Post on 19-Aug-2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
MARIANA DE CÁSSIA MEDRANO
OFÉLIA E NARBAL FONTES NA HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL E
JUVENIL BRASILEIRA: UM ESTUDO DE O GIGANTE DE BOTAS (1941)
GUARULHOS
2021
MARIANA DE CÁSSIA MEDRANO
OFÉLIA E NARBAL FONTES NA HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL E
JUVENIL BRASILEIRA: UM ESTUDO DE O GIGANTE DE BOTAS (1941)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentadocomo requisito parcial para obtenção do graude Licenciada em Pedagogia pelaUniversidade Federal de São Paulo.
Orientador: Prof. Doutor Fernando Rodriguesde Oliveira
GUARULHOS
2021
MEDRANO, Mariana de Cássia
Ofélia e Narbal Fontes na História da Literatura Infantil e Juvenil brasileira: umestudo de O gigante de botas (1941) / Mariana de Cássia Medrano – 2021. 86 f.
Trabalho de conclusão de curso de Pedagogia Licenciatura - Guarulhos:Universidade Federal de São Paulo. Escola de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas.
Orientador: Prof. Doutor Fernando Rodrigues de Oliveira
Título em inglês:Ofélia and Narbal Fontes in the History of Brazilian Children and Youth Literature:a study of O gigante de botas (1941)
1. Literatura infantil e juvenil. 2. Ofélia e Narbal Fontes. 3. O gigante de botas. 4.Série Vaga-Lume. 5. Instrumento de pesquisa.
MARIANA DE CÁSSIA MEDRANO
OFÉLIA E NARBAL FONTES NA HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL E
JUVENIL BRASILEIRA: UM ESTUDO DE O GIGANTE DE BOTAS (1941)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentadocomo requisito parcial para obtenção do graude Licenciada em Pedagogia pelaUniversidade Federal de São Paulo.
Orientador: Prof. Doutor Fernando Rodriguesde Oliveira
Aprovação: ___/___/___
___________________________________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Fernando Rodrigues de OliveiraUniversidade Federal de São Paulo
___________________________________________________________________________
Profª. Drª Regina Cândida Ellero GualtieriUniversidade Federal de São Paulo
___________________________________________________________________________
Profª. Drª. Vivanny Bessão de AssisUniversidade Federal de Mato Grosso do Sul
À memória de Ofélia e Narbal
Fontes
AGRADECIMENTOS
Aos meus maravilhosos pais, Cássia e Paulo Cesar, que nunca mediram esforços para
me apoiar em todas as minhas iniciativas. Sou muito grata pelo amor, carinho, educação e
escuta que eles me dedicam desde a infância.
Aos meus irmãos, Isabela e Paulinho, que sempre estiveram ao meu lado e que foram
e continuam sendo essenciais na minha formação como ser humano.
Aos meus avós maternos, Francisca e Reinaldo, e paternos, Lourdes e José, que
comemoram minhas conquistas junto a mim e demonstram imenso orgulho a cada pequeno
passo que dou, desde o início de minha vida.
Ao meu namorado, Gustavo, que me acolheu no primeiro dia em que estive na
universidade e, desde então, caminha ao meu lado, me encorajando e deixando tudo mais
leve. Considero-me felizarda por tê-lo conhecido. Também aos seus pais, Eliana e Donizeti,
que me recebem com muito carinho.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira, que transformou minha
experiência enquanto graduanda, me acolhendo e me guiando por caminhos que jamais
seguiria se não fosse por seu incentivo. Sou muito grata por tê-lo como professor e orientador.
A todos os meus companheiros de turma que, sempre muito unidos, foram como uma
rede de apoio durante todo o meu percurso na graduação. À Débora, à Paloma, ao Raphael, ao
Roberto, à Fernanda e ao Fábio, amigos com quem me conectei desde as primeiras semanas
de aula e com quem dividi grande parte de minhas vivências na universidade.
Aos muito especiais colegas Izabelle e Bruno, do curso de História, com quem tive
inúmeras trocas; e a todos os meus amigos de fora da UNIFESP que guardo no coração e sei
que, mesmo estando distante, posso contar. Especialmente ao Leonardo e aos que me fazem
companhia dia e noite desde o início da pandemia de Covid-19, por meio de chamadas de voz:
Victor, Cesar, Paula, Catarina, Maurício, Alan, Lucas G, Luke e Guilherme. Eles têm feito
com que este difícil momento se torne muito mais fácil de enfrentar.
A Charles e Narbal, netos dos autores Ofélia e Narbal Fontes que, muito solícitos,
colaboraram imensamente para a produção deste trabalho.
À Universidade Federal de São Paulo, que propiciou minha formação como futura
educadora por meio das aulas, eventos, projetos, materiais e espaços disponibilizados.
RESUMO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso apresenta resultados de pesquisa em nível degraduação de forma vinculada ao Projeto Integrado de Pesquisa Literatura infantil e juvenilbrasileira revisitada: temas, formas, finalidades e valor histórico, cultural e estético daprodução literária nos séculos XIX e XX do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensinode Língua e Literatura – NIPELL, coordenado pelo professor Dr. Fernando Rodrigues deOliveira. Com o objetivo de contribuir para a produção de uma história da literatura infantil ecompreender o lugar de Ofélia e Narbal Fontes nessa história, enfoca-se na produção literáriadesses autores, em especial o livro O gigante de botas, publicado em 1941. Por meio deabordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, e da utilização deprocedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontesdocumentais, foi elaborado o documento Bibliografia de e sobre Ofélia (1902-1986) e NarbalFontes (1899-1960): um instrumento de pesquisa, que apresenta referências de textos escritospor Ofélia e Narbal Fontes e de textos de outros autores que fazem menção ao casal. A partirda análise das referências contidas nesse instrumento de pesquisa, identificou-se que o livro Ogigante de botas foi a obra mais reeditada do casal de escritores. A partir disso, o livro foisubmetido à análise de alguns aspectos de sua configuração textual, verificando-se suaestrutura narrativa, edições e a inserção na série “Vaga-Lume” publicada pela Editora Ática. Arelevância do enfoque se dá no fato de Ofélia e Narbal Fontes terem se consolidado comoautores de destaque da literatura infantil brasileira a partir da década de 1920, nummovimento crescente da escolarização das práticas de leitura e da necessidade de materiaisdidáticos para subsidiar essas práticas. Porém, a despeito da significativa circulação que seuslivros tiveram, esse casal de escritores permanece inexplorado em estudos e pesquisasacadêmico-científicas sobre literatura infantil e juvenil.
Palavras-chave: Literatura infantil e juvenil; Ofélia e Narbal Fontes; O gigante de botas;Série Vaga-Lume; Instrumento de pesquisa.
ABSTRACT
This Course Conclusion Paper presents research results at the undergraduate level inconnection with the Integrated Research Project: Brazilian Children's and Youth LiteratureRevisited: themes, forms, purposes and historical, cultural and aesthetic value of literaryproduction in the 19th and 20th centuries of the Interdisciplinary Research Center onLanguage and Literature Teaching – NIPELL, coordinated by Professor Dr. FernandoRodrigues de Oliveira. With the objective of contributing to the production of a history ofchildren's literature and understanding the place of Ofélia and Narbal Fontes in this history, itfocuses on the literary production of these authors, in particular the book O gigante de botas,published in 1941. With a historical approach, centered on documentary and bibliographicresearch, and the use of procedures for locating, retrieving, gathering, selecting and orderingdocument sources, the document Bibliografia de e sobre Ofélia (1902-1986) and NarbalFontes (1899- 1960): um instrumento de pesquisa, which presents references to texts writtenby Ofélia and Narbal Fontes and texts by other authors that mention the couple. Based on theanalysis of the references contained in this research instrument, it was identified that the bookO gigante de botas was the most republished work by the couple of writers. From that, thebook was submitted to the analysis of some aspects of its textual configuration, verifying itsnarrative structure, editions and insertion in the series “Vaga-Lume” published by EditoraÁtica. The relevance of the focus lies in the fact that Ofélia and Narbal Fontes haveconsolidated themselves as prominent authors of Brazilian children's literature from the 1920sonwards, in a growing movement of schooling of reading practices and the need for teachingmaterials to support these practices. However, despite the significant circulation that theirbooks had, this couple of writers remains unexplored in academic-scientific studies andresearch on children's and youth literature.
Keywords: Children and youth literature; Ofélia and Narbal Fontes; O gigante de botas;Vaga-Lume series; Research instrument.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Foto de Ofélia e Narbal Fontes………………………………………….…….…..24
Figura 2 – Foto de Narbal Fontes.……....………………….………..……...…….…….…….25
Figura 3 – Foto de Ofélia Fontes publicada no jornal Correio Paulistano em 1956..…….….26
Figura 4 – Notícia publicada em 1970 no Diário de Notícias do Rio de Janeiro……….…....27
Figura 5 – Capa do livro O gigante de botas (1961)……….………..…………….…………39
Figura 6 – Capa do livro O gigante de botas (1974)……….………..…………….…………46
Figura 7 – Ilustração do livro O gigante de botas (1974)….………..…………….…….……46
Figura 8 – Primeira página do suplemento de trabalho O gigante de botas (1974).…….……47
Figura 9 – Orelha do livro O gigante de botas (1974)…….………....…………….…………49
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Títulos de Ofélia e Narbal Fontes, por tipo de texto e ano de publicação…….….32
Tabela 2 – Total de referências de publicações de Ofélia e Narbal Fontes, por ano de
publicação…………………………………………………………………………………….33
Tabela 3 – Textos que mencionam Ofélia e Narbal Fontes, por década de publicação…...….34
Tabela 4 – Edição e ano de publicação das referências localizadas de O gigante de botas….38
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
FNLIJ Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
NBR Norma Brasileira de Referência
NIPELL Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Língua e Literatura
PRP Programa de Residência Pedagógica
SP São Paulo
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNESP Universidade Estadual Paulista
UNIFESP Universidade Federal de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
OFÉLIA E NARBAL FONTES: ASPECTOS DE SUAS VIDAS E PRODUÇÃOBIBLIOGRÁFICA 24
1.1 Aspectos da vida pessoal e profissional de Ofélia e Narbal Fontes 251.2 Bibliografia de Ofélia e Narbal Fontes 321.3 Bibliografia sobre Ofélia e Narbal Fontes 35
APRESENTAÇÃO DE O GIGANTE DE BOTAS 382.1 As edições 392.2 Formato, organização e estrutura narrativa 402.3 O enredo 432.4 O gigante de botas na série Vaga-Lume 46
O GIGANTE DE BOTAS EM SEU CONTEXTO 523.1 O gigante de botas e o nacionalismo 533.2 A representação do indígena em O gigante de botas 553.3 Profissionalização dos escritores de literatura infantil e juvenil 563.4 Questões da psicologia acerca da literatura infantil e juvenil 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS 59
REFERÊNCIAS 62
APÊNDICES
Apêndice A - Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes
(1899-1960): um instrumento de pesquisa
Apêndice B - Entrevista com os netos de Ofélia e Narbal Fontes: Charles e Narbal
INTRODUÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é resultado do interesse que desenvolvi
pela pesquisa em história da literatura infantil a partir de 2018, quando passei pela experiência
do Programa de Residência Pedagógica (PRP)1 em Educação Infantil. No âmbito desse
programa especial de estágio curricular obrigatório, tive como desafio pensar o trabalho com
literatura envolvendo crianças da Educação Infantil numa perspectiva do desenvolvimento do
gosto leitor e da valorização do qualificativo literário. A experiência configurou-se como
desafio, pois a escola em que realizei a Residência Pedagógica centrava seu trabalho na
utilização do texto literário para finalidades pragmáticas, como ensino de cores, letras do
alfabeto, escrita de palavras e transmissão de valores de natureza moral.
Em decorrência do interesse em aprofundar as reflexões que iniciei durante a
Residência Pedagógica, passei a integrar, em agosto de 2018, o NIPELL - Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Língua e Literatura, na condição de monitora
bolsista junto à Unidade Curricular “Literatura infantil e juvenil brasileira”, do curso de
Pedagogia da UNIFESP, sob orientação do Prof. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira. As
atividades como monitora envolveram acompanhar as aulas, dar suporte aos estudantes
durante as aulas e participar de grupos de estudos específicos sobre literatura infantil. Na
medida em que fui desenvolvendo essas atividades, pude compreender a importância de
investigações sobre literatura infantil, sobretudo pelo potencial que representam para
compreender usos que comumente se faz desse tipo de livro na formação escolar de crianças.
A partir de sessões de orientação junto ao Prof. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira e
de leituras realizadas sobre literatura infantil, optei pela abordagem histórica. Essa opção se
deveu ao fato de que, na medida em que me aproximei mais sistematicamente do tema, pude
compreender que a “[...] ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do
presente; compromete, no presente, a própria ação.” (BLOCH, 2001, p. 63). Nesse sentido, as
tradições que perpassam a literatura infantil e que se verificam no presente, seja no âmbito da
produção, dos usos ou do ensino desse gênero literário, conforme explica Ricoeur (1985),
indicam que a “[...] distância temporal que nos separa do passado não é um intervalo morto,
mas uma transmissão geradora de sentido. Antes de ser um depósito inerte, a tradição é a
1 Criado em 2009, o Programa de Residência Pedagógica (PRP) da Universidade Federal de São Paulo é umprograma especial de estágio curricular obrigatório do curso de Pedagogia voltado à formação dos pedagogos demodo a superar a distância entre teoria e prática, usualmente presente na formação desses profissionais. O PRP éorganizado em quatro modalidades (Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos eGestão Educacional) e tem como princípio a imersão dos residentes (alunos graduando do curso) nos ambientesprofissionais docentes e gestores educacionais das escolas-campo, acompanhando suas rotinas profissionaisdurante o período de Residência.
13
operação que só pode ser entendida dialeticamente na troca entre o passado interpretado e o
presente interpretante” (p. 210, grifos do autor).
Com isso, passei a colaborar com as atividades investigativas do Projeto Integrado de
Pesquisa Literatura infantil e juvenil brasileira revisitada: temas, formas, finalidades e valor
histórico, cultural e estético da produção literária nos séculos XIX e XX2, coordenado
também pelo Prof. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira. No âmbito desse projeto, mediante
pesquisa exploratória centrada no levantamento e mapeamento de obras literárias que
integraram o acervo3 da Biblioteca Infantil do Instituto de Educação “Caetano de Campos”4,
de São Paulo-SP, pude tomar contato com uma vasta produção brasileira de livros literários
destinados a crianças e produzidos ao longo do século XX, de modo a identificar autores cuja
obra ocupou papel importante na formação desse público leitor e que permanecem em
circulação até os dias atuais em escolas de educação infantil e ensino fundamental. Esse é o
caso de Ofélia e Narbal Fontes, casal responsável pela produção de uma obra orgânica,
diretamente ligada ao movimento de renovação pedagógica dos anos 1920 e 1930 (COELHO,
2006).
4 O Instituto de Educação “Caetano de Campos” (IECC), antiga Escola Normal de São Paulo e Escola Normalda Praça da República, passou a ser assim denominado a partir de 1933, após reforma do Ensino Normal em SãoPaulo. Nesse período, com o fim da Primeira República e o advento de novas ideias relativas à educação, noconjunto das ações reformadoras da instrução pública paulista, a antiga Escola Normal de São Paulo, à épocadenominada de Escola Normal da Praça da República, foi transformada em Instituto de Educação “Caetano deCampos”, em homenagem a um de seus ex-diretores (TANURI, 2000; REIS FILHO, 1995). Essa instituição,criada no final do século XIX, tornou-se uma das principais instituições de formação de professores e dedisseminação das modernas teorias educacionais pelo país, a até ser fechada e transformada em Escola dePrimeiro e Segundo Graus durante a década de 1970, com a Lei Federal nº. 5.692/71. No âmbito da EscolaNormal/Instituto de Educação, em 1925, Carlos Alberto Gomes Cardim criou a Biblioteca Infantil do CursoPrimário anexo à Escola Normal de São Paulo, que funcionou até 1929. Após quatro anos fechada, em 1933 abiblioteca foi reaberta por Lenyra Fraccaroli tendo funcionado até 1935, quando novamente precisou ser fechada,para reformas no prédio do IECC. Em 1936 a biblioteca foi reaberta por Iracema Marques da Silveira, tendofuncionado até a década de 1980 (PASQUIM, 2017). Nas suas seis décadas de funcionamento, essa bibliotecainfantil reuniu um dos principais acervos de livros infantil e de livros de literatura infantil do Brasil. Ao todo,essa biblioteca constituiu acervo de quase 8 mil obras, entre os quais livros didáticos, livros literários, revistasinfantis, entre outros.
