Post on 31-Oct-2019
OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS NA CONSTRUÇÃO DE TEXTOS
DISSERTATIVOS-ARGUMENTATIVOS PRODUZIDOS POR ALUNOS DO
ENSINO MÉDIO
Paulo Ricardo Soares PEREIRA
pauloricardo_sp_@hotmail.com
Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE
Universidade Federal de Campina Grande
Maria Augusta Gonçalves de Macedo REINALDO
augusta.reinaldo@gmail.com
Teorias da Linguagem e Ensino/PosLE
Universidade Federal de Campina Grande
A intenção do texto dissertativo-argumentativo é convencer o receptor das ideias
apresentadas pelo autor, logo, o reconhecimento e a utilização adequada em um texto ou
sequência textual, de um operador argumentativo que indique ou mostre a força
argumentativa do enunciado, assim como promova a continuidade linguístico-temática,
é fundamental para o produtor de texto que busca uma efetiva progressão/coesão textual
– desde o nível semântico, linguístico até o contextual. Esse reconhecimento e
adequação de uso se torna relevante principalmente quando a articulação desses
elementos é critério de avaliação em provas, processos seletivos, vestibulares, concursos
e exames, como o Exame Nacional no Ensino Médio (ENEM). Este trabalho tem como
objetivo averiguar o comportamento dos operadores argumentativos na organização
textual de redações. Fundamenta-se nos aportes teóricos da Linguística Textual, a saber
nos apontamentos de Koch (1984, 2015, 2016). O corpus é constituído de redações de
alunos do 3° ano do Ensino Médio, de uma escola da rede estadual de ensino, situada na
cidade de Campina Grande-PB. Foram analisadas as recorrências dos operadores
argumentativos, bem como os efeitos de sentido que esses recursos argumentativos
assumem em textos da ordem do expor e do argumentar, contribuindo para adesão ou
não do interlocutor às ideias propostas. Os dados revelam que um texto semanticamente
bem elaborado exige, por parte do usuário da língua, uma seleção adequada de
elementos argumentativos a partir do repertório de que se dispõe. Assim, a tradição de
descrever apenas a estrutura presente na norma padrão por si só não é mais suficiente. É
necessário levar os alunos a refletirem sobre a língua em uso, o que contempla também
os operadores argumentativos.
Palavras-chave: Operador Argumentativo. Articulação e Progressão Textuais.
Argumentação. Texto dissertativo-argumentativo.
1 INTRODUÇÃO
Os Operadores Argumentativos – O. A. pertencem à gramática da língua,
veiculam e direcionam variados sentidos, porém são tratados pela tradição gramatical,
em alguns casos, como elementos periféricos. Advérbios, conjunções e locuções
conjuntivas, além das chamadas palavras expletivas, ou denotativas. Koch (1984)
aponta para a força argumentativa de tais palavras, a despeito da relativa
desconsideração que recebem da tradição.
A construção adequada em um texto ou sequência textual, de continuidades
linguístico-temáticas feitas pelos operadores argumentativos é fundamental para o aluno
que busca uma efetiva coesão textual – nível linguístico (KOCH & ELIAS, 2016).
Principalmente, quando o uso/a articulação desses elementos – os operadores
argumentativos – é critério de avaliação em provas, processos seletivos, vestibulares,
concursos e exames, como o Exame Nacional no Ensino Médio – ENEM.
Na redação do ENEM, texto do tipo dissertativo-argumentativo, uma das
competências avaliadas que o candidato deve apresentar ao produzir sua redação é a de
―demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção
da argumentação‖, Competência 04. (BRASIL, 2017, p. 22) Segundo as orientações
para a redação do exame, contidas na Cartilha do Participante – Redação do ENEM
20171, essa competência se propõe a avaliar se o aluno sabe construir um texto coeso
utilizando corretamente os mecanismos de encadeamento textual disponíveis na Língua
Portuguesa, tanto na ―estruturação dos parágrafos‖, como ―dos períodos‖ e na
―referenciação textual‖ (BRASIL, 2017, p. 22). Assim, conforme as recomendações do
instituto organizador do ENEM para os estudantes, os aspectos a serem avaliados nessa
Competência remetem à estruturação lógica e formal entre as partes da redação,
exigindo que as frases e os parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta a
sequenciação coerente do texto e a interdependência entre as ideias.
