Post on 12-Jun-2015
OS NATIVOS DA AMERICA PORTUGUESA.
1º PERÍODO DE HISTÓRIA FUNEDI-UEMG
IZAAC ERDER SILVA SOARES
DIVINÓPOLIS
OS NATIVOS DA AMERICA PORTUGUESA.
1-OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DAS AMERICAS E A CULTURA DOS NATIVOS.
A descoberta das Américas foi talvez o maior feito da humanidade em toda sua
história, o advento das grandes navegações inaugurado pelos portugueses e espanhóis
iniciou uma profunda transformação que modificaria por completo o mundo europeu e
conseqüentemente também o novo mundo, que se descobria naquele momento.
Mas o que de fato era esse novo mundo? Qual era sua origem? O que ele escondia
além da visão deturpada dos colonizadores europeus?
Em primeiro momento a natureza vivida, intocada, edenizada e selvagem, animais
estranhos, demoníacos, homens diferentes, que estavam em contato e diretamente
dependentes da natureza, numa espécie de simbiose com a floresta.
Os nativos mantinham ritos, costumes, cultura e hábitos muito diferentes dos
europeus que aqui chegavam, de certo ouve um choque muito grande entre essas culturas,
era por completo diferente de tudo o que conheciam, tanto para nativos quanto para os
europeus e com absoluta certeza, suas vidas mudariam totalmente dali em diante.
Por quantos milênios esses homens habitam as terras americanas? Como puderam
a seu modo se espalhar por toda as Américas, criando diferentes formas de se expressar,
deferentes ritos e diferentes culturas? Como chegaram aqui?
Essas questões não podem ser respondidas com certeza, primeiro porque muito
pouco se sabe com certeza, se tem na verdade indícios, indícios esses que tentam, a sua
maneira entender essa história das Américas que precedem em alguns milhares de anos o
advento das grandes navegações e a era moderna.
Muito antes das primeiras naus da coroa espanhola atracarem nas costas da
América central, descobrindo o novo mundo, os nativos já viviam nessas terras há milênios.
A América foi o ultimo continente a ser povoado pelo homem, acredita-se que
entre 16000 a 12000 a.C. as primeiras levas migratórias tenham chegado no continente
Americano, e aproximadamente a 9000 a.C. uma outra leva migratória chega a América,
sendo essa de etnia mongolóide, da qual acredita-se descenderem todos os nativos das
Américas.
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A teoria mais aceita propõe que esses homens tenham chegado até a América pelo
estreito de bering, atravessando-o enquanto o congelamento do estreito formava uma ponte
entre o continente asiático e a América do norte.
Esses grupos humanos teriam feito um lento movimento migratório por toda a
América do norte, onde de certo alguns se instalaram e deixaram de ser totalmente
nômades, criando então raízes do que viria a ser uma cultura própria, ou melhor, varias
culturas.
Outros, contudo, teriam continuado esse processo migratório, que pode ter durado
milhares de anos, e depois de ocupar a maior parte da extensão da América do norte,
rumam para o sul, desses, alguns se estabeleceriam na região que hoje é o México, na
América central, e ali desenvolveriam no decorrer de séculos civilizações muito avançadas:
em principio a dos oumecas e depois a dos maias e astecas.
Esse movimento migratório teria ainda continuado, um grupo teria então
atravessados o istmo do panamá e chegado então a América do sul, e assim iniciado um
lento movimento que ocuparia vastas regiões da América do sul, onde lançariam as bases
que fundariam suas culturas, destas a mais brilhante pode-se dizer a cultura dos incas no
atual Peru.
Na América do sul, no tempo do advento das grandes navegações, quando os
portugueses chegavam pela primeira vez no novo mundo, encontrava-se nessas terras uma
grande população nativa, dividida em mais de 1500 subgrupos étnicos, acredita-se que na
época da descoberta portuguesa deveriam habitar essas terras em torno de seis milhões de
nativos.
Os nativos numa forma geral se organizavam de modos muito semelhantes, e
mesmo apesar de se notar diferenças entre os grupos étnicos, vou aqui tentar generalizar o
modo de vida desses homens, observando o que se encontra comumente entre eles, contudo
essas são observações dedutivas, muita das vezes apoiada na forma como as descendências
desses povos vivem hoje, ou nas descrições feitas pelos colonizadores.
Eles não deixaram nada escrito, nem tão pouco quaisquer monumentos
registrando suas histórias.
Esses grupos humanos se organizam em tribos, habitam moradias comunitárias
dispostas em torno de uma clareira, sendo essa clareira o local onde realizam suas
cerimônias religiosas.
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A divisão do trabalho dos nativos é feita em geral apenas pelo sexo, as mulheres
ficam a cargo do plantio, da coleta e do preparo dos alimentos, os homens caçam suas
presas em meio à selva e constroem suas moradias, segundo relatos dos colonizadores, os
nativos eram preguiçosos e avessos ao trabalho, contudo tem que se considerar que esses
homens não mantinham nenhuma relação de trabalho além da de subsistência.