3 Para o desenvolvimento do Projeto Integrado de Pesquisa “Literatura infantil e juvenil brasileira revisitada:temas, formas, finalidades e valor histórico, cultural e estético da produção literária nos séculos XIX e XX”,devido a amplitude das possibilidades investigativas com relação à produção de livros de literatura infantil ejuvenil, tem como base privilegiada, mas não restrita, o acervo da Biblioteca Infantil do Instituto de Educação“Caetano de Campos”, biblioteca essa criada em 1925 e que configurou como modelo na constituição debibliotecas infantis e escolares pelo país.
2 O projeto tem como objetivo revisitar aspectos da história da literatura infantil brasileira mediante acompreensão dos temas, formas, finalidades e valor histórico, cultural e estético dos livros desse gêneroproduzidos no país entre os séculos XIX e XX. Trata-se de pesquisa pautada no estudo de autores e obras queainda se encontram inexplorados do ponto de vista da investigação acadêmico-científica ou que são comumenteconsideradas pela historiografia corrente como parte de uma produção literária de valor estético menor ouquestionável. Para se consolidar o objetivo desse Projeto Integrado de Pesquisa, vinculam-se a ele pesquisasindividuais de autoria dos integrantes da equipe executora, todas associadas à temática, ao objetivo geral e àsopções teórico-metodológicas nele delimitados.
14
A obra desse casal, conforme consta em trabalho de Vidal (2015), no início da
década de 1940, esteve entre os livros nacionais mais lidos pelas crianças que frequentaram5 a
Biblioteca Infantil do Instituto de Educação Caetano de Campos, concorrendo com autores de
grande destaque da época, como Monteiro Lobato, Viriato Corrêa, Thales de Andrade e
Alaíde Lisboa.
Em função do sucesso que muitos dos livros do casal tiveram, a maior parte foi
reeditada ao longo do século XX, alguns permanecendo em circulação até os tempos atuais,
como é o caso de O gigante de botas, que passou a integrar a série Vaga-Lume6, da Ática.
Embora Ofélia e Narbal Fontes sejam autores de livros significativos na história da
literatura infantil, eles e sua produção permanecem inexplorados do ponto de vista de estudos
acadêmico-científicos, sejam eles de natureza histórica ou não.
Conforme explica Ceccantini (2004):Fora dos grandes panoramas históricos, no entanto, está quase tudo ainda por serfeito no campo dos estudos sobre literatura infanto-juvenil no Brasil [...] nem mesmoos autores e obras infanto-juvenis já considerados como nossos “clássicos” têm sidosistematicamente estudados ou possuem sua produção devidamente fixada,organizada, analisada segundo instrumental teórico minimamente atualizado [...][dentre esses, tem-se] Ofélia e Narbal Fontes [...] escritores que, independente daqualidade estética de sua obra tiveram papel pioneiro e importante na história denossa literatura infanto-juvenil, circulando entre diversas gerações de leitores (2004,p. 30-31).
Na mesma direção que aponta Ceccantini (2004), em pesquisa que resultou em
balanço da produção acadêmico-científica brasileira sobre literatura infantil entre 1970 e
2016, Mortatti e Oliveira (2017) apontam que, nas duas últimas décadas, as publicações sobre
literatura infantil cresceram em progressões geométricas, o que representa movimento
desejável e necessário para avanços em relação a esse objeto. Porém, argumentam que esse
crescimento evidencia contradições, fragilidades e lacunas no interior dessa produção,
decorrentes: da dispersão de enfoques; de repetição de temas e abordagens “da moda”; da
consistência questionável de muitos trabalhos do ponto de vista do problema de investigação,
6 A série “Vaga-Lume” foi criada pela editora Ática no início da década de 1970, estimulada pela Lei Federal n°.5.692/71, que recomendava a adoção de obras literárias nacionais nas escolas de todo o país. A “Vaga-lume”centrou-se na reedição de títulos de sucesso no mercado editorial infantil que tivessem apelo comercial ao gostojuvenil, visando a atingir esse nicho editorial que se expandia com a ampliação da obrigatoriedade escolar e como reconhecimento social a juventude como etapa distinta da infância e da vida adulta (OLIVEIRA, 2017). Emquase cinco décadas de existência, a “Vaga-Lume” já publicou mais de 100 títulos sob seu selo, tornando-se asérie literária de maior sucesso do país (OLIVEIRA, 2017).
5 Conforme explica Vidal (2015), somente no mês de outubro de 1942, a Biblioteca Infantil do Instituto deEducação “Caetano de Campos” teve 2073 pedidos de livros, dentre os quais se destacam os de Ofélia e NarbalFontes. À época, a biblioteca contava com acervo de 2523 livros, dentre os quais 979 eram literários.
15
da justificativa, da relevância e da pertinência científica e social; e da ausência de revisões
bibliográficas consistentes. Mortatti e Oliveira (2017) explicam que a análise dessa expansão
quantitativa e qualitativa da produção brasileira sobre literatura infantil possibilita
compreender o “estágio de maturidade” do campo, mas também impõe olhar necessidades
ainda urgentes, dentre as quais:[...] a atenção à definição de objetos de pesquisa e, especialmente, para a construçãode métodos e instrumentos adequados à especificidade desses relativamente novostemas de pesquisa e campo de conhecimento; a busca de compreensão doconhecimento em construção e suas implicações para a pesquisa acadêmica, para aprodução de livros de literatura infantil e para a formulação e implementação depolíticas públicas voltadas à leitura e à formação de leitores especialmente dessegênero literário [...]; e [necessidade] de pesquisas mais amplas, do tipo “estado daarte”/”estado do conhecimento” [...] de inegável importância para avaliação doconhecimento acumulado com vistas à identificação e à problematização decontradições e lacunas, assim como a proposição fundamentada de novos temas,objetos e abordagens teórico-metodológicas que propiciem avanços aindanecessários nesse campo. (MORTATTI; OLIVEIRA, 2017, p. 48).
Essas reflexões me instigaram a pensar sobre o lugar de Ofélia e Narbal Fontes na
história da literatura infantil. Para isso, realizei revisão bibliográfica sobre o tema e li os
textos que considerei fundamentais. Dentre esses, destaco aqui os que apresentam panoramas
históricos da literatura infantil, de modo que possibilitam refletir sobre o contexto em que se
situa a produção desse casal de escritores. São os textos que aqui destaco: Meireles (1951),
Arroyo (1968); Lajolo e Zilberman (2007); Coelho (1981); e Cademartori (1986).
Problemas da Literatura Infantil, de Cecília Meireles (1951), decorre de três
conferências que a autora realizou para a Secretaria de Educação de Belo Horizonte-MG, em
1949. O objetivo da autora foi refletir sobre os problemas relativos à literatura infantil, dentre
os quais o que define um texto desse gênero. Meireles (1951) argumenta que o classificador
que define o que é literatura infantil é a preferência das próprias crianças, portanto, “não
haveria, pois, uma Literatura Infantil a priori, mas a posteriori” (MEIRELES, 1951, p.15). Ela
aponta que à época se passava uma crise do livro infantil em meio ao avanço tecnológico dos
meios de comunicação, que não exigiam das crianças uma reflexão profunda. Essa crise
também estava relacionada à grande quantidade de livros lançados que, buscando competir
com a incomplexidade e facilidade oferecida pelos meios digitais, não se preocupavam com a
qualidade literária. Em vista desse cenário, Meireles (1951) propunha investimento em
bibliotecas infantis que possibilitem uma variedade de leituras e, com isso, a construção de
gosto por livros para as crianças.
16
Em Literatura infantil brasileira: ensaio de preliminares para sua história e suas
fontes, Leonardo Arroyo (1968) apresenta um amplo panorama histórico da literatura infantil
produzida no Brasil, de modo a remontar as suas origens mais remotas, na tradição oral e nas
negras contadoras de história, até chegar ao desenvolvimento sistemático do gênero com a
chamada “literatura escolar”. Nesse estudo histórico e culturalista, ao traçar um panorama da
época de sua pesquisa, Arroyo (1968) aponta que um dos ônus do desenvolvimento do gênero
incorreu no surgimento de “livros infantis oportunistas”, que se configuraram como “literatura
banal, vulgar e insuportável” (p. 213). Porém, segundo ele, em compensação, despontavam à
época autores cuja obra era capaz de produzir a sensibilidade nas crianças, portanto,
perfeitamente definidas e válidas em relação ao papel da literatura infantil. Dentre esses
autores, Arroyo (1968) destaca a produção de Ofélia e Narbal Fontes.
Em Literatura Infantil brasileira: História e História, Lajolo e Zilberman (2007)
apresentam dados sobre a história da literatura infantil no Brasil em quatro momentos
decisivos. Segundo as autoras, esse gênero literário se desenvolveu no Brasil às vésperas do
século XX, aproximadamente dois séculos após as primeiras publicações na Europa. Por se
tratar de um período em que o país passava por inúmeras transformações, dentre elas o início
de um novo regime - o republicano - buscava-se, através dos livros para crianças, legitimar “a
imagem que o Brasil ambicionava agora: a de um país em franca modernização” (LAJOLO;
ZILBERMAN, 2007, p. 25 ). No contexto de produção dessa literatura de caráter nacionalista,
com finalidades educativas, desponta a produção de Monteiro Lobato a partir da década de
1920, reconhecido pelas autoras como escritor que promove certa autonomia do gênero em
relação ao seu tom moralista e educativo predominante à época. Lajolo e Zilberman (2007)
argumentam que, embora a produção literária para crianças tenha crescido progressivamente a
partir dos anos 1930, foi somente nos anos 1970 que ela sofreu uma renovação, de modo a se
aproximar de uma certa produção literária não-infantil. Concluem Lajolo e Zilberman (2007,
p. 160): “Com isso, após ter conquistado a duras penas o direito de falar com realismo e sem
retoques da realidade histórica, e ao mesmo tempo que redescobre as fontes do fantástico e o
imaginário, a literatura infantil contempla-se a si mesma em seus textos.”
No livro A literatura infantil: história, teoria, análise, Coelho (1981) problematiza
aspectos relativos à conceituação, matéria e forma da literatura infantil e formula um
panorama histórico do gênero desde a sua “origem” até a “atualidade”. Segundo a autora, a
literatura infantil é essencialmente arte, porém, ela também serve como aprendizagem e se
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insere na área da Pedagogia, como instrumento que contribui para a “formação cultural” da
criança. Para isso, esse gênero deve ser “adequado” ao desenvolvimento psicológico das
crianças, de modo que se garanta que o texto não corresponda apenas a meio de transmissão
de valores, mas que possa sensibilizar esteticamente o público leitor a que se destina. Com
relação ao panorama histórico, Coelho (1981) retorna ao que denomina de “narrativa
primordial”, como as fontes narrativas orais da antiguidade oriental e as primeiras
manifestações literárias do Ocidente, perpassando pelo Medievalismo, Modernidade, até a
constituição da literatura infantil brasileira no entre-séculos XIX e XX. Com relação a essa
última, a autora destaca que as primeiras produções revelam a enorme carência que o gênero
apresentava, mas ao mesmo tempo o esforço de educadores e escritores em produzir uma
literatura útil e agradável às crianças. Para Coelho (1981), a produção de Monteiro Lobato
corresponde a um marco na história da literatura infantil, pois foi responsável pelo “novo” na
produção do gênero. Além disso, destaca a produção de Ofélia e Narbal Fontes pela
importância que teve entre as décadas de 1930 e 1940 na “auto-afirmação” nacional da
literatura infantil.
Em O que é Literatura Infantil? Cademartori (1986), ao entender que historicamente
a definição da literatura infantil sempre esteve associada à escola, defende que apesar de o
gênero ser recorrentemente colocado em lugar de destaque em processos de alfabetização no
sistema escolar desde o século XIX, não deve ser associado à uma função meramente
pedagógica. Segundo a autora, “[...] a literatura infantil digna do nome estimula a criança a
viver uma aventura com a linguagem e seus efeitos, em lugar de deixá-la cerceada pelas
intenções do autor” (CADEMARTORI, 1986, p.16). Em vista dessa concepção, a autora
conclui com a defesa de que a literatura infantil não se trata de uma literatura inferior, como é
vista muitas vezes por estudiosos e entusiastas da área, mas apresenta peculiaridades que a
tornam passível de atribuição de significados a partir da leitura dos pequenos.
Por meio da leitura desses textos, pude compreender melhor alguns dos aspectos
envolvidos com a constituição da literatura infantil brasileira como gênero literário específico,
aprofundar minhas reflexões sobre a sua relação com a escola e a formação de leitores e
confirmar a relevância de se pensar de forma mais detida sobre o lugar de Ofélia e Narbal
Fontes na história desse gênero. Para tanto, defini o seguinte problema de investigação: como
se constituiu a produção literária para crianças de Ofélia e Narbal Fontes e de que forma ela
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possibilita repensar e ampliar aspectos envolvidos com a história da literatura infantil no
Brasil?
A partir desse problema investigativo, optei por centrar o trabalho na análise do livro
O gigante de botas, publicado pela primeira vez em 1941 e que foi o livro com maior número
de reedições do casal. Além disso, esse livro foi integrado à série Vaga-lume, da Ática, o que
corroborou ainda mais para seu sucesso.
Dessa maneira, formulei as seguintes questões norteadoras de investigação: Quem
foram Ofélia e Narbal Fontes e quais foram suas formações e atuações profissionais? Quais
tipos de textos escreveram? A que público esses textos se destinavam? Em qual contexto
histórico seus livros, em especial O gigante de botas, foram publicados e utilizados? Qual o
lugar desses escritores e de sua produção na história da literatura infantil no Brasil?
Os objetivos que conduziram o desenvolvimento da pesquisa foram:
● Contribuir para a produção de uma história da literatura infantil e compreender o lugar
de Ofélia e Narbal Fontes nessa história.
● Elaborar um instrumento de pesquisa contendo a bibliografia de e sobre Ofélia e
Narbal Fontes;
● Analisar a configuração textual de O gigante de botas;
● Identificar o lugar e a importância da obra literária infantil desses escritores na história
da literatura infantil brasileira;
● Contribuir para o desenvolvimento de pesquisas correlatas.
Em vista dos objetivos, optei pela abordagem histórica do tema, o que demanda
explicitar não só as opções teórico-metodológicas que fiz, mas também como compreendo
alguns conceitos operativos.
Embora a definição de “literatura infantil” seja algo complexo, dada a sua resistência
ao enquadramento em definições precisas e claras quanto à delimitação e descrição do que
historicamente configurou esse objeto (CECCANTINI, 2003), a literatura infantil é aqui
entendida como:
[...] conjunto de textos — escritos por adultos para serem lidos por crianças e/oujovens — que constituem um corpus/gênero historicamente oscilante entre o literárioe o didático e que foram paulatinamente sendo denominados como “literaturainfantil e/ou juvenil”, em razão de certas características do corpus e certosfuncionamentos sedimentados historicamente, por meio, entre outros, da expansão
19
de um mercado editorial específico e de certas instâncias normatizadoras, como aescola e a academia. (MORTATTI, 2000a, p. 182)
Desse ponto de vista, conforme explica Cademartori (1986, p. 6):
A literatura infantil se caracteriza pela forma de endereçamento dos textos ao leitor.A idade deles, em suas diferentes faixas etárias, é levada em conta. Os elementosque compõem uma obra do gênero devem estar de acordo com a competência deleitura que o leitor previsto já alcançou. Assim, o autor escolhe uma forma decomunicação que prevê a faixa etária do possível leitor, atendendo seus interesses erespeitando suas potencialidades. A estrutura e o estilo das linguagens verbais evisuais procuram adequar-se as experiências da criança. Os temas são selecionadosde modo a corresponder às expectativas dos pequenos, ao mesmo tempo e que ofoco narrativo deve permitir a superação delas.
