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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O GÊNERO FÁBULA COMO ESTRATÉGIA DE LEITURA E
ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Rita de Cássia da Silva1 Karin Cozer de Campos2
Resumo: Na perspectiva de enfrentamento aos problemas identificados no cotidiano da escola,
sobretudo, de que a leitura não é uma necessidade para a maioria dos alunos, do 6º ano do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Beatriz Biavatti, é que optamos pela organização de uma Unidade Didática, com estratégias de leitura e escrita, tendo como suporte metodológico o gênero fábula. Muitos alunos não possuem acesso à leitura, por isso, a escola se torna um ambiente favorável para estimulá-los a ler, imaginar, criar e se desenvolver. Nesta perspectiva, este artigo tem por finalidade socializar as experiências e os resultados obtidos com a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica por acreditarmos que o trabalho com o referido gênero auxilia na discussão de comportamentos e valores morais tão importantes na formação da criança, como também requer deles imaginação e fantasia, elementos importantes para cativar e encantar o leitor. Pretendemos, através das atividades propostas, contribuir para a formação do aluno leitor, tornando a leitura uma rotina saudável, prazerosa e eficaz. Para tanto, traremos ao centro das discussões desta escrita o conhecimento e as situações de aprendizagem articuladas e vivenciadas durante a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, bem como, apresentaremos as contribuições das discussões realizadas pelos participantes do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, enfatizando as experiências e contribuições do trabalho com o gênero fábula para a formação do aluno leitor.
Palavras-chave: Leitura. Escrita. Gêneros textuais. Fábula.
1. Introdução
Inegavelmente, vivemos na era digital e constatamos, em nossa prática diária,
que a maioria dos alunos tem acesso aos diversos meios de comunicação e, a
internet, com seu grande poder de aceitação, tem ocupado o tempo dos
adolescentes, fazendo com que a leitura, principalmente, a literária, não seja
prioridade e fique, mesmo que por algum tempo, fadada ao esquecimento, no dia a
dia de nossos alunos. Porém é preciso ressaltar que na internet encontramos muitas
histórias, as quais podem estimular as crianças a se tornarem leitores, desde que
haja mediação dos vários processos educativos.
Hoje, nosso maior desafio, é a concorrência com as novas tecnologias, que
invadem os lares e a vida de nossos alunos com muitos jogos, leituras e sites que
1 Professora PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional. Professora da Rede Pública de
Ensino do Estado do Paraná. Graduada em Letras-Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas-Paraná. Pós-graduada em Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas-Paraná, Pós-graduada em Educação Especial- Deficiência Intelectual pela Faculdade FAMPER de Ampere. 2 Professora Orientadora, docente do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE, Campus de Francisco Beltrão. Doutoranda em Educação pela UFSC.
não contribuem em nada para o seu desenvolvimento integral. É necessário que a
escola forme bons leitores resgatando o diálogo e o convívio social, aproveitando-se
da tecnologia que destaca o visual, sem deixar de lado a oralidade, leitura e escrita.
Por isso, faz-se necessário, que os educadores busquem e tragam para a
sala de aula novas metodologias, capazes de instigar e desenvolver, nos alunos, o
senso crítico e a proficiência na leitura. A sala de aula, para Zilberman (2003, p.16),
“é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como
um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser
ignorada, muito menos desmentida sua utilidade”. Neste sentido, o educador deve
adotar, em sua prática pedagógica diária e, em relação à leitura, uma postura
criativa, só assim, com certeza, formará cada vez mais alunos que leem porque
gostam e não por mera obrigação.
Estudos e pesquisas apontam que uma grande parcela do público juvenil não
tem lido menos, mas têm lido gêneros diferentes e em suportes diferentes. Porém,
uma significativa parcela da população não lê por falta de incentivo familiar e este
ato tem comprometido a oralização e a escrita. Dificuldades marcantes são sentidas
nas produções dos alunos pela falta de leitura, tais como: erros ortográficos,
vocabulário precário, dificuldade de compreensão, poucas produções significativas e
conhecimentos restritos aos conteúdos escolares.
Por isso é extremamente importante o contato da criança com a leitura. Cabe
à escola, ao professor e à família o incentivo a este exercício de imaginar e de
realizar associações e interferências no processo de formação do leitor.
Notadamente, há pouco ou nenhum auxílio da família na formação de um leitor,
devido a diversos fatores, tais como, a vida agitada dos pais que, sem tempo,
transferem esta responsabilidade para a escola.
Corroborando com esse pensamento, Menegassi (2005) salienta que é na
família que se inicia o processo de aprendizagem de leitura, porém, sabemos que é
também tarefa da escola, alargar essa prática, oferecendo aos alunos,
primeiramente, narrativas curtas, de fácil entendimento, para que eles se
encantem, e viajem para o mundo da fantasia. Neste sentido, as fábulas,
indiscutivelmente, contribuem e auxiliam o aluno na prática da leitura e também da
escrita, “transformando a literatura no ponto de partida para um novo e saudável
diálogo entre o livro e seu destinatário mirim” (ZILBERMAN, 2003, p. 16).
