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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO COMO FACILITADOR DO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
IRACILDA ARAÚJO DE OLIVEIRA
Orientadora: Narcisa Castillo Melo
BRASÍLIA / DF 2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO COM ÊNFASE NO LÚDICO COMO FACILITADOR DO PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, como parte das exigências para conclusão do curso de Pós-Graduação em Administração Escolar. por:
IRACILDA ARAÚJO DE OLIVEIRA
BRASÍLIA 2010
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Dedico este trabalho a todos que primam pela educação, um caminho de sucesso juntamente com a comunidade escolar.
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RESUMO
Este trabalho tem como principal motivação a necessidade de analisar o papel
do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador do processo ensino-aprendizagem. Para alcançar este objetivo e conseguir as informações e dados necessários, foi utilizado questionário estruturado, que foram aplicados em alunos que lecionam na 2ª série e professores desta mesma série. Através do referencial teórico pretende-se mostrar o quanto o “lúdico” pode ser um instrumento indispensável na aprendizagem, no desenvolvimento e na vida das crianças, tornar evidente que os profissionais da educação devem e precisam tomar consciência disso, ter conhecimento de alguns conceitos, como o “lúdico” e muitas outras questões sobre a relação do brincar com a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. A partir disso, mostra-se a importância do “lúdico” e como ele, os jogos, os brinquedos e as brincadeiras podem ser importantes para o desenvolvimento e para a aprendizagem das crianças. De acordo com os dados obtidos, constata-se que o lúdico exerce um papel importante na aprendizagem das crianças, favorecendo o desenvolvimento sadio.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem. Lúdico. Psicopedagogo.
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METODOLOGIA
Para a elaboração da monografia foram utilizadas como metodologia, o
método dedutivo que, segundo Vergara (2000, p.46-55) constitui a base da pesquisa
científica, visto que o primeiro passo para a pesquisa é a observação dos fatos. Este
método busca a análise sistemática dos acontecimentos em um determinado ambiente
(tema escolhido), relacionando a influência entre os fatos.
A outra metodologia é de caráter bibliográfico, na qual se buscou o
embasamento teórico necessário para analisar o papel da psicopedagogia e do lúdico no
processo ensino-aprendizagem nas escolas públicas, além da pesquisa qualitativa.
Verifica-se que o estudo qualitativo é de suma importância para educação,
sendo assim tal estudo irá subsidiar a pesquisa, que dará ênfase ao resgate das atividades
lúdicas como facilitadora do processo ensino-aprendizagem.
Para a realização desta pesquisa, foi utilizado o método qualitativo que
objetiva captar o pensamento e a expressão dos atores envolvidos na problemática que
se quer estudar. Sua característica está calcada na interpretação dos dados e
informações, que segundo Pedron (1997, p.23) partindo-se do pressuposto de que a
realidade não se encontra fora do indivíduo, mas é por ele construída e, desta forma,
somente por meio de seu discurso pode-se percebê-la.
Dentro desta perspectiva, o papel do pesquisador passa a ser a do
observador que consegue captar a informação, interpretá-la e redigir de forma a que
outros possam também ‘vivenciar’ a experiência.
O método de abordagem utilizado nesta pesquisa foi o dedutivo, o qual
consiste na construção de conjecturas, que devem ser submetidas a testes, as mais
diversas possíveis, à crítica intersubjetiva, ao controle mútuo pela discussão crítica e ao
confronto com os fatos, para ver quais as hipóteses que sobrevivem como mais aptas.
Deve se exercitar o método da observação diariamente para que se possa
obter um aprendizado contínuo sobre os fatos que ocorrem no dia a dia, mas não a mera
observação (ver e não notar) e sim uma observação criteriosa. Cada fato observado
apresenta diversas constatações, que muitas vezes são desnecessárias ao objetivo
buscado, embora interessantes. O observador não deve se deixar levar por informações
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supérfluas para sua pesquisa e também não deve deixar de lado fatos que ele considere
irrelevantes, pois muitas vezes isso venha a contribuir com os resultados.
O método de procedimentos que foi utilizado é o histórico, que tem sua
razão na investigação dos acontecimentos, esse método consiste em investigar
acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na
sociedade atual. Quanto aos procedimentos e técnicas utilizadas, ocorreram da seguinte
forma: pesquisa bibliográfica, para um conhecimento mais abrangente; e pesquisa
documental.
Para Octavian; Paulescu & Muniz (apud Vergara, 2000), o observador deve
ser imparcial quanto aos dados coletados, estando atento aos acontecimentos, ter
conhecimento sobre o tema como a curiosidade, paciência e persistência, visto que em
uma pesquisa científica nem sempre as coisas saem como esperado. Outro fator que
deve ser respeitado são as atitudes éticas quanto às observações que foram divulgadas.
A pesquisa bibliográfica consiste no exame do conjunto de livros escritos
sobre o assunto proposto e de documentos, para que deslumbre a eficiência e a eficácia
do trabalho ora apresentado.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................08
CAPÍTULO I .................................................................................................................10
ATIVIDADES LÚDICAS, SOCIALIZAÇÃO, PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO TEÓRICO...................10
1.1 O processo de Socialização ..................................................................................10
1.2 Teoria da Interação Social ....................................................................................12
1.3 A importância do jogo para a criança ...................................................................14
1.4 O jogo na formação do professor .........................................................................16
1.5 O lúdico na Educação ...........................................................................................18
1.6 a importância do jogo nas interações sociais e no contexto sócio-cultural...........21
1.7 Conhecendo o processo de ensino-aprendizagem ................................................23
CAPÍTULO II ...............................................................................................................28
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS .....................................................................28
2.1 Tema em estudo ...................................................................................................28
2.2 Tipo de estudo ......................................................................................................29
2.3 Local e Sujeitos da pesquisa .................................................................................30
2.4 Coleta de Dados ....................................................................................................30
CAPÍTULO III..............................................................................................................40
ORGANIZAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ..................................40
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................44
APÊNDICE ...................................................................................................................47
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INTRODUÇÃO
Observa-se na atualidade que a prática psicopedagógica é marcada por uma
proposta que enfatizam a repetição e a fixação como princípios do processo de ensino-
aprendizagem. Em relação a esta questão Rubens Alves apresenta a seguinte reflexão:
A respeito das atividades de repetição e fixação, como aparecem nos manuais, as crianças são ensinadas e aprendem bem. Tão bem que se tornam incapazes de pensar coisas diferentes. Tornam-se ecos das coisas ensinadas e aprendidas. Tornam - se incapazes de dizer o diferente. Se existe uma forma certa de pensar e fizer as coisas, porque se dar ao trabalho de se meter por caminhos não explorados? Basta repetir aquilo que a tradição sedimentou... O saber sedimentado nos riscos da aventura de pensar (1994, p 95).
Sistematizar o brincar significa uma reorganização do diagnóstico da prática
psicopedagógica desempenhada, que deve abandonar os moldes da educação bancária,
dita esta por Paulo Freire como educação que consistem no depósito e acúmulo do
maior número de informações possíveis no aluno realizada por meio da repetição e
fixação de conteúdos, e absorver o jogo como o instrumento principal para a
socialização da criança. O jogo e a maneira como o psicopedagogo dirige o brincar,
pode auxiliar no diagnóstico da dificuldade de aprendizagem ligada ao desenvolvimento
intelectual, emocional, físico-motora e socialmente a criança, e por isso os espaços para
se jogar são imprescindíveis nos dias de hoje.
O jogo desenvolve a criatividade, a capacidade de tomar decisões e ajuda no
desenvolvimento motor da criança, além destas razões, os jogos tornam as aulas mais
atraentes para os alunos, diminuindo a evasão escolar.
É consensual, para diversos autores descritos neste estudo que ao considerar
a Psicopedagogia como uma abordagem para a compreensão da criança, do adolescente
através da descrição e investigação das mudanças psicológicas porque passam no
decorrer do tempo e é percebido na escola por meio de atividades lúdicas.
Faz-se necessário abordar que a atividade lúdica não é apenas uma forma de
brincar e sim são ações sérias que facilitam a socialização, pelo exercício de vários
papéis sociais com suas normas de conduta e pela formação de lealdades sociais com os
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seus aspectos morais, podendo sobressair o sentido da área psicopedagógica de objetivar
o indivíduo na constituição de sua autonomia, vinculando o ‘eu’ as suas relações com a
aprendizagem.
Este estudo tem como questionamento: Como o lúdico auxilia o processo
ensino-aprendizagem, em que o trabalho pedagógico possibilita a produção do
conhecimento, da aprendizagem e do desenvolvimento?
Cabe ao psicopedagogo nos espaços educativos buscar a forma de aprender
e ensinar com prazer, proporcionando que a palavra prazer esteja presente nas ações e
estratégias de aprendizagem, em que o profissional possa interagir sua ação e a teoria
para proporcionar a atividade fim de diagnosticar.
Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem afetam o educando em sua
dinâmica educativa, tendo interferência nas instâncias do corpo e da inteligência. A
aprendizagem é probabilidade de acertos e desacertos, mas sem o querer não se
transforma em chance de aprender a realidade do mundo.
Nas experiências vivenciadas nas escolas tenho presenciado, como
professora da Educação Infantil, a busca permanente de aprendizagem para saborear a
teoria com a prática, e a temática deste estudo trará o sentido criativo e lúdico para
poder compartilhar experiências e para o educando compreendê-lo por meio de
brincadeiras, podendo num momento de reflexão, ser uma mediadora na formação
integral do aluno.