Com relação aos instrumentos de pesquisa, eles se constituem como“[...] obra de
referência, publicada ou não, que identifica, localiza, resume ou transcreve, em diferentes
graus e amplitudes, fundos, grupos, séries e peças documentais existentes num [ou mais]
arquivo permanente [...]” (DICIONÁRIO DE TERMINOLOGIA ARQUIVÍSTICA,1996, p.
45). Desse modo, o instrumento de pesquisa “[...] constitui-se em vias de acesso do
historiador ao documento, sendo a chave da utilização dos arquivos como fontes primárias da
História.” (BELLOTO, 1979, p. 133). “Qualquer que seja a orientação do trabalho histórico a
que se proponha um pesquisador, dentro do vastíssimo campo que se abre hoje à História [...]
ele necessitará, indubitavelmente do texto colocado ao seu alcance pelo instrumento de
pesquisa.” (BELLOTTO, 1979, p. 137).
Essa compreensão dos instrumentos de pesquisa dialoga com um tipo de pesquisa
defendida no campo da literatura infantil por Ceccantini (2003), qual seja a que resulte na
formulação de “Atlas”. Segundo esse autor, esse tipo de pesquisa representa a forma de “[...]
assegurar a constituição de uma base sólida de tal modo que o campo possa de fato avançar
numa perspectiva horizontal ou vertical.” (CECCANTINI, 2003, p. 27). Ceccantini (2003)
argumenta, ainda, que a produção de “Atlas” é imprescindível para saltos qualitativos na
pesquisa sobre literatura infantil, pois ela compreende:
[...] “apresentação organizada de dados”, [elaboração] de “base”, “fundamento”,“mapa”, “sustentação”, “fundamentação”, “suporte”, o que corresponde, no país,ainda hoje, ao tipo de pesquisa que é imperativo realizar na área de literaturainfanto-juvenil para que trabalhos de maior envergadura possam ser lançadosadiante. Com maior nitidez devem ser definidos certos aspectos relevantes, taiscomo: flancos a atacar; os trabalhos essenciais que não se pode deixar de fazer; aslacunas que devem ser preenchidas; um certo mapeamento imprescindível da área,configurando, por sua vez, um conjunto de atividades de investigação compatíveiscom as atuais concepções de Iniciação Científica, Especialização, Mestrado,Doutorado e Pós-doutorado [...] (CECCANTINI, 2003, p. 28).
20
Os instrumentos de pesquisa, nesse sentido, são centrais no desenvolvimento de
pesquisas históricas, pois possibilitam sistematizar um conjunto disperso de informação e
fontes, dando a elas certa inteligibilidade. Mais que isso, ao se produzir levantamentos
documentais e bibliográficos que resultam em instrumentos de pesquisa, contribui-se para o
desenvolvimento de pesquisas correlatas, históricas ou não, que se voltam a análises pontuais
e/ou aprofundadas sobre aspectos contundentes de um tema/campo até então inexplorados
quer pela dispersão documental e quer pela dispersão de informações.
Quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa, como mencionei, fiz a opção pela
pesquisa histórica, que se caracteriza como um tipo de pesquisa cuja especificidade está na
abordagem dos objetos de modo situado no tempo (MORTATTI, 1999). Nesse sentido, “[...]
demanda a recuperação, reunião, seleção e análise de fontes documentais, como mediadas na
produção de um objeto de investigação. (MORTATTI, 1999, p. 73).
Segundo Vieira, Peixoto e Khoury (2002), desenvolver pesquisa histórica significa:[...] recuperar a totalidade, é fazer com que o objeto apareça no emaranhado de suasmediações e contradições; é recuperar como este objeto foi constituído, tentandoreconstruir sua razão de ser ou aparecer a nós segundo experiência social, em vez dedeterminá-lo em classificações e compartimentos fragmentados. (p. 10-11).
Chartier (1990), por sua vez, afirma que, para o trabalho historiográfico, “[...]
deve-se ter em vista o reconhecimento de paradigmas de leitura válidos para uma comunidade
de leitores, num momento e num lugar determinados” (p. 131), pois a leitura: [...] como um acto concreto requer que qualquer processo de construção de sentido,logo de interpretação, seja encarado como estando situado no cruzamento entre, porum lado, leitores dotados de competências específicas [...] e, por outro lado, textoscujo significado se encontra sempre dependente dos dispositivos discursivos eformais. (CHARTIER, 1990, p. 25-26).
Mortatti (2003) aponta que a pesquisa histórica tem contribuído:[...] tanto para a produção de certa mentalidade histórica e preservacionista quantopara a disponibilização de informações a respeito de seus limites e alcance e, porvezes, para a produção de valiosas obras de referência – guias, catálogos,repertórios, inventários, bibliografias comentadas, “estado da arte’, entre outros –,que propiciam a ampliação dos sentidos, usos e funções dos documentos assim comoda pesquisa de fundo histórico [...]. (p.7)
Para a análise do conjunto de informações reunidas no instrumento de pesquisa será
utilizado o conceito de “configuração textual”, que na análise do [...] conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais se referem: àsopções temático-conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais (como?), projetadaspor um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discursoproduzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento
21
histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (paraquê), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) elogrando determinado tipo de circulação, utilização e repercussão. (MORTATTI,2000b, p. 31).
Segundo Mortatti (2000b, p.15), por meio do método de análise da “configuração
textual” se busca a “[...] construção de uma representação, a partir da problematização de
outras representações construídas e tomadas como corpus, mas que não devem ser
confundidas como o objeto de investigação, uma vez que não são ‘dados’ e ‘só falam, quando
se sabe interrogá-los’”.
Coerentemente com a abordagem histórica e com os pressupostos
teórico-metodológicos apresentados, utilizei os seguintes procedimentos metodológicos para o
desenvolvimento da pesquisa:
● leitura da bibliografia especializada;
● localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de referências de textos de e
sobre Ofélia e Narbal Fontes;
● normalização das referências de acordo com a Norma Brasileira de Referência (NBR
6023), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT);
● leitura das fontes documentais; análise do instrumento de pesquisa;
● entrevista com os familiares dos autores Ofélia e Narbal Fontes;
● análise de configuração textual do livro O gigante de botas (1941), de Ofélia e Narbal
Fontes.
Assim, organizei este TCC da seguinte maneira: no primeiro capítulo, apresento uma
breve biografia dos autores Ofélia e Narbal Fontes, contendo aspectos de suas vidas pessoais e
profissionais, bem como de suas produções literárias. No segundo capítulo, apresento a obra
O gigante de botas, enfocando suas edições, estrutura e características narrativas e alterações
que recebeu quando passou a ser publicado pela Editora Ática, na série “Vaga-Lume”. No
terceiro capítulo, abordo o contexto histórico da literatura infantil e juvenil em que O gigante
de botas foi publicado.
Por fim, após as considerações finais, apresento as referências utilizadas para a
elaboração deste TCC, além dos apêndices contendo o instrumento de pesquisa que elaborei
no decurso da pesquisa, e a entrevista transcrita realizada com os netos de Ofélia e Narbal
Fontes.
22
CAPÍTULO 1
OFÉLIA E NARBAL FONTES: ASPECTOS DE SUAS VIDAS E PRODUÇÃO
BIBLIOGRÁFICA
1.1 Aspectos da vida pessoal e profissional de Ofélia e Narbal Fontes7
Ofélia e Narbal Fontes formaram um casal de autores brasileiros que se dedicaram a
escrever, em parceria, livros voltados à infância e à juventude. Casaram-se em 19 de abril de
1934 e tiveram quatro filhos: Miriam Rosário, Narbal e os gêmeos Ameríndio e Basílio8.
Preocupados com a educação primária, os autores fizeram parte do movimento Escola Nova e
grande parte de suas obras possuem caráter paradidático.
Figura 1 - Foto de Ofélia e Narbal Fontes
Fonte: Jornada do Patrimônio da Prefeitura Municipal de São Paulo
Narbal de Marsillac Fontes, professor primário, médico, poeta e escritor, nasceu em 10
de fevereiro de 1899 na cidade de Tietê, localizada no interior do estado de São Paulo. Filho
da poeta e contista Emilia Rosa de Marsillac Fontes e do juiz de direito Joaquim Fontes, que
pertenciam à Academia Sergipana de Letras, se interessou pela literatura ainda na infância,
quando “discursava em público e discutia em versos com seu irmão mais velho” (FONTES;
FONTES, 1962, p. 11).
Formou-se como professor pela Escola Normal Secundária de São Paulo no ano de
1918 e foi professor primário em escolas no interior do estado. Quando se mudou para a
8 Basílio faleceu ainda com alguns meses de vida, por complicações cardíacas.7 Para elaboração deste tópico consultei os trabalhos de: Mello (1954) e Coelho (2006).
24
capital, lecionou na Penitenciária do Estado de São Paulo e atuou na redação dos jornais
“Diário da Noite" e "Folha da Manhã”.
Figura 2 - Foto de Narbal Fontes
Fonte: Livro Ascensão: poemas de amor de Ofélia e Narbal Fontes
Narbal era asmático e sofria de crises de dispneia e, com o intuito de buscar um clima
mais apropriado para sua condição de saúde, mudou-se para o Rio de Janeiro. Lá, formou-se
como médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1930 e, embora não tenha
exercido a profissão, atendia gratuitamente conhecidos, vizinhos e pessoas com poucas
condições financeiras.
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, Narbal Fontes, com o propósito de
contribuir com o movimento, se apresentou para servir como médico e prestar assistência aos
feridos. Entretanto, não foi aceito devido ao seu estado crítico de saúde. Publicou, portanto, o
poema Canto do Soldado Paulista e a sátira política No Reino do Pau Brasil, a fim de exaltar
os combatentes da revolução.
Junto à sua esposa, Ofélia, publicou livros infantis e juvenis e, na década de 1950,
dirigiu o programa “Vamos passear no bosque” da TV Rio. Foi também membro da
Associação Brasileira de Escritores e da Associação Brasileira de Educação.
25
Em 29 de abril de 1960, Narbal de Marsillac Fontes faleceu em sua casa localizada na
cidade do Rio de Janeiro, aos 61 anos de idade, por complicações de sua doença respiratória
que enfrentou durante toda a vida. Em 1962, o Grupo Escolar da Estrada da Conceição
recebeu a denominação de Professor Narbal Fontes em homenagem ao escritor.
Ofélia Avellar de Barros Fontes nasceu na cidade de São Paulo, em 21 de agosto de
1902, e viveu no Rio de Janeiro até a data de seu falecimento. Filha da dona de casa Laura de
Avelar Barros e do contador e comerciante João Caetano da Silva Barros, foi professora
primária, Técnica de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro, escritora e radialista.
Trabalhou nos programas “Rádio Escola”9, patrocinado pela Prefeitura do Distrito
Federal e “Hora do Brasileirinho”10, da Rádio Jornal do Brasil. Além disso, colaborou com a
revista infantil “Mirim” e foi locutora na Rádio Mayrink Veiga11.
Figura 3 - Foto de Ofélia Fontes publicada no jornal Correio Paulistano em 1956
Fonte: Biblioteca Nacional
Em parceria com seu filho Ameríndio, Ofélia concorreu, em 1970, ao prêmio Roquete
Pinto12 para o melhor roteiro de cinema com a obra O Filho do Diabo Velho, baseada no livro
12 A premiação Roquete Pinto foi criada pelo Instituto Nacional do Livro em 1952 e foi extinta em 1982.
11 Emissora de rádio do Rio de Janeiro fundada em 21 de janeiro de 1926 e fechada em 1965 após golpe militarde 1964, com a justificativa de ter feito parte da Campanha da Legalidade, que defendia a posse de João Goulartcomo presidente do Brasil.
10 Ofélia Fontes dirigia o programa infanto-juvenil “A Hora do Brasileirinho”, à época transmitido aos domingospela manhã e promovido pela Caixa Econômica.
9 Posteriormente denominada Rádio Roquette Pinto.
26
O gigante de botas que escrevera juntamente com seu esposo. Apesar do prêmio ter sido
conferido a Lima Barreto, Ofélia e Ameríndio receberam menção honrosa, conforme se
verifica no texto de Maria Lúcia Amaral, publicado no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
Figura 4 - Notícia publicada em 1970 no Diário de Notícias do Rio de Janeiro
Fonte: Biblioteca Nacional
Nesse mesmo ano, 1970, Ofélia participou do concurso Heróis da comunidade
mundial e sua obra com 25 pequenas biografias de figuras da história mundial dirigidas ao
público infanto-juvenil conquistou 4º lugar do concurso internacional promovido pelo
Instituto de Educação da Universidade de Londres e coordenado, no Brasil, pela UNESCO.
Em entrevista realizada para a produção deste trabalho, Charles e Narbal, netos da
autora, contam sobre suas vivências com a avó. Charles revela que moraram juntos de 1977
27
até 1985 e que, nesse período, “ela lia muito, ela lia de tudo. E principalmente, mais do que
ler, durante a maioria desse tempo que morei com ela, ela vivia escrevendo”. Narbal relembra:
“Uma coisa que me lembro com muita nitidez é da vovó me cobrando a escrita de uma
redação. Ela me cobrava sempre...” e acrescenta: “[...] mas ela me ensinou o amor pelo
conhecimento que até hoje eu trago comigo, né? Ela que me ensinou. Ela tinha essa
preocupação muito forte”13.
Em 21 de novembro de 1986, Ofélia Avellar de Barros Fontes faleceu aos 84 anos de
idade, na cidade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, em 1987, o prêmio “O melhor para
criança” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil passou a ser denominado Prêmio
Ofélia Fontes em homenagem à escritora.
Segundo Nelly Novaes Coelho em Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil
Brasileira (2006), a produção de Ofélia e Narbal Fontes iniciou-se com os livros escolares da
série “Pindorama”, lançada em 1920. Essas obras “atendiam aos modernos métodos analíticos
que, na época, começavam a substituir as antigas cartilhas do método sintético” (COELHO,
2006, p.672). Dentre elas, “O Brasileirinho” (1938) foi o que obteve maior sucesso, chegando
a somar mais de vinte reedições. De acordo com Mendonça (2007), os livros da série
“Pindorama” foram distribuídos gratuitamente pelo Ministério da Educação na década de
1930.
Seus vários títulos correspondem, evidentemente, às exigências literárias e didáticasdos anos 1930 a 1950: informar divertindo. Daí as biografias de vultos ilustres, asnarrativas históricas sobre temas de geografia, fauna, flora ou riquezas nacionais e,principalmente, as travessuras no cotidiano, histórias que alimentam os sonhos e asfantasias das crianças. Seus livros infantis ou juvenis conseguiram sempre umexcelente equilíbrio entre as duas intenções que estavam na base de suas narrativas:divertir e formar (ou informar). (COELHO, 2006, p. 673)
Em livro publicado após o falecimento de Narbal, Ascensão: poemas de amor (1962),
Ofélia conta como deram início à carreira de escritores. Segundo a autora, instigados a
participar de um concurso de livros didáticos em São Paulo, cancelaram o noivado para se
dedicarem à escrita de “Pindorama”. O sucesso da obra os inspiraram a dar seguimento na
carreira. Ofélia também menciona a preocupação que os inquietava com relação a educação
brasileira:
13 FONTES, Charles de Marsillac; FONTES, Narbal de Marsillac. Entrevista com os netos de Ofélia e NarbalFontes: Charles e Narbal. [jul. 2021] Entrevistadora: Mariana de Cássia Medrano. Guarulhos, 2021.(APÊNDICE B)
28
O problema brasileiro sempre nos parecera o da educação. Mas como educarmilhões de criaturas espalhadas sôbre milhões de quilômetros quadrados?...Construindo e equipando milhares de escolas e preparando e mantendo muitosmilhares de professores abnegados, por êsses rincões sem confôrto, quase totalmenteprivados de comunicação com os centros civilizados? (FONTES; FONTES, 1962, p.24)
Marisa Lajolo e Regina Zilberman em Literatura Infantil Brasileira: História e
Histórias (2007) apontam Ofélia e Narbal Fontes como pioneiros em uma tendência que se
deu nas décadas de 1940 e 1950 no Brasil, de empregar a temática da colonização, sobretudo
aventuras de bandeirantes, nas obras literárias destinadas a crianças e jovens.
