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OFICINA DO BRINCAR NA CIDADE:
CONHECENDO OS TERRITÒRIOS NO RIO DE JANEIRO
Kelly Cristine Rodrigues Novaes
Grupo Ambiente-Educação (GAE)
RESUMO
Este artigo é um desdobramento da pesquisa integrada “Do espaço escolar aos territórios educativos:
a conversa da escola de educação integral com a cidade do Rio de Janeiro”1. Apresenta a síntese dos
resultados da primeira “Oficina do Brincar”, como método participativo de reconhecimento territorial. A
oficina buscou conhecer os desejos e as necessidades das crianças com relação ao espaço livre
público e sua apropriação do território. A oficina em questão foi realizada no dia 16 de Outubro de 2016,
na Praça Iaiá Garcia no bairro da Ribeira, na Ilha do Governador, RJ. Das quatro etapas propostas para
a oficina, três foram realizadas: “Brincar junto”, “Painel dos Desejos” e “Maquete Afetiva”. A primeira
etapa teve como objetivo estabelecer um vínculo de confiança inicial entre os facilitadores e as crianças
através de jogos, brincadeiras e conversas informais sobre suas rotinas. A segunda atividade
designada de “Painel dos Desejos” procurou contemplar a expressão dos sentimentos, desejos e
necessidades das crianças relativos ao lugar na qual habitam através do desenho e/ou escrita. A última
etapa realizada foi a “Maquete Afetiva”, cuja finalidade foi fazer um mapeamento, junto com as crianças
participantes, dos lugares significativos para elas, além de sinalizar lugares onde não podem ou não
costumam ir e observar o grau de apreensão que elas têm do território.
Após a realização da oficina, foi possível perceber o olhar da criança sobre o bairro e a cidade que
vivencia. Verificou-se que algumas crianças se encontram insatisfeitas por não poderem usufruir de
maneira plena o espaço livre público e outras, moradoras da Ilha, se encontravam satisfeitas, mas na
esperança de aspectos positivos em um futuro próximo. A síntese busca trazer um olhar diferenciado
sobre a aplicação e desenvolvimento da oficina por parte da autora, aportando reflexões e críticas para
o aprimoramento do método.
Palavras chave: qualidade do lugar, território educativo, espaço livre público.
1 Contemplada com apoio financeiro do CNPq (Ciências Humanas e Sociais 22/2014), integra a abordagem conceitual e metodológica dos grupos de pesquisa Ambiente-Educação (GAE), Qualidade do Lugar e da Paisagem (PROLUGAR) e Sistema de Espaços Livres no Rio de Janeiro (SEL-RJ), vinculados ao PROARQ-FAU/UFRJ. Em paralelo a pesquisa sobre criança e cidade sob a ótica do brincar do mestrado profissional em arquitetura paisagística no Programa de Pós-Graduação em Urbanismo (PROURB) da UFRJ.
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1. APRESENTAÇÃO
A “Oficina do Brincar na cidade” foi desenvolvida como parte da pesquisa integrada
que analisa a qualidade do lugar e da paisagem dos lugares pedagógicos para a educação
integral no município do Rio de Janeiro. O propósito da oficina foi registrar os desejos e
necessidades das crianças com relação ao espaço livre público e compreender sua
apropriação do território.
Uma forma de colaborar na construção coletiva do ambiente urbano é incluir a
população, inclusive as crianças, na tomada de decisões a respeito das questões
comunitárias a partir de diálogos nas demandas locais. O projeto procura entrar em contato
com as crianças a partir de brincadeiras e conversas informais, aproveitando que é uma
atividade que elas já realizam naturalmente.
