Post on 19-May-2018
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
TOPOFILIA E TOPOFOBIA: UM ESTUDO DA PERCEPÇÃO AMBIE NTAL DE
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EM PAIÇANDU - PR
Gerson da Silva Claudivan Sanches Lopes
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal diagnosticar a percepção ambiental de um grupo de alunos do ensino médio de um colégio estadual na cidade de Paiçandu, situada na Região Norte do Estado do Paraná. Por meio da compreensão dos conceitos relacionados à Geografia da Percepção, como por exemplo, topofilia e topofobia, procurou-se desenvolver o sentimento de pertencimento ao lugar, além da ampliação das habilidades de observação, análise e representação da paisagem. Em prévia análise, percebeu-se certa não-valorização do próprio lugar por parte de alguns alunos, no que diz respeito às características sociais e econômicas de Paiçandu, principalmente quando comparadas à cidade de Maringá, sede da região metropolitana na qual está inserida. Diante destas constatações optou-se por aprofundar o diagnóstico sobre quais as motivações que levam parte destes alunos a uma percepção afetiva em relação ao lugar, denominada pelo geógrafo Yi-Fu Tuan (2012) de topofílica, ou a uma percepção que leva à rejeição, chamada de topofóbica. Por meio de processos educativos buscou-se construir junto aos alunos percepções positivas sobre a cidade, ao mesmo tempo em que tentou-se contestar as percepções negativas socialmente produzidas a respeito de Paiçandu, principalmente aquelas que são fruto de preconceitos gerados por certa incompreensão das funções desempenhadas por esta cidade e Maringá, na dinâmica socioespacial de uma região metropolitana. Ao final de nossos estudos observou-se que ocorre, de maneira geral, certa percepção topofílica por parte dos alunos estudados, que mesmo não negando as dificuldades estruturais que o município apresenta, demonstraram ter presente o sentimento de afetividade e pertencimento em relação ao lugar onde moram.
Palavras-chave: Percepção Ambiental; Topofilia; Topofobia; Paiçandu-Pr.
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi produzida a partir de reflexões diversas que tiveram como
foco principal de análise a percepção ambiental e o município de Paiçandu – PR.
Buscou-se, como objetivo geral, diagnosticar a percepção ambiental de um grupo de
alunos do ensino médio sobre a cidade de Paiçandu, visando-se evidenciar o
sentimento de pertencimento ou não destes em relação a esta cidade.
Como estratégia inicial, procurou-se, através de práticas pedagógicas, levar
os alunos a compreenderem, com base nos estudos do Tuan (1983 e 2012), os
principais conceitos relativos à “Geografia da Percepção”, como por exemplo, as
noções de “topofilia”, “topofobia” e “lugar”, além de identificar áreas que poderiam
ser consideradas topofílicas ou topofóbicas na cidade de Paiçandu – PR.
Buscou-se também, paralelamente, contestar possíveis percepções
topofóbicas da população em relação à cidade, visando desenvolver nos educandos
sentimentos de pertencimento ao lugar, além de ampliar as habilidades de
observação, análise e representação da paisagem, fundamentais para o
desenvolvimento dos estudos sobre a percepção ambiental.
Neste contexto, como já indicado, a realização deste trabalho levou em
consideração os conceitos de “topofobia” e “topofilia”, este último formulado pelo
geógrafo Yi-Fu Tuan (2012) que, em seu livro intitulado “Topofilia: um estudo da
percepção, atitudes e valores do meio ambiente”, apresenta análises sobre os
sentimentos e sensações que um ser humano pode ter em um determinado lugar,
bem como os motivos que podem levá-lo a caracterizar esses sentimentos como
sendo de afetividade e/ou rejeição.
De acordo com Tuan (2012), a percepção de um indivíduo em relação ao
lugar onde vive ou a um lugar qualquer pode ser influenciada por diversos fatores,
moldados tanto pelo meio social como pelo meio físico, sendo que em qualquer uma
destas formas, essa percepção estará condicionada principalmente às experiências
e vivências anteriores que cada indivíduo traz consigo.
Neste trabalho, evidenciou-se que esse conjunto de experiências e vivências
em muito reflete o caráter pessoal na relação ambiente-percepção, e daí pode
ocorrer o surgimento de sentimentos para com o lugar, podendo este ser de
afetividade (topofilia) ou ainda de rejeição, denominado (topofobia).
Desta forma, para realizar-se um diagnóstico sobre a percepção dos alunos
sobre a cidade de Paiçandu, optou-se por desenvolver atividades com uma turma do
segundo ano do ensino médio da rede estadual de ensino, por apresentarem, em
nossa concepção, maturidade suficiente para compreender os conceitos a serem
trabalhados e assim desenvolver as atividades propostas.
UM POUCO DA GEOGRAFIA HUMANISTA E DA PERCEPÇÃO
AMBIENTAL
De modo corrente, porém sem muito consenso, a Geografia tem buscado,
como foco de suas investigações, o estudo do espaço geográfico. Como ciência que
se ocupa em conhecer e analisar os fenômenos naturais e humanos que ocorrem
em nosso planeta, juntamente com suas inter-relações no espaço, a Geografia, por
sua complexidade, abrangência e para melhor sistematizar seus estudos, costuma
ser dividida em diferenciados ramos, ainda que estes se apresentem inter-
relacionados de um modo ou de outro.
Dentre os diversos ramos que a Geografia apresenta, pode-se separar, para o
estudo sobre a percepção ambiental, tema deste trabalho, a Geografia Humanista,
que tem como base de estudos as experiências individuais dos sujeitos, sustentados
por suas vivências. Na Geografia Humanista, as relações de conhecimento estão
voltadas à compreensão dos valores e comportamentos que os indivíduos atribuem
ou possuem em relação ao espaço vivido, ao ambiente que os cerca, ou ao lugar em
que vivem, com seus significados, suas relevâncias e suas atitudes sobre estes.
Para Corrêa (2012, p.30) a Geografia Humanista está “[...] calcada nas
filosofias do significado, especialmente na fenomenologia e no existencialismo [...]”,
e a partir dos anos de 1970 ganhou maior volume, com uma ressignificação do
conceito de lugar, definido até então por “[...] características naturais e culturais
próprias, cuja organicidade os diferenciava uns dos outros. O conceito de lugar para
a Geografia Tradicional estava ligado a uma noção de localização absoluta e à
individualidade das parcelas do espaço” (PARANÁ, 2008 p.60).