1 BRASIL, 2017.
Assim, na produção da redação, o aluno-candidato ―deve utilizar variados
recursos linguísticos que garantam as relações de continuidade essenciais à elaboração
de um texto coeso. Na avaliação da Competência 4, será considerado, portanto, o modo
como se dá o encadeamento textual.‖ (BRASIL, 2017, p. 22). E esse encadeamento
poderá ser realizado, dentre outros elementos, pelos operadores argumentativos.
Como percebido, incoerências quanto ao uso dos operadores argumentativos
prejudicarão diretamente a coesão do texto. No caso das produções dos alunos, essas
incoerências afetam a relação lógica entre segmentos do texto em termos de
compreensão do sentido, consequentemente o desempenho desses alunos de acordo com
os critérios de correção do próprio exame.
Desse modo, é necessário levar os alunos a refletirem sobre a língua – e sobre a
língua em uso – fato que contempla, obviamente, também, os operadores
argumentativos, sobre os quais Koch & Elias (2016, p. 64) discutem:
Os operadores ou marcadores argumentativos são, pois,
elementos linguísticos que permitem orientar nosso enunciados
para determinadas conclusões. São, por isso mesmo,
responsáveis pela orientação argumentativa dos enunciados
que introduzem, o que vem a comprovar que a
argumentatividade está inscrita na própria língua. (grifo do
autor)
Diante desse contexto, esta pesquisa, de modo geral, pretendeu averiguar o
comportamento dos operadores argumentativos na organização textual de redações,
especificamente, em textos dissertativos-argumentativos.
A temática enfocada para pesquisa mostra-se relevante, pois o estudo de
recursos linguísticos que orientam a construção textual e, em consequência, a produção
dos sentidos, significa uma maior ênfase e cuidado no trabalho de seleção e combinação
desses elementos para a garantia das relações essenciais à elaboração da tessitura do
texto – textualidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Dentre os mecanismos de textualização, especificamente da conexão, chama-nos
a atenção os que envolvem a infraestrutura textual dos organizadores do texto, mais
precisamente dos Operadores Argumentativos – O.A, pois, são eles os ―elementos
linguísticos que orientam os enunciados para determinadas conclusões, razão pela qual
são denominados operadores ou marcadores argumentativos, bem como contribuem
para coesão e a coerência do texto.‖ (KOCH & ELIAS, 2016, p. 26).
Koch (1984, p. 109) acrescenta que os operadores constituem parte integrante da
língua, logo,
[...] todos os operadores [...] essas instruções, codificadas, de
natureza gramatical, supõem evidentemente um valor retórico da
construção, ou seja, um valor retórico – ou argumentativo – da
própria gramática. O fato de se admitir a existência de retóricas
ou argumentativas inscritas na própria língua é que leva a
postular a argumentação como ato linguístico fundamental.
(grifos da autora)
Em torno dos Operadores Argumentativos, destaca-se o fato de que
[...] se trata, em alguns casos, de morfemas que a gramática tradicional
considera como elementos meramente relacionais – conectivos, como
mas, porém, embora, já que, pois, etc. e, em outros, justamente de
vocábulos que segundo, a N.G.B.2, não se enquadram em nenhuma
das dez classes gramaticais. Rocha Lima chama-as de palavras
denotativas e Bechara de denotadores de inclusão (até, mesmo,
também, inclusive); de exclusão (aliás, mesmo, também, inclusive);
de retificação (aliás, ou melhor, isto é; de situação (afinal, então,
etc.). Celso Cunha diz que se trata de palavras ―essencialmente
efetivas‖, às quais a N.G.B. ―deu uma classificação à parte, mas sem
nome especial‖. (KOCH, 1984, p. 105). (grifos da autora)
