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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
EXODO RURAL E DINÂMICA POPULACIONAL DE JANDAIA DO SUL-PR:
DISCUSSÕES PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA
Aroldo Oribes da Silva
RESUMO
A Análise do espaço de existência da Escola, bem como sua situação estratégica em relação
aos núcleos habitacionais de Jandaia do Sul, dão os primeiros passos para construção deste
trabalho, já que é a partir dos núcleos habitacionais, principalmente os criados na década de
1970 e 1980, que algumas escolas aí se estabeleceram. Estes núcleos habitacionais são
resultantes de um processo de esvaziamento da zona rural, que em meados da década de 1970
passa por profundas transformações em sua característica de produção e modernização do
meio rural.
Palavras chave: Urbanização; êxodo rural; modernização do campo.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo visa à conclusão do PDE (Programa de Desenvolvimento da
Educação) 2013, promovido pela (SEED/PR), cujo mesmo, aborda dados e levantamentos
sobre a conjuntura do município de Jandaia do Sul no contexto do processo de modernização
da agricultura no país e no Estado, apresentando as principais transformações ocorridas no
espaço agrário de Jandaia do Sul, mudanças estas que estão vinculadas as questões de ordem
estrutural da produção agrícola nas últimas três décadas do século XX e início do século XXI,
e, ainda cujas mudanças, acarretaram uma nova configuração do espaço local, particularmente
em relação ao êxodo rural.
Partindo desta análise contextual serão trabalhados os seguintes conteúdos:
dinâmica populacional do Paraná, êxodo rural e urbanização nas ultimas três décadas.
Conteúdos estes que darão subsídios aos alunos para que os mesmos possam perceber que as
transformações que ocorreram no espaço geográfico ao qual estão inseridos, não são isoladas,
ou seja, estão contextualizadas numa dimensão estadual, nacional e até mesmo internacional.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Assim como no Brasil, o processo de modernização agrícola também se configura
no Paraná, em particular, tomamos como referência a região norte do Estado onde tem como
principal aspecto desta configuração, uma reorganização, frente à progressiva substituição da
cultura do café pelas culturas da soja e do trigo, dado ao incremento tecnológico para estas
culturas. Muito embora esta modernização não signifique necessariamente desenvolvimento
social, pois na verdade pode-se dizer foi a partir da modernização da agricultura na região
norte do Estado que ocorre um processo de reorganização social, ou seja, a urbanização
começa a ter um papel decisivo em relação ao campo, processo este que ocorreu no Brasil
como um todo.
Durante a década de 1970, o norte do Paraná vivencia um período de intensa
concentração da posse da terra, onde ocorre a redução de aproximadamente 38% dos
estabelecimentos agropecuários (IBGE 1975). Ainda, segundo Moro (2000) a dimensão
média de ha por estabelecimento aumentou de forma expressiva, de 22,0 ha em 1970 para
38,1 ha em 1980.
Na verdade, a modernização agrícola do norte Paraná é reflexo da conjuntura
nacional de investimentos para o setor agrário, sendo dessa forma, uma parte do todo.
2.1 Aspectos Históricos e Geográficos de Jandaia do Sul
O município de Jandaia do Sul encontra-se situado na região norte do Paraná,
onde nasceu através da iniciativa da CIA Norte do Paraná, pioneira no desbravamento e
povoamento da região. O Patrimônio foi fundado em 1942, tornando-se logo um centro de
convergência de agricultores vindos de todas as regiões do país, atraídos pelas boas
perspectivas do café. Criado através de Lei Estadual n 790 de 14 de Novembro de 1951, foi
instalado oficialmente em 14 de Dezembro de 1952, sendo desmembrado de Apucarana.
Jandaia do Sul continua sendo um importante centro regional, principalmente para a região do
Vale do Ivaí (Emater/Acarpa, 2013).
Quanto a sua geografia, o município está situado no Vale do Ivaí a
aproximadamente 390 km da capital.
Figura 1- Localização Geográfica de Jandaia do Sul no Paraná.
Fonte: WIKIPEDIA (2013).