A vida religiosa e cerimonial é a base fundamental da tribo, cada grupo mantém
de forma oral suas histórias sobre a sua cosmogonia e a própria gêneses de seu povo, a
religião nativa tenta através de lendas e histórias, sobre guerreiros e personagens explicar o
mundo que os cerca, a origem dos animais e das plantas.
Contudo cabe observar o que o jesuíta Manoel da Nóbrega fala sobre a religião
dos nativos numa de suas cartas:
“Essa gentilidade nenhuma cousa adora, nem conhece a Deus, somente aos
trovões chamam tupane, que é como quem diz cousa divina. E assim nós não
temos outro vocábulo mais conveniente para trazer ao conhecimento de Deus,
que chamar-lhe pae tupan” (Manoel da Nóbrega, Cartas, Vol. 1.º, Pg. 99)
O pajé, uma espécie de guia espiritual da tribo, detentor de poderes ocultos, faz a
ligação entre o mundo espiritual e físico, é ele encontra as respostas para as questões
pertinentes, faz os ritos de cura, invoca entidades espirituais e guia as cerimônias religiosas
na tribo.
Sua alimentação é baseada na caça e na coleta, toda sua subsistência é derivada
exclusivamente da floresta, em alguns grupos se pode notar a pratica da agricultura, em
especial a da mandioca, batata, amendoim, feijão e milho.
A educação das crianças se faz por todos da tribo, esses que a partir da observação
começam a aprender sobre os afazeres da cultura e dos costumes, depois são iniciado e por
fim quando passam pelos ritos de passagem e são considerados adultos, já estão aptos a
executar suas tarefas no grupo.
As famílias podem ser monogâmicas, onde o homem só tem uma mulher ou em
outros casos poligâmica, onde o homem tem mais de uma mulher, em alguns casos como
descreve a Laura de Mello e Souza em seu livro: “O Diabo e a Terra de Santa Cruz” essa
poligamia parecia ainda mais acentuada e se não incestuosa, onde um nativo do grupo dos
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carijós tinha muitas mulheres, incluídas nessas: sobrinhas, enteadas, netas e até a própria
filha.
O jesuíta Manoel da Nóbrega escreveu sobre as relações familiares dos nativos:
“É costume ate agora, entre eles, não fazer caso do adultério, tomar uma mulher e
deixar outra, como bem lhes parece e nunca tomando algo firme, estavam abaixo
dos outros infiéis de África e de outras bandas, que tomam mulher para sempre e,
se a abandonam, é mal visto; o que não se usa aqui; mas ter as mulheres
simplesmente como concubinas (Cartas do Brasil, vol. 1.º pg. 93):”
Detinham uma produção cultural muito expressiva e diversa, construíam suas
próprias moradias, canoas, arco e flecha, lanças, potes, redes, esteiras, colares e uma
infinidades de adereços, pintam seus corpos para os rituais, criam armadilhas em meio a
selva, desenvolveram um modo exclusivo de produzir seus alimentos, suas vestes, criaram
uma excepcional cultura, ligada essencialmente com a floresta.
A pratica da guerra entre os nativos se dava muito antes dos colonizadores
chegarem às terras sul americanas, esses homens davam muita importância a esses
conflitos, desenvolveram armas como tacapes e clavas, entretanto não conheciam o metal e
nem tampouco a fundição do mesmo, suas armas eram de madeira, ossos e pedra.
As guerras eram violentos embates de tribos rivais, eles se confrontavam em meio
à floresta, essas batalhas que podem ter motivos diversos, tais como a captura de mulheres
de outra tribo, a disputa de uma região ou intrigas sociais entre essas.
Nessas batalhas os nativos da América portuguesa viam a fazer prisioneiros, que
antes dos portugueses chegarem eram exclusivamente objetos da antropofagia, depois da
chegada dos colonos, esses prisioneiros se tornariam objeto de troca, e ao colonizador
serviriam como escravos.
A pratica que talvez mais tenha chocado os colonizadores foi a antropofagia, ou
seja, a pratica de comer seus prisioneiros de guerra, de que segundo suas crenças não só
comia o corpo mais também os atributos dos prisioneiros, contudo Laura de Mello e Souza
mostra em seu livro: “O Diabo e a Terra de Santa Cruz” indícios de que a pratica da
antropofagia tenha sido além de algo ritualístico, religioso, uma pratica também motivada
pelo gosto, por prazer e questões gastronômicas.
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Duas importantes citações dos padres jesuítas, transcritas no livro de Washington
Luís (Na capitania de São Vicente, 2.ª Edição, São Paulo, pg98 e pg99 ) ilustram esse
universo por nós tão abominado:
“Contando um padre da nossa companhia grande língua brasílica narra Simão de
Vasconcellos nas suas crônicas, que penetrando uma vez ao sertão, em certa
aldeia achou uma índia velhíssima, no ultimo dia de vida; catequizou-a naquele
extremo, ensinou-lhe as coisas da fé e fez cumpridamente seu oficio (...) depois
perguntou-lhe o que então desejava. Respondeu a velha já catequizada: nada mais
desejo, tudo já me aborrece; só uma coisa me poderá agora o fastio; se eu tivera a
mãozinha de um rapaz tapuia de pouca idade, tenrinha, e lhe chupara aqueles
ossinhos, então me parece tomara algum alento; porém eu (coitada de mim) não
tenho quem me vá frechar a um destes (Simão de Vasconcellos, crônicas da
companhia de Jesus do estado do Brasil. 2a. ed. Livro 1.º, pg 33, n.º49).”
