Post on 13-Aug-2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS
CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS
JÚNIA CLEIZE GOMES PEREIRA
O SERTÃO DE RIOBALDO: A FLORA EM GRANDE SERTÃO:
VEREDAS
Montes Claros – MG
Outubro / 2013
Júnia Cleize Gomes Pereira
O SERTÃO DE RIOBALDO: A FLORA EM GRANDE SERTÃO:
VEREDAS
Monografia apresentada ao curso de Letras
Português, da Universidade Estadual de
Montes Claros, como exigência para obtenção
do grau de licenciada em Letras Português.
Orientadora: Profa. Dra. Telma Borges da
Silva.
Montes Claros / MG
Outubro / 2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS - CCH
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – MONOGRAFIA
DEFESA PÚBLICADO TRABALHO DE MONOGRAFIA
LETRAS PORTUGUÊS
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autor: Júnia Cleize Gomes Pereira
Título: O sertão de Riobaldo: a flora em Grande Sertão: veredas
Monografia defendida e aprovada em 26/11/2013, com NOTA 100 (cem), pela comissão
julgadora:
(Assinatura)__________________________________________
Orientador (a)
Profa. Dra. Telma Borges da Silva
(Assinatura)__________________________________________
Examinador (a)
Profa. Dra. Ivana Ferrante Rebello e Almeida
(Assinatura)__________________________________________
Examinador (a)
Profa. Ms. Patrícia Goulart Tondineli
______________________________________
Profa. Dra. Liliane Pereira Barbosa
Coordenadora do Curso de Letras Português
______________________________________
Prof. Dr. Dorival Barreto Jr.
Coordenador do Trabalho de Conclusão de Curso
À minha mamãe,
meu amor de prata e meu amor de ouro.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, pois, tendo Ele, no fim tudo dá certo.
Ao meu pai Beijamim que, assim como Diadorim, me ensinou que carece de ter coragem para
enfrentar e vencer as veredas dessa vida.
À minha mãezinha Valda, com quem eu aprendi que é somente com alegria que podemos
realizar o bem.
A toda minha família e ao meu irmão Júlio César, pois, com eles, as pausas entre um
parágrafo e outro de produção, muito contribuíram para animar meus dias.
A Rafael, meu amor e quem muito me ouviu falar de Rosa e Sertão.
À minha orientadora belimbeleza, Telma Borges, que me acolheu no Grupo Nonada. Foi a
partir de sua acolhida, de sua disposição e de sua paciência em orientar meu trabalho que
consegui realizar esta travessia. Agradeço também às professoras Ivana e Patrícia pelo carinho
e contribuição na minha pesquisa Rosiana.
Aos meus colegas, em especial Bruno e Kamila, pois me presentearam com sua amizade e
amizade dada é amor.
Enfim, agradeço a todos que estiveram do meu lado e participaram das vertentes do meu viver
das mais variadas formas.
Falar do Brasil sem ouvir o sertão
É como estar cego em pleno clarão
Olhar o Brasil e não ver o sertão
É como negar o queijo com a faca na mão
Vander Lee
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar a flora que constitui o sertão de Riobaldo ao longo de
sua travessia. Para cumprir o objetivo proposto, usamos de um método analítico textual, ou
seja, fizemos leitura de bibliografias referentes ao tema e leituras minuciosas de Grande
sertão: veredas, catalogando os vegetais que estão presentes no romance. Feito isso,
realizamos uma pesquisa da etimologia, da serventia e dos nomes populares dos vegetais
encontrados; estudamos ainda, livros e dicionários especializados em botânica, comparando
com os termos da flora empregados pelo personagem em seu discurso. Após tais pesquisas e
comparações, refletimos sobre a importância e simbologia da flora na narrativa de Riobaldo,
visto que, nada é posto gratuitamente nas obras de Guimarães Rosa. Desta forma, nos
deparamos com uma natureza ímpar, em que a flora é usada, não só para compor o cenário
sertanejo ou moldurar o plano de fundo na travessia de Riobaldo, mas uma vegetação que
descreve a singularidade do sertão, ganhando uma pluralidade de significados e se
relacionando com seus personagens. Esse trabalho torna-se importante na medida em que
contribui para o avanço da fortuna crítica rosiana, disponibilizando novos conhecimentos
sobre a flora presente no romance e, ajudando assim, leitores que tenham interesse em
conhecer a natureza que acompanha a trama da vida de Riobaldo, numa narrativa em que a
vegetação delineia a individualidade do sertão e se entrelaça com os que o habitam.
Palavras-chave: Literatura de Minas Gerais; Guimarães Rosa; sertão; flora.
ABSTRACT
This work aims to analyze the flora that constitutes the sertão of Riobaldo along his crossing.
To reach the proposed objective, we used a textual analytical method, i.e., we read
bibliographies related to the topic and detailed readings of Grande sertão: veredas, cataloging
the plants that are present in the novel. After, we searched for the etymology, the use and the
popular names of the plants found in the novel; we also studied these plants in books and
dictionaries about botanic, comparing them with the terms used by the character. Then, there
is a reflection about the importance and the symbology of flora in the novel, once anything is
at no charge in Guimarães Rosa‟s novels. This way, it possible to visualize a breathe heavily
nature, not only to compose the scenery or to frame the crossing of Riobaldo, but a vegetation
which describes the singularity of the sertão, showing a plurality of significances and relating
to others characters. This work is important because it contributes to the development of
studies of Guimarães Rosa‟s production, bringing up new knowledge on the flora presented in
the novel, aiding readers who are interested in going deeper in Riobaldo‟s plot, in a way that
vegetation designs the individuality of the sertão, intercrossing it to the lives of its inhabitants.
KEYWORDS: Minas Gerais Literature; Guimarães Rosa; sertão; flora.
Sumário
Introdução ................................................................................................................................ 9
Capítulo I – A natureza em Rosa ......................................................................................... 12
Capítulo II – A flora e sua relação com as personagens .................................................... 21
Capítulo III – “Buriti, buriti meu...: a pluralidade de significados do buriti em Grande
Sertão: veredas”...................................................................................................................... 35
Conclusão ............................................................................................................................... 49
Referências ............................................................................................................................. 50
Anexos .................................................................................................................................... 53
9
Introdução
A literatura é um campo espelhado no qual se refletem os costumes da sociedade e
a relação desta com seu meio natural. Ela também é objeto de apreciação, estando sujeita a
impressões e olhares distintos e isso serve de subsídio para vários tipos de estudos e contribui
para se construir uma série de sentidos.
Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, uma das mais importantes
obras da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo
presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, suas travessias e seu
amor reprimido por Diadorim.
O espaço sertanejo é descrito em todo o romance configurando a paisagem e o
ambiente onde se passa a trama. Guimarães Rosa nos apresenta a natureza desse sertão de
forma poética e inovadora, nos fazendo apreciar e construir uma pluralidade de significados
relativos a ela.
Esta pesquisa é parte integrante do projeto “Pelo sertão: geografia, aforismos e
filosofia na obra de Guimarães Rosa”1 e objetivou apresentar como a flora foi exposta na
narrativa, não sendo apenas um meio natural no qual os personagens trilham, mas a flora
como elemento que compõe e delineia a vida de seus seres. Podemos dizer que o estudo da
natureza de Grande sertão: veredas é uma viagem pelo exterior e também pelo interior dos
seres que a habitam.
No curso da nossa investigação, observamos que o relato é marcado por uma
extensa diversidade de espécies vegetais; sabendo que nada é posto gratuitamente por Rosa,
nos veio a indagação: qual a importância da Flora na construção de Grande sertão: veredas?
As hipóteses que levantamos são as de que a flora pode estar sendo usada como um pano de
fundo da narrativa; a flora é parte constituinte da natureza do sertão, ganhando assim uma
pluralidade de significados; e por fim, é usada para descrever a singularidade do sertão e sua
relação com as personagens.
Para apurar tais presunções, realizamos leituras de bibliografias referentes ao
tema, autores como Ivana Ferrante Rebello, Luiz Roncari, Mônica Meyer, Ricardo Ferreira
Ribeiro, Tânia Rivera, Umberto Eco, entre outros. Fizemos também uma leitura minuciosa de
Grande sertão: veredas, catalogando os vegetais presentes no romance e, logo depois,
1 O Projeto citado foi estendido para uma segunda parte e este trabalho também o compõe. Seu desdobramento é
nomeado por “Enciclopédia do grande sertão”.
10
pesquisamos sobre a etimologia, a serventia e os nomes populares dos vegetais encontrados.
Além disso, contrastamos o emprego de termos da flora usados por Riobaldo com as
definições de livros e dicionários especializados em botânica, tendo como objetivo averiguar
o significado da flora no discurso do narrador-personagem.
Esse estudo nos ajudou a conhecer e a entender melhor a natureza da narrativa e a
relação que ela tem com os personagens e suas ações. Sobre tal associação, Mônica Meyer
menciona que o uso da natureza na “narrativa é construída de modo que a realidade humana
entrelace com o mundo natural de tal forma que a identidade de cada um seja o resultado de
uma relação de reciprocidade.” (MEYER, 2008, p. 25). Fruto das especulações e análises foi
este trabalho organizado em três capítulos.
O primeiro capítulo é resultado de nossas pesquisas sobre a relação do escritor de
Cordisburgo com o seu meio natural. Desde a infância, Joãozito era investigador do mundo
que o rodeava, colecionava insetos e plantas. Já em sua vida adulta, Rosa viajava pelo sertão
dos Gerais com suas cadernetas conhecendo e anotando tudo que lhe interessava, e, logo
depois, o conhecimento adquirido foi aproveitado em sua obra-prima.
Verifica-se em A Boiada, de João Guimarães Rosa, que muitos vegetais
registrados em suas cadernetas de viagem foram utilizados no romance; além de
caracterizarem a vegetação típica do Cerrado, são mencionadas por Riobaldo suas serventias
na alimentação, na utilização da madeira, no comércio e também como marcadores de tempo,
pela floração e frutificação. Nota-se que a natureza não é só empregada com a função de
servir ao homem, mas também como um elemento que o acompanha e o qualifica.
No segundo capítulo nos adentramos na natureza de Grande sertão: veredas e sua
associação com as personagens. Seria um equívoco considerar que a natureza, mais
especificamente a flora, é um elemento que somente compõe e enfeita o cenário da narrativa,
já que Riobaldo, em seu relato, está a todo momento comparando as moças com quem se
relaciona às flores e às plantas. Além disso, essas moças, muitas vezes, carregam o nome de
flores e possuem importância significativa para a travessia do jagunço.
Já no terceiro capítulo, focamos no vegetal mais citado do romance: o buriti. As
veredas têm grande valor não apenas por serem caminhos, fontes de sobrevivência, através
das quais Riobaldo e seus companheiros realizam a travessia do sertão dos Gerais, mas
também por serem compostas pelos buritis, estes que se espelham nas águas e formam um
verdadeiro reino.
Diadorim é sempre comparado ao buriti; este reflete sua imagem na água, uma
imagem idêntica, porém, invertida. Diadorim também tem uma imagem invertida, já que se
11
passava por jagunço, mas na verdade era uma moça. Para trabalhar essa ambiguidade que a
água/espelho provoca, tivemos por base alguns textos como o de Humberto Eco, Sobre os
Espelhos e outros ensaios, este que afirma que o espelho não produz uma imagem invertida,
mas sim ilusória. Dessa forma, a palmeira buriti se apresenta com uma multiplicidade de
significados e símbolos; é essencialmente uma inspiração poética na vida de tal personagem.
Finalmente, sabemos que o grande encanto da arte literária está tanto no revelar
quanto no encobrir de informações; ou seja, na complexidade de sua trama, por isso, nosso
objetivo foi contribuir para o avanço da fortuna crítica rosiana e disponibilizar novos
conhecimentos sobre a flora presente no romance em questão. Desejamos também ampliar a
necessidade de se ler, reler e estudar o sertão de Rosa para os leitores interessados em
conhecer a natureza que acompanha o trilhar da vida de Riobaldo, numa narrativa em que a
vegetação delineia a singularidade do sertão e se relaciona com seus personagens.
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Capítulo I – A natureza em Rosa
Grande sertão: veredas é uma narrativa em que o fazendeiro Riobaldo, um
sertanejo que detém o poder da fala, conta a um Senhor da cidade, este que está sempre lhe
ouvindo, mas nunca lhe responde, o passado do jagunço Riobaldo-Tatarana e a sua grande
travessia no sertão das gerais. Essa travessia nos chama a atenção para o fato de que o sertão
presente nesse romance de Guimarães Rosa não é apenas um cenário natural em que se
desenrolam as ações, mas o sertão como um ator central que faz com que as ações aconteçam.
Rosa descreve esse sertão cheio de plantas, bichos, rios, veredas, lugares, minerais
etc., e com isso, percebemos a paixão de um Rosa naturalista e dono de uma maneira singular
e poética de retratar a natureza, diferentemente das classificações estáticas e secas empregadas
pela biologia. Em seu livro Ser-tão Natureza: a natureza em Guimarães Rosa, Mônica Meyer
sustenta a ideia de que essa natureza rosiana não se confirma somente como um caminho ou
uma paisagem, mas como elemento que constitui o homem. Vejamos:
A presença marcante e constante da natureza e das viagens na obra rosiana indica,
intuitivamente, que tanto a natureza como a viagem têm um significado que
ultrapassa a dimensão espacial de paisagem natural e de deslocamento geográfico. O
valor metafísico emerge através de situações em que há entrelaçamento entre
personagem e natureza. Nada é descrito gratuitamente, como composição e enfeite.
(MEYER, 2008, p. 203).
É sabido que Guimarães Rosa era um viajante e que essa experiência marcou
profundamente sua vida artística, pessoal, intelectual e profissional. Mas seus interesses pela
natureza e pelas viagens começaram ainda quando criança, pois já na sua cidade Natal,
Cordisburgo, no sertão de Minas Gerais, ele tinha contato com o mundo natural e com vários
viajantes que passavam por lá. No artigo “Paisagens do morro: recados de Rosa”, presente no
livro Ser Tao João, Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço fazem referência sobre essa
familiaridade de Rosa com a natureza:
(...) já na infância, Guimarães Rosa desenvolveu uma forma muito singular de
observação da natureza: recebeu contribuições das ciências naturais (como a
geografia), das artes, do pensamento mítico religioso e da cultura popular local. A
abordagem da natureza em sua literatura é uma síntese produzida no encontro entre
13
essas várias formas de pensamento e de conhecimento acerca da realidade que o
circulava. (LOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).
O conhecimento advém de viagens, do contato com novas culturas, mas também
ouvindo histórias de pessoas que quase nunca saem de suas terras e, assim, conhecem muito
bem suas tradições e a cultura popular local. Rosa começou a alimentar seu conhecimento na
sua terra, onde seu pai, Florduardo Pinto Rosa, tinha um comércio, conhecido como “Venda
de seu Fulô”, onde ouvia causos de várias pessoas que por ali passavam e contavam suas
estórias. Os causos, as lendas e os mitos que passam de pessoa a pessoa são a fonte que faz
surgirem os narradores, assim como Guimarães Rosa.
Ainda em sua infância, Joãozito, apelido com o qual era tratado, costumava
“andar pelos matos armando arapucas para depois soltar os passarinhos apanhados e
colecionar plantas e insetos organizados à moda dos bestiários do início da ciência e do
naturalismo” (GUIMARÃES apud LOURENÇO; SILVA, 2012, p. 86).
Podemos dizer que a natureza do sertão que nos é apresentada nas páginas de
Grande sertão: veredas é resultado dessas observações, das viagens, anotações e vivências de
Guimarães Rosa. As viagens pelo sertão mineiro, realizadas por ele, foram duas, e sobre elas
discorre ainda Fábio Borges da Silva e Claudinei Lourenço:
Pelo interior de Minas Gerais deixou registro de apenas duas viagens, uma em 1947,
chamada “Grande Excursão a Minas” e outra em 1952, denominada “A Boiada de
52”. Essa última, realizada entre os dias 19 e 29 de maio, produziu um acervo com
mais de 60 cadernos de notas, observações, descrições, croquis, cantigas populares,
coleção de nomes e verbetes locais – muitos ainda não dicionarizados – e que deram
substância à feitura de seu intento literário. (LOURENÇO; SILVA 2012, p. 87).
Vimos então que de fato Rosa fez viagens e sabemos que quem viaja sempre tem
muito a contar, a narrar. O resultado dessas andanças, em especial “A Boiada de 52”, foi a
extensa narrativa de Grande Sertão: veredas, que surgiu quatro anos mais tarde, em 1956.
Prova disso são os vários detalhes registrados nos seus cadernos de anotações encontrados
depois no romance, entre eles temos alguns vegetais como a flor casa-comigo, os pequizeiros,
os cágados, o pau-d‟óleo, maracanãs, entre outros.
Rosa colocou o sertão dentro desses caderninhos de anotações e se abastecia dos
seus dados e também das correspondências que trocava, inclusive com o seu pai, Florduardo,
que lhe dava informações, contava casos, noticiava e comentava, atendendo aos pedidos do
filho diplomata que, residindo fora do Brasil, pedia ao pai alguns assuntos que lhe interessava:
14
Por exemplo: Descrição de uma pescaria à rêde. Como era aquilo, da extraordinária
abundância de mandis, em determinadas épocas, e como e por que acontecia. Coisas
a respeito da fundação de Cordisburgo, e dos primeiros tempos do arraial etc.
(ROSA, apud MEYER, 2008, p. 59).
Esse tipo de correspondência era frequente entre eles. Joãozito solicitava ao pai
que fosse “recordando e alinhando lembranças interessantes de coisas vistas e ouvidas na roça
– caçadas, etc. – que possam servir de elementos para outro livro, que vou preparar” (ROSA,
apud MEYER, 2008, p. 59). As respostas do pai certamente ficariam em seu acervo particular
para posteriormente serem usadas em seus livros, mostrando assim a importância que
Florduardo teve em sua escrita e o quanto o influenciou.
Podemos dizer que com essas e tantas outras informações que teve, Rosa se
adentrou a fundo no sertão e isso fez com que conhecesse os detalhes desse cenário e o
transformasse em ficção. Segundo Mônica Meyer, no livro A Boiada:
Ao se tornar parte integrante da narrativa, as anotações são recriadas, tecidas na sua
estrutura e na sua trama, passando a adquirir nova função e sentido dentro dela. Com
base na observação atenta a realidade, o material coletado – anotações sobre a fauna
e a flora, costumes, falas – tudo é reaproveitado, reelaborado e recomposto,
reatualizando-se no espaço ficcional. (MEYER, 2011, p. 193).
Além das suas anotações, foram encontrados na biblioteca de Rosa, livros de
geografia, viagens, botânica e zoologia, sinal do seu grande interesse pelos rios e mares, pela
flora e fauna e pela agricultura. Conforme Mônica Meyer em Ser-tão Natureza,
o Arquivo de Guimarães Rosa é um testemunho da sua paixão pelo conhecimento,
de uma sede de aprender e uma preocupação em nomear a coisa certa, o que exigiu
um trabalho constante e meticuloso de coleta e de escrita: uma verdadeira
enciclopédia artesanal produzida para consulta pessoal. (MEYER, 2008, p. 58).
Tomando nota do seu conhecimento sobre o assunto, percebemos que Guimarães
Rosa vê a natureza, permite aos seus personagens que vejam (como exemplo o fato de que
Diadorim ensina a Riobaldo a enxergar as “quisquilhas” da natureza com outros olhos) e faz
uma descrição minuciosa para que o leitor também possa ver e conhecer os seres e o cenário
daquele mundo natural.
Rosa preocupa-se em traduzir uma multiplicidade de sensações que nos permitem
imaginar a diversidade do mundo sertanejo e sentir aquele mundo natural. Podemos ver as
belas tardes, os cantos dos pássaros, a cor e o cheiro das flores, o gosto e o tempero da comida
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dos sertanejos; enfim, “a cor, o som, o gosto e o cheiro dos Gerais exalam do texto”, como
acentua Mônica Meyer. (MEYER, 2011, p. 205).
Entre essas tantas faces do sertão retratado por Rosa, vamos nos adentrar na flora,
que está representada em Grande sertão: veredas pelas espécies típicas do cerrado, bioma
cuja cor predominante, segundo Rosa, é a amarela, de modo que “o amarelo traduz a paixão
de Guimarães Rosa pelo cerrado, declarada durante o discurso de posse na Academia
Brasileira de Letras: “Eu gosto do amarelo.” (ROSA, apud MEYER, 2011, p. 209).
Nas suas anotações, Rosa descreve as plantas sempre colocando características ora
das folhas, ora das flores, ora dos caules, ora das hastes, tempo de floração, frutificação, não
deixando de destacar o amarelo: “Capim e juncos (finos) com florzinhas amarelas balançando
nas pontas das longuinhas hastes. Tudo de amarelim” (ROSA, 2011, p. 137).
É perceptível na obra de Rosa uma natureza viva, que está sempre em movimento:
no trecho citado percebemos isso ao “ver” as “florzinhas amarelas balançando”; sentimos
também um movimento poético em Grande sertão: veredas ao ver naquele dia “desdobrado”
a “papeagem do buritizal, que lequelequêia” (ROSA, 2001, p. 63); a cor do vento quando este
bate nas palmas dos buritis todos, quando é ameaço de tempestade: “O vento é verde”.
(ROSA, 2001, p. 306).
É posta nas páginas do romance uma natureza belimbeleza, que leva o leitor a
adentrar-se pelo sertão, a envolver-se e mesmo a perceber a integração do autor com essa
natureza. No uso de diminutivos como “florzinhas” e “amarelim” fica evidente essa
afetividade e intimidade de Rosa com a natureza. Na passagem a seguir, presente no livro O
Brasil de Rosa de Luiz Roncari, Gilberto Freyre faz referência a Sergio Buarque de Holanda,
este que faz observações acerca do diminutivo, considerando ser uma tendência brasileira e
que nos faz aproximar dos objetos. Vejamos:
O desejo de estabelecer intimidade que o ensaísta Sérgio Buarque de Holanda
considera tão característico brasileiro, e ao qual associa aquele pendor, tão nosso,
para o emprego dos diminutivos – que serve, diz ele, para “familiarizarmos com os
objetos” (FREYRE, apud RONCARI, 2004, p. 35).
Em Grande sertão: veredas, a coloração das flores, como no exemplo acima,
“florzinhas amarelas”, além de ser um elemento importante de percepção do mundo sertanejo,
é também comparado à beleza, à mulher que Riobaldo ama. É o que se observa no trecho:
Ao crer, que soubesse mais do que eu mesmo o que eu produzia no coração, o
encoberto e o esquecido. Nhorinhá – florzinha amarela do chão, que diz: – Eu sou
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bonita!... E tudo neste mundo podia ser beleza, mas Diadorim escolhia era o ódio.
(ROSA, 2001, p. 393).
Mas no cerrado temos várias outras cores que pintam a vegetação e estão
presentes nas espécies típicas, como os capins, ervas, arbustos e árvores que são empregados
na alimentação, na medicina, em jardins e em outras serventias. Algumas das
aproximadamente 180 espécies encontradas no romance ganham certo destaque como o buriti,
o mais citado no relato que, como outras, ganhou o mundo nas páginas de Guimarães Rosa.
A paisagem do sertão vai sendo construída e caracterizada pela natureza e,
consequentemente, por sua vegetação. Além da constante presença desses vegetais no cenário,
eles possuem suas simbologias no romance e têm sua importância para o desenvolvimento da
narrativa. Segundo Mônica Meyer, “em Grande Sertão: Veredas pode-se dizer que a natureza
não se apresenta como um palco, cenário ou moldura onde se desenrola a ação, mas está
dentro de cada personagem e cada um faz sua natureza” (MEYER, 2008, p. 25). A autora
discorre sobre o mesmo assunto em A Boiada “(...) o sertão é incorporado e o que
aparentemente era externo, o entorno, ganha morada em cada um dos personagens que
aprendem a ler o mundo para lerem a si próprios”. (MEYER, 2011, p. 204).
Assim, partimos do pressuposto de que a vegetação não se apresenta somente
como um plano de fundo onde acontecem as ações em Grande sertão: veredas, ela também
tece a trama da vida do ex-jagunço Riobaldo, personagem principal, e delineia a singularidade
da vegetação do sertão e sua relação com o “homem humano”.
As árvores, as flores e os frutos compõem o romance juntamente com suas cores,
cheiros e sabores. Além disso, Rosa realça seus nomes populares, uma maneira de catalogar o
saber do povo sertanejo. Esses vegetais revelam o potencial da flora na alimentação, na
medicina, no fornecimento de madeira e em outras formas de manejo que favorecem as
populações locais. São destacados na obra o pequi, o jatobá, a macaúba, a imburana, o pau
d‟óleo, o tamboril, o agrião, a mangaba, a mandioca, o maracujá-do-mato, o joazeiro, o olho-
de-boi, a peroba, o cajueiro, a faveira, a gameleira, a mangabeira, o murici, o ingazeiro, o pau-
pombo, o capim-capivara, o buriti, o angico, o barbatimão, entre tantos outros2.
Em Grande sertão: veredas os pequizeiros, por exemplo, além de caracterizarem
a vegetação típica do Cerrado, são mencionados por Riobaldo em suas serventias como fonte
de alimento, o uso da sua madeira, o uso no comércio local e também como marcador de
2 Veja em anexo o levantamento da flora de Grande sertão: veredas.
17
tempo, pela sua floração. Vejamos alguns trechos do romance em que o narrador cita o pequi
e seus diferentes desempenhos práticos na vida do sertanejo:
O Garanço se regalava com os pequis, relando devagar nos dentes aquela polpa
amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais distraído que sou,
sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua. (ROSA, 2001, p. 200).
De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle e alvejando,
em quentes, em beira de mato e campo, em virada de espigão, descendo e subindo
ramal de ladeirinhas pequenas, e atrás de cerca, debaixo de cocho, trepado em jatobá
e pequizeiro, deitado no azul duma laje grande, e rolando no bagaço doce de cana, e
rebentando por dentro de uma casa. (ROSA, 2001, p. 246).
A quase meio-rumo de norte e nascente, a quatro léguas de demorado andamento,
tinha uma venda de roça, no começo do cerradão. Vendiam licor de banana e de
pequi, muito forte, geléia de mocotó, fumo bom, marmelada, toucinho. Sempre só
um de nós era que ia lá – para não desconfiarem. Ia o Jesualdo. A gente outorgava a
ele o dinheiro, cada um encomendava o que queria. (ROSA, 2001, p. 310).
Ao analisar tais passagens sobre o pequi, verificamos que Rosa caracteriza o fruto
destacando sua cor e seu consumo; como uma espécie de esconderijo e instrumento que
auxilia na guerra; o uso do licor no comércio, ou seja, como fonte de renda; o consumo da
bebida pelos jagunços e uma espécie de divertimento.