Apesar do convívio com alunos que não apreciam a leitura, é extremamente
importante que os professores propiciem momentos de leitura diária, enfatizando a
importância de se adquirir o hábito de ler diferentes gêneros textuais. O trabalho
com o gênero fábula, no 6º ano do Ensino Fundamental, encantou os jovens leitores,
porque contam com a presença de animais que, humanizados, estimulam os leitores
a compreenderem a relação de seu contexto social com o mundo e a ver esse
mundo com um olhar mais crítico e racional.
Assim, as fábulas, mesmo as que trazem enredos simples, podem oferecer
interpretações mais inesperadas e apresentar diversas compreensões, dependendo
dos conhecimentos individuais advindos da vivência de cada leitor. Por isso, esse
gênero tem resistido à pluralidade literária presente em nossa sociedade.
Os inimagináveis temas presentes nos enredos das fábulas suscitam boas
discussões e oferecem, aos leitores, conteúdos riquíssimos para um bom
relacionamento social, pois além de abordarem determinados valores humanos, tais
como: honestidade, prudência, justiça, amizade, amor ao próximo, respeito à
natureza, cooperação, bondade, entre outros, ainda instruem, divertem e fomentam
a capacidade dos alunos em analisar e julgar fatos acontecidos, atos e atitudes das
personagens.
Para Marcuschi (2002, p. 20-35), qualquer gênero textual “contribui no
ordenamento e estabilização das atividades comunicativas cotidianas”.
Consideramos, portanto, que as fábulas podem desenvolver a comunicação oral e
escrita, enriquecer as experiências infantis, ampliar o vocabulário, formar o caráter, a
confiança no bem e proporcionar à criança viver o imaginário e a fantasia. Também
favorece o gosto literário e abre espaço para a imaginação e criatividade, pois,
através de seus enredos o leitor constrói suas próprias imagens.
Considerando a importância da leitura e a estreita ligação entre as atividades
de leitura e as de produção é que se pensou na elaboração de uma Proposta
Didático-Pedagógica que auxiliasse os professores no enfrentamento de alguns
problemas identificados no cotidiano da escola, principalmente, com relação à falta
de leitura e dificuldades de escrita. Para isso, oferecemos aos alunos do 6º ano,
atividades prazerosas de leitura, interpretação e produção escrita de fábulas, como
também o estudo sobre a biografia de alguns dos mais importantes fabulistas de
nossa história.
Nossos alunos necessitam não somente de conteúdos programáticos
voltados à leitura, mas precisam também que sejam trabalhados outros processos
de formação que envolva a convivência de forma solidária, honesta, responsável e
em harmonia com o próximo e, as fábulas, por terem uma íntima ligação com a
sabedoria popular, certamente atenderão as exigências do leitor, permitindo-lhes
(re)descobrir sentimentos, emoções e novas visões de mundo.
As Diretrizes Curriculares para a Educação Básica (DCEs, 2008 p.31), as
quais também serviram de suporte teórico-metodológico para a Proposta Didático-
Pedagógica, sinalizam que é vital a escola formar sujeitos que construam sentido
para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que
são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção
cidadã e transformadora na sociedade.
Neste sentido, a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica teve
por objetivo resgatar o gosto e o hábito pela leitura e a escrita de textos, através do
gênero fábula. A leitura, interpretação e produção de fábulas com os alunos do 6º
ano, do Ensino Fundamental, não só fomentará a importância do ato de ler e
escrever, mas também contribuirá para a reflexão sobre as suas vivências,
comportamentos, ética e cidadania.
2. Pressupostos teórico-metodológicos que permeiam a prática de leitura e
escrita com fábulas
Se considerarmos que é tarefa da escola ensinar o aluno a ler e a gostar de
ler, é imprescindível que ela ofereça aos alunos possibilidades para que eles
desenvolvam o gosto e o hábito pela leitura, por intermédio de textos significativos e
interessantes. A escola, para Coelho (2000, p.16), “é o espaço privilegiado, em que
deverão ser lançadas as bases para a formação do indivíduo”.
É nesse ambiente interativo que os alunos terão maior contato com o texto
literário, ou seja, com a fantasia, com a magia da palavra que comove, que estimula
e que os fazem sonhar. Por isso, “esse espaço deve ser, ao mesmo tempo, libertário
e orientador, para permitir ao ser em formação chegar ao seu autoconhecimento e a
ter acesso ao mundo da cultura que caracteriza a sociedade a que ele pertença”
(COELHO, 2000, p.17).
É na infância e na adolescência que se formam bons leitores. Portanto, “a
escolha da história funciona como chave mágica” (COELHO, 1997, p. 20), e tem
importância decisiva na formação do leitor. Para os iniciantes, os textos curtos e de
fácil compreensão são os indicados e, as lendas e fábulas, segundo a mesma
autora, “são apropriadas aos alunos adiantados, capazes de sentir sua beleza e
interpretar seu significado” (COELHO, 1997, p. 19), por isso, o gênero fábula, é visto
como fundamental para o desenvolvimento e formação do aluno/leitor em todas as
etapas de sua escolarização.
Esse gênero encanta e atrai por trazer histórias curtas que narram situações
do cotidiano, cujos personagens são animais ou seres inanimados falantes, que
pensam e agem como os humanos e tem por objetivo representar alegoricamente as
virtudes e o caráter do homem, que geralmente são atitudes negativas diante de
uma sociedade, apresentando sempre no final uma “moral da história” (HOUAISS,
2009, p. 865).
