Post on 28-Aug-2018
Os Piratas do DesertoSANTOS COSTA
Adaptação livre da obra de Emílio Salgari
Os Piratasdo Deserto
Título originalOS PIRATAS DO DESERTO© 2012, Santos Costa e Edições ASA II, S.A., uma editora do grupo LeYa
Editor responsávelMaria José Magalhães Pereira
LegendagemPré-impressão LeYa
1.ª edição: agosto de 2012
ISBN: 9789892320199
Reservados todos os direitos
Edições ASA II, S.A.
DELEGAÇÃO EM LISBOARua Cidade de Córdova, n.º 22610-038 AlfragideTelef.: (+351) 21 427 22 00Fax: (+351) 21 427 22 01PORTUGAL
www.leya.com
Nas asas da Aventura
Há 150 anos, no dia 21 de agosto, nascia em Verona Emílio Salgari
(1862-1911).
A efeméride não deixará de ser devidamente assinalada em todo o
mundo, tal foi a marca que a extensa obra deste popular escritor italiano
deixou em gerações sucessivas de leitores. Um deles foi Paulo Varela Go-
mes que, em 2007, numa muito sentida evocação no “Público”, revelava
ter “num luminoso canto do coração” os livros de Salgari lidos na sua in-
fância. É seguro afirmar que uma incontável legião de pessoas, nos quatro
cantos do planeta, sentirá o mesmo a respeito das vibrantes aventuras de
Sandokan e outras personagens mágicas do universo do escritor.
O mundo mudou muito desde esse período áureo, entre o início do
século XX e os anos 1970, em que as edições baratas da Romano Torres
ajudavam a povoar o imaginário dos pequenos leitores portugueses, predo-
minantemente rapazes. A televisão e outros suportes audiovisuais, mais os
jogos de vídeo, a informática e a Web do nosso tempo remeteram irreme-
diavelmente o contador de histórias italiano para um recanto nostálgico e
afetivo das memórias pessoais? Talvez sim, talvez não.
A seguir, o cinema italiano apropriou-se das histórias de Salgari, que
também acabariam por chegar ao pequeno ecrã, tudo isto contribuindo
para um peculiar culto que anima hoje a Internet. E depois, há a banda
desenhada, que não ficou insensível à enorme popularidade da obra e deu
azo a um sem número de adaptações, sobretudo em Itália, como seria de
esperar.
De forma mais subtil, a trajetória de grande criadores – de Franco
Caprioli a Hugo Pratt ou Frank Le Gall, entre tantos outros – está saturada
com os ingredientes dessa atmosfera aventureira, mesmo se nem sempre
essa herança é abertamente assumida.
E assim chegamos a “Os Piratas do Deserto”, de Santos Costa. Esta no-
vela gráfica adapta à banda desenhada o díptico “A Formosa Judia” e “Os
Piratas do Deserto”, publicado de forma condensada e num único volume
pelo histórico editor português de Emílio Salgari.
O autor, Fernando Jorge dos Santos Costa (n. 1951, Lisboa) de seu
nome completo, é o único português que passou para os quadradinhos
romances de Salgari. Essas histórias foram publicadas nos anos 1980 na
revista “Mundo de Aventuras”, então a viver a última fase da sua existên-
cia – primeiro “Os Tuaregues” (18 de junho de 1981), depois “O Último
Tigre” (28 de janeiro de 1982) e finalmente “A Formosa Judia” (15 de
dezembro de 1986, penúltimo número da revista).
As originais 32 pranchas desta última história deram lugar, agora, a
uma narrativa mais completa de 165 pranchas. O registo gráfico é o
mesmo, parte do material inicial também foi utilizado, mas a reformula-
ção é total, como sublinha o próprio autor.
A aventura, os combates extraordinários, os ambientes fantásticos e as
muitas peripécias no enredo foram as razões que impeliram Santos Costa
a adaptar Emílio Salgari. Autor de uma extensa lista de contos e novelas,
bandas desenhadas e ilustrações, nunca escondeu, aliás, o fascínio que
Salgari exerceu sobre si: “Não era um escritor da alta-roda nem das eli-
tes, mas muito apreciado pela juventude daquele tempo e por uma popu-
lação pouco letrada. Não eram só os livros de Sandokan, mas também as
histórias que se passavam em outras partes do globo, na selva ou no
Ártico. Tudo isso dava uma sensação extraordinária.”
Além de tudo o que ficou dito, há uma motivação suplementar que
está por trás desta adaptação, realizada sem pressas ao longo dos últimos
anos: o deserto, tão grato a Santos Costa, uma entidade omnipresente
numa história que associa de forma muito conseguida a aventura e um
fundo histórico real.