Além disso, a vegetação é usada no romance para estabelecer a passagem de
tempo, isso se dá pela sua floração e pela sua frutificação. A fenologia do pequi, do algodão,
do milho, da cana, por exemplo, têm seu tempo natural, acontecem em uma determinada
época do ano.
Assim, para dizer da passagem do tempo e de sua relação com o deslocamento
dos soldados no espaço do confronto, o narrador opta por fazê-la se desenrolar na frente do
leitor por meio de uma descrição que atribui ao tempo a materialidade da natureza em seu
processo contínuo de renovação: as roças crescem, os animais reproduzem, as flores viram
brotos, depois frutos que caem, como o pequi que, maduro, cai no chão sinalizando o fim de
um ciclo – o da reprodução – e o início de outro – o do consumo, momento no qual a
natureza, pródiga que é, se oferece ao homem como sustento. Do mesmo modo, relaciona
determinadas épocas do ano com a floração, frutificação e a predominância de determinada
vegetação:
Aí foi em fevereiro ou janeiro, no tempo do pendão do milho. Trêsmente: que com o
capitão-do-campo de prateadas pontas, viçoso no cerrado; o anis enfeitando suas
moitas; e com florzinhas as dejaniras. Aquele capim-marmelada é muito restível,
18
redobra logo na brotação, tão verde-mar, filho do menor chuvisco. De qualquer pano
de mato, de de-entre quase cada encostar de duas folhas, saíam em giro as todas as
cores de borboletas. Como não se viu, aqui se vê. (ROSA, 2001, p. 43-44).
Compadre meu Quelemém é um homem fora de projetos. O senhor vá lá, na Jijujã.
Vai agora, mês de junho. A estrela d‟alvasai às três horas, madrugada boa gelada. É
tempo da cana. (ROSA, 2001, p. 74).
No alto, eram muitas flores, subitamente vermelhas, de olho-de-boi e de outras
trepadeiras, e as roxas, do mucunã, que é um feijão bravo; porque se estava no mês
de maio, digo – tempo de comprar arroz, quem não pôde plantar. (ROSA, 2001, p.
120).
Tomando o tempo da gente, os soldados remexiam este mundo todo. Milho crescia
em roças, sabiá deu cria, gameleira pingou frutinhas, o pequi amadurecia no
pequizeiro e a cair no chão, veio veranico, pitanga e caju nos campos. (ROSA, 2001,
p. 319).
No tempo de maio, quando o algodão lãla. Tudo o branquinho. Algodão é o que ele
mais planta, de todas as modernas qualidades: o rasga-letras, bibol, e mussulim.
(ROSA, 2001, p. 623).
Escolhida a natureza para fazer o leitor visualizar o transcurso do tempo, o
narrador opta por fazer este não ser apenas informação do mês, da vegetação em destaque,
mas o ser poeticamente informado desse tempo, este que não é tecnicamente, mas
naturalmente mensurado. Rosa, naturalista que era, não estava interessado em transmitir o
“puro em si” do tempo e da natureza como se fossem informação ou uma espécie de relatório.
Segundo Walter Benjamin, no texto “O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai
Leskov”, “a narrativa (...) mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele.
Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso”
(BENJAMIN, 1994, p. 205). Pode-se dizer então que essa “coisa” que cita Benjamim é a
natureza na vida de Rosa/Riobaldo, e em Grande sertão: veredas, que é, nesse caso, “o vaso”,
ele coloca sua “marca”, ou seja, sua maneira de narrar poeticamente.
A natureza, desde o início do mundo, é tomada como utilitária e todas as suas
criaturas deveriam ser prestativas para o homem. Desde modo, é assistida a predominância do
homem sobre seu universo. Vejamos um trecho bíblico que também é citado por Mônica
Meyer:
E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a todos os répteis da terra,
em que há fôlego de vida, toda erva verde lhe será mantimento. (GÊNESIS1: 30,
apud MEYER, 2008, p. 75).
19
Vimos então que a única função da natureza era servir ao homem e ser objeto de
dominação a partir do qual ele extrai tudo o que pode para sua sobrevivência. Na carta de
Pero Vaz de Caminha, os portugueses informavam ao rei as maravilhas e os costumes da terra
descoberta já com a intenção de explorar e extrair as riquezas naturais:
Ali ficamos um pedaço, bebendo e folgando, ao longo dela, entre esse arvoredo, que
é tanto e tamanho e tão basto e de tantas prumagens, que homens as não podem
contar. Há entre ele muitas palmas de que colhemos muitos e bons palmitos.
(CAMINHA, 1981, p. 73).
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de
metal nem de ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim
frios e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo de agora
os achávamos como os de lá. (CAMINHA, 1981, p. 87).
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar,
dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. (CAMINHA, 1981, p. 88).
É mostrada na carta de Caminha essa posição do homem diante do natural; uma
posição superior e uma relação de utilidade que, segundo Meyer, desencanta a natureza e
transforma esse bem natural em recurso:
É a lógica de uma economia fundamentada na busca de enriquecimento rápido, na
apropriação do ambiente e na extração de matéria-prima que pode ser convertida em
riqueza. Os naturais recursos servem como guias e indicadores de fortuna e a
exploração desenfreada causa desastrosos impactos ambientais, interferindo na vida
local. (MEYER, 2008, p. 87).
Essa exploração e visão utilitária do natural, com o passar dos anos, impôs ao
homem a obrigação de pensar em preservação e repensar na maneira do progresso e do
enriquecimento. O modo de ver a natureza teve que ser mudado, e foi a concepção naturalista
que propôs uma nova maneira de olhar e de se relacionar com o mundo natural.
A natureza de Rosa vai além de ser um objeto de pesquisa, de serventia, de
utilidade e de exploração. Ele não se preocupa tão somente em conhecer os seres em si, em
nomeá-los corretamente e transpor para o papel. Rosa faz com que a natureza seja um sujeito
animado, que tenha vida própria; uma natureza que avisa quando vai chover, que tem
palmeiras que brincam com o vento, buritis que aconselham os personagens.
Aqui, a natureza não é submissa ao homem, os acontecimentos se relacionam
com os cursos da natureza. Assim, percebe-se em Grande sertão: veredas uma harmonia do
homem com o seu universo, do homem com a natureza, do homem com o sertão.
20
Portanto, vimos que no romance não podemos rotular a natureza unicamente
como um meio ou palco no qual acontece o espetáculo. Ela é um conjunto maior que agrega
todos os seres e coisas. Rosa nos descreve os vegetais, os animais, os rios, os minerais, a terra,
o céu e todas as “quisquilhas” naturais.
Nossa leitura é como uma travessia, pois mudamos nossa maneira de olhar para
aquele universo sertanejo. É como se fosse um ritual de passagem para adentrar-se nas
veredas, na guerra dos jagunços, no espaço dos gados, nos conflitos surgidos pelo processo de
modernização e na natureza singular daquele sertão. Como diz Riobaldo: “o real não está na
saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” (ROSA, 2001, p.
80).
21
Capítulo II – A flora e sua relação com as personagens
A natureza não está longe, nem fora, nem ao redor, não impõe medo, nem espanto,
nem afasta as pessoas. “O sertão é dentro da gente.” (MEYER, 2011, p. 222).
A literatura pode servir de peça etnográfica para espelhar uma sociedade e
também nos mostrar como se dão as relações do homem com a natureza. Há uma integração
que é visível, principalmente nas áreas afastadas e isoladas dos ambientes urbanos, pois
geralmente nesses ambientes a vegetação é utilizada para ornamentação e consumo, uma
natureza artificial. No romance, que se passa no sertão, é perceptível uma relação de extrema
intimidade com o ambiente natural, longe da industrialização, da lei e da ordem. A verdade é
que a “(...) cidade acaba com o sertão. Acaba?” (ROSA, 2001, p. 183).
O natural não se aparta dos sertanejos, não só pela capacidade de usufruir, de
extrair, de usar e de utilizar. A natureza do sertão convive com seus personagens, sendo
construída de modo que o mundo natural se funda na realidade humana, fazendo com que a
identidade de cada um seja o resultado de uma relação mútua.
Exemplo dessa relação são os nomes das personagens, a começar pelo narrador-
protagonista Riobaldo, cujo nome significa “rio de planície de leito raso, sem muito rumo e
traçados definidos” (RONCARI, 2004, p. 83). Em sua narrativa ele chega a se comparar a um
rio:
Consegui o pensar direito: penso como um rio tanto anda: que as árvores da beirada
mal nem vejo... Quem me entende? (ROSA, 2001, p. 359).
Eu queria a muita movimentação, horas novas. Como os rios não dormem. O rio não
quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo. O Urucúia
é um rio, o rio das montanhas. Recebe o encharcar dos brejos, verde a verde,
veredas, marimbús, a sombra separada dos buritizais, ele. Recolhe e semeia areia.
Fui cativo e solto? (...) Mesmo na hora em que eu for morrer, eu sei que o Urucúia
está sempre, ele corre. O que eu fui, o que eu fui. (ROSA, 2001, p. 450-451).
Seu nome, ligado a esse elemento da natureza, se faz justo durante toda a
narrativa, uma vez que os acontecimentos mais importantes em sua vida acontecem também
nos rios. Exemplo disso é o episódio em que Riobaldo tem seu primeiro encontro com
Diadorim, no Rio São Francisco, sobre o qual ele diz: “O São Francisco partiu minha vida em
duas partes.” (ROSA, 2001, p. 325).
22
Sobre isso, Roncari pontua que “foi na travessia do São Francisco que ele
conheceu a si, o seu medo, e ao seu outro, Diadorim, possuidor da coragem e autoridade que
não tinha, mas gostaria de ter.” (RONCARI, 2004, p. 82).
Não só os rios têm relação com seus personagens, há relações de personagens com
a fauna e também com a flora, nosso objeto de estudo. Vimos no primeiro capítulo, a título de
exemplo, Riobaldo comparando uma mulher, Nhorinhá, a uma flor como sinônimo de beleza:
“Nhorinhá – florzinha amarela do chão, que diz: – Eu sou bonita!...”. (ROSA, 2001, p. 393).
Rosa faz uso das flores, além de comparar a beleza, para nomear suas
personagens, como exemplo Rosa‟uarda e Miosótis, moças que moravam no Curralinho,
cidade onde Riobaldo foi enviado por seu padrinho Selorico Mendes para aprender a ler.
Riobaldo se lembra dessas mocinhas dizendo que pensava que elas tinham sido suas
namoradas, o que nos leva a crer que não são quaisquer moças, mas sim moças que tiveram
certa importância na sua juventude:
Alemão Vupes ali, e eu recordei lembrança daquelas mocinhas – a Miosótis e a
Rosa‟uarda – as que, no Curralinho, eu pensava que tinham sido as minhas
namoradas. (ROSA, 2001, p. 87).
Curralinho era lugar muito bom, de vida contentada. Com os rapazinhos de minha
idade, arranjei companheirice. Passei lá esses anos, não separei saudade nenhuma,
nem com o passado não somava. Aí, namorei falso, asnaz, ah essas meninas por
nomes de flores. A não ser a Rosa‟uarda – moça feita, mais velha do que eu, filha
de negociante forte, seo Assis Wababa, dono da venda O Primeiro Barateiro da
Primavera de São José – ela era estranja, turca, eles todos turcos, armazém grande,
casa grande, seo Assis Wababa de tudo comerciava. (ROSA, 2001, p. 130 – grifo
nosso).
Nesta última passagem do romance, Riobaldo descreve a moça Rosa‟uarda que,
apesar de morar no Curralinho, era estrangeira, turca. Seu pai, dono de venda, gostava de
Riobaldo e o chamava para almoçar; eles tinham uma boa relação, por isso, o jagunço relata
que estimou “seo Assis Wababa, a mulher dele, dona Abadia, e até os meninos, irmãozinhos
de Rosa‟uarda”. Mesmo sendo estrangeiros e falando uns com os outros numa língua
diferente, Riobaldo afirma que Rosa‟uarda também gostava dele:
Assim mesmo afirmo que a Rosa‟uarda gostou de mim, me ensinou as primeiras
bandalheiras, e as completas, que juntos fizemos, no fundo do quintal, num esconso,
fiz com muito anseio e deleite. Sempre me dizia uns carinhos turcos, e me chamava
de: – “Meus olhos.” Mas os dela era que brilhavam exaltados, e extraordinários
23
pretos, duma formosura mesmo singular. Toda vida gostei demais de estrangeiro.
(ROSA, 2001, p. 131).
Ante antes ia para o seo Assis Wababa – aquela hora eu queria só gente estranha,
muito estrangeira, estrangeira inteira! Só fosse um pouco para ver a Rosa‟uarda, essa
assim eu amava? Ah, não. Gostasse da Rosa‟uarda, mais aí nas delícias dela minha
idéia não podendo se firmar – porque aumentava o desamparo de minha vergonha.
Ia para a escola de Mestre Lucas. A lá, perto da casa de Mestre Lucas, morava um
senhor chamado Dodó Meireles, que tinha uma filha chamada Miosótis. Assim, à
parva, às tantices, essa mocinha Miosótis também tinha sido minha namorada, agora
por muitos momentos eu achava consolo em que ela me visse – que soubesse: eu,
com minhas armas matadeiras, tinha dado revolta contra meu padrinho, saíra de
casa, aos gritos, danado no animal, pelo cerrado a fora, capaz de capaz! (ROSA,
2001, p. 139).
Riobaldo gostava dessa moça estrangeira, mas ao se questionar se a amava, ele
negava, pois era um gostar diferente e que não permitia se “firmar”, ou seja, ter um
compromisso mais sério. Ela ficou marcada em sua vida pelo fato de iniciá-lo na vida sexual,
como nos mostra a passagem acima.
Depois que conheceu Rosa‟uarda, Riobaldo conheceu a filha do senhor Dodó
Meireles, chamada Miosótis, moça que também tinha sido sua namorada. Ele afirma que “não
gostava daquela Miosótis, ela era uma bobinha, no São Gregório nunca tinha pensado nela;
gostava era de Rosa‟uarda”. (ROSA, 2001, p. 139).
Sabemos que os namoros com essas “meninas por nomes de flores” (ROSA, 2001,
p. 130) não se efetivaram de fato, tendo em vista que namoro, segundo o dicionário Aurélio é
uma “relação de interesse amoroso recíproco” (FERREIRA, 2001, p. 513); Riobaldo gostava
de Rosa‟uarda, não a amava. Gostar é um sentimento diferente de amar. Entretanto, ao saber
do noivado da primeira com um turco, ele ficou triste, porém aliviado, pois, segundo ele:
“aquele amor não seria mesmo para mim, pelos motivos pessoais.” (ROSA, 2001, p. 140).
Apesar de negar ser amor, ele gostava de Rosa‟uarda; se pegava pensando naquela
moça linda, assim como uma rosa, flor que compõe seu nome: “Rasa‟uarda”. Esta, da família
das Rosáceas, é cultivada em todos os lugares do mundo pela beleza e perfume de suas flores.
As rosas têm sido parte dos gestos simbólicos de romance e amizade desde tempos
imemoriais. Suas cores são as mais variadas: branca, rosa, amarela e vermelha, a mais famosa
e comum quando amantes presenteiam suas namoradas, simbolizando o amor, o afeto. Entre
tanta abundância e cores, elas também existem em várias espécies, como a “Rosa da Turquia”
(BRAGA, 1976, p. 433), cujo nome científico é Rosa damascenae nome popular Rosa Turca.
Assim como a personagem Rosa‟uarda é de origem turca, essa espécie não é típica do sertão;
é de origem búlgara, turca e francesa.
24
Guimarães Rosa era considerado um dos mestres em inventar palavras, além de ter
criado neologismos, utilizava regionalismos e arcaísmos (palavras já ultrapassadas) em suas
obras. O nome “Rosa‟uarda” não é muito comum, pois é uma de suas criações. Margarida
Basílio em Teoria Lexical discorre que temos dois processos de formação de palavras:
derivação e composição. Segundo a autora, o processo de derivação
se caracteriza pela junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a
formação de uma palavra. Assim, dizemos que uma palavra é derivada quando ela se
constitui de uma base e um afixo. (...) Em geral, a base de uma forma derivada é
uma forma livre – isto é, uma palavra comum; ou mais tecnicamente, uma forma que
possa por si só constituir um enunciado, como acontece com verbos, substantivos,
adjetivos e advérbios. (BASILIO, 1991, p. 26).
Na formação de seu nome, além de “Rosa”, que constitui a base, temos o sufixo
“uarda”; então, Rosa‟uarda. Essa composição pode ser em homenagem a uma pessoa muito
especial na vida e nos escritos de Guimarães, seu pai, Florduardo, cujo nome, em parte,
carrega a designação do substantivo comum flor (base) e o sufixo “uardo”. Esses dois nomes
são formados por um radical + sufixo + vogal temática. Margarida Basílio salienta que do
ponto de vista morfológico, “a base de uma construção é tradicionalmente chamada de
“radical”” (BASILIO, 1991, p. 14). Esse radical, geralmente é seguido de uma “vogal
temática”, que é uma vogal que difere o gênero da palavra. Vejamos: Rosa‟uarda = Rosa +
‟uard + a e Florduardo = Flor + duard + o.
É perceptível uma estrutura idêntica nesses substantivos, já que são compostos por flores
(radical) + uard (sufixo) + a/o (vogal temática).
“Rosa” nos remete ao substantivo “flor”, este que, além de compor o nome de
Florduardo, compõe também seu sobrenome: Florduardo Pinto Rosa, conhecido como o seu
Fulô da venda. Geralmente, em regiões afastadas das cidades grandes, é comum ouvirmos a
pronúncia “fulô”, no lugar de “flor”, que é uma variante.
Interessante que o pai da personagem Rosa‟uarda também era comerciante, assim
como o pai de Guimarães Rosa, o que não é mera coincidência. Sobre essa semelhança entre
os nomes desses personagens, discorre a Professora Ivana Rebello em sua tese de doutorado
Poética de atrito: pedras, jogo e movimento no Grande sertão:
A semelhança dos nomes, Florduardo e Rosa„uarda, não pode vir ao estudioso como
coisa fortuita ou acidental. Nela se representa uma característica do processo de
criação lexicográfica do autor, que cortava e colava termos e sílabas, sempre em
busca de novos vocábulos e outras significações para a sua escrita. O nome da
25
menina turca também se constitui uma espécie de homenagem de Rosa ao seu pai.
(REBELLO, 2011, p. 40).
Guimarães Rosa se interessava e se preocupava em nomear com precisão tudo o
que era significativo para ele, inclusive os nomes das personagens. Para uma boa análise
dessas personagens não devemos ficar presos ao texto. Ivana Rebello nos diz que “não se
pode ler Guimarães Rosa por meio de um único livro; toda a sua escrita está prenhe de si
mesmo e do seu inovador projeto de literatura, ainda que tal aspecto incorra em certo risco de
leitura (...)” (REBELLO, 2011, p. 40). Sobre esse aspecto, manifesta-se Ana Maria Machado
no livro Recado do Nome:
O nome próprio em um texto de Proust ou o de Guimarães Rosa é, portanto, uma
palavra poética, um signo espesso e rico que escapa sempre aos limites de cada
sintagma, enviando ao conjunto do texto, e mesmo para além do texto.
(MACHADO, 2003, p. 44 – grifo nosso).
O nome de Rosa‟uarda tem um significado que vai além da história contada, é uma
homenagem a uma figura que não está presente no texto. Mas porque essa homenagem? Rosa
e Florduardo tinham uma relação de cumplicidade, prova disso são as trocas de cartas.
Mostramos no primeiro capítulo alguns trechos de suas correspondências com as quais ele
fornecia dados e estórias que iriam servir para os futuros livros do filho. É possível que em
Grande sertão: veredas Rosa tenha usado informações que o pai lhe fornecia, e, como
homenagem, ter colocado um nome que remete ao pai em uma mocinha em quem Riobaldo
sempre pensava; de quem guardava saudades e lembranças: “A Rosa‟uarda. Me alembrei
dela; todas as minhas lembranças eu queria comigo.” (ROSA, 2001, p. 327).
Miosótis é também o nome popular de uma flor que, cientificamente, é designada
por Myosotisalpestris; conhecida ainda como Não-me-esqueças e Não-te-esqueças-de-mim.
Os nomes populares da flor podem ser explicados por algumas lendas como a de Deus, que
nomeou a florzinha porque ela não conseguia recordar do seu próprio nome. Há também a
lenda de Adão, que ainda no Éden, ao dar nomes às plantas do referido Jardim, não viu a
pequena flor azul; mais tarde, percorrendo o jardim para saber se os nomes tinham sido
aceitos, chamou-as pelo nome; mas se esqueceu de uma pequena florzinha e, para compensar
e nunca mais esquecê-la, deu-lhe o nome de “Não-te-esqueças-de-mim”. Há, ainda, a lenda
alemã conta que um cavalheiro foi pegar, no rio, a flor para sua amada e ao se afogar, gritava
26
para ela: “não-me-esqueças”. Também temos a lenda das Lágrimas da Virgem Maria, o
Miosótis no Nazismo, entre outras3.
Apesar de se referir a Miosótis como bobinha e dizer que não gostava dela,
Riobaldo nunca se esquece de mencioná-la, sempre está se lembrando dela, assim como o
nome popular da flor; porém, não da mesma maneira que se lembra de Rosa‟uarda. Isso fica
perceptível até pelos pronomes. Vejamos:
Mesmo parava tempos no pensar numa mulher achada: Nhorinhá, a minha moça
Rosa‟uarda, aquela mocinha Miosótis. Mas o mundo falava, e em mim tonto sonho
se desmanchando, que se esfiapa com o subir do sol, feito neblina noruega movente
no frio de agosto. (ROSA, 2001, p. 332-333 – grifos nossos).
De acordo com a Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos
Paschoal Cegalla, “os pronomes são palavras que substituem os substantivos ou os
determinam, indicando a pessoa do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 179). No trecho acima
temos dois tipos de pronomes: o possessivo “minha” e o demonstrativo “aquela”. O primeiro,
segundo Cegalla, “refere-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa”
(CEGALLA, 2010, p. 182); já o segundo, “indica o lugar, a posição ou a identidade dos seres,
relativamente às pessoas do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 183).
Quando se refere à Rosa‟uarda, Riobaldo usa o pronome possessivo “minha”,
conferindo-lhe posse, já que ele fala da moça em seu discurso como se ela fosse sua.
Diferente disso, no momento em que se refere a Miosótis, ele faz uso do pronome
demonstrativo “aquela”, indicando assim certo distanciamento em relação a essa, pois ela não
é uma pessoa que ele tem guardado junto de si como Rosa‟uarda.
Então chegamos à conclusão de que Rosa‟uarda era especial, moça de família e
que chegou a ser comparada por Riobaldo com Otacília, mulher que conheceu na Fazenda
Santa Catarina e com quem se casou:
Conheci que Otacília era moça direta e opiniosa, sensata, mas de muita ação. Ela não
tinha irmão nem irmã. Sor Amadeu chefiava largo: grandes gados sem léguas de
alqueires. Otacília não estava noiva de ninguém. E ia gostar de mim? De moça-de-
família eu pouco entendesse. Aser, a Rosa‟uarda? Assim igual eu Otacília não queria
querer; salvante assente que da Rosa‟uarda nunca me lembrei com desprezo: não vê,
não cuspo no prato em que o bom já comi. (ROSA, 2001, p. 209).
3 Lágrimas da Virgem Maria é uma lenda cristã e popular que nos conta que as flores dessa planta teriam ficado
da cor azul quando a Virgem Maria lhes derramou lágrimas por cima. Conta-se que a flor Miosótis – não me
esqueças, também foi utilizada como emblema secreto da Maçonaria, para que os maçons pudessem se
identificar, sem chamar a atenção dos nazistas, durante as perseguições às lojas maçônicas na Alemanha.
27
Riobaldo conheceu essas mulheres em diferentes fases de sua vida; uma mais
moço, mas da qual nunca esquecera e a outra quando já era Jagunço. Outra diferença se deve
ao fato de que Rosa‟uarda estava noiva e Otacília não. Otacília e Rosa‟uarda eram moças de
família, com pais ricos, criadas para se casarem, uma com nome de flor, a outra associada às
flores, ou seja, suas características pessoais são relacionadas às características das plantas,
conforme mostraremos.
Na cultura popular sertaneja, retratada no romance, as casas de fazenda onde
havia moças boas para se casarem, plantavam uma flor, cujo nome científico não existe e cujo
significado desliza em função dos diferentes sentidos que lhe são atribuídos por três
personagens, mas pertencentes a um mesmo valor semântico. Segundo Riobaldo, é uma “flor
figurada” (ROSA, 2001, p. 206), justamente para que os homens possam perguntar para as
moças o nome da flor.
Nos textos das cadernetas de Guimarães Rosa achamos registrada, circulada de
azul e colorida de lápis preto, essa flor com um nome e as suas características: “A flor –
(pareceu-me caeté) – chamada casa-comigo. É branca, parece um lírio. xxxxxxxxx E é muito
perfumosa” (B2, p. 17). É atribuída a essa flor, casa-comigo, características de outras plantas:
o caeté e o lírio, porém, não se conhece com certeza o nome de tal espécie perfumosa, e isso
faz com que sua identidade seja curiosa; assim, acabam por indagar seu nome:
Mas, na beira da alpendrada, tinha um canteirozinho de jardim, com escolha de
poucas flores. Das que sobressaíam, era uma flor branca – que fosse caeté, pensei, e
parecia um lírio – alteada e muito perfumosa. E essa flor é figurada, o senhor sabe?
Morada em que tem moças, plantam dela em porta da casa-de-fazenda. De propósito
plantam, para resposta e pergunta. Eu nem sabia. Indaguei o nome da flor. (ROSA,
2001, p. 206).
Esse registro aparece logo após anotações de características de uma fazenda, esta
que tem o mesmo nome da fazenda em que reside Otacília:
A Fazenda Santa Catarina fica perto (junto do) céu – um céu azul pintural – de Pisa
ou Siena – com nuvens que não se removem (...) entre os currais e o céu. Há apenas
um limpo gramado e uma restinga de cerrado, de onde descem borboletas brancas,
que passam entre as réguas da cêrca.
Fogo-pagou = sempre! (Boiada 2, p. 17).
De maneira muito parecida com o que o autor Guimarães Rosa registrou em suas
anotações em Boiada 2, Riobaldo narra para o Senhor da cidade como era a fazenda de
Otacília, antes da pergunta e da conversa sobre a flor:
28
O que lembro, tenho. Venho vindo, de velhas alegrias. A Fazenda Santa Catarina era
perto do céu – um céu azul no repintado, com as nuvens que não se removem. A
gente estava em maio. Quero bem a esses maios, o sol bom, o frio de saúde, as flores
no campo, os finos ventos maiozinhos. A frente da fazenda, num tombado,
respeitava para o espigão, para o céu. Entre os currais e o céu, tinha só um gramado
limpo e uma restinga de cerrado, de donde descem borboletas brancas, que passam
entre as réguas da cerca. Ali, a gente não vê o virar das horas. E a fogo-apagou
sempre cantava, sempre. Para mim, até hoje, o canto da fogo-apagou tem um cheiro
de folhas de assapeixe. (ROSA, 2001, p. 204-205).