Habitualmente, as fábulas trazem no desfecho um ensinamento, isto é, uma
moral e, através desse preceito, os leitores passam a ter um novo olhar sobre as
suas atitudes e seus comportamentos. Portanto, a finalidade da fábula é, mesmo
que de modo subjetivo, advertir, ensinar, aconselhar, criticar uma situação, assinalar
atitudes contraditórias das pessoas e da sociedade.
Nelly Novaes Coelho define a fábula como:
[...] narrativa de uma situação vivida por animais que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. A fábula é uma narração alegórica, quase sempre em versos, cujos personagens são geralmente animais, e que encerra em uma lição de caráter mitológico, ficção, mentira, enredo de poemas, romance ou drama. Contém afirmações de fatos imaginários sem intenção deliberada de enganar, mas, sim de promover uma crença na realidade dos acontecimentos (COELHO, 2000, p.165).
Apesar de parecerem histórias para crianças, onde encontramos animais que
falam e agem como seres humanos, as fábulas, inicialmente, foram criadas para
serem contadas para adultos, como forma de aconselhá-los e distraí-los. E através
dos tempos, muitos autores se dedicaram a contar e escrever fábulas.
Nascida no Oriente, “a fábula vai ser reinventada no Ocidente por Esopo, no
século VI A.C. na Grécia Antiga, o responsável por introduzir as fábulas na tradição
escrita” (COELHO, 2000, p.165). Nessa época, elas eram transmitidas oralmente e,
só depois de muitos séculos, a escrita das fábulas foi retomada por diversos
escritores e no século XVII, coube ao francês La Fontaine, o redirecionamento e a
renovação deste gênero e, assim, elas foram escritas e eternizadas. Todas as
fábulas foram e ainda são usadas para transmitir ensinamentos e valores morais,
criticando, com sutileza, os comportamentos humanos inaceitáveis.
No Brasil, a fábula teve início com Monteiro Lobato que utilizou a história de
forma inteligente e educativa num conjunto de sensibilidade, humildade, amor,
obediência e outros atributos relacionados ao bom caráter de uma criança, e, é no
“Sítio do Pica-Pau Amarelo” onde se desenvolvem os personagens de cada história
que Lobato reescreveu inspirando-se nas fábulas de Esopo e La Fontaine, as quais
ressurgem com um saber todo especial: são comentadas e até criticadas pela
personagem “Emília” que diz tudo o que pensa.
Sendo assim, sabemos que, por intermédio das fábulas, é possível trabalhar
não só a aprendizagem, mas seus conteúdos de aspectos positivos e negativos que
elas podem conter. A conotação da fábula traz consigo a fantasia e a imaginação
que permite e possibilita o despertar de processos criativos. Esse gênero é
considerado uma importante ferramenta para o aprendizado dos alunos, pois trazem
embutidas nas histórias valores e comportamentos socialmente valorizados. Assim,
as fábulas podem ser um importante aliado para o trabalho com a leitura.
Contudo, a fábula torna-se leitura compreensível quando descreve a realidade
do ser humano, tendo como sua representação os animais e, desta forma, narra e
opera cada situação de forma clara, sucinta e real. Isto é:
A narração da fábula deve ser simples, sucinta e atender apenas a clareza, evitando, na medida do possível, quaisquer exageros e figuras. Sendo assim, a fábula requer um caso real, porque no caso real podemos distinguir melhor e com mais clareza as causas dos atos, porque a realidade dá uma demonstração mais viva do que possível (VIGOTSKI, 1999, p. 122).
Portanto, é também através da leitura das fábulas que o aluno terá maior
facilidade de compreensão e adaptação no mundo, de forma a tornar-se um cidadão
crítico e consciente de seus atos. E diante desta tarefa, tem-se a fábula como um
gênero textual de referência para o trabalho com a leitura, já que se trata de “uma
atividade essencial a qualquer área de conhecimento e mais essencial ainda para a
vida do ser humano, pois possibilita a aquisição de diferentes pontos de vista e
alargamento de experiências” (SILVA, 1986, p. 27).
A função social da leitura é fazer com que o cidadão interaja com a sociedade
em que vive, tendo oportunidade de viajar e entrar em contato com seus pares, nos
diferentes horizontes da cultura. Quando se refere à leitura de textos, é importante
sabermos que somente há atribuição a significados quando o leitor o associa ao
conhecimento linguístico. Ao se apropriar desses saberes, o leitor estará apto à
leitura e, consequentemente, terá maiores chances de alcançar o conhecimento de
mundo e de sua cultura.
A leitura, enquanto atividade humana permite que o leitor participe do mundo
de forma crítica e criativa, utilizando-se da imaginação para uma tomada de posição
frente às situações problemáticas, encontradas no meio em que vive. Ou ainda, “a
leitura propicia a ampliação de conhecimentos, abre horizontes na mente, aumenta o
vocábulo, permite melhor entendimento do conteúdo das obras” (LAKATOS &
MARCONI, 1993, p. 09).
Sobretudo, a escola deveria transmitir aos alunos o aprendizado de práticas
sociais de leitura comuns no seu dia a dia, ou seja, de diversos gêneros textuais
existentes na sociedade para que eles não somente aprendam, mas também sintam
o prazer de ler e escrever e, de forma ponderada e participativa, possam exercer
plenamente a sua cidadania.