2 Entenda-se Nomenclatura Gramatical Brasileira.
No entanto, muito além do que descreve a gramática tradicional,
Os operadores ou marcadores argumentativos são, pois,
elementos linguísticos que permitem orientar nossos enunciados
para determinadas conclusões. São, por isso mesmo,
responsáveis pela orientação argumentativa dos enunciados
que introduzem, o que vem a comprovar que a
argumentatividade está inscrita na própria língua. (KOCH &
ELIAS, 2016, p. 64). (grifo das autoras)
Nesse sentido, é imprescindível reconhecer que quando interagimos por meio da
linguagem, estabelecemos sempre finalidades, objetivos que pretendemos alcançar,
motivar atitudes nos outros. Assim, é possível entender que o uso da linguagem é
essencialmente argumentativo fazendo dos enunciados verdadeiros instrumentos
argumentativos, sendo, portanto, ―o resultado textual‖ (KOCH & ELIAS, 2016, p. 24)
de elementos contextuais e linguísticos – nos quais, incluem-se os Operadores
Argumentativos.
O termo ‗operadores argumentativos‘ foi cunhado por O. Ducrot,
criador da Semântica Argumentativa (ou Semântica da Anunciação),
para designar certos elementos da gramática de uma língua que têm
por função indicar (‗mostrar‘) a força argumentativa dos enunciados, a
direção (sentido) para o qual apontam. (KOCH, 2015, p. 30).
Entre tantos conectivos, os Operadores Argumentativos cabem a essa função,
pois são
[...] elementos que fazem parte do repertório da língua. São
responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os
em texto e determinando a orientação argumentativa, o que vem a
comprovar que a argumentatividade está inscrita na própria língua.
(KOCH & ELIAS, 2016, p. 76). (grifo das autoras)
Com fundamental função no estabelecimento da coesão, da orientação
argumentativa e da coerência textual, entendemos também que os Operadores
Argumentativos podem atuar em diferentes níveis das articulações textual, a saber:
no da organização global do texto, em que explicitam as articulações
das sequências ou partes maiores do texto. [...]
no nível intermediário, em se assinalam os encadeamentos entre
parágrafos ou períodos. [...]
no nível microestrutural, em que indicam os encadeamentos entre as
orações e termos da oração.
(KOCH & ELIAS, 2016, p. 121). (grifo das autoras)
Tal compreensão se justifica quando compreendemos que as forças
argumentativas podem ocorrer entre orações de um mesmo período, entre dois ou mais
períodos e também entre parágrafos de um texto, ou seja, uma coesão intraparágrafos
(dentro do parágrafo) e/ou interparágrafos (entre parágrafos). Os Operadores
Argumentativos desempenham assim funções pragmáticas, retóricas ou argumentativas
(KOCH & ELIAS, 2016).
Vários são os operadores argumentativos que estão inseridos na língua. Além de
promover os encadeamentos dos enunciados, indicam a orientação argumentativa que
introduzem e desempenham no enunciado, possibilitando que os interlocutores
elaborem determinadas conclusões.
Dessa forma, na tentativa de exemplificar, ao máximo, os usos desses
operadores para que assim seja possível observar a ―estrutura‖ – forma – pelo qual eles
se configuram na organização textual, por exemplo, de textos dissertativos-
argumentativos, alvo maior desta pesquisa; e, no intuito, de reconhecer as orientações
argumentativas – funções – por eles desenvolvidas, uma vez que, os alunos –
vestibulandos – têm como um das competências a desenvolver na redação do ENEM, a
de demonstrar o conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
construção da argumentação3, dentre esses, os Operadores Argumentativos, elaboramos
o quadro apresentado a seguir.
