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O MITO BRIZOLISTA:
AS REPRESENTAÇÕES ATRAVÉS DOS DISCURSOS SOBRE LEONEL
BRIZOLA (1961-1989)
Carla Aparecida Rigo1
INTRODUÇÃO:
O estudo sobre os discursos de representações sobre Leonel de Moura Brizola
faz parte de uma pesquisa que está em andamento, sendo projeto de mestrado em
História pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná- UNICENTRO. Com
isso, buscamos representar o contexto histórico em que este líder esteve engajado na
luta política brasileira, retratando momentos decisivos em que se pôs a frente de
movimentos pela Constituição do Brasil, anos estes compreendidos entre os anos de
1961 até 1989, Ditadura Militar e redemocratização do país.
Para este trabalho, esboçaremos breves contextos que culminaram nas atitudes
adotadas por Brizola no âmbito político, como também retrataremos sua vida particular.
Além disso, traremos discursos sobre esta figura e reportagens, utilizando a revista
VEJA como fonte histórica.
Os objetivos com esse estudo em âmbito geral é compreender como se deram as
construções de representações estabelecidas sobre Leonel Brizola no discurso político,
relacionando sua trajetória de homem público com o momento político brasileiro nos
anos 1961 até 1989.
E de um modo mais específico procuraremos entender qual foi o papel
desempenhado por Leonel Brizola durante a ditadura militar brasileira e sua
participação na campanha da legalidade; Compreender o contexto que culminou na
formação do Partido e as correntes defendidas por Brizola na agremiação; Analisar,
1 Graduada em Licenciatura em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul (2014); Mestranda em História
pela Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná-Unicentro (2015-2017).
E-mail: karla-rigo@hotmail.com
através dos discursos quem foi Leonel Brizola; Compreender, por meio de fontes
históricas como esta figura foi representada e exposta pela mídia brasileira.
A pesquisa terá como metodologia de estudo a análise de documentos que nos
tragam informações detalhadas sobre a vida de Leonel Brizola. Para tal intento será
utilizado como fontes de pesquisa a biografia intitulada “Leonel Brizola: perfil,
discursos e depoimentos (1922-2004”), disponibilizada no “Memorial do Legislativo do
Rio Grande do Sul” (2004)2 e trazendo referências bibliográficas de pesquisadores
considerados referências no estudo da História do Brasil Republicano como Jorge
Ferreira e Ângela de Castro Gomes, que escreveram a obra “1964: o golpe que
derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura militar
no Brasil” (2014) e Marcos Napolitano, em seu livro “1964: a história do regime
militar brasileiro” (2014).
Ainda nos apropriaremos de publicações da revista VEJA que começa circular
no Brasil em 1968 e traz reportagens sobre Brizola, como seu exílio e sua volta após a
Lei de Anistia, jornais da época, como o Banco de Dados do jornal Zero Hora de 1961,
disponibilizado no site ClicRBS3, biografias de Leonel Brizola, como a escrita por
Francisco de Chagas Leite Filho: “El Caudilho: Leonel Brizola, um perfil biográfico”4,
bem como o site do PDT (Partido Democrático Trabalhista)5, que relata a trajetória
política do Brizola, sendo de suma importância para a compreensão do discurso criado
ao se referir à Leonel Brizola.Usaremos ainda, a Revista da Arquidiocese de Porto
Alegre, relatos do Grupo dos onze, disponível online no site “Documentos revelados”.6
Até o momento, é possível perceber que os discursos criados em torno de
Brizola, o colocam em um nível de supremacia, o que poucos políticos conseguiram até
hoje, transformando Brizola em um líder heróico, que buscou defender o território
nacional de uma intervenção militar.
2 http://www2.al.rs.gov.br/memorial/MovimentodaLegalidade/Legalidade_documentos/tabid/5277/Default.aspx 3 KUHN. Dione. O 3º Exército defende a posse de Jango. Banco de dados/ZH. 1961. Disponível em:
<http://www.clicrbs.com.br/especiais/diversos/popup_legalidade_middle_zerohora_quarta.htm#. > Acesso em: 11
nov. 2014 às 21:29hs. 4 FILHO. Francisco de Chagas Leite. EL CAUDILHO LEONEL BRIZOLA: um perfil biográfico. 2ª impressão.