A leitura, para Luckesi (1989, p. 122) “é um ato simples, inteligente, reflexivo
e característico do ser humano, porque ela nada mais é que um ato de compreensão
do mundo, da realidade que nos cerca e em meio a qual vivemos”. De tudo que a
escola pode oferecer aos alunos é a leitura, sem dúvida, a grande herança da
educação, pois ela permite que o cidadão amplie seus conhecimentos e obtenha
condições para refletir sobre sua realidade e começar a exercer controle sobre seu
futuro.
Vale apontar o papel do professor diante dessa prática, visto que sua função
não se reduz apenas a “transmitir” e a “repassar”, ano após ano, conteúdos
selecionados por outros, mas alguém que também produz conhecimento
(ANTUNES, 2007). Sendo assim, o professor, por ter contato direto com o aluno e
com seus limites linguístico-discursivos é quem seleciona os gêneros a serem
trabalhados de acordo com as necessidades, série, idade e objetivos pretendidos,
enfocando a oralidade, leitura, escrita e/ou análise linguística.
A leitura é um importante instrumento para o processo de reconstrução da
nossa sociedade, podendo ser um mecanismo de conscientização, constituindo
assim numa forma de encontro entre o homem e a realidade sócio-cultural, cujo
resultado é o desenvolvimento que conduz a uma compreensão mais ampla e
segura do ambiente circundante, sendo efetivamente propulsora de uma mudança
na sociedade, ou seja:
O ato de ler é, fundamentalmente, um ato de conhecimento. E conhecer significa perceber mais contundentemente as forças e as relações existentes no mundo da natureza e no mundo dos homens, domínio de uma classe social sobre outras. (SILVA, 1986, p. 12-13).
O professor necessita testar hipóteses a partir de seu referencial teórico e do
conhecimento que tem dos educandos. É necessário observar, criteriosamente, a
turma e a partir dessa observação, encontrar alternativas que propiciem resultados
positivos com relação à aprendizagem dos alunos. É preciso construir estratégias de
ensino e aprendizagem, envolvendo-os de forma que, a leitura, seja para eles
“encantamento, necessidade vital [...], maravilha, gostosura, necessidade primeira e
básica, prazer insubstituível...” (ABRAMOVICH, 1994, p. 14).
Não dispomos de fórmulas para garantir que a leitura seja compreensível e
prazerosa. Sabemos que há várias maneiras de levar o leitor a descobrir o valor
incomparável da leitura. Deparamo-nos, cotidianamente, com situações de leitura.
Lemos por necessidade, prazer, obrigação, divertimento ou, simplesmente, para
passar o tempo. Lemos também para afirmar que a leitura é fundamental para a
aquisição de conhecimentos e para o desenvolvimento intelectual, cultural, ético e
estético do ser humano.
Assim, o trabalho pedagógico de incentivo à leitura e escrita alicerçado no
gênero fábula, pode tornar as aulas muito mais interessantes e significativas,
acrescentando, nos alunos, a competência textual e contribuindo para que, de certa
forma, eles sejam preparados para fazer uso da comunicação falada e escrita nas
muitas esferas constituintes da sociedade.
3. Resultados obtidos com a implementação do projeto na escola a partir da
unidade didática com fábulas
Sabemos que a prática frequente de leitura dos mais diferentes gêneros
textuais que circulam em nossa sociedade é condição indispensável para que o
aluno se constitua leitor assíduo e, a escola, deve oferecer condições para que ele
encontre prazer na leitura, mantendo-se bem informado e instrumentalizado para tal
prática.
Para formar um leitor competente, desde o início da escolarização, faz-se
necessário que ele conviva, na escola ou fora dela, com situações de leitura e, não
há nada mais prazeroso e agradável para o jovem leitor do que ler textos curtos,
interessantes, com linguagem acessível, que desenvolvam a criatividade, suscitam o
imaginário, respondam as inúmeras perguntas e divertem. Isso tudo encontramos
nas fábulas. Por isso, este gênero foi escolhido para um trabalho mais consistente
com leitura, oralidade e escrita.
Iniciamos a implementação da Unidade Didática, com os alunos do 6º ano,
promovendo discussão oral com o objetivo de identificar o grau de conhecimento
que eles possuíam acerca do gênero fábula. Houve muita disposição em apontar
quais fábulas conheciam, leram e eram suas preferidas. A partir destas reflexões,
pudemos avaliar a importância e a frequência da leitura na vida de cada um. Em
seguida, exploramos, oralmente, a imagem da fábula “A Cigarra e a Formiga” de
Esopo, por meio de questões norteadoras relacionadas às características da figura
apresentada. Esta fábula foi escolhida por ser um clássico atemporal e por permitir
reflexões importantes tais como: humildade, acolhida, proteção, pedido de ajuda,
entre outros.
Trabalhar com imagens, no datashow, foi válido e produtivo, pois os alunos
perceberam detalhes implícitos relacionados à imagem, tornando a discussão mais
crítica e envolvente, pois todos queriam opinar a respeito da hipótese levantada. Foi
uma atividade prazerosa, divertida e contribuiu para que eles respeitassem o outro,
esperando sua vez de falar.