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CAPÍTULO I
ATIVIDADES LÚDICAS, SOCIALIZAÇÃO, PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO
Pode-se dizer que as atividades lúdicas são muito importantes em nossa
vida, pois elas fazem com que possamos aprender, ensinar, evoluir, por meio da
socialização. Isto descrito pelos autores deste referencial teórico em que na infância, a
atividade lúdica se confunde com a própria vida. Brincadeira e saúde tornam-se
sinônimos e pela definição da Organização Mundial de Saúde – OMS pode-se constar
esta veracidade em que “saúde é uma situação de completo bem-estar físico, mental,
social e espiritual”. Conforme esta definição anterior tem-se que a psicopedagogia
estaria ligada aos processos educativos podendo proporcionar vínculos saudáveis com o
conhecimento, e assim um processo ensino-aprendizagem mais eficaz e eficiente.
1.1 O Processo de Socialização
Na escola, a criança recebe e aceita o seu primeiro papel específico: o de
aluno. Isso implica a aceitar um determinado tipo de comportamento que corresponde à
expectativa do professor e dos colegas.
No grupo social que forma com os colegas, a criança passa a perceber a
existência de outros grupos independentes. Professores e alunos de outras classes, com
as quais se relaciona, e acaba por compreender, que o relacionamento tem regras
próprias para cada grupo. Ela não se comunica da mesma forma. Esse aprendizado
constitui assim aspecto dos mais importantes no processo de formação de sua
personalidade.
Segundo Inforzato (1979, p. 105), a sociologia considera a educação como
um processo de adaptação do homem ao ambiente em que vive e que por ambiente
compreende-se o meio sócio-cultural no qual o indivíduo está inserido, portanto a
educação visa essencialmente adaptar o homem ao meio social.
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Na visão do autor, há uma mudança permanente neste meio sócio-cultural,
ou seja, essa adaptação do individuo ao meio social, não deve visar uma ordem social,
acabada e estática, mas sim, a um estado de causas instáveis e a educação cabe tentar
adequá-lo a estas desadaptações.
O autor acrescenta ainda que a educação deva se adaptar a uma ordem social
futura, tendo em vista que ela é um processo de adaptação do homem à sociedade, com
aproveitamento das potencialidades neuropsíquicas comuns a todos os indivíduos da
espécie e das particularidades excessivas de cada um, visando a um só tempo os
interesses da coletividade e as do próprio indivíduo (INFORZATO, 1979, p. 106).
Do ponto de vista do autor, uma sociedade antes de tudo é um agrupamento
de indivíduos que por si só não são suficientes para construir uma sociedade. É
necessário que os indivíduos sejam portadores de uma cultura comum, obedecendo a
idênticos padrões de comportamentos e devem viver em permanente associação, pois
em tais condições, produz-se certo grau de solidariedade que garante a ordem social e
certa tradição que assegura a continuidade do tempo (INFORZATO, 1979, p. 106).
Ao observar uma simples brincadeira, a velha brincadeira de “estátua”, em
uma turma de 1.ª série da Educação Infantil, tendo como regras: sortear um orientador;
o orientador faz um movimento em círculo em cada participante, este escolhe uma
posição e fica paralisado; o orientador observa cada participante e estimula-os a mexer-
se; ganha o jogo aquele que não se mexer, sendo o próximo o orientador.
Um educando ao se mexer, saiu da brincadeira sem reclamar e juntou-se aos
outros que já tinham saído. Antigamente, quando se mexia, não admitia e discutia com
os colegas querendo uma nova oportunidade. Mas nesta brincadeira aprendeu o respeito
às regras estabelecidas, um senso de auto-crítica e aceitação às decisões dos
companheiros.
Percebe-se que neste ponto do processo de socialização, o universo da
criança já foi bastante ampliado e não há egoísmo, e sim dá lugar a cooperação e
solidariedade e a integração do grupo e muito boa. É notório que no jogo exemplificado,
e acelerado o processo de socialização podendo levar a criança a participar mais
ativamente, não somente aderindo passivamente ao papel que terá que desempenhar,
mas agir sobre este, o que é fundamental.
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Outro aspecto da socialização é que a criança não é um pedaço de massa de
modelar, portanto, socialização não é um mero ajustamento ou adaptação social. Nem
poderia ser assim concebida, uma vez que se sabe, que as sociedades não são estáticas e
por sua vez os papéis a serem aprendidos, estão sempre, e cada mais, em mutação no
mundo globalizado em que estamos inseridos. Além disso, outros fatores influenciam na
relação do “ser” com o ambiente, como a personalidade, que não é apenas aprendida, e,
portanto desta relação papel/personalidade vai, obviamente, surgir o conflito. É este que
provocará a mudança, onde o psicopedagogo deverá atuar.
1.2 Teoria da Interação Social
Neste subtópico tem-se a teoria interacionista de Piaget (1974) onde retrata
que a construção do conhecimento dá-se através da relação entre o sujeito e o objeto e
que esta modifica os dois. Pelo dizer inicial tem-se que o autor Piaget não parece
conhecer a questão social, isto devido que ele comentar apenas a relação do indivíduo
com o objeto de conhecimento e as implicações e mudanças que acontecem em ambos
ao interagirem.
Para Piaget (1974), as relações sociais são sistematicamente abordadas e
modeladas de tal forma a compor um conjunto de regras, valores e sinais, onde cada um
tem uma função significativa na construção das trocas sociais estabelecidas.
A criança é um ser dinâmico, que a todo o momento interage com a
realidade, agindo ativamente com o mundo que a rodeia, fazendo a construção da
estrutura mental e adquirindo maneiras para fazê-las funcionar. O ponto principal é a
interação organismo-meio que acontece através dos processos: organização interna e a
adaptação ao meio, funções essas exercidas pela estrutura do corpo ao longo da vida.
Forma-se, desse modo, como uma cadeia de interestímulos e respostas. A
interação constitui, portanto, o ponto-chave para uma concepção dinâmica das relações
sociais.
Ao interagirem, as pessoas não se vêem apenas como objetos físicos, mas
como indivíduos dotados de atitudes, expectativas de comportamento, sentimentos e
capacidade de julgar. Portanto, a ação de cada uma terá como base não só suas próprias
atitudes para com a outra, mas também suas próprias expectativas quanto ao
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comportamento da outra, ou melhor, às prováveis reações ou respostas do outro para
consigo.
Conforme Inforzato (1979, p. 74), alguns sociólogos admitem que baseado
na vida social de sua organização e dinamismo, a ação acontece entre os homens. O
contato entre os seres humanos produz influências mútuas, ou seja, a interação,
nascendo a partir daí a cultura, a sociedade e a personalidade.
No entender do autor, interação significa “uma ação recíproca, um
relacionamento mútuo e que segundo a Teoria da interação social, tudo o que acontece
no universo sócio-cultural, é fruto das relações entre os homens” (INFORZATO, 1979,
p. 78).
Neste sentido, a socialização realiza-se principalmente na família, nos
grupos de brincadeiras, na escola, mas é como processo que não tem fim e pode
envolver todos os grupos sociais, aos quais a pessoa vai se incorporando com o decorrer
do tempo. Para o autor, o processo é universal e o conteúdo da cultura varia com os
povos e a época, mas os recursos para a socialização são os mesmos, baseados na
imitação, na sugestão, na simpatia, nos prêmios, nos encorajamentos, nas repressões e
castigos.
Em essência, a socialização consiste na formação de atitudes que levam a
respeitar os padrões de comportamento grupal. Sendo assim, o jogo tem uma forte
influência na formação social do indivíduo por lhe ensinar que existem regras de
convivência para os seres.
Os jogos de um modo geral buscam diversão e entretenimento (Souza, 1997,
p.51). Desta forma, pode contribuir, se bem empregado, como processo fundamental na
socialização de indivíduos e na formação da personalidade.
A socialização surge de processos estabelecidos pela sociedade vigente onde
o individuo se insere e agrupa novos conceitos a sua conduta social que derivam de sua
participação e convivência em grupo na família, na escola e na sociedade de um modo
geral. Devido que a socialização é o processo pelo qual os indivíduos são preparados
para participar de sistemas sociais e em contrapartida a socialização é a habilidade para
a convivência social. O conhecimento social surge a partir da primeira socialização
ocorrida na família onde a criança conhece os valores e hierarquias familiares, depois
ele se expande por toda a vida da criança, do jovem e ao adulto.
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Nos jogos estas características de conhecimento social e socialização do
comportamento são evidentes e notórias, já que as relações de sociabilidade estão
intrinsecamente ligadas ao brincar, dínamo do conhecimento infantil.
1.3 A importância do jogo para a criança
A criança tem necessidade de brincar e jogar para se orientar no espaço,
para pensar, para comparar, para perceber e sentir. “Vamos brincar?”. É a frase mais
repetida pela criança. Brincando ela descobre o mundo, integra-se com o meio em que
vive, constrói o seu conhecimento, socializa-se. Os aspectos afetivos são determinantes
na construção da personalidade e eles se revelam de forma explicita no jogo.
Talvez depois da necessidade de afeto, nenhuma outra necessidade seja tão
intensa na criança como a necessidade do jogo, da brincadeira. Pelo jogo desenvolve-se
a criatividade, a espontaneidade, a inteligência, a linguagem, a coordenação, o controle
sobre si mesma, o prazer de realizar algo, o autocontrole e a autoconfiança.
O jogo é para a criança a via para experimentar, para organizar suas
experiências, para estruturar e construir sua inteligência e sua personalidade.