A preocupação em exaltar o nacionalismo e a expansão territorial brasileira levou
alguns autores da época, dentre eles Ofélia e Narbal Fontes, a adotar a figura do bandeirante
como herói em suas narrativas. Em geral, nessas obras, o indígena ocupa uma posição de “[...]
obstáculo a ser removido, junto com a floresta e os animais selvagens; faz parte da paisagem a
ser submetida, o que não o torna bom, nem mau, apenas indesejável.” (LAJOLO;
ZILBERMAN, 2007, p. 105). Dessa forma, os indígenas “[...] são apenas tolerados quando
colaboram com os colonizadores. A condição para tanto é passar pelo filtro da catequese, o
que lhes confere atestado de civilidade” (2007, p. 106).
O expressivo sucesso dos autores ao longo do século XX pode ser confirmado por
meio da quantidade de reedições de suas obras14 e de documentos como o publicado por
Diana Gonçalves Vidal (2015)15, que indica os autores como um dos mais lidos pelas crianças,
equiparadamente a Monteiro Lobato, na Biblioteca Escolar Infantil do Instituto de Educação
“Caetano de Campos”. Além disso, O gigante de botas, Cem noites tapuias (1976) e Coração
de onça fizeram parte da Série Vaga-lume, uma das grandes coleções infanto-juvenis
brasileiras, lançada pela Editora Ática.
No que se refere a premiações, em 1940, O gigante de botas conquistou o 1º Prêmio
do “Concurso de histórias e contos” promovido pela Secretaria de Educação e Cultural do
Distrito Federal16; em 1942, Coração de Onça obteve o 1º Prêmio de Literatura Juvenil do
16 MENDONÇA, C. T. À sombra da Vaga-Lume: Análise e Recepção da Série Vaga-Lume. Tese (Doutorado emLetras) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2007.
15 VIDAL, Diana Gonçalves. Experiências do passado, discussões do presente: A biblioteca escolar infantil doInstituto de Educação Caetano de Campos (1936-1966). Perspectivas em Ciência da Informação (Online), v.19,p. 195-210, 2015.
14 Mais informações em Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): uminstrumento de pesquisa (APÊNDICE A)
29
Departamento de Cultura do município de São Paulo17; e em 1976, o livro Cem noites tapuias
foi premiado na categoria Literatura Infantil do Prêmio Jabuti18.
Para COELHO (2006), esse sucesso se deve ao fato de que Ofélia e Narbal Fontes
utilizavam, em seus textos, uma linguagem acessível para o público infanto-juvenil, fazendo
uso de “[...] situações bem-humoradas, dinâmicas e atraentes para a criançada” (p. 673), além
de corresponderem ao ideal de literatura infantil da época, com funções informativas.
18 Prêmio literário brasileiro de maior relevância, criado em 1959 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).17 FNLIJ. Bibliografia Analítica da Literatura Infantil e Juvenil Publicada. Porto Alegre. Mercado Aberto. 1984.
30
1.2 Bibliografia de Ofélia e Narbal Fontes
Por meio da elaboração do instrumento de pesquisa citado anteriormente, Bibliografia
de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): um instrumento de
pesquisa (MEDRANO, 2021), localizei 109 referências de textos de Ofélia e Narbal Fontes e
14 sobre o casal, totalizando 123 referências.
Dentre as 109 referências de textos organizadas na seção “Produção de Ofélia e Narbal
Fontes” do instrumento de pesquisa, 60 tratam-se da primeira edição ou edição mais antiga
dos títulos localizados. Dessa forma, foram encontrados 29 títulos de literatura
infanto-juvenil; 8 de livros paradidáticos; 7 de traduções; 5 de biografias romanceadas; 3 de
textos publicados em revistas; 2 de histórias em quadrinhos; 2 de poemas; 2 de peças de
teatro; e 2 de música.
31
Tabela 1 - Títulos de Ofélia e Narbal Fontes, por tipo de texto e ano de publicação
Literaturainfanto-juvenil
Livrosparadidáticos
Traduções Biografiasromanceadas
Textospublicadosem revistas
Históriasem
quadrinhos
Poemas Peças deteatro
Música Total pordécada
1930-1939 1 2 - 1 - - - - 1 5
1940-1949 7 1 3 1 1 - - - 1 14
1950-1959 7 2 - - 2 2 1 - - 14
1960-1969 1 - 1 2 - - 1 - - 5
1970-1979 9 1 3 1 - - - - - 14
1980-1989 2 - - - - - - - - 2
1990-1999 - - - - - - - - - -
2000-2009 - - - - - - - - - -
(s/d), 19--19 2 2 - - - - - 2 - 6
Total portipo de texto
29 8 7 5 3 2 2 2 2 60
Fonte: Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): um instrumento de pesquisa (MEDRANO, 2021)
19 Datas imprecisas ou não localizadas.
32
Por meio da leitura dos dados apresentados na Tabela 1, é possível constatar uma
maior quantidade de produções do casal entre as décadas de 1940 e 1950, uma queda na
década de 1960, marcada pelo falecimento de Narbal Fontes, uma retomada na década de
1970, e uma pequena quantidade na década de falecimento de Ofélia, 1980.
Entretanto, se analisarmos as demais edições de cada título, conforme apresentado na
Tabela 2, pode-se verificar que o maior número de edições publicadas se deu entre as décadas
de 1970 e 1980 e que, mesmo após o falecimento do casal, até a década de 2000 foram
publicadas novas edições de títulos anteriormente lançados.
Tabela 2 - Total de referências de publicações de Ofélia e Narbal Fontes, por ano de
publicação
Década de publicação Total por década1930-19391940-19491950-1959
51516
1960-1969 61970-1979 251980-19891990-19992000-2009(s/d), 19--20
23667
Fonte: Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): um instrumento de
pesquisa (MEDRANO, 2021)
A partir da análise desses dados, também é possível constatar que a maior produção
dos autores se deu na categoria infanto-juvenil, uma vez que, além de constituir o maior
número de obras, grande parte delas possui uma vasta quantidade de edições. Seguindo esta
linha de pensamento, O Gigante de Botas, Coração de onça e Cem noites tapuias foram os
três maiores sucessos de Ofélia e Narbal Fontes, tendo, respectivamente, 17, 9 e 9 edições
localizadas.
20 Datas imprecisas ou não localizadas.
33
1.3 Bibliografia sobre Ofélia e Narbal Fontes
No que diz respeito aos textos sobre Ofélia e Narbal Fontes, pude localizar somente 14
referências que mencionam os autores ou que tratam sobre alguma de suas obras. Estão
organizadas na seção “Bibliografia sobre Ofélia e Narbal Fontes” do instrumento de pesquisa
em quatro subseções, sendo: 6 de textos acadêmicos; 3 de textos em revistas científicas; 2 de
textos em capítulo de livro; e 3 dicionário de literatura infantil.
Tabela 3 - Textos que mencionam Ofélia e Narbal Fontes, por década de publicação
Textosacadêmico
s
Textos emrevistas
científicas
Textos emcapítulo de
livro
Dicionário de
Literatura
Infantil
Total pordécada
1950-1959
1980-1989
-
-
-
-
-
1
1
2
1
3
1990-1999 - - - - 0
2000-2009 3 1 1 - 5
2010-2019 3 2 - - 5
Total por
tipo de texto
6 3 2 3 14
Fonte: Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): um instrumento de
pesquisa (MEDRANO, 2021)
A referência mais antiga encontrada que menciona os autores é o Dicionário de
autores paulistas, de Luís Correia de Melo, publicado em 1954. Seguidamente a esse,
localizei outro verbete sobre os autores, esse no Dicionário crítico da literatura infantil e
juvenil brasileira de Nelly Novaes Coelho, publicado pela primeira vez em 1983. No caso do
primeiro verbete, consta informações de natureza biográfica sobre os autores, com destaque
para sua atuação profissional e como escritores. No segundo caso, trata-se de biografia que
destaca a produção literária do casal.
Após esses verbetes, localizei, de 1984, a Bibliografia analítica da literatura infantil e
juvenil publicada no Brasil 1975/1978 da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Trata-se também de obra de referência que relaciona a produção de literatura infanto-juvenil
34
publicada entre 1975 e 1978 no Brasil. Da produção de Ofélia e Narbal Fontes, são
mencionados os livros Os sete irmão Pirulitos (1977), Cem noites tapuias, (1976), a 6º edição
de Coração de onça, (1977), a 4ª edição de O gigante de botas (1975), e a 2ª edição de
Senhor Menino (1975).
Também em 1984, Marisa Lajolo e Regina Zilberman publicaram o livro Literatura
Infantil Brasileira: história e histórias, onde discorrem sobre os autores Ofélia e Narbal
Fontes na medida em que apresentam aspectos da década de 1940 a 1950 no tocante à
literatura infanto-juvenil brasileira.
De quase duas décadas depois, localizei um texto publicado na revista Itinerários da
UNESP que faz uma breve menção ao livro A espingarda de ouro de Ofélia e Narbal Fontes:
A voz da autoridade na literatura infantil (2003), escrito por Maria do Carmo Almeida
Corrêa.
Ainda do início dos anos 2000, localizei o livro Leitura e literatura infanto-juvenil:
memória de Gramado, (CECCANTINI, 2004), em que o autor menciona, no capítulo
“Perspectivas de pesquisa em literatura infanto-juvenil”, Ofélia e Narbal Fontes como uns dos
escritores de livros para crianças e jovens que ainda não receberam devida atenção do ponto
de vista acadêmico-científico.
Em tese de doutorado apresentada à Universidade Federal do Paraná em 2007, À
sombra da Vaga-Lume: análise e recepção da série Vaga-Lume, Catia Toledo Mendonça
selecionou autores de destaque na coleção de livros pesquisada para realizar seu estudo,
dentre eles Ofélia e Narbal Fontes, e verificou tendências literárias nas obras Cem noites
tapuias, Coração de onça e O gigante de botas.
No ano de 2009, foram publicados o texto Livros didáticos e a integração da vida
social e natural, de Antonia Terra de Calazans Fernandes, que apresenta o livro Brasileirinho
de Ofélia e Narbal Fontes como um livro didático que integra áreas diferentes de
conhecimento, e a tese de doutorado Narrativas juvenis brasileiras: em busca da
especificidade do gênero, Larissa Warzocha Fernandes Cruvinel, que apresenta breves
resumos de livros publicados na série Vaga-lume, dentre eles Cem noites tapuias, com o
objetivo de perceber recorrências de características nas narrativas.
Da década seguinte, em 2012, localizei o texto A relação afetiva com a leitura:
memórias de professores (FERREIRA; VALENTE, 2012), que aponta O gigante de botas e
Cem noites tapuias de Ofélia e Narbal Fontes como dois dos livros mencionados por
35
professores em pesquisa sobre memórias de leituras já realizadas. Em 2013, uma das obras do
casal, Vida de Santos Dumont (1935) foi analisada por Valdir Ramalho em seu texto As
biografias históricas de Santos Dumont.
No ano de 2015, Diana Gonçalves Vidal publicou Experiências do passado,
discussões do presente: A biblioteca escolar infantil do Instituto de Educação Caetano de
Campos 1936-1966, texto em que a autora trata sobre aspectos da biblioteca que pertencia à
escola Caetano de Campos, localizada em São Paulo. Ofélia e Narbal Fontes são mencionados
como uns dos autores mais lidos de acordo com os registros referentes aos empréstimos dos
livros.
As referências mais recentes localizadas são de 2016: o texto A temática indígena na
literatura infantil e juvenil: um percurso, de Andrea Castelaci Martins, e a tese de doutorado
Clássicos em quadrinhos e seus editores no Brasil: o ímpeto na produção de adaptações
literárias no século XXI, de Renata Farhat de Azevedo Borges. O primeiro trabalho apresenta
Ofélia e Narbal Fontes como autores de destaque nas obras de literatura direcionadas a
crianças e jovens que empregaram a temática indígena em suas narrativas. A segunda,
menciona o casal como uns dos autores mais "quadrinizados" na Edição Maravilhosa da
Editora Brasil-América Limitada, que traduzia clássicos nacionais para a linguagem de
quadrinhos.
É possível verificar, portanto, a escassez de trabalhos acadêmicos pontuais que se
debruçam sobre Ofélia e Narbal Fontes. Dos poucos que pude localizar, grande parte apenas
faz uma breve menção e não tomam o casal de autores como sujeitos principais da pesquisa
ou da análise.
36
CAPÍTULO 2
APRESENTAÇÃO DE O GIGANTE DE BOTAS
2.1 As edições
O gigante de botas, de Ofélia e Narbal Fontes, foi publicado pela primeira vez em
1941 como obra destinada ao público infantil e juvenil. Conforme consta na Bibliografia
analítica da literatura infantil e juvenil publicada no Brasil (FNLIJ, 1984), no ano anterior à
publicação, recebeu o primeiro prêmio do “Concurso de Contos e Histórias” da Secretaria de
Educação e Cultura do Distrito Federal.
De acordo com os dados levantados para o instrumento de pesquisa (MEDRANO,
2021), O gigante de botas foi a obra de Ofélia e Narbal Fontes que obteve maior número de
edições publicadas. Pude localizar, ao todo, 17 referências de diferentes edições desse livro: a
mais antiga data de 1941 e trata-se da 1ª edição, e a mais recente data de 2008, sendo a 13ª
edição. Por meio de análise da tabela abaixo, é possível presumir que foram publicadas, ao
todo, 13 edições do livro, sendo que a última se manteve a mesma e foi reimpressa em 1997,
2002 e 2008. No ano de 1956, O gigante de botas foi editado em formato de histórias em
quadrinhos pela Edição Maravilhosa da EBAL e, em 2005, foi publicada em braille pela
Editora Ática.
Tabela 4 - Edição e ano de publicação das referências localizadas de O gigante de botas
Ano de publicação Número de edição194119561961197419751977
1ª edição-
2ª edição3ª edição4ª edição5ª edição
1979 6ª edição1982 7ª edição198319871989199219941997200220052008
8ª edição9ª edição10ª edição11ª edição12ª edição13ª edição13ª edição
-13ª edição
Fonte: Bibliografia de e sobre Ofélia Fontes (1902-1986) e Narbal Fontes (1899-1960): um instrumento depesquisa (MEDRANO, 2021)
38
Apesar de a 1ª edição do livro ser da década de 1940, consegui acesso somente à 2ª
edição, publicada em 1961 pela editora Saraiva, que integrou coleção dessa editora com
mesmo nome, criada em 1948 e finalizada em 1972. Nesse período, a coleção “Saraiva”
publicou um total de 232 títulos. Era lançado um por mês e funcionava por sistema de
assinaturas.
2.2 Formato, organização e estrutura narrativa
A 2ª edição de O gigante de botas, publicada pela editora Saraiva em 1961, possui
tamanho de livro de bolso, 12cm de largura por 19cm de altura. Foi escrito em 147 páginas e
não conta com ilustrações além das que foram produzidas para ocuparem a capa e contracapa.
Essas, são coloridas e foram assinadas pelo ilustrador Nico Rosso.
Figura 5 - Capa do livro O gigante de botas (1961)
Fonte: acervo pessoal
39
Em página destinada à sinopse do livro, O gigante de botas é apresentado como uma
novela histórica em que os personagens principais são personalidades reais21. A apresentação
é finalizada da seguinte maneira: “a bandeira que eles empreenderam foi uma das mais
heroicas aventuras da humanidade”. Essa ponderação reafirma o que Lajolo e Zilberman
(2007) apontaram sobre as narrativas escritas entre as décadas de 1940 e 1950: em
consonância com o projeto federal de ocupar o centro-oeste, construir estradas e explorar a
agricultura e pecuária dessa região do país, essas histórias buscavam promover a ideia de
heroísmo com relação aos bandeirantes.A transfiguração desse projeto numa mitologia que reunisse elementos históricos eimaginários é uma tarefa assumida pela literatura infantil, contribuindo para adivulgação desses ideais. (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 105)
O indígena, por sua vez, desempenhava “a função de antagonista, encarnando alguns
dos perigos [...] [ou tratava-se] do obstáculo a ser removido, junto com a floresta e os animais
selvagens” (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 105). Ainda segundo as autoras, só eram
tolerados quando cooperavam com os objetivos tido como heróicos dos homens brancos
colonizadores.