Percebemos com essas comparações de notas de viagem e de trechos do romance
que Rosa usou de seu conhecimento e de sua experiência no sertão para descrever a flor
perfumada, o ambiente e até mesmo o tempo que rodeava os personagens. É notório, tanto nas
anotações vivenciadas pelo autor quanto na narração das vivências de Riobaldo, o
encantamento com o lugar, a descrição singular da natureza que constituía as fazendas de
Santa Catarina e no romance, lugar onde vivia uma moça “risonha e descritiva de bonita”
(ROSA, 2001, p. 205).
Otacília, “mimo de alecrim” (ROSA, 2001, p. 205), como qualificou Riobaldo,
mais uma vez comparada a uma planta, era, como todas as moças: mansa, branca e delicada,
mas “Otacília era mais” (ROSA, 2001, p. 206). Em todas as casas onde havia moças boas para
casar, em frente havia uma flor misteriosa que, motivo de pergunta, exigia uma resposta.
Como vimos no romance, Riobaldo, sem saber, indagou o nome da flor:
– “Casa-comigo...” – Otacília baixinho me atendeu. E, no dizer, tirou de mim os
olhos; mas o tiritozinho de sua voz eu guardei e recebi, porque era de sentimento.
Ou não era? Daquele curto lisim de dúvidas foi que minou meu maisquerer. E o
nome da flor era o dito, tal, se chamava – mas para os namorados respondido
somente. (ROSA, 2001, p. 206).
Essa “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206), como é chamada por Riobaldo, tem
uma pluralidade de significados; é uma “flor figurada” (ROSA, 2001, p. 206). Isso ocorre
pelo fato de uma mesma flor ganhar diferentes nomes ao relacioná-la com diferentes
mulheres. Ao pensar em Nhorinhá, sua “pimenta-branca” (ROSA, 2001, p. 206), prostituta
com quem Riobaldo se envolve, a flor recebe a alcunha de “Dorme-comigo”:
Consoante, outras, as mulheres livres, dadas, respondem: – “Dorme-comigo...”
Assim era que devia de haver de ter de me dizer aquela linda moça Nhorinhá, filha
de Ana Duzuza, nos Gerais confins; e que também gostou de mim e eu dela gostei.
Ah, a flor do amor tem muitos nomes. Nhorinhá prostituta, pimenta-branca, boca
cheirosa, o bafo de menino pequeno. Confusa é a vida da gente; como esse rio meu
Urucúia vai se levar no mar.(ROSA, 2001, p. 206).
29
Luiz Roncari, ao caracterizar Nhorinhá, faz uma comparação com frutas de beira
de estrada, frutas sem dono, assim como a prostituta:
Ela é uma daquelas prostitutas doadoras do amor sexual e sensível, sempre acessível
ao alcance de todos, como as frutas sem dono das beiras de estrada: “Nhorinhá –
florzinha amarela no chão, que diz: – Eu sou bonita!...” e “Nhorinhá, gosto bom
ficado em meus olhos e minha boca” (ROSA, 1963, p. 356 e 96). (RONCARI, 2007,
p. 127).
Ao dialogar com Otacília sobre a “flor do amor” (ROSA, 2001, p. 206), Riobaldo
chama Diadorim, este que estava distante da conversa; como se tivesse que lhe dar satisfação,
o jagunço explica que estavam falando sobre a plantinha. Nesse dia “remarcado”, Riobaldo
viu que Otacília não gostava de Diadorim e este tinha ciúme dele com qualquer mulher:
E Diadorim reparou e perguntou também que flor era essa, qual sendo? – perguntou
inocente. – “Ela se chama é liroliro...” – Otacília respondeu. O que informou,
altaneira disse, vi que ela não gostava de Diadorim. Digo ao senhor que alegria que
me deu. Ela não gostava de Diadorim – e ele tão bonito moço, tão esmerado e
prezável. Aquilo, para mim, semelhava um milagre. Não gostava? Nos olhos dela o
que vi foi asco, antipatias, quando em olhar eles dois não se encontraram. E
Diadorim? Me fez medo. Ele estava com meia raiva. O que é dose de ódio – que vai
buscar outros ódios. Diadorim era mais do ódio do que do amor? Me lembro,
lembro dele nessa hora, nesse dia, tão remarcado. Como foi que não tive um
pressentimento? (ROSA, 2001, p. 206-207).
Portanto, vimos que dentro da narrativa essa flor tem vários nomes, pois ao
indagar sobre sua espécie temos diferentes respostas. A flor tem o nome de casa-comigo para
Otacília, dorme-comigo para Nhorinhá e Liroliro quando Diadorim pergunta a Otacília o
nome da planta.
Riobaldo, em sua trajetória de jagunço, experimentou diferentes situações
amorosas; cada um desses amores teve importância particular em sua vida e por cada uma
dessas mulheres nutriu um tipo de sentimento diferenciado. Tal como os gregos, por exemplo,
que fazem três tipos de distinção de amor, usavam a palavra de acordo com o tipo de amor a
que se referiam: Ágape é um amor sentimental, fraternal e espiritual, podemos relacioná-lo ao
amor de Otacília; Eros se refere ao amor sexual, carnal e que relacionamos a Nhorinhá; por
fim, temos o Philos, que é um amor vinculado à amizade e que pode ser relacionado a
Diadorim e, nesse caso, também a um amor impossível.
Otacilía sente por Riobaldo um amor sentimental; é ela quem oferece a ele
estabilidade, fidelidade e afeto constante. Por tais motivos é que é relacionada à flor casa-
30
comigo. Diferente de Otacília, Nhorinhá é o amor carnal como prostituta, representa o amor
físico e é com ela que Riobaldo vive momentos de profunda satisfação, por isso é relacionada
à flor dorme-comigo. O último de seus amores, Diadorim, é quem representa para ele um
amor inexplicável e impossível, proibido. Um amor que se apossa do jagunço como um
feitiço, um encanto que o perseguiu ao longo de sua travessia. Esse é um amor travestido de
amizade, relativo ao nome da flor, quando denominada liroliro. Essas três denominações,
referindo-se a três tipos de pessoas, à namorada, à prostituta e ao amigo-jagunço, simbolizam
no romance os diferentes discursos sobre o amor.
Além dessas relações baseadas nos significados das palavras, analisaremos
visualmente as estruturas das palavras relacionando-as aos seus respectivos significados.
Reparem que casa-comigo tem letras iguais no começo de cada palavra, dorme-comigo tem
letras diferentes no começo das palavras, ambas formam uma locução, cujos vocábulos se
unem por meio do hífen. Liroliro é diferente, é uma palavra dobrada, repetida, espelhada:
Diadorim, nome a que liroliro se refere, tem a partícula “Di” que remete a dualidade, dois,
duplo.
Podemos associar que em casa-comigo há um casamento entre as palavras, por
meio da letra “c” que se repete no início de cada uma. Na segunda palavra – dorme-comigo –
não há essa combinação, por isso pode remeter a uma relação passageira e, por fim e
ironicamente, a palavra liroliro, sem hífen, com identidade absoluta entre os vocábulos que a
forma, é a expressão metafórica de relação interdita.
Num ambiente tão masculino como o sertão, onde a força, a brutalidade, a
valentia e a coragem são impostas, parece ser o signo do feminino e dessas mulheres com
nomes de flores, entretanto, que fazem com que o homem-jagunço se mova e seja levado a
realizar suas travessias.
O primeiro signo, feminino, que não tem nome de flor, mas que não podemos
deixar de lembrar é sua mãe, a Bigri. Márcia Marques de Morais associa o amor de Bigri com
o de Diadorim:
O deslizamento do amor por Diadorim para o amor da Bigri representa-se, na ordem
discursiva, através da metonímia dos olhos verdes do jagunço que, em várias
passagens do romance, lembravam “os olhos de velhice de minha mãe” (Rosa, 1965,
p. 115) e através, ainda, da figuração de Diadorim como o buriti, palmeira que, se no
canto de João Fulano, em “Cara-de-Bronze” é a “mamãe verde do sertão” (Rosa,
1996, p. 83), nas palavras de Riobaldo, depois de morto, Diadorim é a palmeira
namorada da “quadra do entardecer”. (Rosa, 1965, p. 455). Aí se vê, pois, outra
simbiose, outra contigüidade entre figuras, outra metonímia, não por acaso, nas
palavras de Lacan, a expressão do desejo: Diadorim e a Bigri se superpõem através
do “interpretante” semiótico: o verde dos olhos e da palmeira, do buriti, fazendo
31
com que Cavalcanti Proença, ao identificar Riobaldo com o Urucuia, um rio-baldo,
diga: “Acabou-se o Urucuia que nasceu de um buriti, amou um buriti e acabou no
São Francisco” (Proença, 1958, p. 42) e que ainda, imaginem, em 1958, escreve: Os
olhos do menino eram verdes, cor das palmas, e quando Riobaldo os reencontra no
moço cangaceiro, antes de reconhecer o amor tormentoso, faz a “transferência
reveladora” (a autora enfatiza): “Doçura do olhar dele me transformou para os olhos
da velhice de minha mãe”. (Proença, 1958, p. 56). (MORAIS, 2002, p. 266).
Ao relacionar Diadorim com Bigri, Márcia Marques nos lembra de Proença que,
nas Trilhas do Grande Sertão, relacionou os olhos verdes e os buritis como símbolos comuns
às duas personagens. Mas além dos olhos e da palmeira, temos relação de Diadorim e da mãe
de Riobaldo também em seus nomes. Flávio Aguiar, no ensaio “O oco do mundo”, escreveu:
(...) o nome Bigri tem associações com o de Diadorim. Bi lembra duas vezes e Di
também lembra dois. Mas compõem uma associação por complementaridade, pois o
„dois‟ do Di de Diadorim remete em primeiro lugar à idéia de divisão, conflito,
enquanto Bi de Bigri remete à idéia de duplicação, mãe que é vicariamente pai,
fusão de dois seres diversos. (AGUIAR, 1998, p. 90-91)
A vida de Riobaldo se divide em antes e depois de conhecer Diadorim. Já sua mãe
teve importância diferente e especial, pois foi ela quem, segundo o personagem, nutriu um
“amor constando com justiça, que o menino precisava” (ROSA, 2001, p. 57 – grifo nosso), já
que esse não teve a figura paterna e foi sua mãe quem cumpriu com o duplo papel. Após sua
morte, ele também teve sua mãe como divisora, uma pessoa que marcou sua vida e o obrigou
a seguir outro caminho, ir morar com seu padrinho Selorico Mendes:
Minha mãe morreu – apenas a Bigri, era como ela se chamava. Morreu, num
dezembro chovedor, aí foi grande a minha tristeza. Mas uma tristeza que todos
sabiam, uma tristeza do meu direito. De desde, até hoje em dia, a lembrança de
minha mãe às vezes me exporta. Ela morreu, como a minha vida mudou para uma
segunda parte. (ROSA, 2001, p. 126-127).
Já Diadorim, o amor impossível e irrealizado, é ser ambíguo, como dissemos
anteriormente. Será ele(a) quem despertará em Riobaldo o amor e o ódio; o bem e o mal; o
claro e o escuro. Assim, ela apresenta as belezas e as “quisquilhas” da natureza, mas também
o conduz rumo à crueldade, à maldade e à aspereza do sertão. Diadorim não somente
direciona Riobaldo ao conhecimento, mas também a descoberta dos impulsos sensuais. O
jagunço custa entender a paixão por seu amigo de “roupas e armas”, por isso, ele acreditava
ser feitiço. O próprio narrador indaga: “o amor assim pode vir do demo? Poderá!? Pode vir de
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um–que-não-existe?” (ROSA, 2001, p. 155). É através dele(a) que Riobaldo passa a transitar
no mundo dos Jagunços, aprendendo valores como lealdade, bravura e honra, destacando-se
como chefe e experimentando o poder e as glórias de ser líder.
Ao contrário de Diadorim, que tenta reprimir seu lado feminino, Nhorinhá o
exalta; enquanto o verde dos olhos representa Diadorim, o vermelho, cor forte e provocante
que simboliza a paixão e o desejo, representa Nhorinhá, pois é sempre vinculada a tal cor. Isso
fica perceptível em uma das passagens do romance, quando Riobaldo vê Nhorinhá pela
primeira vez: “Ao que, num portal, vi uma mulher moça, vestida de vermelho” (ROSA, 2001,
p. 48).
A relação sexual entre o jagunço e a “militriz”4 ultrapassa o limite do desejo, do
gozo físico, da comunhão carnal, para converter-se numa união quase sagrada. Riobaldo
chega a pensar como seria se tivesse casado com ela:
Segunda vez com Nhorinhá, sabível sei, então minha vida virava por entre outros
morros, seguindo para diverso desemboque. Sinto que sei. Eu havia de me casar
feliz com Nhorinhá, como o belo do azul; vir aquém-de. Maiores vezes, ainda fico
pensando. Em certo momento, se o caminho demudasse – se o que aconteceu não
tivesse acontecido? Como havia de ter sido a ser? Memórias que não me dão
fundamento. O passado – é ossos em redor de ninho de coruja... (ROSA, 2001, p.
537-538).
Sobre essa possibilidade levantada de ter se casado com Nhorinhá, discorre Luiz
Roncari em O cão do sertão:
Riobaldo até pode, em algum momento, almejar casar-se com Nhorinhá e sugerir
alguma sensualidade na relação com Otacília, mas são breves passagens, que não
quebram a distância entre elas nem deixam que os dois modelos se misturem.
(RONCARI, 2007, p. 129).
Nhorinhá, embora represente o amor consumado, o amor da carne, o amor por ela
vai sendo construído ao longo da obra também como amor terno, percebido pelo cuidado, pela
delicadeza com que Riobaldo lembra da personagem. Ela foi significativa durante sua
travessia.
Por fim, temos Otacília, que é pura, sensível e delicada como o branco do lírio, do
alecrim e também o branco que representa a paz. Otacília, a firme presença, abre para
Riobaldo a possibilidade de se fixar, de levar uma vida sensata, estável, de bases sólidas,
longe dos conflitos da jagunçagem. Essa mudança de modo de vida foi como trocar a guerra
4 Variação de meretriz.
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(Diadorim) pela paz (Otacília) ante a indefinição e perturbação de Diadorim e a paz da
fazenda: “Otacília sendo forte como a paz, feito aqueles largos remansos do Urucúia, mas que
é rio de braveza” (ROSA, 2001, p. 327).
Desse modo, Otacília é o amor espiritual a quem Riobaldo consagra sua vida. A
moça garante-lhe, através do casamento, não somente o sossego, mas também o status de
fazendeiro, dono de terras; mulher ideal, pura, apta ao papel de esposa dedicada. “Otacília. O
prêmio feito esse eu merecia?” (ROSA, 2001, p. 174). É tão sublime a imagem que se cria de
Otacília, que Luiz Roncari chega a compará-la à pintura de uma santa:
Em oposição a Nhorinhá, está Otacília, a Fé, capaz de realizar milagres, a quem o
herói vê por dois breves momentos, de baixo para cima: ele ao pé da varanda e ela
“no enquadro da janela”, como a pintura barroca de uma santa: “a Nossa Senhora
um dia em sonho ou sombra que aparecesse, podia ser assim” (ibidem, p. 151).
(RONCARI, 2007, p. 128).
Portanto, fica perceptível a importância de todas essas mulheres para a travessia
do jagunço e para formação do homem Riobaldo. Rosa‟uarda, Miosótis vimos que têm nome
de flores; já Nhorinhá e Otacília vimos que são sempre comparadas e relacionadas a diversas
flores. E Diadorim? Diadorim, o “liroliro”, vimos que é a forma diferente de ser tratada. Ela
não só tem importância na travessia de Riobado, mas também acompanha sua travessia no
sertão: “Saí, vim destes meus gerais: voltei com Diadorim. Não voltei? Travessias...
Diadorim, os rios verdes.” (ROSA, 2001, p. 325).
Como já mencionado, o verde dos olhos é a cor que simboliza Diadorim, nos rios:
“rios verdes” (ROSA, 2001, p. 325); no mar, comentando sua morte: “Morreu o mar, que foi”
(ROSA, 2001, p. 617); no vento: “o vento é verde” (ROSA, 2001, p. 306) e a palmeira:
“namorei uma palmeira” (ROSA, 2001, p. 617). Ou seja, Diadorim, além de mostrar a
natureza para Riobaldo, também deixou seu rastro nele: “Diadorim me pôs o rastro dele para
sempre em todas essas quisquilhas na natureza.” (ROSA, 2001, p. 45).
O sertão, apesar de ser um lugar árido, onde guerreiam os fortes, também revela
veredas, lugares agradáveis, compostos por muitas águas e carregados de buritis. Nessa
narrativa, o amor protagonizado por Riobaldo e Diadorim pode ser comparado às veredas, e
nelas quem é o buriti é Diadorim: “meus buritizais levados de verdes...” (ROSA, 2001, p.
614). Mas essas veredas, reino dos buritizais, são ambíguas; podem ter aparência enganosa,
assim como Diadorim. Vereda, além de ser um lugar ameno, aprazível e que encanta, pode ser
ao mesmo tempo um lugar perigoso, traiçoeiro e movediço.
34
Nesse cenário de tantos rios, animais e flores, ganha destaque o buriti. Nessa
história composta por vários e diferentes amores, quem marca a vida de Riobaldo para sempre
é Diadorim. Então, podemos perceber o entrelace da natureza e seus personagens em Grande
sertão: veredas, e uma leitura atenta não pode, de maneira alguma, dispensar sua análise.
35
Capítulo III – “Buriti, buriti meu...: a pluralidade de significados do buriti em Grande
Sertão: veredas”
“O senhor escute o buritizal.
E meu coração vem comigo.”
(ROSA, 2001, p. 329).
A palmeira buriti (Mauritia flexuosa) é, de longe, o vegetal mais citado em
Grande sertão: veredas, cerca de 60 vezes; tem como nomes populares: buriti, carandá-guaçu,
carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-buriti, palmeira-dos-brejos. O buriti é utilizado para
as mais diversas finalidades pelo povo do sertão; dele se obtém abrigo, alimento e até mesmo
transporte.
Já no título do romance em questão, temos a palavra “veredas”, que é uma
formação típica da região do cerrado. Ao longo dos brejos ou locais encharcados, forma-se
um “caminho” de palmeiras buritis, que só sobrevivem nesse tipo de terreno e que se
destacam na paisagem. Sendo assim, verificamos imediatamente a importância dessa
formação de vegetação no romance e, consequentemente, da palmeira buriti.
Nas veredas sempre há buritis; e onde existe buriti há um percurso de água. Como
diz Riobaldo, “o buriti é das margens” (ROSA, 2001, p. 393), “não se aparta das águas –
carece um espelho” (ROSA, 2001, p. 325). Analisando tais passagens nota-se uma associação
do buriti com a água e com o espelho, elementos que refletem imagens e que nos fazem
lembrar outras histórias.
A literatura está repleta de espelhos, exemplo disso é a história antiga de Narciso
que, ao olhar sua própria imagem na água se apaixonou e foi consumido por seu reflexo no
lago. A rainha da Branca de Neve tinha um espelho mágico, em que perguntava: “Espelho,
espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”. Ao fazer tal questionamento, a rainha vê o
espelho não só como um objeto que reflete sua imagem, mas também como um “ser” que lhe
dá respostas; e temos Alice, que viajava para o outro lado através de um espelho.
Há espelho plano, espelho côncavo e convexo, espelho d‟água, espelho da
literatura, etc. A verdade é que “o espelho, são muitos” (ROSA, 1972, p. 71), como acentua
Guimarães Rosa em seu conto “O Espelho”. Eles possuem várias maneiras de refletir e recriar
imagens, histórias e identidades, isso os torna fascinantes. Em seu livro Sobre os Espelhos e
36
outros ensaios, Humberto Eco atribui a esse objeto especular a singularidade de inspirar a
literatura em geral:
O fato de a imagem especular ser, entre os casos de duplicatas, o mais singular, e
exibir características de unicidade, sem dúvida explica porque os espelhos têm
inspirado tanta literatura. (ECO, 1989, p. 20).
Espelho (do latim speculum) significa observar, indagar e questionar, podendo
simbolizar a sabedoria e o conhecimento. Ele exerce, desde sempre, grande fascínio sobre o
espírito humano, pois gera um espaço de ambiguidade: a imagem que reflete é
simultaneamente idêntica (ainda que invertida) e ilusória.
Sobre essa fenomenologia do espelho, Umberto Eco defende que “os espelhos não
se invertem” (ECO, 1989, p. 13). Vejamos:
Tal opinião (de que o espelho ponha a direita no lugar da esquerda e vice-versa) é
tão arraigada que alguém até insinuou que os espelhos têm essa propriedade, a de
trocar a direita pela esquerda, mas não alto pelo baixo. O espelho reflete a direita
exatamente onde está a direita, e a esquerda exatamente onde está a esquerda. É o
observador (ingênuo, mesmo quando físico por profissão) que, por identificação,
imagina ser o homem dentro do espelho, e olhando-se percebe que usa, por exemplo,
o relógio no pulso direito. O fato é que o usaria se ele, o observador, fosse aquele
que está dentro do espelho. Quem, ao contrário, evita comportar-se como Alice e
não entra no espelho, não sofre essa ilusão. (ECO, 1989, p. 13).
Olhando por essa visão de Umberto Eco, podemos dizer que Riobado foi ingênuo,
pois não se atreveu a se adentrar pela imagem de Diadorim. Ele sofreu a ilusão da espelharia,
acreditando que Reinaldo fosse, de fato, um homem.
No conto “O espelho”, Guimarães Rosa alerta que a visão pode não ser confiável:
“os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim” (ROSA,
1972, p. 72). Interessante que Riobaldo fala sempre dos olhos de Diadorim, olhos verdes,
assim como a natureza e assim como o buriti. Esses olhos foram porta de engano, pois, como
já mencionado, em toda sua trajetória de jagunço, Riobaldo acreditava estar apaixonado por
uma pessoa do mesmo sexo, por uma imagem idêntica. Porém, quando Diadorim morre,
Riobaldo descobre que ele era mulher, portanto era uma imagem invertida; assim como o
espelho, ilusória. Vejamos uma passagem que se refere à morte de Diadorim:
Aquela Mulher não era má, de todo. Pelas lágrimas fortes que esquentavam meu
rosto e salgavam minha boca, mas que já frias já rolavam. Diadorim, Diadorim, oh,
ah, meus-buritizais levados de verdes... Buriti, do ouro da flor... E subiram as
escadas com ele, em cima de mesa foi posto. (ROSA, 2001, p. 614).
37
Após sua morte e diante da tristeza que sentia Riobaldo, este lamenta: “Namorei
uma palmeira na quadra do entardecer...” (ROSA, 2001, p. 617). Sobre o desenvolvimento
dessa palmeira buriti, Luiz Roncari pontua no livro O Brasil de Rosa que “o buriti não só faz
um movimento ascendente, ele estabelece um vínculo entre as duas esferas, a terrestre e a
celeste, de modo a tornar uma no espelho da outra e poderem refletir mutuamente suas
belezas”. (RONCARI, 2004, p. 191).
Desse modo, podemos pensar que, após sua morte, Diadorim, o buriti de
Riobaldo, faz uma “troca” de esferas, pois troca o azul das águas das veredas pelo azul
celeste. Deixa de se espelhar nas águas que lhe conferem dualidade, para se tornar singular em
sua vida.
O nome popular “buriti” é do gênero masculino, porém seu nome científico
mauritia flexuosa é do gênero feminino. Tais nomes podem ser relacionados ao percurso de
jagunço macho vivido por Reinaldo/Diadorim em todo o romance, mas que na verdade era
uma mulher, Deodorina.
No livro Guimarães Rosa e a Psicanálise, Tânia Rivera nos lembra do filósofo
Aristóteles, este que nos afirma na obra Poética que “a metáfora é o transporte (metaphorà)
para uma coisa do nome da outra. Essa outra coisa deve, contudo, manter com a primeira uma
relação de analogia.” (RIVERA, 2005, p. 24). Ou seja, metáfora é uma figura de linguagem
em que há o emprego de uma palavra ou uma expressão, num sentido que não é muito
comum, numa relação de semelhança entre dois termos.
No trecho de Grande sertão: veredas fica claro essa metáfora usada por Rosa,
Diadorim transfere sua identidade para a imagem do buriti: “meus-buritizais” (ROSA, 2001,
p. 614). A comparação entre palmeira e humano não é muito comum, porém, no romance,
esses dois elementos são relacionados devido às características similares. O buriti, além de
verde, como os olhos de Diadorim, pode ser um símbolo fálico, se pensarmos na semelhança
da palmeira com o órgão sexual masculino. Essa palmeira refletida na água nos faz pensar nos
personagens Riobaldo e Diadorim, inicialmente do mesmo sexo, pois a palmeira refletida na
água é símbolo do igual, porém, invertido, uma imagem que engana. E enganou Riobaldo,
como vimos, pois em toda sua trajetória achou que fosse um amor entre homens e isso o
perturbou:
Mas ponho minha fiança: homem muito homem que fui, e homem por mulheres! –
nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados. Repilo o que, o sem preceito.
38
Então – o senhor me perguntará – o que era aquilo? Ah, lei ladra, o poder da vida.
Direitinho declaro o que, durando todo tempo, sempre mais, às vezes menos, comigo
se passou. Aquela mandante amizade. Eu não pensava em adiação nenhuma, de pior
propósito. Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um
feitiço? Isso. Feito coisafeita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele
fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe, e eu
só nele pensava. E eu mesmo não entendia então o que aquilo era? Sei que sim. Mas
não. E eu mesmo entender não queria. Acho que. Aquela meiguice, desigual que ele
sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo,
quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que às vezes adivinhei
insensatamente – tentação dessa eu espairecia, aí rijo comigo renegava. Muitos
momentos. (ROSA, 2001, p. 162-163).
Esse amor que era nutrido dentro de Riobaldo a cada dia, segundo ele, é contrário
às leis da natureza, segundo as quais plantas brotam, crescem e morrem. O amor por
Diadorim era um amor entre dois homens e não entre um homem e uma mulher, como era
aceito no sertão. Riobaldo chega a questionar:
Amor desse, cresce primeiro; brota é depois. Muito falo, sei; caceteio. Mas porém é
preciso. Pois então. Então, o senhor me responda: o amor assim pode vir do demo?
Poderá?! Pode vir de um-que-não-existe? (ROSA, 2001, p. 155).
Além da associação do buriti com Diadorim, podemos relacionar o buriti ao saber,
como um conselheiro de Riobaldo:
Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde é: coragem minha. Buriti quer todo
azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é quem sempre
ensina, mas quem de repente aprende. (ROSA, 2001, p. 325-326).