Já para a Geografia Humanista o conceito de lugar tornou-se um conceito-
chave, passando a ser entendido como “[...] o espaço vivido, dotado de valor pelo
sujeito que nele vive [...], é onde a vida se realiza, é familiar, carregado de
afetividade, o que o torna subjetivo em extensão e conteúdo, bem como em forma e
significado” (PARANÁ, 2008 p.60).
Observa-se então que, nesta perspectiva, o conceito de lugar agrega a ideia
de afetividade, sentimentos, que são construídos ao longo do tempo, e no qual
atribui-se algum valor. No entanto, constata-se que o lugar é algo que também pode
ser dinâmico, movido principalmente pela ação humana, seja ela física através de
modificações diretas, ou mental, através da memória, das vivências construídas
sobre o lugar ao longo do tempo, demonstrando que a experiência de um indivíduo
adulto muito pode interferir em sua percepção em relação aos lugares que têm
fixado em sua mente.
O geógrafo Milton Santos também contribui para a compreensão da noção de
lugar, à medida que descreve que “Cada lugar é, à sua maneira, o mundo [...] mas
também, cada lugar, irrecusavelmente imerso numa comunhão com o mundo, torna-
se exponencialmente diferente dos demais [...]” (SANTOS, 2006, p.314). No entanto,
na visão da Geografia Humanista esse lugar que na concepção de Milton Santos é,
à sua maneira, o mundo, passa a assumir elementos particularmente humanos, e a
possuir valores que lhe atribuem ressignificados, pois emerge carregado de
afetividade à medida que perpassa as experiências de cada indivíduo.
Em relação ao entendimento sobre o que seriam as percepções individuais de
um sujeito sobre o lugar, Del Rio (1996, p.3) escreve que esta é “[...] um processo
mental de interação do indivíduo com o meio ambiente e que se dá através de
mecanismos propriamente ditos e, principalmente, cognitivos [...]”, na qual os
primeiros referem-se aos estímulos externos captados pelos cinco sentidos,
principalmente pela visão; já os segundos, que reportam-se às ações cognitivas,
estão ligados, nas palavras de Del Rio (1996, p.3), diretamente à inteligência, em
“[...] que a mente exerce parte ativa na construção da realidade percebida [...]” como
resposta ao captado não apenas pelos sentidos, mas, somado a estes, outras
contribuições ativas do sujeito ao processo perceptivo, incluindo motivações,
valores, expectativas, julgamentos e outros, que podem aqui ser agrupados no
conjunto das experiências e vivências que um sujeito traz consigo.
Amorim Filho (2002, p.19) também contribui para o esclarecimento do
conceito de percepção, quando escreve que esta é uma “[...] função psicológica que
capacita o indivíduo a converter os estímulos sensoriais em experiência [...]”, sendo
que essa experiência ocorre de forma organizada e coerente. Destaca-se, portanto,
que para esse autor, a noção de percepção se dá diretamente pela interação entre
os estímulos sensoriais, que são apropriados pelo sujeito, e as suas experiências
pessoais, que juntos cooperam para organizar de forma coerente, em sua mente, a
realidade percebida.
Referindo-se ao ambiente ou lugar, a mente humana pode também
apresentar uma variedade grande de concepções e percepções, dependendo
sempre dos processos mentais que um indivíduo poderá ser capaz de realizar sobre
um referido lugar.
Analisando-se diretamente esses processos mentais que podem acontecer
sobre um lugar, observa-se que estes irão depender do modo como o indivíduo se
apropria mentalmente desse lugar e do modo como a sua vivência lhe deixa sentir e
lhe permite transparecer. Por isso os estudos sobre a percepção do ambiente
entram no campo da subjetividade humana, e esta só pode ser explicada pela
fenomenologia, que “[...] exalta a interpretação do mundo que surge
intencionalmente à nossa consciência [...]”, em forma subjetiva, e esclarece “[...]
alguns elementos culturais, como os valores, que caracterizam o mundo vivido dos
sujeitos” (TRIVIÑOS, 2012, p.48).
Em relação à percepção ambiental dos lugares, os estudos e levantamentos
realizados e publicados no livro “Percepção ambiental: a experiência brasileira” do
ano de 1996, organizados por Vicente Del Rio e Lívia de Oliveira, tem servido como
referência para os estudiosos desse tema no país. Em sua introdução, o livro nos
permite compreender um pouco mais sobre como o indivíduo percebe o mundo à
sua volta, quando admite que “[...] nossa apreensão do mundo se dá pelos
processos perceptivos que registram e aferem significados à realidade que cada um
de nós percebe, como membros de um grupo social e como indivíduos [...]”, e ainda
reargumenta que essa realidade é um fenômeno individual, que passa por um
processo de re-construção mental a cada dia.
No entanto, em que pese ser a realidade de cada um, elemento fundante para
que o indivíduo construa sua percepção sobre os lugares, visto que esta é dotada,
como já escrito, de uma subjetividade singular, observa-se que em alguns casos
essa realidade pode referir-se a um grupo de pessoas que possuem certa
identificação coletiva com o meio, por pertencerem, por exemplo, a um mesmo grupo
social que compartilha interesses em relação ao lugar.
Nesse caso o lugar pode ser visto como objeto de percepção dos indivíduos,
mesmo que essa percepção seja coletiva e dotada de intencionalidades que
permitem estabelecer uma relação de afetividade com o espaço, devido aos
significados e valores culturalmente atribuídos a este. Holzer (2003, p.120) esclarece
bem essa questão quando escreve que “Além do espaço pessoal, existe a
experiência grupal do espaço, onde é vivida a experiência do outro. É o que os
fenomenologistas chamam de intersubjetividade [...]”.
Constata-se então que a percepção ambiental está intimamente associada ao
conceito fenomenológico de lugar, quer individual ou coletivo, pelo modo como os
sujeitos lhe atribuem significados e deixam aflorar sentimentos e valores. Para
Amorim filho (2002) através dos estudos sobre a percepção do ambiente ocorre uma
valorização da maneira de explorar os lugares e paisagens da Terra. Esse autor
esclarece que:
[...] as aspirações, decisões e ações, individuais ou coletivas, que os homens desenvolvem em relação ao ambiente em que vivem podem ser avaliadas através de uma cuidadosa análise das atitudes, preferências, valores, percepções e imagens que a mente humana tem a capacidade de elaborar [...] (AMORIM FILHO, 2002, p16).