Nesse sentido, Lajolo e Zilberman (2007) apontam que O gigante de botas inaugurou,
em 1941, veio temático que “permaneceu em vigor nas décadas de 40 e 50 [...] [e que] revelou
uma nítida preferência pela história dos bandeirantes” (2007, p. 104). Como mencionei, as
narrativas que se inseriram nessa corrente, de acordo com Lajolo e Zilberman, têm o objetivo
de promover a concepção do heroísmo bandeirante e “da necessidade de o país marchar para
oeste e reabilitar o projeto expansionista desses homens, sendo esta uma das condições para o
progresso” (2007, p. 104).
O livro possui 19 capítulos com, em média, 8 páginas. São eles: Na fazenda do
Anhanguera; Um sonho de 40 anos; A bênção da bandeira; A partida; Sombras fantásticas; A
primeira cruz; Varando o sertão; O roteiro; Para diante; A fé perdida; Êles voltarão!; Os
Quirixás; Rumo à taba Goiá; Os goiás; Os araês; O rio do ouro; O castigo; A carta do
governador; A canção do bandeirante.
Os personagens fundamentais para a narrativa são Capitão Ortiz, Anhanguera,
Belinha, Nuno Ramires, Jerônimo e Nanã. Com relação às suas características, têm-se:
21 “Para Menton (1993) deve se entender como romance histórico as narrativas cuja ação corresponda,predominantemente, a um passado não experimentado pelo escritor e que esteja pautado na reconstituiçãopositiva do passado, ao mesmo tempo que se distancia da historiografia oficial.” (ZUFFO; FLECK, 2011, p. 11)
40
João Leite da Silva Ortiz (Capitão Ortiz) – protagonista da história, é um personagem
destemido, valente, piedoso e bondoso. Considera como ato heróico o desbravar do oeste
brasileiro à busca de ouro e empenha alguns anos de sua vida nessa jornada. Entretanto, não
abre mão de seus valores benevolentes. Além disso, conserva grande paixão por Belinha, filha
de Anhanguera que se torna sua noiva.
Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera) – bandeirante desde jovem, Anhanguera é
um personagem com um único propósito: refazer a trajetória que havia feito com seu pai
quando menino e enriquecer. Na narrativa, não apresenta atos perversos, sendo considerado
um bom homem.
D. Isabel (Belinha) – segunda filha de Anhanguera, Belinha é uma personagem
apaixonada por Capitão Ortiz que vive à sua espera. Não apresenta outras participações na
narrativa que não sejam relacionadas ao seu amor por Capitão Ortiz.
Nuno Ramires – Conhecido por suas violências e injustiças, o feitor Nuno Ramires
articula uma traição contra Anhanguera e trama uma emboscada para Capitão Ortiz. Trata-se
de um personagem ambicioso e malfeitor, sendo o antagonista da narrativa.
Jerônimo – escravo fiel à Anhanguera e Capitão Ortiz, Jerônimo ajuda a impedir Nuno
Ramires de agir deslealmente. Sua fidelidade deve-se ao fato de que considera ser bem tratado
por Capitão Ortiz e, como os demais escravos da narrativa, sofre com os castigos violentos de
Nuno Ramires.
Nanã – indígena pertencente à tribo Araê, Nanã é uma personagem considerada
bondosa por colaborar com os bandeirantes. Compadecida com o fim que teria Capitão Ortiz
ao ser capturado por guerreiros de sua tribo, Nanã liberta-o e indica o caminho do ouro. Com
isso, trai os Araês, que a atingem com uma flecha fatal.
O narrador de O gigante de botas utiliza-se da terceira pessoa do discurso e não faz
parte da história narrada, caracterizando-se como heterodiegético22. Além disso, descreve
ações, diálogos e sentimentos de todos os personagens. Entretanto, não faz apontamentos
opinativos sobre eles. Dessa forma, o foco narrativo é definido como onisciente neutro
(FRANCO JUNIOR, 2009), como pode-se confirmar no fragmento abaixo:O esforço feito durante o ataque dos quirixás mais uma vez esgotara os sertanistas,já bastante depauperados. De modo que, acabada a visita do cacique Abaeté, o chefeordenou uma folga completa para o resto da tarde. Na madrugada seguinte, partiram.
22 “Não é co-referencial com nenhuma das personagens da diegese, [...] não participa, por conseguinte, dahistória narrada. [...] Pode manifestar-se como um 'eu' explícito ou como um narrador apagado, de 'grau zero'''(AGUIAR E SILVA, 1988, p. 761).
41
E os homens puderam descansar e devanear à vontade, alentando o espírito, namedida do pessimismo que já atingira a todos. (FONTES; FONTES, 1961, p. 99)
O tempo da narrativa é cronológico, ou seja, “pode de ser mensurado pela passagem
dos dias, das estações do ano, de datas, enfim, por todo tipo de marcação temporal objetiva”
(FRANCO JUNIOR, 2009, p. 46). Além disso, a ordem da história e do discurso coincidem,
seguindo princípio, meio e fim, sem anacronias.Só depois de quatro dias de caminhada, a bandeira saiu da mata e marchou por umacampina até as barrancas do rio Mogi. E como já fosse tarde, armou acampamentoali mesmo. Já ao clarear do outro dia, atravessava o rio a vau, com água pelo peito..(FONTES; FONTES, 1961, p. 49)
Os espaços em que a história é narrada são variados: a fazenda de Anhanguera
localizada em Parnaíba, onde ocorre o romance entre Capitão Ortiz e Belinha; a frente da
igreja na cidade de São Paulo, onde os aventureiros se despedem de suas famílias; os trajetos
realizados pela bandeira no sertão e as aldeias das tribos Quirixá, Goiá e Araê, onde travam-se
batalhas entre os bandeirantes e os indígenas, além dos conflitos entre os próprios
aventureiros; e o Rio Vermelho, onde o ouro é encontrado.
2.3 O enredo
O gigante de botas é baseado na história de João Leite da Silva Ortiz e seu sogro e
sócio Bartolomeu Bueno da Silva, mais conhecido como Anhanguera23. Foram sertanistas
bandeirantes no século XVIII que, em 1722, conduziram uma expedição para Goiás em busca
de ouro, com o intuito de percorrer os mesmos caminhos que Anhanguera já havia percorrido
ainda quando jovem junto ao seu pai24.
A história inicia-se com o Capitão Ortiz, em 1722, chegando à fazenda de
Anhanguera, localizada em Paranaíba no interior do estado de São Paulo. Belinha, uma das
seis filhas de Anhanguera, acabara de receber a notícia, por uma de suas escravas, de que
havia sido prometida ao cavaleiro e, prontamente, corre para recebê-lo com um copo d’água.
Os jovens conversam sobre seus sentimentos e Belinha expressa preocupação quanto à
jornada que seu prometido estava prestes a iniciar junto a seu pai: “Tenho tanto medo que lhe
24 Bartolomeu Bueno da Silva pai, ou Anhanguera, foi um dos primeiros bandeirantes que se dedicaram adesbravar o interior do país durante o século XVII.
23 A história contada em O gigante de botas faz referência ao segundo Bartolomeu Bueno da Silva. Seu paipossuía o mesmo nome e recebeu o título de Anhanguera por, em uma de suas expedições, ter ateado fogo emuma tigela com aguardente a fim de convencer indígenas da tribo Goyá a lhe entregarem ouro, ameaçando-os eafirmando que incendiaria os rios caso não atendessem seu pedido.
42
aconteça alguma coisa!... Ouço dizer que os sertanistas sofrem tanto!” (p. 11). Durante o
diálogo, é possível notar uma idealização dos bandeirantes em discursos como o de Ortiz: “me
orgulho, Belinha, de descender de uma estirpe de heróis” (p. 11).
O casal se despede e, logo em seguida, o pai da moça chega no local e comunica à
Ortiz que eles poderiam iniciar a expedição em busca de ouro, pois haviam recebido a licença
do rei. Informou também que confiaria seus homens à vigia do Nuno Ramires, feitor pelo qual
Capitão Ortiz dispunha de certa desconfiança. No mês seguinte, a bandeira parte de São Paulo
rumo ao interior de Goiás.
Durante o percurso, os aventureiros conversavam sobre as dificuldades que os
esperavam, como os perigos das florestas e das tribos antropófogas. Após meses do início da
jornada, a “bandeira estava reduzida a um punhado de criaturas famintas, maltrapilhas,
febrentas, opadas e moribundas” (FONTES; FONTES, 1961, p. 58). Isso propicia Nuno
Ramires a unir alguns aventureiros para tramar uma rebelião contra Anhanguera e Capitão
Ortiz e, assim, assumir a bandeira. Entretanto, é descoberto por Jerônimo, escravo fiel à
Anhanguera, e Capitão Ortiz, que interrompe seu plano mas concede-lhe uma chance de
redenção.
Na fazenda de Anhanguera, Belinha, suas irmãs e sua mãe, rezavam incansavelmente
para que seus queridos cumprissem a missão e retornassem com saúde para São Paulo. Apesar
da esperança, viviam angustiadas pela saudade e falta de notícias.
Com pouca esperança de encontrar alimento e o caminho para o ouro, a bandeira
realiza uma noite de oração guiada por Frei Cosme, Frei Luís e Frei Antônio e, logo na manhã
seguinte, avista uma roça abandonada repleta de plantações fartas. No fim da tarde, após se
alimentarem, os aventureiros seguem para desbravar os arredores do local e se deparam com
uma aldeia indígena. São rapidamente denunciados pelos latidos dos cães da aldeia e, assim,
inicia-se uma batalha, mas, ao saber que se tratava de Anhanguera, o cacique apresenta-se
como amigo do pai do bandeirante e se prontifica a indicar o caminho para o ouro.
Durante o caminho indicado pelo cacique, Nuno Ramires, aproveitando que Capitão
Ortiz precisara regressar a fim de procurar Frei Cosme que ficara para trás, retoma o plano de
trair os seus chefes. Para isso, altera as marcas que indicariam o caminho para o capitão
reencontrar a bandeira. Ao caírem na armadilha, Ortiz e Frei Cosme perdem-se e são
capturados por uma tribo antropofágica que os torna prisioneiros. Preparando-se para serem
devorados, surpreendem-se ao receberem ajuda de uma mestiça pertencente à tribo, Nanã.
43
Sensibilizada com a condição dos prisioneiros, Nanã liberta-os e guia-os ao Rio Vermelho,
onde encontrariam ouro, mas, de súbito, é flechada. Enquanto Capitão Ortiz tenta socorrê-la,
Frei Cosme dirige-se correndo à bandeira que já estava perto dali, para buscar ajuda e
comunicar que havia encontrado o local do ouro.
Inicia-se uma batalha entre os guerreiros bandeirantes e a tribo Araê. O feitor Nuno
Ramires e seus companheiros buscam um atalho para chegarem ao Rio Vermelho e tomarem
para si o tesouro, mas são cercados e arrastados para a mata por indígenas e, assim, a batalha é
cessada. Nanã não suporta os ferimentos e, sobre o local onde foi sepultada, ergue-se uma
cruz e realiza-se uma oração entre os freis e os demais bandeirantes.
Após três anos da partida, em 1725, Anhanguera e sua bandeira retornam à São Paulo
com a notícia de que a missão havia sido cumprida. A cidade e familiares que já não tinham
muita esperança em revê-los, os recebem com imensa alegria. Belinha e Capitão Ortiz se
reencontram e trocam palavras de carinho. No dia seguinte, toda a família se prepara à partida
para Goiás e, assim, encerra-se a narrativa.
44
2.4 O gigante de botas na série Vaga-Lume
Em 1974, pouco mais de três décadas após a data de publicação da 1ª edição de O
gigante de botas, o livro passou a fazer parte da série Vaga-Lume da Editora Ática, já em sua
3ª edição.
A Editora Ática surgiu em junho de 1965 com a publicação de apostilas e livros
didáticos. Entretanto, na década de 1970 passou a editar obras de literatura, com a criação das
séries Bom Livro25 e Vaga-Lume (MENDONÇA, 2007). Entretanto, com o objetivo de atender
demandas da época, mais especificamente da Lei Federal nº 5.692, de 1971 que obrigou “o
ensino da língua nacional por meio de textos literários - e estimulou o uso e o consumo da
literatura brasileira contemporânea” (FERNANDES, 2013, p. 26), não deixou de lado as
intenções pedagógicas em suas publicações.
Desde seu surgimento, a série Vaga-Lume conquistou grande sucesso no contexto
escolar, sendo adotada por professores da educação básica e marcando uma geração de
leitores (CRUVINEL, 2009). Dessa forma, a série conquistou expressivo sucesso e continua
sendo publicada e lançando novos títulos até os tempos atuais.
As primeiras publicações foram reedições de clássicos brasileiros, entretanto,
posteriormente, passou a publicar obras inéditas.
No âmbito da série “Vaga-Lume”, foram localizadas (MEDRANO, 2021) dez edições
de O gigante de botas, sendo a mais antiga de 1974 e a mais recente de 2008. Ao integrar a
coleção, a obra passou a medir 20,5cm de altura por 13,8cm de largura, seguindo o formato
padrão da série e layout que foi criado por Ary Almeida Normanha. Na capa, consta uma
grande ilustração colorida, além de título e nome dos autores na parte superior. Em O gigante
de botas, as ilustrações foram produzidas por Milton Rodrigues Alves.
O volume compreende 78 páginas divididas em 9 capítulos. Conta com 9 ilustrações
em preto e branco distribuídas ao longo do texto que cumprem o papel de representar e dar
destaque a trechos selecionados da narrativa. Na figura 7, disposta na página a seguir, por
exemplo, apresento ilustração que faz referência à seguinte parte do texto: “Os prisioneiros
foram levados à presença do cacique. Anhanguera, puxando a rédea do seu cavalo,
adiantou-se” (FONTES; FONTES, 1974, p. 57).
25 A série Bom Livro foi criada em 1970 pela Editora Ática e constituía-se de livros paradidáticos clássicosbrasileiros e portugueses.
45
Figura 6 - Capa do livro O gigante de botas (1974)
Fonte: acervo pessoal
Figura 7 - Ilustração do livro O gigante de botas (1974)
Fonte: acervo pessoal
46
O gigante de botas também ganhou, na Editora Ática, um suplemento de trabalho,
elemento que, segundo Lajolo e Zilberman (2007) demonstra os fins predominantemente
didáticos das obras literárias destinadas a crianças e jovens na época.
Todos os livros publicados na série Vaga-Lume acompanhavam um encarte com um
suplemento de trabalho, que indicava questões a serem respondidas a partir da leitura do livro.Outra forma de adequação a esse mercado ávido, porém desabituado da leitura foi ainclusão, em livros dirigidos à escola, de instruções e sugestões didáticas: fichas deleitura, questionários, roteiros de compreensão de textos marcam o destino escolarde grande parte dos livros infanto-juvenis a partir de então lançados, quando tambémse tornam comuns as visitas de autores a escolas, onde discutem sua obra com osalunos. (LAJOLO; ZILBERMAN, 1987, p. 123)
Figura 8 - Primeira página do suplemento de trabalho O gigante de botas (1974)
Fonte: acervo pessoal
O suplemento de trabalho do livro O gigante de botas foi escrito por Maria
Aparecida Spirandelli e possui quatro seções de atividades. A primeira é intitulada de
47
personagens e possui duas atividades: um jogo de palavras cruzadas com o nome dos
personagens da história e um desafio que solicita que se conecte algumas frases apresentadas
aos personagens que as disseram. Na segunda seção, resumo do livro, o leitor precisa recriar
legendas para as nove ilustrações que integram a obra, de forma que conte, resumidamente, o
que se passou na história. A terceira seção, intitulada de ambiente, possui duas atividades:
uma delas solicita a identificação, em um mapa, da localização dos rios citados no livro. A
outra, requer que o leitor relembre datas da narrativa e realize uma conta simples de
matemática envolvendo essas datas. Na quarta e última seção, mensagem, é concedido um
espaço de sete linhas para que o leitor possa redigir sua opinião sobre a história.