Sua área é de 18.506 ha, assentado sobre um manto de rochas basálticas da
formação da Serra Geral com alta fertilidade de seus solos e susceptibilidade a erosão,
dependendo do sistema de manejo dos solos. Constituído basicamente por Neossolos (terra
roxa), Litossolos e manchas de Latossolos roxo, caracteriza-se de uma maneira geral por
relevos ondulados a fortemente ondulados (Emater/Acarpa,2013).
Em relação a sua topografia, os terrenos mais planos são encontrados na sua
porção norte até o limite sul da sede municipal, bem como ao longo dos vales do Córrego
Guaporé, Ribeirão Humaitá, Ribeirão Cambará, Córrego Canutama, Córrego Jequitibá,
Ribeirão Ariri e Ribeirão Marumbi, que contém terrenos mais favoráveis à mecanização
agrícola. A sede municipal está localizada sobre o divisor de águas Pirapó-Ivaí, com altitude
de até 810 metros e cercado de diversas nascentes, sobretudo em sua vertente sul
(WIKIPEDIA,2013).
No município de Jandaia do Sul ocorre o predomínio das lavouras anuais em
relação às lavouras permanentes e outras culturas. O gráfico três ilustra melhor esta realidade:
Gráfico 1- Uso do solo do município de Jandaia do Sul em hectare.
Fonte: Emater/Acarpa (2013).
Como se observa no gráfico, as lavouras anuais do município de Jandaia do Sul
representam 79% a mais, comparadas as lavouras permanentes, fator que contribuiu
diretamente para o êxodo rural do referido município.
2.2 Aspectos Humanos e Econômicos de Jandaia do Sul
A população total de Jandaia do Sul estava definida em 2010, segundo o IBGE,
em 20.269 habitantes, dos quais 18.331 residentes na zona urbana e 1.938 residentes na zona
rural. No entanto, cabe lembrar que o município de Jandaia do Sul na fase áurea da
cafeicultura, ou seja, entre meados das décadas de 1960 e 1975, atingiu picos populacionais
muito maiores, em torno de 34.000 habitantes, dos quais aproximadamente 29.000 residiam
na área rural. (IBGE, 2010).
O fato de predominar as culturas anuais e mecanizadas na área rural, fez com que
gradativamente a população da zona rural buscasse os centros urbanos, sendo estes centros,
não propriamente a cidade de Jandaia do Sul, mas sim o local onde propiciasse a estes ex-
agricultores e suas famílias, condições de sobrevivência, já que o processo de saída do homem
do campo no município de Jandaia ocorreu de maneira muito rápida, principalmente em
7,335; 44%
1,540; 9%
720; 5%
825; 5%
5,790; 35%
335; 2%
lavouras anuais
lavouras permanente
matas naturais
outras áreas
pastagem
reflorestamento
meados da década de 1970, após a grande geada que afetou a área produtora de café na região
norte do Paraná, onde se insere o município de jandaia do Sul.
Os dados que serão apresentados propiciam uma melhor compreensão da
realidade populacional do município nas últimas décadas. O mesmo sofreu uma redução da
população rural de 19,7% entre 1991 e 2000 e um aumento da população urbana de 11,3%
entre 1991 e 2000, atingindo o índice de urbanização a 86,8% em 2000; apresentando um
processo de envelhecimento, com redução nos estratos de população até 29 anos e aumento
nos estratos acima de 30 anos entre 1991 e 2000, tendo a idade media da população passado
de 24,7 anos para 28,6 anos no período. O crescimento da população em idade ativa de 1.177
pessoas entre 1991 e 2000, aumentando a sua participação em 2,4% na população total
(IBGE, 2008).
Embora o saldo migratório rural tenha sido negativo para todas as microrregiões
do Estado, foi extremamente desigual a sua proporção. Para algumas microrregiões, a taxa
líquida indica que o crescimento populacional da década de 1970 esteve muito abaixo do
esperado (SCHÖRNER, 2009, p. 206).
Na verdade, o caso de Jandaia do Sul, não é uma situação isolada, pois na grande
maioria dos municípios do “Norte Novo e Novíssimo” do Paraná, vivenciaram durante a
década de 1980 um processo de inserção da dinâmica da Economia de Mercado (MORO,
2000), visando à obtenção de divisas numa escala mundial, onde a agropecuária de
subsistência se deprime aos grandes complexos do agronegócio.
