importante crescimento do grupo
no que se refere a preocupação e conscientização ambiental. Quadro 5: Matriz 4 - Seleção de problemas e possíveis soluções Seleção de 5 problemas Municipais
Possíveis soluções Identificação de 8
problemas Locais
Possíveis soluções
1- Desemprego
* Criação de frentes de trabalho, incentivando o desenvolvimento da agricultura e pecuária familiar; incentivo fiscal para implantação de pequenas empresas agroindustriais.
1- Falta mais infra-estrutura no bairro
* Incentivar investimentos (privados) para melhorar a oferta de serviços, amenizando assim o fato do bairro ser distante do centro. * Priorizar investimentos em calçamentos, escolas, telefones públicos, posto de saúde, rede de esgoto, e outros.
2- Ausência do ensino superior na cidade.
* Buscar parcerias entre Universidades, Prefeitura e as Escolas locais para criação de cursos superiores que ainda não têm na região. * Facilitar o acesso a cursos profissionalizantes e superiores através de bolsas de estudo.
2- Degradação da mata
* Que a Escola busque o apoio do poder público para realização de projetos em Educação Ambiental para os moradores do bairro, visando sua preservação. * Buscar junto ao poder público um aumento na distribuição de vale gás.
3- Falta opção de lazer
* Buscar junto ao governo verba para construção de um centro esportivo; incentivar a criação de grupos musicais, de teatro, de dança e outros, divulgando-os através de apresentações na Semana da Cultura (festa tradicional da Cidade).
3- Córrego poluído.
* Criar um Centro de Educação Ambiental no bairro. * Promover discussões sobre os perigos que as águas poluídas podem causar, buscando consci-entizar os moradores quanto à mudança de hábitos não ecológicos. * Implantação de coleta seletiva.
72
Continuação – Quadro 5 4- Não tem tratamento de lixo e esgoto; gestão pública15 pouco voltada para proble-mas ambien-tais.
* Construção de uma usina de reciclagem de lixo e estação de trata-mento de esgoto. * Promoção de eventos direcionados a popula-ção local sobre o meio ambiente, refloresta-mento, proteção de nascentes, coleta sele-tiva, saúde preventiva, produção orgânica, outros. * Criação de projetos de Educação Ambiental em escolas urbanas e rurais. * Realizar campanhas de conscientização ambiental. * Mais fiscalização sobre as irregularidades que atingem o meio ambiente.
4- Falta de atendimento médico e assistência social.
* Implantação de um PSF no bairro. *Realização de campanhas sobre cuidados com a saúde para todas as faixas etárias.
5- Desigual-dade social
* Implantação de programas sociais de financiamento a criação de micro e pequenas empresas, à agricultura familiar, a obtenção da casa própria; e à qualificação de mão de obra.
5- Instalação da fábrica de tijolos (degradação ambiental).
* Aumentar a fiscalização sobre a retirada de recursos naturais que servem de matéria-prima. * Exigir um projeto ambiental dos proprietários em cumprimento a legislação ambiental.
6- Falta de emprego
* Promover cursos de qualificação para os moradores do bairro. * Incentivar investimentos em pequenas empresas através de linhas de crédito.
7- Crescimento desordenado.
* Promover a fiscalização quanto à abertura de novas ruas e loteamentos no bairro; autuando quando se fizer
15 Por ocasião da realização do diagnóstico, esse era um problema, no entanto, ao final do ano de 2005 foram iniciadas obras de construção de uma usina de reciclagem e da estação de tratamento de esgoto.
73
necessário.
8- Falta área de lazer
* Construir uma praça bem arborizada e uma quadra de esportes no bairro.
Os problemas aqui apresentados são na sua maioria de caráter
socioeconômico e requer do poder público juntamente com instituições de
expressiva influência na cidade unir forças e buscar maior investimento na área
social e educacional. Uma população educada e informada de seus direitos e
deveres estará mais propícia a fazer de sua cidade uma cidade sustentável,
que acima de tudo proporcione a sua população a qualidade de vida e um
ambiente saudável a que tem direito e necessidade.