A oficina foi realizada dia 16 de Outubro de 2016, em um domingo, na Praça Iaiá
Garcia no bairro da Ribeira, Ilha do Governador, Rio de Janeiro, RJ. A praça foi escolhida por
ser bastante frequentada, conter vegetação de pequeno e grande porte, possuir mobiliário
urbano que possibilita um maior conforto e atração por parte dos habitantes, não possuir pistas
de alta velocidade em seu perímetro e conter outras atividades simultâneas à oficina como
feiras de trocas e aulas de yoga, dando ao espaço maior visibilidade. A divulgação do evento
aconteceu a partir de redes sociais que atingiram possíveis moradores de dentro e fora do
bairro da Ribeira, Ilha do Governador. Das quatro etapas propostas para a oficina: “Brincar
junto”, “Painel dos Desejos”, “Maquete Afetiva” e “Maquete Baguncidade”, apenas as três
primeiras foram realizadas.
Local de aplicação
Praça Iaiá Garcia no bairro da Ribeira, Ilha do Governador, Rio de
Janeiro.
Grupo de pesquisa
9 pessoas:
2 bolsistas de iniciação científica: Kelly Novaes e Marieta Vasconcellos.
6 pesquisadores de Pós-Graduação (PROARQ, PROURB 2 ): Alain
Flandes, Flora Fernandez, Rafael Diniz, Ana Beatriz Goulart, Giselle Arteiro Azevedo
e Vera Tângari.
1 integrante do movimento Baia Viva, Ilha do Governador: Sérgio
Ricardo Verde.
2 PROARQ (Programa de Pós-Graduação em Arquitetura); PROURB (Programa de Pós-Graduação em Urbanismo).
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Tempo de duração
3 horas.
2. RELATO DAS ATIVIDADES
A expectativa ao chegar à praça em relação à oficina foi bastante otimista, visto que
o dia ensolarado, as poucas nuvens e uma brisa propiciavam um dia agradável. A vegetação
tanto de pequeno ou grande porte é uma característica marcante da Praça Iaiá, que colaborou
com o bem-estar dos participantes. A praça possui uma escala pequena circundada por quatro
ruas por onde circulam veículos com média velocidade. Em sua volta estão presentes casas,
edifícios de médio porte, bares e restaurantes. Logo após a minha chegada, avistei facilmente
os outros dois colaboradores que se encontravam sob a copa de uma frondosa árvore,
próximos ao parquinho. Fomos aos poucos nos estabelecendo, fixando o mural de uma das
atividades na cerca, pendurando o banner de apresentação no tronco da árvore, enchendo
bexigas e posicionando as “peças” da maquete sobre um tecido no chão. (Figuras 1 e 2).
Figura 1- Banner da Oficina Brincar na Cidade posicionado em frente ao local das atividades.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
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Figura 2 - Local da oficina mostrando algumas “peças” da maquete e o mural já posicionado.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Assim que as crianças foram chegando na praça, foi fornecido aos responsáveis um
termo de consentimento e de autorização do uso de imagem (anexo 1); o documento foi
preenchido prontamente e devolvido aos pesquisadores. Em seguida, colamos etiquetas nas
blusas com o nome de cada um, tanto nas nossas quanto na dos participantes, para que todos
fossem facilmente identificados e criasse um maior laço afetivo entre o grupo. Trocamos
rápidas informações com os responsáveis e crianças a respeito do local de moradia de cada
participante, localidade da escola, rotina básica e introduzimos o que seria trabalhado nas três
horas seguintes. As atividades foram iniciadas com a presença de sete crianças, das quais
somente duas moravam em bairros vizinhos ao da Ribeira.
2.1 Brincar Junto
Tempo de aplicação: 30 – 45 minutos.
Horário do início: 15:00
Materiais: Papel, canetinha colorida, bola, corda.
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Objetivo: Criar um vínculo de confiança inicial entre os facilitadores e as crianças
através de jogos brincadeiras. Primeiramente deve-se identificar as brincadeiras que as
crianças costumam realizar no local e posteriormente escolher com elas uma ou duas para
todos brincarem juntos.
Numa sequência de jogo de mímica, cada criança se apresentou, falando seu nome,
onde morava e fazendo a mímica da brincadeira escolhida por ela mesma. Foram citadas o
futebol, pique-alto, estilingue, pique-esconde, mímica, bambolê, entre outras brincadeiras.
(Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Primeira atividade da oficina que consistia na mímica.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
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Figura 4 – Uma das crianças fazendo a mímica de uma brincadeira que costuma realizar, no
caso, o futebol.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Após todos se apresentarem, duas brincadeiras foram escolhidas pelo consenso do
grupo para todos brincarem: pique-pega e queimado. Elas não foram representadas na
mímica, mas mesmo assim percebemos o anseio de todos para as realizarem. Mesmo
correndo bastante na primeira brincadeira não atrapalhamos os transeuntes da praça e as
crianças não se aventuraram a correr além dos limites impostos pela rua. (Figuras 5 e 6).
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Figura 5 – Criança participando do pique-pega.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Figura 6 – Escolha dos times para a brincadeira de Queimado.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Durante o jogo de Queimado, mesmo ocupando uma via que cruza a praça, não
impedimos a passagem dos pedestres pela espaço. Eles passaram a circular sobre a grama
próxima a nós, que é considerado um local secundário de passagem, visto que a feira de
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trocas funciona ali. (Figura7). Em um determinado momento a bola saiu dos limites da praça
indo em direção à rua. Uma criança que mora em Vigário Geral foi atrás dela, mas ao perceber
que ela tinha ido para a frente dos automóveis, parou instintivamente, obedecendo ao limite
imposto pela rua e pelos veículos em movimento.
Figura 7 – Crianças jogando queimado na Praça Iaiá Garcia.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Algumas crianças gostaram tanto da proposta que queriam escolher mais de duas
brincadeiras, mas não pudemos ceder a esta solicitação devido ao respeito pelo tempo
proposto para cada atividade. Esta etapa foi bem desenvolvida, realizada no tempo previsto
e apreciada por todos os participantes, tanto pelas crianças quanto por nós, facilitadores,
propiciando um relacionamento mais fluido entre todos.
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2.2 Painel dos Desejos
Tempo de aplicação: 30 minutos.
Horário do início: 15:50
Materiais: Papel paraná, gizes de diferentes cores.
Objetivo: No instrumento desenvolvido por Henry Sanoff3, designado de “Poema dos
Desejos”, os participantes expressam seus sentimentos, desejos e necessidades relativos ao
contexto em questão através de desenho e/ou escrita. Esse método estimula a
espontaneidade das respostas; demonstra a imagem ideal do ambiente analisado ou
construído futuramente, propicia a identificação do imaginário coletivo e oportuniza um perfil
representativo dos anseios e demandas.
Como uma introdução à atividade, foi feita uma roda onde foram conversados
informalmente assuntos como a satisfação da criança com os equipamentos urbanos de seu
bairro, o que ela gostaria que tivesse ou não, se elas costumavam brincar na rua e caso
positivo, , em qual o horário, se elas moram perto da escola, se o seu bairro é muito
movimentado por carros e pedestres, etc. (Figuras 8 e 9). Com a nossa ajuda, as crianças
formaram pequenos grupos, acompanhados por um integrante adulto, que buscava a
compreensão dos desenhos e grafias. Para aplicação do instrumento, nós, os facilitadores,
disponibilizamos dois painéis de papel paraná pintados de preto presos com barbante numa
cerca próxima ao local da oficina. Eles continham os seguintes enunciados: “Eu gostaria que
a Ilha do Governador...” e “Eu gostaria que o meu bairro...” e, abaixo, uma área em
branco, onde as crianças escreveram e desenharam seus desejos, necessidades e
sentimentos.
3 Professor emérito da Escola de Arquitetura da Universidade do Estado da Carolina do Norte (NCSU), autor de livros na área e um dos fundadores do EDRA (Environmental Design Research Association).
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Figura 8 – Roda de conversa introdutória à segunda atividade: Painel dos Desejos.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Figura 9 – Roda de conversa introdutória à segunda atividade.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Na conversa, as crianças que moravam fora da Ilha do Governador falaram mais a
respeito de pontos negativos do que positivos sobre seu bairro e que a maioria delas não
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brinca na rua. A presença forte de veículos, falta de policiamento, proximidade à comunidade,
poluição, falta de vegetação e de áreas de lazer ao ar livre foram pontos negativos. Isso já
demonstra a baixa qualidade do lugar tendo em vista o lazer e a segurança dos moradores
nos espaços livres públicos.