“Também ao inimigo vencido, que iam devorar, davam a filha do principal, ou
qualquer outra que mais o contentasse, (Nóbrega, Cartas, Vol. 1.°, pg. 90) para as
noites que precediam a morte violenta. E, se deste ajuntamento monstruoso, por
acaso nascessem filhos, eles também os devoravam e dessa comida participavam
todos, avós, tios e as próprias mães (Hist. Da Prov. De Santa Cruz por Gandavo –
R.I.H.G.B.vol. 21, cap. 12, pg.383 Luís Ramires, R.I.H.G.B.,vol.15, pg. 17 Hans
Staden Ed. Do Centenário, pg147-8)”
Contudo, nem todos os grupos nativos da América portuguesa praticavam a
antropofagia, e de certo não podemos afirmar com certeza quais desses grupos ainda hoje
praticam esse tipo de rito, se é que ainda o praticam.
Não podemos dizer com certeza como viviam esses homens num passado antes da
colonização, no entanto podemos imaginar embasados nesses indícios como era suas
culturas.
2-PRIMEIROS CONTACTOS
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O contato inicial entre esses dois povos distintos, o choque entre essas culturas
com latentes diferenças, com modos e ritos profundamente diversos, e cada qual com uma
maneira própria de entender o mundo a sua volta.
O que pode ter perpassado pelas mentes de nativos e colonizadores quando se
entreolharam pela primeira vez? Os nativos com suas vidas que, de certo não passaram por
qualquer grande choque cultural em milênios de existência, os navegadores portugueses por
sua vez, impregnados de uma visão fundamentalista religiosa, olhavam para o novo mundo,
vendo ali o paraíso, o purgatório e também o inferno.
A descoberta das Américas no fim do século XV e inicio do XVI foi algo
extraordinário, segundo Warren Dean, em sua obra:
“Esse evento memorável da história da humanidade – o fim de milênios de
separação entre os dois maiores contingentes da população da espécie – foi
também o mais trágico. As crônicas das descobertas, mais que as de qualquer
outro capitulo da história escrita, são de um irrealismo assustador. Incapazes de
compreender intelectualmente a magnitude de sua descoberta, os portugueses
tropeçaram em um meio continente, movidos por cobiça e virtude, sem se
deixarem levar por compaixão ou mesmo por curiosidade. A mata atlântica os
deixava impassíveis ou atônitos. Por diversas vezes penetram-na, e traziam
apenas relatos delirantes sobre esmeraldas e ouro. Produzinram tamanha
devastação entre seus irmãos que, no prazo de um século, quase todos aqueles
com quem haviam se deparado estavam mortos e suas sociedades em ruínas. Esse
foi o começo, a fundação do povoamento da colonização e do império, de uma
civilização transferida e imposta. (DEAN Warren, A ferro e fogo: a história e a
devastação da mata atlântica Brasileira, São Paulo, SP. Companhia das letras,
1996. pg.59)”
O choque entre esses dois mundos transformaria a ambos, contudo, esse embate
de forças entre o novo e o velho mundo, produziria algo novo, por mais que a cultura do
colonizador europeu tenha prevalecido, subjugando as inúmeras culturas nativas, o
colonizador não sairia ileso, e sua cultura também seria alterada.
Entretanto a sofisticação do gênio colonizador português, cujos instrumentos e a
avançada tecnologia disposta a seu favor, não seriam suficientes para empreender a
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colonização, esse choque inicial entre nativos e colonos, produziria a matéria humana
necessária para realizar o domínio sobre os nativos e a natureza selvagem.
Como os nativos viram esses novos e diferentes homens que chegaram em
grandes canoas em suas praias?
Tentar recuperar a visão dos nativos sobre a chegada dos europeus na América
portuguesa é uma tarefa talvez impossível, primeiro porque não dispomos de relatos dos
nativos daquela época, o que nos restas é somente tentar entender suas ações, suas reações,
sendo essas descritas pelos portugueses desse período.
De repente, num dia como qualquer outro, surge ao longe no mar, grandes naus do
império português, ostentando grandes velas brancas, com cruzes vermelhas nelas, essas
naus chegam até a praia, e delas saem homens de pele branca, cobertos com vestes
estranhas, alguns com reluzentes armaduras, armas nunca antes, vista pelos nativos, armas
que cuspiam fogo, instrumentos estranhos, curiosos, nunca vistos.