Na sequência, apresentamos a fábula como gênero textual, popular e de fácil
entendimento, cuja intenção é didática, podendo ser apresentada em prosa ou em
verso. Discorremos sobre sua origem, as características peculiares e os grandes
fabulistas universais e nacionais. Relembramos as fábulas estudadas em anos
anteriores e expomos alguns livros de fábulas de diversos autores. Depois, a sala foi
dividida em equipes e cada equipe recebeu uma fábula diferente, recortada por
parágrafos. Os alunos ordenaram a sequência dos fatos e montaram as fábulas de
acordo com o entendimento do grupo e, em seguida, trocaram-na com os colegas de
outras equipes para as devidas apreciações, havendo entre eles interação e
respeito.
O próximo passo foi o de estudar a estrutura básica do gênero fábula.
Mostramos as peculiaridades e especificidades do gênero. Exploramos a estrutura
composicional, estilo e conteúdo temático, a intencionalidade, o veículo de
circulação e a linguagem, juntamente com questões escritas que abordaram a
compreensão, interpretação e análise linguística das fábulas. Ex: “A formiga boa”
(Monteiro Lobato); “Contrafábula da cigarra e da formiga” (Pedro Bandeira); “A
coruja e a águia” (Monteiro Lobato); “O leão e o ratinho” (Esopo), entre outras.
Ficou interessante essa atividade, pois permitiu que os alunos, após leitura e
análise, também reconhecessem os elementos que estruturaram o gênero. “Estudar
a história é, em primeiro lugar, divertir-se com ela, captar a mensagem que nela está
implícita e, em seguida, após algumas leituras, identificar os seus elementos
essenciais, isto é, que constituem a sua estrutura” (COELHO, 1997, p. 21).
Sabemos que a formação de um leitor fluente e crítico se consolida quando
leituras variadas e contextualizadas são oferecidas, permitindo que ele dialogue com
os textos lidos, fazendo inferências e compreendendo as palavras nos seus vários
sentidos. Para isso, levamos à sala de aula uma caixa contendo fábulas de diversos
autores. A caixa circulou pela sala, de modo que os alunos puderam escolher, ler e
interpretar as fábulas selecionadas por eles.
Ficou bastante evidente, através de comentários, que os alunos gostaram da
atividade. Observamos que todos compreenderam a história, pois estava adequada
a idade/série. Compreendemos que textos curtos, com pouca descrição, muito
diálogo, somente um conflito e com animais que apresentam características
humanas e lições de justiça e sagacidade agradou bastante. Percebemos isso no
comentário3 de uma aluna:
Gostei muito da história do leão e do ratinho. Li muitas, mas essa foi muito boa, porque eles se ajudaram, um salvando o outro do perigo. É isso que devemos fazer; se ajudar. Fiquei com medo de pegar uma história e não saber falar dela, mas depois vi que elas eram muito fáceis e divertida (ALUNA, 2014).
Percebemos pelo relato que a Fábula é um gênero que apresenta valores
fundamentais para a formação de cidadãos conscientes, solidários e produtivos, por
3 Adotaremos este modelo de citação, tamanho da letra e fonte, para todos os depoimentos e relatos
do trabalho a fim de diferenciar tais excertos das citações bibliográficas.
isso são importantes no desenvolvimento integral da criança, como também na
aquisição do gosto pela leitura. O professor poderá explorar o senso crítico do aluno,
utilizando-se desse gênero literário.
Lendo fábulas o aluno poderá descobrir o mundo submerso dos conflitos
vividos pelos personagens e compará-los com os vividos pelos seres humanos ao
longo da existência. Sobre isso Abramovich (1994, p. 17) destaca: “ler é encontrar
outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram...). É uma
possibilidade de descobrir o mundo imerso de conflitos, dos impasses, das soluções
que todos vivemos e atravessamos...”.
Prosseguindo com as atividades, assistimos a vídeos de fábulas, no projetor
de imagens e, em seguida, cada aluno apresentou oralmente a mensagem retirada
de cada fábula, fazendo comparações e trazendo a moral para os ensinamentos de
hoje. Depois disso, em grupos, no Laboratório de Informática, os alunos
pesquisaram a biografia dos fabulistas e no youtube, assistiram a vídeos de fábulas,
escolhendo a que mais gostou. Também pesquisaram, na Internet, imagens do autor
da fábula escolhida e desenharam, para posterior apresentação, a caricatura do
fabulista e escreveram alguns fatos marcantes sobre sua vida.
Em seguida, tendo a TV pendrive ou o projetor de imagens como recurso, os
alunos apresentaram, para os demais colegas, o vídeo com a fábula escolhida,
explicaram a moral e o que ela representa, apresentaram a biografia e a caricatura
do autor da fábula escolhida. Foi possível constatar que esta atividade foi prazerosa,
pois os alunos gostaram muito de fazer a pesquisa e ficaram encantados com outras
fábulas que leram ou que assistiram em vídeo. Desta forma, ampliaram ainda mais o
conhecimento não só dos textos, como também da biografia dos autores por meio
do desenho de suas caricaturas. A experiência foi exigente, mas gratificante, como é
possível verificar no depoimento abaixo:
Gosto de ir no Laboratório fazer pesquisa. Não tenho internet em casa. Aqui a gente lê e assiste muitos vídeos engraçados e se diverte e também aprende. Não gosto de desenhar e nem de escrever. Aprendi com a fábula a cigarra e a formiga que temos que ajudar o amigo quando ele tá em dificuldade. Achei interessante estudar a vida dos escritores (ALUNO, 2014).