Dessa forma, é importante destacar que o inchaço urbano de algumas metrópoles
regionais do Norte Novo e Novíssimo do Paraná obteve um crescimento bastante acelerado de
seus núcleos urbanos, a exemplo de Maringá e Londrina.
Gráfico 2- População Urbana e Rural de Jandaia do Sul entre 1970-2010 em milhares.
Fonte: IBGE (2010).
O Gráfico 2 demonstra a grande transição populacional das últimas quatro
décadas no município de Jandaia do Sul, constatando-se um aumento percentual da população
urbana em relação à população rural de 91%, sendo que na década de 1970 o quadro se
apresentava de maneira inversa, ou seja, a população rural era aproximadamente 85% maior
que a população urbana. Já de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2010), o maior
percentual populacional masculino de Jandaia do Sul situa-se entre 15 e 30 anos, ou seja, em
torno de 10% da população total. Verificando uma maior concentração da população feminina
entre 34 e 44 anos, ou seja, aproximadamente 12% da população total.
De posse destes dados verifica-se uma grande parcela de população adulta no
município de Jandaia do Sul, o que pressupõe a necessidade de uma eficaz absorção dessa
força de trabalho, com aparato da administração pública e demais segmentos estatais e
privados da economia.
Embora a modernização agrícola no Brasil, a princípio sendo confundida como
símbolo de progresso e dinamização da economia, por outro lado, esta modernização
representou uma grande transformação na organização social do país, pois o processo de
modernização foi excludente no sentido de que nem todos os antigos produtores familiares
tiveram possibilidade de acesso aos novos insumos devido aos elevados preços dos mesmos,
0
5,000
10,000
15,000
20,000
25,000
1970 2000 2010
rural urbana
dessa forma estes produtores se tornam vulneráveis e acabam vendendo suas propriedades a
grandes produtores de atividades monocultoras.
O município de Jandaia do Sul, assim como o Paraná e o Brasil, nos últimos 50
anos passou por transformações na base técnica da agricultura, principalmente em relação às
novas dinâmicas produtivas, em especial, a mecanização e modernização da agricultura.
No caso de Jandaia do Sul, em particular, logo após a grande geada de 1975, que
desmotivou e causou muitos prejuízos aos produtores de café de propriedades médias, entre
10 e 15 ha, por exemplo, verificando um largo processo de incorporação de pequenas
propriedades formando áreas maiores concentradas por grandes proprietários rurais. Estas
pequenas propriedades familiares produtoras de café, a partir de meados da década de 1970,
impulsionados pelo desestímulo da geada de 1975, desencadeou uma substituição progressiva
desta cultura por outras lavouras temporárias, em particular a soja e a cana de açúcar
(IPARDES, 2011).
A substituição do café por outras culturas temporárias acarretou um conjunto de
transformações sócio espaciais, levando-se em consideração o grande número de habitantes
que Jandaia perdeu nas últimas décadas, verificando um grande declínio da população rural e
um crescimento urbano modesto, não sendo determinado na mesma proporção, comparada a
fuga dos habitantes das áreas rurais (IBGE, 2006).
É importante verificar que a cultura da cana-de-açúcar ultrapassou
assustadoramente a cultura do café, bem como; de todas as demais culturas permanentes, fator
este que sugere uma nova demanda da força produtiva (IBGE, 2010).
Em consequência das transformações ocorridas no meio rural-urbano, o município
de Jandaia do Sul assume característica de um meio “urbano”, pois os pequenos agricultores,
parceiros arrendatários, perdendo ou não podendo competir com a nova dinâmica de produção
agrícola nos moldes do “capitalismo de mercado”, se tornam mão-de-obra assalariada, ou
seja, “bóias-frias”, que ao mesmo tempo em que ocorreram as transformações no campo, estes
agricultores não se instrumentalizaram para o ingresso na atividade econômica urbana,
inseridos no município que vêm se transformando em polo urbano em meio a áreas agrícolas
nos moldes empresariais.