De certo esses homens estranhos e suas gigantescas canoas devem ter despertado
a curiosidade dos nativos. Um fascínio arrebatador deve ter tomado conta de seus
pensamentos, a beleza e diversidade desses novos homens, a cruz que primeiro foi erguida
nessas terras, batizada por esses homens de terra de Vera cruz.
Quem eram esses homens de pele branca? Esses homens que falavam uma língua
estranha, que se comportavam tão diferentemente dos homens nativos? Por que estariam
ali? Seriam eles os espíritos das antigas histórias?
Talvez essas perguntas devem ter assombrado os nativos em primeiro instante, o
contato inicial foi pacifico, estranho e de certo nada revelador.
Os portugueses cortaram uma arvore e dela fizeram uma cruz, fincaram-na no
chão e rezaram ali a primeira missa em terras da América portuguesa, os nativos imitando
os portugueses se ajoelharam diante a cruz e colocaram as mãos entrepostas, assim como se
rezassem, mas não sabiam o que de fato estavam a fazer.
Em primeiro momento os nativos devem ter pensado que esses homens eram em
verdade deuses, que viajavam pelo mar e que vieram a seu encontro.
Os nativos não pouparam cordialidades, ajudaram os navegadores a reabastecer as
naus, lhe ofereceram presentes, suas mulheres e depois iriam ser eles quem cortariam as
arvores do pau Brasil nas costas da América portuguesa.
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Nos primeiros anos da colonização, o escambo foi uma pratica predominante entre
colonos e nativos, e as relações de modo geral entre esses dois foram amistosas.
Warren Dean nós conta algo sobre essas primeiras relações em sua obra:
“Os tupis se prontificaram a capturar animais vivos e peles para seus hóspedes
insaciáveis. Alem de madeira corante (...) É difícil imaginar o custo dessas
mercadorias para os tupis. Matar uma onça era uma aventura arriscada, não só
por sua grande força e ferocidade, mas também porque seu espírito era
considerado especialmente vingativo (...) As espécies mais belas e raras valiam
tanto para os tupis quanto dois ou três prisioneiros humanos. Considerando-se
que os tupis obtinham cativos correndo risco de vida e que ao fazer negocio com
ele abriam mão da glória de esmagar suas cabeças e acrescentar mais um grau
honorífico a seus nomes, era um preço realmente impressionante. (DEAN
Warren, A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica Brasileira ,
São Paulo, SP. Companhia das letras, 1996. pg.66)”
Nesses trechos Dean nos conta a forma como que os nativos inicialmente tratavam
os colonos, as relações inicias entre esses dois grupos estavam baseadas no escambo, uma
espécie de troca.
Os portugueses num geral levavam para os nativos apenas quinquilharias, tralhas
velhas que não tinham valor nenhum, e quando o tinham, no caso dos machados de metal e
outras mais ferramentas, essas acabavam por beneficiar muito mais os portugueses do que
propriamente os nativos.
Essa relação inicial entre nativos e colonos era na verdade uma moeda de duas
faces, os portugueses tinham um olhar peculiar sobre os nativos, de certo ambivalente, viam
neles de uma forma geral, almas a serem catequizadas, salvas da perdição do pecado e do
fogo do inferno, uma visão exclusivamente religiosa, que não era somente de membros da
igreja, essa visão era também compartilhada por vários indivíduos laicos.
Os portugueses acreditavam que os nativos da América eram descendentes de uma
tribo perdida de Judá, e que já aviam sidos catequizados anteriormente pelo apóstolo São
Tomé, que segundo acreditavam os portugueses estivera em terras brasileiras anos antes.
A outra visão, por outro lado, representava o comercial, o imperialista, viam neles
formas diversas de obterem lucros, seja pelo corte do pau Brasil, pela aquisição de animais
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exóticos do novo mundo e também pela compra de prisioneiros de guerras tribais,
potenciais escravos a serem vendidos em outros mercados do império.
Contudo, como se pode notar, a pratica do escambo entre nativos e colonos, era
muito mais do que se pensa em primeiro momento, muito além de uma simples relação de
troca.
Especialmente para os nativos, essa simples relação de escambo seria vista como
uma relação de aliança, de união de forças, de fato tanto nativos quanto colonos se
ajudavam, em conflitos belicosos, combatendo inimigos em comum.
Entretanto os portugueses nunca deram real valor a essas alianças, talvez nem
mesmo as compreendia de forma correta, o fato é que depois de algum tempo vivendo na
colônia, os portugueses observando certas praticas desses nativos, o nudismo, a poligamia e
principalmente a antropofagia, criaram uma visão antipática aos nativos, viam neles
homens que viviam do pecado, que praticavam atos satânicos, e por isso iam de contra toda
a crença religiosa dos colonos.
Essa visão seria a responsável por um segundo momento da pratica colonizadora,
um momento menos amistoso, onde o colono iria tentar impor ao nativo sua vontade, e em
quase todos os casos o colono teria de usar a força e escravizar o nativo.
Entretanto essas alianças e relações iniciais entre colonizadores e nativos abririam
as portas do novo mundo para o império português, sem a presença dos nativos, a vida dos
colonos em terras tão selvagens seria algo quase impossível.
