Post on 11-Aug-2015
PCPI, PAI, PTPI das Plantas Daninhas. 1.0. INTRODUÇÃO
As plantas daninhas, devido a sua presença, interferem negativamente no processo
produtivo agrícola (KUVA et. al, 2000). O período de convivência entre a cultura e as plantas
daninhas pode ser alterado pelos métodos de controle utilizado (PITELLI, 1985) e estes devem ser planejados baseados no conhecimento dos fluxos de emergência das plantas daninhas (OGG
& DAWSON, 1984).
O grau de interferência entre as plantas cultivadas e as plantas daninhas depende de diversos fatores relacionados à comunidade infestante (composição específica, densidade e
distribuição), porte e arquitetura, extensão e profundidade do sistema radicular (KUVA et. al,
2003). A determinação da época e extensão dos períodos de convivência tolerados pela cultura
são obtidos estudando-se os períodos críticos de interferência. Estes foram denominados por
PITELLI & DURIGAN (1984) de Período Anterior à Interferência (PAI), Período Total de
Prevenção à Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção à Interferência (PCPI). Para PITELLI & DURIGAN (1984) o PAI é o período a partir da emergência ou semeadura, em
que a cultura pode conviver com a comunidade infestante antes que sua produtividade ou outra
característica seja afetada negativamente. O PTPI é o período, a partir da emergência ou semeadura, em que esta deve ser mantida livre da presença da comunidade infestante para que
sua produtividade não seja afetada negativamente. O PCPI corresponde aos limites máximos
entre os dois períodos críticos citados anteriormente e se caracteriza pelo período durante o qual é imprescindível realizar o controle.
O Presente trabalho tem como objetivo demostrar o Período Anterior à Interferência
(PAI), Período Total de Prevenção à Interferência (PTPI) e Período Crítico de Prevenção à
Interferência (PCPI) das plantas daninhas nas culturas da Soja, Algodão, Feijão, Milho, Cenoura, Tomateiro em relação às plantas daninhas e seus efeitos na produtividade.
2.0. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Soja
A cultura da soja mostra-se sensível à interferência das plantas daninhas, que são
consideradas de grande importância durante o desenvolvimento da cultura. Plantas daninhas
além de competirem por recursos do ambiente e liberarem substâncias alopáticas, interferem no processo de colheita e são hospedeiras de diversos insetos-pragas, nematoides, e vários agentes
patogênicos causadores de doenças (SILVA et. al, 2007).
A capacidade de utilização de recursos por plantas daninhas também é importante no processo de competição. PROCÓPIO et. al (2004) estudando aspectos fisiológicos da soja e de
três espécies de plantas daninhas (Bidens pilosa, Desmodium tortuosum e Euphorbia
heterophylla), observaram que apesar dessas plantas produzirem menor massa seca e menor enfolhamento do que a cultura, elas foram mais eficientes na utilização da luz por unidade de
área foliar, e na utilização da água, ou seja, com uma menor quantidade de recursos
conseguiram sobressair sobre a soja, apresentando maior potencial competitivo.
Vários autores apontam que na cultura da soja o PAI situa-se entre os 10 aos 3 dias após a emergência da soja (MESCHEDE et. al, 2002; CONSTATIN et. al, 2007; NEPOMUCENO et.
al, 2007; SILVA et. al, 2009).
CARVALHO & VELINI (2001) estudaram os períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da soja, cultivar IAC-1. Os autores relataram que o período anterior a
interferência (PAI) foi de 49 dias e o período total de prevenção a interferência (PTPI) como
sendo de 20 dias. Deste modo, não houve período crítico de prevenção a interferência, pois o período anterior a interferência (49 dias) foi maior que o período total (PTPI).
Outro estudo foi realizado para avaliar os períodos de interferência de plantas daninhas em soja,
utilizando-se dois espaçamentos, 30 e 60 cm, concluiu-se que o período anterior a interferência
(PAI) foi de sete dias, o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) localizou-se entre o sétimo e o 53° dia e o período total de prevenção da interferência (PTPI) foi de 53 dias, para o
espaçamento de 30 cm. Para o espaçamento de 60 cm, o PAI foi de 18 dias, o PCPI de 18 a 47
dias e o PTPI de 47 dias. Assim, a soja plantada em espaçamento menor tem o PAI menor, ou
seja, o controle deve ser realizado mais precocemente (MELO et. al, 2001).