Através deste depoimento, ficou evidente que a atividade foi extremamente
rica, porque proporcionou o desenvolvimento de práticas reflexivas, pois os alunos
compreenderam que este gênero textual faz referência a sentimentos e aspectos da
vida humana, como o sentimento “de ajuda”, citado pelo aluno. É preciso sempre e
cada vez mais, o professor buscar alternativas diferenciadas e atrativas, alternar
estratégias metodológicas e usar a internet de forma planejada e articulada ao
conteúdo programado.
Após a exposição do trabalho oral, atribuímos aos grupos vários tipos de
moral de fábulas, e a partir daí, estimulamos os alunos a escreverem uma fábula
representando a moral recebida. No decorrer desta atividade, acompanhamos os
alunos na escrita, reestruturando os textos e auxiliando-os na produção para que, os
mesmos, produzissem textos coerentes e coesos. Observamos que eles
conseguiram entender as características do gênero fábula, porque produziram textos
curtos e registraram a moral no final da produção.
Entretanto, constatamos que os alunos tiveram dificuldades com a estrutura
do texto, o uso da letra maiúscula no início de frases, alinhamento dos parágrafos,
título relacionado ao texto, uso da acentuação e pontuação. Nesse sentido,
acreditamos que essa atividade de produção, ajudou-os muito no momento da
reestruturação, pois fomos corrigindo e explicando a forma correta para cada
dificuldade demonstrada. Fizemos um paralelo entre a linguagem formal e a
informal, como também, a mais adequada a cada situação e contexto. Reforçamos a
importância da leitura na vida de cada um e ao longo da sua formação escolar.
Percebemos que, momentaneamente, eles compreenderam.
Após as explicações e correções, os alunos passaram a fábula a limpo,
ilustraram-na com desenhos relacionados à história produzida e apresentaram-na à
turma. Na sequência, organizamos um livro de fábulas com os textos criados e
ilustrados por eles, o qual ficou arquivado na biblioteca da escola para futuras
pesquisas.
Dando continuidade às atividades e após leitura das diversas fábulas
realizadas no decorrer do projeto, os alunos, organizados em grupo, tiveram a
oportunidade de escolher uma para apresentar, em forma de teatro, para as turmas
convidadas. É necessário destacar a organização dos integrantes de cada grupo,
pois, ordenadamente, distribuíram os papéis, ensaiaram e foram em busca das
fantasias. Confeccionaram máscaras de animais para tornarem o personagem da
sua história ainda mais real e fizeram tudo de acordo com a criatividade de cada um.
Para esta etapa decoramos o saguão da escola com frases e cartazes
ilustrativos relacionados ao projeto, organizamos um mural com as caricaturas dos
fabulistas e também realizamos a exposição do livro de fábulas, confeccionado por
eles.
Para a apresentação do encerramento do projeto, em grupos, os alunos
explicaram para os convidados, todas as ações realizadas no decorrer das
atividades. Um grupo explicou o projeto, o conceito de fábula e objetivos. Outro;
discorreu a biografia dos fabulistas estudados (Esopo, La Fontaine e Monteiro
Lobato), mostrando as caricaturas que estavam no mural. Um terceiro; falou sobre a
exposição da coletânea de textos “livro de fábulas”, produzido por eles, explicando
como foi feita a montagem do livro e as ilustrações e, aos visitantes foi permitido que
manuseassem o livro e lessem as fábulas.
Depois, todos os alunos, devidamente caracterizados, dramatizaram as
fábulas estudadas. A plateia ficou encantada com o que presenciou. E para
motivarmos ainda mais a leitura, no decorrer das apresentações, foram sorteados
livros de bolso para os alunos que assistiam as apresentações. Tudo foi fotografado
e filmado.
Na aula seguinte, assistimos as filmagens e fizemos a avaliação dos
participantes referente ao desenvolvimento das ações e à apresentação final do
projeto. Nesta etapa, além de avaliarmos os alunos, avaliamos também a Unidade
Didática. Muitos aspectos positivos foram observados durante a implementação da
proposta e isto foi gratificante.
O desenvolvimento do Projeto de Intervenção possibilitou-nos desenvolver
atividades de leitura, oralidade e escrita, essenciais para o desenvolvimento criativo,
vocabular, produtivo e cultural do aluno. No decorrer da implementação, muitos
perceberam que a leitura é fundamental e está atrelada a escrita e ambas se fundem
e se completam. Compreenderam que a leitura é fonte de prazer, conhecimento e
emoção e que as fábulas estimulam a leitura e a formação de alunos leitores e
escritores. Através das experiências educativas e práticas de leitura desenvolvidas,
ficou claro que o gênero fábula poderá, seguramente, ser uma estratégia eficiente
para a constituição de leitores e a base para uma boa produção textual.