Editora Aquariana. São Paulo. 2008. 5 http://www.pdt.org.br/ 6 http://www.documentosrevelados.com.br/repressao/grupo-dos-onze-companheiros-movimento-liderado-por-
brizola-para-barrar-o-golpe-e-avancar-com-as-reformas-parte-3/
O general Machado Lopes e o governador Leonel Brizola surgiram como
personagens centrais nos episódios da crise de 1961, mas também se
tornaram símbolos, personalidades emblemáticas. Ao se rebelarem contra os
poderosos, o general e o governador fizeram suas escolhas e, por tal atitude,
difícil e inusitada na política brasileira, perderam, na imaginação popular, sua
condição profana, aquela do político ambicioso e particularista e a do militar
elitista e reacionário. Quando se lançaram, com determinação e coragem, na
luta contra os golpistas, ultrapassando a condição “normal” de homens
públicos, as imagens que descreviam o “guerreiro patriota” e o “grande líder”
se alteraram, alcançando uma nova dimensão ontológica: a da sacralidade.
(...). (FERREIRA. 1997. p. 11)
Percebemos um discurso que enaltece a atitude de Brizola de enfrentar os
militares e defender os direitos estabelecidos pela Constituição de homem herói até à
sacralidade do governador para com o país.
(...) como se o discurso, longe de ser esse elemento transparente ou neutro no
qual a sexualidade se desarma e a política se pacifica, fosse um dos lugares
onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis
poderes. Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as
interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o
desejo e com o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso -
como a psicanálise nos mostrou - não é simplesmente aquilo que manifesta
(ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que -
isto a história não cessa de nos ensinar - o discurso não é simplesmente
aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que,
pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar. (FOUCAULT.
1999. p.9)
Portanto, o discurso pode ser usado para obter poder e hegemonia sobre
determinada população ou fato, ele não está necessariamente desvinculado à uma luta e
sim, à algo que se luta, querendo apoderar-se buscando legitimidade.
Em muitas biografias que serão utilizadas como fonte histórica no presente
trabalho, os escritores enaltecem Leonel.
Foi realmente uma pena que Leonel Brizola tenha nos deixado sem eleger-se
Presidente da República. Não era ele, nem o PDT, que perdiam a cada derrota
eleitoral. Na verdade, foi o Brasil que perdeu a oportunidade única de ter nas
rédeas do país um homem íntegro, sincero, coerente, corajoso, realizador,
independente, patriota e com profunda sensibilidade social, características
que certamente o teriam feito um dos melhores presidentes da história desta
Nação. (NOLL et al. 2011. p.6)
Brizola era e continua sendo muito admirado. Seu legado continua presente na
vida de quem conviveu com essa personalidade, bem como quem mesmo não tendo
vivenciado este período, traz consigo, esse sentimento enaltecedor de brizolismo.
TRAJETÓRIA POLÍTICA DE BRIZOLA
A trajetória política de Leonel foi marcada por cargos como Secretário de Obras
da prefeitura de Porto Alegre em 1952, Prefeito de Porto Alegre em 1955, governador
do Estado do Rio Grande do Sul em 1958, governador do Estado do Rio de Janeiro em
1982 (sob a legenda PDT – Partido Democrático Trabalhista – a qual fundou, após
voltar do exílio), em 1984 organizou o comício da Candelária, que culminou no
movimento “Diretas Já”. Em 1990 Brizola é reeleito governador do Rio de Janeiro.
Encerra sua vida política em 2002, quando é derrotado para o senado e acaba apoiando
Luis Inácio Lula da Silva no segundo turno para as eleições presidenciais.
