Post on 05-Dec-2018
ORAÇÃO MEDIEVAL
A Europa no século XIV foi marcada por uma TRILOGIA NEGRA:
Fomes
Pestes
Guerras
No século XIII a população aumentou no Ocidente, no século XIV tornou-se impossível
alimentá-la:
Esgotamento dos solos
Mudanças climáticas (a temperatura média baixou, as chuvas aumentaram…). As chuvas
e o frio faziam apodrecer as sementes e as colheitas perdiam-se (série de maus anos
agrícolas)
Esgotamento dos solos e alterações climáticas foram responsáveis por uma diminuição da
produtividade agrícola e, assim, pela escassez de alimentos.
As fomes tornam as populações mais debilitadas, favorecendo a propagação de doenças
contagiosas; ambas deixavam um rasto de miséria e de morte…
A Peste Negra foi uma epidemia que atingiu a Europa, a China, o
Médio Oriente e outras regiões do Mundo durante o século XIV (1347-1350), matando
cerca de um terço da população da Europa e proporções provavelmente semelhantes nas
outras regiões [entre 25 e 75 milhões de pessoas] .
Trazida do Oriente ( Crimeia ) por marinheiros genoveses, a Peste
Negra foi a mais grave epidemia de que há memória.
Num ápice atingiu a Sicília e a Toscana, propagando-se por toda a
Europa, até à França, Península Ibérica, Inglaterra, Alemanha, Escandinávia.
A peste horrorizou os seus contemporâneos, não só pelo aspecto visual (os doentes
apresentavam bubões - tumores - negros ou azulados nas virilhas, axilas e
pescoço) mas também pela facilidade de contágio. Transmitida ao homem pela
picada da pulga do mus rattus (rato negro), a Peste Negra era pulmonar,
propagando-se pelo ar respirável, o que a tornava altamente contagiosa
e fatal, levando à morte em 2 ou 3 dias.
Rattus rattus, a espécie de ratazana responsável pela disseminação da peste durante a Idade Média
A peste bubónica é uma doença primariamente de roedores: ratos, ratazanas, coelhos, esquilos. Espalha-se entre eles por contacto directo ou pelas pulgas, e é-lhes frequentemente fatal.
Os médicos protegiam-se usando luvas, uma túnica e uma máscara em forma de bico de
pássaro, onde acumulavam ervas aromáticas com o objectivo de filtrar o ar, sem sucesso,
pois desconheciam que a transmissão da doença se fazia pela picada da pulga e pelo ar
respirável. O mal estava na ausência de higiene individual e colectiva, nos homens
infestados de pulgas, nos dejectos acumulados nas ruas, no vestuário de lã raramente
mudado...
Um terceiro flagelo contribuiu para a quebra demográfica: as GUERRAS e REVOLTAS SOCIAIS.
O século XIV foi pródigo em guerras (entre as quais se destaca a Guerra dos Cem Anos) e
em revoltas sociais (por exemplo, a revolta de 1383-85, em Portugal).
Não era só nos campos de batalha que se registava grande número de mortos: a violência que
acompanhava a passagem de tropas por cidades e campos, bem como a desorganização
económica que resultava dos conflitos (searas espezinhadas, celeiros roubados, gado
confiscado, violações e assassínios) produziam efeitos devastadores.
[A expressão Guerra dos Cem Anos identifica uma série de conflitos armados,
registados de forma intermitente, durante o século XIV e
o século XV (1337-1453), envolvendo a França e a
Inglaterra. A longa duração desse conflito explica-se pelo grande
poderio dos ingleses de um lado e a obstinada resistência
francesa do outro. Foi a primeira grande guerra europeia
que provocou profundas transformações na vida económica,
social e política da Europa Ocidental]
Crise Século XIV
Diminuição Demográfica
Falta de Mão Obra
Diminuição da Produção
Aumento do Preço dos Produtos
Miséria
Revoltas
Em Portugal não se viveu apenas uma crise económica, social e demográfica, mas
também uma crise política - uma crise de sucessão.
Em 1383 D. Fernando morre. A sua única herdeira, D. Beatriz, era
casada com D. João I de Castela - se fosse nomeada para governar Portugal, o reino
corria sérios riscos de perder a sua independência.
Em 1383, o Rei D. Fernando de Portugal estava a morrer. Do seu casamento com Leonor
Teles de Menezes, apenas uma rapariga, D. Beatriz de Portugal havia sobrevivido à infância. O
seu casamento era portanto da mais vital importância ao futuro do reino. As várias facções
políticas discutiam entre si possíveis maridos, que incluíam príncipes ingleses e franceses.
O casamento de D. Beatriz acabou por ser decidido como parte do tratado de paz de
Salvaterra de Magos, que terminou a terceira guerra com Castela, em 1383 (Guerras Fernandinas).
Pelas disposições deste tratado, o rei D. João I de Castela (Juan I), casar-se-ia com D. Beatriz
e o filho varão que nascesse desse casamento herdaria o reino de Portugal. Se entretanto D.
Fernando I morresse sem herdeiros., a viúva, D. Leonor Teles seria regente do reino enquanto tal
não acontecesse.