Contudo, essas relações iniciais, que perduraram pelas três primeiras décadas do
século XVI, e foram relativamente amistosas encontrariam de modo geral um fim, tanto
pelos nativos que se oporiam aos trabalhos em troca de quinquilharias européias, das quais
eles já estavam cheios e também pelos colonos, que queriam ampliar o advento da
colonização e para isso consecutivamente o mercado escravocrata, com a desculpa de
serem os nativos, personificações demoníacas que recusam a catequese, assim os colonos
passam a caça-los para torna-los escravos.
3-ESCRAVIDÃO E CRISTIANIZAÇÃO DOS NATIVOS
As visões ambivalentes de valores, comercial e religioso, dividiam e permeavam
os fundamentos bases do império português na modernidade, os portugueses viviam entre
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suas ambições de enriquecimento na colônia e o sagrado dever a que eles mesmos se
atribuíam de propagar e a palavra de Deus e salvar as almas do pecado e da perdição do
inferno.
A escravidão pode ser observada por diferentes ópticas, apesar de todas as suas
justificativas e explicações serem exclusivamente religiosas, no entanto, a escravidão viria
a se tornar à base econômica, principalmente, da América portuguesa.
Avia uma explicação em particular para a escravidão dos homens da África, para
isso a igreja católica buscava interpretar o mundo com observações embasadas nas sagradas
escrituras.
Segundo a igreja, seriam os negros da África descendentes dos povos de Sodoma
e Gomorra, cidades amaldiçoadas que foram destruídas por Deus, assim como nos conta a
bíblia.
Seriam então esses homens, sob a visão portuguesa do século XVI, descendentes
de Sodoma e Gomorra, cuja pele acusava a marca de Deus para a maldição que
carregavam, pois eles eram descendentes do pecado, amaldiçoados e sem alma.
Essa justificativa era essencialmente religiosa e fundamentalista, era a desculpa
para a abominável pratica da escravidão, pois segundo a igreja, a escravidão era a única
maneira desses homens encontrarem a salvação do pecado e do fogo inferno, a que já
nasciam condenados.
Contudo essa “salvação” que os portugueses se embasavam, se tornaria um dos
mais lucrativos mercados da época, e sem sombra de duvidas seria um elemento essencial
para o evento colonizador do novo mundo, em particular para a lucrativa atividade
açucareira do nordeste e posteriormente a mineração em Minas Gerais.
No entanto essa visão não seria a mesma aplicada aos nativos da América
portuguesa; apesar de se notar o mesmo objetivo comercial sobre esses potenciais escravos,
não podemos disser que eles eram vistos assim como os negros da África e nem que
ocuparam a mesma posição destes como mercadoria, pois segundo uma linha de valores,
escravos da terra eram bem piores que escravos negros, eram menos adaptáveis ao trabalho,
visto que viam de uma cultura predominantemente de subsistência, eram facilmente mortos
por doenças trazidas pelos próprios colonos e ainda quando houvesse oportunidade, fugiam
para os sertões e não mais voltavam.
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A visão da igreja sobre esses homens autóctones seria por completo diferente da
visão sobre os homens da África, a própria justificativa que se aplicaria a esses homens foi
completamente diferente.
Segundo a igreja, seriam eles descendentes da tribo perdida de Judá, e segundo o
texto do importante concilio de Trento, teriam eles alma, e era, portanto, obrigação da
cristandade salva-los.
Esse olhar do português no inicio da modernidade pode ser notado na carta de
Pero Vaz de Caminha, o primeiro texto português escrito em terras do novo mundo, quando
esse, claramente nota a sua majestade o rei português sobre a melhor coisa a se fazer no
novo mundo: “Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.”
No entanto, esse olhar predominantemente religioso não seria de todo respeitado,
nem os decretos de leis publicados mais tarde pela coroa, que tentavam proibir essa pratica
escravista, teriam grande efeito.
De fato encontra-se outro olhar sobre o nativo, olhares que buscam lhe atribuir
outras origens, origens obscuras, que explicariam seus hábitos demoníacos como a
antropofagia. Laura de Mello e Souza mostra em seu livro: “O Diabo e a Terra de Santa
Cruz” uma essa origem:
“Como os monstros, o homem selvagem não era tema novo, tendo raízes no
mundo antigo. Era antítese ao cavaleiro, e opunha, ao ideal cristão, a vida
instintiva em estado puro. Na idade Média, vigorou ante ele uma atitude
ambivalente de medo e inveja: ameaçava a sociedade, mas era exuberante,
sexualmente ativo e levava uma existência livre nos bosques. Seus atributos
espirituais eram vistos como negativos, enquanto os dotes físicos eram
considerados positivos, o homem selvagem medieval emprestou muito aos
homens do novo mundo (SOUZA, Laura de Mello, O Diabo e a Terra de
Santa Cruz, companhia das letras)
Laura de Mello e Souza ainda nós apresenta uma outra versão de visão, no caso
uma visão de D.Diogo de Avalos, que, no entanto é logo descartada, mas que vale ser
notada, onde seriam os nativos os mesmos povos e Altamira, bárbaros que comiam carne
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humana, que os espanhóis combateram e mataram muitos, mas que os poucos que sobraram
“embarcaram para onde a fortuna os guiasse, e assim deram consigo nas ilhas fortunadas,
que agora se chamam canárias” esses bárbaros teriam seguido uma roda que acabaria na
América portuguesa, e dois irmãos ocupariam diferentes lugares dessas vastas terras, “tupi
povoando o Brasil” e o outro irmão, guarani “passou a Paraguai com sua gente e povoou o
Peru”
O período de escambo avia ficado para traz, a colonização e conseqüentemente a
povoação iriam fazer com que nativos e colonos se encontrassem em contextos
completamente adversos, em quase todos esses contextos, o encontro desses dois seria
agressivo.