No campo da Geografia, o principal representante dos estudos sobre a
percepção ambiental é o geógrafo cino-americano Yi-Fu Tuan. De acordo com esse
autor, existem consideráveis diferenças na maneira como as pessoas percebem o
mundo, ao ponto de considerarmos, pelas diferenças e preferências próprias de
cada indivíduo, existirem “mundos pessoais”, em que os conceitos e atitudes em
relação à vida e ao meio onde se vive podem variar, pois refletem necessariamente
percepções individuais, podendo mudar de acordo com a idade, sexo ou estrutura
social por exemplo (TUAN, 2012).
Na realidade brasileira, esse fator pode explicar, por exemplo, a relação de
afetividade daquelas populações que vivem em locais inadequados ambientalmente,
como por exemplo, nas comunidades (favelas) da cidade do Rio de Janeiro, na qual
observa-se, em diversos relatos, alguns casos de não-vontade dos moradores em
deixar estes locais, mesmo que seja para outros com melhores condições de
infraestrutura urbana, e isso devido a um latente sentimento de afetividade com o
lugar, perceptível até mesmo a visitantes e turistas.
Ocorre, neste caso, uma relação de familiaridade com o lugar, relação essa
que, de acordo com Tuan (2012) pode ocorrer também com objetos, sendo que
estes, depois de fazerem parte do nosso cotidiano, podem ser considerados por
alguns como a extensão da nossa personalidade, do nosso eu.
No caso de uma casa, por exemplo, se estiver em um ambiente urbano,
estará inserida em um bairro (ou, como no exemplo anterior, em uma favela), e este
local também passará a ser objeto de familiaridade, no qual o ser humano identificar-
se-á quer pelas relações físicas (a igreja, o mercado, a praça), quer pelas relações
sociais (amigos, vizinhos e outros), como ainda pelas relações históricas (fundação
do bairro, local de nascimento ou da primeira casa própria), ou mesmo outro fator
qualquer que possa criar um ambiente em que o sentimento de afetividade seja
perceptível. Considera-se também que quando um sujeito conhece e se apropria do
processo histórico nos quais se originaram os lugares, este pode observá-lo e
analisá-lo de modo diferenciado, podendo daí surgir percepções que até então não
existiam.
Tuan (2012) também pontua que é natural dos seres humanos terem uma
visão etnocêntrica, um egocentrismo coletivo em relação aos lugares onde vivem,
supervalorizando-os e atribuindo-lhes um valor de superioridade em relação aos
lugares adjacentes. Essa postura, nos dizeres desse autor, talvez possa ser
explicada pela necessidade de manutenção ou auto-sustentação de sua própria
cultura ou da prosperidade do lugar, em que a necessidade de centralidade ou de
fazer-se central, coopera para se manter o sentido de orgulho (TUAN, 2012).
Diante dessas considerações, abstrai-se que a percepção de um indivíduo em
relação ao lugar onde vive pode ser influenciada por diversos fatores, que
compreendem a sua realidade individual, dos quais destacamos:
1 – O tempo em que se vive no lugar;
2 – As relações sociais e econômicas que acontecem nesse lugar;
3 – As características das paisagens naturais ou humanizadas que foram
historicamente construídas nesse lugar;
4 – E ainda quando se compara cada uma destas características com outros
lugares, quer estes sejam considerados melhores ou piores.
Portanto, a visão ou percepção de um indivíduo em relação a um determinado
local, principalmente o local onde vive, é condicionada por elementos do ambiente
social e do ambiente físico, sendo também fortemente influenciada pelas
experiências anteriores que cada indivíduo traz consigo (TUAN, 2012).
Desta forma, verifica-se que a percepção aparece associada à atitude, que
nada mais é do que a postura ou posição que se toma frente ao mundo, ou frente a
situações ou ainda frente às paisagens. A atitude é formada acima de tudo pelo
conjunto de experiências e de vivências que temos, e essa experiência além de
possuir um caráter pessoal, reflete muitíssimo o ambiente social em que o indivíduo
foi concebido e desenvolveu-se. Nesse sentido Tuan (2012, p.18) esclarece que:
[...] a percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados [...].
Diante dessas atitudes, que podemos aqui caracterizar como o “conjunto de
experiências” que cada indivíduo traz consigo, tem-se o surgimento da topofilia,
conceito criado por Tuan, que indica “O elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou
ambiente físico” (TUAN, 2012, p.19), e também, em contraposição, a topofobia, que
seria o sentimento de rejeição ou medo em relação ao lugar.
Portanto, constata-se que, com já escrito, a percepção do ambiente (quer
afetiva ou de rejeição) é pessoal, e dependente do conjunto de experiências que
uma pessoa traz consigo, haja vista que, em um mesmo ambiente físico ou social,
dois seres humanos, porém com históricos de vida diferentes - portanto com
experiências e atitudes diferentes -, percebem o ambiente de distintas formas,
baseados sobretudo em suas vivências.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS E CONSIDERAÇÕES
METODOLÓGICAS
O Município de Paiçandu (FIGURA 1) situa-se no noroeste do Estado do
Paraná, a aproximadamente 439 km da capital Curitiba e a 16 km de Maringá. De
acordo com dados do IBGE (2015), conta com 39.291 habitantes, apresenta IDH
médio de 0,716 em 2010, e sua economia está baseada sobretudo na prestação de
serviços, de onde estima-se que venha mais de 70% de seu produto interno bruto.
Desde o ano de 1998, com a Lei Complementar Estadual 83/98 constitui, com mais
26 municípios, a Região Metropolitana de Maringá, com uma população aproximada
de 800.000 habitantes.
Criada inicialmente com o nome de Gleba Paiçandu, em 1948, pela
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, foi desmembrada da cidade de
Maringá em 25 de julho de 1960, tornando-se nesta data município autônomo,
porém mantendo estreitas relações econômicas, sociais e políticas com Maringá
(IDH 0,808) e outras cidades vizinhas (IBGE, 2015).
Devido a esta forte relação entre os municípios da região metropolitana e a
cidade de Maringá, que possui de acordo com o IBGE (2015), 397.437 habitantes,
observou-se nessa pesquisa uma inerente comparação entre a qualidade de vida
existente em Maringá, e as outras cidades que compõem sua região metropolitana,
como por exemplo, Paiçandu, o que contribui para um olhar diferenciado de seus
habitantes em relação ao seu próprio lugar.