O casamento foi celebrado em Maio de 1383, mas não era uma solução aceite pela maioria dos
portugueses, uma vez que implicava a união dinástica de Portugal e Castela e consequente perda
da independência.
Muitas personalidades quer da baixa nobreza, quer da classe de mercadores e comerciantes
estavam contra esta opção, mas não se encontravam unidos quanto à escolha alternativa.
[As chamadas guerras fernandinas caracterizaram-se pela disputa do trono de Castela entre Fernando I de Portugal e Henrique II de Castela (e depois, com o filho deste, João I de Castela).
D. Constança D. Pedro I D. Inês de Castro D. Teresa Lourenço
D. Leonor Teles D. Fernando D. João D. Dinis
D. João
(Mestre de Avis)
D. Beatriz D. João I de Castela
Dois candidatos emergiram, ambos meios irmãos bastardos do rei moribundo:
D. João, filho do Rei D. Pedro I de Portugal e de Inês de Castro, a viver em Castela;
D. João, Mestre de Avis, outro bastardo de Pedro I (filho de Teresa Lourenço, aia de
Inês de Castro), muito popular junto da baixa nobreza, burguesia e povo;
A 22 de Outubro de 1383, D. Fernando de Portugal morre. De acordo com o
contrato de casamento de Beatriz e João I de Castela, a regência do reino é
entregue a D. Leonor Teles de Menezes, agora rainha viúva. Um dos seus
primeiros actos foi proclamar rainha de Portugal sua filha D. Beatriz,
já casada com o rei de Castela.
D. Leonor Teles
A partir de então, as hipóteses de resolver o conflito de forma diplomática esgotaram-se e
a facção independentista tomou medidas mais drásticas, iniciando a Crise de 1383-1385.
DINASTIA DE BORGONHA - Afonso I • Sancho I • Afonso II • Sancho II • Afonso III • Dinis I • Afonso IV • Pedro I • Fernando I • Beatriz I (de jure)
DINASTIA DE AVIS - João I • Duarte I • Afonso V • João II
A rainha viúva, D. Leonor Teles, ficou como regente do reino até ao nascimento do filho varão de
sua filha D. Beatriz. Tinha como conselheiro e amante o Conde Andeiro, situação que causou
grande agitação entre os populares. Para impedir a perda de independência que se
adivinhava, Álvaro Pais planeia uma conspiração para matar o Conde Andeiro e para tal pede
a participação do Mestre de Avis.
Após a morte do conde, D. Leonor Teles foi obrigada a sair da cidade e
pede ajuda aos reis de Castela.
Temendo a invasão, o povo de Lisboa reconhece o Mestre como Regedor e
Defensor do Reino e a burguesia apoia-o financeiramente de modo a
suportar as despesas de guerra.
Esta situação divide o país: de um lado o povo, a burguesia, uma parte da nobreza e do
clero apoiam o Mestre de Avis pois temiam a perda de independência; do outro, grande
parte da alta nobreza e do alto clero que receando perder os privilégios não aceitavam o Mestre
de Avis por ser filho ilegítimo de D. Pedro I.
Morte do Conde Andeiro (Museu Nac. Soares dos Reis, Porto)
Perante esta situação, a reacção do rei de Castela, que queria fazer valer os seus direitos
não se fez esperar, ao decidir invadir Portugal e ocupando a cidade de Santarém.
No Alentejo, a 6 de Abril de 1384, D. Nuno Álvares Pereira, venceu os castelhanos,
utilizando a famosa táctica do quadrado, naquela que ficou conhecida como a Batalha dos
Atoleiros.
O rei castelhano avançou e cercou a cidade de Lisboa, em 29 de Maio de 1384. No
entanto, o povo não se rendeu e o cerco foi levantado, em 3 de Setembro do mesmo ano,
devido à peste que já atingia os soldados.
Após o regresso, D. João de Castela preparou um poderosíssimo exército para uma nova
investida. Perante esta situação, as cortes reuniram-se em Coimbra em 1385, onde se
distinguiu o Doutor João das Regras, conhecido legista que provou, através dos seus
discursos, que de todos os candidatos ao trono, eram por igual filhos ilegítimos.
Assim sendo, competia aos representantes nacionais a escolha do rei, o qual devia ser o
Mestre de Avis, pelas notáveis qualidades que tinha revelado.
Este foi aclamado D. João I, Rei de Portugal.
Ao tomar conhecimento desta decisão, o rei de Castela invadiu de novo Portugal. A 14 de
Agosto de 1385, as tropas portuguesas novamente lideradas por D. Nuno Álvares Pereira,
derrotam os castelhanos na batalha de Aljubarrota.
A batalha de Aljubarrota,
foi decisiva no desenlace da crise dinástica.
Finalmente, para garantir a independência e reforçar o poder de D. João I, os apoiantes
do Mestre de Avis foram recompensados, ganhando a burguesia grande influência na vida
política.
A nobreza que apoiou D. Beatriz foi obrigada a fugir para Castela.
Posteriormente, foi assinado um tratado de amizade com a Inglaterra onde os dois países
prometiam ajudar-se mutuamente. Este acordo foi reforçado com o casamento de D. João I
com D. Filipa de Lencastre.
Para concluir, será importante assinalar a paz com Castela que foi conseguida em 1411.