Pode-se destacar a nível local e municipal problemas que caracterizam a
falta de integração entre planejamento local e preservação ambiental. São
bairros sendo formados sem um estudo prévio dos possíveis impactos tanto
sociais quanto ambientais; a cidade desprovida de desenvolvimento
tecnológico e industrial deixa a desejar no que se refere à qualidade de vida da
população, falta oferta de serviços, saúde, educação e emprego; a assistência
médica é, na maioria das vezes, procurada nas cidades vizinhas e/ou na
capital, o que faz com que um tratamento fique dispendioso quando fora do
Sistema Único de Saúde - SUS. Outro item que se destaca negativamente é a
Educação, pois o município conta apenas com duas escolas de segundo grau,
uma estadual de ensino médio e uma federal de ensino profissionalizante que
não pode garantir a inserção dos jovens nativos, uma vez que se faz um
processo seletivo com igualdade de critérios para os candidatos de toda a
região. Este item é ainda mais frágil quando se refere ao ensino superior, pois
até então a cidade não conta com nenhuma escola que ofereça este nível de
graduação. Aos que têm condições, a saída é buscá-la em outros municípios,
principalmente a capital onde se formam médicos, engenheiros, advogados,
professores, entre outros. Uma experiência que muitas vezes leva os jovens
nativos de São João Evangelista a se acostumarem com o ritmo e as
vantagens da cidade grande e não mais retornarem à sua cidade para trabalhar
e investir seu capital intelectual em prol do desenvolvimento do município.
74
Em relação às condições de saneamento do bairro, o lixo doméstico e a
qualidade da água (córrego São João) são até então, realidades não
satisfatórias, mas que merecem destaque especial no cotidiano social, onde
ações são necessárias na busca de propostas coletivas para a solução de tais
problemas. No transcorrer da pesquisa, algumas ações que ora eram
apontadas como problema local, passaram a ser uma potencialidade do
município rumo a sustentabilidade ambiental. O poder público municipal em
parceria como a COPASA, deu início à construção de uma Estação de
Tratamento de Esgoto o que com certeza estará futuramente resolvendo não
só o mau cheiro do córrego São João apontado como problema do Bairro
Engenho de Serra, mas de toda a cidade que terá seu esgoto canalizado e
tratado para depois ser jogado em curso d’água. Também no final do ano de
2005 o poder público municipal deu início às obras de uma usina de reciclagem
de lixo, o que acredita-se que com a conscientização da população, tornará a
qualidade do ambiente local bem melhor e conseqüentemente uma melhoria na
qualidade de vida de seus moradores. Com a implantação da usina de
reciclagem, a população também poderá vislumbrar a criação de frentes de
trabalho que poderão fazer do lixo uma fonte de renda através da coleta e
reciclagem.
Quanto à questão ambiental, percebe-se uma fragilidade muito grande em
relação à promoção da Educação Ambiental tanto formal quanto informal, com
pouca ou nenhuma orientação nas ações ou políticas claras de preservação
ambiental como leis e programas municipais de Educação Ambiental. Ao que
parece, a EA é trabalhada nas escolas do município de maneira pouco
expressiva, ficando muitas vezes presa entre as paredes das mesmas, quando
deveriam se estender a toda localidade, chegando principalmente aos lares dos
alunos. Segundo informações de professoras do ensino fundamental, a maioria
das atividades de EA trabalhadas nas escolas do município (quando
trabalhadas) tem características e concepções voltadas para a corrente
naturalista (SAUVÉ, in SATO, CARVALHO e cols, 2005), onde os projetos em
sua maioria buscam revigorar uma ligação dos alunos com a natureza,
utilizando-se de jogos pedagógicos sensoriais e atividades de interpretação.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do propósito de compreender os impactos sociais das populações
em relação à interferência do homem no entorno da mata nativa e o papel da
Educação Ambiental na conservação da natureza, diante da aplicação do
método PROPACC, ressalta-se que este possibilitou uma visão sistemática
dessa população, reforçado pela composição de um referencial teórico
apropriado ao tipo de estudo.