NEPOMUCENO et. al (2007) estudando os períodos de interferência das plantas daninhas na cultura da soja sob sistemas de semeadura direta (SSD) com a cultivar CD 201 e
convencional (SSC) com a M-SOY6101, verificaram que os períodos críticos de prevenção da
interferência foram dos 3 aos 6 DAE para a cultivar CD 201 no SSD e dos 34 aos 76 DAE para o cultivar MSOY-6101 no SSC. A interferência das plantas daninhas durante todo o ciclo da
cultura reduziu, em média, 46% (SSD) e 32% (SSC) a produtividade de grãos da soja.
2.2. Algodão O algodoeiro por ter crescimento inicial lento, até os primeiros 20 dias após a
emergência das plântulas, e por ter metabolismo fotossintético C3 de baixa eficiência
fotossintética, é extremamente sensível ao estresse biótico causado pela interferência das plantas daninhas, exigindo muitas vezes que o controle seja realizado logo no início da cultura
(BELTRÃO, 2004).
Pesquisas sobre convivência de plantas daninhas com o algodoeiro têm demonstrado que a cultura deve ficar livre da interferência nos primeiros 43 dias após a emergência
(DEUBER, 1999).
Na região Nordeste do Brasil, em condições irrigadas, com a cultivar CNPA Precoce 1,
em solo Aluvial, AZEVEDO et. al (1994) verificaram que a presença das plantas daninhas nos primeiros 20 dias após a emergência das plântulas não reduziu a produtividade da cultura (PAI),
independente do espaçamento entre as fileiras. Observaram que o período crítico de prevenção à
interferência (PCPI) variou em função do espaçamento entre as fileiras, sendo de 30 dias no espaçamento de 1,0m entre fileiras, iniciando-se mais cedo 16 dias após a emergência; no
espaçamento de 0,8m, iniciou-se aos 18 dias com um PCPI de 16 dias; já no espaçamento mais
estreito (0,5m) o PCPI foi de 12 dias, iniciando-se aos 28 dias após a emergência.
Já SALGADO et. al (2002), trabalhando com a cultivar Delta Opal (de ciclo longo), em Jaboticabal, SP, observaram um PAI de 8 dias após a emergência, considerando uma redução
aceitável de 5% na produtividade, com
PCPI no intervalo de 8 a 6 dias, e o PTPI de 6 dias após a emergência. Esses mesmos autores observaram redução de até 97% da produtividade em decorrência da interferência das
plantas daninhas nesta cultivar.
Observa-se na Figura 8 as curvas de produtividade do algodoeiro em caroço para a cultivar BRS Safira, ajustadas pelo modelo sigmoidal de Boltzmann, em função dos períodos de
convivência ou de controle das plantas daninhas. Considerando-se perda de 2% na
produtividade da cultura, verificouse que a convivência com as plantas daninhas começou a
afetar a cultura (PAI) aos oito dias após a emergência da cultura, estendendo-se o controle até aos 108 dias após a emergência (PTPI). O período crítico de prevenção à interferência (PCPI)
caracterizou-se pelo intervalo de oito a 108 dias após a emergência da cultura, totalizando 100
dias nos quais a cultura deve estar livre da interferência das plantas daninhas.
FIGURA 2. Produtividade do algodoeiro em caroço ’BRS Safira’ e ajuste dos dados pelo
modelo sigmoidal de Boltzmann, em função dos períodos de controle e de convivência com as
plantas daninhas, considerando-se uma perda de 2%, Missão Velha/CE, 2007. FONTE: CARDOSO, 2009.