No mural elas se expressaram de uma forma mais espontânea e foram observadas
expressões como “Eu gostaria que o meu bairro fosse mais calmo”, “...tivesse meus amigos
da escola”, “...tivesse uma praia”, “...tivesse um arraiá”, “fosse plano para eu brincar”, “...fosse
meu”, além de outros desenhos. (Figuras 10 e 11). Alguns tiveram mais dificuldade de se
expressar, e fizeram desenhos bastante abstratos, tornando necessária a ajuda dos
colaboradores para a uma leitura mais clara, como no caso de uma criança de 7 anos que
desenhou uma menina passeando com seu cachorro.
Figura 10 – Crianças se expressando no Painel dos Desejos.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
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Figura 11 – Painel já finalizado mostrando os diferentes anseios de cada criança.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Esta atividade obteve um resultado eficaz, pois indicou de forma autêntica os
sentimentos, desejos e necessidades da criança em relação ao lugar onde mora e frequenta
constantemente, seja por desenho, palavra ou expressão. Como aproximadamente metade
dos participantes não morava na Ilha do Governador, o mural mais utilizado foi o segundo que
dizia a respeito do bairro no qual moravam.
2.3 Maquete Afetiva4
Tempo de aplicação: 30 – 45 min
Horário do início: 16:40
Materiais: Maquete do lugar, papéis, canetinhas e post-its coloridos, cartões de
papel, barbante.
4 Baseado no caderno de metodologias participativas do Projeto Criança Pequena em Foco do CECIP, Rio de Janeiro.
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Objetivo: Utilizando uma maquete física como instrumento-resultado, a finalidade é
fazer um mapeamento junto com as crianças participantes dos lugares significativos para elas:
onde circulam, estudam, moram, brincam, etc. Além disso, sinalizar lugares onde não podem
ou não costumam ir e observar o grau de apreensão que elas têm do território.
A maquete de parte da Ilha do Governador contendo a topografia e a marcação dos
lotes foi produzida anteriormente à oficina. Ela foi executada em peças que formam um
quebra-cabeça e cada uma representa basicamente um bairro (Ribeira, Zumbi, Cocotá,
Pitangueiras, Praia da Bandeira e Cacuia). Em um primeiro instante, a atividade consistiu em
montar estas peças com as crianças, identificando os bairros que eram vizinhos (figura 12) e
aspectos naturais como a praia, mangue, montanhas, áreas planas, áreas verdes, etc.,
colocando papel crepom azul onde tem água, verde onde tem vegetação e marrom onde tem
mangue. (Figura 13).
Figura 12 – Crianças montando as peça da maquete, dando início à terceira atividade.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
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A maquete chamou muito a atenção devido ao seu relevo fortemente presente e seu
formato de quebra-cabeça. Em um primeiro instante as crianças tiveram bastante dificuldade
em identificar os bairros e a posição de cada peça, mas aos poucos com a nossa ajuda e a
partir de alguns questionamentos, o “quebra-cabeça” foi sendo montado. O questionamento
incluiu perguntas de estímulo, tais como quais bairros são ligados, como era o bairro onde
nós estávamos, se era mais plano ou mais inclinado, entre outras. Mesmo não tendo
conhecimento sobre aquele território, os meninos que moravam em Vigário Geral ficaram até
o fim da montagem da maquete interessados em montar aquele quebra-cabeça. Após a
finalização da montagem, eles rapidamente se dispersaram para os equipamentos de
atividades pra idosos e para o parquinho que ficavam próximos ao local.
Figura 13 – Participantes colocando papel colorido azul na maquete já posicionada para
representar a praia que fica bem próxima ao local da oficina.