Os traficantes de escravos nativos, sobretudo os da capitania de São Vicente, atual
estados de São Paulo, se apoiariam principalmente na dita “guerra justa” uma espécie de
brecha na legislação que permitia a captura do “negro da terra”, essa brecha dizia que se o
nativo recusasse a aceitar a palavra de Deus, pregada pelos padres jesuítas em suas missões,
esse poderia ser escravizado, contudo os caçadores de escravos primavam principalmente
por nativos das missões jesuíticas, pois esses já aviam sido catequizados, e já assimilavam
melhor a cultura do colono; isso de certo acarretou um choque entre as duas visões do
império português: a religiosa e a comercial.
Neste contexto podemos notar então dois lados antagônicos, os traficantes dos
nativos, dos “negro da terra” e os jesuítas, padres que realizaram um intenso movimento de
catequese dos nativos nas Américas, tanto portuguesa quanto espanhola, fundando missões
e educando esses nativos conforme a cultura colonialista.Contudo os jesuítas utilizariam da
mão de obra do nativo para servir aos seus propósitos, e mesmo sendo considerados livres,
esses não podiam sair das missões, eram de uma maneira obrigados a trabalhar para os
jesuítas numa espécie de escravismo que protegia o nativo
A pratica de escravizar os nativos da América portuguesa teve inicio muito cedo,
poucos anos depois da descoberta.
Um tanto porque a própria cultura escravista já estava impregnada no pensamento
português ao longo de séculos, primeiro contra os mouros nas guerras de reconquista da
península ibérica, depois nas colônias da África e por ultimo aplicada aos nativos do novo
mundo.
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Registros muito antigos ainda em tempos de escambo já contam a presença da
pratica escravista na colônia, e mesmo que ainda em pequena escala, era um processo muito
similar ao ocorrida na África, pois os nativos escravizados eram adquiridos em tribos de
outros nativos, que através de guerras haviam sido feitos prisioneiros, esses prisioneiros
eram usados nas trocas.
O escravismo dos nativos da América portuguesa, mesmo apesar das varias
proibições nunca cessou durante todo o período colonial, foi uma pratica constante, que se
justificava em salvar aqueles homens, de serem devorados pelos nativos que os aprisionava,
o “resgate” ou os acusando de não aceitar a catequese e por esse motivo, eram então feitos
cativos com argumento da “guerra justa”.
4-CRONOLOGIA
Cronologicamente podemos entender o processo de colonização da América
portuguesa em distintos períodos, e nestes vamos tentar localizar o nativo em sua
ocorrência histórica, a fim de entender como se desenrolou durante o período colonial a
vivencia entre nativos e colonos.
Em primeiro momento, quando não havia de fato um empreendimento
colonizador, e sim constituía uma economia de extrativismo vegetal e animal, sendo esse o
que chamamos o período de escambo, nesse tempo que durou por volta de três décadas,
desde o período de descoberta, foi predominantemente utilizada a mão de obra nativa,
sendo essa “paga” com trocas, ou seja, característica pela relação comercial conhecida
como escambo.
Num segundo momento, até fins do século XVI, quando de fato se inicia a
colonização das terras da América portuguesa, acontece a escravização desses grupos
nativos, sendo essa escravidão sustentada pela aquisição de prisioneiros de guerra em
outras tribos e pelos “saltos” dos caçadores de escravos.
Nesse período podemos observar o surgimento das missões jesuíticas, e também a
disseminação de surtos de doenças do “velho mundo” nas populações de nativos, o que
causou uma verdadeira mortandade desses, então várias dessas comunidades nativas rumam
em fuga para os “sertões”, fugindo das ações dos colonizadores.
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Esses fatores contribuíram para o fracasso do intento de utilizar a mão de obra
nativa para empreender principalmente a produção do açúcar, contudo como nós conta Ciro
Flamarion em seu capitulo do livro “história geral do Brasil” (pg.103) os “negros da terra”
foram largamente utilizados nos trabalhos dos engenhos por décadas.
O século XVII seria caracterizado principalmente pela ascensão da região
nordeste da colônia, passando a ocupar um lugar de destaque não só na América
portuguesa, mas também sobre todas as regiões afro-americanas sob possessão do império
português.
