Post on 07-Jul-2015
Projeto “Vivenciando nossas raízes” - 2012
Oficina para professores
A SMEC e o Peão Farroupilha do RS, Murilo Oliveira
de Andrade, desenvolveram no dia 09 de agosto uma
oficina para os professores dos 4ºs e 5ºs anos do
EF, com a temática “ A contribuição dos diferentes
povos para a formação da cultura gaúcha.” Após a
palestra o Peão preparou e ensinou os participantes
a prepararem o “chimarrão 11 segundos”, enquanto ia
falando sobre a história, lenda e curiosidades do
chimarrão.
Apresentação da 3ª Prenda Juvenil da 9ª Região Tradicionalista Letícia.
Música:
Arroz de Carreteiro Jayme Caetano Braun
Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas, Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado, Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiro Te batizou de "Carreteiro", meu velho arroz com guisado.
Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual, É xarque - arroz - graxa - sal É água pura em quantidade. Meta fogo de verdade na panela cascurrenta. Alho - cebola ou pimenta, isso conforme a vontade.
Não tem luxo - é tudo simples, pra fazer um carreiteiro. Se fica algum "marinheiro" de vereda vem à tona. Bote - se houver - manjerona, que dá um gostito melhor Tapiando o amargo do suor que - às vezes, vem da carona.
Pois em cima desse traste de uso tão abarbarado, É onde se corta o guisado ligeirito - com destreza. Prato rude - com certeza, mas quando ferve em voz rouca Deixa com água na boca a mais dengosa princesa.
Ah! Que saudades eu tenho dos tempos em que tropeava Quando de volta me apeava num fogão rumbeando o cheiro E por ali - tarimbeiro, cansado de bater casco, Me esquecia do churrasco saboreando um carreteiro.
Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto, Na falta de outro pretexto indagando algum atalho, Mas sempre ao ver o borralho onde a panela
fervia Eu cá comigo dizia: chegou de passar trabalho.
Por isso - meu prato xucro, eu me paro acabrunhado Ao te ver falsificado na cozinha do povoeiro Desvirtuado por dinheiro à tradição gauchesca, Guisado de carne fresca, não é arroz de carreteiro.
Hoje te matam à Mingua, em palácio e restaurante Mas não há quem te suplante, nem que o mundo se derreta, Se és feito em panela preta, servido em prato de lata Bombeando a lua de prata sob a quincha da carreta!
Por isso, quando eu chegar, nalgum fogão do além-vida, Se lá não houver comida já pedi a Deus por consolo, Que junto ao fogão crioulo,
Quando for escurecendo, meu mate -amargo sorvendo, A cavalo nalgum tronco, escute, ao menos, o ronco De um "Carreteiro" fervendo.
Música:
CANTO AOS AVÓS
Apparicio Silva Rillo
Os avós eram de carne e osso. Tomavam mate, comiam carne com farinha, campereavam. Sopravam a chama dos lampiões, dormiam cedo.
Os avós tinham braços e pernas e cabeça (olhai os seus retratos nas molduras). Laçavam de todo o laço, amanuseavam potros, fumavam grossos palheiros de bom fumo e amavam seus cavalos que rompiam ventos e bandeavam arroios como um barco ágil.
Usavam lenços sob a barba espessa e o barbicacho lhes prendia ao queixo sombreiros negros para a chuva e sóis. Palas de seda para as soalheiras, ponchos de lá quando a invernia vinha.
Tinham impérios de flechilha e trevo e famílias de bois no seu império. E eram marcas de fogo os seus brasões.
Charlavam de potreadas e mulheres, de episódios de adaga contra adaga, do tempo, das doenças, das mercâncias de gado gordo para os saladeiros.
Tinham homens a seu mando, os avós. No quartel rude dos galpões campeiros - enseivados de mate e carne gorda - os empíricos soldados madrugavam na luz das labaredas de espinilho que era sempre o primeiro sol de cada dia.
Honravam os avós a cor dos lenços: - a seda branca dos republicanos, o colorado dos federalistas. E morriam por eles, se preciso, - coronéis de milícias bombachudas acordando tambores nos varzedos no bate casco das cavalarias.
Nas largas camas de cambraias alvas vestindo o corpo da mulher mocita, juntavam carnes no silêncio escuro pautado por suspiros que morriam no contraponto musical dos grilos...
Os avós eram de carne e osso. Tinham braços e pernas e cabeça, artérias, nervos, coração e alma.
Humanos como nós, os velhos tauras, mas de bronze e de ferro nos parecem esses campeiros que fizeram história. Estátuas vivas de perenidade nos pedestais do tempo e da memória.
FAZ TANTO TEMPO
Luiz Menezes
Era dessas lavadeiras
que deixam as roupas bem alvas
perfumadas de limpeza...
Tinha as mãos muito judiadas
muito brancas, enrugadas
da sanga, nas madrugadas
do inverno da campanha...
Mãos mais velhas que a velhice
que só sentiam carícias
quando se uniam na prece.
A pá batendo na roupa,
é como se ela batesse
nos trapos dos desenganos
que não pudera lavar...
Ajoelhada sobre a pedra,
ia cantando cantigas
que aprendera quando moça
bem lá no fundo do tempo...
E a correnteza do arroio
alheia, se renovando
ia passando... passando,
como tempo sem voltar...
Quando alguém lhe perguntava
qual era bem sua idade,
o seu olhar de repente
tinha um clarão inocente
respondendo ingenuamente
que não soubera contar...
Era dessas lavadeiras
que deixam as roupas bem alvas
perfumadas de limpeza...
……………………………..
Faz tanto tempo! No entanto
nem sei por que, de repente
me volta a imagem inocente
da velhinha Margarida...
Que só sabia lavar,
cantar, rezara – sem chorar –
e a própria mágoa afogar
no arroio grande da vida.
E hoje quando olho o céu
e vejo nuvens branquinhas,
fico pensando... pensando
numa lembrança perdida:
Por certo foram lavadas,
enxugadas e passadas
por duas mãos enrugadas
da velhinha Margarida.
MATE
Cancioneiro Gaúcho, recolhido por Augusto Meyer
(...)
Dizem que o mate afoga
As mágoas do coração;
Mate sobre mate tomo,
As mágoas boiando vão.
Eu venho lá de longe,
Noite velha adiantada;
Dá-me um mate-chimarrão,
Minha boa misturada.
Senhora dona da casa,
Eu sou muito pedichão;
Mande me dar de beber,
Mas que seja um chimarrão.
Senhora dona da casa,
Dê-me um chimarrão
Com quatro pedras de açúcar,
E queijo e bastate pão.
Do meu canto eu estou vendo
Quantos mates vais chupando;
Quando me chegar a cuia,
Os pauzinhos 'stão nadando.
Eu não quero tomar mate,
Quando os ricos 'stão tomando;
Quando chega a vez dos pobres,
Os pauzinhos 'stão nadando...
Quem quiser que eu cante bem
Dê-me um mate de congonha,
Para limpar este peito,
Que está cheio de vergonha.