4. Reflexões com os professores: contribuições do GTR - Grupo de Trabalho
em Rede 2014
É imprescindível e faz-se necessário que projetos e propostas voltadas para a
oralidade, leitura e escrita, contemplando os incontáveis gêneros textuais presentes
em nosso dia a dia, sejam socializados pelos professores, a fim de que excelentes
atividades sejam disseminadas e desenvolvidas em sala de aula, com o objetivo de
formar leitores apaixonados e capazes de fazerem boas escolhas literárias.
Refletimos, discutimos e buscamos referencial teórico junto aos professores
de Língua Portuguesa e Pedagogos, participantes desse Grupo de Estudo (GTR),
para tentar entender o desinteresse dos alunos pela leitura, como também trocamos,
informações, angústia e sugestões de como trabalhar a leitura de forma mais
atrativa e prazerosa.
Após leitura do Projeto e da Proposta “O gênero fábula como estratégia de
leitura e escrita no ensino de Língua Portuguesa” e, através dos fóruns e diários, os
professores cursistas apresentaram reflexões, apontamentos e experiências
significativas acerca da necessidade de motivar os alunos para a leitura diária e
transformá-los em leitores plurais e bem preparados para a vida em sociedade.
Houve consenso de que é necessário resgatar o gosto e o hábito pela leitura
e cabe à escola formar leitores críticos e assíduos. Sendo assim, este estudo tem
por objetivo implementar práticas de leitura com o gênero textual fábula,
possibilitando aos educandos, além do incentivo à leitura, a reflexão sobre os
valores, a moral e a ética que as fábulas trazem no final de cada história.
O encantamento pela leitura tem sido um dos maiores desafios dos
professores de Língua Portuguesa e na tentativa de encontrar esse encantamento e
despertar o interesse dos alunos pela leitura, discutimos com os professores
cursistas a possibilidade das fábulas inspirarem e proporcionarem o estímulo
adequado para que os alunos tenham uma experiência positiva com a leitura e que
ela não seja uma tarefa rotineira escolar e, simplesmente, um instrumento a mais
para as provas e avaliações.
Dentre os importantes apontamentos feitos pelos professores, referente à
leitura e ao trabalho com o gênero fábula, destacamos alguns:
A ideia de trabalhar o gênero Fábula como estratégia de leitura e escrita para o ensino fundamental é relevante, pois o aluno ainda tem dificuldade de identificar gêneros textuais.[...] A leitura de Fábulas deve ser uma prática constante, pois encantam e educam há muito tempo, além de construir ensinamentos respeitosos, éticos, solidários que muitas vezes não se fazem presentes nos dias de hoje (PARTICIPANTE A, 2014).
A tipologia textual “fábula”, com técnicas diferentes de contação de história é uma fonte de motivação, pois é um gênero textual com narrativas curtas, linguagem simples, uso de personagens animais com características humanas é muito prazeroso de ser trabalhado. [...] o principal objetivo da leitura além de criar o hábito para a mesma é desenvolver a oralidade, interpretação textual, discussões sobre pontos de vista, ampliar conhecimentos, além de adquirir mais criatividade e autonomia. [...] é no “prazer” do aluno que o professor tem que se ater, além de incentivar o resgate dos valores éticos e morais (PARTICIPANTE B, 2014). A fábula é um gênero que pode enriquecer e aprimorar ainda mais as nossas aulas, pois o que encontramos em sala de aula é a falta da leitura, alunos com muita dificuldade na escrita, compreensão do que leem e pouca visão crítica do mundo (PARTICIPANTE C, 2014).
Os depoimentos dos professores deixaram transparecer que um dos desafios
propostos ao professor é desenvolver o gosto pela leitura e a competência
linguística de seus alunos, ou seja, na fala e na escrita, pois, como sabemos, os
indivíduos se comunicam de formas diversas, usando diferentes linguagens,
portanto, a fala e a escrita devem ser claras e harmoniosamente conectadas.
Sabemos que, quanto mais o aluno ler, mais desenvolverá seu senso crítico,
formando opiniões próprias, formulando critérios e encontrando novos valores.
Nesse sentido, os professores participantes desse grupo de estudos, foram enfáticos
ao afirmar que as fábulas poderão despertar e motivar os alunos para o hábito da
leitura e da escrita, como também contribuirão para tornar o ato de ler num processo
de construção de significados, além do prazer, encantamento e ensinamento que
esse gênero proporcionará a seus leitores. Vejamos isso em alguns relatos:
A intenção da fábula é formar leitores competentes e através de uma boa leitura surge a base para a produção de um bom texto. O professor é o mediador no processo da leitura, portanto deve criar momentos, acompanhar e dar suporte para que o aluno consiga compreender a importância da leitura, bem como selecionar materiais adequados à idade. (PARTICIPANTE D, 2014). Achei pertinente a organização da sequência das atividades, que foram elaboradas observando a leitura, interpretação e escrita, além de estimular o senso crítico, autonomia em expressar pensamentos, assim como o resgate de valores, conceitos éticos e questões morais. [...] Foram bem selecionadas as atividades de leitura, análise e interpretação, pois serviram de embasamento para enriquecer os exercícios de produção escrita assim como o trabalho artístico, que contou com confecção de painéis e dramatização (PARTICIPANTE E, 2014). Um dos objetivos de qualquer atividade pedagógica, principalmente de língua portuguesa, é estimular o hábito pela leitura. Então surge o desafio do professor, como despertar o gosto pela leitura em nossos alunos? Por que tantos alunos não têm prazer em ler? Sou da opinião que não há crianças que não gostem de ler, mas sim, crianças que ainda não descobriram que gostam. É na escola que a criança tem o maior contato com a leitura e a
escrita desse modo, a escola precisa assumir essa responsabilidade (KLEIMAN, 2004). (PARTICIPANTE F, 2014).