Desta forma, destaca-se a importância da preparação para mudanças e
os desafios que o mundo moderno nos impõe. Portanto, necessita-se buscar
formas de integração e reorganização na maneira de conduzir a Educação
Ambiental para essa população. Para tanto, deve haver mudanças internas e
externas nos valores e padrões da localidade para uma conscientização da
76
importância do equilíbrio entre a preservação dos recursos naturais e a
sustentabilidade.
Além destas colocações, o estudo constatou o interesse das lideranças
locais para uma prática de gestão mais integral e participativa para o
crescimento da população analisada, permitindo à pesquisadora a liberdade de
analisar os resultados obtidos de acordo com cada objetivo proposto para esse
estudo.
Num primeiro momento, pretendeu-se caracterizar o perfil
socioeconômico e examinar as percepções sobre ambiente dos moradores do
entorno da mata do campus da EAFSJE-MG. O que permitiu constar que na
localidade não é a falta de escolaridade que afetou o uso indevido da mata,
mas provavelmente a renda familiar que está em torno de 1 a 3 salários
mínimos, necessitando utilizar de alguns recursos da mata. Além desses
aspectos, acredita-se que a falta de informação sobre o uso e preservação da
mata contribuiu para a degradação da mesma ao longo de 20 anos com o início
da urbanização do local.
Um ponto relevante percebido nas pessoas entrevistadas foi o interesse
pela orientação e implantação de projetos voltados para a Educação Ambiental
no bairro.
Ao examinar as percepções da liderança que detêm o poder de
mudança, investimento e promoção de ações educacionais da localidade,
percebeu-se o interesse e preocupação na preservação e conservação desses
recursos naturais para o crescimento e desenvolvimento sustentável do
município.
Na aplicação do diagnóstico participativo com os moradores, em relação
às potencialidades e problemas socioambientais da localidade, verificou-se que
a mata representa para os moradores oferta de “bens de consumo”, beleza e
saúde, tanto para o bairro quanto para o município.
Outro ponto interessante constado nesse estudo é a preocupação
dessas lideranças em se unirem como parceiros empenhados na busca de
ações concisas para o equilíbrio entre a utilização dos recursos naturais e o
desenvolvimento sustentável.
77
Diante desse contexto, notou-se que essa percepção reforçou a
importância de se produzir ações imediatas sobre as questões ambientais e o
efetivo papel do homem e sua responsabilidade frente aos mesmos, levando
informações e incentivo a todas as classes, deixando-as perceber que podem
e devem fazer algo por seu planeta. Para Gadotti (2000), uma das maneiras
de se possibilitar a preservação do meio ambiente é reunir pessoas e
instituição para discutir e opinar sobre o papel de cada cidadão no cuidado
com a Terra, haja vista a importância das decisões coletivas relacionadas a
esta questão, pois apesar do aumento de conhecimento ambiental, muitas
vezes promovido pela mídia, existe ainda uma dificuldade em determinar e
responsabilizar as reais causas, conseqüências e impactos decorrentes das
relações socioambientais de uma localidade.
Capra (1996) alerta quanto a essas discussões, referindo-se ao fato de
que podem se comprometer a fazer determinadas modificações que já são
consideradas tardias em relação aos problemas ambientais enfrentados. Além
disso, atuar nos limites das relações socioambientais é mais difícil, pois
dependerá da disponibilidade de tecnologias apropriadas, consenso social e
novo sistema de valores baseado em critérios de qualidade que sejam
ambientalmente sustentáveis, socialmente aceitáveis e culturalmente
valorizados. Portanto o caminho está na educação das novas gerações tendo
como princípio básico o que mais se compatibiliza com a realidade da
localidade, instituição ou município. Seja qual for à forma de implantação
escolhida pela sociedade para realizar a EA, seu objetivo maior é se colocar
frente aos atores sociais, comprometendo-se com os anseios do
desenvolvimento sustentável. Sendo assim, devem-se buscar objetivos como
redução de geração de resíduos e efluentes prejudiciais, produtos e processos
menos poluentes, dentre outros. E ainda se comprometer com um processo de
melhoria contínua deste sistema estratégico.