(MANESCHY. OSEAS. S.D7)
Brizola também foi figura destacada na FMP (Frente de Mobilização Popular),
lutando pelas reformas de base principalmente a reforma agrária. Por ter tido grande
influência entre os anos de 1961 e 1964 mostrando autoridade e poder perante um
Estado e também localidades do Brasil, surgiram hipóteses de que Leonel foi um dos
causadores do golpe de Estado, pois seu suposto radicalismo teria assustado os setores
mais conservadores, que o acusavam de querer assumir a Presidência da República
numa presumível ditadura comunista. Essas suposições surgiram do fato de Brizola
defender ideias consideradas radicais e revolucionárias e manter relações com o PCB
(Partido Comunista Brasileiro). Mas, é destacável que para além da figura de Brizola, a
FMP era formada por estudantes, camponeses, políticos nacionalistas, que lutavam por
causas consideradas revolucionárias e tinham Brizola como um líder para defender os
objetivos e ideias do grupo. (FERREIRA. S.D. p.2)
Brizola foi um destacado líder político na Campanha da Legalidade (1961), na
qual conseguiu reunir inimigos e adversários políticos em torno de uma luta pela
7Sem data de publicação
democracia. Mobilizou a capital do Estado do Rio Grande do Sul, bem como cidades do
interior, como Passo Fundo e Nonoai para que a Constituição fosse cumprida,
acreditando nas pessoas e nos objetivos propostos. (FERREIRA. 1997.p.7)
A população do Rio Grande do Sul viveu, naqueles dias, um momento muito
particular de sua história política. Para explicarem e racionalizarem os
acontecimentos, plenos de ameaças e perigos, diversos grupos sociais
elaboraram representações em que sentimentos de identidade e de exclusão
tornaram-se elementos constitutivos de um mesmo imaginário político. Ao
lado da sensação de se verem excluídos- ou de se excluírem- de uma
comunidade maior, como o próprio país, perceberam também a força
simbólica que os unia, a crença de uma identidade própria e o mesmo destino
que partilhavam. Surgiu, entre os vários segmentos da sociedade rio-
grandense, a possibilidade de trabalharem simbolicamente o paradigma
utópico, cujo primeiro movimento é o de “reivindicar o seu direito próprio a
pensar, imaginar e criticar o social e, designadamente, o político”. A intensa
participação política de grupos sociais organizados, o entusiasmo popular e a
convicção dos ideais que defendiam permitiram à sociedade gaúcha
imaginar-se como auto-instituída, ou seja, como uma reunião de indivíduos
não submetidos a qualquer coação, interna ou externa, constituindo-se como
“uma comunidade detentora de todo o poder sobre si própria” (FERREIRA.
1997. p. 9)
Leonel com seus discursos despertou nos gaúchos o sentimentalismo do “não
excluído”, reacendendo os objetivos comuns dos cidadãos, de fazerem parte de uma
sociedade e da lutar pela democracia garantindo os direitos constitucionais. Além disso,
reavivou uma identidade própria que os fez sentir-se parte de uma nação.
ANO DE 1961 E A CAMPANHA DA LEGALIDADE
Em 1961 Jânio Quadros, Presidente do Brasil renuncia seu cargo numa tentativa
de “autogolpe”. Ele acreditava que o povo sairia às ruas pedindo sua volta, já que o
mesmo o elegera com expressiva votação, o chamaria de volta à Presidência, o que não
ocorreu. Assume o cargo provisoriamente Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara dos
Deputados, pois o vice Presidente encontrava-se na China (Comunista) em uma ação
diplomático-comercial. João Goulart ao retornar para o país em setembro do mesmo
ano assume o cargo sofrendo grandes desconfianças de grupos políticos conservadores,
pois estes acreditavam que ele colocaria em risco a Segurança Nacional e instalaria o
comunismo. Jango governou até 1964 quando foi deposto por uma junta militar que
tinha apoio de vários setores da sociedade e também dos Estados Unidos da América.
(NAPOLITANO. 2014. p. 32)
Os norte-americanos temiam que o Brasil tendo grande influência na América
Latina se tornasse a segunda Cuba. Esse medo era alimentado por atitudes anteriores
dos Chefes de Estado, como o fato de que Jânio havia condecorado Che Guevara e
Jango, por sua visita oficial, à China Comunista. Caso isso ocorresse no Brasil,
provavelmente se estenderia para o restante da América do Sul, é o que afirmavam os
governantes dos Estados Unidos da América.