Não há, portanto, no suplemento de trabalho que acompanha O gigante de botas da
série “Vaga-Lume” questões que estimulem a reflexão acerca de aspectos literários da
narrativa. São, em geral, atividades pensadas para conferir a leitura de maneira bastante
objetiva e exercitar conhecimentos de matérias distintas, como geografia, matemática e
raciocínio lógico. Isso reafirma que, “em situações escolares, o texto costuma virar pretexto,
ser intermediário de aprendizagens outras que não ele mesmo” (LAJOLO, 1982, p. 53) e
revela aspectos que podem estar diretamente associados às origens dos livros infanto-juvenis
brasileiros: a literatura escolar.
Na orelha da capa, o mascote criado para a série, Luminoso, dialoga com o leitor
realizando uma breve sinopse do livro em linguagem informal. Em formato de histórias em
quadrinhos, Luminoso enuncia: “Oi, pessoal, tudo legal? / Nesse novo livro, O gigante de
botas, vamos voltar à época de Bartolomeu Bueno da Silva, mais conhecido por Anhanguera,
um bandeirante forte e audaz. / Nessa história ele vai para Goiás, e com seus companheiros se
mete em terríveis aventuras. Tudo para descobrir as fabulosas minas de ouro da região. / Mas
até encontrar o ouro, os bandeirantes passavam cada uma de deixar os cabelos em pé. / Teve
um monte de confusão com os índios que vou te contar… / No meio desses lances, tem uma
história amorosa, cheia de intrigas, que vale a pena. Agora vamos lá. Comece logo a leitura,
que você não vai se arrepender.” De acordo com Oliveira (2018), esses elementos evidenciam
o público a quem a série se direciona: o jovem leitor.Como se pode observar, embora esse quadrinho não explicite qual seja o públicoleitor a que se destina o livro, as ilustrações possibilitam presumir se tratar de umpúblico jovem, seja pelos traços que as personagens apresentam, seja pelo linguajarda mascote para com eles. (OLIVEIRA, 2018, p. 209)
48
Figura 9 - Orelha do livro O gigante de botas (1974)
Fonte: acervo pessoal
Outro sinalizador de que a série Vaga-Lume conservava preocupações em atender
demandas escolares são as notas de rodapé que explicam termos utilizados no decorrer da
narrativa, como uma espécie de dicionário. Por exemplo, há a seguinte nota de rodapé para a
palavra carijós: “nação de índios que habitavam o sul do Brasil”. É possível verificar que se
fez uso dessas notas explicativas em todas as situações em que foram utilizadas palavras que
não faziam parte do vocabulário usual da época de publicação da edição.
Sobre o enredo, vale destacar que as edições publicadas pela Ática sofreram algumas
alterações. Grande parte das descrições relativas ao espaço, características dos personagens e
seus movimentos e ações foram retiradas ou resumidas. Além disso, na edição publicada pela
Saraiva, a obra apresentava diálogos mais prolongados, que também sofreram reduções e
cortes na edição da Ática. Isso explica a diminuição considerável do número de páginas
quando O gigante de botas passou a integrar a série “Vaga-Lume”: de 147 para 79 páginas.
Essa estratégia de reduzir o texto escrito à medida em que se insere ilustrações
também confirma o propósito da Editora Ática de conquistar o público juvenil, “visando
atingir esse nicho editorial que se expandia com a ampliação da obrigatoriedade escolar e com
49
o reconhecimento social a juventude como etapa distinta da infância e da vida adulta”
(OLIVEIRA, 2018, p. 213).
50
CAPÍTULO 3
O GIGANTE DE BOTAS EM SEU CONTEXTO
3.1 O gigante de botas e o nacionalismo
O gigante de botas (1941) de Ofélia e Narbal Fontes insere-se em um período
marcado pelo nacionalismo nas obras literárias destinadas à crianças (LAJOLO;
ZILBERMAN, 2007). Vale ressaltar que, poucas décadas antes da data de publicação do livro,
não havia uma literatura nacional direcionada ao público jovem. A literatura infantil
restringia-se, até o final do século XIX, a traduções de clássicos europeus e adaptações
portuguesas, que pouco dialogavam com a realidade brasileira.Os textos que justificam as queixas de falta de material brasileiro são representadospela tradução e adaptação de várias histórias européias que, circulando muitas vezesem edições portuguesas, não tinham, com os pequenos leitores brasileiros, sequer acumplicidade do idioma. Editadas em Portugal, eram escritas num português que sedistanciava bastante da língua materna dos leitores brasileiros. (LAJOLO;ZILBERMAN, 2007, p.29)
Com o início do regime republicano, o Brasil passou a buscar “no texto infantil e na
escola (e, principalmente, em ambos superpostos) aliados imprescindíveis para a formação de
cidadãos.” (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 31). As obras do gênero publicadas nessa
época possuíam características maniqueístas, rigidamente moralizantes e demonstravam
grande preocupação com uma linguagem correta e culta.Reencontra-se, nesta preocupação perfeccionista com a linguagem, a função demodelo que a literatura produzida para crianças assume nesse período. Assim, alémde fornecer exemplos de qualidades, sentimentos, atitudes e valores a sereminteriorizados pelas crianças, outro valor a ser assimilado, e que o texto devemanifestar com limpidez, é a correção de linguagem. (LAJOLO; ZILBERMAN,2007, p. 41)
Na década de 20, Monteiro Lobato, interessado em fazer uso de uma linguagem que
interessasse às crianças brasileiras, rompeu com essas propostas (ARROYO, 1968). Além de
desprender-se da necessidade de uma escrita correta do ponto de vista da norma padrão,
embora o autor tenha mantido preocupações pedagógicas, elas não imperavam em suas obras,
concedendo também espaço à criatividade e ao maravilhoso. Dessa forma, “Monteiro Lobato
inicia a invenção literária que cria o verdadeiro espaço da literatura infantil no Brasil”
(COELHO, 2006, p. 47).
De acordo com Coelho (2006), em contraposição às rupturas realizadas por Monteiro
Lobato, emerge, na década de 1940, um pensamento com duras críticas aos contos de fadas, à
fantasia e à abertura para imaginação em obras de literatura infantil. Isso se deve às reformas
relativas ao campo da educação, como a Lei Orgânica do Ensino Primário e a Lei Orgânica do
Ensino Normal, de 1946, que objetivavam “formar o cidadão, o indivíduo preparado para
52
cooperar com a comunidade social e com os ideais cívicos, em função do progresso e da
unidade nacional” (COELHO, 2006, p. 50). Com base nessas ideias, via-se, na literatura
fantástica, uma ameaça à formação cívica das crianças.Defendia-se o princípio de que os contos de fadas falsificavam a realidade e queseriam perigosos para a criança, pois poderiam provocar em seu espírito uma sériede alienações como: perda de sentido do concreto, evasão do real, distanciamento darealidade, imaginação doentia, etc. (COELHO, 2006, p. 50)
A idealização do bandeirante e a romantização da ocupação do Centro-Oeste em O
gigante de botas (1941) apresentam os traços nacionalistas que estavam em consonância com
a ideia de um Brasil próspero da época, que visava ocupar as regiões “inaproveitadas”,
sobretudo no Centro-Oeste do país e na Amazônia. De acordo com Lajolo e Zilberman
(2007), essa obra inaugurou a tendência literária que optava por narrativas acerca de aventuras
bandeirantes.Essas narrativas se afinam a um fenômeno da época: a ocupação de regiões até entãointocadas e, portanto, não integradas às diretrizes econômicas do país. A construçãode estradas, de uma nova capital no sertão, a ênfase na exploração da agricultura epecuária no Centro-Oeste, os projetos para a Amazônia — todas estas são iniciativasfederais que denunciam uma nova maneira de encarar áreas inaproveitadas.(LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 105)
Apesar de Ofélia e Narbal Fontes terem produzido uma literatura infantil com marcas
do projeto escolar de formação da infância com ênfase nacionalista que idealizava as
expedições bandeirantes, apresentam, especialmente em O gigante de botas, uma estética
literária que leva em consideração a duplicidade “recreativa” e formativa da literatura infantil,
portanto também uma preocupação de natureza artística de sua obra. Segundo Arroyo (1968),
o casal está entre os autores “que se destacam pela apresentação de uma obra literária para
crianças perfeitamente definida e válida” (ARROYO, 2011, p. 309).
Em coluna publicada no Jornal do Brasil do Rio de Janeiro em 1971, Ofélia Fontes
expressa sua opinião sobre contos de fadas:Há, atualmente, certa má vontade para com as fadas. Mas, tornando verossímil einverossímil, elas oferecem, aos pequeninos, momentos de tal enlevo eencantamento, que seria uma perversidade privá-los de seu convívio. A ilustremestra de literatura infantil, que é Fryda S. Mantonavi, afirmava ser “um erromenosprezar o conto de fadas, a mais salutar encarnação da literatura infantil” e vê,em Andersen, “o poeta das fadas que povoam a infância, a etapa mais lógica davida.” (FONTES, 1971, p. 71)
O nacionalismo presente em O gigante de botas, portanto, corresponde às ideias a
respeito da literatura infantil e juvenil que perduraram, com maior intensidade em alguns
momentos e menor em outros, desde o início da República. A relação entre os textos
53
dirigidos às crianças e a educação escolar culminou em uma literatura infantil com caráter
didático e, visto que uma das principais demandas da época era elaborar um “país do futuro” e
educar cidadãos para o novo modelo de sociedade, a temática bandeirante conquistou seu
espaço. Entretanto, embora Ofélia e Narbal Fontes tenham produzido uma literatura infantil
alinhada com os princípios didáticos e nacionalistas, também demonstravam preocupação
com a questão literária.
3.2 A representação do indígena em O gigante de botas
Durante o início do século XX, de acordo com Martins (2016), a representação de
indígenas na literatura infantil e juvenil brasileira foi, de modo geral, preconceituosa e
estereotipada, apresentando-os como bárbaros e selvagens. Esse período “foi marcado pelos
conflitos entre índios e sertanistas que adentravam pelo interior do país, as contendas eram tão
marcantes que, em 1908, o Brasil foi acusado de massacrar seus índios, no XVI Congresso
dos Americanistas de Viena.” (MARTINS, 2016, p. 125).
Conforme Lajolo e Zilberman (2007, p. 105), essa representação ocorreu de diferentes
formas. Uma delas, a principal, é a de antagonista ou onde o indígena representa perigo para o
herói da narrativa. É possível identificar essa concepção no seguinte trecho de O gigante de
botas:— Olha, homem de Deus! Não imaginas o que inventam os marotos dos meuspatrícios a respeito dos teus bugres… Falam em tribos antropófogas, em naçõesselvagens que colecionam cabeças de inimigos, nos que se enfeitam com colaresfeitos com dentes e ossos de suas vítimos, e sei mais lá o que! [...] Se me calhar de irao sertão, lá irei ter. E em sendo Deus servido, hão de ver-me vosmecês de volta,sem sequer haver encontrado nenhum dos monstros que por cá pintam! (FONTES;FONTES, 1961, p. 45)
Outra função desempenhada por indígenas nos textos infanto-juvenis dessa época foi a
de “auxiliar do aventureiro branco, ajudando-o, com grande lealdade, a atingir seus objetivos”
(LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 106), também presente em O gigante de botas:Foi fácil ao mameluco cumprir as ordens de Capitão Ortiz. Sem a menor cerimônia,chamou Manuel Cabeça, com um aceno, para o seu lado, e num instante a sortecomum criou entre êles uma rápida e crescente camaradagem, tanto assim que sepuseram logo a conversar, sem mudar o ritmo da marcha. (FONTES; FONTES,1961, p.45)
Lajolo e Zilberman (2007) enfatizam que, nessas narrativas, “os índios somente são
tolerados quando colaboram com os colonizadores” (p. 106). A personagem Nanã também
retrata essa ideia. Pertencente à tribo Araê, Nanã é filha de homem branco e, na narrativa,
54
volta-se contra sua tribo e sacrifica-se para salvar a vida dos bandeirantes capturados e
mostrar-lhes o caminho ao ouro.
Foram poucas as exceções com relação à temática indígena nessa época. Martins
(2016) aponta Monteiro Lobato como um dos que “soube abordar a temática indígena a seu
modo, através da adaptação da crônica de Hans Staden, em 1927” (p. 125). Lajolo e
Zilberman (2007) indicam Jerônimo Monteiro como único a fugir desse estereótipo em sua
obra Corumi, o menino selvagem (1956).
3.3 Profissionalização dos escritores de literatura infantil e juvenil
Com o crescente número de publicações de textos literários destinados ao público
infantil decorrente da expansão do ensino primário, em 1940 iniciou-se um processo de
profissionalização e especialização de editoras e escritores do gênero no Brasil (LAJOLO E
ZILBERMAN, 2007). Foi justamente nesse contexto que O gigante de botas foi publicado.A profissionalização, acompanhada de especialização, por parte de editoras eescritores, é um dos traços marcantes do período que ocupa as décadas entre 1940 e1960. Ele baliza, portanto, a etapa subseqüente do processo de industrialização queacompanha, em paralelo, a história dos livros para a infância no Brasil. Assim, apósa fase de estruturação do gênero através de iniciativas pioneiras e corajosas, como ade Monteiro Lobato, o momento seguinte foi uma etapa de produção intensa efabricação em série, respondendo de modo ativo às exigências crescentes domercado consumidor em expansão. (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007, p. 85)
Uma das especificidades que marcaram esse período iniciado em 1940 e que perdurou
até meados de 1960, foi a quantidade massiva de produção por parte dos autores e a repetição
de temas e personagens em diferentes obras, muitas vezes com pouca preocupação com a
qualidade literária. Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2007) ponderam que essa repetição se
deu de modo exagerado, levando a um esgotamento de temáticas, fomentando um preconceito
acerca da literatura infantil, apontado por Arroyo (2011), de que trata-se de um gênero de
menor qualidade.Devemos insistir em que a literatura infantil no Brasil não encontrou seus críticos ehistoriadores, mercê, sem dúvida, de um preconceito que não se proclama, mas secultiva: o de que ela é um gênero menor e, assim considerada, não mereceu, nemmerece, melhor atenção. (ARROYO, 2011, p. 304)
Apesar disso, esse aumento na produção de livros literários infanto-juvenis chamou
atenção e “esse assunto ganhou certa visibilidade e notoriedade, de modo que esses livros
começaram a ser tomados como objetos de reflexão em textos de circulação mais ampla”
(OLIVEIRA, 2015, p.54).
55
3.4 Questões da psicologia acerca da literatura infantil e juvenil
A partir de 1940, emergiu um debate, no Brasil, a respeito da necessidade de um
ajustamento psicológico das obras literárias para cada fase da infância. Discutia-se que a
produção literária devia estar de acordo com o desenvolvimento psicológico das crianças,
havendo uma literatura mais adequada para cada faixa etária.
Coelho (2000) enfatiza que, além da idade, há outros fatores que interferem no estágio
em que o leitor se enquadra, como a “inter-relação entre sua idade cronológica, nível de
amadurecimento biopsíquico-afetivo-intelectual e grau ou nível de conhecimento/domínio do
mecanismo da leitura” (COELHO, 2000, p. 32). No entanto, defende a existência de cinco
principais estágios de leitores de acordo com a faixa etária em que se encontram. São eles: o
pré-leitor, que se divide em primeira infância (dos 15 meses aos 3 anos) e segunda infância (a
partir dos 2 ou 3 anos até os 5); o leitor iniciante (entre 6 e 7 anos); o leitor em processo
(entre 8 e 9 anos); o leitor fluente (entre 10 e 11 anos); e o leitor crítico (entre 12 e 13 anos).
O fato de O gigante de botas ter, em sua terceira edição, integrado a série Vaga-Lume
indica ter sido um livro entendido como “adequado” ao público entre dez e quatorze anos,
justamente o público a que se destinava a série, incluindo-se, portanto, nas fases de leitura que
Coelho (2000) chama de leitor fluente e leitor crítico e no que Sosa (1993) denomina de
terceira infância, que diz respeito aos leitores que possuem entre sete e doze anos de idade.
Nessa etapa, segundo o autor, a criança passa por um processo de desenvolvimento do
pensamento lógico ou racional, adquirindo “noções abstratas de tempo, espaço, número,
semelhança e diferença e de causalidade” (p. 169).