Para a criança, os jogos se identificam com a vida. É sua resposta à
realidade que a rodeia. Jogando, as crianças imitam o que observam e aprendem sobre
elas mesmas e sobre o mundo. Fazendo assim, podem expressar suas emoções
mostrando-se felizes ou tristes. As atividades lúdicas são geralmente uma forma de
auto-expressão (KISHIMOTO, 1998, p.85).
Os seres humanos sempre tiveram atitudes diferentes em relação aos jogos,
que são importantes processos na socialização do indivíduo e, até, na formação do eu.
A criança seleciona e apropria-se de elementos da cultura adulta,
incorporando-os ao seu universo infantil dando-lhes forma de brincadeira, como por
exemplo, ao brincar de ‘casinha’, destaca-se o papel do pai, da mãe dos irmãos. De
forma encantada, copia modelos e vivências, a seu modo, do mundo adulto, preparando-
se para o futuro.
Brincar é meio de expressão, é forma de interagir-se ao ambiente que o cerca. Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas do conhecimento, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras. No convívio com outras pessoas, a criança aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a compartilhar momentos bons e ruins, a ter tolerância e respeito,
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enfim, desenvolve a sociabilidade. Através dos jogos, o raciocínio é treinado de forma prazerosa (SANTOS, 1997, p. 56).
Antigamente, algumas pessoas consideravam as atividades recreativas como
pecado. Atualmente as brincadeiras são consideradas como necessárias ao
desenvolvimento infantil. As atividades lúdicas sadias ajudam a criança a desenvolver
atitudes e corpos saudáveis. No momento do jogo a criança encontra equilíbrio entre o
real e o imaginário, alimenta sua vida interior, descobre o mundo e torna-se operativa.
Tanto que as crianças dos diversos países têm as mesmas necessidades e praticam jogos
semelhantes.
A personalidade de uma criança cresce à medida que ela aprende a fazer
alguma coisa e desenvolve confiança através de jogos. A maior parte dos jogos para
crianças pequenas não só diverte como ajuda a desenvolver habilidades físicas e a
capacidade de observação. Além disso, jogos e brincadeiras ajudam os participantes a
aprenderem a se adaptar as novas situações e a seguir regras (SANTOS, 1997, p.73).
Um jogo é mais uma atividade entre um, dois ou mais tomadores de
decisões que procuram alcançar seus objetivos em algum contexto limitador.
Em geral, este contexto limitador consiste em um conjunto de regras e de
procedimentos que são apresentados aos jogadores antes da partida e deverão nortear
suas ações.
Um dos aspectos mais interessantes do jogo é a sua semelhança com muitas
situações da vida real que também envolvem tomadas de decisão em função de
determinados objetivos, em contextos limitadores. Daí as expressões populares como “a
vida é um jogo”, e o ”jogo da vida”. Mediante este fato Santos (1997, p. 89) destaca
que: “o comportamento e a interação da criança durante o jogo pode envolver
competição, cooperação, conflito e uma série de outros sentimentos como insegurança,
auto-afirmação, medo, curiosidade”.
A principal implicação educacional do jogo é a valorização da atividade
lúdica, que tem como conseqüências o respeito às necessidades afetivas da criança,
contribui para a criança, para diminuir a opressão dos sistemas extremamente rígidos
(SANTOS, 1997, p.92).
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Além de resgatar o direito à infância, os jogos tentam salvar a criatividade
da criança ameaçada pela tecnologia educacional de massa. Por isso, o lúdico, os
desafios e conflitos devem se construir em práticas cotidianas na sala de aula.
1.4 O Jogo na formação do professor
Não há dúvida de que atualmente um dos grandes desafios para o professor
é aumentar o nível de motivação de seus alunos, principalmente na educação infantil e
séries iniciais do Ensino Fundamental, pois o conhecimento, as atitudes e as habilidades
desenvolvidas nestes determinam o seu desempenho posterior.
Como explicar o fato de que os alunos que não estão motivados para
aprender na escola, muitas vezes apresentam alto nível de motivação em outras
atividades? Porque uma criança se envolve tanto nas brincadeiras com seus colegas e
fica alheia nas atividades escolares propostas?
Levanta-se então a seguinte questão:
As diferenças nesses dois ambientes, pelo menos quanto ao grau de atenção e interesse na participação, são parcialmente explicadas pela intensidade do drama no ambiente de jogo e a freqüente falta de drama no ambiente escolar. Esse” drama “envolve conflitos de resultados incertos entre atores com os quais a criança pode se identificar, nos jogos as crianças tornam-se personagens que representam e participam dos conflitos proporcionados por seus papéis. A aplicação desses elementos excitantes a atividades na escola pode estimular a criança a aprender novos conceitos intelectuais (RONCA e ESCOBAR, 1982, p. 64).
Uma das grandes vantagens do jogo é exatamente provocar um alto
interesse pela aprendizagem. Os alunos ficam motivados a estudar as questões
envolvidas e também a participar mais das atividades propostas. Na realidade
educacional brasileira, o principal objetivo da maioria dos professores é transmitir
conhecimentos. São poucos os que se preocupam em desenvolver habilidades como as
de aplicação, analise, síntese e são raríssimos os que procuram aumentar nos alunos a
capacidade de compreensão intuitiva. Pelo contrário, em muitas situações as instituições
são punidas e os professores não ensinam seus alunos a pensar intuitivamente, pois é de
suma importância a preparação de um professor que saiba trabalhar com os jogos e as
brincadeiras em seu cotidiano escolar, e a instituição devem ter como um dos principais
objetivos capacitar seus profissionais (ESCOBAR, 1982, p.75).
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No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, alem de seu comportamento diário; no brinquedo é na realidade como no foco de uma lente de aumento, os brinquedos contem todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo grande fonte de desenvolvimento (VYGOTSK apud, VELASCO 1996, p. 117).
No momento em que os pedagogos em geral despertam para atribuir
importância ás atividades lúdicas no processo do desenvolvimento humano e propõem a
disseminação dos jogos, principalmente na primeira serie do ensino fundamental, como
forma de inovar a maneira de pensar a pedagogia, é necessário rever os cursos de
formação.
Segundo Santos (1997, p.80) uma das formas de repensar os cursos de
formação é introduzir na base de sua estrutura curricular um novo pilar para a formação
lúdica. A formação lúdica se assenta em pressupostos que valorizam a criatividade, o
cultivo da sensibilidade, a busca da atividade, a nutrição da alma, proporcionando aos
futuros educadores vivencia lúdica, experiência corporais, que se utilizam à ação do
jogo em sua fonte dinamizadora. Isso significa ao valorizar as atividades lúdicas como
um meio a mais na alavancagem dos processos de desenvolvimento e aprendizagem,
requer concomitante pensar a preparação daqueles que se dispõem a atuar neste campo
emergente.
Para Drouet (1990, p.107), quando se entende o jogo como uma
possibilidade e necessidade humana, que cobre as necessidades de diversão,
compreende-se a sua relevância no desenvolvimento cultural da humanidade – cultura
lúdica, tendo a missão de divertir e de facilitar a aprendizagem e como isso o
desenvolvimento social e pessoal. Desta forma, podemos entender que é fundamental
desenvolver formação especifica para quem atua na área.
Neste sentido, a formação do educando ganharia qualidade se em sua
sustentação estivesse presente á formação teórica, a formação pedagógica e como
inovação à formação lúdica.
Na avaliação de Santos (1997, p.96), a formação teórica deve focalizar
fundamentalmente as principais teorias que tratam do desenvolvimento e da
aprendizagem, do jogo e do desenvolvimento, do tempo livre, da recreação e do lazer,
marcando bem suas diferenças e em que paradigmas se situam.
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A formação pedagógica deve oportunizar uma vivência concreta no âmbito
da experiência lúdica, ou seja, uma formação que complementa a formação teórica,
onde se constrói pela vivência e não apenas pela consciência. De acordo com Drouet
(1990, p. 118), se for possível, em diferentes contextos com crianças, adolescentes e
adultos devem “experimentar” o lúdico em sua prática diária, sendo uma visão
inovadora na formação do caráter e da personalidade.
Um fato foi presente por muito tempo da formação lúdica do educador deu-
se por meio dos cursos de formação de profissionais da área educacional que geralmente
se processava por meio de práticas de ensino ou de estágio supervisionado. Sendo que
em sua maioria não estavam centrados em um embasamento teórico que conduzisse o
profissional a compreender a importância do lúdico para a sua formação.
Deste modo, ocorre que as práticas do profissional ficam desvinculadas da
formação ideal, não permitindo assim uma reflexão crítica por parte do professor e
como conseqüência o assunto não é debatido evitando a reformulação dos conteúdos
tradicionais que eram ministrados durante a formação do educador. Em contrapartida,
hoje os cursos de formação mostram-se preocupados em formar o futuro professor com
oportunizando o contato com teorias a respeito da temática na disciplina Educação e
Movimento.
Conforme destaca Drouet (1990, p.125) em que na realidade, o aluno em
formação fica muito desprotegido, ao passo que o professor formado pode discursar á
vontade, porque aquilo que propõe não terá uma aplicação imediata.
Ainda em relação à formação pessoal, deve oportunizar que o pedagogo em
formação vivencie, por um lado, experiências lúdicas ou que tenham esta finalidade,
sem preocupação com o aspecto técnico. Por outro lado, que oportunize vivências na
sensibilização corporal na relação com objetos e jogos, constituindo assim em um meio
a mais que vai completar sua formação que utiliza ação, pensamento e linguagem como
elemento pedagógico.