FIGURA 1
LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PAIÇANDU
Na tentativa, portanto, de se diagnosticar a percepção de parte dessa
população, em especial de alunos do ensino médio da rede pública estadual da
cidade de Paiçandu, apresenta-se, neste trabalho, o resultado de um processo
pedagógico que teve como objetivo diagnosticar as percepções que uma parte dos
alunos do ensino médio tem sobre sua cidade, por meio de uma série de atividades
didáticas que, dentre outros, apresentou os principais conceitos referentes à
Geografia da Percepção, como por exemplo, a noção de lugar, na perspectiva da
Geografia Humanista.
Para viabilizar esta pesquisa, em um primeiro momento optou-se por trabalhar
com um grupo de alunos do 2º ano do ensino médio, por acreditar-se que estes já
possuam maturidade para desenvolver as atividades propostas neste estudo, que
correspondiam a aulas expositivas sobre os principais conceitos relativos à
Geografia da Percepção, aulas no laboratório de informática para aferir os noticiários
referentes à cidade de Paiçandu, e visitas técnicas pelos arredores do colégio e
também pelos principais bairros e pontos específicos da cidade, buscando-se obter
subsídios que pudessem demonstrar, pelo menos em parte, a realidade da
população residente no município.
Importante destacar que em uma destas visitas técnicas percorremos vários
bairros da cidade e áreas rurais, privilegiando principalmente aqueles locais
considerados topofóbicos pelos próprios alunos, quer pela falta de infraestrutura,
pela violência urbana em suas variadas formas, ou outro fator qualquer. Durante o
trajeto chamou-se a atenção dos educandos para a necessidade de exercitarem um
olhar diferenciado em relação a cada um dos fatores que compunham
historicamente aqueles locais, no sentido de considerarem questões, sociais,
econômicas e políticas ali envolvidas, em uma tentativa de que estes ampliassem
suas capacidades de observação e análise pautados por diferentes perspectivas.
Desta forma, ao final desta visita técnica, e em posterior diagnóstico realizado
junto aos alunos, observou-se a ampliação e/ou desenvolvimento do sentimento de
pertencimento em relação à cidade em que moram (descrito de forma sistemática e
com gráficos nos próximos tópicos), com relatos dos educandos sobre a
desconstrução de algumas percepções topofóbicas em relação aos locais visitados,
principalmente aquelas que eram resultado do desconhecimento de fatores que
historicamente compunham aquele lugar.
Acredita-se que, conforme já citado no referencial teórico deste trabalho,
quando um indivíduo, qualquer que seja, toma conhecimento e se apropria dos
processos históricos que deram origem aos lugares, este passa a analisá-lo e
observá-lo com outro olhar, que muitas vezes pode direcioná-lo para sentimentos de
afetividade ou de rejeição, que até então não existiam.
Ainda na tentativa de se ampliar as habilidades de observação, analise e
representação da paisagem, desenvolveu-se junto aos alunos uma atividade em que
estes foram divididos em equipes e orientados a retornar aos bairros visitados, bem
como outros, para que realizassem um mapeamento em toda a cidade referente aos
locais que pudessem ser caracterizados como topofílicos ou topofóbicos,
registrando-os em fotografias e produzindo as respectivas análises dos porquês de
suas percepções, amparados pelos conhecimentos adquiridos em sala de aula.
Assim, através destas atividades propostas e seus desdobramentos, os
alunos tiveram a oportunidade de contestar, ou não, suas percepções sobre
determinados lugares, visto que passaram a analisá-los de forma mais ampla,
contextualizando-os junto a fatores históricos, sociais, políticos e outros. Após esta
análise mais aprofundada, e relatos dos alunos, constatou-se que em muitos casos
houve o desenvolvimento ou ampliação, como já escrito, de sentimentos de
pertencimento ao lugar, principalmente daqueles que moravam em bairros
considerados topofóbicos devido à falta de infraestrutura, como pavimentação
asfáltica, por exemplo, e ainda por aqueles que, embora não conhecendo estes
locais, os tinham como lugares de rejeição pelo senso comum de que eram
considerados “locais-problema”, sem se aprofundar em sua realidade concreta e
histórica.
Deste modo, constata-se a importância, também pedagógica, dos estudos
referentes à percepção ambiental, como ferramenta para auxiliar na construção da
autoestima de nossos alunos, pois pensa-se que um aluno que possui desenvolvido
em si um sentimento de afetividade em relação aos locais de seu convívio, como
escola, casa, bairro ou outro, apresenta melhores condições, de acordo com nossa
visão, de construir perspectivas positivas em relação a seu futuro, visto que este
passa a sentir-se motivado a inserir-se de modo significativo na sociedade a qual
pertence.
Durante os trabalhos com os alunos, no decorrer das atividades, tornou-se
notório a mudança de interpretação em relação às suas percepções sobre o
município de Paiçandu, pois observou-se maior interesse destes pela sua cidade,
sua história e seus lugares, evidenciados principalmente pelas conversas de
corredor destes com outros alunos que não participavam desta pesquisa, abrindo a
possibilidade de ampliar os estudos deste tema para próximos anos letivos.
Destaca-se, desta forma, a importância de trabalhos pedagógicos que tenham
como tema a Geografia da Percepção, principalmente aqueles que visam tornar os
alunos seres críticos em relação à realidade em que vivem, buscando seus porquês
e saindo do senso comum de conformar-se com situações das quais pouco sabem
as causas ou motivos.
A Geografia da Percepção ao ser trabalhada em sala de aula pode permitir,
de forma direta, preencher a lacuna que existe entre o senso comum, muito presente
em nossos alunos, e a realidade concreta, pautada em análises mais aprofundadas
sobre os diferentes fatores que constituem o contexto de cada ambiente vivido, de
modo a permitir fazer a ligação entre os elementos sociais, econômicos e políticos
que compõem historicamente os lugares.
Assim, delimitado nosso objeto de estudos, e finalizadas as atividades
propostas a ser desenvolvidas junto aos alunos, partiu-se para um segundo
momento da nossa pesquisa, em que aplicou-se um questionário aos 39 estudantes
de uma turma de 2º ano do ensino médio, com o objetivo de se diagnosticar suas
percepções sobre a cidade de Paiçandu. Destes, 34 responderam ao questionário
no dia escolhido para sua aplicação, o que nos garante certa confiabilidade nos
resultados obtidos em relação ao total de amostras que poderiam ser coletadas. Os
dados foram tabulados e serão a seguir apresentados em forma de gráficos para
melhor análise e compreensão.