Em textos literários apropriados para o leitor fluente, as ilustrações deixam de ser
necessárias, a linguagem utilizada pode ser mais elaborada, e se faz interessante a presença de
heróis ou heroínas “que se entregam à luta por um ideal humanitário e justo” (COELHO,
2000, p. 38). Coelho (2000) ainda aponta contos, crônicas e novelas como os gêneros
narrativos que mais se adequam a esse estágio leitor.
Esses elementos podem ser encontrados em O gigante de botas: na primeira edição do
livro, publicada em 1941, não há ilustrações, a linguagem é mais elaborada e o bandeirante
João Leite da Silva Ortiz é considerado herói da narrativa, com ideais, à época, tido como
benevolentes e altruístas:
56
— Vosmecê sabe que não me faz sombra em terreno nenhum. E vou provar-lhe quenão tenho piedade só de negro cativo, mas também de branco covarde: podia mandarenforcá-lo hoje, como traidor da bandeira. Mas vou conservar-lhe a vida… Querodar-lhe novas oportunidades de aumentar o seu prestígio.— É muito generoso o senhor capitão… (FONTES; FONTES, 1962, p. 66)
Já o leitor crítico deve se atentar à arte da linguagem. “O convívio do leitor crítico
com o texto literário deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo
para penetrar no mecanismo da leitura” (COELHO, 2000, p. 40). A autora aponta a série
Vaga-Lume como coleção ideal para esse público leitor.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso insere-se no Projeto Integrado de Pesquisa
Literatura infantil e juvenil revisitada: temas, formas, finalidades e valor histórico, cultural e
estético da produção literária nos séculos XIX e XX vinculado ao NIPELL - Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa sobre Ensino de Língua e Literatura, coordenado pelo professor
Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira, e tem o objetivo de compreender a relevância dos
autores Ofélia e Narbal Fontes na história da literatura infantil e juvenil brasileira.
Por meio da localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de referências de
textos publicados por Ofélia e Narbal Fontes e por autores que, em e seus trabalhos, fazem
menção ao casal, elaborei o documento Bibliografia de e sobre Ofélia (1902-1986) e Narbal
Fontes (1899-1960): um instrumento de pesquisa. Ao todo, foram localizados 60 títulos
diferentes de autoria de Ofélia e Narbal Fontes e 14 textos de outros autores que os
mencionam.
A partir da análise das referências localizadas, foi possível verificar que, apesar da
significativa produção literária do casal durante o século XX, não há estudos aprofundados
acerca de suas vidas pessoais, atuações profissionais e produções escritas. Portanto, a fim de
apresentar dados biográficos sobre os autores, além da leitura dos textos que os mencionam,
recorri à buscas em jornais publicados durante o século XX disponibilizados em plataforma
online pela Biblioteca Nacional e a uma realização de uma entrevista com os netos dos
autores, Charles e Narbal.
Também por meio do instrumento de pesquisa, pude selecionar o livro O gigante de
botas como objeto de investigação, por ser a obra com maior número de edições publicadas:
ao todo, localizei 17 referências de 13 edições. A partir disso, realizei uma análise do livro,
verificando as mudanças que ocorreram em sua configuração quando, em 1974, passou a fazer
parte da série Vaga-Lume da Editora Ática, que visava atender demandas pedagógicas
relacionadas à literatura infanto-juvenil brasileira, emergidas a partir da Lei Federal nº 5.692
de 1971.
No que se refere às dificuldades, devido à pandemia de Covid-19, este Trabalho de
Conclusão de Curso foi escrito em um contexto extremamente delicado em meio à incertezas,
preocupações, perdas e implicações na saúde mental, agregando mais um desafio a ser
superado. O período de isolamento social também acarretou prejuízos diretos nos processos
de desenvolvimento da pesquisa, com a impossibilidade de visitar acervos físicos e acessar
59
gratuitamente obras literárias de Ofélia e Narbal Fontes e referências bibliográficas sobre o
casal, que poderiam trazer informações relevantes para este trabalho.
Por fim, expresso minha expectativa de que este TCC possa subsidiar futuras
pesquisas que objetivem aprofundar os estudos acerca de Ofélia e Narbal Fontes, além de
demais pesquisas correlatas e, dessa forma, possa contribuir para a produção de uma história
da literatura infantil brasileira.
60
REFERÊNCIAS
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62
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63
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64
APÊNDICE A:BIBLIOGRAFIA DE E SOBRE OFÉLIA FONTES (1902-1986) E NARBAL FONTES
(1899-1960): UM INSTRUMENTO DE PESQUISA
MARIANA DE CÁSSIA MEDRANO
BIBLIOGRAFIA DE E SOBRE OFÉLIA FONTES (1902-1986) E NARBAL FONTES
(1899-1960): UM INSTRUMENTO DE PESQUISA
INSTRUMENTO DE PESQUISA vinculado àPESQUISA Ofélia e Narbal Fontes na Históriada Literatura Infantil Brasileira vinculada aoPrograma de Iniciação Científica (PIBIC).
Orientador: Prof. Dr. Fernando Rodrigues deOliveira.
Guarulhos
2021
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 2
REFERÊNCIAS 4
PRODUÇÃO DE OFÉLIA E NARBAL FONTES 51.1 LITERATURA INFANTO-JUVENIL 51.2 LIVROS PARADIDÁTICOS 101.3 TRADUÇÕES 111.4 BIOGRAFIAS ROMANCEADAS 121.5 TEXTOS PUBLICADOS EM REVISTAS 121.6 POEMAS 121.7 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS 131.8 PEÇAS DE TEATRO 131.9 MÚSICAS 13
BIBLIOGRAFIA SOBRE OFÉLIA E NARBAL FONTES 132.1 TEXTOS ACADÊMICOS QUE MENCIONAM OFÉLIA E NARBAL FONTES 132.2 TEXTOS EM REVISTAS CIENTÍFICAS QUE MENCIONAM OFÉLIA E NARBALFONTES 142.3 TEXTOS EM CAPÍTULO DE LIVRO QUE MENCIONAM OFÉLIA E NARBALFONTES 142.4 DICIONÁRIO DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL 15
APRESENTAÇÃO
Este instrumento de pesquisa resulta de atividades desenvolvidas durante a pesquisa
Ofélia e Narbal Fontes na História da Literatura Infantil Brasileira vinculada ao Programa
de Iniciação Científica (PIBIC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) entre setembro de 2020 e agosto de 2021. Essa pesquisa integra o Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Língua e Literatura (NIPELL) e o Projeto
Integrado de Pesquisa Literatura infantil e juvenil revisitada: temas, formas, finalidades e
valor histórico, cultural e estético da produção literária nos séculos XIX e XX, coordenados
pelo Prof. Dr. Fernando Rodrigues de Oliveira.
Visando contribuir para a produção de uma história da literatura infantil e
compreender o lugar dos escritores Ofélia e Narbal Fontes nessa história, apresento, neste
instrumento de pesquisa, uma relação de referências de textos que mencionam os autores, bem
como publicações de autoria do casal.
Os instrumentos de pesquisa se constituem como “[...] obra de referência, publicada
ou não, que identifica, localiza, resume ou transcreve, em diferentes graus e amplitudes,
fundos, grupos, séries e peças documentais existentes num [ou mais] arquivo permanente [...]”
(DICIONÁRIO DE TERMINOLOGIA ARQUIVÍSTICA, 1996, p. 45), e podem ser
utilizados como “vias de acesso do historiador ao documento, sendo a chave da utilização dos
arquivos como fontes primárias da História.” (BELLOTO, 1979, p. 133). “Qualquer que seja
a orientação do trabalho histórico a que se proponha um pesquisador, dentro do vastíssimo
campo que se abre hoje à História [...] ele necessitará, indubitavelmente do texto colocado ao
seu alcance pelo instrumento de pesquisa.” (BELLOTTO, 1979, p. 137).
A abordagem histórica em educação, utilizada para o desenvolvimento da pesquisa
que resultou neste instrumento de pesquisa, segundo Mortatti (1999), é[...] um tipo de pesquisa científica, cuja especificidade consiste, do ponto devista teórico-metodológico, na abordagem histórica – no tempo – dofenômeno educativo em suas diferentes facetas. Para tanto, demanda arecuperação, reunião, seleção e análise de fontes documentais, comomediadoras na produção do objeto de investigação. (MORATTI, 1999, p.73)
Tendo em vista as bases teóricas expostas, realizei a localização, recuperação, reunião,
seleção e ordenação da bibliografia de e sobre Ofélia e Narbal Fontes a partir de buscas nos
seguintes acervos e sites da internet: Acervo Biblioteca da Escola Caetano de Campos
(1860-1990), catálogos online das bibliotecas da USP (Delalus), da UNESP (Athena e
2
Parthenon), da UFRJ (Minerva), e da Rede Municipal de São Paulo, Catálogo de Teses e
Dissertações da CAPES, Estante Virtual e Google Acadêmico.
As referências localizadas foram elaboradas, neste trabalho, de acordo com a Norma
Brasileira de Referência (NBR 6023), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
e com o Manual de Normalização de Trabalhos Acadêmicos da Universidade Federal de São
Paulo.
Ao todo foram encontradas 60 referências de produção de Ofélia e Narbal Fontes e 14
de produção sobre Ofélia e Narbal Fontes, assim como demonstrado na Tabela 1:
Tabela 1 – Quantidade de referências de textos, por seção:
Seção Quantidade de referências
1. Produção de Ofélia e Narbal Fontes 60
2. Bibliografia sobre Ofélia e Narbal Fontes 14
TOTAL GERAL 74
A Seção 1, “Produção de Ofélia e Narbal Fontes” se divide em nove subseções, de
acordo com o tipo de obra: literatura infanto-juvenil: 29; livros paradidáticos: 8; traduções: 7;
biografias romanceadas: 5; textos publicados em revistas: 3; histórias em quadrinhos: 2;
poemas: 2; peças de teatro: 2; músicas: 2.
Na Tabela 2, apresento as categorias e quantidades de referências de textos de Ofélia e
Narbal Fontes:
Tabela 2 – Quantidade de referências por subseção, da produção de Ofélia e Narbal
Fontes:
Subseção Quantidade de referências1.1 Literatura infanto-juvenil 291.2 Livros paradidáticos 81.3 Traduções 71.4 Biografias romanceadas 51.5 Textos publicados em revistas 31.6 Histórias em quadrinhos 21.7 Poemas 21.8 Peças de teatro 21.9 Música 2
TOTAL 60
3
As referências bibliográficas sobre Ofélia e Narbal Fontes encontradas nesta pesquisa
foram escassas. Apenas 14 produções divididas em quatro categorias: textos acadêmicos que
mencionam Ofélia e Narbal Fontes: 6; artigos em revistas científicas que mencionam Ofélia e
Narbal Fontes: 3; textos em capítulo de livro que mencionam Ofélia e Narbal Fontes: 2;
dicionário de literatura infantil: 3.
Tabela 3 – Quantidade de textos sobre Ofélia e Narbal Fontes, por subseção:
Subseção Quantidade de referências2.1 Textos acadêmicos que mencionam Ofélia eNarbal Fontes
6
2.2 Textos em revistas científicas que mencionamOfélia e Narbal Fontes
3
2.3 Textos em capítulo de livro que mencionam Oféliae Narbal Fontes
2
2.4 Dicionário de Literatura Infantil 3TOTAL 14
REFERÊNCIAS
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(NBR 6023). Rio de Janeiro, 2002.
BELLOTTO, Heloísa Liberali. Os instrumentos de pesquisa no processo historiográfico. In:
Congresso Brasileiro de Arquivologia, 4, 1979, Anais..., p. 133-147.
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Arquivistas Brasileiros; Secretaria de Estado da Cultura, 1996.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Notas sobre linguagem, texto e pesquisa histórica em
educação. História da educação. Pelotas, v. 6, p. 69-77, out. 1999.
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Humanas. Manual de normalização de trabalhos acadêmicos. 5. ed. – Guarulhos: Biblioteca
da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2020. 76 p.
4
1. PRODUÇÃO DE OFÉLIA E NARBAL FONTES
1.1 LITERATURA INFANTO-JUVENIL
FONTES, Narbal. No reino de Pau Brasil: fábulas em três movimentos e um intermezzo. Rio
de Janeiro: L. Fernandes & Irmão, 1933.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Regina, a Rosa de Maio. Rio de Janeiro: Companhia
Carioca, 1942.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; STORNI, Oswaldo. O espírito do Sol. 1.ed. São Paulo:
Melhoramentos, 1946.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; STORNI, Oswaldo. O espírito do
Sol. 4. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1979. Tempo de ler.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; STORNI, Oswaldo. O espírito do
Sol. 5.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1983. Leituras preferidas.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; STORNI, Oswaldo. O espírito do
Sol. 6.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1985. Tempo de ler.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Promessa da Estrêla. São Paulo: Melhoramentos. 1946.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Novas Estórias de Esopo. [s.l.]: [s.n.], 1947.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Talismã de vidro. São Paulo: Melhoramentos, 1947.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; SPECKER, Louis. A trança mágica. [s.l.]. São Paulo:
Melhoramentos, 1949.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Gênio do Bem. [s.l.]: [s.n.], 194?
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; STORNI, Oswaldo. A falsa história maravilhosa. São
Paulo: Melhoramentos, 1951. Alegria.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. A Máscara de face. São Paulo: Ed. Saraiva, 1951.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça: ou “pumasonco”. São Paulo: Saraiva,
1951.
5
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. São Paulo:
Ática, 1972.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 3 ed. São Paulo:
Ática, 1973. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. A Gigantinha. São Paulo: Melhoramentos, 1955.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; SILVA, Fernando Dias da. Aventuras de um côco da
Bahia. 2.ed. São Paulo: Melhoramentos, 1955. Alegria.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal; SILVA, Fernando Dias da. A espingarda de ouro. 5.ed.
São Paulo: Melhoramentos, 1958, Biblioteca Infantil.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Esopo: o contador de histórias. São Paulo:
Melhoramentos, 195-?.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Senhor Menino. Petrópolis: Vozes, 1964.
FONTES, Ofélia. Anda logo, seu molenga. Rio de Janeiro: Ediouro, 1970.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 1941.
Coleção Saraiva.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. Rio de
Janeiro: EBAL, 1956. Edição Maravilhosa.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 1961. Coleção Saraiva.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 3. ed. São
Paulo: Ática, 1974. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 4. ed. São
Paulo: Ática, 1975. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 5. ed. São
Paulo: Ática, 1977. Série Vaga-lume.
6
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1979. Série Vaga-Lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 7. ed. São
Paulo: Ática, 1982. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. ALVES, Milton Rodrigues. O
gigante de botas. 8. ed. São Paulo: Ática. 1983. Série Vaga-lume.
O gigante de botas. O gigante de botas. 9.ed. São Paulo: Ática, 1987.
Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. ALVES, Milton Rodrigues. O
gigante de botas. 10.ed. São Paulo: Ática, 1989. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 11 ed. São
Paulo: Ática, 1992. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. São Paulo:
Ática, 1994.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 13. ed. São
Paulo: Ática. 1997. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 13. ed. São
Paulo: Ática, 2002. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. São Paulo:
Biblioteca Louis Braille, 2005. 1 parte em braille.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O gigante de botas. 13. ed. São
Paulo: Ática, 2008. Série Vaga-Lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. São Paulo: Ática, 1976. Série
Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 4. ed. São
Paulo: Ática, 1977. Série Vaga-Lume.
7
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 5. ed. São
Paulo: Ática, 1978. Série Vaga-Lume
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1980. Série Vaga-Lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 7. ed. São
Paulo: Ática, 1981. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 8. ed. São
Paulo: Ática, 1982. Série Vaga-Lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 9.ed. São
Paulo: Ática, 1984. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. 10.ed. São
Paulo: Ática, 1986. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cem noites tapuias. São Paulo:
Biblioteca Louis Braille, 1998. 3pt. em braille.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 5.ed. São Paulo:
Ática, 1977. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 6. ed. São
Paulo: Ática, 1981. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 7. ed. São
Paulo: Ática, 1983. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 8.ed. São Paulo:
Ática, 1988. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 9.ed. São Paulo:
Ática, 1994. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 10 ed. São
Paulo: Ática, 1997. Série Vaga-lume.