Os EUA queriam manter domínio ideológico, econômico e político sobre o
Brasil, e para isso financiou a oposição a Jango para que ele deixasse a Presidência
atuando inclusive no financiamento de campanha de diversos parlamentares opositores
ao governo federal. “Entre os anos de 1961 e de 1964, uma média anual de 5 a 7 mil
norte-americanos entre voluntários bem-intencionados dos Corpos de Paz e mal-
intencionados espiões da CIA vieram para o Brasil”. (NAPOLITANO. 2014. p. 59)
Enquanto os norte-americanos interviam no país, no Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola começava a organizar a chamada Campanha da Legalidade. Esse movimento
exigia que a Constituição deveria ser respeitada, ou seja, que João Goulart deveria
assumir a Presidência. Sendo assim, com a renúncia de Jânio e um possível golpe de
estado com intervenção militar, inicia-se uma resistência no Sul do país para que o
Vice-Presidente tomasse posse de seu cargo.
Inicialmente, centenas de pessoas, liderando inúmeros grupos de resistência,
alojaram-se no Mata-borrão. As refeições eram doadas por armazéns, bares e
restaurantes. A todo momento chegavam pessoas que, voluntariamente,
entregavam seus pequenos caminhões, automóveis ou motocicletas para
formar a “frota da legalidade”. Um proprietário de uma rede de postos de
gasolina entregou “vales” ao Comitê, permitindo que a frota fosse abastecida
gratuitamente. Com o passar das horas, mais pessoas se inscreviam no
Comitê do Mata-borrão. Calcula-se que, até a meia noite do dia 30 de agosto,
45 mil voluntários tenham se apresentado. Embora armados com revólveres,
não se têm notícias de incidentes entre os voluntários. Segundo Norberto da
Silveira, até mesmo a criminalidade diminuiu naqueles dias, permitindo à
Polícia Civil voltar sua atenção para a resistência política ao golpe.
(FERREIRA. 1997. p.6 e 7)
Nota-se o engajamento dos Sul Rio-grandenses para evitar o golpe de Estado.
Leonel Brizola que ficou a maior parte do tempo no Palácio do Piratini esperando um
possível ataque conseguiu reunir milhares de pessoas na Praça Matriz em Porto Alegre,
mobilizando a população para a posse de João Goulart, inclusive articulando estratégias
políticas com inimigos e adversários políticos. (FERREIRA. 1997. p.8).
No dia 31 de agosto o Senado e a Câmara dos Deputados discutiram uma
emenda parlamentar, sendo que foi aprovada na madrugada do dia 1º de setembro,
consistindo na mudança do Brasil para um sistema parlamentarista. 8
Ao chegar a Porto Alegre, Jango não se pronuncia sobre tal acontecimento,
deixando a população gaúcha decepcionada e estarrecida com tal posicionamento,
acarretando em uma revolta, sendo retiradas as faixas favoráveis a sua posse que
encontravam-se na praça de Porto Alegre. João Goulart optou por aceitar o sistema
imposto a uma guerra civil. Essa atitude de Jango não apenas afrontou os desejos dos
gaúchos, como também do Líder Leonel Brizola, que esperava que o Presidente se
impusesse sobre tal fato. (FERREIRA. 1997. p.23)
João Goulart assume seu cargo e passa a governar sob um regime
parlamentarista, tomando posso do dia 7 de setembro de 1961 em uma sessão solene no
Congresso Nacional.
Em seu discurso de posse, Goulart enfatizou o intuito de conciliar um país
esgarçado, mas que, no calor daquela grave hora, conseguiria formar uma
grande união nacional. Portanto, o momento aconselhava “dissipar ódios e
ressentimentos pessoais, em beneficio dos altos interesses da Nação”. Para o
presidente, não havia razão para pessimismo: “A nossa grande tarefa é a de
não desiludir o povo, e para tanto devemos promover, por todos os meios, a
solução de seus problemas, com a mesma dedicação e o mesmo entusiasmo
com que ele soube defender a Lei, a Ordem e a Democracia”. (FERREIRA.
GOMES. 2014. p.41)
Assumindo o cargo, Jango queria conciliar todos os setores da sociedade para
manter um convívio amigável e devolver a confiança que foi depositada à ele,
organizando o país com dedicação e comprometimento.