A PERCEPÇÃO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A CIDAD E DE
PAIÇANDU
Para melhor aferir a percepção dos alunos alvo de nossa pesquisa, após
realizadas as intervenções em sala de aula sobre os principais conceitos relativos a
percepção ambiental, aplicou-se um questionário contendo 31 questões objetivas e
subjetivas, de modo a deixar o educando livre em relação ao tempo para respondê-
las, e ainda realizar as reflexões que julgasse necessárias sobre a cidade de
Paiçandu. Das questões apresentadas, parte serviu para familiarizar os alunos em
relação ao tema proposto, e parte nos permitiu verificar a percepção destes em
relação ao lugar onde vivem.
Em um breve diagnóstico
53% dos alunos pesquisados
ser considerada como ótima ou boa
Estes índices apontam, em uma
alunos sobre sua cidade
ruim para se morar.
Neste momento é importante apontar que, embora Paiçandu apresente
diversos problemas relacionados à falta de infraestrutura física e social, os
moradores da cidade desenvolveram certa percepção topofílica sobre o lugar em
que moram, mesmo que este notadame
outras cidades próximas, como Maringá, por exemplo.
Embora possa existir a comparação entre estes dois municípios, e que se
observe que Maringá tenha um IDH maior do que Paiçandu, a relação de afetividade
se faz presente principalmente quando se leva em consideração
moradores vivem no lugar
relações sociais e econômicas que
aproximar as pessoas pelo
familiar uns com os outros
Ao serem questionados sobre o que mais contribui negativamente para a
qualidade de vida em Paiçandu, os
VOCÊ CONSIDERA A QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE
Fonte: o autor.
diagnóstico dos resultados apurados, constatou
alunos pesquisados (GRÁFICO 1) a qualidade de vida em Paiçandu
como ótima ou boa, e ainda que 44% a consideram como regular.
Estes índices apontam, em uma abreviada análise, uma percepção positiva destes
alunos sobre sua cidade, à medida que apenas 3% a consideram como um local
GRÁFICO 1
Neste momento é importante apontar que, embora Paiçandu apresente
diversos problemas relacionados à falta de infraestrutura física e social, os
moradores da cidade desenvolveram certa percepção topofílica sobre o lugar em
que moram, mesmo que este notadamente tenha um padrão de vida menor do que
outras cidades próximas, como Maringá, por exemplo.
Embora possa existir a comparação entre estes dois municípios, e que se
observe que Maringá tenha um IDH maior do que Paiçandu, a relação de afetividade
esente principalmente quando se leva em consideração
no lugar, os eventos que ali aconteceram e acontecem
relações sociais e econômicas que se concretizam nesse lugar
aproximar as pessoas pelo convívio histórico, construindo uma proximidade afetiva
familiar uns com os outros.
Ao serem questionados sobre o que mais contribui negativamente para a
qualidade de vida em Paiçandu, os alunos sugerem que a sujeira presente nas vias
9%
44%
44%
3%
VOCÊ CONSIDERA A QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE PAIÇANDU COMO:
dos resultados apurados, constatou-se que para
a qualidade de vida em Paiçandu pode
44% a consideram como regular.
análise, uma percepção positiva destes
à medida que apenas 3% a consideram como um local
Neste momento é importante apontar que, embora Paiçandu apresente
diversos problemas relacionados à falta de infraestrutura física e social, os
moradores da cidade desenvolveram certa percepção topofílica sobre o lugar em
nte tenha um padrão de vida menor do que
Embora possa existir a comparação entre estes dois municípios, e que se
observe que Maringá tenha um IDH maior do que Paiçandu, a relação de afetividade
esente principalmente quando se leva em consideração o tempo que os
e acontecem, e ainda as
nesse lugar, que tendem a
convívio histórico, construindo uma proximidade afetiva
Ao serem questionados sobre o que mais contribui negativamente para a
que a sujeira presente nas vias
VOCÊ CONSIDERA A QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE
ÓTIMA
BOA
REGULAR
RUIM
públicas seja o principal problema, com 27%, associado à falta de segurança com
23% (GRÁFICO 2). Destaque especial pode ser dado à
já citado, e observada na cidade de modo geral
resultado do descaso do poder público p
fator é diagnosticado quando aponta
pavimentação asfáltica, à área da saúde, à educação e
somam, juntos, 50% dos problemas diagnosticados pelos alunos como o que
contribui negativamente para a qualidade de vida na cidade.
O lixo presente nas vias públicas e a falta de pavimentação asfáltica também
são apontados como
questionados, 66% destes assinalam estes dois itens como os principais em relação
à percepção negativa
insegurança, com 13% cada (GRÁFICO 3).
Importante destacar
presentes nas vias públicas e terrenos baldios
certo podem ser significativos p
(topofobia) destes para com
esta situação é produzida pelo
onde moram, somados à falta de organização do poder público municipal em
equacionar este problema, quer com campanhas de conscientização,
16%
EM SUA OPINIÃO, O QUE CONTRIBUI NEGATIVAMENTE PARA A
ipal problema, com 27%, associado à falta de segurança com
23% (GRÁFICO 2). Destaque especial pode ser dado à falta de infraestrutura
vada na cidade de modo geral, vista em muitos casos
resultado do descaso do poder público para com a população como um todo
ator é diagnosticado quando aponta-se que problemas
pavimentação asfáltica, à área da saúde, à educação e à falta de opções de lazer
somam, juntos, 50% dos problemas diagnosticados pelos alunos como o que
contribui negativamente para a qualidade de vida na cidade.
GRÁFICO 2
O lixo presente nas vias públicas e a falta de pavimentação asfáltica também
são apontados como fatores que geram incômodo nos alunos.
66% destes assinalam estes dois itens como os principais em relação
à percepção negativa para com a cidade, seguidos da falta de hospitais e
insegurança, com 13% cada (GRÁFICO 3).
Importante destacar que o notável incômodo em relação ao lixo e à sujeira
presentes nas vias públicas e terrenos baldios de Paiçandu, s
podem ser significativos para o desenvolvimento de um sentimento de rejeição
(topofobia) destes para com essa cidade. Observa-se, contudo, que quase sempre
esta situação é produzida pelo desleixo da própria população em relação ao local
somados à falta de organização do poder público municipal em
equacionar este problema, quer com campanhas de conscientização,
27%
23%16%
16%
10%8%
EM SUA OPINIÃO, O QUE CONTRIBUI NEGATIVAMENTE PARA A QUALIDADE DE VIDA EM PAIÇANDU?