O uso do “negro da terra” nos engenhos daria lugar aos escravos vindos da áfrica,
esses mais aptos ao árduo trabalho da produção açucareira, e mais familiarizados ao
escravismo do que os índios.
Contudo, principalmente na capitania de São Vicente, e em toda região sudeste e
sul, o uso do escravo nativo continuaria a acontecer, primeiro por serem “peças” mais
baratas e, sobretudo mais fáceis de serem capturadas.
O ultimo período da colônia, que tem inicio com a descoberta do ouro e
posteriormente com a lenta falência da produção açucareira, culminando numa
reestruturação de ordem geográfica na colônia.
O sudeste brasileiro, antes menos afortunado, ganha destaque com a descoberta do
ouro, conseqüentemente essa descoberta incentiva uma verdadeira corrida rumo aos sertões,
e a demanda de maior número de mão de obra escrava, essa quase exclusivamente negra.
O advento da descoberta do ouro criou um novo foco na colônia, as minas gerais
transformaria o pobre sudeste numa área rica e densamente urbanizada, principalmente no
litoral, por onde escoava o ouro.
De certo nativos foram escravizados, contudo a grande massa da mão de obra da
colônia era nesse momento composta por escravos negros e libertos, grande parte desses
alforriados.
5- VIVENCIA ENTRE COLONO E NATIVO
As relações entre colonos e nativos podem ser vistas de uma forma mais objetiva,
entendendo principalmente o uso que os colonos deram as populações nativas.
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Em primeiro, os nativos foram grandes fornecedores de alianças e inclusive
tecnologias, pois sem os nativos seria impossível ao contingente limitado de portugueses
explorar as matas atlânticas nas costas litorâneas e posteriormente iniciar o processo
colonizador, por motivos claros, o conhecimento da natureza do novo mundo, a forma de
lidar com os animais e até como conhecer os frutos que podiam ser comidos.
Em contraponto, os colonos contribuíram muito com a “evolução” dos nativos,
inserindo em suas culturas ferramentas de metal, como o machado e o anzol, armas brancas
e armas de fogo, com a construção gramatical da língua tupi-guarani feita pelos jesuítas,
que segundo alguns autores muito contribuiu para a evolução da lingüística dos nativos; no
entanto essas “evoluções” como já havia dito anteriormente, atendiam em muito aos
enterrasses dos colonizadores.
Além dos nativos serem utilizados como escravos, serem os “professores” dos
colonos sobre as coisas da natureza desconhecida, além deles fornecerem as mulheres para
a povoação mestiça de grande parte da colônia, eles foram utilizados de variadas outras
formas, como por exemplo, na proteção das povoações coloniais, sendo suas aldeias
dispostas em redor das povoações.
Eram utilizados em guerras contra outros nativos, hostis ao colono, e inclusive
também contra outros reinos da Europa, no caso Holanda e França.
O uso do contingente indígena em questões militares é algo que muito variou, mas
que tem importância impar, pois a baixa com população colonial seria quase impossível
vencer frentes de batalhas nas terras do novo mundo, Luiz Felipe de Alencastro, ilustra em
sua obra (O trato dos viventes, formação do Brasil colonial no atlântico sul, pg.124) a
utilização do nativo como força belicosa, segundo ele, no tempo da invasão holandesa a
Bahia, os nativos eram a principal força do exercito, Alencastro inclusive cita as palavras
do padre Antônio Vieira “A principal parte de nosso exército, e que mais horror metia aos
inimigos” e também fala outro colonizador:
Gabriel Soares Sousa, defendia a utilização dos nativos para fins militares, em
1592 ele expressa essa opinião e suas crenças:
“O único remédio deste estado é haver muito gentio de paz posto em aldeias ao
redor dos engenhos e fazendas, porque com isso haverá quem sirva e quem
resista ao inimigo, assim franceses e ingreses, como aimorés, que tanto mal têm
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feito e vão fazendo, e quem ponha freio aos negros de guíne que são muitos e de
só índios temem”. (ALENCASTRO, Luiz Felipe de, O trato dos Viventes:
formação do Brasil na atlântico sul,São Paulo, Companhia das letras, 2000)
Contudo, muitos nativos não aceitaram a ação colonizadora dos portugueses de
forma pacifica, muitos reagiam com violência e inclusive atacando as povoações da
colônia, fazendo prisioneiros e ate “comendo-os” em seus rituais.
O medo pairava nas povoações mais afastadas, as diferenças populacionais entre
nativos e colonos era gigantescamente diferentes, os nativos eram muito mais populosos.
A violência imperava entre nativos e colonos, os nativos atacavam as fazendas
com grandes números de guerreiros, e flechavam a todos indiscriminadamente, Laura de
Mello e Souza nos traz a vos de Jaboatão em sua obra, sobre esses ataques.