8 Ibid., p. 22
Em 1963 acontece um plebiscito para decidir qual sistema permaneceria no país,
o parlamentarista ou voltar ao presidencialista. Por maioria de votos o segundo sistema
voltaria vigorar no país.
Goulart incentivava as empresas nacionais, para isso investia capital público
nestes setores. Os investimentos de multinacionais no país sofreram restrições, pois
Jango havia adotado uma política de valorização do mercado interno, buscando a
nacionalização de empresas estrangeiras.
O Presidente decidiu criar um sistema de reformas de base para pôr fim a crise
que se instalara no país, sendo que essas mudanças ocorreram no sistema agrário,
tributário, administrativo, bancário e educacional. E para dar essa notícia e pedir apoio
aos brasileiros foi realizado um comício no Rio de Janeiro, o que causou ainda mais a
fúria da oposição, acusando-o de comunista. Começa assim, uma luta contra Jango no
poder.
O GOLPE
Em meio a tantas pressões internas e externas, no dia 1º de abril de 1964, João
Goulart foi deposto e assume a Presidência Ranieri Mazzili, então Presidente da Câmara
dos Deputados. Os EUA enviaram tropas do exército, aviões, navios que estavam
prontos para o ataque caso Jango resistisse, essa operação ficou conhecida como
“Operação Brother Sam”. Passado 15 dias do golpe, através do primeiro Ato
Institucional assume a Presidência o primeiro dos presidentes militares, Humberto de
Alencar Castelo Branco, que teve apoio dos norte-americanos e da oposição a Jango. O
ato ainda previa a cassação de mandatos e suspensão de direitos políticos.
Castelo Branco criou o SNI (Serviço Nacional de Informação), instalou o FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e o INPS (Instituto Nacional de Previdência
Social). Devido à crise econômica que estava presente no país, Castelo Branco
incentivou a vinda de empresas estrangeiras para o país, pois acreditava que o capital
estrangeiro geraria lucro para o país. (ALVES. 2005. p.117).
Em 1967 Artur Costa e Silva é indicado para assumir a Presidência e instala em
seu governo um regime ainda mais autoritário. Neste período, vários grupos da
sociedade começam a ficar insatisfeitos com o modo que estava sendo conduzido o país,
sendo assim inicia-se algumas reivindicações. Os estudantes tiveram participação
importante neste contexto em busca da democracia. “Os universitários eram contra o
acordo do Ministério da Educação (MEC) com uma instituição americana (o USAID)
para controlar o sistema educacional do país, que estava inclinado à privatização”
(ALVES. 2005. p.141).
Com as manifestações crescendo por todo o Brasil, Costa e Silva decretou o Ato
Institucional 5, que ocasionou a prisão de grupos políticos da oposição, tortura e
perseguição. Além disso, os presos políticos não tinham direito a habeas corpus e
grande parte de seus direitos estavam suspensos. (ALVES. 2005. p.161)
Após Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici assume o poder em 1969 sendo
um dos governos militares mais rigorosos. Neste período estavam proibidas
manifestações, reivindicações salariais ou qualquer expressão contra o governo9. Além
disso, seu governo ficou conhecido pelo “milagre econômico”.
A crise econômica estava instalada no país mesmo antes do Golpe de Estado,
para tentar solucionar o problema, Médici proporciona um crescimento econômico que
ficou conhecido como Milagre econômico, ocorrendo investimentos no setor industrial
e aumento da exportação de produtos. Esses recursos eram provenientes de empréstimos
estrangeiros. (NAPOLITANO. 2014. p.150)
Com o fim do governo Médici, quem assume o poder em 1974 é Ernesto Geisel,
que começa um lento processo de democratização no país. Seu governo foi marcado por
um processo político de “distensão” e de “abertura”. (NAPOLITANO. 2014. p.232)
O último governo militar foi João Figueiredo que assumiu o poder em 1979,
sendo um período de transição do governo ditatorial para o democrático. Neste contexto
houve uma abertura política no país, deixando de existir o bipartidarismo e outros
partidos puderam ser criados como o PT (Partido dos Trabalhadores) e PDT (Partido
Democrático Trabalhista). Em 1982 o voto direito para governadores voltou a vigorar.