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Entregamos post-its para cada uma das crianças desenharem ou escreverem os
lugares que frequentam e que são importantes para elas. Em seguida, elas foram convidadas
a localizar esses e outros lugares na maquete como por exemplo onde moravam, brincavam,
lugares que conheciam, que não conheciam, que não se sentiam bem, entre outros aspectos.
Perguntamos ainda às crianças se elas gostariam de contar alguma história sobre esses
lugares, e depois, sobre os lugares que elas não podem e não gostam de ir. As perguntas
tentaram abordar os seguintes temas:
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Reconhecimento do lugar
Que lugar você acha bonito / feio na Ilha?
Como você vai para a escola?
O que você gosta / não gosta no caminho?
Encontro
Onde você encontra seus amigos?
O que vocês fazem quando estão juntos?
Do que vocês brincam?
Qual brincadeira você mais gosta?
Onde você espera?
Risco
Qual é a brincadeira mais aventurosa / mais misteriosa / mais perigosa?
Qual é lugar na Ilha mais aventurosa / mais misteriosa / mais perigoso?
Onde você gostaria de ir e não vai?
Onde você vai sozinho?
Onde você tem medo de ir / não sente medo de ir?
As crianças foram aos poucos identificando esses lugares mais pessoais e
relativos, marcando-os na maquete com a ajuda de marcadores coloridos,
figurinhas e post-its. (Figura 14). Uma menina, por exemplo, colocou
marcador verde no mangue que foi caracterizado como fedido e marcador
vermelho na baía que foi denominada suja. Ela se juntou a outra menina, que
juntas eram as únicas moradoras da Ilha do Governador e colocaram
figurinhas em formato de estrela nos locais que elas mais gostavam, como a
praça da Ribeira, nas Barcas e no aterro do Cocotá, onde são instalados
brinquedos infláveis e pula-pula nos dias de feira.
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Figura 14 – A praça da Ribeira sendo apontada na maquete como um dos lugares
preferidos de uma das participantes (9 anos).
Fonte: GAE/SEL/PROLugar.
Esta atividade foi significativa na identificação dos locais citados acima, mas não foi
considerada plenamente desenvolvida. A interrupção da oficina nesta atividade ocorreu por
conta do pequeno número de crianças participantes que moravam na Ilha de Governador,
dificultando o desenrolar de todos os temas de maneira profunda e eficiente.
2.4 Maquete “Baguncidade”
Tempo de aplicação: 30 – 45 min
Materiais: Mapa impresso do lugar, papel, canetinha colorida, post-its coloridos,
cartões de papel, barbante, material de reciclagem.
Objetivo: Produzir com as crianças uma maquete que contenha os anseios e desejos
sobre os lugares significativos para elas: onde circulam, estudam, moram, brincam, etc.
A ideia era organizar mapas impressos, ampliados e recortados dos bairros a serem
trabalhados. Com a ajuda do material reciclável, as crianças produziriam uma maquete
propositiva, mostrando intervenções nos lugares que elas achassem necessário e ressaltando
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também os lugares que não mereciam mudanças. Colocariam, por exemplo,
estabelecimentos e equipamentos urbanos onde gostariam, como parquinhos, lojas,
shoppings, bibliotecas, brinquedotecas, quiosques, etc., além de espaços livres de qualidade
como parques e praças.
Infelizmente esta atividade não pode ser realizada por conta do tempo proposto para
a oficina que já havia sido excedido. Ficaremos mais atentos a isso nas próximas oficinas pois
esta atividade, assim como as outras, reflete os anseios e necessidades das crianças, só que
de uma maneira diferenciada e muito criativa.
2.5 Lanche
Nos intervalos das atividades eram servidos água e biscoitos. Ao final da oficina
foram oferecidos brigadeiros às crianças e seus responsáveis.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A primeira Oficina Brincar na Cidade realizada na Praça Iaiá Gracia, na Ilha do
Governador apresentou inúmeros aspectos positivos que serão considerados nas próximas
oficinas, além dos aspectos negativos que precisam ser aperfeiçoados.