LIXO NAS RUAS
FALTA DE SEGURANÇA
FALTA DE ASFALTO
PROBLEMAS NA SAÚDE
PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO
FALTA OPÇÕES DE LAZER
ipal problema, com 27%, associado à falta de segurança com
falta de infraestrutura, como
vista em muitos casos como o
ara com a população como um todo. Este
se que problemas relacionados à
falta de opções de lazer
somam, juntos, 50% dos problemas diagnosticados pelos alunos como o que
O lixo presente nas vias públicas e a falta de pavimentação asfáltica também
incômodo nos alunos. Ao serem
66% destes assinalam estes dois itens como os principais em relação
cidade, seguidos da falta de hospitais e
notável incômodo em relação ao lixo e à sujeira
são fatores que por
um sentimento de rejeição
se, contudo, que quase sempre
desleixo da própria população em relação ao local
somados à falta de organização do poder público municipal em
equacionar este problema, quer com campanhas de conscientização, multas, ou
EM SUA OPINIÃO, O QUE CONTRIBUI NEGATIVAMENTE PARA A
LIXO NAS RUAS
FALTA DE SEGURANÇA
FALTA DE ASFALTO
PROBLEMAS NA SAÚDE
PROBLEMAS NA EDUCAÇÃO
FALTA OPÇÕES DE LAZER
outro, como destinar locais específicos para a população depositar entulhos e restos
de obra, por exemplo.
Outro ponto significativo
cidade por parte dos alunos
meios de comunicação correntes na região. Para
reportam a fatos que
principalmente ao tráfico de drogas e violências e
contribui para se ter uma
viver, colaborando, desta forma,
população (GRÁFICO 4).
13%
13%
O QUE MAIS O INCOMODA NA CIDADE DE PAIÇANDU?
EM SUA OPINIÃO, A MAIORIA DAS NOTÍCIAS SOBRE A CIDADE DE PAIÇANDU SE REFERE A FATOS NEGATIVOS OU POSITIVOS?
como destinar locais específicos para a população depositar entulhos e restos
GRÁFICO 3
ponto significativo que pode cooperar para uma percepção
alunos, refere-se ao teor dos noticiários apresentados pelos
comunicação correntes na região. Para 91% destes, estes noticiários
em sua maioria denigrem a imagem da cidade
ao tráfico de drogas e violências em suas variadas formas,
para se ter uma impressão de se estar em um local insalubre para o bem
, desta forma, para uma percepção negativa (topofóbica) da
).
GRÁFICO 4
33%
33%
13%
4%
4%
O QUE MAIS O INCOMODA NA CIDADE DE PAIÇANDU?
FALTA DE ASFALTO
LIXO
FALTA HOSPITAL
INSEGURANÇA
FALTA ESPAÇO DE LAZER
FALTA DE PLANEJAMENTO
91%
9%
EM SUA OPINIÃO, A MAIORIA DAS NOTÍCIAS SOBRE A CIDADE DE PAIÇANDU SE REFERE A FATOS NEGATIVOS OU POSITIVOS?
como destinar locais específicos para a população depositar entulhos e restos
a percepção negativa da
se ao teor dos noticiários apresentados pelos
destes, estes noticiários se
denigrem a imagem da cidade, ligados
m suas variadas formas, o que
impressão de se estar em um local insalubre para o bem-
para uma percepção negativa (topofóbica) da
O QUE MAIS O INCOMODA NA CIDADE DE PAIÇANDU?
FALTA DE ASFALTO
LIXO
FALTA HOSPITAL
INSEGURANÇA
FALTA ESPAÇO DE LAZER
FALTA DE PLANEJAMENTO
EM SUA OPINIÃO, A MAIORIA DAS NOTÍCIAS SOBRE A CIDADE DE PAIÇANDU SE REFERE A FATOS NEGATIVOS OU POSITIVOS?
NEGATIVOS
POSITIVOS
No entanto, outro fator importante foi diagnosticado por esta pesquisa, pois
mesmo considerando-se o fato dos transtornos causados pela falta de pavimentação
asfáltica, o incômodo gerado pela presença de lixo nas vias públicas, e
noticiários negativos em relação à segurança da cidade, os alunos apontaram que
se tivessem a oportunidade de mudar a realidade de seu município, investiriam seus
recursos prioritariamente em um sistema de saúde mais adequado às necess
da população (GRÁFICO 5).
Este fato pode ser explicado devido ao
apresentado, nos últimos anos,
saúde, com o fechamento do único hospital
noticiários sobre pessoas que padecem pela falta de um atendimento adequado,
tornando-se este assunto recorrente nas conversas de alunos com seus familiares e
amigos. Desta forma, evidencia
educandos em preservar
naquilo em que mais sentem necessidade, se sobrepondo até mesmo ao interesse
em se ter uma cidade com uma paisagem mais bela e que agrade aos sentidos.
Um aspecto relevante a se destacar é
à prefeitura da cidade,
responsabilidade pela atual qualidade de vida d
caracteriza, na opinião da maioria de
demonstrado no gráfico 1. No entanto os alunos
18%
SE VOCÊ FOSSE O PREFEITO DA CIDADE, INVESTIRIA OS RECURSOS
No entanto, outro fator importante foi diagnosticado por esta pesquisa, pois
se o fato dos transtornos causados pela falta de pavimentação
asfáltica, o incômodo gerado pela presença de lixo nas vias públicas, e
ivos em relação à segurança da cidade, os alunos apontaram que
se tivessem a oportunidade de mudar a realidade de seu município, investiriam seus
recursos prioritariamente em um sistema de saúde mais adequado às necess
da população (GRÁFICO 5).
GRÁFICO 5
Este fato pode ser explicado devido ao município de Paiçandu te
, nos últimos anos, problemas crônicos em relação ao sistema de
saúde, com o fechamento do único hospital da cidade no ano de 2011
noticiários sobre pessoas que padecem pela falta de um atendimento adequado,
se este assunto recorrente nas conversas de alunos com seus familiares e
amigos. Desta forma, evidencia-se nesta pesquisa a preocupação e o interesse dos
dos em preservar com qualidade a vida humana de forma mais direta,
naquilo em que mais sentem necessidade, se sobrepondo até mesmo ao interesse
em se ter uma cidade com uma paisagem mais bela e que agrade aos sentidos.
aspecto relevante a se destacar é que grande parte dos alunos atribuem
à sociedade em geral e aos políticos atuais a
responsabilidade pela atual qualidade de vida de Paiçandu (GRÁFICO 6
na opinião da maioria destes, como boa e regula
co 1. No entanto os alunos também classificam
68%
18%
7%
3% 4%
SE VOCÊ FOSSE O PREFEITO DA CIDADE, INVESTIRIA OS RECURSOS PRIORITARIAMENTE EM QUAL ÁREA ?