Os leitores de Salgari e também os que não o conhecem têm agora
uma oportunidade de voar, ao sabor da aventura, nas asas da imaginação,
do sonho e das paisagens exóticas.
Carlos Pessoa(junho de 2012)
Os Piratasdo Deserto
SANTOS COSTA
Adaptação livre da obra de
Emílio Salgari
9
A QUARESMA DOS MUÇULMANOS, O RAMADÃO, DURA APENAS TRINTA DIAS, EM VEZ DE QUARENTA, COMO A NOSSA.
10
EM TAFILETE, CIDADE PERDIDA NOS CONFINS MERIDIONAIS DO IMPÉRIO MAR-ROQUINO, EM FACE DO IMENSO MAR DE AREIA DO SARA, O PERÍODO SANTO ESTAVA A FINDAR.
A POPULAÇÃO DISPERSARA--SE PELAS RUAS, ADMIRAN-DO OS SANTÕES E OS FANÁTICOS…
…OS QUAIS DILACE-RAVAM O PRÓPRIO ROSTO E O PEITO.
VIRAM UM HOMEM NA RUA. ERA JUDEU. UM GRITO FEROZ SAIU-LHES DOS LÁBIOS…
11
MORTE AO KAFIR!
O KAFIRESTÁ PERDIDO!
ACABEMOS COM ELE!
QUEM SE APROXIMAR,
MORRE!
12
ROCCO, PREPARA-TE! RETIREM-SE.
O JUDEU É NOSSO!
ALTO!TODOS PARA
TRÁS!
UM MARROQUINO ROLOU COM OCRÂNIO DESPEDAÇADO.
13
MORTE AO KAFIR!
MORTE AO KAFIR!
TENTE NÃO USAR A ARMA!
SIM. SÓ A USAREI EM
ÚLTIMO CASO.
ESTOU PRONTO PARA ESMAGAR ESTES LADRÕES! PARA ISSO
BASTAM-ME OS PUNHOS, SENHOR MARQUÊS.
14
TENHO DE DOMINAR AQUELE MALUCO SEM
RECURSO À ARMA. POR ISSO, CABE-ME A
INICIATIVA.
UM DOS MARROQUINOS, TEMENDO A FORÇA DE ROCCO, INVESTIU COM UMA LANÇA NA DIREÇÃO DO MARQUÊS, INDIFERENTE À ARMA QUE ESTE EMPUNHAVA.
TOMA! COM OS
CUMPRIMENTOS DE ROCCO!
15
O SENHOR QUE SE SEGUE, FAÇA O FAVOR…
SABES COMO FAZEM OS PASSARINHOS?
…MAS JÁ OUTRO O ACOMETIA COM UM ALFANGE.
AO CANDIDATO FOI-LHE APLICADO UM GOLPEE ESTATELOU-SE NO CHÃO…
ROCCO ERGUEU O MARROQUINO ACIMA DA CABEÇA, FÊ-LO RODOPIAR COMO SE FOSSE UM BONECO…
16
…E ATIROU-O A ALGUNS METROS DE DISTÂNCIA, DEIXANDO-O FORA DECOMBATE.
VOAM, VOAM…
PERANTE ALGUMA HESITAÇÃO DOS MOUROS, O HEBREU APRO-XIMOU-SE DOS EUROPEUS.
SENHORES, OBRIGADO PELO VOSSO AUXÍLIO; MAS, SE ALGUM APREÇO TENDES À VIDA, FUGI! A MULTIDÃO
NÃO TARDARÁ A AGIR. TENHO UMA CASA NO
BAIRRO JUDEU...
MAIS UM. O NEGÓCIO ESTÁ
COMPLICADO. TOCA A RETIRAR!
17
NÃO JULGUEI QUE IA DESENCADEAR UMA TÃO TREMENDA BORRASCA.
VAMOS SAIR DAQUI.
A RUA ESTÁ CORTADA, SENHORES. O VOSSO GENEROSO AUXÍLIO,
PERDEU-VOS!
SENHOR MARQUÊS, TRATEMOS DE PROCURAR
REFÚGIO NAQUELE CAFÉ.
RESISTIREMOS ATÉ QUE CHEGUE
A GUARDA.
VAMOS! NO CAFÉ... AQUELA PANELA AO LUME DEU-ME
UMA IDEIA.
18
PARECE-ME QUE A PANELA
ESTÁ CHEIADE CAFÉ.
PORQUE NÃO HAVEMOS DE LHES
OFERECER UM BOM GOLE DE “MOKA”? CUIDADO
COM A CABEÇA. OLHEM QUE ESTÁ QUENTE!