A partir das considerações feitas, ratificamos a importância da leitura na vida
do ser humano. Ela é indispensável para o desenvolvimento do aluno durante toda
sua vida escolar e, a falta dela, ocasiona a recorrência das “falhas” na escrita. É
através da leitura e dos conteúdos gramaticais apresentados de forma
contextualizada que as normas e padrões convencionais da escrita vão sendo
apreendidos e usados corretamente. É evidente que o aluno estimulado a fazer uso
da leitura, frequentemente, tornar-se-á um bom leitor e escreverá bons textos,
superando assim possíveis dificuldades de interpretação e produção textual.
Somos sabedores que a leitura aprimora tanto a comunicação oral quanto a
escrita, por isso, o espaço escolar é de extrema importância para o trabalho
pedagógico alicerçado nos gêneros orais e escritos presentes na sociedade, pois
além de desenvolver no aluno a competência discursiva, prepara-o para o uso dessa
competência nas diversas esferas da comunicação.
Cabe à escola, portanto, possibilitar que seus alunos participem de diferentes
práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade. Por isso, a leitura faz-
se necessária em todas as áreas do conhecimento, pois ler é muito mais que
decifrar e, é através dela, que ampliamos nossos horizontes de conhecimento e
sanamos as deficiências da oralidade e da escrita.
Destacamos, por fim, que os professores cursistas contribuíram com os
demais participantes do grupo, expondo suas reflexões e considerações a respeito
do Projeto e da Unidade Didática, promovendo assim o debate, a troca de atividades
e experiências. Essa interação fortaleceu o nosso trabalho em sala de aula,
deixando-nos a certeza de que criança acostumada a ouvir histórias desde pequena
tem grande chance de se tornar leitora assídua e, definitivamente, consumidora de
livros. Para os participantes deste GTR, as fábulas enriquecem as aulas e são a
porta de acesso ao mundo encantado das histórias.
5. Considerações finais
Para que a escola se torne verdadeiramente um espaço de interação, a
leitura, a oralidade e a escrita devem ser frequentes e presentes em todos os
momentos da vida de nossos alunos. Muito se tem falado a respeito da importância
da leitura, notadamente, sobre o gosto e o prazer pela leitura. Tornou-se senso
comum afirmar que ela é o modo mais eficaz de exercitar a atenção, a memorização
e o pensamento, requisitos necessários para a efetivação da aprendizagem.
Porém, nem sempre são oferecidas histórias interessantes que desenvolvam
e despertem a magia e a curiosidade dos alunos. Sabemos que quando a criança se
interessa pela leitura, a imaginação, o desenvolvimento comunicativo, a interação
com o narrador e com os colegas acontece. As fábulas agradam os alunos e,
consequentemente, eles serão atraídos para a leitura de outros textos.
A responsabilidade de formar leitores competentes, primeiramente, compete à
família e depois à escola. É nos primeiros anos de vida que a criança será seduzida
para a leitura e cabe a essas duas instituições, despertar o interesse para que ela
leia por prazer e não por imposição. Por isso, é necessário, que pais e professores
criem um ambiente real de letramento por meio da interação entre leitores e leituras.
Trabalhar com o gênero fábula, no 6º ano foi indescritível, pois essas
narrativas estimularam a criatividade, a imaginação e a oralidade, como também
facilitaram o aprendizado dos alunos, desenvolveram as linguagens oral, escrita e
visual, trabalharam o senso crítico, valores e conceitos, propiciaram o envolvimento
social e afetivo, como também incentivaram o ler por prazer, por fruição.
O desenvolvimento das atividades presentes na Unidade Didática contribuiu
para a formação de alunos leitores e, com isso, cidadãos preparados para
compreender o processo de interação verbal tão intenso que circula na sociedade
atual. As ações desenvolvidas proporcionaram aos alunos maior envolvimento com
a leitura e com a escrita. Questão esta que ficou evidente nos relatos dos alunos e,
principalmente, nas suas produções orais e escritas.
A maioria dos alunos envolvidos demonstrou já ter ouvido e lido fábulas, como
também conheciam vagamente alguns fabulistas. A pesquisa sobre os escritores, o
desenho da caricatura, a leitura, interpretação e a produção das fábulas para a
publicação do livro e, principalmente, a dramatização foi essencial para que
desenvolvessem a autoestima, perdessem o medo de falar em público,
melhorassem a entonação, a escrita e, certamente, estimulou-os a buscarem outras
leituras.
Nosso objetivo era de formar leitores. Seguramente, podemos afirmar que ele
foi satisfatório, por isso pretendemos dar continuidade ao projeto, levando para os
alunos novas fábulas, estimulando cada vez mais o seu interesse pela leitura, para
que construam seus próprios conceitos, desenvolvam a capacidade argumentativa e
possam produzir textos coerentes, coesos e com maior segurança.
6. Referências
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