Salientamos que, com esse quadro, não temos a intenção de delimitar, saturar as
variadas formas e funções pelas quais os Operadores Argumentativos podem expressar
a sua força argumentativa. Assim, para compô-lo, pautamo-nos nas descrições de Koch
(2015), Koch & Elias (2016) dos O.A. e na análise4 desses elementos coesivos em
redações nota 1000 disponibilizadas na Cartilha do participante do ENEM 20165. A
busca desses elementos nessas redações se justiça pelo fato de, nesta pesquisa,
trabalharmos com os O.A em textos dissertativos-argumentativos modelo ENEM.
Destacamos também que, para fins didáticos e de como se considerada a
―proximidade‖ de valor da força/orientação argumentativa – função – desenvolvida no
contexto de uso do O.A, algumas funções foram agrupadas, por exemplo: Introduzem
uma conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência; Introduzem
argumentos indicando tempo, frequência, duração, ordem ou sucessão. Além disso,
convém notar que um mesmo O.A. pode ter funções diferentes e assim assumir um
papel de comparação (como = igual a), ou de causa (como = uma vez que), ou até
mesmo de conformidade (como = conforme) por exemplo.
Desse modo, temos:
Quadro 1: OPERADORES ARGUMENTATIVOS: FUNÇÃO E FORMA
Função (orientação argumentativa) Forma (“estrutura”)
Introduzem argumentos que se somam a
outros
e, nem (= e não), não só/apenas/somente...
mas/como/senão (também, ainda)..., tanto...
quanto/como, além de, além disso, também,
ainda, demais, ademais, outrossim
3 Competência 4. (BRASIL, 2017).
4 A análise se deu por meio da identificação dos O.A. no tocante à sua ocorrência – forma e nível de
articulação (intra/interpagrágrafos) – bem como à função argumentativa empregada no enunciado. 5 BRASIL, 2016.
Introduzem argumentos que se opõem a
outros (contraste, oposição, restrição,
ressalva)
mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no
entanto, não obstante... (conjunções
adversativas); embora, ainda que, mesmo
(que), apesar de (que), a despeito de,
conquanto, se bem que, por mais que, sem
que... (conjunções concessivas); salvo, exceto
(preposições); já, quando, agora, antes, ao
contrário... (advérbios)
Introduzem uma
conclusão/desfecho/sintetizam uma
ideia anterior ou consequência
logo, portanto, por isso, por conseguinte,
então, afinal, assim, em vista disso, sendo
assim, consequentemente, pois (depois do
verbo), de modo/forma/maneira/sorte que...
Em suma, em síntese, enfim, em resumo,
dessa forma, dessa maneira, desse modo,
pois, assim sendo, nesse sentido.
Introduzem argumentos com ideia de
explicação ou causa
porque, que, porquanto, senão, pois (antes do
verbo), visto que/como, uma vez que, já que,
dado que, posto que, em virtude de, devido a,
por motivo/causa/razão de, graças a, em
decorrência de, como...
Introduzem argumentos com ideia de
comparação, analogia, semelhança
(do) que (após mais, menos, maior, menor,
melhor, pior), qual/ como (após tal), como/
quanto (após tanto, tão), como (= igual a),
assim como, como se, feito... igualmente, da
mesma forma, assim também, do mesmo
modo, similarmente, semelhantemente,
analogamente, por analogia, de maneira
idêntica
Introduzem argumentos com ideia de
condição, hipótese
se, caso, contanto que, exceto se, desde que
(verbo no subjuntivo), a menos que, a não ser
que, exceto se...