O brasileiro de maneira geral, acostumou-se com as ações paternalistas,
ficando muitas vezes dependente do poder público e capaz de pouca ou
nenhuma iniciativa. Cabe então, ao poder público e as instituições de
expressiva influência no município fazer sua parte dando o exemplo que todo
cidadão espera, convocando e estimulando a todos para prática da boa
relação com a natureza e do uso sustentável de seus recursos através de
78
mudanças estruturais na sociedade local, afinal a integridade social está
diretamente relacionada à capacidade de reconhecimento de que as escolhas
feitas trazem conseqüências diretas e que não se pode escapar da
responsabilidade que se tem sobre elas.
RECOMENDAÇÕES
É importante para sociedade que queira buscar sua sustentabilidade se
articular de maneira a organizar-se, mobilizar-se e conscientizar-se de que
cidadania se faz com o cumprimento dos direitos e também dos deveres, num
entendimento de que é direito do cidadão um ambiente saudável e com
qualidade de vida, mas é dever de todos dedicar-se em prol da consecução
desse direito. Cabe então o exercício da cidadania na realização de projetos
fundamentados na busca pela sustentabilidade e promoção da conscientização
através da EA para todos, projetos estes de responsabilidade do poder público,
instituições de ensino e de toda a sociedade.
Visando provocar reflexões no domínio da sociedade evangelistana,
especialmente no espaço do Bairro Engenho de Serra, ampliando as
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discussões sobre os problemas e potencialidades de promoção da
sustentabilidade local, após realização de diagnóstico participativo com os
moradores do referido bairro e entrevistas com pessoas-chave da sociedade
evangelistana, propõem-se ações diretas para a prática da Educação
Ambiental com vistas na preservação de matas nativas.
Parcerias com Secretarias de Educação: Através de parcerias com as
Secretarias Municipais de Educação local e das cidades vizinhas, viabilizar a
realização de projetos interdisciplinares que visem solucionar problemas
ambientais locais como a preservação do ambiente, reciclagem do lixo,
arborização urbana, melhoria da qualidade de vida das localidades menos
favorecidas, recuperação e preservação das nascentes, entre outros.
Competência: Alunos, professores e funcionários das escolas da rede
federal, estadual e municipal.
Passeios em trilhas ecológicas: Criar e/ou implementar trilhas
ecológicas interpretativas no interior da mata, como estímulos para a
percepção ambiental e o respeito ao meio ambiente a serem trabalhados com
crianças em várias faixas etárias, de diversas escolas da região.
Competência: Ação em que a EAFSJE-MG, através da coordenação do
Curso Técnico em Meio Ambiente envolveria os alunos, num trabalho de
organização e manutenção de trilhas.
Publicações periódicas: Criação de um veículo de comunicação (ex. um
informativo técnico) que faça abordagens de assuntos relativos à preservação
dos recursos naturais da região, em especial a utilização de matas nativas, uso
dos recursos hídricos, preservação e recuperação de nascentes, coleta seletiva
do lixo, risco e conseqüências das queimadas para meio ambiente e qualidade
de vida, entre outros; utilizando uma linguagem simples e acessível a todos os
níveis de conhecimento.
Competência: Ação em conjunta da EAFSJE-MG; Secretarias Municipais
de Educação e de Agricultura, EMATER, IMA, Comerciantes e outros.