Jaboatão nos fala da violência dos nativos contra os colonos, conta entre outras a
história sobre o ataque a casa de Francisco de Sá Menezes, quando seu filho e a ama foram
mortos por inúmeras flechas, ou quando Francisco de Araújo de Brum foi violentamente
morto por “nuvem de setas” ao tentar fugir dos nativos que realizaram um ataque contra sua
propriedade.
Os ataques contra as fazendas eram sempre chacinais violentas, inúmeros mortos
e pessoas levadas para serem comidas, o medo e temor de ser morto pela ira e vingança dos
nativos era uma constante no cotidiano colonial.
No entanto os colonos dispunham de uma arma muito eficaz, que eles sequer
tinham uma mínima noção, ao vir de outro continente, separados a milhares de anos da
população nativa das Américas, os colonizadores portugueses e também os espanhóis
realizariam um dos maiores genocídios da história que ironicamente aconteceu sem
intenção.
Alencastro nota possíveis motivos biológicos que poderiam ter influído nesse
processo de disseminação de doenças que mataria grande parte das populações nativas não
só da América portuguesa, mas de todo o continente, entre os quais podemos destacar a
falta de diversidade biológica, principalmente no tipo sanguíneo, segundo ele todos os
nativos, em decorrência do isolamento de milhares de anos, só possuíam o tipo sanguíneo
O, isso pode ter acarretado numa reduzida resistência a bactérias e vírus contagiosos.
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Varias doenças assolaram os nativos na América portuguesa, doenças que pouco
mal faziam ao colono, já adaptado a elas, eram desastrosas quando em contato com nativos,
essas doenças causaram inúmeras mortes, até mesmo o valor dos escravos nativos era
menor pelo fato de serem tão suscetíveis a morrer por doenças consideradas simples pelos
portugueses.
Ao longo de alguns anos as populações nativas estavam sendo aniquiladas, não
pela guerra contra o colono, mas sim pela ação das doenças, Warren Dean nós traz alguns
números:
“Ao longo da costa, de São Vicente a Cabo frio, onda após onda de doenças
devastaram os tupis; em 1600, estavam reduzidos a uns quatro ou 5 mil, um
declínio assustador de 95% em um século.” (DEAN Warren, A ferro e fogo: a
história e a devastação da mata atlântica Brasileira, São Paulo, SP. Companhia
das letras, 1996. pg.79)”
Podemos através dos números de Dean, entender o impacto que as doenças do
velho mundo causaram em terras da América portuguesa, essa verdadeira mortandade foi
importante para que houvesse a possibilidade da colonização tão efetiva nessas terras, fato
que não aconteceu tão facilmente na colônia africana. E consecutivamente podemos afirmar
o declínio permanentemente dessas populações, e uma violenta redução em suas
populações.
6-CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram eles importantes instrumentos de culturação, foram eles os professores dos
portugueses, pois sem sua presença, como seria a colonização? Eles foram à parcela de
algo, muito além do que os consideramos, são além de nativos, ancestrais de todos nós.
Os nativos tiveram suas culturas destruidas, seus custumes se chocaram defronte
outros, tiveram suas ideologias e consepções quebradas, seu mundo foi despedaçado pela
cultura espancionista do imperio portugues.
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Contudo, muito dos seus costumes, seu sangue, suas ideias e cultura, misturaram-
se ao dos portugueses, dos africanos; ambos se confrontaram, se chocaram, se uniram e se
misturaram.
No fim, o que restara nessas terras do novo mundo, não era mais a figura daquele
indigena que vivia aqui, antes do descobrimento, nem tão pouco a figura do portugues antes
de descer de sua nau ou muito menos o escravo que veio arrastado oceano afora, socado
covardemente dentro de um porrão sujo e imundo; o que restara nessas terras era algo novo,
único e novo, uma raça formada por tres vetores diferentes, tres mundos distintos que
estavam a partir de então, fadados a serem um só.
Não podemos considerar os nativos menos ou mais, pois são eles, uma das peças
desse mundo multicultural, multiracial a que chamamos de brasil.
Suas mulheres deram a luz aos primeiros de nós, somos seus filhos, suas
decendencias, somos os fihlos da união entre a barbarie e o radicalismo religioso, temos em
nós, a beleza da nudez e a vergonha do sexo, o primitivo elo com a natureza e o
incontrolaveu desejo de conquistar, somos a espiritualidade da floresta e o fervorismo
religioso da era moderna, somos o nativo e ao mesmo tempo portugues e negro.
7-BIBLIOGRAFIA
LUÍS, Washington. Na capitania de São Vicente. 2.ª Edição, São Paulo, 1976.
DEAN Warren, A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica Brasileira. São
Paulo, SP. Companhia das letras, 1996.
ALENCASTRO, Luiz Felipe de, O trato dos Viventes: formação do Brasil na atlântico sul.
São Paulo, Companhia das letras, 2000.
SOUZA, Laura de Mello e, O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade
popular no Brasil colonial. Companhia das Letras, 1986, São Paulo.
LINHARES, Maria Yedda, História Geral do Brasil. Elsevier, 1990, Rio de Janeiro.
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