Introduzem argumentos indicando
conformidade
conforme, consoante, segundo, de acordo
com, como (= conforme)
Introduzem argumentos indicando tempo,
frequência, duração, ordem ou sucessão
Então, enfim, logo, logo depois,
imediatamente, logo após, a princípio, no
momento em que, pouco antes, pouco depois,
anteriormente, posteriormente, em seguida,
afinal, por fim, finalmente, agora,
atualmente, hoje, frequentemente,
constantemente, às vezes, eventualmente, por
vezes, ocasionalmente, sempre, raramente,
não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente,
nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato,
enquanto, quando, antes que, depois que,
logo que, sempre que, assim que, desde que,
todas as vezes que, cada vez que, apenas, já,
mal, nem bem.
Introduzem argumentos indicando
finalidade, propósito e intenção
Com o fim de, a fim de, como propósito de,
com a finalidade de, com o intuito/objetivo
de, para que, a fim de que, para, ao
propósito.
Introduzem ideias de proporcionalidade
ou concomitância
à proporção que, à medida que, ao passo
que, quanto
mais/menos/menor/maior/melhor/pior...
Introduzem argumentos com ideia de
prioridade, relevância, visando também
à ênfase, à focalização
primeiramente, precipuamente, em primeiro
lugar, primeiro, antes de mais nada, acima
de tudo, sobretudo, por último...
Introduzem argumentos que esclarecem,
exemplificam ou retificam
,ou seja, isto é, vale dizer ainda, a saber,
melhor dizendo, quer dizer, ou melhor, ou
antes, na realidade, aliás, por exemplo...
Introduzem argumentos que indicam
certeza e buscam enfatizar o
pensamento:
Por certo, certamente, indubitavelmente,
inquestionavelmente, sem dúvida,
inegavelmente, com certeza.
Indicam dúvida
Talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá,
quem sabe, é provável, não certo, se é que.
Fonte: Elaborado pelo autor6
A construção desse quadro vem para reforçar a compreensão, a ideia de que os
Operadores Argumentativos promovem diferentes funções – orientações
argumentativas, conforme eles criem, entre dois ou mais pontos do texto – coesão
intraparágrafos e/ou interparágrafos – uma relação de conexão ou sequenciação,
distinguindo um determinado tipo de relação semântica, não interessando-nos, neste
momento, classificar, morfológica ou sintaticamente tais expressões. É de destacar
assim a função geral dos O.A. de marcar as operações textuais e argumentativas que
ocorrem ao longo do texto.
Admite-se assim que os O.A. unem mais de dois pontos do texto, estabelecendo
entre eles construções argumentativas distintas, e no texto dissertativo-argumentativo,
não é diferente.
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa, quanto à forma de abordagem, é qualitativa; com relação à fonte
de dados, é documental. É qualitativa porque, segundo Tozoni-Reis (2007), busca a
compreensão, os significados do objeto analisado, em detrimento da mera descrição
e/ou explicação dos conteúdos; é documental, porque ainda de acordo com o autor
6 Baseado nos tipos de Operadores Argumentativos propostos por Koch e Elias (2017) e em redações nota
1000 modelo ENEM (BRASIL, 2017).
supracitado, ―a fonte de dados, o campo onde se procederá a coleta de dados, é um
documento.‖ (p.30).
Como corpus de pesquisa, utilizamo-nos inicialmente de quinze (15) produções
escritas do gênero dissertativo-argumentativo modelo ENEM; realizadas estudantes do
3° ano do ensino médio de uma escola pública da rede estadual de ensino da cidade de
Campina Grande que se configuraram como participantes para a consecução da
pesquisa.
A escolha desse gênero se deu pelo fato de ser o texto exclusivo de produção
escrita desses alunos, já que, naturalmente pelo ano de ensino em que encontram (3°
ano do ensino médio), estejam se preparando para o respectivo vestibular – o ENEM.
O plano de sistematização e análise do corpus se desenvolveu, essencialmente,
sob o seguinte procedimento:
a) A ocorrência dos operadores argumentativos: formas e funções textuais-
discursivas.
Diversidade; ausência e/ou repetição de O. A. intra/interparágrafos; e
(in)adequação no uso dos O.A. no que se refere à orientação argumentativa por eles
construídas entre as orações, períodos e parágrafos compuserem esta categoria de
análise.