Educação Ambiental para funcionários: Oferecer treinamento para os
funcionários das instituições/empresas (Escolas, Prefeituras, outros) sobre a
preservação do meio ambiente – Educação Ambiental – orientado-os quanto
aos procedimentos ambientalmente corretos no exercício de suas funções,
fazendo com que eles se tornem responsáveis pelas práticas conservacionistas
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em seu ambiente de trabalho, de maneira que possa chegar ao seu lar e à sua
família.
Competência: EAFSJE-MG em parceria com prefeitura, escolas
estaduais e municipais e outras instituições afins.
Atividades educativas para a comunidade e campanhas de conscientização ambiental: Incrementar a participação da comunidade nos
aspectos relativos ao conhecimento e melhoria de seu próprio ambiente
propõe-se a organização e incentivo de atividades que envolvam a comunidade
local por ocasião do Seminário sobre Meio Ambiente; evento que já faz parte
do calendário escolar da EAFSJE-MG.
Competência: Organizadores do Seminário sobre Meio Ambiente.
Associação de Guardas Voluntários: Fomentar a formação de uma
associação de voluntários para a realização de atividades voltadas à
conservação e preservação da mata, além da produção de conhecimentos
sobre Educação Ambiental. Incentivar a criação de ONGs de proteção ao meio
ambiente local.
Competência: Poder Público, EAFSJE-MG e Sociedade.
Construção da Agenda 21 Local: Promover atividades de Educação
Ambiental visando o envolvimento de todos os seguimentos da sociedade para
a discussão e proposta de implementação da Agenda 21 Local; estabelecer
parcerias com os diversos atores sociais para aprimoramento das ações
necessárias para a prática da mesma.
Competência: Prefeitura Municipal e seguimentos da sociedade.
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ANEXOS Anexo I Entrevista aos Moradores do Bairro Engenho de Serra
1. Morador: 01
2. Idade: ________
3. Sexo: ( ) F ( ) M
4. Representação Familiar: ( ) Pai ( ) Mãe ( ) Filho(a) Outro: __________________
5. Grau de Instrução:
( ) Ensino Fundamental - ( ) Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Médio - ( ) Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Superior - ( ) Completo ( ) Incompleto
6. Profissão / Ocupação: ___________________________________
7. Origem:
( ) Nativo ( ) Não Nativo
8. Há quanto tempo mora nesse bairro: _____________
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9. Sua casa é: ( ) Própria ( ) Alugada Outro: _______________
10. Renda Familiar:
( ) -1 a 3 salários mínimos ( ) 3 a 5 salários mínimos ( ) Mais de 5 salários mínimos
11. O que você mais gosta nesse bairro? ( ) Tranqüilidade / Segurança ( ) Proximidade com a natureza (mata) ( ) Acesso aos serviços público ( ) O relacionamento entre vizinhos ( ) Outro(s) _________________________________________________
12. O que você menos gosta nesse bairro?
( ) Insegurança ( ) Distância do centro da cidade ( ) Falta de serviços públicos – Qual(is)? _________________________ ( ) Falta área de lazer ( ) Outro (s) ________________________________________________
13. Como você considera sua vida nesse bairro?
( ) Ótima ( ) Boa ( ) Regular ( ) Péssima ( ) Não sei
14. O que a mata representa para você?
( ) Ar puro ( ) Saúde ( ) Qualidade de vida ( ) Beleza ( ) Fornecimento de recursos (madeira, lenha, etc). ( ) Outro(s) _________________________________________________
15. Você já entrou dentro da mata? ( ) Sim ( ) Não
16. Se sim, o que foi fazer?
( ) Conhecer ( ) Passear ( ) Buscar lenha ( ) Caçar ( ) Buscar madeira ( ) Outro (s) ________________________________________________