A agricultura familiar, em particular, a de subsistência, por muitos anos no Paraná
e no Brasil não teve a disponibilidade de recursos estaduais, municipais e federais para o seu
custeio. Dessa forma, os pequenos produtores e suas famílias sentem-se desmotivados ao
cultivo do solo. Jandaia do Sul está também inserida neste universo, pois alguns pequenos
agricultores ainda tentaram permanecer em suas áreas, mas a impossibilidade de aquisição de
implementos necessários à permanência dos mesmos em suas propriedades foi um grande
obstáculo.
O êxodo rural foi de tal magnitude que, durante a década de setenta, a população
norte - paranaense apresentou taxa negativa de crescimento, afetando seriamente, a taxa
geométrica de crescimento da população do Estado, situando-a inferior a 1%. Os cinco
primeiros anos da década de revelam um abrandamento na continuidade do fenômeno.
Demograficamente, portanto, verificou-se a diminuição do efetivo total da população; a
alteração da situação rural-urbana da população, com diminuição da população rural e
aumento da população urbana (MORO, 1992, p. 84).
Assim sendo, esta implementação busca na pesquisa de campo e na pesquisa
familiar fazer uma análise do município de Jandaia em relação à dinâmica populacional e
ocupação urbana decorrente do êxodo rural, bem como a distribuição espacial desta população
no centro urbano que ora se organiza.
3 IMPLEMENTAÇÃO DA UNIDADE DIDÁTICA
Com o intuito de analisar a organização espacial dos núcleos urbanos de Jandaia
do Sul, os alunos da segunda série do ensino médio do Colégio Estadual Unidade Polo de
Jandaia do Sul, fizeram um trabalho de campo, com o objetivo de coletar informações de
moradores dos bairros habitacionais periféricos da cidade de Jandaia do Sul, visando coletar
algumas informações dos mesmos, tais como: a procedência destes moradores antes de
passarem a residir nestes núcleos, fatores que levaram os mesmos a deslocarem-se para estas
áreas, qual atividade econômica estes moradores exercem, qual a análise destes moradores
sobre os núcleos que residem, como os mesmos observam os possíveis impactos ambientais
destes núcleos, estes moradores entendem que há uma carência de transporte coletivo nestas
áreas.
FOTO 1-Saída do Colégio Estadual Unidade Polo
Fonte: foto do autor.
Previamente, antes do trabalho de campo, nos bairros Nova Jandaia, Mutirão I,
Jardim Pérola e Jardim Morumbi. Os alunos foram preparados, ou melhor, puderam analisar
teoricamente as desigualdades socioeconômicas regionais do Brasil, bem como, as
desigualdades sócio espaciais nas cidades brasileiras, a disseminação de bairros pobres e as
tensões no espaço urbano, como ao surgimento de inúmeros cortiços nos grandes centros
inclusive Jandaia do Sul.
Ainda os alunos puderam fazer uma análise da distribuição dos núcleos
habitacionais do município e sua relação com a especulação imobiliária pré-existente para
instalação de tais núcleos.
Estes dados suscitaram a necessidade de um trabalho de campo em núcleos urbanos
no entorno da escola e em outras áreas do município, inclusive na região central da cidade.
Os alunos deslocaram-se a partir do estabelecimento de ensino, para uma
caminhada nas proximidades do referido estabelecimento na zona oeste, seguindo em direção
à zona leste, cujo trajeto pode dar aos mesmos uma ideia da expansão da cidade de Jandaia do
Sul e a presença de vários terrenos intermediários entre estes bairros e a região central da
cidade.
FOTO 2-Trabalho de campo nas proximidades do Jardim Pérola e Nova Jandaia.
Fonte: Foto do autor.
O crescimento horizontal de Jandaia do Sul, assim como outras cidades
paranaenses e brasileiras, acarretam grandes impactos em seus meios naturais, tais como a
invasão de áreas de mananciais e destruição de grandes áreas verdes. Além dos danos
ambientais os fatores de ordem econômica são marcantes neste processo, a exemplo da
especulação imobiliária que provoca uma supervalorização das áreas ociosas, fazendo com
que muitos não tenham condições de adquirir suas propriedades.