Dos aspectos negativos podem ser destacados a dispersão das crianças. A Praça
Iaiá é bastante frequentada, possui feira, parquinho e equipamentos de ginástica para idosos
que configuram um bom lugar de estar, mas por outro lado distraem muito as crianças que
participam da oficina. Deve-se atentar para isso no próximo evento, escolhendo um lugar com
algum limite físico que o separe de possíveis distrações para as crianças. Outro fato
importante a ser destacado negativamente foi a participação de poucos moradores da Ilha.
Das sete crianças presentes no início das atividades, somente duas moravam na Ilha do
Governador, dificultando o andamento da oficina que é voltado em sua maioria para o estudo
deste território específico. Para que houvesse um maior número de moradores locais, era
preciso uma divulgação mais eficiente, focando no assunto que ela trataria no dia e talvez um
apoio de alguma instituição.
A atividade “Brincar Junto” obteve resultados muito bons e poderá ser repetida em
uma próxima oficina. Em geral as crianças são bem suscetíveis a brincadeiras e essa foi uma
ótima forma de fazer o contato inicial e “quebrar o gelo”. Como o “Painel dos Desejos” era
dividido em dois (um referente a Ilha e outro referente ao bairro onde cada um morava), o
segundo acabou sendo mais utilizado visto que a maior parte das crianças não morava na
região. Mas mesmo com essa questão, a atividade foi muito bem recebida por todos que se
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expressaram através de frases e desenhos de forma bem espontânea, colocando sentenças
que não imaginávamos. A terceira e última atividade que foi realizada, a Maquete Afetiva, foi
bem sucedida tendo como base as duas crianças que moravam na Ilha do Governador, pois
conseguimos realizar com elas parte do que havíamos proposto, mas mesmo assim
gostaríamos de aprofundar a atividade, visto o interesse de uma das meninas moradoras do
bairro que permaneceu até o final da atividade. Essas meninas fizeram com que a oficina
realmente tenha valido do ponto de vista do estudo do território. Elas nos apontaram na
maquete os lugares que gostavam, não gostavam, frequentavam e não conheciam,
fornecendo uma introdução e avaliação preliminar para o estudo daquela área, sob o ponto
de vista infantil.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Espanha: Revista Educación, número extraordinario, 2009.
21
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Programa de Pós-graduação em Arquitetura –
PROARQ
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2016 De: Prof. Giselle Arteiro Nielsen Para: Srs. Pais e/ou Responsáveis
Assunto: Autorização Registro Fotográfico e Vídeo
Grupo de pesquisa Ambiente Educação GAE; Grupo de pesquisa de Sistemas de Espaços Livres SEL-RJ Pesquisa: Do espaço escolar ao território educativo: um olhar ampliado sobre o lugar pedagógico da educação integral - UFRJ
Senhores Responsáveis,
Venho pela presente solicitar sua autorização para realizar o registro fotográfico eventual de seu(sua) filho(a), dentro do escopo da pesquisa supracitada. Essa pesquisa faz parte das pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura – PROARQ/FAU/UFRJ. Estas atividades são organizados pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte do projeto Território Educativo que desde 2014 busca incluir as crianças no diálogo sobre a construção de comunidade nas cidades. A importância da fotografia e vídeo como técnica complementar de análise, se dá com a possibilidade de registrar o usuário nas suas práticas cotidianas e a sua vivência no ambiente em questão. e revisitar o processo no qual a criança se expressa sobre anseios e desejos com relação ao bairro e a cidade. Dessa maneira, essa autorização irá contribuir com a viabilização da pesquisa de campo, dando um “colorido” especial à análise, a partir da visualização das relações criança e cidade.
Agradecemos sua compreensão e colaboração, Atenciosamente,
Giselle Arteiro Nielsen Azevedo Prof. Adjunto PROARQ/FAU/UFRJ
Nome da criança:
Assinatura do Responsável:
______________________________________________________________________
PROARQ – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Cidade Universitária, Ilha do Fundão – Rio de Janeiro / RJ – cep 21941-590
Tel.: (021) 2598-1663 – email: gisellearteiro@globo.com