2.3. Feijão A produtividade da cultura do feijão pode ser reduzida pela interferência das plantas daninhas
de 15 a 97%, de acordo com a cultivar, época de semeadura, composição e densidade das
espécies infestantes (LUNKES, 1997). PARREIRA et. al (2007) verificaram que quanto mais
próxima a emergência da planta daninha picão-preto (Bidens pilosa) em relação a emergência do feijoeiro ’Carioca’ maiores foram os efeitos negativos sobre a cultura, e que a partir de
quatro plantas de picão-preto por m2 houve redução de 21,78% no acúmulo de massa seca das
folhas. SALGADO et. al (2007), ao estudarem os períodos de interferência das plantas daninhas na cultura do feijoeiro, constataram que o PAI ocorreu até os 17 dias após a emergência da
cultura, o período total de prevenção a interferência (PTPI), ocorreu até 25 dias, e que a
interferência das plantas daninhas durante todo o ciclo reduziu em 67% a produtividade. VICTORIA FILHO (1985) relatou que o período mais importante da competição de
plantas daninhas e o feijoeiro situam-se geralmente entre o 20° e o 30° dias após a emergência
do feijoeiro.
SALGADO et. al (2007) ao determinar os períodos de interferência das plantas daninhas na cultura do feijoeiro, constatou que o período anterior a interferência se estendeu até os 17 dias
após a emergência da cultura, o período total de prevenção a interferência, se estendeu até 25
dias, e que a interferência das plantas daninhas durante todo o ciclo reduziu em 67% a produtividade.
Em seu trabalho PARREIRA (2009) conclui que a cultura do feijão cultivar Carioca
podem conviver com a comunidade infestante com o predomínio de Acanthospermum
hispidum, Cenchrus echinatus, Raphanus raphanistrum e Cyperus rotunduns por até 28, 2, 14 e 26 dias após emergência das plantas de feijão, para 10 pl m-1 0,45 m; 15 pl m-1 0,45 m ; 10 pl
m-1 0,60 m e 15 pl m-1 0,60 m respectivamente. Quando não foi feito o controle das plantas
daninhas as perdas na produtividade foram de 16%, 40%, 36% e 58% para 10 pl m-1 0,45 m; 15 pl m-1 0,45 m; 10 pl m-1 0,60 m e 15 pl m-1 0,60 m respectivamente. As espécies de maior
importância relativa foram: C. echinatus, A. hispidum e R. raphanistrum para o arranjo de
plantas de feijão de 10 pl m-1 0,45 m; para o arranjo de15 pl m-1 0,45 m foram as espécies C. echinatus R. raphanistrum e A. hispidum e para os arranjos de plantas de feijão de 10 pl m-1
0,60 m, e de 15 pl m-1 0,60 foram as espécies de R. raphanistrum, C. rotundus, A. hispidum.
Quanto mais próximo à emergência de picão-preto (Bidens pilosa), em relação à emergência do
feijoeiro cultivar ‘Carioca’, maiores foram os efeitos negativos observados por PARREIRA et.
al (2007) sobre a cultura, em que, a partir de quatro plantas de picão-preto por m2, houve
redução de 21,8% no acúmulo de massa seca das folhas, 51,4% na massa seca do caule e 12,8%
na altura das plantas de feijão.
2.4. Milho
A cultura do milho pode conviver com as plantas daninhas até aos quatorze dias após a emergência, sem perda de produtividade, e as plantas daninhas que emergem após os quarenta e
dois dias da emergência do milho também não afetam os rendimentos.
É necessário ficar atento a um período no desenvolvimento da cultura chamado Período Crítico
de Prevenção à Interferência (PCPI), em que a convivência entre as plantas daninhas e as da cultura trazem maior prejuízo à produtividade. Tecnicamente, o período em que a presença de
espécies de plantas daninhas na lavoura tem o maior impacto sobre a cultura está compreendido
entre 15 - 20 e 45 - 50 dias após a emergência do milho. Caso o manejo não seja realizado, pode haver perda de produtividade do milho em torno de 10% a 80% (BORGES, 2011).