No entanto, outro fator importante foi diagnosticado por esta pesquisa, pois
se o fato dos transtornos causados pela falta de pavimentação
asfáltica, o incômodo gerado pela presença de lixo nas vias públicas, e ainda os
ivos em relação à segurança da cidade, os alunos apontaram que
se tivessem a oportunidade de mudar a realidade de seu município, investiriam seus
recursos prioritariamente em um sistema de saúde mais adequado às necessidades
município de Paiçandu ter
problemas crônicos em relação ao sistema de
no ano de 2011 e vários
noticiários sobre pessoas que padecem pela falta de um atendimento adequado,
se este assunto recorrente nas conversas de alunos com seus familiares e
se nesta pesquisa a preocupação e o interesse dos
qualidade a vida humana de forma mais direta,
naquilo em que mais sentem necessidade, se sobrepondo até mesmo ao interesse
em se ter uma cidade com uma paisagem mais bela e que agrade aos sentidos.
que grande parte dos alunos atribuem
e aos políticos atuais a principal
e Paiçandu (GRÁFICO 6), que se
como boa e regular, conforme
classificam estes mesmos
SE VOCÊ FOSSE O PREFEITO DA CIDADE, INVESTIRIA OS RECURSOS
SAÚDE
SEGURANÇA
ASFALTAMENTO
LIMPEZA
EDUCAÇÃO
atores como os mais envolvidos em melhorar a qualidade de vida dessa cidade
(GRÁFICO 7), revelando, em nossa perspectiva, um
educandos de que a aparência e infra
constitui no resultado de um processo histórico e
conjugadas entre os poderes executivo, legislativo e a sociedade,
ocorre o compartilhamento das responsabilidades em se ter um lugar agradável para
se morar.
Desta forma, diante do
aos alunos, observa-se que mesmo em face aos problemas existentes na cidade,
12%
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA ATUAL QUALIDADE DE VIDA EM PAIÇANDU?
23%
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O MAIS ENVOLVIDO EM MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA EM
como os mais envolvidos em melhorar a qualidade de vida dessa cidade
(GRÁFICO 7), revelando, em nossa perspectiva, um entendimento por parte dos
que a aparência e infraestrutura existentes no lugar e
de um processo histórico e de um somatório de forças e ações
conjugadas entre os poderes executivo, legislativo e a sociedade,
ento das responsabilidades em se ter um lugar agradável para
GRÁFICO 6
GRÁFICO 7
, diante dos dados apresentados pelo questionário aplicado junto
se que mesmo em face aos problemas existentes na cidade,
27%
25%16%
12%
8%7% 5%
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA ATUAL QUALIDADE DE VIDA EM PAIÇANDU?
A PREFEITURA DA CIDADE
A SOCIEDADE EM GERAL
OS POLÍTICOS ATUAIS
OS COMERCIANTES
O GOVERNO DO ESTADO
O SETOR INDUSTRIAL
OS POLÍTICOS DO PASSADO
31%
28%
23%
18%
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O MAIS ENVOLVIDO EM MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA EM
PAIÇANDU?
A PREFEITURA DA CIDADE
A SOCIEDADE EM GERAL
OS POLÍTICOS ATUAIS
OUTROS
como os mais envolvidos em melhorar a qualidade de vida dessa cidade
entendimento por parte dos
o lugar em que vivem se
um somatório de forças e ações
conjugadas entre os poderes executivo, legislativo e a sociedade, à medida em que
ento das responsabilidades em se ter um lugar agradável para
dados apresentados pelo questionário aplicado junto
se que mesmo em face aos problemas existentes na cidade,
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA ATUAL QUALIDADE DE VIDA EM PAIÇANDU?
A PREFEITURA DA CIDADE
A SOCIEDADE EM GERAL
OS POLÍTICOS ATUAIS
OS COMERCIANTES
O GOVERNO DO ESTADO
O SETOR INDUSTRIAL
OS POLÍTICOS DO PASSADO
QUAL SEGMENTO VOCÊ CLASSIFICARIA COMO O MAIS ENVOLVIDO EM MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA EM
A PREFEITURA DA CIDADE
A SOCIEDADE EM GERAL
OS POLÍTICOS ATUAIS
OUTROS
principalmente os ligados à falta de infraestrutura física e social, nota-se certa
percepção topofílica em relação à cidade de Paiçandu.
Destaca-se que o tempo em que a pessoa vive em um lugar e os eventos que
ali acontecem a partir de sua chegada, como proximidade com vizinhos, por
exemplo, pode influenciar de forma positiva sua percepção, passando de topofóbica
a topofílica. Assim, essa percepção afetiva dos alunos pode ser explicada, dentre
outros fatores, pelas relações históricas estabelecidas pelos os moradores entre si e
também em relação ao local onde moram, permitindo que desenvolvam o
sentimento de afetividade devido à identificação que ocorre entre os sujeitos, e
destes com o ambiente em que vivem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em uma breve análise dos dados proporcionados por esta pesquisa, a título
de considerações finais para esta investigação, observa-se que, mesmo
considerando os problemas apresentados em relação à cidade de Paiçandu, ocorre
certa avaliação positiva sobre a cidade por parte dos alunos que serviram como
objeto para nosso de estudos.
Nota-se uma afeição em relação ao lugar onde moram, embora reconheçam
as dificuldades já mencionadas, relacionadas principalmente à falta de infraestrutura,
lixo presente em vias públicas e terrenos baldios, tráfico de drogas e violência em
suas variadas formas. Essa constatação se embasa no fato de 88% destes
indicarem esta cidade para um familiar morar (GRÁFICO 8), demonstrando que para
estes alunos a cidade tem condições de vida satisfatórias para abrigar seus entes
com qualidade.
Essa percepção topofílica pode ser em parte explicada pelo estreitamento das
relações sociais entre os moradores, que foram historicamente constituídas na
cidade de Paiçandu, fazendo com que se minimizem as características da paisagem
humanizada desta localidade, que embora marcada por carências, não são
suficientes para romper com os elos afetivos e apegos em relação ao lugar por parte
da população, mesmo estando próximos a um centro urbano que apresenta melhor
qualidade de vida.