1.5 O Lúdico na Educação
Para Kishimoto (2007), enquanto fato social, o jogo assume a imagem, o
sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que demonstra por que
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dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas. Como por
exemplo, tem-se o arco e a flecha que aparecem como brinquedo, e em certas culturas
são instrumentos de caça e pesca.
Segundo Gonçalves (2009), o jogo caracteriza-se por constituir um sistema
de regras, do uso de determinado tipo de objeto e também do contexto social em que
este se apresenta. Enquanto que o brinquedo não pressupõe o emprego de regras e
enquanto objeto, é sempre um suporte para a brincadeira, sendo que esta, nada mais é do
que a atividade lúdica em ação.
O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete para a
relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil. Ao considerar que a criança aprende de modo intuitivo,
adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro
com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha
um papel de grande relevância para desenvolvê-la. Ao permitir a ação intencional
(afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de
objetos e o desempenho de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações
(social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas
inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil
(KISHIMOTO, 2007).
Criança, jogo e brincadeira estão intrinsecamente interligadas, mas, em
algumas escolas não é possível notar essa interligação, sendo que a criança tem a
necessidade de estar envolvida por momentos de socialização saudáveis, bem como das
suas necessidades de movimento, expressão e de construção de seu conhecimento a
partir do seu próprio corpo. A escola precisa apreender que a criança sempre está em
constante desenvolvimento.
Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com
vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que
mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança
para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar as
atividades lúdicas na educação significa transpor para o campo do ensino-aprendizagem
condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades
do lúdico, do prazer, da capacidade de indicação e ação ativa e motivadora.
20
Assumindo a função lúdica e educativa, o brinquedo/brincadeiras é
considerado como um preparo da criança para a vida adulta. Brincando, a criança
aprende, e aprende de uma forma prazerosa, mesmo que apesar da riqueza de situações
de aprendizagens que propicia, nunca se tem a certeza de que a construção do
conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor.
Na vivência com as atividades lúdicas, as crianças podem recriar sua leitura
de mundo e o modo de agir. As atividades lúdicas podem ser utilizadas nas tarefas da
angústia/ansiedade, devido que esse sentimento compromete a capacidade de atenção,
de concentração, relações interpessoais, auto-estima, e, desta forma, a aprendizagem;
onde a psicopedagogia dá o amparo que necessita.
Os limites das crianças, bem como suas opiniões, sendo ela mesma, através
da aplicação das regras nas atividades lúdicas se formam prazerosamente,
proporcionando experiências inovadoras, na medida em que erra e acerta, reconhecendo
como adequado; desenvolvendo sua organização espacial e ampliando seu raciocínio
lógico na medida que exige estratégias de planejamento e estimula a criatividade.
O uso de brinquedos, jogos e materiais pedagógicos, do ponto de vista
psicopedagógico, necessita da percepção do contexto em que se encontram inseridos. É
preciso que o professor e/ou psicopedagogo identifiquem a matriz simbólica anterior do
objeto, para entender melhor as necessidades e dificuldades mais imediatas dos alunos.
É desta forma que a criança constrói um espaço de experimentação, de
transição entre o mundo interno e o externo. Neste espaço transicional, dá-se a
aprendizagem.
Huizinga (1992) se destina a estudar o papel do lúdico de forma ampla e
aplicada ao ser humano independentemente de idade ou cultura. E também em
manifestações que vão além do jogo propriamente dito como a dança, a música, o teatro
e até certos ritos tribais.
Enfim, o brincar permite, aprender a lidar com as emoções equilibrando as
tensões provenientes de seu mundo cultural, construindo sua individualidade, sua marca
pessoal, sua personalidade. Mas segundo Piaget (1994) o brincar implica uma dimensão
evolutiva. Crianças de diferentes idades, com características especificas, tem formas
diferenciadas de brincar e deve-se considerar a socialização dela com as demais e não a
brincadeira em si.
21
1.6 A Importância do jogo nas Interações Sociais e no Contexto Sócio-Cultural
Segundo a linha teórica interacionista - construtivista, deve-se destacar as
interações sociais de uma criança com outras ou com adultos no processo de construção
do conhecimento. Nessa interação, através da experiência social, a criança tem acesso à
cultura, aos valores e aos conhecimentos históricos.
Leontiev (1903-1979) amplia essa idéia afirmando que, além da experiência
individual, existe no homem a experiência histórico-social, que é o produto do
desenvolvimento transmitido de uma a outras gerações.
Vygotsky (1984), que se aprofundou no estudo do papel das experiências
sociais culturais a partir da análise do jogo infantil, afirma que no jogo a criança
transforma, pela imaginação, os objetos produzidos socialmente. Ele ainda ressalta a
importância dos signos para a criança "internalizar" os meios sociais. A certa altura do
seu desenvolvimento, a criança amplia os limites de sua compreensão, integrando
símbolos socialmente elaborados (valores, crenças sociais, o conhecimento acumulado
da cultura e os conceitos científicos) ao seu próprio conhecimento. Esse processo
dialético entre a criança e a sociedade tem na linguagem um dos signos mais
importantes do desenvolvimento infantil.
No jogo, a criança pode experimentar tanto as convenções estipuladas na
sociedade como as variações dessas convenções. Assim, durante o jogo, a criança pode
escolher entre aceitar ou discordar de certas convenções, promovendo seu
desenvolvimento social. O jogo oferece, muitas vezes, a possibilidade de aprender sobre
solução de conflitos, negociação, lealdade e estratégias, tanto de cooperação como de
competição social. Os padrões iniciais praticados durante o jogo são padrões de
interações sociais que as crianças irão usar mais tarde nos seus encontros com o mundo.
O jogo pode ser muito significativo no que se refere ao conhecimento social
mais amplo e à melhoria do comportamento em prol do social. Porém o jogo também
pode ser um meio de promover aprendizagens ou induzir comportamentos que os
adultos não desejam encorajar. Se despertar nas crianças a consciência dos
conhecimentos sociais que estão acontecendo durante o jogo, esse conhecimento poderá
ser usado no sentido de ajuda-las no desenvolvimento de uma compreensão positiva da
sociedade e na aquisição de habilidades.
22
Percebe-se que Vygotsky (1984), assim como Piaget (1994), defende a idéia
de que a criança não é a miniatura de um adulto e sua mente funciona de forma bastante
diferente. Esta compreensão tem grandes implicações para os professores porque nos
obriga a compreender o aluno da forma com que ele é, e não da forma com que nós
compreendemos o mundo.
Assim, para a formação docente é de vital importância o estudo das
diferentes teorias do desenvolvimento de forma que nos permitam abordar o processo de
ensino-aprendizagem do modo que o mesmo venha a responder às necessidades
particulares da natureza infantil.
Tanto Piaget (1994) como Vygotsky (1984) pensam que o desenvolvimento
do indivíduo implica não somente em mudanças quantitativas, mas sim, em
transformações qualitativas do pensamento. Ambos reconhecem o papel da relação ente
o indivíduo e a sociedade e, em Vygotsky (1984) é esta relação que determina o
desenvolvimento do indivíduo.
Em face desse entendimento de Vygostky temos que nos perguntar, como
professores, que tipos de ambientes de aprendizagem são mais adequados para gerar
aprendizagens e favorecer o desenvolvimento da criança.
Vygotsky (1984) tem uma visão sócio-construtivista do desenvolvimento
com ênfase no papel do ambiente social no desenvolvimento e na aprendizagem; a
aprendizagem se dá em colaboração entre as crianças e entre elas e os adultos.
Colocando de outra forma, para Vygotsky (1984) a aprendizagem é produto
da ação dos adultos que fazem a mediação no processo de aprendizagem das crianças.
Neste processo de mediação, o adulto usa ferramentas culturais tais como a linguagem,
bem como outros meios, sendo assim um processo de internalização, no qual a criança
domina e se apropria dos instrumentos culturais como os conceitos, as idéias, a
linguagem, as competências e todas as outras possíveis aprendizagens.
Para ele, portanto, o desenvolvimento dos processos cognitivos superiores, é
resultado de uma atividade mediada.
Ou seja, com este enfoque tem-se que Vygotsky nos fornece uma pista,
sobre o papel da ação docente: o professor é o mediador da aprendizagem do aluno,
facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos diferentes instrumentos culturais. Mas, a
ação docente somente terá sentido se for realizada no plano da Zona de
23
Desenvolvimento Proximal. Isto é, por trás desse nome complicado, há uma idéia
extremamente simples: o que a criança faz hoje em conjunto com outros poderá fazer
sozinha amanhã. Assim, o professor constitui-se na pessoa mais competente que precisa
ajudar o aluno na resolução de problemas que estão fora do seu alcance, desenvolvendo
estratégias para que pouco a pouco possa resolvê-las de modo independente.
1.7 Conhecendo o Processo de Ensino-Aprendizagem
Vygotsky (1994) conceituou o desenvolvimento intelectual de cada pessoa
em dois níveis: real – já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz
de fazer por si própria; potencial - quando a criança ainda não aprendeu tal assunto, mas
está próximo de aprender, e isso se dará principalmente com a ajuda de outras pessoas.
Desta forma, Vygotsky (1994) conceitua as zonas de desenvolvimento proximal como
a distância entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinando através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou de companheiros mais capazes (p. 72).
Mediante a colocação da conceituação acima tem-se uma nova perspectiva
para a prática pedagógica, privilegiando a busca do conhecimento e não de respostas
corretas. Ao professor/educador cabe seu papel fundamental na aprendizagem, afinal,
para o aluno construir novos conhecimentos precisa de alguém que o oriente. Assim, o
professor deve cumprir com seus alunos a partir de suas possibilidades, bem como o
trabalho conjunto entre colegas, que favorece também a ação do outro na Zona de
Desenvolvimento Proximal - ZDP. Vygotsky (1994) acreditava que a noção de ZDP já
se fazia presente no bom senso do professor quando este elaborava suas aulas.