17. Você já viu outras pessoas saírem da mata? ( ) Sim ( ) Não
18. Se sim, o que foram fazer?
( ) Passear ( ) Buscar lenha ( ) Caçar ( ) Buscar madeira ( ) Não sabe
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( ) Não quer responder ( ) Outro (s) ________________________________________________
19. Você acha correto entrar na mata para extrair algum de seus recursos
naturais (árvores, animais, plantas decorativas)? ( ) Sim ( ) Não
20. Como você vê a mata para a cidade de São João Evangelista? ( ) Importante para saúde da população ( ) A maior beleza da cidade ( ) Sem importância ( ) Importante só para a Escola Agrotécnica
Por quê? ______________________________________________________
21. Você possui algum conhecimento sobre Educação Ambiental? ( ) Sim ( ) Não
22. Em caso afirmativo, onde obteve esse conhecimento?
( ) Na escola ( ) Em casa ( ) Na comunidade ( ) Pela televisão /rádio ( ) Outro (s) _______ _________________________________________
23. Na sua opinião a Educação Ambiental relaciona-se com:
( ) Preservação ambiental ( ) Trilhas ecológicas ( ) Poluição ( ) Desemprego ( ) Lixo ( ) Escola ( ) Reciclagem ( ) Esgoto ( ) Desenvolvimento ( ) Água ( ) Política ( ) Animais ( ) Saúde ( ) Outro (s) ________________________________________________
24. Onde você acha que é o local(is) mais adequado(s) para se ensinar sobre
Educação Ambiental? ( ) Em casa ( ) Na escola ( ) Na igreja ( ) Na comunidade ( ) Outro(s). Qual(is) _________________________________________
25. Você costuma conversar com outras pessoas sobre questões ambientais?
( ) Sim ( ) Não
26. Na sua opinião, o que se deve fazer para que a população se sensibilize com as questões ambientais? ( ) Palestras
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( ) Passeatas ( ) Criar grupos de discussão sobre o tema ( ) Cartazes, panfletos e folderes ( ) Discutir os temas no convívio social ( ) Trabalhar o tema somente em datas comemorativas ( ) Deixar para que os políticos cuidem do assunto ( ) Trabalhar o tema nas escolas de ensino fundamental. ( ) Outra: _________________________________________________
27. Você tem conhecimento de algum animal típico de nossa região que esteja em extinção ou extinto? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? ________________________________________________
28. Você sabe o que é lixo reciclável? ( ) Sim ( ) Não
29. Se sim, você costuma separá-lo para a coleta seletiva? ( ) Sim ( ) Não Porquê? _______________________________________
30. Sua família recebe o benefício do governo VALE GÁS? ( ) Sim ( ) Não
Anexo II Roteiro da Entrevista para a Liderança Local 1) O que a mata da escola representa para você e para o município na sua
opinião?
2) Como você vê a relação dos moradores do Bairro Engenho de Serra
com a mata da Escola?
3) Você tem conhecimento de ações sendo realizadas no sentido de
promover a consciência ecológica junto aos moradores do citado bairro?
4) A instituição que você representa tem alguma proposta de trabalho para
conservação e preservação do meio ambiente, em especial a mata? Se sim,
qual seria?
5) Você acredita em uma parceria entre a Escola e a sociedade
evangelistana no sentido de realizar projetos educativos de uso sustentável da
mata?
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APENDICE Apêndice I MATRIZES DA MÉTODO PROPACC Modulo I – Matriz 1: Identificação de problemas socioambientais; Matriz 2:
Potencialidades do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; Matriz 3:
Matriz de inter-relações; Matriz 4: Seleção de problemas e possíveis soluções;
Matriz 5: Matriz de currículo 1; e Matriz 6: Matriz de currículo 2. Modulo II – Matriz 7: Análise das propostas pedagógicas das secretarias de
educação; Matriz 8: Análise da inserção da EA nos currículos; Matriz 9:
Identificação de dificuldades e recomendações para inserção de EA nos
currículos; Matriz 10: Identificação e seleção de temas transversais; Matriz 11:
Orientações pedagógicas gerais para a inserção da EA, através dos temas
transversais; Matriz 12: Elaboração de uma atividade transversal de EA no
currículo.