Temos nessa passagem, em que Riobaldo está saindo da Bahia e voltando para
Minas, o personagem perguntando coisas ao buriti, como se procurasse respostas para suas
dúvidas, assim como a madrasta da história da Branca de Neve, que também faz indagações
ao seu espelho e obtém respostas.
O buriti, que é sempre acompanhado por um percurso de água que lhe serve de
espelho (este que significa questionar), é também comparado a um mestre, no qual ele busca
conhecimento e acaba aprendendo. Vimos que o buriti responde que Riobaldo precisa ter
coragem, nos fazendo lembrar da passagem em que ele diz que sua coragem era “variável”, e
que quando quer ter coragem basta olhar no espelho:
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Eu cá não madruguei em ser corajoso; isto é: coragem em mim era variável. Ah,
naqueles tempos eu não sabia, hoje é que sei: que, para a gente se transformar em
ruim ou em valentão, ah basta se olhar um minutinho no espelho – caprichando de
fazer cara de valentia; ou cara de ruindade! (ROSA, 2001, p. 62).
Outro aspecto que nos intrigou, lembrando que esse aspecto é visual, foi o fato de
que sempre, ao mencionar a palavra “espelho” e muitas vezes “água”, que também produz
reflexo, Rosa utiliza de um sinal gráfico, uma espécie de travessão, que faz com que as frases
tenham “dois lados”: “no espelho – caprichando de fazer cara de valentia” (ROSA, 1972, p.
62); “não se aparta de sua água – carece um espelho” (ROSA, 1972, p. 71); “Buriti – água
azulada” (ROSA, 1972, p. 135); “Mesmo eu – que, o senhor já viu, reviro retentiva com
espelho cem-dobro de lumes” (ROSA, 1972, p. 359); “o buriti é das margens ele cai seus
cocos na vereda – as águas levam – em beiras...” (ROSA, 1972, p. 393).
Ao ler o texto “O Espelho”, de Rosa, percebemos também o uso desse sinal
gráfico ao introduzir o texto: “O senhor, por exemplo, que sabe e que estuda, suponho nem
tenha ideia do que seja na verdade – um espelho?” (ROSA, 1972, p. 71). Como nada é
gratuito na literatura rosiana, podemos pensar que assim como o espelho tem uma dualidade,
essas frases em questão estão visualmente partidas, contendo dois lados.
A espelharia em Grande sertão: veredas não aparece somente nas frases que têm
a palavra espelho ou água, mas há algumas frases que têm palavras espelhadas: “nas frescas
beiras da lagoa – ah, a papeagem no buritizal, que lequelequeia” (ROSA, 2001, p. 63); “um
buriti – tetéia enorme” (ROSA, 2001, p. 333); “buriti – verde que afina e esveste,
belimbeleza” (ROSA, 2001, p. 61). Nessa última passagem, por exemplo, o travessão aparece
depois da palavra “buriti” e logo depois vem a frase adjetivando-o, contendo a palavra
“belimbeleza”. Reparem que é um neologismo criado por Rosa; podemos até nos atrever a
dizer que é o belo em beleza.
Assim, percebemos que o duplo está contido em vários elementos da narrativa,
sendo, dessa forma, um artefato usado por Rosa, inclusive na forma de Grande sertão:
veredas. Essa assertiva pode causar estranhamento, pois sabemos que o romance não é
dividido por capítulos, porém, podemos dizer que é dividido em partes. Em sua tese A Forma
do Meio: livro e narração na obra de João Guimarães Rosa, Clara Maria Abreu Rowland
coloca em questão a partição de tal narrativa:
No meio de Grande Sertão: Veredas, abrindo a sequência central, o leitor encontra
uma interrupção: a narrativa suspende-se para se comentar, solicitando a sua
40
estrutura e ameaçando dissolvê-la, ao mesmo tempo que dela constitui a primeira
imagem global. Não estamos longe, nessa pausa, das funções que encontrámos até
agora nos índices e nas parábases: o meio faz-se mapa do livro, descreve-se e
interpreta-se, faz-se ponto de suspensão e articulação entre partes. (ROWLAND,
2009, p. 247).
Na “interrupção” que cita a autora, temos uma imagem geral da narrativa; além
disso, ela serve para articulação, ou seja, uma travessia para a segunda parte. Nessa
“suspensão” Riobaldo ameaça ao seu ouvinte de “pôr ponto” em seu contar, porém, segundo
ele, falta algo:
Só sim? Ah, meu senhor, mas o que eu acho é que o senhor já sabe mesmo tudo –
que tudo lhe fiei. Aqui eu podia pôr ponto. Para tirar o final, para conhecer o resto
que falta, o que lhe basta, que menos mais, é pôr atenção no que contei, remexer
vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à-toa: só apontação principal, ao
que crer posso. Não esperdiço palavras. Macaco meu veste roupa. O senhor pense, o
senhor ache. O senhor ponha enredo. Vai assim, vem outro café, se pita um bom
cigarro. Do jeito é que retorço meus dias: repensando. (...) Não é só no escuro que a
gente percebe a luzinha dividida? (ROSA, 2001, p. 324-325).
Tal citação fica mais ou menos no meio do livro; a edição aqui trabalhada é
composta por 624 páginas e a passagem que marca o meio fica entre a página 324-325. Nesse
trecho o autor coloca uma pausa em sua narrativa, criando assim uma possibilidade de
referência e, desta forma, “ela orienta, embora inconscientemente, a atenção do leitor”
(ROSENFIELD, apud ROWLAND, 2009, p. 249).
Na última frase, “não é só no escuro que a gente percebe a luzinha dividida?”
(ROSA, 2001, p. 325), percebemos de fato a intencionalidade do autor em dividir com o
parágrafo (a luzinha) a sua narrativa interminável (o escuro). Essa intenção fica ainda mais
evidente através de frases posteriores ao fragmento; elas reforçam a ideia de repartição, meio,
metade: “Travessia. Deus no meio” (ROSA, 2001, p. 325); “Aqui é Minas; lá já é Bahia?”
(ROSA, 2001, p. 325); “Minha vida teve meio-do-caminho?” (ROSA, 2001, p. 325); “O São
Francisco partiu minha vida em duas partes” (ROSA, 2001, p. 326).
Nessa divisão, Riobaldo afirma ter contado tudo ao Senhor, porém, falta algo e,
para isso, ele faz um breve apanhado de tudo o que já “fiou”, contou, uma maneira de
relembrar tudo que foi dito para poder prosseguir. “Vale dizer que temos um romance
completo, inteiro, terminado (...). Se o leitor não mais quisesse continuar a leitura, já teria
obtido todos os dados da ação, além de todos os seus símbolos e temas centrais” (SPERBER,
apud ROWLAND, 2009, p. 257). Após a pausa, teremos uma repetição de tudo o que contou,
segundo Maria Clara Rowland “o livro dobra-se sobre si mesmo, aqui, a partir do meio:
41
construindo duas metades em espelho, como assinala a retomada de eventos-chave da
primeira para a segunda parte”. (ROWLAND, 2009, p. 258).
Esse meio é, como temos visto, uma figura recorrente em Rosa. Não podemos
deixar de lembrar o conto que se encontra no meio do livro Primeiras Estórias. Há o mesmo
número de contos antes e depois de “O Espelho”, sendo este uma espécie de espelho de “sua
própria escrita”, como corrobora Ivana Rebello em seu artigo “Transverberar o embuço: uma
leitura do conto “O Espelho”, de Guimarães Rosa”.
A duplicidade e o espelhamento presentes no romance rosiano ganham ainda,
certa complexidade, se pensarmos na figura do “Senhor” que sempre ouve Riobaldo, mas que
nunca lhe responde, não ganhando voz na narrativa. Dessa forma, opondo-se à longa fala do
narrador está o silêncio do ouvinte. “O senhor sabe o que o silêncio é?” indaga Riobaldo ao
seu interlocutor, “É a gente mesmo, demais.”. Apesar de não ganhar voz, conhecemos
algumas características que são atribuídas ao “Senhor” e que são semelhantes às de
Guimarães Rosa; ambos são doutores, instruídos, costumam ouvir histórias e anotar em
caderneta etc. Clara Maria Rowland, em A Forma do Meio, discorre ainda, sobre a estrutura
narrativa de Grande sertão: veredas:
(...) o modo de apresentação desta estrutura é mais complexo, por estarmos dentro
de um episódio que encaixa a narrativa numa dupla moldura. Este episódio destaca-
se, no quadro de Grande Sertão: Veredas, por oferecer uma estranha duplicação da
figura do interlocutor; em nenhum outro momento do romance a sobreposição de
planos é tão evidente. Riobaldo narra a um “moço de fora”, de “alta instrução” um
caso que já contou a outro “moço de fora”, incluindo no texto a resposta deste,
quando a resposta do interlocutor em cena permanece ausente (é a própria definição
do diálogo oculto rosiano). (ROWLAND, 2009, p. 55).
Sobre essa “estranha duplicação” provocada pelo interlocutor e seu silêncio nos
diz Ivana Rebello em seu artigo “Transverberar o embuço: uma leitura do conto “O Espelho”,
de Guimarães Rosa”:
Esse anônimo e imperativo escutador de estórias, chamado sempre de Senhor,
exerce, em seu excesso de silêncios, um excesso de “a gente mesmo”, uma
multiplicação de possibilidades de escuta, escrita e sujeitos. Talvez seja esse um
caminho para se ler o narrador rosiano: esse excesso de falas e silêncios que provoca
estranhamento, que faz com que o contador de estórias deixe de coincidir consigo
mesmo, com que comece a se ver sempre como um outro ou outros. (REBELLO,
[s.d], p. 1).
O “excesso de silêncio” do interlocutor, seu anonimato e suas características
similares as de Rosa nos abrem para a possibilidade de pensar que Riobaldo dialoga com
42
Guimarães Rosa e, assim, temos um reflexo do autor em sua obra. Rowland cita em seu livro
Ettore Finazzi-Agró, que menciona a posição dupla de Rosa. Vejamos:
De fato, em Grande Sertão, na figura do interlocutor silencioso é fácil entrever a
figura do autor, isto é, de quem fala através da voz silenciosa do outro – “o senhor,
assisado e instruído” do romance – é, no fundo, o próprio Guimarães Rosa, lá
testemunha impassível do drama, incapaz de salvar Riobaldo das suas dúvidas,
incapaz de dar uma resposta definitiva às suas perguntas, ao seu terrível “enigma”;
(...) O escritor, em suma, coloca-se mais uma vez numa posição dúbia ou ubíqua, ele
se localiza ainda no “álibi” ou na heterotopia, sendo ao mesmo tempo quem conta e
quem se conta, quem fala e quem escuta, e tornando-se, por isso, o carnífice e a
vítima – o carrasco imaginário de si mesmo. (FINAZZI-AGRÓ, apud ROWLAND,
2009, p. 118).
Porém, tomamos conhecimento que o silêncio, dito “a gente mesmo”, nos abre
uma série de possibilidades de leitura; podendo ser também nós, os leitores, como corrobora
Clara Rowland:
Complexa duplicação, se pensarmos também no modo como Grande Sertão:
veredas prepara uma identificação entre a figura do interlocutor e o leitor, que deste
modo se vê, ao mesmo tempo, reflectido e distanciado. (ROWLAND, 2009, p. 55).
Portanto, o uso da figura do interlocutor de Riobaldo, pode ser tanto o próprio
escritor quanto nós, leitores, que nos vemos refletidos na figura do “Senhor”, sempre ouvindo
o tecer da vida de Riobaldo. Assim, fica perceptível o quanto é explorada a duplicidade e o
espelhamento em Grande sertão: veredas.
Vemos e agora voltemos. Além da relação do buriti com Diadorim, do buriti
como elemento fálico, do buriti como conselheiro de Riobaldo e do buriti comparado a um
espelho, símbolo de igualdade entre personagens, temos a palmeira buriti relacionada também
à saudade.
A “Canção do exílio” é um poema de Gonçalves Dias cuja temática é própria da
primeira fase do Romantismo brasileiro. Em sua mescla de nostalgia e nacionalismo, o tema
do exílio, da saudade da terra natal prestava-se à intenção de criar símbolos poéticos que
funcionassem ao mesmo tempo como símbolos nacionais. Gonçalves Dias compôs o poema
cinco anos depois de partir para Portugal e criou insígnias na literatura brasileira como a
palmeira e o sabiá que, segundo Ivana Rebello, em Papagaio conta história, “se tornaram
signos emblemáticos da pátria e de sua identidade literária”. (REBELLO, 2010, p. 17).
Vejamos:
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Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
(...)
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. (DIAS, 2003, p. 19).
Esse poema foi reconstruído e renovado inúmeras vezes na história da literatura
brasileira, fazendo com que ele seja sempre atual e sirva como referência. Na maioria das
reconstruções há características da terra natal, da natureza, de pássaros e de árvores, como a
palmeira. Em Grande sertão: veredas não é diferente, Riobaldo usa da palmeira buriti para
falar de saudade, quando está longe de seus Gerais:
Me deu saudade de algum buritizal, na ida duma vereda em capim tem-te que verde,
termo da chapada. Saudades, dessas que respondem ao vento; saudade dos Gerais. O
senhor vê: o remôo do vento nas palmas dos buritis todos, quando é ameaço de
tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega
o silêncio põe no colo. Eu sou donde eu nasci. (ROSA, 2001, p. 306 – grifo nosso).
Outro momento saudoso é quando o jagunço está no Liso do Sussuarão, lugar que
descreve não ter sombra, nem água e nem capim; ao andar nesse “martílio” sente saudade de
Otacília:
Moça que dava amor por mim, existia nas Serras dos Gerais – Buritis Altos,
cabeceira de vereda – na Fazenda Santa Catarina. Me airei nela, como a diguice
duma música, outra água eu provava. Otacília, ela queria viver ou morrer comigo
– que a gente se casasse. Saudade se susteve curta. (ROSA, 2001, p. 67-68 – grifo
nosso).
No início deste capítulo chamamos atenção para o fato de que o buriti sempre é
acompanhado por um percurso de água, notemos que nessas duas últimas citações tal
palmeira é “cercada” por águas. Na primeira, temos o vento remoendo as palmas dos buritis
ameaçando que vem tempestade, água agitada. Aqui, a palmeira é uma espécie de aviso de
chuva forte. Já na segunda citação, temos um lugar chamado “Buriris Altos” que fica na
cabeceira de uma vereda; porém Riobaldo está longe desse lugar, daí então a expressão “outra
água eu provava”. Dessa forma, temos o buriti e a água como sinônimos de lugares e são,
definitivamente, elementos associados.
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Vejamos que Otacília, moça de quem ele sentiu saudade, estava nas serras dos
Gerais, mais precisamente nos Buritis Altos, mire e veja, o nome é composto pela palmeira
Buriti: “Conforme contei ao senhor, quando Otacília comecei a conhecer, nas serras dos
Gerais, Buritis Altos, nascente de vereda, Fazenda Santa Catarina” (ROSA, 2001, p. 145).
Otacília era “para ser dona de tantos territórios agrícolas e adadas pastagens, com tantas
vertentes de veredas, formosura dos buritizais” (ROSA, 2001, p. 268). Nesse local onde reside
Otacília há muitas veredas e buritis, inclusive no nome.
Esse estado de “exílio” em que se encontrava Riobaldo fez com que ele retomasse
o poema de Gonçalves Dias em que o poeta tem a saudade de sua terra natal como tema.
Sobre tal assertiva nos diz Maria Zilda Cury et al. no livro Intertextualidades: teoria e
prática, que “a retomada de um texto por outro(s), em qualquer literatura, inclusive brasileira,
é, de qualquer forma, uma constante. A “Canção do exílio” de Gonçalves Dias, por exemplo,
já foi parafraseada e/ou parodiada em épocas diversas.” (CURY et al., 1995, p. 22).
Tania Franco Carvalhal também discorre sobre o assunto em Literatura
Comparada nos mostrando que “a repetição (de um texto por outro, de um fragmento em um
texto, etc.) nunca é inocente.” (CARVALHAL, 2004, p. 53). Além disso, ela acrescenta que
toda repetição está carregada de uma intencionalidade certa: quer dar continuidade
ou quer modificar, quer subverter, enfim, quer atuar com relação ao texto antecessor.
A verdade é que a repetição, quando acontece, sacode a poeira do texto anterior,
atualiza-o, renova-o e (por que não dizê-lo?) o re-inventa. (CARVALHAL, 2004, p.
54).
Vejamos o trecho em que Riobaldo retoma a estrofe gonçalvina com a temática da
saudade:
Buriti, minha palmeira,
lá na vereda de lá
casinha da banda esquerda,
olhos de onda do mar... (ROSA, 2001, p. 68).
Esse “Buriti” mencionado é a palmeira de Riobaldo, que remete a duas mulheres:
no terceiro verso faz menção a Otacília, pois é ela quem tem sua casa-fazenda situada nos
Buritis Altos, “casinha da banda esquerda”; e no último verso, “olhos de onda do mar”,
refere-se a Diadorim, como ele acrescenta logo após recitar tal poema: “Mas os olhos verdes
sendo os de Diadorim. Meu amor de prata e meu amor de ouro.” (ROSA, 2001, p. 68). Como
já foi citado, Diadorim tinha olhos que atraíam Riobaldo; eram verdes, assim como a palmeira
45
buriti. Desde o primeiro encontro, o que lhe chamou a atenção foram justamente os olhos, e
eles o perseguiram durante toda a trama:
Notei que a canoa se equilibrava mal, balançando no estado do rio. O menino tinha
me dado a mão para descer o barranco. Era uma mão bonita, macia e quente, agora
eu estava vergonhoso, perturbado. O vacilo da canoa me dava um aumentante
receio. Olhei: aqueles esmerados esmartes olhos, botados verdes, de folhudas
pestanas, luziam um efeito de calma, que até me repassasse. Eu não sabia nadar.
(ROSA, 2001, p. 119-120).
Era o Menino! O Menino, senhor sim, aquele do porto do de-Janeiro, daquilo que
lhe contei, o que atravessou o rio comigo, numa bamba canoa, toda a vida. E ele se
chegou, eu do banco me levantei. Os olhos verdes, semelhantes grandes, o lembrável
das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz fino, afiladinho. (ROSA,
2001, p. 154).
Que vontade era de pôr meus dedos, de leve, o leve, nos meigos olhos dele,
ocultando, para não ter de tolerar de ver assim o chamado, até que ponto esses olhos,
sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível. (ROSA, 2001,
p. 62).
Não só o tema da saudade é comum nos textos rosiano e gonçalvino, mas também
os olhos verdes são um ponto comum na escrita desses poetas. Em outro poema de Gonçalves
Dias, “Olhos verdes”, temos um eu-lírico exaltando um par de olhos verdes que conheceu;
depois disso, nunca mais foi o mesmo. O poema tem como epígrafe versos de Camões, que
também foi amante dos olhos verdes e sobre eles muito poetizou. Essa epígrafe é chamada de
mote, cujo uso “é uma prática tradicional em literatura, estabelecendo o diálogo entre poetas
às vezes separados por séculos” (CURY, et al., 1995, p. 27). Seguem algumas estrofes:
Eles verdes são,
E têm por usança
Na cor esperança
E nas obras não.
(Camões)
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas, ai de mi!
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Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi! (...) (DIAS, 1980, p. 49-51).
Segundo Antônio Henriques Leal, amigo e primeiro biógrafo do Poeta brasileiro,
esses versos foram inspirados em uma moça do Rio de Janeiro, com quem o Poeta teve um
ligeiro namoro, assim como Riobaldo que namorou uma palmeira, conforme citamos. Nota-se
que a moça de olhos verdes de quem o eu-lírico fala, também possui características parecidas
com as que Riobaldo atribui a Diadorim: “Uns olhos de verde-mar” (DIAS, 1980, p. 49) X
“olhos de onda do mar...” (ROSA, 2001, p. 68); “Como duas esmeraldas/ Iguais na forma e na
cor” (DIAS, 1980, p. 50) X “aqueles esmerados esmartes olhos, botados verdes” (ROSA,
2001, p. 119-120); “São verdes da cor do prado/ (...) Tão meigamente derramam” (DIAS,
1980, p. 50) X “nos meigos olhos dele” (ROSA, 2001, p. 62). Outro ponto a destacar é a
mudança que essas mulheres de olhos verdes causaram na vida tanto de Gonçalves quanto na
de Riobaldo, pois a partir do momento em que conheceu Diadorim, sua visão da natureza e do
mundo que o cercavam foi modificada.
No material disponível no IEB, Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade
de São Paulo, encontramos entre os livros que pertenceram a Guimarães Rosa, Obras
Completas de Luís Vaz de Camões e Lírica de Camões. Nesses livros são marcadas, de caneta
azul, páginas que possuem redondilhas e sonetos e em que aparecem “olhos verdes”, inclusive
o poema do qual Gonçalves Dias retira o mote. Chamou-nos a atenção uma nota de rodapé,
grifada e realçada por Rosa, de Hernâni Cidade, na qual ele discorre sobre a predileção dos
olhos verdes aos azuis: “nesta preferência dos olhos verdes aos olhos azuis, objeto do mesmo
culto que os cabelos de oiro, que o petrarquismo5 pusera em moda, põe o poeta, como mais de
uma vez sucede, a realidade acima da convenção.” (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 3).
Observe a estrofe em que Camões evidencia tal preferência:
Ouro e azul é a milhor
cor por que a gente se perde;
mas, a graça desse verde
5Movimento literário em que a beleza da mulher era posta na combinação de cabelos loiros, pele branca e olhos
azuis. Em Camões, Gonçalves Dias e Guimarães Rosa é confrontada essa tradição literária, pois são os olhos
verdes colocados em destaque.
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tira a graça a toda a cor.
Fica agora sendo a flor
a cor que nos olhos tendes,
porque são vossos … e verdes! (CAMÕES, 1946, p. 3).
Camões também usa de outra adjetivação para os olhos: “Com vossos olhos
Gonçalves/ Senhora, cativo tendes/ Este meu coração Mendes” (CAMÕES, 1946, p. 67). Não
se sabe o porquê dessa caracterização de “Gonçalves”, mas Hernâni Cidade, mais uma vez,
nos lembra que não é a primeira vez que se usa um substantivo próprio para adjetivar os
olhos. Vejamos:
Ficará ainda desta vez sem solução o enigma destas qualificações: olhos Gonçalves
e coração Mendes. (...) Já foi lembrado que na Alemanha houve a designação de
olhos Bismarck, como no Pôrto a de olhos de henriques... A filóloga ilustre D.
Carolina Michaelis viu na palavra Gonçalves o trocadilho com salves (com
saudações) (...). (CIDADE, in: CAMÕES, 1946, p. 67).
Essa nota também é destacada e sublinhada por Guimarães Rosa, ficando evidente
seu interesse pelas adjetivações dos olhos, este que ganha em Camões a característica de
Gonçalves, “com saudações”. E por que não pensarmos nessa expressão como “olhos com
saudades”? O fato é que estudando esse material do IEB, verificamos a influência de Camões
tanto para Rosa quanto para Gonçalves Dias, este que teve seu primeiro sobrenome registrado
na poesia camoniana.
Além da adjetivação dos olhos, elemento comum entre tais poemas, chamamos
atenção ainda para uma das estrofes do poema “Olhos Verdes”:
Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi! (DIAS, 1980, p. 49-51).
Os três primeiros versos podem ser traduzidos pela expressão popular “os olhos
são espelho d‟alma”. Anteriormente discutimos a espelharia da palmeira buriti nas águas e sua
imagem comparada a Diadorim, este (a) que possui olhos que foram a porta de engano de
Riobaldo e comparado às ondas do mar. Mais uma vez, nos deparamos com semelhanças
entre os escritos de Dias e de Rosa.
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Voltemos a “canção do exílio” rosiana, na qual os pequenos versos possuem uma
“musicalidade” que é sugerida pelo ritmo e pelas rimas, o que é também muito semelhante
com os versos de Gonçalves Dias. Vejamos a escanção realizada nas seguintes estrofes:
7 Mi/nha/ te/rra /tem/ pal/mei/ras A
7 On/de/ can/ta o/ sa/bi/á B
7As/ a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am C
7Não/ gor/jei/am/ co/mo/ lá B (DIAS, 2003, p. 19).
7Bu/ri/ti,/ mi/nha/pal/mei/ra, A
7Lá/ na/ve/re/da/ de/ lá B
7Ca/si/nha/ da/ban/da es/quer/da, A
7O/lhos/ de/ on/da/ do/ mar B (ROSA, 2001, p. 68).
O número de sílabas em cada verso é o mesmo, a sonoridade idêntica, com
predominância do som vocálico /a/. Gonçalves Dias usa a palmeira como símbolo da terra,
colocando a beleza da terra brasileira, o “lá”, em plano superior ao das terras europeias.
Riobaldo também coloca a beleza do Sertão e dos Gerais em destaque, usando também o “lá”
para referir-se ao lugar e para colocar em evidência seu distanciamento em relação a ele.
Já que estamos discorrendo sobre o buriti e a espelharia neste capítulo, podemos
dizer então que os versos de Riobaldo/Rosa são um reflexo “idêntico” dos versos
Gonçalvinos, visto que, Grande sertão: veredas é uma narrativa visivelmente poética. Não
podemos deixar de pensar que, assim como Gonçalves Dias escreveu “Canção do exílio” para
exaltar sua terra, Riobaldo escreveu uns versos para destacar suas veredas e Guimarães Rosa
também escreveu uma obra, na qual a poesia predomina, para discorrer sobre seu sertão, o
sertão das Gerais e universalizá-lo.
Atrevemo-nos dizer então que o buriti em Grande sertão: veredas é também um
símbolo de regionalismo, pois assim como na canção gonçalvina o sabiá e a palmeira são
símbolos ligados à noção de brasilidade, para Riobaldo, a palmeira buriti está sempre
relacionada às veredas; já para Guimarães Rosa, o buriti, vegetal mais citado no romance, é
símbolo de um Brasil que o próprio Brasil desconhece: o sertão.
Portanto, fica perceptível a pluralidade da palmeira buriti em Grande sertão:
veredas, visto que ela vai ganhando significados que vão além da designação comum
pertinente à flora. Tal palmeira é usada, como toda a natureza em Rosa, para construir e
caracterizar o cenário, compor os cerrados, as veredas, mas também se relaciona afetivamente
com os personagens, com o sertão e com os gerais.
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Conclusão
João Guimarães Rosa percorreu o interior de Minas Gerais mergulhando na
paisagem e nos costumes da vida rústica. Nós realizamos o presente trabalho trilhando o
percurso registrado em suas cadernetas de anotações, nos inteirando de suas andanças e de
suas vivências pelo mundo sertanejo. O resultado foi fascinante, pois conhecemos parte da
natureza vivenciada e transcrita em Grande sertão: veredas por Rosa.