Assim, pode-se afirmar que o professor é o suporte para que a aprendizagem
do educando sobre um conhecimento novo seja satisfatória. Para isso, o professor tem
que interferir na ZDP do aluno, e para Vygotsky (1994), a linguagem era o caminho
essencial.
Desta forma, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da
criança, mas sim em função de levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais
se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky (1994), esse processo por
24
desenvolvimento é característica das crianças. Se elas próprias fazem da brincadeira um
exercício de ser o que ainda não são, o professor que se contenta com o que elas já
sabem é dispensável.
Para Piaget (1991) a aprendizagem do aluno será significativa quando esse
for um indivíduo ativo, ou seja, quando a criança receber informações de ensino-
aprendizagem para organizar suas atividades e agir sobre elas. O que se percebe é que
os professores “jogam” o conteúdo da matéria ser dada aos alunos, afirmando falta de
tempo. Para o autor, esse tempo utilizado apenas para a verbalização do professor é um
tempo perdido, e deve ser gasto de forma a permitir que os alunos usem a abordagem de
tentativa e erro, esse tempo gasto a mais será, na verdade, um ganho.
Wallon retrata que na concepção do desenvolvimento do indivíduo, a
inteligência ocupa lugar de meio, o desenvolvimento cognitivo aumenta a capacidade de
independência infantil, em que as brincadeiras são criadas da forma mais simples
possíveis, tais como: utiliza objetos não lúdicos como forma de brincar, por exemplo,
garfo/colher (La Taille, 1992, p.41-43).
As disciplinas mentais para Wallon são a capacidade de controlar os
movimentos, mas que só se estabelecem por volta dos seis aos sete anos, sendo um
processo lento, pois as crianças não conseguem se concentrar em uma mesma coisa por
muito tempo, sendo assim a escola exerce um importante papel para a consolidação das
disciplinas mentais (Wallon, 1992, p.89-107). Desta forma, há um entrelaçamento
perpétuo entre as condições de substrato orgânico e as condições de substrato social.
No contexto educacional a aprendizagem dos alunos é o objetivo maior,
sendo uma opção que deve consolidar e ampliar o conhecimento, valorizando as
experiências e ajudar as crianças a superar os obstáculos na aprendizagem.
É interessante observar que as metodologias inovadoras para intervir na sala
de aula são significativas e todas as crianças possam aprender de acordo com suas
realidades e possibilidades, como por exemplo, as atividades lúdicas. Nesse sentido, o
professor deve estar sempre repensando sua prática pedagógica a fim de suprir as
necessidades dos alunos. As metodologias mais condizentes com o processo ensino-
aprendizagem segundo (Kishimoto (2007, p.28-39) são:
• Planejar as aulas de acordo com a realidade dos alunos;
25
• Propor trabalhos diversificados, colocando o aluno em contato com vários tipos
de textos. Por exemplo: Ida a biblioteca;
• Tratar o conteúdo de cada disciplina de acordo com que o aluno possa se
adequar por meio de atividades significativas, levando em conta o potencial deles, os
diversos tipos de interação dos estudantes com o meio e história de vida de cada um;
• Valorizar o diálogo, o debate, a troca de idéias e a participação.
• Desenvolver hábitos de leitura, ler diversos gêneros literários.
É importante frisar que, para se chegar ao sucesso desejado, é
imprescindível que o professor/educador trabalhe com parceria, ou seja, coletivamente
mobilizando pais, alunos e responsáveis para que se envolvam e percebam os benefícios
que as situações inovadoras podem trazer a todos os alunos.
Nesse caso, será importante considerar uma adequada escolha dos textos e
das atividades, tendo em vista que o trabalho pedagógico pautado na diversidade
textual, não significa considerar que os alunos possam realizar todo tipo de atividade
com qualquer tipo de texto. É necessário ter critérios de seleção, considerando, por
exemplo, a complexidade do texto, a familiaridade dos alunos com o tipo de texto, a
adequação do assunto à faixa etária, e a adequação dos textos selecionados à realidade
dos educandos.
Nesse sentido, percebe-se que mesmo a leitura sendo extremamente
importante. Constitui-se de um grande desafio a ser superado não só nas séries/anos
escolares iniciais, como também nos níveis de graduação, presenciado nos dias de hoje.
No entanto, a prática pedagógica demonstra que ao se trabalhar com a
diversidade considera-se praticamente que a aula é adequada, desde que o conteúdo
possa interessar, pois o professor atua como mediador entre eles e o texto. Mas se a aula
não gerar interesse o texto se destina à leitura feita pelos próprios alunos, é preciso
considerar suas reais possibilidades de realizar a tarefa, para que o desafio não seja
muito difícil. Um educador ciente do seu papel de promotor do desenvolvimento e
habilidades na leitura percebe que até na rotina estabelecida dentro da sala de aula,
constitui também, uma situação de ensino e aprendizagem, a despeito de não
necessariamente ser planejado como tal.
26
Para esse caso, as sugestões de atividades são as seguintes (Kishimoto
(2007, p. 98):
• Leitura diária feita pelo professor.
• Roda semanal de leitura.
• Oficinas de produção de textos.
• Hora das notícias.
• Discussão semanal dos conhecimentos adquiridos, etc.
As propostas do sistema educacional no papel são algo que se pode destacá-
lo, mas, em sua prática, desperta apenas preocupação, em muitos aspectos, até mesmo
em relação às atividades diferenciadas que raramente são consideradas pela Escola.
Nesse sentido o psicopedagogo, trabalhando juntamente com o professor, apresentará
outras formas de atingir o aluno. Buscando-se sempre o desenvolvimento das
habilidades necessárias. A equipe Psicopedagógica visa então recolocar aqueles alunos,
até então as margens da sala de aula, como integradores e participantes. Contribuindo
assim para o seu desenvolvimento e aquisição de conhecimentos.
O aluno ao atingir um grau de maturação, começa a perceber que está
ficando aquém do rendimento necessário e começa a se rotular, criando mesmo sem
perceber ou querer um complexo de inferioridade. Estas questões que passam pela
mente do aluno, muitas vezes, encontrarão na escola, a esperança de modificação e
superação. No entanto, se ela consegue uma escola comprometida com o seu
desenvolvimento e que compreenda as suas necessidades em vez de torna-se prisioneira
por várias horas, com certeza será uma criança que alcançará os objetivos e vencerá
obstáculos.
Mesmo não conseguindo dominar algumas habilidades, ela sempre
demonstra disposição em aprender. A escola deve aproveitar todas as manifestações de
alegria da criança e canalizá-la emocionalmente através de atividades que desenvolvam
a aprendizagem. Atividades, quando bem direcionadas, trazem grandes benefícios que
proporcionam saúde física, mental, social e intelectual à criança, ao adolescente e, até
mesmo ao adulto.
27
Aceitar que a criança possa ler ou escrever de diferentes formas, sem ter de
passar obrigatoriamente pelo domínio do código, significa reconhecer que ela pode
gerar conhecimentos próprios e complexos sobre a escrita, não se limitando ao
reconhecimento da letra ou o tipo de unidade (letra, sílaba, palavra, frase), uma vez que
já traz um repertório ao ingressar na escola. Naturalmente, fatores de ordem
sociocultural influenciam no estágio em que se encontram isto porque a maioria das
crianças segue passos semelhantes antes de se apropriar do sistema de escrita. Em cada
momento ou nível, os alunos usam procedimentos de construção comuns, formulando
hipóteses diferentes daquelas nas quais se apoiavam e das quais utilizarão no futuro,
sempre buscando construir um sistema que se assemelhe à escrita dos adultos. Porque
então muitos não conseguem atingir este nível? É preciso usar diferentes formas para se
alcançar resultados. Segundo Ferreiro (1999)
Quando se comprova que no começo do Ensino Fundamental, na mesma sala de aula, há crianças que não conseguem compreender os conteúdos, é preciso aceitar outros educadores trabalhem com os mesmos. O problema é que ninguém supunha que as crianças sabiam algo relevante sobre a aprendizagem antes de entrar na escola (p.109).
De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) investigações recentes
demonstraram que o domínio das habilidades relacionadas ao processo de ensino-
aprendizagem não é uma tarefa simples para a criança, já que requer um processo
complexo de construção, em que suas idéias nem sempre coincidem com as dos adultos.
Segundo essas autoras, essas dificuldades têm ocupado lugar de destaque na
preocupação dos educadores. Porém, apesar da variedade de métodos ensaiados para se
ensinar conhecimentos, existe um grande número de criança que não aprende.
Estas afirmações têm se baseado em certas suposições que à luz das
investigações da Psicopedagogia mencionam que fatores internos influenciam nas
dificuldades de aquisição de conhecimentos.
A partir das teorias psicogenéticas e conceituações sobre o ato de brincar de
Wallon, Piaget e Vygostky tem-se no capítulo seguinte uma pesquisa qualitativa no
intuito de estabelecer as relações entre as atividades lúdicas, a criança e a educação para
seu desenvolvimento e o processo ensino-aprendizagem.