4 ANÁLISE DOS SADOS
Na observação das 15 (quinze) redações produzidas inicialmente (P1) no
primeiro encontro, em linhas gerais, percebemos que há operadores argumentativos que
se repetem, isto é, são bem comuns para os alunos e, a depender do contexto de uso, o
que mudam são os sentidos por eles desenvolvidos, construções que de certa forma, nos
auxiliam enquanto ―avaliador‖ dos textos como os textos de melhor uso desses recursos
coesivos daqueles que não o fazem de maneira tão satisfatória. Para melhor
compreender o uso dos operadores argumentativos, a partir das formas e funções
presentes nas P1, elaboramos dois grupos de ocorrência: (A) Articulação precária e
pouca variedade de operadores; e (B) Articulação adequada e variedade mediana de
operadores.
Ressaltamos que esses grupos de ocorrência surgiram como fruto da análise das
redações em função do repertório coesivo (ausência e repetição) e da (in)adequada
articulação desenvolvida pelos operadores argumentativos, mais precisamente da: pouca
variedade/ diversidade; repetição de O. A.; ausência de O. A. intra/interparágrafos; e
inadequação no uso dos O.A. quanto à orientação argumentativa por eles estabelecidas
entre as orações, períodos e parágrafos.
Apresentaremos cada grupo de ocorrência seguido pelo exemplar analisado e de
sua respectiva avaliação. Selecionamos exemplos prototípicos com a intenção de ilustrar
cada ocorrência.
A. Articulação precária e/ou pouca variedade de operadores
Exemplo 01:
Exemplo 02:
Nesses exemplos 01 e 02, as redações escritas se assemelham quanto à forma
que foram escritas: a redação 7, em parágrafo único; a redação 10, em dois parágrafos.
Essas formas de produção dos textos tornam explícito o desconhecimento por parte dos
alunos da paragrafação do texto, o que pode afetar diretamente a coesão. Nesses
exemplos, temos, portanto, redações constituídas de ―parágrafos únicos‖, configurando
blocos maciços de períodos sem qualquer organização paragráfica identificável, ou seja,
não há Operadores Argumentativos que demarquem principalmente a coesão
interparágrafos.
Vemos redações não articuladas, em que períodos intraparágrafos aparecem, ao
longo do texto, desligados uns dos outros: na primeira redação, da linha (l.) 01 até a l.
08 e entre a l. 08 e a l. 09, por exemplo; na segunda redação, na l. 06, da l. 15 até a l. 21,
por exemplo. Ou seja, períodos em que não se consegue saber exatamente do que trata o
participante. Essa configuração confusa, um tanto perdida e caótica, configura aquilo
que popularmente se denomina ―frases jogadas no texto‖.
Observamos, em ambos os exemplos, palavras e períodos justapostos e
desconexos devido à ausência de Operadores Argumentativos na maior parte do texto,
havendo articulação apenas em momentos pontuais: na primeira redação, uso do
―porque‖ (l. 14); ―dessa forma‖ (l. 17); na segunda, ―porque‖ e ―para‖ (l. 1). Porém,
esses O. A. são articulados de forma muito precária, já que são empregados entre
enunciados curtos não havendo uma progressão entre as ideias dos períodos, além de
outros problemas de língua (pontuação) e até mesmo de uso de outros recursos
coesivos, o que provoca um não encadeamento temático, por assim dizer, argumentativo
dos textos.
B. Articulação adequada e variedade mediana de operadores
O entendimento do aspecto da repetição para os grupos de ocorrência (A) ou (B)
foi diferenciado e isso se deu por conta de uma característica-chave: a diversificação do
repertório coesivo. Dessa forma, ainda que um mesmo recurso coesivo tenha se repetido
algumas vezes nos textos deste grupo de ocorrência (B), nos atentaremos àqueles que o
aluno apresentou uso variado em seu texto e o quanto isso contribui para as relações
estabelecidas e para a fluidez da escrita.