Nada foi posto e descrito gratuitamente. As flores não serviram meramente como
enfeite, assim como os buritis não serviram somente para compor as veredas. Percebemos isso
ao percorrer por este Grande sertão e ouviras florzinhas que dizem ser bonitas; conhecer os
diferentes significados de uma “flor do amor”; aprender que rosa pode ser nome de moça,
sobrenome de família e também uma simples flor; apaixonar por palmeiras namoradeiras;
testemunhar os conselhos vindos dos buritis e assistir ao balançar de suas palmas em
movimentos de leques; enfim, miramos e vimos uma flora viva.
Percebemos, dessa forma, uma natureza ímpar, na qual a vegetação não é limitada
a um cenário ou a um palco para uma narrativa; ela é um elemento importante que constitui a
natureza do sertão e vai fiando e tecendo o narrar da vida de Riobaldo, conferindo identidade
aos personagens e ganhando, assim, um valor metafórico.
Este trabalho contribui para a fortuna crítica rosiana, uma vez explícita em
Grande sertão: veredas a beleza e a diversidade das espécies vegetais típicas do cerrado que
compõe o sertão. Além disso, Rosa nos mostra que a natureza não é inerte, apartada e
classificada de acordo com a necessidade humana. Durante suas viagens, ele fez uma leitura
do mundo natural e usou de suas percepções sentidas e vividas para compor o sertão, fazendo
o entrelaçamento entre a natureza e seus personagens. Assim, a natureza é agregada aos seres.
Ao analisarmos a relação da flora para o desenvolvimento do romance,
apresentamos que ao fazer o tempo, o som, o cheiro e a cor saltarem do texto, a pretensão do
autor foi expor a natureza como um elemento vivo, flexível, dinâmico, cheio de significados
que conferem e dão existência aos sujeitos. Afinal, precisamos conhecer o mundo, o Grande
Sertão para, enfim, conhecermos a nós mesmos, as nossas veredas, o nosso ser interior.
Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei.
Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas – e só essas poucas veredas,
veredazinhas. (ROSA, 2001, p. 116).
50
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RIBEIRO, Ricardo Ferreira. Florestas Anãs do Sertão: o cerrado na história de Minas Gerais.
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Acesso em: 07/10/2013.
53
ANEXO 1
A flora em Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
A
VEGETAL DESCRIÇÃO PÁGINAS
DE GS:V
PASSAGEM EM
GS:V
Abóbora
Nome científico: Cucurbita moschata
Nomes populares: abóbora, jerimum,
jerimum.
Planta de caule herbáceo rastejante,
provido de gavinhas e raízes adventícias.
Apresenta folhas cordiformes, de
coloração verde-escura e com áreas
prateadas. Podem ser consumidas verdes
ou maduras. Flores de tamanho
relativamente grande e coloração amarelo-
vivo. As abóboras são consumidas sob a
forma de doces e em diversos pratos
salgados.
Planta de ciclo anual
288. “Um Gu, certo
papa-abóbora,
beiradeiro, tarraco
mas da cara
comprida”.
(ROSA, 2001, p.
288).
Abobrinha
Nome científico: Cucurbita pepo
Nomes populares: Abobrinha, jerimum-
mirim, courgette ou curgete.
É um fruto que se costuma colher ainda
verde. Os dois tipos de abobrinha mais
comum são: a abobrinha tipo menina, que
tem o fruto com pescoço e a tipo italiana,
com o fruto alongado sem pescoço. As
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
54
cores vão do verde bem claro, quase
branco, até verde médio com faixas de cor
verde mais escuro. Os frutos são muito
sensíveis e se machucam com facilidade,
apodrecendo rapidamente nas partes
machucadas. Suas flores são amareladas.
Utiliza-se nos mais variados pratos
culinários.
No Norte, no Nordeste e em grande parte
das regiões Sudeste e Centro-Oeste, não
importa a época do ano para começar o
cultivo da abobrinha. Por sua vez, nos
estados do Sul, onde o frio é mais intenso
no inverno, o plantio vai bem a partir de
agosto.
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
Abobora-
d’agua
Nome científico: Benincasa hispida
Nomes populares: Abóbora-d'água,
cabaceiro-amargoso, cuieira.
É uma planta da família cucurbitácea, de
haste rastejante, frequentemente com
gavinhas de sustentação, que reúne cerca
de 750 espécies entre as quais várias
domesticadas e de grande importância para
o homem tais como abóbora, melão,
melancia, bucha, cabaça (cuia), abobrinha,
pepino, etc. Quando seca, é largamente
utilizada por comunidades tradicionais
brasileiras. A exemplo de cuias, recipientes
e até instrumentos. Esse fruto, cuja polpa
amarga é usado também como laxante.
A maioria das plantas desta família são
anuais, ou seja, morrem depois de se
reproduzirem.
184. “A saudade
minha maior era
de uma
comidinha
guisada: um
frango com
quiabo e abóbora-
d‟água e caldo,
um refogado de
caruru com ofa de
angu.” (ROSA,
2001, p. 184).
Abóbora
moranga
Nome científico: Cucurbita máxima,
Duschene, Dicotyledonae ou
Cucurbitaceae.
Nomes Populares: abóbora, abóbora
moranga.
Planta rasteira com folhas arredondadas
verdes, sem manchas; o pedúnculo do fruto
é esponjoso, cilíndrico e não se abre ao
atingir o fruto. As folhas são semelhantes
às da abóbora rasteira. A polpa do fruto é
rica em vitaminas e sais minerais de fácil
digestão; é usada no preparo de doces,
sopas, refogados, suflês, nhoques, pães,
bolos, purês, sorvetes etc. Crua, ralada,
constitui saladas leves e saborosas. As
sementes são riquíssimas em ferro podem
ser consumidas como aperitivo. Já as flores
88, 299. “Angu e couve,
abóbora-moranga
cozida, torresmos,
e em toda
fogueira assavam
mantas de
carnes.” (ROSA,
2001, p. 299).
55
podem ser servidas à milanesa ou rechear
omeletes. Também se usa sementes sem
pele misturadas a mel para combate a
vermes e desarranjos intestinais.
Planta-se na estação chuvosa e seus frutos
devem ser colhidos bem maduros.
Aderno-
preto
Nome científico: Astronium graveolens
Nomes Populares: Guarita (PR), gibatão
(ES), aderno (ES), pau-ferro (RS),
gonçaço-alves.
O aderno-preto contém o tronco liso,
folhas compostas flores amareladas. A
Madeira serve para acabamentos internos
de construção civil, para obras externas
como dormentes, postes, cruzetas,
carrocerias, móveis, etc.
Floresce em agosto-setembro com a planta
despida de suas folhas. Os frutos
amadurecem em outubro-novembro.
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Agrião
Nome científico: Spilanthes Acmella
Nomes Populares: Agrião, Pimenta d‟água
(PE), Agrião do Brasil (BA), Agrião do
Pará e Jambu (RJ).
Erva de hastes tenras e angulosas. Folhas
opostas, longo-peliculosas, ovadas, agudas,
espessas. Flores amarelo-pálidas, em
pequenos capítulos globosos ou cônicos,
terminais ou axilares. Aquênio pequeno,
cilado nas margens. A hortaliça é uma
excelente opção para enriquecer saladas e
estimular o apetite. Também faz bem para
o fígado, é diurético e recomendado para
diabéticos.
É uma erva anual.
45, 46, 46. “E estávamos
conversando,
perto do rego –
bicame de velha
fazenda, onde o
agrião dá flor.”
(ROSA, 2001, p.
45).
Alecrim
Nome científico: Rosmarinus officinalis
Erva de caule quadrangular, aromática,
sempre verde. Folhas estreitas e de
margens enroladas. As flores são pequenas
e azul-pálidas; são também estimulantes e
abortivas. O pó das folhas é cicatrizante.
Os ramos perfumam e evitam traças nas
roupas. É também usado na medicina e na
perfumaria.
157, 184,
205, 249,
330.
“Três croas e uma
ilha. Mas uma
delas três, maior,
também sendo
meio ilha: isto é,
ilha de terra, na
parte de baixo,
com grandes
pedras e árvores,
e suja de matinho,
capim, o alecrim
viçoso
remolhando suas
folhagens nágua e
o bunda-denegro
verde vivente; e
56
croa, só de areia,
na parte de cima.”
(ROSA, 2001, p.
157).
Algodão
Nome científico: Gossypium
O algodão é uma fibra branca obtida dos
frutos de algumas espécies da família
Malvaceae. As fibras sempre contêm
pequenas sementes negras e triangulares
que precisam ser extraídas antes do
processamento das mesmas. As sementes
são aproveitadas na obtenção de um óleo
comestível. O línter, penugem fortemente
presa às sementes, é utilizado para encher
colchões, travesseiros, almofadas e para
fazer fios de alguns tipos de tapetes. O
línter também usado na produção de
celulose, de variadíssima aplicação na
indústria têxtil, na indústria de verniz e
outras. É ainda matéria básica da
elaboração do algodão absorvente, bem
como do algodão para fins cirúrgicos. Na
indústria bélica, é empregado na
preparação de pólvora, pois dele se obtêm
explosivos.
O algodoeiro é uma planta de clima
quente, que não suporta o frio. O período
vegetativo varia de cinco a sete meses,
conforme a quantidade de calor recebida, e
exige verões longos, quentes e bastante
úmidos.
136, 141,
157, 183,
201, 342,
347, 389.
“Porque, num
desastre de
instante, eu tinha
pegado a pensar –
o que resolvia
minha situação
era trabalhar para
ele, se viajar
vendendo
ferramentas por
aí, descaroçador
de algodão.”
(ROSA, 2001, p.
141).
Almêcega
Nome científico: Protium heptaphyllum
Nomes populares: Almecegueira, breu-
branco-verdadeiro, almecegueira-cheirosa,
almecegueira-de-cheiro, almecegueira-
vermelha, almecegueiro-bravo, almesca,
almíscar, manguinha. Folhas aromáticas,
flores avermelhadas, frutos vermelhos,
com uma ou duas sementes envoltas por
arilo carnoso e adocicado. A Madeira serve
para a construção civil, assoalhos,
carpintarias e marcenaria. Proporciona
sombra e pode ser utilizada em área urbana
e rural. Os pássaros adoram seus frutos
adocicados.
Floresce durante agosto-setembro. Frutos
amadurecem em novembro-dezembro.
220, 221. “Deitamos. Eu
estava atrás duma
árvore, uma
almêcega.”
(ROSA, 2001, p.
220).
Amendoim
Nome científico: Arachis hypogaea
Nomes populares: amendoí, amendoís,
mandobi, mandubi, mendubi,
235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele, ditado e
57
menduí,minuim, mindubi, lenae e
duckworth.
A planta do amendoim é uma erva, com
um caule pequeno e folhas trifolioladas,
com abundante indumento, raiz aprumada,
medindo entre 30–50 cm (1-1,5 pés) de
altura. As flores são pequenas, amareladas
e, depois de fecundadas, inclinam-se para o
solo e a noz desenvolve-se
subterraneamente. O amendoim tem uma
grande importância econômica,
principalmente na indústria alimentar.
Algumas variedades têm uma grande
quantidade de lípidos e têm sido utilizadas
para a fabricação de óleo de cozinha. São
também utilizados na produção de
sanduíches, doces e produtos de
panificação. Em várias regiões de África, o
amendoim é moído para cozinhar vários
pratos da culinária local. Suas cascas são
aproveitadas na fabricação de plástico,
gesso, abrasivos, e combustível.
Plantas mantidas na estação outono-
inverno produzem mais flores do que as da
estação primavera-verão.
leitura, as contas
de juros; depois,
de noite, na sala
grande, na mesa
grande, se comia
canjica temperada
com leite, queijo,
coco-da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-de-
vaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
Anduzinho
Nome científico: Cajanus cajan
Nomes populares: andu, ervilha-de-pombo,
anduzeiro, guandeiro, guando, feijão-
guandu e feijão-cuandu.
Uma leguminosa arbustiva com folhas
alternadas trifolioladas; folíolos largos e
ovais (oblonco-elípticos), folíolo terminal
peciolado, enquanto que os laterais são
sésseis e flores amarelas.
Os seus feijões são utilizados na
alimentação humana; a sua forragem
também é bastante apreciada pelos animais
e apresenta, na fase de florescimento,
teores que variam de 10 a 16 por cento de
proteína bruta.
Época de floração em abril e produção de
grãos em junho.
227. “O dia tinha
clareado saído: eu
todo podendo
descrever o
Montesclarense,
atrás dum toro de
pau e moitas de
anduzinho.”
(ROSA, 2001, p.
227).
Angico
Nome científico: Anadenanthera
macrocarpa
Nomes populares: angico, angico-do-
cerrado, angico-cascudo, angico-preto,
angico-do-campo, Arapiraca, curupaí,
angico-cascudo.
Seus ramos podem apresentar espinhos,
flores amarelo-esbranquiçadas, fruto
39, 337. “A pois: um dia,
num curtume, a
faquinha minha
que eu tinha caiu
dentro dum
tanque, só caldo
de casca de curtir,
barbatimão,
58
legume deiscente, achatado, de superfície
áspera e cor marrom. A Madeira serve pra
construção civil e naval, uso em
marcenaria e carpintaria. Floresce todos os
anos o que torna ornamental p praças e
arques. Tem rápido crescimento. É usado
na medicina popular para curar feridas e
para curtumes. Da casca retira-se corante
para tinturaria.
Floresce em setembro-novembro com a
planta quase sem folhas. Os frutos
(vargens) amadurecem em agosto-
setembro.
angico, lá sei.”
(ROSA, 2001, p.
39).
Araçá
Nome científico: Psidium firmum
Nomes populares: araçá, goiabinha, araçá
do campo, araçá-mirim, araçá pomba.
Folhas opostas, simples, curto-pecioladas.
Flores com cerca de 1,2cm de
comprimento, curto a longo-pediceladas.
Fruto verde-amarelado quando maduro,
globuloso, meso e endocarpo carnoso. É
planta melífera e fornece fruto comestível
e saboroso. As folhas são usadas na
medicina popular como chá, são usadas
para combater a diarréia.
Floração: agosto-setembro.
Frutificação: outubro-dezembro.
61. “Dali eu via
aquele
movimento: os
homens,
enxergados
tamanhinho de
meninos, numa
alegria, feito
nuvem de abelhas
em flor de araçá
(...)”. (ROSA,
2001, p. 61).
Araçá-
branco
Nome científico: Psidium albidum
Nomes populares: araçá-branco, araçá-
cotão, araçá do campo.
Arbusto de pequeno porte. Folhas miúdas,
pecioladas, elíticas e branco-tomentosas.
Flores alvas, aromáticas, solitárias, em
pendúculos axilares.
223. “Eu tinha fechado
os olhos. O cheiro
dum araçá-branco
formava bolas.
Quietei.”
(ROSA, 2001, p.
223).
Araçá-de-
pomba
Nome popular dado ao araçá (Psidium
firmum).
225. “Eu ainda mudei
distância de uns
passos: aproveitei
tapação duma
árvore de boa
grossura – um
araçá-de-pomba,
fechado.” (ROSA,
2001, p. 225).
Arapavaca 330. “Para extraviar as
mutucas, a gente
queimava folhas
de
arapavaca.”
(ROSA, 2001, p.
330).
59
Araticum
Nome científico: Annona coriácea
Nomes populares: araticum, marôlo,
araticum-liso, marolinho, araticum-do-
campo, araticum-dos-grandes, cabeça-de-
negro, pinha-do-cerrado.
Tronco com casca rugosa e fina, flores
amarelas e solitárias. Frutos verdes e
bacáceos. Sua madeira empregada na
confecção de objetos leves. Árvore usada p
paisagismo e tem queda dos frutos na
maduração. Frutos comestíveis, tanto ao
natural como suco, tem uma polpa doce e
amarelada. Combate diarreia e induz a
menstruação. Lento crescimento.
Floresce durante novembro-janeiro. Frutos
amadurecem no período de novembro-
dezembro.
388, 483. “Curralinho, me
ver – na verdade,
também, ele
aproveitava para
tratar de vender
bois e mais outros
negócios – e
trazia para mim
caixetas de doce
de buriti ou de
araticum,
requeijão e
marmeladas.”
(ROSA, 2001, p.
388).
Arnica-do-
campo
Nome científico: Lychnophora ericoides
Nomes populares: arnica, candeira,
candieiro, pau-candeia, arnica-do-campo.
Arbusto hermafrodita; folhas alternadas,
simples; flores com 1cm de comprimento;
fruto castanho turbinado. É uma planta
ornamental, a casca é tanífera, as folhas e
flores são aromáticas. Como uso
medicinal, a planta é usada externamente
em machucados e contusões.
Floração: dezembro-janeiro ou junho-
outubro. Frutificação: maio-junho ou ao
redor de outubro. Depende do ano e do
ambiente.
337. “Uns
recomendavam
arnica-do-campo,
outros
aconselhavam
emplastro de
bálsamo, com isso
rente se sarava.”
(ROSA, 2001, p.
337).
Aroeira-
brava
Nome científico: Myracrodruon
urundeuva
Nomes populares: urundeúva, aroeira,
aroeira-do-sertão, aroeira-do-campo,
aroeira-da-serra, urindeúva, arindeúva,
arendiúva, aroeira-preta, aroeira-brava.
Tronco áspero e cinza. Flores amareladas e
frutos aquênios com as sépalas
persistentes. Sua madeira serve para
fabricação de postes, mourões, esteiros,
estacas, dormentes, tacos, ripas, etc.
Árvore que perde as folhas durante o
inverno, além da possibilidade de causar
reações alérgicas a pessoas sensíveis que
entrem em contato com a planta.
Floresce em junho-julho, despida de sua
folhagem. Frutos com maturação
setembro-outubro.
191. “Guardei os
olhos, meio
momento, na
beleza dele,
guapo tão aposto
– surgido sempre
com o jaleco, que
ele tirava nunca, e
com as calças de
vaqueiro, em
couro de veado
macho, curtido
com aroeira-brava
e campestre.”
(ROSA, 2001, p.
191).
Arroz Nome científico: Oryza sativa 118, 118, “Querem é trovão
60
Planta de raízes grossas e fibrosas, com
colmos simples, eretos, glabos, herbáceos,
fistulosos, com colmos simples. Folhas
invaginantes, compridas, lineares, planas,
pontudas, verde-claras, com as margens
escabrosas, munidas de estípulas longas e
denteadas. Flores hermafroditas com
estames vermelhos, em panícula terminal,
comprida, porém estreita. É uma planta da
família das gramíneas que alimenta mais
da metade da população humana do
mundo. É a terceira maior cultura
cerealífera do mundo, apenas ultrapassada
pelas de milho e trigo. É rico em hidratos
de carbono.
Planta com cultivo anual.
118, 119,
120, 234,
255, 283,
317, 326,
353, 430,
431, 432,
448, 506.
em outubro e a
tulha cheia de
arroz.” (ROSA,
2001, p. 118).
B
Bambu
Nome científico: Bambusa
Nomes populares: Bambu, Taboca Grande
(AM), Taquaruçu (AM), Taboca.
Bambu é o nome que se dá às plantas da
sub-família Bambusoideae, uma da família
das gramíneas (Poaceae ou Gramineae).
Essa sub-família se subdivide em duas
tribos, a Bambuseae (os bambus chamados
de lenhosos) e a Olyrae (os bambus
chamados herbáceos). O bambu possui
caules lenhificados utilizados na fabricação
de diversos objetos como instrumentos
musicais, móveis, cestos e até na
construção civil, onde é utilizado em
construções de edifícios à prova de
terremotos. Também é possível produzir a
partir desta gramínea, a fibra de bambu.
Uma matéria vegetal assim como o
algodão ou o linho, o bambu tem em seu
favor alguns trunfos suplementares.
61, 61, 62,
88, 123,
232.
“O senhor
imagine: parecia
que não se
mealhava nada,
mas ele pegava
uma coisa aqui,
outra coisinha ali,
outra acolá - uma
moranga, uns
ovos, grelos de
bambu, umas
ervas – e, depois,
quando se topava
com uma casa
mais melhorzinha,
ele encomendava
pago um jantar ou
almoço, pratos
diversos, farto
real, ele mesmo
ensinava o guisar,
tudo virava
iguarias!” (ROSA,
2001, p. 118).
Banana Fruto da bananeira. É de cor verde, quando
imatura, chegando a amarela ou vermelha,
quando madura. Seu formato é alongado,
podendo, contudo, variar muito na sua
forma a depender das variedades de
310, 352. “Vendiam licor de
banana e de
pequi, muito
forte, geléia de
mocotó, fumo
61
cultivo. Essa variação também acontece
com a polpa, que pode ser mole ou dura,
ou ainda com incrustações meio duras,
bem como de sabor mais doce ou mais
acre. Não possui sementes. Depois de
cortada, a banana escurece-se muito
rapidamente, devido à oxidação (pela
presença da polifenoloxidase) em contato
com o ar. É consumida in natura e usada
na culinária.
bom, marmelada,
toucinho.” (ROSA, 2001, p.
310).
Bananeira Pertence à família das Musáceas e do
gênero Musa. A bananeira caracteriza-se
por um caule suculento cujo tronco (um
pseudo-caule) é formado pelas bainhas
superpostas das suas folhas. Estas são
grandes, de coloração verde-clara,
brilhantes e de forma, em geral, oblonga
ou elíptica. O fruto, conhecido como
banana, é, na verdade, uma pseudo-baga.
168, 445. “Medo?
Bananeira treme
de todo lado. Mas
eu tirei de dentro
de meu tremor as
espantosas
palavras. Eu fosse
um homem novo
em folha.”
(ROSA, 2001, p.
310).
Barbati-
mão
Nome científico: Stryphnodendron
coriaceum
Nomes populares: Barbatimão-verdadeiro,
barba-de-timão, casca-da-virgindade ou
barbatimão.
É uma espécie de planta pertencente à
família Fabaceae. É uma árvore pequena,
hermafrodita, decídua, de tronco tortuoso.
Sua casca é rugosa, espessa e de cor
escura. As folhas são alternadas,
compostas bipinadas com cerca de cinco a
oito pares de pinas. Seus frutos são vagens
grossas, carnosas de cor castanho-claras
com muita semente de cor parda. As cascas
do caule tem ação adstringente e anti-
séptica, sendo usadas na forma de decocto,
por via oral, em casos de blenorreia,
hemorragias, úlceras e uretrites;
externamente pode ser usada no tratamento
de feridas ulcerosas e pele oleosa. Por sua
propriedade adstringente e estíptica, a
planta é conhecida como "casca da
virgindade" ou “casca da mocidade” sendo
seu chá muito procurado e usado por
prostitutas.
A floração é em setembro.
39. “A pois: um dia,
num curtume, a
faquinha minha
que eu tinha caiu
dentro dum
tanque, só caldo
de casca de curtir,
barbatimão,
angico, lá sei.”
(ROSA, 2001, p.
39).
Batata
Nome científico: Solanum tuberosum
Nomes populares: Batata, batata-inglesa,
184. “Por tudo, eram
fogueiras de se
62
batatinha, escorva papa, ou semilha.
É uma planta perene da família das
solanáceas. A planta adulta geralmente tem
entre sessenta a cem centímetros de altura,
possui flores e frutos e produz um
tubérculo comestível rico em amido, um
carboidrato. É muito utilizada na culinária
em saladas, acompanhamento de carnes
(frango, peixe e boi), purês e frita.
As batatas semeiam-se em abril. Dois
meses e meio depois começam a florir e
em setembro faz-se o arranque.
cozinhar, fumaça
de alecrim, panela
em gancho de
mariquita, e
cheiro bom de
carne no espeto,
torrada se
assando, e batatas
e mandiocas,
sempre quentes
no soborralho.”
(ROSA, 2001, p.
184).
Bate-caixa
Nome científico: Salvertia convallariodora
Nomes populares: Colher-de-vaqueiro,
bananeira-do-campo (MG), folha-larga
(GO, PI), Gonçalo-alves (PA), moliana,
pau-de-arara, pau-de-colher-de-vaqueiro,
bate-caixa.
Flores de pétalas brancas, zigomorfas,
dispostas em panículas apicais. Fruto
cápsula lenhosa, com sementes paleáceas
aladas. A madeira é empregada na
carpintaria, confecção de caixotaria,
brinquedos etc. Flores usadas no
paisagismo e frutos procurados por
animais.
Floresce nos meses abril-junho e os frutos
amadurecem em agosto-setembro.
496. “Aprazia escutar
o
ventinho do
chapadão, com o
suave rumor que
assopra e faz, nas
folhas do bate-
caixa.”
(ROSA, 2001, p.
496).
Breu-
branco
Nome científico: Protium hepytaphyllum
Nomes populares: breu, breu-branco, breu-
mescla, almecega-brava, almecega-
verdadeira, breu-branco-verdadeiro (AM),
almesca, manguinha.
Árvore com folhas aromáticas, flores
avermelhadas e frutos do tipo nuculânio,
deiscentes, elipsoides, vermelhos, com
uma ou duas sementes envoltas por arilo
carnoso e adocicados. A madeira é
apropriada para construção civil,
assoalhos, carpintaria e marcenaria. A
árvore proporciona boa sombra e é
utilizada na arborização urbana e rural.
Seus frutos são procurados por animais
para alimentação.
Floresce durante os meses de agosto-
setembro e os frutos amadurecem em
novembro-dezembro.
439. “Ao perto d‟água,
piorava aquele
desleixo de frio.
Abracei com uma
árvore, um pé de
breu-branco.”
(ROSA, 2001, p.
439).
Bunda-de-
negro
Nome científico: Thumbergia Alata
Nomes populares: cipó-africano, jasmim-
157. “Mas uma delas
três, maior,
63
sombra, bunda-de-negro, maria-sem-
vergonha, jasmim-da-itália, bunda-de-
mulata, amarelinha.
É uma planta da família das acantáceas. A
planta possui um caule volúvel, folhas
pecioladas sagitadas e flores amarelas
gamopétalas com tubo petalino de cor
marrom. Cada flor é acompanhada por
duas brácteas verdes. Planta decorativa.
Floração anual.
também sendo
meio ilha: isto é,
ilha de terra, na
parte de baixo, com grandes
pedras e árvores,
e suja de matinho,
capim, o alecrim
viçoso
remolhando suas
folhagens nágua e
o bunda-de-negro
verde vivente; e
croa, só de areia,
na parte de cima.”
(ROSA, 2001, p.
157).
Buriti Nome científico: Mauritia flexuosa
Nomes populares: buriti, carandá-guaçu,
carandaé-guaçu, miriti, muriti, palmeira-
buriti, palmeira-dos-brejos.
O buriti é uma das mais singulares
palmeiras do Brasil. O buriti é uma espécie
abundante no Cerrado e um indicativo
infalível da existência de água na região.