A afeição dos alunos
na cidade onde sempre gostam de ir,
(GRÁFICO 9), demonstrando que
alunos encontra opções de lazer que não sejam ir à cidade de Maringá
parques e shoppings que esta
sendo uma atitude de afetividade e
dos alunos, consumindo equipamentos públicos e privados de lazer, como praças,
complexos esportivos, bares, restaurantes e outros.
VOCÊ INDICARIA A CIDADE DE PAIÇANDU PARA UM FAMILIAR SEU
HÁ LUGARES EM PAIÇANDU QUE VOCÊ SEMPRE GOSTA DE IR?
da população, mesmo estando próximos a um centro urbano que apresenta melhor
GRÁFICO 8
alunos ainda é evidenciada quando questionados se há lugar
sempre gostam de ir, em que 62% responderam positivamente
demonstrando que mesmo em meio às dificuldades, a
encontra opções de lazer que não sejam ir à cidade de Maringá
parques e shoppings que esta proporciona. Este fato pode ser analisado como
afetividade e sentimento de pertencimento ao lugar,
, consumindo equipamentos públicos e privados de lazer, como praças,
complexos esportivos, bares, restaurantes e outros.
GRÁFICO 9
88%
12%
VOCÊ INDICARIA A CIDADE DE PAIÇANDU PARA UM FAMILIAR SEU MORAR?
62%
38%
HÁ LUGARES EM PAIÇANDU QUE VOCÊ SEMPRE GOSTA DE IR?
da população, mesmo estando próximos a um centro urbano que apresenta melhor
quando questionados se há lugares
% responderam positivamente
às dificuldades, a maioria dos
encontra opções de lazer que não sejam ir à cidade de Maringá, consumir os
pode ser analisado como
mento de pertencimento ao lugar, por parte
, consumindo equipamentos públicos e privados de lazer, como praças,
VOCÊ INDICARIA A CIDADE DE PAIÇANDU PARA UM FAMILIAR SEU
SIM
NÃO
HÁ LUGARES EM PAIÇANDU QUE VOCÊ SEMPRE GOSTA DE IR?
SIM
NÃO
Um fato que deve ser considerado é que, por sua própria relação histórica
com a cidade de Maringá, Paiçandu tem se constituído em cidade dormitório, em
que os movimentos pendulares de seus habitantes comprovam a importância da
economia maringaense para a absorção da mão de obra dessa cidade, visto o
intenso fluxo de veículos nos horários de pico nas vias que interligam os dois
municípios. Muitos também são os profissionais de diferentes áreas que vêm a
Paiçandu consumir serviços de mão de obra especializada ou para trabalhar, com
destaque para diversos professores, que fazem o trajeto de ida e volta diariamente,
por vários anos e sem avistar mudanças nesse hábito, o que pode evidenciar certo
apego ao local em que trabalham ou às pessoas ali envolvidas.
Outro destaque importante a ser evidenciado em relação à cidade de
Paiçandu é o evidente descaso de administrações públicas com o planejamento e
recursos do município, visto os escândalos em relação ao dinheiro público e
cassações de mandatos de prefeitos e vereadores nos últimos tempos1, o que tem
contribuído, de determinado ponto de vista, para o surgimento de um sentimento de
desprestígio dos moradores em relação ao local onde moram, também por estes
geralmente apresentarem-se, como já escrito neste trabalho, sem as infraestruturas
adequadas para o bom atendimento a algumas de suas necessidades básicas,
como asfaltamento de vias, postos de saúde, creches, equipamentos de lazer e
outros.
Desta forma, este trabalho considera que, em que pese à realidade dos fatos
revelados sobre a cidade de Paiçandu, e ainda de alguns outros como a sensação
de insegurança gerada pela violência urbana em suas variadas formas, observa-se,
da perspectiva aqui adotada, que ocorre de fato um sentimento de pertencimento ao
lugar por parte dos moradores dessa cidade, em especial os alunos do ensino médio
pesquisados, que mesmo não negando as dificuldades estruturais e políticas
enfrentadas pelo município, apontam que as mudanças apenas acontecerão com o
1 Desde o ano de 2002 houve a cassação de oito vereadores e dois prefeitos na cidade de Paiçandu, e
o prefeito atual (gestão 2012-2016) já foi alvo de duas Comissões Processantes que tiveram como
motivo seu impedimento.
envolvimento de toda a sociedade no enfrentamento aos problemas mais urgentes,
quer políticos ou sociais.
Finaliza-se transcrevendo as palavras de um dos pesquisados, que ao ser
questionado sobre o que mais lhe incomoda na cidade, revela que muito precisa ser
feito, pois muitos são os problemas, e ainda que “saibamos que nem tudo são flores,
temos que nos envolver para que as mudanças aconteçam”.
REFERÊNCIAS
AMORIM FILHO, O. B. Os Estudos da Percepção como a Última Fronteira da Gestão Ambiental. In: II Simpósio Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais, 1992, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais . Belo Horizonte: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 2002. v. Único. p. 16-20. Disponível em: http://sigcursos.tripod.com/percepcao_ultima_fronteira.pdf. Acesso em 01/julho/2014
CORRÊA, R. L. Espaço, um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, In: GOMES, P. C. C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.15-47.
DEL RIO, V. Cidade da mente, cidade real: percepção ambiental e revitalização na área portuária do RJ. In: DEL RIO, V.; OLIVEIRA, L. (Orgs.). Percepção Ambiental: a experiência brasileira . São Paulo: Studio Nobel, 1996, p.3-22.
DEL RIO, V.; OLIVEIRA, L. (Orgs.). Percepção Ambiental: a experiência brasileira . São Paulo: Studio Nobel, 1996.
HOLZER, W. O conceito de lugar na Geografia Cultural: uma contribuição para a Geografia Contemporânea. Revista GEOgraphia , Ano V, Nº10, p, 113-123, 2003.
IBGE. CIDADES. Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/239TO. Acesso em 16/dezembro/2015.
_____. CIDADES. Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/2340Q. Acesso em 16/dezembro/2015.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares Estaduais para o Ensino de Geografia . SEED, Curitiba, 2008.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoç ão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesqui sa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2012, p.30-53.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência . Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.
_____. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valor es do meio ambiente .Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 2012.