8
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 10. ed. São
Paulo: Ática, 2002. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. São Paulo:
Biblioteca Louis Braille, 2005. 2 partes em braille.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de onça. 10 ed. Paulo:
Ática, 2006. Série Vaga-lume.
FONTES, Ofélia. O índio brasileirinho. Rio de Janeiro: Primor, 1976.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Os sete irmãos Pirulitos. Rio de Janeiro:
Brasil-América, 1977.
FONTES, Ofélia. Encontros com Alice, o flautista de Hamelin e Simba, o marinheiro. Rio
de Janeiro: Brasil-América, 1979. Aventuras fantásticas de Tino e Tina.
FONTES, Ofélia. Encontros com o gênio da garrafa e a rainha das fadas. Rio de Janeiro:
Brasil-América, 1979. Aventuras fantásticas de Tino e Tina.
FONTES, Ofélia. Encontro com o quebra-nozes, o gato de botas, branca de neve e os sete
anões. 1. ed. Rio de Janeiro: Brasil-América, 1979. Aventuras fantásticas de Tino e Tina.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de um rei. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 1979.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. Petrópolis: Vozes, 1979.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1982.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 1984.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. Petrópolis: Vozes, 1986.
9
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1988.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. SALGUEIRO, Bia. Precisa-se de
um rei. 11 ed. Petrópolis: Vozes, 1989.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O bicho “sete-ciências”: viagem de um jabuti através
do Brasil, narrada por ele mesmo. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1984.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. FRANÇA, Eliardo. A velha Bizunga; A formiga
Lavapé. Rio de Janeiro: Brasil-América, 1985.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. FRANÇA, Eliardo. A Velha
Bizunga. Rio de Janeiro: EBAL, 1986.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Heroína Sertaneja. São Paulo: Melhoramentos, 19--.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O leão obediente. São Paulo: Edições Melhoramentos,
19--. Biblioteca Infantil.
1.2 LIVROS PARADIDÁTICOS
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Cartilha do bebê. [s.l.]: [s.n.], 1934.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Pindorama: Terra das Palmeiras. [s.l.]: A Noite, 1937.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Companheiros: História de uma Cooperativa Escolar.
Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1945. Série Pindorama.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Brasileirinho: leitura para o 3o. ano do primário, de
acôrdo com os programas de Ciências, de Linguagem e de Ciências Sociais. 12.ed. Rio de
Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1952. Série Pindorama.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Brasileirinho. 18.ed. Rio de
Janeiro: Primor, 1972.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. FORELL, Lisa. O micróbio Donaldo. São Paulo:
Melhoramentos, 1956.
10
FONTES, Ofélia. O Brasileirinho do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Primor. Instituto
Nacional do Livro, 1975.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Ilha do Sol. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves,
[s.d.].
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Ler, Escrever e Contar. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, [s.d.].
1.3 TRADUÇÕES
WYLER, Rose. AMES, Gerald. O Segredo das Mágicas. Tradução de Ofélia Fontes. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação, 1940.
HAMSUN, Knut. Victoria. Tradução de Ofélia e Narbal Fontes. Rio de Janeiro: Pongetti,
194?.
HAMSUN, Knut. Victoria. Tradução de Ofélia e Narbal Fontes. São
Paulo: Cultura Brasileira, 19--.
KITT, T. Aventuras de João Boboca. Tradução de Ofélia Fontes. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações, 1961. Coleção Fantasminha.
PIAVE, Francesco Maria. La Traviata: drama lírico. Tradução de Narbal Fontes. Rio de
Janeiro: Ministério da Educação, 1940.
REED, Emily. Deixem Papai Dormir. Tradução de Ofélia Fontes. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações, 1970.
ASHERON, Sara. O Gato Medroso. Tradução de Ofélia Fontes. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações, 1970.
BETHELL, Jean. O Macaco no Foguete. Tradução de Ofélia Fontes. Rio de Janeiro: Ediouro
Publicações, 1970.
11
1.4 BIOGRAFIAS ROMANCEADAS
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Vida de Santos Dumont. Rio de Janeiro: A Noite, 1935.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Vida de Santos Dumont. Rio de
Janeiro: A Noite, 1956.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Rui, o maior. [s.l.]: Editora Capitólio, 1949.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Janio: o homem que não tem preço. Rio de Janeiro:
[s.n.], 1960.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Um reino sem mulheres: biografia romanceada de
Nicolau Durand de Villegagnon. Rio de Janeiro: Reper, 1967.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Um reino sem mulheres:
biografia romanceada de Nicolau Durand de Villegagnon. 2. ed. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1986.
FONTES, Ofélia. Heróis da comunidade Mundial. Rio de Janeiro: Expressão Cultura, 1972.
1.5 TEXTOS PUBLICADOS EM REVISTAS
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Histórias Acontecidas. Rio de Janeiro: Revista Vida
Juvenil, 1949.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Melhor Presente. Rio de Janeiro: Revista Vida
Doméstica, nº 454, 1955.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Menino dos Olhos Luminosos. [s.l.]: Revista
Sesinho, nº 119, 1957.
1.6 POEMAS
FONTES, Narbal. Romance de São Paulo: poema do 4º centenário da fundação da cidade
1554-1954. Rio de Janeiro: Capitólio, 1954.
12
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Ascenção: poemas de amor. Rio de Janeiro:
Companhia Brasileira de Artes Gráficas, 1961.
1.7 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Gigante de Botas. Rio de Janeiro: Editora Ebal, 1957.
Edição Maravilhosa.
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Coração de Onça. Rio de Janeiro: Editora Ebal, 1958.
Edição Maravilhosa.
1.8 PEÇAS DE TEATRO
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. O Nascimento do Menino. [s.l.]: [s.n.], [s.d]
FONTES, Ofélia; FONTES, Narbal. Dente do Coelho. [s.l.]: [s.n.], [s.d]
1.9 MÚSICAS
FONTES, Narbal. Bonequinha de seda. [s.l.]: 1936
FONTES, Narbal. Brasileirinho Marcha. [s.l.]: Irmãos Vitale, 1942.
2. BIBLIOGRAFIA SOBRE OFÉLIA E NARBAL FONTES
2.1 TEXTOS ACADÊMICOS QUE MENCIONAM OFÉLIA E NARBAL
FONTES
MENDONÇA, Catia Toledo. À sombra da Vaga-Lume: Análise e Recepção da Série
Vaga-Lume. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2007.
CRUVINEL, Larissa Warzocha Fernandes. Narrativas juvenis brasileiras: em busca da
especificidade do gênero. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) - Universidade Federal de
Goiás. Goiânia. 2009.
13
FERNANDES, Antonia Terra de Calazans. Livros didáticos e a integração da vida social e
natural. In: Anais do XXV Simpósio Nacional de História - História e Ética. Fortaleza.
Editora Universitária da Universidade Federal do Ceará. 2009.
RAMALHO, Valdir. As biografias históricas de Santos Dumont. Scientiae Studia. São
Paulo. v. 11. n. 3. p. 687-705. 2013.
VIDAL, Diana Gonçalves. Experiências do passado, discussões do presente: A biblioteca
escolar infantil do Instituto de Educação Caetano de Campos (1936-1966). Perspectivas em
Ciência da Informação (Online). v.19. p.195-210. 2015.
BORGES, Renata Farhat de Azevedo. Clássicos em quadrinhos e seus editores no Brasil: o
ímpeto na produção de adaptações literárias no século XXI. Tese (Doutorado em Ciências da
Comunicação) - Universidade de São Paulo. 2016.
2.2 TEXTOS EM REVISTAS CIENTÍFICAS QUE MENCIONAM OFÉLIA E
NARBAL FONTES
CORRÊA, Maria do Carmo Almeida. A voz da autoridade na literatura infantil. Itinerários
(UNESP). Araraquara. v.20. p.133-150. 2003.
FERREIRA, Eliane Aparecida Galvão Ribeiro; VALENTE, Thiago Alves. A relação afetiva
com a leitura: memórias de professores. Revista Profissão Docente. Uberaba. v. 12. p.05-23.
2012.
MARTINS, Andrea Castelaci. A temática indígena na literatura infantil e juvenil: um
percurso. Revista Literartes. [s.l.]. n.5. p.120-149. 2016.
2.3 TEXTOS EM CAPÍTULO DE LIVRO QUE MENCIONAM OFÉLIA E
NARBAL FONTES
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história &
histórias. São Paulo: Ática, 1984.
14
CECCANTINI, J. L. C. T. Perspectivas de pesquisa em literatura infanto-juvenil.
In:______ (Org.). Leitura e literatura infanto-juvenil: memória de Gramado. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2004.
2.4 DICIONÁRIO DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL
MELO, Luís Correia de. Dicionário de autores paulistas. São Paulo: [s.n.], 1954. (Comissão
do IV centenário da cidade de São Paulo).
COELHO, N. N. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira. São Paulo.
Quíron, 1983.
FNLIJ. Bibliografia analítica da literatura infantil e juvenil publicada no Brasil -
1975/1978. Porto Alegre. Mercado Aberto. 1984.
15
APÊNDICE B:ENTREVISTA COM OS NETOS DE OFÉLIA E NARBAL FONTES: CHARLES E
NARBAL
ENTREVISTA COM OS NETOS DE OFÉLIA E NARBAL FONTES: CHARLES E
NARBAL
Ofélia e Narbal Fontes consolidaram-se como autores de livros escolares e literaturainfantil a partir da década de 1920, num movimento crescente da escolarização das práticas deleitura e da necessidade de materiais para subsidiar essas práticas. Ofélia e Narbal Fontes,embora escritores de destaque no contexto histórico em que tiveram suas obras publicadas,não foram estudados até o momento, especialmente de modo a se compreender como seconfigura a noção de literatura infantil para esse casal de escritores e de que forma essa noçãopossibilita repensar a história da literatura infantil.
Esta entrevista fará parte dos materiais que subsidiarão o Trabalho de Conclusão deCurso “Ofélia e Narbal Fontes na história da literatura infantil e juvenil brasileira: um estudode O gigante de botas (1941)” de Mariana de Cássia Medrano. Para este fim, Charles deMarsillac Fontes e Narbal de Marsillac Fontes, netos de Ofélia e Narbal Fontes, foramconsultados acerca de aspectos da vida pessoal dos autores.
A Pandemia-Covid-19 inviabilizou a realização de um encontro presencial entre aentrevistadora e os entrevistados. Entretanto, os entrevistados se dispuseram a participar daentrevista de modo virtual, por meio de áudios gravados e texto escrito, resultando natranscrição abaixo.
Entrevista realizada em 21 de julho de 2021
Mariana: De acordo com documentos que localizei, Narbal Fontes era filho de Emília Rosa
de Marsillac Fontes, poeta e contista, e Joaquim Fontes, juiz de direito. Ambos faziam parte
da Academia Sergipana de Letras e, dessa forma, desde a infância, Narbal apresentou
interesse pela literatura. Com relação a Ofélia, vocês têm conhecimento do que a levou criar
interesse pela escrita e, mais especificamente, pela literatura infanto-juvenil? No contato que
tiveram com sua avó, lembram-se dela mencionar algo a respeito?
Charles: Não sabemos responder essa pergunta.
Mariana: Segundo documentos que localizei, Ofélia e Narbal Fontes casaram-se no Rio de
Janeiro em 19 de abril de 1934. Entretanto, Ofélia nasceu em São Paulo capital e Narbal em
Tietê -SP. Eles se mudaram para o Rio de Janeiro após se conhecerem ou se conheceram lá?
Charles: Eles se mudaram para o Rio de Janeiro por causa... principalmente, da asma do meu
avô, do Narbal. Ele tinha um sério problema de asma e o clima do Rio de Janeiro era muito
1
mais propício do que o clima de São Paulo. Entendeu? Na época que ainda não havia
antibiótico, né? Então, assim, era um sofrimento. Então esse foi o motivo deles irem pro Rio
de Janeiro, foi a saúde do meu avô. Foi a asma.
Mariana: Vocês conhecem a história de onde e como o casal se conheceu?
Narbal: Não sabemos informar.
Mariana: O casal teve filhos? Se sim, quantos? Todos nasceram no Rio de Janeiro? Quais
eram suas profissões? Algum seguiu a carreira de escritor?
Charles: Eles tiveram, sim, três filhos: nosso pai e nossos tios. Os três filhos, na ordem, são:
a mais velha era a tia Miriam, que era minha madrinha, inclusive; o meu pai, que era Narbal
também, Narbal de Barros Fontes, e o tio Ameríndio, que era o caçula. O Ameríndio era
gêmeo. Era Ameríndio e… ele tinha um irmão gêmeo, daqui a pouco eu lembro o nome, mas
esse irmão gêmeo faleceu logo após o nascimento. A tia Miriam, se eu não me engano, era
também professora, mas ela se formou em direito já com 58 anos. Ela resolveu fazer a USP
em São Paulo e ainda advogou até sessenta e poucos anos. O meu pai era oficial de marinha, e
o tio Dindo tinha vários talentos, mas acho que o foco principal dele era fotografia, ele era
fotógrafo. Inclusive, ele foi o fotógrafo oficial de toda a obra de Itaipu, da Hidrelétrica de
Itaipu. Ele já fazia fotos aéreas de helicóptero já naquela época, em 1970 e pouco, final dos
anos 70, se não me engano. Mas ele já trabalhou com cinema também, trabalhou com vídeos...
Ele era um cara muito culto e muito maluco ao mesmo tempo. Aliás, maluco os três eram
muito, cada um com suas maluquices.
Narbal: Só pra contribuir, Charles, o nome irmão do tio Ameríndio era Basílio.
Mariana: Além de escritora, Ofélia foi professora primária, técnica de educação, e radialista.
Vocês têm conhecimento de onde ela se formou e em quais escolas atuou?
Charles e Narbal: Não sabemos.
Mariana: Vocês tiveram contato com seus avós Ofélia e Narbal Fontes? Se sim, como era a
relação deles com a leitura? Que tipo de livro costumavam ler?
Charles: Nós três tivemos bastante contato com a minha avó, com a Ofélia. O meu avô
morreu… nenhum de nós três conheceu. Eu sou o mais velho, nasci em 1965, meu avô
2
morreu em 60. Mas com minha vó a gente teve muito contato, eu morei com minha vó,
inclusive, dos onze dos onze até aos vinte anos, até me casar. A minha vó, inclusive, chegou a
conhecer a minha filha mais velha, curtiu bastante, ficava segurando ela no colo... A Juju
nasceu em junho, e minha vó faleceu, se não me engano, em setembro ou outubro de 1986.
A gente teve bastante contato, ela lia muito, ela lia de tudo. E principalmente, mais do que ler,
durante a maioria desse tempo que morei com ela, ela vivia escrevendo. Máquina de escrever
ainda, né? Ela gostava muito de escrever, gostava muito de escrever… Mas ela lia também.
Mariana: Lembram-se de alguma história com seus avós?
Narbal: Uma coisa que me lembro com muita nitidez é da vovó me cobrando a escrita de
uma redação. Ela me cobrava sempre, eu tinha que escrever uma redação pra ela, Um
domingo no parque, Um dia no jardim botânico, ou qualquer coisa do tipo. Eu tinha que fazer
aquela redação pra ela... Ela me cobrava tabuada, ela chegou a me dar aula de francês... Eu
devia ter o que? Dez anos? Não lembro, [era] muito novinho. Mas ela me ensinou o amor pelo
conhecimento que até hoje eu trago comigo, né? Ela que me ensinou. Ela tinha essa
preocupação muito forte.
Mariana: Há alguma informação que eu não tenha perguntado e que vocês consideram
interessante com relação à vida, formação, atuação profissional e produção escrita de Ofélia e
Narbal Fontes?
Narbal: Lembro o nome dos pais do meu avô Joaquim Fontes e Emília de Marsillac. Ele era
juiz numa comarca de São Paulo, acho que Tietê. Ela era poeta e filha ou neta (são duas, a
filha tinha o mesmo nome da mãe) de Jean Baptiste de Marsillac, o primeiro "Marsillac" que
tinha vindo da França fugindo das incertezas geradas pelo império de Napoleão.
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