Os buritis emolduram as veredas, riachos e
cachoeiras, são inseridos nos brejos e
nascentes. A relação com a água não é à
toa. Ao caírem nos riachos, os frutos de
seus generosos cachos são transportados
pela água, ajudando a dispersar a espécie
em toda a região. Consumido
tradicionalmente ao natural, o fruto do
buriti também pode ser transformado em
doces, sucos, picolé, licor, vinho,
sobremesas de paladar peculiar e ração de
animais, que colaboram para disseminar as
sementes. A palmeira também fornece
palmito saboroso, fécula, seiva e madeira.
Os buritis embelezam a paisagem do
Cerrado e são fonte de inspiração para a
literatura, a poesia, a música e as artes
visuais.
24, 47, 47,
47, 61, 61,
62, 63, 68,
71, 73, 86,
96, 96,
103, 104,
111, 118,
131, 135,
156, 173,
173, 204,
208, 208,
213, 306,
306, 322,
323, 324,
324, 325,
325, 329,
333, 333,
335, 342,
352, 370,
388, 392,
393, 393,
395, 398,
400, 403,
417, 417,
438, 451,
464, 481,
483, 614.
“Pergunto coisas
ao buriti; e o que
ele responde é:
coragem minha.
Buriti quer todo
azul, e não se
aparta de sua água
– carece de
espelho. Mestre
não é quem
sempre ensina,
mas quem de
repente aprende.”
(ROSA, 2001, p.
325-326).
Buritirana
Nome científico: Mauritiella aculeata
Nomes populares: buritirana, buriti-mirim.
Palmeira muito elegante e vistosa,
formadora de touceiras, com folhas em
forma de leque, destaca-se pela belíssima
coloração branco-azulada da bainha e dos
47. “Com medo de
mãe-cobra, se vê
muito bicho
retardar
ponderado, paz de
hora de poder
64
pecíolos. Espécie dioica, portanto para a
produção de frutos são necessários
exemplares masculinos e femininos. É
extremamente ornamental, oferece amplas
aplicações paisagísticas. Os frutos, de
forma análoga à de seu parente buriti
(Mauritia flexuosa), são utilizados para o
preparo de uma bebida muito apreciada em
sua região de origem.
água beber, esses
escondidos atrás
das touceiras de
buritirana.”
(ROSA, 2001, p.
47).
Bogari
Nome científico: Jasminum Volubile
O bogari é um arbusto muito perfumado e
decorativo. As folhas são verde escura,
ovaladas, com sulcos um tanto marcados e
são dispostas ao longo de ramos
compridos. As flores brancas exalam um
forte perfume, adquirem tonalidades
rosadas com o tempo e podem ser simples,
semi-dobradas ou dobradas. Embora seja
arbustiva, pode ser conduzida como
trepadeira, devido aos extensos ramos,
cobrindo assim suportes como colunas,
grades e arcos. Utilizado na ornamentação.
Floresce nos meses mais quentes do ano,
mas pode florescer no inverno se mantida
em estufa.
393. “Estou vendo
vocês dois juntos,
tão juntos,
prendido nos
cabelos dela um
botão de bogari.”
(ROSA, 2001, p.
393).
C
Cabaça
Nome científico: Lagenaria vulgaris
Nomes populares: Cabaça, porongo,
porungo.
É a designação comum dos frutos de
plantas da família das cucurbitáceas e a
uma da família das bignoniáceas. As
plantas são chamadas de cabaceira,
porongueiro, cabaceiro e, na Amazônia, de
jamaru. É utilizada na produção de
artesanato, porta-objetos, brinquedos,
bonecas, cuia de chimarrão. Os frutos
verdes de sabor muito amargo são
utilizados na culinária do interior do
Brasil.
460. “Tive de repente
fé naqueles
desgraçados, com
suas desvalidas
armas de toda
antiguidade, e
cabaças na
bandola, e panelas
de pólvora escura
e fedor de fumaça
ceguenta.”
(ROSA, 2001, p.
460).
65
Caeté
Nome científico: Heliconia velloziana
Nomes populares: Caeté, Bananeirinha,
Caetê, Helicônia, Helicônia-vermelha,
erva-conteira.
As folhas são lisas, largas, grandes com
pecíolo longo. As inflorescências formadas
no verão são eretas, com brácteas maiores
na base e menores no ápice. As brácteas
podem ser de coloração vermelho vivo ou
laranja, com flores amarelas.
Utilizado na ornamentação.
206. “Das que
sobressaíam, era
uma flor branca –
que fosse caeté,
pensei, e parecia
um lírio – alteada
e muito
perfumosa. E essa
flor é figurada, o
senhor sabe?”
(ROSA, 2001, p.
206).
Café
Nome científico: Coffea arabica
O cafeeiro é um arbusto da família
Rubiaceae e do gênero Coffea L. Destas,
se colhem os frutos, o café, com os quais
se prepara a bebida estimulante conhecida
também como café. A princípio o fruto é
verde, depois adquire colocaração
vermelha quando amadurece e, por fim,
quando seco, torna-se preto.
311, 319,
325, 334,
353, 411,
440, 450,
486, 496,
496, 508.
“Aí o senhor via
os companheiros,
um por um,
prazidos, em beira
do café.” (ROSA,
2001, p. 334).
Caju
Nome científico: Anacardium occidentale
O caju se constitui de duas partes: o fruto
propriamente dito, que é a castanha; e seu
pedúnculo floral, o pseudofruto, um corpo
piriforme, amarelo, rosado ou vermelho.
Do caju preparam-se sucos, mel, doces,
passas e rapaduras. Dele também são
fabricadas bebidas não alcoólicas, como a
cajuína. De suas fibras (resíduo/bagaço) é
feita a "carne de caju".
Frutificação janeiro a fevereiro.
319. “Milho crescia em
roças, sabiá deu
cria, gameleira
pingou frutinhas,
o pequi
amadurecia no
pequizeiro e a cair
no chão, veio
veranico, pitanga
e caju nos
campos.” (ROSA,
2001, p. 319).
Cajueiro e
Cajueiro-
anão
Nome científico: Anacardium occidentale
É uma planta da família Anacardiaceae
originária da região nordeste do Brasil,
com arquitetura de copa tortuosa e de
diferentes portes. Na natureza existem dois
tipos: o comum (ou gigante) e o anão. O
tipo comum pode atingir entre 5 e 12
metros de altura, mas em condições muito
propícias pode chegar a 20 metros. O tipo
anão possui altura média de 4 metros.
Além do fruto, o caju, a casca da árvore é
também utilizada como adstringente e
tônico.
Floresce a partir de junho e prolonga-se até
novembro. Os frutos amadurecem nos
meses se setembro a janeiro.
212, 476,
483, 483.
“Quando a lua
subisse mais, as
estrelas se
sumiam para
dentro, e até as
seriemas podiam
se atontar de
gritar. Ao que
fiquei bom tempo
encostado no
cajueiro da beira
do curral.”
(ROSA, 2001, p.
212).
66
Cana
Nome científico: Saccharum
É uma planta da família Poaceae,
representada pelo milho, sorgo, arroz e
muitas outras gramas. As principais
características dessa família são a forma da
inflorescência (espiga), o crescimento do
caule em colmos, e as folhas com lâminas
de sílica em suas bordas e bainha aberta. A
planta é a principal matéria-prima para a
fabricação do açúcar e álcool (etanol).
157, 183,
246, 309,
432.
“Vai agora, mês
de junho. A
estrelad‟alva
sai às três horas,
madrugada boa
gelada. É tempo
da cana.” (ROSA,
2001, p. 157).
Canaranas
Nome científico: Zingiberaceae
Nomes populares: caatinga, cana branca,
canarana.
Seus ramos são longos, ligeiramente
tortuosos e pouco ramificados. As folhas
são espiraladas, de coloração verde-escura
muito brilhante, tendo no lado inferior
nervuras centrais mais claras. As
inflorescências são terminais, tendo
brácteas de coloração vermelha ou verde.
As flores podem ser rosas, brancas ou
vermelhas. Esta planta é reproduzida por
divisão da touceira ou estacas. Este vegetal
é plantado para fins medicinais ou
decorativos.
121. “E se deu que o
remador encostou
quase a canoa nas
canaranas, e se
curvou, queria
quebrar um galho
de maracujá-do-
mato.” (ROSA,
2001, p. 121).
Canela A canela é a especiaria obtida da parte
interna da casca do tronco da caneleira
(Cinnamomum zeylanicum). É muito
utilizada na culinária como condimento e
aromatizante e na preparação de certos
tipos de chocolate e licores. Na medicina,
empregada como os óleos destilados e são
conhecidos por 'curar' resfriados. O sabor e
aroma intensos vêm do aldeído cinâmico
ou cinamaldeído.
235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele,
ditado e leitura, as
contas de juros;
depois, de noite,
na sala grande, na
mesa grande, se
comia canjica
temperada com
leite, queijo, coco-
da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-
devaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
Canela-de-
ema
Nome científico: Vellozia squamata
São arbustos que ocorrem nas regiões de
cerrados dos estados da Bahia, Goiás,
Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso
do Sul, Distrito Federal e São Paulo.
Possuem caule ereto, poucas ramificações.
Têm flores de várias cores, como roxas,
brancas, róseas, amarelas e alaranjadas.
48. “Arrancávamos
canela-de-ema,
para acender
fogueira.”
(ROSA, 2001, p.
48).
67
Suas folhas são usadas como forrageiras
para o gado. Sua floração ocorre de maio á
junho.
Capa-rosa-
do-judeu
Nome científico: Miconia rigidiuscula
Nomes populares: Capa-rosa, capa-rosa-
do-judeu.
435. “Ainda melhor era
a
capa-rosa –
porque no chão
bem debaixo dela
é que o Careca
dança, e por isso
ali fica um círculo
de terra limpa, em
que não cresce
nem um fio de
capim; e que por
isso de capa-rosa-
do-judeu nome
toma.” (ROSA,
2001, p. 435).
Capim
agrestes
Nome científico: Imperata Brasiliensis
Nomes populares: agreste, jucapé, sapé,
massapé.
A flor é um cacho constituído por
pequenas espigas reunidas, que se
desprendem e voam, espalhando as suas
sementes por todos os recentos. O seu
aspecto quando novo é agradável, devido
ao belo verde de suas folhas novas, mas,
quando adulto ele perde lentamente a sua
bela cor, cedendo lugar ao amarelo
avermelhado de suas folhas apresentando o
aspecto de um vasto lençol de palha. É
usado para cobrir choupanas (casas de
sapé), palhoças, ranchos e para cama de
animais. Das suas folhas, extrai-se celulose
que se presta para o fabrico de papel
ordinário. Também possui propriedades
medicinais.
Floresce no outono e primavera.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim-
capivara
Nome científico: Echinochloa crusgalli
Planta de ciclo anual, entouceirada,
herbácea, porte ereto, de 50-90 cm de
altura. Folhas com bordos levemente
serreados, de 15-30 cm de comprimento.
Lígula ausente e reprodução por sementes.
123. “Estava pitando.
Acabou de pitar,
apanhava talos de
capim-capivara, e
mastigava; tinha
gosto de milho-
verde, é dele que
a capivara come.”
(ROSA, 2001, p.
123).
Capim- 63. “Os cavalos ainda
68
grama pastavam um
pouco,
do capim-grama,
que tapava os pés
deles.” (ROSA,
2001, p. 63).
Capim
grama-de-
burro
Nome científico: Cynodon dactylon
Nomes populares: grama-das-botica,
grama-fina, grama-rasteira, graminha-seda,
graminha-fina, erva-das-bermudas.
Planta perene, ereta ou ascendente,
rizomatosa e estolonífera. Os colmos são
cilíndricos, finos, lisos e glabros, verdes ou
com pigmentação purpurescente.
Inicialmente ascendentes, assumem
postura ereta após a floração. Apresentam
algumas folhas. Utilizável em pastejo ou
fenação, na formação de gramados, em
barrancos e em taludes de canais é usada
para cobertura do solo.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim
marmelada
Nome científico: Brachiaria Plantaginea
Nomes populares: grama-paulista, milhã-
branca, papuã.
Colmos cilíndricos, compridos,
geniculados, ascendentes ou decumbentes,
entre-nós e nós glabros, com enraizamento
nos nós em contato com o solo, verde-
claro sem pigmentação arroxeada. Folhas
estriadas, verde-pálidas ou alvas.
44, 387. “Aquele capim-
marmelada é
muito restível,
redobra logo na
brotação, tão
verde-mar, filho
do menor
chuvisco.”
(ROSA, 2001, p.
44).
Capim
mimoso
Nome científico: Axonopus purpusii
O capim-mimoso é uma gramínea perene
que ocorre principalmente em manchas de
solos arenosos. Sendo altamente palatável,
constitui uma das principais espécies
componentes da dieta de bovinos, equinos
e grandes herbívoros silvestres.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim-
pubo
123. “Aonde o menino
queria ir?
Sofismei, mas fui
andando, fomos,
na vargem, no
meio avermelhado
do capim-pubo.”
(ROSA, 2001, p.
123)
Capim- Nome científico: Trachypogon 63. “Os urubus em
69
redondo
Polymorphus
Nomes populares: arroz-do-campo.
vasto
espaceavam. Se
acabou o capinzal
de capim-redondo
e paspalho, e paus
espinhosos, que
mesmo as moitas
daquele de
prateados
feixes, capins
assins.” (ROSA,
2001, p. 63)
Capim
sempre-
verde
Nome científico: Poa Nemoralis
Capim-sempre-verde é o nome popular de
uma planta da família das Poáceas.
387. “Saber as
revezadas do
capim? Ah, então,
que foram:
mimoso, sempre-
verde, marmelada,
agrestes e grama-
de-burro...”
(ROSA, 2001, p.
387).
Capim
verdeado
89. “Viemos pelo
Urucuia. Meu rio
de amor é o
Urucuia. O chapadão – onde
tanto boi berra.
Daí, os gerais,
com o capim
verdeado. Ali é
que vaqueiro
brama, com suas
boiadas
espatifadas.”
(ROSA, 2001, p.
89).
Capitão-
do-campo
44. “Tresmente: que
com o capitão-do-
campo de
prateadas pontas,
viçoso no cerrado;
o anis enfeitando
suas moitas; e
com florzinhas as
dejaniras.”
(ROSA, 2001, p.
44).
Capitão-
da-sala
Nome científico: Asclepias Curassavica
Nomes populares: erva-de-paina, erva-
71. “E era bonito, no
correr do baixo
70
leiteira, algodãozinho-do-campo, dona-
joana, mata-olho, oficial-da-sala,
cavalheiro-da-sala.
Flores bonitas, numerosas, com pétalas
vermelhas e petaloides alaranjados, em
umbelas de pedúnculos compridos.
Folículo glabro, estreito, pardacento-
enegrecido, com numerosas sementes
coroadas por um tapete de pelos sedosos.
Usada como purgativa, vermífuga,
antiasmática e bernicida.
campo, as flores
do capitão-da-
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo.” (ROSA,
2001, p. 71).
Caraíba
Nome científico: Cordia calocephala
C. insignis
Nomes populares: Carobeira, Caraúba do
Campo, Para-Tudo.
Árvore de casca tuberosa que produz
pequenas flores amareladas com os lábios
inferiores estriados em vermelho. É tida
como indicação segura de solo fértil. Sua
madeira possui excelentes qualidades para
várias aplicações.
392, 480. “Nós estávamos
na beira do
cerrado, cimo
donde a ladeirinha
do resfriado
principia; a gente
parava debaixo
dum paratudo –
pau como diz o
goiano, que é a
caraíba mesma –
árvore que
respondia à
saudade de suas
irmãs dela,
crescidas em
lontão, nas boas
beiras do Urucuia
(ROSA, 2001, p.
392).
Caraíba-
de-flor-
rôxa
“E descemos num pojo, num ponto sem
praia, onde essas altas árvores – a caraíba-
de-flor-roxa, tão urucuiana.” (ROSA,
2001, 322).
322, 324. “E descemos num
pojo, num ponto
sem praia, onde
essas altas árvores
– a caraíba-de-
flor–roxa, tão
urucuiana.”
(ROSA, 2001, p.
322).
Carambola A carambola é o fruto da caramboleira
(Averrhoa carambola), uma árvore
ornamental de pequeno porte, da família
das Oxalidaceae. Possui flores brancas e
purpúreas. É largamente usada como
planta de arborização de jardins e quintais.
178. “É de ver que,
mesmo do jeito,
não bobeei um
ceitil: o Advindo
me lecionava o
rumo medido da
vantagem, e eu
encurvava o
corpo, amolecia
barriga e taqueava
71
o meu chofre,
querendo aquilo
no verde – : era o
justo repique –
umas carambolas
de todos estalos,
retruque e
recompletas, com
recuanço, ladeio
perfeito, efeito
produzido e
reproduzido; por
fim, eu me
reprazia mais
escutando
rebrilhar o
concôco daquelas
bolas umas nas
outras,
deslizadas...”
(ROSA, 2001, p.
178).
Caruru
Nome científico: Amaranthus
Nomes populares: bredo Caruru é a
designação comum a certas plantas do
gênero Amaranthus, da família das
amarantáceas, algumas de folhas
comestíveis, bastante utilizada em
culinária. A maioria delas é invasora de
plantações.
184. “A saudade minha
maior era de uma
comidinha
guisada: um
frango com
quiabo e abóbora-
d‟água e caldo,
um refogado de
caruru com ofa de
angu.” (ROSA,
2001, p. 184).
Casa-
comigo
Em todas as casas onde havia moças boas
para casar, em frente havia uma flor
misteriosa, semelhante a um lírio. Essa flor
recebeu vários nomes de acordo com a
mulher que Riobaldo a relacionava. Ao
perguntar o nome da flor, para Otacília ele
teve a resposta de “casa-comigo”.
206 “Casa-comigo...”
– Otacília
baixinho me
atendeu. E, no
dizer, tirou de
mim os olhos;
mas o tiritozinho
de sua voz eu
guardei e recebi,
porque era de
sentimento”.
(ROSA, 2001, p.
206).
Cavalheiro-
da-sala
Nome popular de uma planta. O mesmo
que capitão-da-sala.
“E era bonito, no
correr do baixo
campo, as flores
do capitão-da-
72
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo. – “É o
cavalheiro- da-
sala...” –
Diadorim falou,
entusiasmado.
Mas o Alaripe,
perto de nós,
sacudiu a cabeça.
– “Em minha
terra, o nome
dessa” – ele disse
“é dona-joana...
Mas o leite dela é
venenoso...”
(ROSA, 2001, p.
72).
Cedro
Nome científico: Cedrela odorata
Nomes populares: Cedro cheiroso, cedro
rosa. Árvore de porte nobre e casca
fendida e rugosa. Folhas alternas e
pinadas. Flores curto-pediceladas, branca-
centas, inteiros e glabros. Sua madeira é
rica de vasos cheios de matérias resinosas.
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas canoas
boiantes, de
faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
Cera de
palmeiral
484. “Essa tropa, que
passara por nós,
dias antes, rumava
para o
Abaeté, com
carga de fumo,
mantas de
borracha, couros
de onça e de
lontra e cera de
palmeiral, pouca
coisa.” (ROSA,
2001, p. 484).
Cocos do
buritizal
Fruto da palmeira buriti. Além de rico em
vitamina A, B e C, ainda fornece cálcio,
330. “Assim que
fevereiro é o mês
73
ferro e proteínas. Consumido
tradicionalmente ao natural, o fruto do
buriti também pode ser transformado em
doces, sucos, picolé, licor, vinho,
sobremesas de paladar peculiar e ração de
animais.
mindinho: mas é
quando todos os
cocos do buritizal
maduram, e no
céu, quando estia,
a gente acha
reunidas as todas
estrelas do ano
todo. Mesmas
vezes eu ria.”
(ROSA, 2001, p.
330).
Coco Nome científico: Cocos nucifera
Nomes populares: Coco , coco-da-praia,
coco-da-índia, coco-da-bahia.
O coco é o fruto produzido pelo coqueiro e
contém componentes que beneficiam o
organismo humano. É um fruto oval-
arredondado, carnoso, de casca fibrosa,
endocarpo duro, de semente esbranquiçada
e suculenta utilizada na alimentação
juntamente com a água que se encontra
dentro da semente. A água de coco é muito
saborosa. Pode ser empregada como
diurético, por ser inofensiva e rica em sais
de potássio. O coco realça o sabor dos
alimentos, sendo excelente no preparo de
bebidas, pratos doces e salgados,
substituindo com vantagem nozes e
amêndoas nos diferentes tipos de receitas.
Seu período de safra vai de janeiro a julho,
e, em casos especiais, a setembro.
352. “Cabeça de um se
bolou,
redondante, feito
um coco, por
cima da palha de
buriti que cobria
uma casa de
vaqueiro.”
(ROSA, 2001, p.
352).
Coco-da-
bahia
Espécie de coco. 235. “Eu, na Nhanva,
ensinando lição a
ele,
ditado e leitura, as
contas de juros;
depois, de noite,
na sala grande, na
mesa grande, se
comia canjica
temperada com
leite, queijo, coco-
da-baía,
amendoim,
açúcar, canela e
manteiga-
devaca.” (ROSA,
2001, p. 235).
Coco de Fruto da palmeira macaúba (Acrocomia 310. “Diadorim
74
macaúba aculeata). Dele se extrai óleo, é utilizado
na produção de sabão em barra, shampoo,
desinfetante e cosméticos; serve também
de alimento para animais.
mandou comprar
um quilo grande
de sabão de coco
de macaúba, para
sé lavar corpo.”
(ROSA, 2001, p.
310).
Congonha Denominação genérica dada à várias
árvores de diversas famílias botânicas,
cujas folhas servem para fazer chás. É
também chamado de mate, erveira, erva-
verdadeira, etc.
235. “– “Fofo faço, e
em prazo, siô
Baldo: acabar
para uma vez
com essa cambada
canalha de
jagunços!” – ele
referia, com
rompante e festa
no dizer, bebendo
seu coité de chá-
decongonha, que
de tão quente
pelava.” (ROSA,
2001, p. 325).
Copos-de-
leite
Nome científico: Zantedeschia aethiopica
Planta com folhas grandes, espádice
cilíndrica e amarela e espata branca. É
originária da África do Sul, comum onde
quer que exista água. É usada como
ornamental em outras zonas de clima
temperado, devido às suas flores grandes e
à facilidade com que se cultiva. É tóxica,
devido à presença de oxalato de cálcio e
possivelmente uma espécie invasora. Ela é
muito vendida em floriculturas, e
apreciada em jardins.
326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Coqueiros Nome científico: Cocos nucifera
Palmeira com caule sem ramificação
marcado por vários anéis que são cicatrizes
das folhas caídas. Seu porte é elegante,
ligeiramente curvado em virtude da ação
dos ventos. As folhas penadas formam
uma copa elegante. As flores, brancas e
carnudas, se agrupam em um cacho,
constituído de flores masculinas e
femininas. O fruto, o coco, é constituído
por uma casca dura, uma polpa de cor
branca, carnuda e adocicada e em seu
interior se encontra água.
310, 398. “Bateu o primeiro
toró de chuva.
Cortamos paus,
folhagem de
coqueiros,
aumentamos o
rancho.” (ROSA,
2001, p. 310).
Couve Nome científico: Brassica oleracea 299. “Daí, estávamos
75
Esta hortaliça tem folhas grandes e
carnudas, possui inúmeras formas obtidas
e fixadas por uma longa cultura. É uma
planta muito utilizada como verdura na
cozinha, para sopas e conservas, entre
outros acompanhamentos, como a couve à
mineira.
todos pegando o
que comer, que
eram essas
grandes
abundâncias.
Angu e couve,
abóbora-moranga
cozida, torresmos,
e em toda
fogueira assavam
mantas de
carnes.” (ROSA,
2001, p. 299).
D
Dorme-
comigo
Ao pensar em Nhorinhá, a prostituta com
quem Riobaldo se envolve, a flor que se
parece um Lírio, recebe a alcunha de
“Dorme-comigo”.
206. “Consoante,
outras, as
mulheres livres,
dadas,
respondem: –
“Dorme-
comigo...” Assim
era que devia de
haver de ter de
me dizer aquela
linda moça
Nhorinhá, filha de
Ana Duzuza, nos
Gerais confins; e
que também
gostou de mim e
eu dela gostei.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Dona-joana Dona-joana é o nome vulgar de uma
planta, o mesmo que capitão-da-sala.
72. “E era bonito, no
correr do baixo
campo, as flores
do capitão-da-
sala-todas
vermelhas e
alaranjadas,
rebrilhando
estremecidas, de
reflexo. – “É o
cavalheiro- da-
sala...” –
Diadorim falou,
76
entusiasmado.
Mas o Alaripe,
perto de nós,
sacudiu a cabeça.
– “Em minha
terra, o nome
dessa” – ele disse
“é dona-joana...
Mas o leite dela é
venenoso...”
(ROSA, 2001, p.
72).
Duro-do-
brejo
Nome científico: Andropogon Lithophilus
Nomes populares: Capim-duro-do-brejo,
duro-do-brejo.
Duro-do-brejo é o nome popular de uma
planta da família das Poáceas.
395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos com
pedregal, o
jasmim-da-serra.”
(ROSA, 2001, p.
395).
E
Embaúba Embaúba é a designação comum de várias
espécies de árvores, principalmente do
gênero Cecropia.
Nomes populares: Embaúva, imbaúba,
imbaúva, umbaúba, umbaúva, ambaúba,
embaíba, imbaíba e torém.
As embaúbas são árvores leves, pouco
exigentes quanto a solo e muito comuns
em áreas desmatadas em recuperação.
Possuem frutos atrativos a várias espécies
de aves. São capazes de se dispersarem
rapidamente. Como possuem caule e ramos
ocos, vivem em simbiose com formigas.
210. “Vindo na
vertente, tinha o
quintal, e o mato,
com o garrulho de
grandes
maracanãs
pousadas numa
embaúba, enorme,
e nas mangueiras,
que o sol
dourejava.”
(ROSA, 2001, p.
210).
Embira Abrange plantas pertencentes a diversas
famílias, notadamente às Anonáceas, cujo
91. “Mas primeiro
enfeitaram as
77
córtex fornece fibra ou embira, para
simplesmente amarrar ou ser aproveitada
na cordoaria.
foices, urdindo
com cordões de
embira e várias
flores.” (ROSA,
2001, p. 91).
Erva-boa 337, 337. “Aí Raimundo Lê
garantiu cura com
erva-boa. Mas
onde
era que erva-boa
se ia achar?”
(ROSA, 2001, p.
210).
Erva-dôce
Nome científico: Pimpinella Anisum
Nomes populares: Anis
Planta herbácea africana, de folhas
fendidas e flores alvas em amplas umbelas.
Frutos condimentares, estimulantes,
carminativos. Utilizada na culinária e na
perfumaria.
252. “O Paspe, que
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
352).
F
Fava Nome científico: Vicia faba
A fava é uma planta da família das
leguminosas. Folhas papirinadas, vagens
grandes, carnudas, com sementes
achatadas, castanho-claras, roxas ou
verdes. As vargens tenras constituem
excelente alimento.
249. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 249).
Faveira Nome comum às Leguminosas
papolionóideas.
Nome popular: faveira, faveiro.
Árvore de pequeno porte, com flores
violáceos. O lenho é pesado, pardo-
amarelo. Presta-se para construção. (Esta
espécie descrita é a Vatairea macrocarpa)
122, 476,
476.
“Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 352).
Feijão
Nome científico: Phaseolus vulgaris
Feijão é um nome comum para uma grande
variedade de sementes de plantas de alguns
234, 283,
317, 353,
431, 464.
“E, mesmo, nas
más horas é que
vem bom
78
gêneros da família Fabaceae. Proporciona
nutrientes essenciais como proteínas, ferro,
cálcio, vitaminas (principalmente do
complexo B), carboidratos e fibras. A
combinação de arroz com feijão é típica da
culinária do Brasil.
consolo: para o
Jio tinha tocado,
de antevéspera, o
Braz, nessa
antecedência em
dois jumentos ele
tinha trazido
mantimento de
feijão e arroz, e
toucinho para
torresmos, e
pratos e panela, se
cozinhou um
jantar.”
(ROSA, 2001, p.
234).
Feijão
bravo
Denominação comum às espécies nativas
dos gêneros Phaseolus, Vigna e
Centrosema, da família das Leguminosas
Papilionóideas.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras trepadeiras,
e as roxas, do
mucunã, que é um
feijão bravo;
porque se estava
no mês de maio,
digo – tempo de
comprar arroz,
quem não pôde
plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
Feijão-da-
seca
430. “Daí, assim ia
sendo que,
mesmo sem
sentir, o próprio
Zé Bebelo se via
principiando a ter
de falar com ele
em todas as pestes
de gado, e nas
boas leiras de
vazante, no
feijão-da- seca e
nos arrozais
cacheando, em
79
que os
passarinhos de
Deus viram em a
má praga.”
(ROSA, 2001, p.
430).
Flor de
joaninha-
silva
431. “Daí, feito flor de
joaninha-silva em
muito sol, do
meio-dia para a
tarde, virava era
azul.” (ROSA,
2001, p. 431).
Folha de
uva
Folha da videira (Vitis sp.), uma planta da
família das Vitaceae.
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
Folha-larga 322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Fumo
Nome científico: Nicotina Tabacum
Planta com caule ereto e folhas grandes. O
caule e as folhas secretam substância
pegajosa, de cheiro forte. As flores são
afuniladas, rosas, unidas em penículas.
179, 179,
432, 483,
484.
“Andando que
sentados, jogando
jogos, ferrando
queda de braço,
assoando o nariz,
mascando fumo
forte e cuspindo
80
longe, e pitando,
picando ou
dedilhando fumo
no covo da mão,
com muita
demora; o mais,
sempre no
proseio.” (ROSA,
2001, p. 352).
G
Gameleira
Nome científico: Ficus doliaria
Árvore ereta, de porte vultoso, casca
espessa e dura. Suas folhas são alternas,
corídeas, ovais e verde-escuras. Madeira
utilizada para a confecção de gamelas e
objetos domésticos.
117, 160,
319.
“Tinha também
umas duas ou três
gameleiras, de
outrora, tanto
recordo.” (ROSA,
2001, p. 117).
Gravatá
Nome científico: Bromelia Karatas
Nomes populares: Caraguatá, caravatá,
caroá, caroatá, caruatá, croata, caruatá-de-
pau, coroá, coroatá, coroá-verdadeiro,
craguatá, crauaçu, crauatá, crautá, cravatá,
croá, curauá, curuá, curuatá, erva-do-
gentio, gragoatá e erva-piteira.
Planta vivaz, herbácea, quase acaule.
Folhar ensiformes, verdes, vermelhas na
base do caule. As flores de cálice branco e
pétalas roxas. Das folhas se retira fibra
sedosa para cordas, tapetes, mantas etc.
129, 255,
266, 319.
“Mais tarde, me
deu até um facão
enterçado, que
tinha mandado
forjar para
próprio, quase do
tamanho de
espada e em
formato de folha
de gravata.”
(ROSA, 2001, p.
129).
Graviá 65. “Depois, se
repraçava um
entranço de vice-
versa, com
espinhos e
restolho de
graviá, de áspera
raça, verde-preto
cor de cobra.
Caminho não se
havendo.”
(ROSA, 2001, p.
81
65).
Goiabeira
Nome científico: Psidium guajava
Nomes populares: araçá-guaçu, araçaíba,
araçá-das-almas, araçá-mirim, araçauaçu,
araçá-goiaba, goiaba, goiabeira-branca,
goiabeira-vermelha, guaiaba, guaiava,
guava, guiaba, mepera e pereira.
Pequena árvore frutífera tropical de tronco
tortuoso, casca lisa descamante tanífera.
As folhas obovadas e cartáceas. Flores
pequenas, brancas, solitárias, formadas na
primavera. Os frutos são bagas verdes ou
amarelas de casca rugosa, com polpa
suculenta doce-acidulada aromática,
branca, rósea, avermelhada ou arroxeada,
com muitos "caroços" (sementes).
Amadurecem no verão.
201. “E o Elisiano
caprichava de
cortar e descascar
um ramo reto de
goiabeira, ele que
assava a carne
mais gostosa, as
beiras tostadas, a
gordura chiando
cheio.” (ROSA,
2001, p. 201).
Guapira
Nome científico: Guapira Pernambucensis
Nomes populares: joão-moleza, guapira
Guapira é o nome popular de um arbusto
da família das Nictagináceas que cresce em
moitas.
398. “No entrar numa
guapira, se
redobrou o
achado daquelas
ramas verdes, que
não obedecemos.”
(ROSA, 2001, p.
398).
H
I
Imburana
Nome científico: Bursera leptophloeos
Árvore coberta de espinhos. Folhas opostas
e pinadas. Flores em cachos. Fruto
comestível quando maduro. Imburana
significa imbu falso.
Fruto comestível, extração de óleo
medicinal, chá da casca tônico e
cicatrizante. As primeiras flores aparecem
no fim da estação seca (de novembro a
janeiro), em ramos ainda desfolhados, mas
acompanha o início da nova folhagem na
estação chuvosa. Os frutos amadurecem de
4 a 5 meses depois.
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
82
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
Ingazeiro O(a) ingá, também chamado(a)
ingazeiro(a), é uma árvore do gênero Inga,
da subfamília Mimosoideae, da família
Fabaceae. "Ingá" também designa o fruto
da árvore: uma longa vagem que contêm
sementes envolvidas por uma polpa muitas
vezes comestível. É muito comum nas
margens de rios e lagos, sendo muito
procurado pela fauna e pelo homem por
suas sementes envolvidas por polpa branca
e adocicada.
O ingazeiro costuma apresentar floração
mais de uma vez por ano.
304. “Atravessei um
ribeirão verde,
com os
umbuzeiros e
ingazeiros
debruçados – e ali
era vau de gado.”
(ROSA, 2001, p.
304).
J
Jaca
Nome científico: Artocarpus integrifolia
A jaca é o fruto da jaqueira, árvore tropical
com até 20m de altura. Flores caulinares.
A fruta nasce no tronco e nos galhos
inferiores da jaqueira e são formados por
gomos, sendo que cada um contém uma
grande semente recoberta por uma polpa
cremosa. Apresenta cor amarelada e
superfície áspera, quando madura. Pode ser
consumida in natura, cozida, na preparação
de doces e geleias caseiras. As sementes,
sem pele e cozidas também podem ser
consumidas como tira-gosto.
250. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 250).
Jaribaras 398. “Uns galhos de
árvores colocados
–
ramalhos e
jaribaras – forma
de sinal: para não
se passar.”
(ROSA, 2001, p.
398).
Jasmim-
da-serra
Nome científico: Elionorus Bilinguis
Nomes populares: Capim-jasmim-da-serra,
jasmim-da-serra.
Jasmim-da-serra é o nome popular de uma
planta da família das Poáceas.
395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
83
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos com
pedregal, o
jasmim-da-serra.”
(ROSA, 2001, p.
395).
Jatobá
Nome científico: Hymenaea courbaril
Nomes populares: Jatobá da mata, jataí,
jutaí e pão-de-ló-de-mico.
Árvore desenvolvida, muito esgalhada e
frondosa. Folhas compostas de 2 folículos
de tamanho mediano e flores
esbranquiçadas ou avermelhadas. Madeira
de cerne avermelhado ou castanho escuro,
dura e pesada. O fruto é um legume
indeiscente, de casca bastante dura. Cada
legume costuma ter 3 sementes e é
preenchido por uma massa
verde/amarelada, comestível. A madeira é
empregada na construção civil em vigas,
caibros, ripas e acabamentos internos. A
polpa do legume é comestível e muito
nutritiva. É usada como alimento também
pela fauna.
246. “De como, no
prazo duma hora
só, careci de ir me
vendo escorando
rifle e alvejando,
em quentes, em
beira de mato e
campo, em virada
de espigão,
descendo e
subindo ramal de
ladeirinhas
pequenas, e atrás
de cerca, debaixo
de cocho, trepado
em jatobá e
pequizeiro,
deitado no azul
duma laje grande,
e rolando no
bagaço doce de
cana, e
rebentando por
dentro de uma
casa.” (ROSA,
2001, p. 245-246)
Jenipapei-
ro
Nome científico: Genipa americana
É uma árvore de grande porte,
semidecídua. Copas estreitas, piramidal e
irregular, quando jovem. Nos adultos,
476. “E também, com
o tardio da noite,
veio a hora de se
84
torna-se arredondada. Fuste reto, com
ritidoma áspera, de cor castanha. Folhas
simples, opostas, glabras. Flores grandes,
com corola branca-amarelada. O fruto é
uma baga globosa, com polpa adocicada,
aromática. Quando maduros, apresentam
casca enrugada, coriácea e de cor parda. As
sementes são achatadas, duras e pequenas,
no meio da polpa. Sua casca tem uso
medicinal e seu fruto, o jenipapo, é
comestível e utilizado na produção de tinta
preta, doces e licores.
desapear da mesa,
e eu teimei em
rejeitar oferta de
cama em catre em
quarto ou sala,
mas fui fora,
caçar o meio da
minha gente; por
sinal que armei
rede por entre
cajueiro e
jenipapeiro, perto
dos currais, e,
para o segundo
sono, mudei de
rearmar, de
faveira para
faveira, lá para
dentro duma
cerca.” (ROSA,
2001, p. 476)
Jericó 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei; tanto que
eu via as
baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés. (ROSA,
2001, p. 326).
Joazeiro
Nome científico: Ziziphus joazeiro
Nomes populares: Joá, laranjeira-de-
vaqueiro, juá-fruta, juá e juá-espinho.
Suas folhas assemelham-se às folhas de
canela, exceto pelo tom verde mais claro e
consistência mais membranácea. Suas
flores são pequenas, de cor creme, dando
origem a frutos esféricos, também
93. “– “Tua sombra
me espinha,
joazeiro!”
(ROSA, 2001, p.
93).
85
pequenos, de cor amarelada, doces, com
uma semente em seu interior. Seus frutos,
do tamanho de uma cereja, são comestíveis
e utilizados para fazer geleias, além de
possuírem uma casca rica em saponina
(usada para fazer sabão e produtos de
limpeza para os dentes). São também
utilizados na alimentação do gado na época
seca.
O extrato do juazeiro, o juá, é empregado
na indústria farmacêutica.
Junco Nome comum a diversas Ciperáceas. Essas
plantas possuem caules cilíndricos com
três fileiras de folhas, e suas flores miúdas
são esverdeadas ou castanhas. A pequena
vagem contém muitas sementes escuras,
que parecem poeira. O junco comum é
uma planta verde-escura e flexível, que
cresce com frequência nos caminhos
úmidos e nos gramados. Os juncos são
utilizados para tecer cestos, esteiras e
assentos de cadeira.
47. “Ou outra – lagoa
que nem não abre
o olho, de tanto
junco.” (ROSA,
2001, p. 398).
L
Lágrimas-
de-moça
326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Laranjeira
Nome científico: Citrus × sinensis
É uma árvore de pequeno porte, tronco de
casca acinzentada, muito ramificada de
copa densa com forma arredondada. As
folhas são ovais, de textura coriácea, borda
lisa, cor verde intenso, exalando perfume
quando esmagadas. As flores são
pequenas, brancas e perfumadas. O fruto é
474. “O quanto fiz
perguntas. Aceitei
o
chá de laranjeira,
com que sempre
dei bem, numa
tigela grande,
com capricho
86
globoso, mais arredondado conforme a
variedade. A polpa é aquosa com a cor
amarela ou alaranjada, conforme a
variedade e estágio de maturação.
Frutifica praticamente ao longo do ano,
mais intenso de abril a setembro.
desenhada.”
(ROSA, 2001, p.
474).
Limão
Nome científico: Citrus Limon
Fruto do limoeiro, árvore pequena, muito
ramificada, de caule e ramos castanho-
claros. Os que têm cor amarela ou
amarelo-esverdeada são cultivados,
sobretudo, pelo sumo, embora a polpa e a
casca também se utilizem em culinária. Os
limões contêm uma grande quantidade de
ácido cítrico, o que lhes confere um gosto
ácido.
393, 550. “(...) em riscos,
zunindo como
enchiam o ar,
caintes então,
porque a lei delas
é essa, como
porque o corpo
traseiro pesa tão
bojudo, ovado,
bichão maduro,
elas não
agüentam o arco
de voar, iam
semeando palmos
de chão, de preto
em acobreadas, e
tudo mesmo
cheirava à
natureza delas,
cheiro cujo que de
limão ruivo que
se assasse na
chapa.” (ROSA,
2001, p. 550).
Lírio Nomes de diversas plantas de alto valor
decorativo, conhecidas também por
Açucena, Copo de leite, Iris etc.
206, 326. “Das que
sobressaíam, era
uma flor branca –
que fosse caeté,
pensei, e parecia
um lírio – alteada
e muito
perfumosa.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Lírios-do-
brejo
Espécie de lírio. 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
87
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Liroliro A flor que se parece um lírio tem a alcunha
de “liroliro” quando Diadorim pergunta
Otacília o nome da planta.
207. “E Diadorim
reparou e
perguntou
também que flor
era essa, qual
sendo? –
perguntou
inocente. – “Ela
se chama é
liroliro...” –
Otacília
respondeu.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Losna
Nome científico: Artemisia Absinthium
Planta vivaz, glauca, ramificada. As folhas
são prateado-sedosas e as flores amarelas
em pequenos capítulos racemoso-
paniculados. Ela é muito aromática, de
gosto amargo especial, produz, por
destilação, óleo verde e volátil, chás, base
do licor conhecido por absinto.
252. “O Paspe, que
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
252).
M
Macaúba,
Coqueiros
Macaúba
Nome científico: Acrocomia Aculeata
Tipo de palmeira que produz um coco de
pequeno porte muito apreciado.
Suas folhas, em algumas regiões, são
utilizadas como forrageiras aos animais,
nos períodos de seca. Também são
utilizadas na obtenção de fibras destinadas
à produção de linhas, cordas, redes, cestos,
balaios e chapéus.
O período da inflorescência da macaúba
depende da região e clima onde se
encontra, em Minas Gerais geralmente
inicia no mês de outubro a dezembro.
65, 164,
174, 310,
482.
“Em horas,
andávamos pelos
matos, vendo o
fim do sol nas
palmas dos tantos
coqueiros
macaúbas, e
caçando, cortando
palmito e tirando
mel da abelha-
depoucas-flores,
que arma sua cera
cor-de-rosa.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Macela Nome científico: Achyrocline satureioides 252. “O Paspe, que
88
Nomes populares: macela-do-campo,
macelinha, macela de travesseiro,
carrapichinho-de-agulha, camomila
nacional.
É um arbusto perene que atinge cerca de
um metro de altura e que na região sul
costuma florescer no mês de março. As
flores são amarelas, com cerca de um
centímetro de diâmetro, florescendo em
pequenos cachos. As folhas são finas e de
cor verde-claro, meio acinzentada, que se
destaca do restante da vegetação do campo.
Na cosmética, a macela também atua como
um bom clareador natural para os cabelos
de tons castanho claro à louro.
cozinhava,
cozinhou para
mim os chás: o de
macela, o de erva-
doce, o de losna.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Manacá
Nome científico: Brunfelsia uniflora
Nome popular de uma árvore da família
das Solanáceas, originária do Brasil, que
ocorre em áreas da mata atlântica e de
cerrado. Seu fruto é deiscente, com
sementes muito pequenas e sua
disseminação é anemocórica. Flores de
coloração branca, rosa ou arroxeada.
55. “– Por mim, pode
cheirar que
chegue o manacá:
não vou!”
(ROSA, 2001, p.
252).
Mandioca Nomes populares: aipim, castelinha,
macaxeira, mandioca-doce, mandioca-
mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre,
aiapuã, caiabana ou nomes que designam
apenas a raiz, como caarina.
Mandioca é o nome pelo qual é conhecida
a espécie comestível e mais largamente
difundida do gênero Manihot, composto
por diversas variedades de raízes tuberosas
comestíveis. O nome dado ao caule do pé
de mandioca é maniva, o qual, cortado em
pedaços, é usado no plantio. Da mandioca
se faz farinha e se usa em diversos pratos.
27, 184,
249, 339,
412, 463.
“Por tudo, eram
fogueiras de se
cozinhar, fumaça
de alecrim, panela
em gancho de
mariquita, e
cheiro bom de
carne no espeto,
torrada se
assando, e batatas
e mandiocas,
sempre quentes
no soborralho.”
(ROSA, 2001, p.
184).
Mandioca-
brava
Espécie de mandioca que contém o
venenoso ácido cianídrico.
27, 27, 71. “Melhor, se
arrepare: pois,
num chão, e com
igual formato de
ramos e folhas,
não dá a
mandioca mansa,
que se come
89
comum, e a
mandioca-brava,
que mata? Agora,
o senhor já viu
uma estranhez?”
(ROSA, 2001, p.
252).
Marimbús 417, 451. “Essas veredas
eram duas, uma
perto da outra; e
logo depois,
alargadas,
formavam um
tristonho brejão,
tão fechado de
moitas de plantas,
tão apodrecido
que em escuro:
marimbus que
não davam
salvação.”
(ROSA, 2001, p.
417).
Manga A manga é o fruto da mangueira
(Mangifera indica L.). É uma fruta do tipo
drupa, de coloração variada: amarelo,
laranja e vermelha, sendo mais roseada no
lado que sofre insolação direta e mais
amarelada ou esverdeada no lado que
recebe insolação indireta. Normalmente,
quando a fruta ainda não está madura, sua
cor é verde, mas isso depende do cultivo.
A polpa é suculenta e muito saborosa, mas
em alguns casos são fibrosas, doces,
encerrando uma única semente grande no
centro. As mangas são usadas na
alimentação das mais variadas formas, mas
é mais consumida ao natural.
77.
“Até, lá era
favorável de
defender que os
cavalos se
espairassem – por
ter manga natural,
onde se encostar,
e currais falsos,
de pegar gado
brabeza.” (ROSA,
2001, p. 77).
Mangaba Mangaba é o fruto da mangabeira
(Hancornia speciosa), também chamada
de mangaba-ovo. É comestível e utilizado
na fabricação de sucos, sorvetes, doces e
bebida vinhosa.
49, 63. “Ah, a mangaba
boa só se colhe já
caída no chão, de
baixo...
Nhorinhá.”
(ROSA, 2001, p.
90
49).
Mangabei-
ras
Nome científico: Hancornia speciosa
A mangabeira é uma árvore que pode
atingir os sete metros de altura,
pertencendo à família das apocináceas. Seu
látex é usado para fazer uma borracha de
cor rosada. Sua madeira é de cor
avermelhada, com folhas em formato
elíptico e flores grandes. Seu fruto é a
mangaba.
50, 63. “Ah, o Tabuleiro?
Senhor então
conhece? Não,
esse ocupa é
desde a Vereda-
da-Vaca-Preta até
Córrego Catolé,
cá embaixo, e de
em desde a
nascença do
Peruaçu até o rio
Cochá, que tira da
Várzea da Ema.
Depois dos
cerradões das
mangabeiras...”
(ROSA, 2001, p.
50).
Manguei-
ras
Nome científico: Mangifera indica
Árvore frutífera da família Anacardiaceae.
Suas folhas são alternadas, agudas,
estreitas na base e verde-escuras. Suas
flores são pequenas, verdes e numerosas. O
fruto é chamado de manga e possui uma só
semente (caroço).
210. “Vindo na
vertente, tinha o
quintal, e o mato,
com o garrulho de
grandes
maracanãs
pousadas numa
embaúba, enorme,
e nas mangueiras,
que o sol
dourejava.”
(ROSA, 2001, p.
210).
Maracujá-
do-mato
Nome científico: Passiflora Cincinatta
A espécie maracujá do mato é uma
trepadeira e necessita de apoio de algum
arbusto no qual agarra-se, enroscando suas
gavinhas. As folhas desta espécie de
maracujazeiro são inteiras com os bordos
levemente serrados. As Flores são grandes,
vistosas, de coloração vermelha ou roxa.
Os frutos têm formato ovóide, baga
amarelada e muito ácida. O maracujá do
mato é utilizado in natura e em sucos.
121. “E se deu que o
remador encostou
quase a canoa nas
canaranas, e se
curvou, queria
quebrar um galho
de maracujá-do-
mato.” (ROSA,
2001, p. 121).
91
Mariana 468. “As mulheres, na
boca do forno
fumaçando,
mexiam com
feixes verdes de
mariana e
vassourinha e
carregavam as
latas pretas de
assar biscoitos.”
(ROSA, 2001, p.
468).
Marmelo-
do-mato
Nome científico: Casearia
Cambessedesia
Nomes populares: Pau-de-vaca
pau-de-carga.
Marmeleiro-do-mato é o nome de uma
árvore da família das Salicáceas. Apesar de
seu nome poder sugerir o seu fruto, o
marmelo-do-mato, não é comestível.
161. “Dependurou o
espelho num
galho de
marmelo-do-
mato, acertou seu
cabelo, que já
estava cortado
baixo.” (ROSA,
2001, p. 161).
Mate
Nome científico: Ilex paraguariensis
Nomes populares: erva-mate, mate ou
congonha.
É uma árvore da família das aquifoliáceas.
Tem caule cinza e folhas ovais. O fruto é
pequeno, verde ou vermelho-arroxeado. As
folhas da erva-mate são aproveitadas na
culinária e é muito consumida como chá
quente ou gelado.
209. “Depois, o Fafafa,
numa venda,
perguntou se não
tinham chá de
mate seco,
comercial; e um
homem tirou
instantâneo nosso
retrato.” (ROSA,
2001, p. 209).
Mato-
caapuão
133. “E mandou que
eu fosse guiar
aquela gente, até
aonde o poço do
Cambaubal, num
fechado, mato-
caapuão.”
(ROSA, 2001, p.
133).
Milho, Nome científico: Zea mays 44, 123, “Aí foi em
92
milho-
verde
Nomes populares: abati, auati, avati.
O milho é um conhecido cereal, cultivado
em grande parte do mundo. As folhas da
planta á alternadas, ásperas e verde-
escuras. A espiga, onde contém os grãos de
milho, é revestida por palha. É utilizado
na alimentação humana na forma de grãos
secos ou verdes. O milho verde pode ser
consumido simplesmente cozido ou assado
ou ainda na forma de curau, de suco e
também como ingrediente na fabricação de
bolos, biscoitos, sorvetes, pamonhas e de
outros alimentos.
245, 283,
319, 341,
431, 432.
fevereiro ou
janeiro, no tempo
do pendão do
milho.” (ROSA,
2001, p. 252).
Miosótis
Nome científico: Myosotis alpestris
Nomes populares: Não-me-Esqueças, Não-
te-Esqueças-de-Mim, Não Me Olvides.
Erva de caule ereto, com folhas delicadas e
lindas flores de pétalas azul-claras, em
cachos pequenos. É encontrada
frequentemente nos jardins. No romance,
Guimarães Rosa nomeia uma das
namoradas de Riobaldo de “Miosótis”.
139, 139,
139, 143,
409.
“Alemão Vupes
ali, e eu recordei
lembrança
daquelas
mocinhas – a
Miosótis e a
Rosa‟uarda – as
que, no
Curralinho, eu
pensava que
tinham sido as
minhas
namoradas.”
(ROSA, 2001, p.
87).
Mucunã
Nome científico: Dioclea grandiflora
Nomes populares: Mucunã de Caroço
Planta volúvel, muito robusta, alçando-se
sobre as grandes árvores. Folhas trifoliadas
e flores violáceo-claras, vistosas e
dispostas em racemos. Tem legume
grande. Das sementes faz-se farinha
comestível.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras
trepadeiras, e as
roxas, do mucunã,
que é um feijão
bravo; porque se
estava no mês de
maio, digo –
tempo de comprar
arroz, quem não
pôde plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
93
Murici
Nome científico: Byrsonima crassifolia
Arbusto ou árvore pequena. Suas folhas
são opostas, verde-escuras e cobertas por
um pelo sedoso por cima e por baixo.
Flores amarelas em racemos. O fruto
possui uma massa carnosa amarelada. É
consumido in natura e usado na culinária.
249. “Os uns iam torar
palmito, colher
mandioca em
mandiocalzinho
sem dono, dono
tinha fugido
longe. Gostei de
favas do mato,
muito murici,
quixaba e jaca.”
(ROSA, 2001, p.
249).
N
O
Olho-de-
boi
Nome popular dado à flor da espécie
Leucanthemum vulgare.
Conhecida também como bem-me-quer,
bonina, margarida, margarita, margarita-
maior, malmequer, malmequer-maior,
malmequer-bravo, olho-de-boi. As pétalas
das margaridas são alargadas e delgadas,
rodeando botão central que é dourado ou
amarelo. As suas folhas são ovais e seus
caules compridos e delgados, podendo
chegar a um metro de altura. Muitas flores
que são parecidas receberam o mesmo
nome, porém, as mais populares entre elas
são as margaridas brancas e as margaridas
amarelas.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras trepadeiras,
e as roxas, do
mucunã, que é um
feijão bravo;
porque se estava
no mês de maio,
digo – tempo de
comprar arroz,
quem não pôde
plantar.” (ROSA,
2001, p. 120).
Ouricurí
Nome científico: Cocos coronata
Nomes populares: Nicurí, licuri, aricuri,
uricuri.
Possui folhas pinatífidas, de folículos
azulados e dispostos nos dois sentidos.
Fruto drupáceo, com escamas na base,
amarelo quando maduro, pequeno, ovoide,
polpa carnosa e um caroço com amêndoa
branca. Drupa comestível e a amêndoa
contém óleo alimentar, análogo ao do
164. “De manhã, o rio
alto branco, de
neblim; e o
ouricuri retorce as
palmas. Só um
bom tocado de
viola é que podia
remir a vivez de
tudo aquilo.” (ROSA, 2001, p.