2.5. Tomateiro Em geral, as plantas daninhas adaptam-se melhor ao meio ambiente que o tomateiro,
crescendo mais vigorosas, principalmente nos primeiros estádios de crescimento. O tomateiro
tem desenvolvimento lento nos primeiros 30-45 dias, devido à baixa taxa de extração de
nutrientes nesse período, principalmente em lavouras instaladas por semeadura direta. Em lavouras formadas a partir de mudas a interferência inicial é, geralmente, menor, uma vez que as
plântulas (mudas) são levadas ao campo com quatro folhas definitivas. Isso permite também
uma maior seletividade no uso de métodos de controle como, por exemplo, o uso de herbicidas. Segundo PEREIRA (2000) no cultivo do tomateiro é necessário manter as áreas livres da
interferência de plantas daninhas, pelo menos durante o período crítico, ou seja, até que a
cultura se desenvolva, cubra suficientemente a superfície do solo e não sofra mais a
interferência negativa delas. Em plantios extensivos há necessidade do estabelecimento de um programa integrado de manejo das plantas daninhas, como forma de utilizar sistemas agrícolas
sustentáveis.
Observações sobre o Período Crítico de Interferência (PCI) das plantas daninhas na cultura do tomate para processamento, no Brasil, indicam que elas causam reduções de até 9%
na produção das lavouras implantadas a partir de semeadura direta. Nesse caso, o PCI ocorre do
21º ao 97º dias após a emergência. Para lavouras implantadas com mudas a redução é cerca de 75%, situando-se o PCI do 17º ao 78º dias após o transplante. Em outros países, vários trabalhos
indicam que o PCI para esta cultura situa-se entre o 20º e o 63º dias após a emergência e entre o
25º e o 43º dias para lavouras com mudas transplantadas (PEREIRA, 2000).
2.6. Cenoura
O controle de plantas daninhas na cultura da cenoura, em sistema de cultivo orgânico,
deve ser planejado com o emprego de métodos de controle (capinas manuais, cobertura morta, mulching, etc) de modo que a competição da comunidade infestante com a cultura seja reduzida
durante um período de 48 dias após a semeadura, de forma que o controle se estenda até 62 dias
após a semeadura. Após este período a cenoura, mesmo convivendo com a comunidade infestante que surgir terá condições de manifestar todo o seu potencial produtivo, tanto em
produtividade como em qualidade de raízes (COELHO, 2005).
As plantas daninhas mais frequentes encontradas na área experimental foram: Oxalis
latifolia, Lepidium virginicum, Cyperus rotundus, Ageratum conyzoides e Digitaria nuda. Admitindo-se perda máxima de 10% em relação à produtividade obtida na ausência total das
plantas daninhas, observou-se que a produtividade foi afetada negativamente a partir dos 48 dias
após a semeadura (período anterior à interferência - PAI). Observou-se ser necessário o controle das plantas daninhas até 62 dias após a semeadura, para que a produtividade atingisse 90% da
produtividade máxima (período total de prevenção à interferência - PTPI), manifestando assim o
seu potencial produtivo, bem como a qualidade de raízes (COELHO, 2005)..
FIGURA 1. Produção comercial de cenoura e regressão dos dados pelo modelo sigmoidal, em função dos períodos de controle e/ou convivência com as plantas daninhas. Estação
Experimental de Anápolis, 2005. PAI – período anterior à interferência; PTPI – período total de
prevenção à interferência. FONTE: COELHO, M. (2005).
3.0. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto na revisão de literatura as plantas espontâneas competem com
aquelas cultivadas por fatores essenciais, como água, luz e nutrientes, causando queda na germinação, desenvolvimento ou produtividade da cultura, fazendo com que haja uma perda
total ou parcial no retorno financeiro esperado. Para o controle eficiente das plantas invasoras é
importante saber as características das espécies e do solo em questão, para se utilizar métodos de manejo eficientes e em época adequada, para que não ocorra um desperdício de investimento
e um controle inadequado das plantas invasoras. Devendo se precaver para o período crítico de
competição, é o período em que o controle é indispensável para evitar a continuidade da
interferência entre a cultura e as plantas daninhas, evitando perdas no rendimento da planta cultivada. É importante também conhecer o banco de sementes do solo onde se efetuará o
plantio uma vez que muitas sementes estão em dormência e podem vir a germinar. Desde modo
o estudo do método a ser utilizado em cada situação torna-se de suma importância pois qualquer problema pode complicar o desenvolvimento de todo o ciclo produtivo.