28
CAPÍTULO II
ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
2.1 Tema em estudo
Como existem várias pesquisas relacionadas a utilização do lúdico, esse
trabalho foi desenvolvido com o propósito de lançar mais um novo olhar sobre o tema
em que facilita o processo ensino-aprendizagem. De acordo com o exposto no decorrer
desta pesquisa, pode-se constatar que o profissional em psicopedagogia surgiu a partir
da necessidade de obter-se um maior entendimento sobre o processo de aprendizagem
do homem, procurando sempre focar este homem como um ser múltiplo, influenciado
tanto por aspectos físicos, cognitivos, quanto emocionais.
No movimento de procurar entender estes aspectos é que o psicopedagogo
constrói o seu trabalho, visando a diminuição dos problemas de aprendizagem e do
fracasso escolar. É nesse contexto de múltiplas interações que as atividades lúdicas são
utilizadas no processo ensino-aprendizagem, pois fazem com que as crianças revelem
aspectos que não aparecem em situações mais formais.
O material a ser utilizado em tais atividades deve ser muito bem selecionado
de acordo com os objetivos específicos do trabalho, da idade das crianças, do tempo
disponível e, é importante estar atento para que esse material funcione como um atrativo
pelo seu possível uso (colorir, escrever, modelar, construir, pregar, colar, prender,
juntar), tendo em vista a construção do conhecimento e do saber por parte da criança.
Fica, portanto, evidenciado a essencialidade do lúdico no trabalho educativo, tanto no
aspecto clínico quanto no institucional, este pode ser encarado como uma possibilidade
de compreender o funcionamento dos processos cognitivos e afetivo-sociais.
O propósito deste trabalho é analisar a relação do lúdico como facilitador do
processo ensino-aprendizagem. Partindo dessa premissa, deseja-se prosseguir com uma
proposta que tente mostrar como a ludicidade está sendo trabalhada nas escolas
públicas.
Segundo Marli apud Andrade; Rodrigues (1995):
29
Os brinquedos e as brincadeiras, embora sendo elementos presentes no mundo da criança em todas as épocas, culturas e classes sociais não tinham a conotação que tem hoje, eram vistos como fúteis e tinham como único objetivo a distração e o recreio. Foi preciso que houvesse uma profunda mudança na sociedade, para que pudesse associar a uma visão positiva às suas atividades espontâneas, surgindo como decorrência a valorização dos brinquedos e da forma de brincar. O aparecimento do Brinquedo como fator de desenvolvimento infantil proporcionou um amplo campo de estudos que pouco vêm influenciando na prática da educação infantil, pois a maioria das nossas escolas ainda considera o brinquedo como não sério e utilizando-o como divertimento e passatempo (p.34).
Desta forma, percebe-se que os autores acima descrevem que o lúdico ainda
não é visto como facilitador da aprendizagem pelos professores e quando utilizados não
é conferido o valor real das atividades lúdicas para o desenvolvimento infantil.
Na curiosidade de obter um conhecimento, sobre este assunto resolveu-se
pesquisar como a ludicidade é tratada no contexto de sala de aula com crianças da 2ª
série do ensino fundamental como facilitador do processo ensino-aprendizagem.
Em virtude do desfavorecimento do processo ensino-aprendizagem
estabelecido pela educação tradicional este trabalho tem como proposta o resgate da
ludicidade como uma das alternativas de ensino, por acreditar-se que a educação deve
ser um processo prazeroso despertando as trocas de experiências e o interesse de
exploração do educando.
2.2 Tipo de Estudo
Verifica-se que o estudo qualitativo é de suma importância para educação,
sendo assim tal estudo irá subsidiar a pesquisa, que dará ênfase ao resgate das atividades
lúdicas como facilitadora do processo ensino-aprendizagem.
Para a realização desta pesquisa, foi utilizado o método qualitativo que
objetiva captar o pensamento e a expressão dos atores envolvidos na problemática que
se quer estudar. Sua característica está calcada na interpretação dos dados e
informações, que segundo Pedron (1997, p.23) partindo-se do pressuposto de que a
realidade não se encontra fora do indivíduo, mas é por ele construída e, desta forma,
somente por meio de seu discurso pode-se percebê-la.
30
Dentro desta perspectiva, o papel do pesquisador passa a ser a do
observador que consegue captar a informação, interpretá-la e redigir de forma a que
outros possam também ‘vivenciar’ a experiência.
O paradigma qualitativo, por considerar os diversos fatores que envolvem o
objeto e a atuação dos atores sociais, bem como, do próprio pesquisador, requer um
estudo de cruzamento de dados e de interpretação deste à luz do contexto e da
compreensão, tornando-o subjetivo, ou seja, próprio.
Desse modo, a presente pesquisa se constituirá em criar condições para que
se desenvolva uma atitude de reflexão crítica, acerca da importância da ludicidade no
contexto facilitador do processo ensino-aprendizagem.
2.3 Local e Sujeitos da pesquisa
A pesquisa qualitativa faz uso da subjetividade e não analisa a aquisição de
conhecimento como algo neutro, fez-se necessário pesquisar a ludicidade na Escola
Classe na 2.ª série do Ensino Fundamental, situado em Sobradinho/DF, enfatizando a
utilização das atividades lúdicas para o desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem.
2.4 Coleta de Dados
Para dar início a este trabalho fez-se necessário primeiramente um
levantamento da literatura acerca do tema escolhido, em seguida houve visitas na escola
informalmente. Inicialmente houve uma conversa informal com os professores da 2.ª
série do Ensino Fundamental acerca do tema de estudo.
Os instrumentos utilizados foram um questionário para os professores,
contendo 08 perguntas (apêndice 01) e outro contendo 07 questões abertas (apêndice
02) para os alunos, abordando a temática em questão no contexto de sala de aula.
A escolha procedeu-se em virtude de entender que o instrumento de coleta
de dados do questionário com questões abertas é o mais adequado para o estudo
pretendido com professores (as) e alunos (as), pois fornecerá um contato direto e
prolongado com todos os sujeitos integrantes deste estudo.
31
Para complementar os dados de coleta foram utilizados a observação direta
no contexto de sala de aula com o objetivo de melhor confirmar as respostas concedidas
pelos entrevistados, pois se acredita que enquanto pesquisadora é preciso estar atenta
não apenas ao roteiro das questões abertas e as respostas dos entrevistados, mas também
aos detalhes não verbais, que só o contato direto com os entrevistados pode oferecer.
Para Thiolente apud Ludke e André (1986):
Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais, hesitações, alterações de ritmo, enfim toda uma comunicação não verbal cuja capitação é muito importante para a compreensão e avaliação do que foi efetivamente dito (p.63).
Com base no exposto acima acredita-se ser necessário na realização da
pesquisa a observação acompanhada do questionário dos professores e dos alunos para
que possa ser confirmado com maior contextualização o que foi respondido.
32
CAPÍTULO III
ORGANIZAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
3.1 Análise dos Dados dos Professores
A partir da análise dos questionários pode-se observar que os professores
consideram a necessidade de atividades lúdicas para crianças no processo ensino-
aprendizagem, essa afirmativa pode ser analisada através das seguintes afirmações
quanto a conceituação do que seja jogos:
Professora A
Jogos são sinônimos de brinquedos, brincadeiras, rondas, divertimentos tradicionais infantis, cantados, declamados, ritmados ou não, de movimento.
Professora B
Os jogos fazem parte da vida da criança, desde seu nascimento, pois são as brincadeiras que seus pais fazem, bem como os brinquedos que possui e as rodas de brincadeiras na escola.
Com relação a conceituação da palavra jogo, Piaget (1998, p.35) acredita
que ele é fundamental na vida da criança, isto devido que no início tem-se o jogo de
exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro
prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno dos 2 aos 6 anos percebe-se a ocorrência
dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança de não somente recordar
o mentalmente o acontecido, mas de executar a representação.
Após os 6 anos surgem os jogos de regras, que são transmitidos
socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de importância
de acordo com o avanço do seu desenvolvimento social. Para Piaget (1998, p.36), o
jogo constitui-se em expressão e condição para o desenvolvimento infantil, já que as
crianças quando jogam assimilam e podem transformar a realidade.
33
Concordando com a autora Macedo et al (2005, p.22) o jogo faz com que as
crianças comuniquem, através da ação, sua forma de pensar, sabendo-se que o
observador deve reconhecer nas ações os indivíduos que está buscando para realizar sua
avaliação. Desta forma, ele é importante na área educativa, dando ênfase como
facilitador para o processo ensino-aprendizagem devido transformar as informações,
sempre presentes, em dados significativos.
Na segunda questão sobre se existe diferença entre jogos e brincadeiras, os
professores responderam que
Professora A o jogo é participar de competição em que alguém vai ser o vencedor e a brincadeira é se divertir sem se preocupar em ganhar, livre e leve.
Professora B Muitos autores diferenciam os dois como sendo brincadeira de caráter totalmente lúdico, sem a exigência de "regras". E jogo já exigindo regras e uma maior complexidade. Outros dizem que são a mesma coisa..."brincar de pega-pega" ou "jogar pega-pega"? Definir o seu conceito, o que entendo. Você acredita que nas brincadeiras de "casinha" não existem regras?.
De acordo com autores, percebe-se que há variedade de elementos
considerados como jogo demonstrando a dificuldade de definição e aumenta mais
quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou não-
jogo. Este fato é observado na fala das duas professoras em que para um observador
externo uma mesma conduta pode ser jogo ou não-jogo, em diferentes culturas,
dependendo do significado a ela atribuído, ou mesmo o objetivo caracterizado naquela
brincadeira (Kishimoto, 1999).
Dessas considerações, Kishimoto (1999, p. 28), conceitua brinquedo como
objeto, suporte de brincadeira, descrição de uma conduta estruturada, com regras e jogo
infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança – brinquedo e
brincadeiras. O brinquedo é o suporte da uma brincadeira, seja ela qual for. O brinquedo
tem sempre como referencial a criança e sua história está ligada com a história da
criança.