94
coqueiro. 164).
P
Palha Palha consiste num subproduto vegetal de
algumas gramíneas, sobretudo cereais que,
após desidratadas, são usadas em indústria
ou como forragem animal. A palha pode
ter diversos usos, desde o artesanato até
como combustível.
402. “De dia em dia,
ele emagrecia,
amofinava o
modo, tinha
dores, e em fim
encaveirou, duma
cor amarela de
palha de milho
velho; dava
pena.” (ROSA,
2001, p. 402).
Palmeiras Palmeira é o nome comum das plantas da
família Arecaceae, anteriormente
conhecida como Palmae ou Palmaceae.
Pertencem a esta família plantas muito
conhecidas, como o coqueiro e a tamareira,
abrangendo cerca de 205 gêneros e 2.500
espécies. Se distribuem pelo mundo todo,
mas estão centralizadas nas regiões
tropicais e subtropicais. As palmeiras são
plantas perenes, arborescentes, tipicamente
com um caule cilíndrico não ramificado do
tipo estipe, atingindo grandes alturas. As
folhas são pinadas ou palmadas, com
pecíolos longos, em geral com bainha
abarcante, inteira e larga, às vezes com
espinhos. As flores são numerosas e
pequenas. A seiva de algumas espécies de
é tradicionalmente fermentada para
produzir o vinho de palma. São
consumidos os frutos e da palmeira
também se extrai o palmito.
28,
42,68,78,9
6, 451.
“Me agradou que
perto da casa dele
tinha um
açudinho, entre as
palmeiras, com
traíras, pra-almas
de enormes,
desenormes, ao
real, que
receberam fama;
o Aleixo dava de
comer a elas, em
horas justas, elas
se acostumaram a
se assim das
locas, para
papar,
semelhavam ser
peixes
ensinados.”
(ROSA, 2001, p.
28).
Palmito O palmito é um alimento obtido da região
próxima ao meristema apical, do interior
das folhas de determinadas espécies de
palmeiras (ou popularmente, o "miolo" da
palmeira). Trata-se de um cilindro branco
contendo os primórdios foliares e
vasculares, ainda macios e pouco fibrosos.
Os palmitos são conservados em salmoura
e consumidos frios acompanhando saladas
ou cozidos em diversas receitas.
164, 249,
252, 338.
“Em horas,
andávamos pelos
matos, vendo o
fim do sol nas
palmas dos tantos
coqueiros
macaúbas, e
caçando, cortando
palmito e tirando
mel da abelha-
depoucas-flores,
95
que arma sua cera
cor-de-rosa.”
(ROSA, 2001, p.
252).
Papirí 483. “E era noite de
luar, essa mulher
assistindo num
pobre rancho.
Nem rancho, só
um papirí à-toa.
Eu fui.” (ROSA,
2001, p. 483).
Paratudo
Nome científico: Tabebuia aurea
Nomes populares: craibeira, caraiberia,
caroba-do-campo, cinco-em-rama, cinco-
folhas-do-campo, ipê-amarelo-craibeira,
ipê-amarelo-do-cerrado, pau-d'arco.
A paratudo é uma árvore não-pioneira
pertencente ao gênero Tabebuia (dos ipês e
pau-d'arcos). O nome popular "paratudo"
deve-se ao fato de que os pantaneiros do
Brasil mascam a casca como remédio para
problemas no estômago, vermes, diabetes,
inflamações e febres. Seu tronco é tortuoso
com casca grossa. As folhas compostas de
folíolos, glabras e subcoriáceas. O fruto
contém cápsula cilíndrica deiscente.
Seus frutos amadurecem entre setembro e
outubro e suas flores abrem em agosto e
setembro.
392, 394. “Assim foi que
foi. Até que
vieram uns
companheiros,
com João
Concliz, Sidurino
e João Vaqueiro,
que
ajuntaram lenhas
e armaram um
fogo bem debaixo
do paratudo.” (ROSA, 2001, p.
392).
Parnaíbas 226. “Só logo no
primeiro
entremear com os
bebelos, nós
quatro havíamos
de restar mortos,
cosidos nas
parnaíbas.”
(ROSA, 2001, p.
226).
Pau-
cardoso
Nome científico: Alsophia armata
É o nome popular de uma planta da família
das Ciateáceas. Feto arborescente, com o
aspecto de uma palmeira. Ele cresce a
sombra das matas úmidas e é encontrado à
beira dos cursos d‟água.
435. “E escolher onde
ficar. O que tinha
de ser melhor
debaixo dum pau-
Cardoso – que na
campina é verde e
preto fortemente,
e de ramos muito
voantes,
conforme o
96
senhor sabe,
como nenhuma
outra árvore
nomeada.”
(ROSA, 2001, p.
435).
Pau-dôce
Nome científico: Glycoxylon Huberi
Nomes populares: paracuuba doce e
paracuuba de leite.
Grande árvore de frutos comestíveis, casca
de sabor adocicado, da família das
sapotáceas.
496. “Sentei, na
sombra dum pau-
doce, fiquei
ouvindo os gabos
que os em redor
de mim me
dessem, como
arras de
procedimentos
maiores.” (ROSA,
2001, p. 496).
Pau-d’óleo
Nomes populares: copaíba, copaibeira,
pau-de-óleo e óleo-de-copaíba.
Pau-d‟óleo é o nome popular do gênero
Copaifera Linn. A madeira é vermelha e
usada em marcenaria. As flores são
brancas com manchas rosa. O fruto é uma
vagem drupácea contendo uma semente. O
Pau-de-óleo é uma referência ao óleo
extraído de seu caule. Esse óleo tem uso
terapêutico e medicinal.
117, 122. “– “Esta é das que
afundam inteiras.
É canoa de
peroba. Canoa de
peroba e de
pau-d‟óleo não
sobrenadam...”
(ROSA, 2001, p.
122).
Pau-de-
fogo
Nome científico: Maclura tinctoria
Nomes populares: Taiúva, amora branca,
tatajuva, tatajiba, moreira, jataíba, tatané,
pau amarelo, pau de fogo.
Espécie pioneira cheia de espinhos e todas
as partes da planta exsudam látex amarelo.
Madeira moderadamente pesada, dura,
flexível, com alta resistência ao ataque de
fungos e cupins, com diferença visível
entre cerne e alburno. Sua madeira é
excelente para obras externas, para a
construção civil etc. A árvore fornece
ótima sombra e, como planta pioneira, é
produtora de frutos apreciados por
pássaros.
128. “Nisto que na
extrema de cada
fazenda some e
surge um
camarada, de
sentinela, que
sobraça o pau-de-
fogo e vigia feito
onça que come
carcaça.” (ROSA,
2001, p. 128).
Pau-
paraíba
Nome científico: Simaruba versicolor
Nomes populares: Paraíba, Pau paraíba.
Árvore de porte regular e elegante, de
casca esbranquiçada e meio esponjosa. As
folhas são alternadas, compostas, com
folíolos luzentes na página superior. As
flores são verdes em cachos pequenos. Sua
madeira é branca, porosa e leve; é utilizada
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
97
na caixotaria e tamancos. 2001, p. 322).
Pau-pombo
Nome científico: Tapirira guianensis
Árvore de porte elegante. Suas folhas são
vermelhas quando novas e seus tamanhos
são variáveis. As flores são pequenas e
alvacentas. Fruto drupáceo e pequeno. As
folhas novas e as inflorescências são
cobertas de pubescência ferruginosa. A
madeira é usada na carpintaria.
123. “(...) ele falou
para o
canoeiro, que
seguiu de cumprir
aquela autoridade,
desde que
amarrou a
corrente num pau-
pombo.” (ROSA,
2001, p. 123).
Pau-de-
sangue
Nome científico: Pterocarpus violaceus
Árvore de porte mediano, com flores
amarelas, maculadas de violáceo e vargem
redonda, espessa e suberosa. A madeira é
de cerne branqueado e mole.
322. “E o folha-larga,
o aderno-preto, o
pau-de-sangue; o
pau-paraíba,
sombroso. O
Urucuia, suas
abas. E vi meus
Gerais!” (ROSA,
2001, p. 322).
Pau-de-
vaca
Nome científico: Casearia
Cambessedesia
Nomes populares: marmeleiro-do-mato,
pau-de-carga, pau-de-vaca.
Marmeleiro-do-mato é o nome de uma
árvore da família das Salicáceas. Apesar de
seu nome poder sugerir o seu fruto, o
marmelo-do-mato, não é comestível.
440. “Ao alembrável,
ainda avistei uma
meleira de
abelha aratim, no
baixo do pau-de-
vaca, o mel
sumoso se
escorria como
uma mina d‟água,
pelo chão, no
meio das folhas
secas e verdes.” (ROSA, 2001, p.
440).
Pequi Nomes populares: Pequi, Piqui, Piquiá-
bravo, Amêndoa-de-espinho, Grão-pequiá,
Pequiá-pedra, Pequerim, Suari, Piquiá,
amêndoa-de-espinho.
O pequi é fruto do pequizeiro da família
Caryocaraceae. Dele é extraído um azeite
denominado azeite de pequi. São também
consumidos cozidos, puros ou juntamente
com arroz e frango. Seu caroço é dotado de
muitos espinhos, e há necessidade de
muito cuidado ao roer o fruto, evitando
cravar nele os dentes, o que pode causar
sérios ferimentos nas gengivas e no palato.
O sabor e o aroma dos frutos são muito
marcantes e peculiares. Pode ser
conservado tanto em essência quanto em
199, 200,
310, 319.
“O Garanço se
regalava com os
pequis, relando
devagar nos
dentes aquela
polpa amarela
enjoada. Aceitei
não, daquilo não
provo: por demais
distraído que sou,
sempre receei dar
nos espinhos,
craváveis em
língua.” (ROSA,
2001, p. 200).
98
conserva. Frutificação: novembro a
fevereiro.
Pequizeiro
Nome científico: Caryocar brasiliense
É uma árvore nativa do cerrado brasileiro,
cujo fruto é o pequi. Seu tronco é tortuoso;
folhas compostas triolifoliadas; as flores
são amareladas; a madeira é pesada, macia,
resistente e boa durabilidade material. Ela
é boa para xilografia, construção civil e
naval. Seus frutos são comestíveis e usados
na culinária.
Floresce de setembro a novembro e os
frutos iniciam a maturação em novembro
até fevereiro.
246, 270,
319, 388.
“Montamos e
sumimos por
aqueles campos,
essa estrada, esses
pequizeiros.” (ROSA, 2001, p.
270).
Pêra–do-
campo
Nome científico: Eugenia Klotzchiana
Nomes populares: Pêra, pêra-do-campo,
cabacinha-do-campo, pereira-do-campo.
Pera-do-campo é o nome popular de uma
planta da família das Mirtáceas. Trata-se
de um arbusto que cresce nas áreas de
cerrado. Seu fruto é relativamente grande,
em forma de pera (daí seu nome popular),
coberto com pelos finíssimos. Quando
maduro, o fruto apresenta casca fina e
polpa mole com certa adstringência.
Podem ser usadas para doce em compota e
geleia. Os frutos maduros possuem
coloração amarelo-esverdeada e são
coletados de outubro a dezembro.
49. “Então eu entrei,
tomei um café
coado por mão de
mulher, tomei
refresco,
limonada de pêra-
do-campo.”
(ROSA, 2001, p.
49).
Peroba Nomes populares: Peroba, paroba, parova,
perobeira, perova e peroveira.
É a designação vulgar de várias espécies
de árvores, conhecidas pela sua madeira de
qualidade, da família Apocináceas do
gênero Aspidosperma.
122, 122. “– “Esta é das que
afundam inteiras.
É canoa de
peroba. Canoa de
peroba e de
pau-d‟óleo não
sobrenadam...”
(ROSA, 2001, p.
122).
Pimenta
branca
Extraída do mesmo fruto da pimenta-do-
reino, mas menos aromática. As espigas
são colhidas quando os frutos apresentam a
coloração amarelada ou vermelha. É
utilizada em pratos que não permitam
ingredientes que alterem a sua cor, como o
molho branco; na conserva de legumes
utilize-a em grãos. Em molhos picantes e
temperos para a carne de coelho e frango
use-a moída.
206. “Nhorinhá
prostituta,
pimenta-branca,
boca cheirosa, o
bafo de
meninopequeno.”
(ROSA, 2001, p.
206).
Pindaibal 311. “Os urubus
espaceavam,
99
quando o céu
empoeirado.
Pousavam no
pindaibal do
brejo.” (ROSA,
2001, p. 311).
Pitanga A pitanga é o fruto da pitangueira
(Eugenia uniflora L.), dicotiledônea da
família Myrtaceae. Tem a forma de drupa
globosa e carnosa, com as cores vermelha
(a mais comum), amarela ou preta. Na
mesma árvore, o fruto poderá ter desde as
cores verde, amarelo e alaranjado até a cor
vermelho intenso de acordo com o grau de
maturação.
319. “Milho crescia
em roças, sabiá
deu cria,
gameleira pingou
frutinhas, o pequi
amadurecia no
pequizeiro e a cair
no chão, veio
veranico,
pitanga e caju nos
campos.” (ROSA,
2001, p. 319).
Q
Quiabo
Nome científico: Hibiscus esculentus
Arbusto anual, ereto, pouco ramificado. As
folhas são longamente pecioladas e largas.
As flores são grandes, solitárias e
amarelas. Os frutos são verdes e são muito
usados na culinária.
130, 184. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
Quixaba
Nome científico: Brumelia sertorum
Árvore armada de fortes espinhos, tendo as
pontas dos galhos pendentes e espinhosos.
Folhas alternadas, simples e inteiras.
Flores perfumadas e pequenas. Frutos
comestíveis. Sua madeira serve para
construção civil, marcenaria e torno.
249. “Gostei de favas
do mato, muito
murici, quixaba e
jaca.” (ROSA,
2001, p. 249).
R
Ramalho 398. “Uns galhos de
árvores colocados
– ramalhos e
100
jaribaras – forma
de sinal: para não
se passar.”
(ROSA, 2001, p.
398).
Rosa’uarda Nome composto por “rosa”, esta, da
família das Rosáceas, é cultivada em todos
os lugares do mundo pela beleza e perfume
de suas flores. Rosa‟uarda é o nome que
uma das namoradas de Riobaldo recebe no
romance.
130, 189,
209, 209,
327, 409.
“A Rosa‟uarda.
Me alembrei dela;
todas as minhas
lembranças eu
queria comigo.”
(ROSA, 2001, p.
327).
Roseira
As roseiras (Rosa) são plantas muito
conhecidas e possuem flores, as rosas. São
plantas possuidoras de espinhos, tem
folhas bem verdes e flores de cores
variadas.
117, 600. “Sobre o que, se
riu, me
apresentando: o
que era, no fofo
da terra, debaixo
duma roseira, um
gatinho preto-e-
branco, dormindo
seu completo
sossego, fosse
surdo,
refestelado: ele
estava até de
mãos postas...” (ROSA, 2001, p.
327).
S
Sabugo Parte interna do milho onde os grãos ficam
anexados.
45, 342,
453.
“Diadorim
acendeu um
foguinho, eu fui
buscar sabugos.”
(ROSA, 2001, p.
45).
Sapê
Branbão
323. “Assim pois foi,
como conforme,
que avançamos
rompidas
marchas,
duramente no
varo das
chapadas,
calcando o sapê
brabão ou areias
de cor em
101
cimento
formadas, e
cruzando
somente com
gado transeunte
ou com algum boi
sozinho
caminhador.”
(ROSA, 2001, p.
323).
São-josés 326. “E em Otacília eu
sempre muito
pensei: tanto que
eu via as
Baronesas
amarasmeando no
rio em vidro –
jericó, e os lírios
todos, os lírios-
do-brejo – copos-
de-leite, lágrimas-
de-moça, são-
josés.” (ROSA,
2001, p. 326).
Santa-luzia 395. “Mas o ao em
redor, em grandes
pastos, era o
capim melhor
milagroso – que o
que deixava de
ser provisório rico
era o meloso de
muito óleo, a não
ver uns fios de
santa-luzia azul, e
do duro-do-brejo,
nas baixadas, e,
nos altos
com pedregal, o
jasmim-da-serra.”
(ROSA, 2001, p.
395).
Sapé brabo 63. “Aquilo, vindo
aos poucos, dava
um peso extrato,
o mundo se
envelhecendo, no
descampante.
Acabou o sapé
brabo do
102
chapadão.”
(ROSA, 2001, p.
63).
Sassafrás
Nome científico: Ocotea odorifera
Nome popular: Canela-sassafrás ou
sassafrás.
É nativo de florestas e capões; parente da
canela, do louro e da imbuia. A Canela
Sassafrás é utilizada para extração de óleo
sassafrás, construção de móveis e
construções em geral. A cor das flores é
amarela e tem floração em dezembro-
janeiro. Frutificação em maio-junho.
47. “Mas o sassafrás
dá mato,
guardando o
poço; o que cheira
um bom perfume.
Jacaré grita, uma,
duas, as três
vezes, rouco
roncado.”
(ROSA, 2001, p.
47).
Semente de
trigo
O trigo (Triticum) é uma gramínea
cultivada em todo o mundo. Globalmente,
é a segunda maior cultura de cereais, a
seguir ao milho; a terceira é o arroz. A
semente de trigo é um alimento básico
usado para fazer farinha e, com esta, o pão,
na alimentação dos animais domésticos e
como ingrediente no fabrico de cerveja.
130. “O que apreciei –
carne moída com
semente de trigo,
outros guisados,
recheio bom em
abobrinha ou em
folha de uva, e
aquela moda de
azedar o quiabo –
supimpas
iguarias.” (ROSA,
2001, p. 130).
T
Tamarindo
Tamarindo é um fruto do tamarindeiro
(Tamarindus indica). O tronco divide-se
em numerosos ramos curvados, formando
copa densa e ornamental; as folhas são
compostas e sensíveis; flores
hermafroditas amarelas ou levemente
avermelhadas que se reúnem em pequenos
cachos axilares. O tamarindo é uma vagem
alongada com 5 a 15 cm. de comprimento,
com casca pardo-escura, lenhosa e
quebradiça. A polpa do fruto é usada no
preparo de doces, bolos, sorvetes, xaropes,
bebidas, licores, refrescos, sucos
concentrados e ainda como tempero para
arroz, carne, peixe e outros alimentos.
42. “Cigarras dão
bando. Debaixo
de um tamarindo
sombroso...”
(ROSA, 2001, p.
42).
Tamboril
Nome científico: Enterolobium maximum
Nomes populares: Fava-bolacha, fava-
orelha-de-negro, fava-tamboril, faveira-
grande, monjobo, timbaúba, orelha-de-
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
103
negro.
É uma árvore de origem brasileira,
frondosa, sem cheiro, de cerne marrom-
claro a cinza-rosado. As inflorescências
surgem na primavera com flores brancas.
Os frutos que se seguem são vagens e
recurvadas em formato de rim ou de
orelha, o que rendeu a esta espécie
diversos nomes populares. Eles surgem
verdes e se tornam pretos em junho e
julho, quando amadurecem. Ao contrário
das madeiras-de-lei, possui baixa
durabilidade ao ataque de fungos, cupins e
insetos de madeira seca. Apesar disso, é
muito utilizada na fabricação de móveis e
brinquedos, pois é de fácil manejo e
acabamento.
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
Trepadeiras Plantas que crescem apoiando-se sobre
outras ou sobre qualquer superfície.
120. “No alto, eram
muitas
flores,
subitamente
vermelhas, de
olho-de-boi e de
outras
trepadeiras, e as
roxas, do mucunã,
que é um feijão
bravo; porque se
estava no mês de
maio, digo –
tempo de comprar
arroz, quem não
pôde plantar.”
(ROSA, 2001, p.
120).
U
Umburana
Nome científico: Amburana claudi
Nomes populares: ambaúrana, amburana,
amburana de cheiro, umburana, umburana
lisa, umburana macho, umburana
vermelha, umburana de cheiro.
É uma árvore brasileira presente no
cerrado e caatinga. Sua casca externa
apresenta cor variável, amarela
avermelhada e vermelha pardacenta. As
flores são pequenas, perfumadas,
354. “Assim essas
cachaças – a
vinte-e-seis
cheirosa –
tomando gosto e
cor queimada, nas
grandes dornas de
umburana.”
(ROSA, 2001, p.
354).
104
agrupadas em racimos axilares e tem a
coloração amarela. O fruto é semi
cilíndrico, preto, coriáceo e contém uma
semente. A árvore é empregada na
fabricação de móveis, na construção civil e
na indústria farmacêutica etc. Seu nome
vem do tupi-guarani (umbu= o que faz
brotar água + rana= parecido, semelhante)
e quer dizer parecido com o umbu.
Urumbeba
Nome científico: Opuntia Vulgaris
Nome popular: Urumbeba-juba, Arumbeba
amarela, Urumbeba do frio, Palmatória de
flora amarela e Palma do Sul.
O nome Urumbeba vem do tupi guarani e
significa “Folha com espinho que dá
alimento” e o adjetivo “juba” quer dizer
“Fruta de cor amarela”. Os espinhos são
esbranquiçados e, quando jovens, são
avermelhados. As flores surgem nos
bordos ou na superfície plana dos artículos
formando pericarpo. Antes de abrir os
botões tem coloração avermelhada, após a
abertura da flor se pode ver as pétalas
amarelas. O Fruto é piriforme (forma de
pêra) com base comprida, estreita e larga
no ápice.
Frutifica de fevereiro a setembro.
422. “A ser, o fígado,
que me doía; mas
não me
certifiquei:
apalpar lugar de
meu corpo, por
doença, me dava
um desalento
pior. Raimundo
Lê cozinhou para
mim um chá de
urumbeba.”
(ROSA, 2001, p.
442).
Umbuzeiro
Nome científico: Spondias tuberosa
Umbuzeiro ou Imbuzeiro é uma árvore de
pequeno porte originária dos chapadões
semi-áridos do Nordeste brasileiro, que se
destaca por sombra e aconchego. Nos
tempos do Brasil Colônia era chamado de
ambu, imbu, ombu, corruptelas da palavra
tupi-guarani "y-mb-u", que significava
"árvore-que-dá-de-beber". Dada a
importância de suas raízes, foi chamada
"árvore sagrada do Sertão" por Euclides da
Cunha. Sua raiz conserva água e produz
uma batata, que em época de grande
estiagem, é utilizada como alimento. O
Umbuzeiro vive mais ou menos 100 anos,
e é um símbolo de resistência. Suas folhas,
de grande valor alimentício, com gosto
"azedinho", também são usadas como
alimento pelos seres humanos. O fruto do
umbuzeiro é denominado umbu.
282, 304,
354.
“Isso é crime?
Perdeu, rachou
feito umbuzeiro
que boi
comeu por
metade...” (ROSA, 2001, p.
282).
V
105
Vara-de-
ferrão
79. “A verdade que
diga,
eu bem defronte
de mim se
portava, mesmo
segurava uma
vara-de-ferrão,
considerei nele
certo propósito,
de despique
gandaiado.” (ROSA, 2001, p.
79).
Vara de
Maria-
preta
Nome científico: Solanum americanum
Nomes populares: maria-pretinha,
caraxixá, araxixu,erva-de-bicho, erva-de-
mocó, erva-moura, guaraquinha, pimenta,
pimenta-de-cachorro, pimenta-de-galinha,
pimenta-de-rato.
É conhecida como uma planta daninha na
agricultura em todo o país, no entanto em
outras épocas já foi usada como verdura
escaldada e seus frutos consumidos como
geleia. As folhas cruas e os frutos verdes
são, no entanto, venenosos por causa da
sua presença dos glicoalcalóides, que uma
vez hidrolisados no intestino produzem
alcaminas, que as quais absorvidas pelo
organismo produzem sintomas de
depressão no sistema nervoso central.
25. “Em ocasião,
conversei com um
rapaz seminarista,
muito condizente,
conferindo no
livro de rezas e
revestido de
paramenta, com
uma vara de
maria-preta na
mão – proseou
que ia adjutorar o
padre, para
extraírem o Cujo,
do corpo vivo de
uma velha, na
Cachoeira-dos-
Bois, ele ia com o
vigário do
Campo-
Redondo... Me
concebo.” (ROSA, 2001, p.
25).
Vinhático
Nome científico: Platymenia foliolosa
Nomes populares: Vinhático, vinhático da
mata, vinhático rajado, vinhático amarelo,
pau de candeia, vinhático-do-campo.
Árvore com tronco bastante áspero e
descamante. Sua madeira é leve, dura, fácil
de trabalhar, de longa durabilidade natural
e diferença nítida entre cerne e alburno. É
própria para mobiliário de luxo, lâmina
faqueadas decorativas, painéis, para
construção civil como acabamentos
122. “Me deu uma
tontura. O ódio
que eu quis: ah,
tantas canoas no
porto, boas
canoas boiantes,
de faveira ou
tamboril, de
imburana,
vinhático ou
cedro, e a gente
106
internos, rodapés, molduras, forros, tacos e
tábuas para assoalho. A árvore é
exuberante bastante ornamental, podendo
ser empregada com sucesso no paisagismo
em geral.
tinha escolhido
aquela...” (ROSA,
2001, p. 122).
X
Xuxús*
Fruto do chuchuzeiro. Ele é suculento e
tem forma alongada, cor branco-creme,
verde-claro ou verde-escuro, liso ou
enrugado, com ou sem espinhos, varia de
espécie para espécie. Com chuchu
preparam-se suflês, pudins salgados ou
simplesmente cozidos e temperados a
gosto. É também usado para dar ponto a
alguns pratos salgados e doces de goiaba e
marmelo (por sua pectina).
600, 600. “Assim
rastejávamos. E
pouco faltava
para o quintal do
sobrado: só uma
cerca miúda, com
um xuxuzeiro
dependurado com
xuxús grandes;
eram uns xuxús
enormes.”
(ROSA, 2001, p.
600).
Xuxuzeiro*
O chuchuzeiro é uma planta trepadeira que
pode produzir por vários anos; possui
ramas longas onde apresentam gavinhas
para sustentação no lugar onde trepa; das
ramas saem folhas numerosas com formato
de coração. As flores são amareladas e
separadas em femininas e masculinas,
distintas na mesma planta; a fecundação da
flor é totalmente dependente da
polinização de abelhas silvestes. O chuchu,
é suculento com forma alongada, cor
branco-creme, verde-claro ou verde-
escuro, liso ou enrugado, com ou sem
espinhos, depende de sua espécie.
600. “Assim
rastejávamos. E
pouco faltava
para o quintal do
sobrado: só uma
cerca miúda, com
um xuxuzeiro
dependurado com
xuxús grandes;
eram uns xuxús
enormes.”
(ROSA, 2001, p.
600).
W
Y
Z
*OBS: Sabemos que na língua portuguesa as palavras “chuchu” e “chuchuzeiro” são escritas
com “ch”, porém, em Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa escreve com “x”.
107