Em 1984 os brasileiros lutaram para que as eleições para Presidente fossem
diretas, ocorrendo várias manifestações no país. Este movimento ficou conhecido como
9 No governo de Médice foi criado o Ato Institucional nº 14, que determinava a pena de morte para os subversivos,
caso comprovada a participação em atos de terrorismo.
Movimento das Diretas Já. No dia 25 de abril do mesmo ano a emenda para eleições
diretas é posta em votação, sendo rejeitada pelo Congresso Nacional. (NAPOLITANO.
2014. p.308)
No ano de 1985 Tancredo Neves foi eleito pelo colégio eleitoral para assumir a
Presidência, sendo que faleceu antes mesmo de assumir o cargo, o novo Presidente de
Brasil então foi José Sarney. Sendo este o fim da Ditadura Militar Brasileira que durou
21 anos. “Era o começo de uma Nova República, tendo à frente José Sarney um
presidente imprevisto, tutelado pelos militares, mas que prometia recuperar as
liberdades democráticas plenas e instaurar um processo constituinte”. (NAPOLITANO.
2014. p.311 e 312).
REDEMOCRATIZAÇÃO LENTA E GRADUAL
Como visto anteriormente, inicia-se no Brasil um processo de redemocratização
no período governado pelo militar João Batista Figueiredo. Pouco antes, ainda no
governo Geisel, Figueiredo já havia começado uma política de liberação, onde a
oposição como a CNBB10, OAB11 e ABI12 teve destaque e participação, ampliando o
espaço político e questionando a legitimidade do Estado de Segurança Nacional.
(ALVES. 2005. p. 274)
O ano de 1979 é marcado como um passo em direção a liberdade, a Lei da
Anistia Política é promulgada, trazendo exilados de volta ao país. Porém, cabe salientar
que essa anistia era parcial e não total, na qual não incluía nomes de lideranças políticas
como Luis Carlos Prestes e Leonel Brizola. (NAPOLITANO. 2014. p. 281).
Somente em setembro de 1979 é que Brizola retorna ao país, tendo a seguinte
manchete de capa na revista VEJA13 de 12 de setembro de 1979: Brizola chega ao
Brasil, com seu PTB. Conciliação ou confronto. Na página 19, Carta ao Leitor, destaca
a chegada de Brizola e de Arraes, que agora tinham novamente a cidadania brasileira e
10 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 11 Ordem dos Advogados do Brasil. 12 Associação Brasileira de Imprensa. 13 https://acervo.veja.abril.com.br/index.html#/archive/1979/9. Acesso 10/05/2016. às 16:00hs
que podiam interferir na política brasileira. Destaca ainda, que as encenações em torno
das duas figuras públicas estavam fortes, fazendo crítica a esses posicionamentos, como
se a vinda dos dois mudasse o percurso da história.
Também nesse período, além da volta de exilados, ocorreu uma mudança no
cenário partidário. Tendo uma ascendência de políticos ligados ao MDB e com receio
de uma resistência política, o governo então do partido ARENA, cria a Lei Orgânica dos
Partidos, permitindo novas agremiações com o intuito de dissipar a oposição que por ter
um grande contingente de políticos ganharia naquela ocasião o controle do Congresso
Nacional. (ALVES. 2005. p. 322)
É possível que a Nova Lei Orgânica dos Partidos tenha tido efeito contrário
ao almejado, na medida em que permitiu a politização daqueles mesmos
sindicatos, associações e outras organizações da sociedade civil que o
General Golbery desejara “devolver a seus papéis formais” e afastar da
política. A tentativa de evitar e controlar a atividade política desencadeou
novas energias oposicionistas de um modo que o Estado não esperava nem
pretendia (...). (ALVES. 2005. p. 326)
A criação de novos partidos políticos não saiu como o esperado pelo governo,
pois aflorou movimentos contrários a este, criando uma sociedade politizada e
envolvida em discussões sobre a política nacional.
As eleições para governador de Estado mostrou o quão frágil ficou o governo
militar diante das mudanças partidárias. “Mas a maior surpresa das eleições de 1982 foi,
talvez, no Rio de Janeiro, onde o candidato do PDT a governador, Leonel Brizola,
venceu por margem superior a 200 mil votos”. (ALVES. 2005. p. 343).