O Planejamento Urbano, como estratégia de desenvolvimento sócio espacial,
tem dado lugar a um planejamento com enfoque mercadófilo, ou seja,
ajustado aos interesses do capital. O Estado, por sua vez, atualmente, tem
sua presença diminuída, e suas intervenções, ao invés de atenderem a
demandas da população em geral, visam agora aos interesses do capital
imobiliário e outros segmentos dominantes (SOUZA, 2002).
Nas imagens seguintes verifica-se uma violenta agressão do meio urbano em
relação ao espaço natural, pois a vegetação que se encontra próxima do conjunto Nova
Jandaia, trata-se da Mata ciliar do rio Cambará afluente indireto do rio Ivaí. Apresentando
sintomas de acentuada devastação e contaminação por coliformes fecais, pois como mostra a
imagem seguinte, várias bocas-de-lobo têm acesso direto para o rio sem nenhuma forma de
cuidado em relação à contaminação das águas, e, que por sua vez acarreta um grande processo
de assoreamento da encosta deste rio.
Foto 3-Conjunto Nova Jandaia,
Fonte: Foto do autor.
Os alunos verificaram que as mudanças no espaço urbano de Jandaia do Sul,
acarretadas pela espontaneidade da ocupação desordenada, ou seja, não tendo um prévio
planejamento sobre esta ocupação, apresenta-se como uma ameaça aos elementos naturais
principalmente aos rios do município.
Outro aspecto importante levantado pelos alunos foi à ausência da oferta pública
de transporte coletivo para as populações destes novos núcleos, fator este que agrava o grande
fluxo de veículos próprios na área central do município, havendo desta forma, uma grande
ocupação destes na área central da cidade.
3.1 Entrevista com Famílias de Jandaia do Sul
Os alunos do Colégio Estadual Unidade Polo, com o objetivo de fazer um
levantamento sobre a procedência dos moradores que ocupam os principais núcleos
habitacionais instalados em Jandaia do Sul a partir de 1970, organizaram-se em grupos de no
máximo quatro pesquisadores por bairros periféricos, coletando dos moradores destes bairros
as informações propostas no roteiro de pesquisa.
3.2 Entrevistados
Um dos entrevistados era procedente da área rural de Cambira, município vizinho
a Jandaia do Sul, cuja atividade desenvolvida anteriormente era na agricultura juntamente
com seus irmãos.Com o falecimento dos pais a partilha das terras deixada para cada um dos
irmãos não foi suficiente para adequar-se ao novo modelo produtivo que transcorria na década
de 1980, ou seja, a lavoura da cana-de-açúcar, cuja qual, necessitava de uma área muito maior
para sobrevivência de sua família, já que o café passava por um período de decadência. Como
indicam os dados da Emater/Acarpa, as culturas permanentes na atualidade, são pouco
expressivas em relação às culturas temporárias e pastagens,
O segundo entrevistado é um prestador de serviço da prefeitura municipal de
Jandaia do Sul e reside no Jardim Morumbi, cujo mesmo, vê a necessidade de maior
proximidade com a região central de Jandaia do Sul. O mesmo entende que deveria haver
mais apoio dos órgãos públicos para oferta de transporte. O que se pode observar em relação à
resposta deste entrevistado é que o poder público visa atender basicamente os interesses do
capital deixando de atender as demandas da população (SOUZA, 2002).
O terceiro entrevistado chegou a Jandaia do Sul em finais da década de 1980,
provinda da região metropolitana de Recife (Pedras de Buíque), em decorrência da situação
de miséria absoluta, pois na referida região não encontrava oportunidade de trabalho. Neste
quadro de dificuldade, a mesma deslocou-se para a região rural de Santo Antônio do Humaitá
no municio de Jandaia do Sul, desenvolvendo suas atividades de trabalho na cultura
canavieira. No decorrer da década de 1990, o entrevistado mudou-se para a área urbana de
Jandaia do Sul, especificamente para o bairro Mutirão I, que mesmo não residindo mais em
área rural, continuou desenvolvendo atividades no meio rural. O entrevistado considera o
bairro onde reside muito bem estruturado, dado ao fato de que a mesma provém de uma
região com problemas estruturais urbanos muito mais drásticos, ainda ressalta a satisfação que
a mesma tem em residir nesta área. Em relação aos problemas ambientais, o terceiro
entrevistado desconhece alguns impactos causados pela distribuição espacial do seu bairro
dentro do municio de Jandaia do Sul, nem sequer menciona que o mesmo encontra-se
próximo a nascente do rio Cambará.