34
Ao emprego do termo jogo, quando se referir a uma descrição de uma ação
lúdica, com situações estruturadas pelo próprio tipo de material utilizado, tais como:
jogo de xadrez, trilha, dominó, dentre outros. Divergindo da brincadeira, o jogo só se
explica dentro do contexto em que for utilizado.
O uso de jogos na sala de aula como instrumento de avaliação na questão 3
é visto pelas professoras como:
Professora A
“Considero que seja às vezes viável a utilização de se avaliar por meio de atividades lúdicas, pois os alunos ficam críticos e livres para demonstrarem o que aprenderam na atividade educativa em sala de aula”.
Professora B
“Já utilizei algumas vezes, mas não me parece ser muito prático, pois os alunos ficam dispersos e a brincadeira vai mais além não caracterizando o objetivo inicial que queria”.
Demonstra-se nesta fala que deve haver objetividade ao se tratar das
atividades lúdicas, isto devido que elas são instrumentos didáticos que efetivam a
prática educativa no âmbito escolar demandam um professor com uma visão de mundo
que seja capaz de trazer uma teoria que articule os conteúdos trazidos pelos alunos com
os conteúdos escolares e que reconheça o jogo, a brincadeira e o brinquedo como
instrumentos culturais que possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento da criança,
bem como a formação e apropriação de conceitos, a qual se efetiva por meio de
mediações do educador em sala de aula. E se percebeu na fala da professora B que não
houve este entrosamento da didática com o objetivo proposto para a atividade lúdica
para se avaliar, por isso houve esta quebra em seu trabalho pedagógico.
Como as professoras utilizam o lúdico no cotidiano escolar sem tirar deste a
espontaneidade, a imprevisibilidade que são uma das características que o tornam
prazeroso e rico, na questão 4, obteve como respostas:
Professora A
“É importante considerarmos que a infância tem que ser respeitada, pois se reduzirmos a criança a um adulto em miniatura será pior para ela como também a sociedade, pois a vida cobra as etapas não
35
vividas. Sabemos que as necessidades lúdicas e afetivas da criança têm a mesma importância que as suas necessidades físicas”.
Professora B
“O lúdico leva as crianças de forma solitária ou nos grupos a explorarem as situações ao alcance de sua compreensão como organizar espaços, criar regras, estabelecer desafios, construir novos conhecimentos e desenvolver a linguagem verbal”.
Na escola em estudo o que se pode observar é que as salas de aulas possuem
uma forma de organização tradicional: a mesa da professora à frente da classe com sua
respectiva cadeira, quadro negro, mesas e cadeiras espalhadas em toda a sala, o que
diminui o espaço físico, e um armário de alumínio o qual guarda os materiais, o mesmo
permanece sempre trancado e somente é aberto quando a professora necessita retirar
materiais pedagógicos.
Neste contexto verifica-se que o primeiro entrave a utilização do lúdico se
dá a partir da organização física da sala de aula a qual se observa não somente nesta
escola, mas nas demais escola da rede pública de ensino, onde o espaço foi planejado
apenas para o aprendizado formal e tradicionalista. Porém tal estrutura não possibilita a
livre locomoção dos alunos uma vez que é muito trabalhoso a movimentação das mesas
e cadeiras para iniciar atividades, pois as mesmas são ergonomicamente inadequadas a
estrutura físicas das crianças, pois são grandes, altas e pesadas.
Para Bourdie apud Zóboli (1995, p. 89) a escola enquanto instituição que
prepara o indivíduo para o mercado de trabalho deixou de lado a criança, preocupou-se
com o conteúdo a ser adquirido, assim a imagem deturpada de infância ainda
permanecem na memória de alguns dos profissionais de educação.
Sobre a importância da utilização de atividades lúdicas na escola na questão
5, as professores destacam que:
Professora A
“As brincadeiras são linguagens não verbais, nas quais a criança expressa e passa mensagens, mostrando como ela interpreta e enxerga o mundo, por isso considero importante as atividades lúdicas na escola, o aluno demonstra o que sente e como se sente”.
36
Professora B
“Toda criança que participa de atividades lúdicas, adquire novos conhecimentos e desenvolve habilidades de forma natural e agradável, que gera um forte interesse em aprender e garante o prazer”.
Na fala das duas professoras demonstra-se que a potencialidade das
atividades lúdicas como fenômeno humano faz uma íntima relação ao processo criativo,
onde o indivíduo explora suas potencialidades. Em que segundo Kishimoto (2002,
p.56), o uso da atividade lúdica é uma as formas de revelar os conflitos interiores da
criança, e ainda que ela atende às necessidades do desenvolvimento infantil.
Como utilizar o jogo, o brinquedo sem que estes se tornem um trabalho na
questão 06, foi respondido que:
Professora A
“Eu uso jogo geralmente para apresentar conceitos. A questão da divisão, jogos que eu possa estar trabalhando com a criança, por exemplo, a quantidade, a conservação dessa quantidade... Principalmente pra construção de conceitos iniciais de capacidade, não me deixo levar para ser um trabalho“.
Professora B
“Nunca considerei que fosse um trabalho e sim um meio para poder me auxiliar e fazer que a aprendizagem em sala de aula fosse mais gratificante para os alunos e aprendessem com mais prazer”.
Para Kishimoto (2002) tanto o trabalho como o brinquedo pode representar
um interesse pela atividade ‘em si mesma’, mas, no caso do brinquedo, a atividade que
recebe o interesse é mais ou menos casual segundo o acaso das circunstâncias, do
capricho ou da determinação alheia; no caso do trabalho a atividade fica enriquecida
pelo sendo de que ela nos leva a um fim, importa em alguma coisa.
Na sétima questão sobre de que forma usar o lúdico na sala de aula, no
sentido de contribuir no processo de aprendizagem e no desenvolvimento do aluno, as
professores responderam que:
37
Professora A
“A finalidade é desenvolver o raciocínio, desenvolver estratégia de pensamento, a sociabilização... é... normas de condutas, e também a interpretação”.
Professora B
“[...] a gente trabalha o jogo para entreter a criança, pra criança apenas se divertir, pra ela passar um momento legal pra ela estar se distraindo com o amigo dela e ir relaxando daqueles momentos mais tensos da escola, e assim poder aprender de forma mais adequada”.
O jogo no sentido de contribuir para o processo ensino-aprendizagem deve
ser visto como integração para a criança em que ela necessita brincar, jogar, criar e
inventar para manter seu equilíbrio com o mundo. A importância da inserção e
utilização das atividades lúdicas na prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao
professor. Brinquedos não devem ser explorados só para lazer, mas também como
elementos bastantes enriquecedores para promover a aprendizagem. Através dos jogos e
brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de
aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo (Kishimoto, 1998, p.
56). Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que traz
enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar.
Na última questão tem-se a pergunta temática deste estudo que é a
importância dos jogos e brincadeiras para o processo ensino-aprendizagem fazendo um
elo da pergunta anterior, e os professores retratam que:
Professora A
“Acredito que a ludicidade influência no aprendizado das crianças, independente da sua faixa etária, pois com ela o aluno perde o medo de aprender e brincando aprende sem perceber. Ludicidade é um tema que me interessa muito, pois sou professora há seis anos e procuro sempre inserir a ludicidade em minha prática pedagógica. Estou sempre em busca de novas atividades lúdicas para aprimorar minha prática”.
Professora B
“acredito que o lúdico seja a única maneira de ver nossa crianças realmente aprendendo com prazer”.
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O jogo oferece estímulo e o ambiente necessários para propiciar o
desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos além de permitir que o professor
amplie seus conhecimentos sobre técnicas ativas de ensino e desenvolva suas
capacidades pessoais e profissionais, estimulando-o a recriar sua prática pedagógica
(BRASIL, 1999).
Esse tipo de atividade apresenta um diferencial frente a outras já conhecidas
e difundidas, pois os jogos são elementos muito valiosos no processo de apropriação do
conhecimento, permitindo o desenvolvimento de competências no âmbito da
comunicação, das relações interpessoais, da liderança e do trabalho em equipe e
utilizando a relação cooperação/competição em um contexto formativo, pois o aluno
coopera com os colegas de equipe e compete com as outras equipes que são formadas
pelos demais colegas da turma.
Finalmente, a partir dos resultados obtidos no questionário dos professores
tem-se que as atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido à
influência que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos
emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-
aprendizagem.
3.2 Análise dos Dados dos Alunos
A partir dos resultados obtidos no questionário dos dois alunos da 2.ª série
de uma escola pública do DF percebe-se que as atividades lúdicas são bem vindas e
estimulam o processo ensino-aprendizagem, isto devido as respostas encontradas nas 07
questões abertas aplicadas, conforme pode ser verificado abaixo na primeira questão
sobre o que acham sobre o uso de jogos na sala de aula.
Aluno A “Algo divertido que ajuda para eu aprender melhor”.
Aluno B
“Uma forma de divertir e aprender ao mesmo tempo”.
A partir das respostas obtidas, observa-se que as atividades lúdicas são
caracterizadas pelo ato de brincar, passatempo, diversão. Isso porque é através do
39
brincar que as crianças constroem sua aprendizagem acerca do mundo em que vive, da
cultura em que está inserida. De acordo com Bertoldi (2003) os jogos são uma pequena
parte da atividade de brincar da criança em que constroem o seu saber.