A reportagem da revista VEJA de 6 de outubro de 198214, mostra as
prerrogativas que colocam Brizola na frente na disputa eleitoral, dizendo que era a
corrida eleitoral mais apaixonada e previsível do Brasil. Esboça o pensamento de que
votar em Brizola é reacender a chama de oposição, apoiando as críticas ao governo
federal e estadual e mais, anistiar aventuras anistiadas, como a conexão com Cuba.
14 https://acervo.veja.abril.com.br/index.html#/edition/33814?page=18§ion=1. Acesso 10/05/2016. As 18:40hs.
Notamos assim, que o processo de redemocratização passou por períodos
conturbados, havendo interrupções de partidos que buscavam o fortalecimento
individual. Com a forte pressão popular, os governantes não conseguiram manter-se no
poder, tendo de buscar maneiras de continuar no governando, elegeram então,
indiretamente um Presidente que não chegou a assumir, passando o cargo para Sarney
que viabilizou formas da democracia voltar a pairar sob o território brasileiro. A mais
significativa delas foi à promulgação da Constituição brasileira em 1988, que é
considerada “Constituição Cidadã15” que privilegia os direitos do povo brasileiro.
CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Este trabalho é apenas o início de uma discussão acerca da política nacional e a
construção de discursos sobre Leonel Brizola. Esboçamos aqui um breve relato do que
será a primeira parte da pesquisa, contextualizando o período histórico que está em
foco.
Fica evidente que o trabalho está em andamento por não haver uma análise sobre
estes discursos. Mas salientamos que a revista VEJA terá destaque na pesquisa, pois ela
está sempre no foco das discussões e privilegiando um dos lados da história até nos dias
atuais.
Portanto, ao final desta pesquisa é possível verificar que Leonel Brizola esteve
engajado nas políticas nacionais brasileiras, defendendo o povo e as garantias
constitucionais do país, que esteve à frente pela democracia e que despertou no
brasileiro um sentimento de nacionalidade, de pertencimento que o faz estar presente no
cenário político atual em memória e que a partir disso os discursos sobre ele são
criados, como forma de mantê-lo vivo nas suas convicções e postura política.
15 PREÂMBULO: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos,
sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERREIRA JORGE: Brizola em Panfleto: As ideias de Leonel Brizola nos últimos
dias do Governo de João Goulart. São Paulo, Projeto História. n.36, p. 103-122, jun.
2008
FERREIRA. Jorge: A Legalidade Traída: os Dias Sombrios de Agosto e Setembro
de 1961. Rio de Janeiro, Tempo.Vol. 2, n °3, 1997, pp. 149-182
GOMES, Ângela de Castro. Uma breve história do PTB. Rio de Janeiro: CPDOC,
2002. Trabalho apresentado na Palestra no I Curso de Formação e Capacitação Política,
realizado na Sede do PTB. São Paulo, 13.jul.2002.
FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro: 1964: O Golpe Que Derrubou Um
Presidente, Pôs Fim Ao Regime Democrático E Instituiu A Ditadura No Brasil. Rio
de Janeiro. Editora: Civilização Brasileira. Edição: 1Ano: 2014
NAPOLITANO. Marcos. 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo.
Editora Contexto. 2014.
FOUCAULT. Michel. A ordem do discurso. São Paulo. Editora Loyola. 5ª ed. 1999.
PINSKY, Carla. Fontes Históricas. 2. ed. 2ª impressão. São Paulo: Contexto, 2008
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil 1964-1984. Bauru:
EDUSC, 2005
FILHO. Francisco de Chagas Leite. EL CAUDILHO LEONEL BRIZOLA: um
perfil biográfico. São Paulo. 2ª impressão. Editora Aquariana. 2008.
Constituição Brasileira:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
Acesso 11 mai. 2016. às 18hs.
Acervo Revista Veja:
https://acervo.veja.abril.com.br/index.html#/archive
Acesso: 10 mai.2016. Às 14:00hs
Vida e obra de Leonel de Moura Brizola. (S.D).
Disponível em:<http://www.pdt-rj.org.br/paginaindividual.asp?id=112>
Acesso em 10 mar. 2016 às 22:00
Leonel Brizola. (S.D).
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