O quarto entrevistado relatou aos entrevistadores, que anteriormente ao seu atual
estabelecimento no núcleo residencial Jardim Pérola, residia na Água Marumbizinho, zona
rural de Jandaia do Sul, mas que, no entanto, sua origem é da cidade alagoana de Palmeira dos
Índios, de cuja retirada deveu-se ao fato de ser esta região muito carente em termos de
oportunidade de trabalho e sobrevivência. Ele, juntamente com seus irmãos e pais, vieram
para o Norte do Estado do Paraná, atraídos pelo trabalho nas lavouras de café, em meados da
década de 1950, com o intuito de trabalharem nas lavouras de café. Na atualidade, o
entrevistado está aposentado, depois de ter prestado por mais de 20 anos trabalho rural e
outras funções autônomas na cidade. Este considera o bairro onde reside um excelente local e
desconsidera o transporte coletivo como algo de tanta importância para o mesmo, da mesma
forma, as questões ambientais na região onde reside não são tão significativas para o mesmo.
Com os dados levantados deste entrevistado, os alunos puderam observar que existe uma
menor compreensão dos estratos mais velhos da população em relação aos temas mais
preocupantes como meio ambiente e mobilidade urbana, ainda sendo verificado um aumento
expressivo da população velha no municio segundo IBGE.
O quinto entrevistado relatou que é natural de Fênix, situada na porção noroeste
do Estado do Paraná e que seus pais vieram da cidade de Juiz de Fora (MG). Ambos
mudaram-se pra Jandaia do Sul em meados da década de 1970, quando ele e seus familiares já
não conseguiam se mantiver, dado a expansão da lavoura de soja naquela região. Hoje reside
no bairro Nova Jandaia e sobrevive como corretor de automóveis. Este considera seu bairro
situado numa área privilegiada no município, pois o local é muito pacato em termos de
movimentação de pessoas e fluxo de veículos. Não considera o transporte coletivo tão
preocupante nem as questões ambientais.
O sexto entrevistado relatou que saiu da zona rural de Jandaia do Sul, mas que
ainda hoje permanece trabalhando no campo como assalariado, pois não consegue uma
atividade na cidade por falta de experiência em outras funções. Este alega que seu bairro é
muito tranquilo e quanto ao transporte, particularmente para ir ao trabalho, não tem
problemas, pois ao patrão o transporta todos os dias. Tanto o quinto quanto o sexto
entrevistado demonstraram um elevado grau de satisfação em relação à tranquilidade e
segurança do local onde vivem, não relatando os mesmos, sérios problemas ambientais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das informações coletadas, os alunos constataram que mesmo
aparentemente, os moradores entrevistados situarem-se em áreas de difícil acesso e
geralmente próximas de áreas de mananciais, estes se julgam satisfeitos em relação às suas
antigas origens, ou seja, com grandes dificuldades, financeiras, fome, miséria absoluta e
inclusive da própria sobrevivência.
Do universo de 06 famílias entrevistadas, 20% consideram a falta de
estacionamento na avenida principal de Jandaia do Sul, o maior problema relativo ao trânsito
no município, enquanto outros 5% vêm na falta de transporte coletivo o grande problema,
Outros 10% não opinaram.
Em relação à origem destes moradores, praticamente 100% destes originam-se de
áreas rurais e tiveram seu maior ciclo migratório no decorrer da década de 1980, provindos de
regiões distritais do município e áreas circunvizinhas ao mesmo. Quanto à atividade
desenvolvida pelo conjunto de entrevistados 86% desenvolvem atividades ligadas ao setor de
prestação de serviços como balconistas, como operadores de máquinas, bóias-frias
(trabalhadores volantes).
Ainda, com base nos dados, os alunos puderam identificar os diferentes níveis de
conceito sobre qualidade de vida entre os grupos entrevistados, verificando uma questão que
praticamente foi unânime nas respostas dos entrevistados, ou seja, que a questão ambiental em
relação aos núcleos nos quais habitam não lhes preocupam, fato este que gerou certa
preocupação entre os alunos.
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