A seguir, averiguemos um exemplo:
Exemplo 3:
Exemplo 4:
As redações anteriores, de modo geral, apresentam repertório coesivo pouco
diversificado se considerarmos: a quantidade de O. A. disponibilizados por seus
produtores; e também pela ausência, por exemplo, desses recursos em alguns momentos
do texto — como entre os parágrafos 1° e 2° em ambas as redações. No entanto, ainda
que haja poucos, são O. A. que ―fogem‖ ao comum encontrado na maioria das redações
e são O.A. diversos – não repetidos – em uma mesma redação, a saber:
Exemplo 3:
• ou seja (l.5) → Introduz argumento que
esclarece/exemplificam/retificam.
• é notável (l. 16) → Introduz argumento que indicam certeza e buscam
enfatizar o pensamento;
• diante disso (l.26) / dessa forma (l.29) → Introduzem uma
conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência.
Exemplo 4:
• De igual forma (l. 16) → Introduz argumentos com ideia de
comparação, analogia, semelhança;
• Assim (l. 13) / pois (l. 3) / Portanto (l. 22) → Introduzem uma
conclusão/desfecho/sintetizam uma ideia anterior ou consequência;
• Para (l. 22) / para que (l. 24) → Introduzem argumentos indicando
finalidade, propósito e intenção.
Como dito, mesmo que em pouca quantidade, os textos dos exemplos 9 e 10
apresentam avanços em relação às demais redações quando nela são encontrados O. A.
que divergem quanto à forma e até mesmo, em alguns casos, a função daqueles
identificados no grupo de ocorrência (A). Ou seja, os redatores apresentam certo
reconhecimento variado, mesmo que mediano, dos Operadores Argumentativos e
quando os utilizam, assim o fazem de acordo com a função – relação de sentido –
pedida pelos enunciados. Logo, cumprem eficazmente a orientação argumentativa
pretendida.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Propusemo-nos, neste trabalho, a averiguar o comportamento dos operadores
argumentativos na organização textual de redações. Constatou-se assim: pouca
variedade/ diversidade e repetição de O. A.; ausência de O. A. intra/interparágrafos; e
inadequação no uso dos O.A. quanto à orientação argumentativa por eles estabelecidas
entre as orações, períodos e parágrafos. Em outras palavras, redações com: articulação
precária e/ou pouca variedade de operadores; e articulação adequada e variedade
mediana de operadores. Ainda referente a essa análise inicial, os O. A. mais recorrentes
eram: ―pois‖; ―porque‖; ―portanto‖; ―assim‖; ―para (que)‖; ―e‖; ―também‖; ―além de
(disso)‖.
É fato, pois, que incoerências quanto ao uso dos Operadores Argumentativos
afeta diretamente a coesão do texto. No caso das produções de alunos do ensino médio,
no 3° ano do ensino médio, essas inadequações de forma e função afetam a relação
lógica entre segmentos do texto em termos de compreensão do sentido e de construção
argumentativa, consequentemente o seu desempenho avaliado quanto à Competência 04
do referido exame.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Redação no Enem 2016 – Cartilha do participante. /
Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep). Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb). – Brasília - DF: MEC,
2016.
______. Ministério da Educação. Redação no Enem 2017 – Cartilha do participante. /
Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep). Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb). – Brasília - DF: MEC,
2017.
KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.
______, Ingedore. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999.
______, Ingedore Villaça. A inter-ação pela Linguagem. 11 ed. – São Paulo: Contexto, 2015.
KOCH, Ingedore; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. – São Paulo: Contexto,
2013.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Escrever e argumentar. – São Paulo:
Contexto, 2016.
TOZONI-REIS, Marilia Freitas de Campos. Metodologia da Pesquisa Científica. – Curitiba:
IESDE Brasil S.A., 2007.