Na segunda questão sobre quando estão jogando com os colegas na sala de
aula quais os sentimentos que sente, obteve-se as seguintes respostas:
Aluno A
“Me sinto feliz, pois brinco com meus amigos”.
Aluno B
“Dá mais vontade de sorrir, pular e aprender”.
Os jogos utilizados em sala de aula pelos professores no Instituto Caputo
demonstram que servem de estímulo para o estudo, ficando mais fácil de entender o
assunto, a aula fica mais interessante, saindo de monotonia tornando-se mais
incentivadora do processo de ensino-aprendizagem, ainda segundo os alunos através dos
jogos pode-se conhecer mais os colegas/alunos e seus comportamentos.
A criança quem tem seus primeiros contatos com a aprendizagem de forma
lúdica, provavelmente vai ter a chance de desenvolver um vínculo mais positivo com a
educação formal, vai estar mais fortalecida para lidar com os medos e frustrações onde
segundo Kishimoto (1998) fortalece o processo de aprendizagem.
Na terceira questão sobre quando o professor usa um jogo ou uma atividade
diferenciada na sala de aula, se o aluno gosta, destacam que:
Aluno A
“Eu adoro, pois fico mais ligado nas atividades que a professora passa de dever”.
Aluno B
“Gosto, pois fico curioso em saber como é o jogo, aí me interesso mais”.
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Os alunos envolvidos nesta pesquisa possuem a visão que quando o
professor utiliza um jogo ou uma atividade diferenciada na sala de aula à mesma torna-
se mais interessante, pois são diferentes das aulas normais, que eles chamam de
monótonas, eles também dizem que através dessas atividades eles compreendem os
assuntos de forma mais clara e diferente fazendo com que eles prestem mais atenção nas
aulas além da existência da motivação, pois os alunos se tornam mais unidos e alegres,
gerando uma melhor aprendizagem.
Na quarta questão sobre se eles (alunos) aprendem mais com os jogos e
brincadeiras, responderam que sim, não justificando a resposta, desta forma apreende-se
que a aprendizagem é influenciada positivamente com a utilização de jogos e atividades
lúdicas. Conforme Wallon (apud Kishimoto, 2002, p. 117) a diversidade de canais para
a expressão, auxiliado como as brincadeiras e jogos sublinha o caráter pedagógico.
Na quinta questão quando ele (aluno) é avaliado através de um jogo ou
brincadeira se aprende com mais facilidade o conteúdo, destacam que:
Aluno A
“Eu aprendo mais”.
Aluno B
“Não percebo quando a minha professora está me avaliando, apenas brinco”.
Demonstram nestas respostas que os alunos se envolvem bastante nas
atividades lúdicas, não percebendo o enfoque avaliativo, há interesse nos jogos e
assuntos abordados pelos mesmos, diversas maneiras de aprender e passar por situações
diferentes, aula motivadora, sem repetições, ajudando a enfrentar situações distintas,
ocorre um clímax de opiniões, testa a inteligência brincando, entre outros. Para
Vygotsky (1987, p. 34) os processos criativos se refletem nas brincadeiras e jogos, desta
forma tem-se que a atividade lúdica é um bom momento de se avaliar analisando a
criatividade dos alunos.
Na sexta questão, “se você fosse professor, qual o tipo de atividade lúdica
você faria com seus alunos?” eles responderam que:
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Aluno A
“Várias em que todo mundo se divertisse muito”.
Aluno B
“De roda, pedia para cada um inventar uma brincadeira diferente”.
Os jogos são baseados em modelos de situações reais, ou seja, as crianças
querem se divertir, estar livres para correr, saltar, gastar a energia para seu
desenvolvimento físico e motor. Como quaisquer modelos, simplificam a realidade,
recortando-a ao longo de determinadas perspectivas e para determinados fins, onde
através da simulação de situações reais (jogos/ atividades lúdicas) do cotidiano do aluno
podem-se observar as formas com que os mesmos irão se comportar, assim as respostas
acima afirmam que a brincadeira é uma forma de estar apto a aprendizagem.
Na última questão para darem sugestão de jogos que gostaria que fossem
jogados para aprender alguma disciplina, foram variadas não sendo necessário aqui
enumerar todas, pois são de roda, de regras, historinhas infantis, casinha, bola, pique-
pega, dentre outros. A explicação para essas respostas está no fato de os jogos segundo
Bertoldi (2003) possibilitam à criança aprender de forma prazerosa, num contexto
desvinculado da situação de aprendizagem formal.
Através da aprendizagem do próprio jogo, do domínio das habilidades e
raciocínios utilizados, o aluno tem possibilidade de redimensionar sua relação com as
situações de aprendizagem, com o seu desejo de buscar novos conhecimentos. Tem
também a oportunidade, de acordo com Bertoldi (2003, p. 78), de lidar com a frustração
do não saber, com alternativas entre vitórias e derrotas. Estas mudanças na percepção de
si mesmo e do objeto de conhecimento podem ser estendidas às situações de
aprendizagem formal, na medida em que se restabelecem o desejo e a confiança da
criança na sua capacidade de aprender.
Enfim, após a análise do questionário dos alunos, juntamente com as
respostas dos professores tem-se que no processo de ensino-aprendizagem as atividades
lúdicas ajudam a construir uma prática emancipadora e integradora, ao tornarem-se um
instrumento de aprendizagem que favorece a aquisição do conhecimento em
perspectivas e dimensões que perpassam o desenvolvimento do educando.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jogo oferece estímulo e o ambiente necessários para propiciar o
desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos além de permitir que o professor
amplie seus conhecimentos sobre técnicas ativas de ensino e desenvolva suas
capacidades pessoais e profissionais, estimulando-o a recriar sua prática pedagógica.
As atividades lúdicas são elementos valiosos no processo de apropriação do
conhecimento, permitindo o desenvolvimento de competências no âmbito educativo.
Criança, jogo e brincadeira estão intrinsecamente interligadas, mas, em algumas escolas
não é possível notar essa interligação, sendo que a criança tem a necessidade de estar
envolvida por momentos de socialização saudáveis, bem como das suas necessidades de
movimento, expressão e de construção de seu conhecimento a partir do seu próprio
corpo. A escola precisa apreender que a criança sempre está em constante
desenvolvimento.
Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com
vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que
mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança
para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar as
atividades lúdicas na educação significa transpor para o campo do ensino-aprendizagem
condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades
do lúdico, do prazer, da capacidade de indicação e ação ativa e motivadora.
Assumindo a função lúdica e educativa, o brinquedo/brincadeiras é
considerado como um preparo da criança para a vida adulta. Brincando, a criança
aprende, e aprende de uma forma prazerosa, mesmo que apesar da riqueza de situações
de aprendizagens que propicia, nunca se tem a certeza de que a construção do
conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada pelo professor.
Na vivência com as atividades lúdicas, as crianças podem recriar sua leitura
de mundo e o modo de agir. As atividades lúdicas podem ser utilizadas nas tarefas da
angústia/ansiedade, devido que esse sentimento compromete a capacidade de atenção,
de concentração, relações interpessoais, auto-estima, e, desta forma, a aprendizagem;
onde a psicopedagogia dá o amparo que necessita.
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Finalmente, a partir dos resultados obtidos pode-se afirmar que a introdução
de jogos e atividades lúdicas no cotidiano escolar é muito importante, devido à
influência que os mesmos exercem frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos
emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino-
aprendizagem.
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APÊNDICE
QUESTIONÁRIO - PROFESSORES
Sou Iracilda de Araújo Oliveira, aluna do Universidade Cândido Mendes – UCAM do Curso de Pós-graduação em Psicopedagogia e estou concluindo o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, com tema “O papel do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador no processo ensino-aprendizagem” e por isto preciso colher algumas informações que serão confidenciais.
Obrigada, pela sua participação!
1. Como você conceituaria o que são jogos ?
2. Existe diferença entre jogos e brincadeiras?
3. Em sua opinião o uso de jogos na sala de aula como instrumento de avaliação é:
4. Como você utiliza o lúdico no cotidiano escolar sem tirar deste a
espontaneidade, a imprevisibilidade que são uma das características que o
tornam prazeroso e rico?
5. Você importante a utilização de atividades lúdicas?
6. Como utilizar o jogo, o brinquedo sem que estes se tornem um trabalho?
7. De que forma usar o lúdico na sala de aula, nas atividades escolares, no sentido
de contribuir no processo de aprendizagem e no desenvolvimento do aluno?
8. Você considera jogos e brincadeiras importante para o processo de ensino-
aprendizagem?
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QUESTIONÁRIO - ALUNOS
Sou Iracilda de Araújo Oliveira, aluna do Universidade Cândido Mendes – UCAM do Curso de Pós-graduação em Piscopedagogia e estou concluindo o TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, com tema “O papel do psicopedagogo com ênfase no lúdico como facilitador no processo ensino-aprendizagem” e por isto preciso colher algumas informações que serão confidenciais.
Obrigada, pela sua participação!
1. O que você acha sobre o uso de jogos na sala de aula?
2. Quando você está jogando com seus colegas na sala de aula quais os sentimentos
que sente?
3. Quando o professor usa um jogo ou uma atividade diferenciada na sala de aula,
você gosta?
4. Você acha que aprende mais com os jogos e brincadeiras? Por que?
5. Quando você é avaliado através de um jogo ou brincadeira você acha que
aprende mais fácil o conteúdo a ser avaliado? Por que?
6. Se você fosse professor, qual o tipo de atividade lúdica você faria com seus
alunos?
7. Dê a sugestão de jogos que gostaria que fossem jogados para aprender alguma
disciplina?