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JOYCE ELINE E SILVA R.A. 2208106942
O IMPACTO DO TWITTER NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
SÃO PAULO – 2011
JOYCE ELINE E SILVA R.A 2208106942
O IMPACTO DO TWITTER NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
Trabalho de conclusão de curso apresentado
como exigência parcial, para a obtenção do
grau de Bacharel no curso de Comunicação
Social com habilitação em Jornalismo da
Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
Orientadora: Prof. Drª. Rosângela Paulino de
Oliveira.
UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO
SÃO PAULO - 2011
O IMPACTO DO TWITTER NO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
Por
JOYCE ELINE E SILVA
Trabalho de conclusão de curso apresentado
como exigência parcial, para a obtenção do
grau de Bacharel no curso de Comunicação
Social com habilitação em Jornalismo da
Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
Orientadora: Prof. Drª. Rosângela Paulino de
Oliveira.
_________________________________________________
Presidente: Profª. Drª. Rosangela Paulino de Oliveira – Orientadora, UNINOVE
SÃO PAULO, 02 DE DEZEMBRO DE 2011
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela capacidade de
desenvolver esse trabalho e principalmente por permitir que eu convivesse com
pessoas extraordinárias e que me apoiaram durante todo esse período de batalha.
Aos meus pais e meu irmão por todo o apoio, carinho e paciência. Agradeço
por acreditarem no meu potencial, por investirem em minha educação e serem o
meu maior exemplo de luta e conquista. Obrigada por respeitarem a minha opção
pela carreira jornalística.
Agradeço também aos meus avós, especialmente a minha avó Maria, que
junto com meu avô José (em memória), sempre me ensinou o valor da educação e
integridade.
A professora e orientadora Drª Rosângela Paulino de Oliveira, pelo
acompanhamento, paciência e preciosos conselhos.
A todos os colegas de classe, amigos e aqueles que de alguma forma
contribuíram para que esse trabalho fosse realizado.
Não existem locais remotos. De acordo com os meios de comunicação atuais, tudo é agora.
Herbert Marshall McLuhan
RESUMO
A presente monografia analisa a prática jornalística da Folha de S. Paulo no Twitter,
com foco no relacionamento com seus leitores. Foram observados os fenômenos da
expansão e da velocidade da internet que permitiram aos os veículos jornalísticos
alcançarem um novo público, divulgar a notícia de forma instantânea e suas
adaptações a essa nova tecnologia. Abordamos o contexto de busca pela produção
e distribuição da notícia em tempo real que emergiu a prática do webjornalismo. A
Folha de S. Paulo, um dos maiores jornais em circulação no Brasil foi um dos
pioneiros a adotar essa prática e a disponibilizar o conteúdo do jornal impresso em
seu website. A partir do ano 2000 essa prática passou a ser cada vez mais utilizada
pelos jornais ao redor do mundo, criando até mesmo uma concorrência entre os
portais de notícias e os jornais impressos. Com a popularização das redes sociais,
suas ferramentas de compartilhamento instantâneo e ambiente favorável ao
desenvolvimento da inteligência coletiva, os jornais passaram também a participar
dessas redes. Para uma melhor análise dos fatos, fizemos uma comparação entre
os perfis criados pelos dois principais veículos jornalísticos do estado de São Paulo,
@folha_com (perfil de Folha de S. Paulo) e @estadao (perfil de O Estado de S.
Paulo) na rede social de microblog Twitter.
Palavras - chave: webjornalismo; redes sociais; inteligência coletiva; Twitter; Folha
de S. Paulo; O Estado de São Paulo
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Ilustração da primeira edição do jornal Folha da noite..........................12
FIGURA 2 - Ilustração do Twitter de @folha_com....................................................28
FIGURA 3 - Ilustração de tweet de @folha_com com link de redirecionamento
para o portal de notícias........................................................................28
TABELA 1 - Editorias, perfis, números de seguidores e de contas seguidas no
Twitter....................................................................................................29
FIGURA 4 - Ilustração de tweet de @folha_com retweetado por 33 seguidores......29
FIGURA 5 - Ilustração de matéria publicada no site Folha.com com ícone de
compartilhamento do Twitter..................................................................30
TABELA 2 – Análise dos perfis de @folha_com e @estadao feita no período de
10 a 11 de novembro..............................................................................31
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
1. DO JORNALISMO COLONIAL AO JORNALISMO ONLINE.............................09
1.1 O INÍCIO DO JORNALISMO NO BRASIL...........................................................09
1.2 SURGE O GRUPO FOLHA.................................................................................12
2. O JORNALISMO NA WEB..................................................................................15
2.1 A WEB SE TORNA 2.0, A WEB DA INTERATIVIDADE......................................18
2.2 JORNALISMO MÓVEL........................................................................................19
2.3 BLOGS............................................................................................................... 19
2.4 A POPULARIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS......................................................20
3. A INTELIGÊNCIA COLETIVA NO CIBERESPAÇO...........................................22
3.1 CONCEITO DE CIBERESPAÇO............................................................... ..........22
3.2 A INTELIGÊNCIA COLETIVA NO TWITTER.....................................................24
4. ESTUDO DE CASO – O USO DO TWITTER PELA FOLHA DE S. PAULO.....28
4.1 ANÁLISE................................................................................ .............................31
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................35
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar o comportamento do perfil do jornal
Folha de S. Paulo na rede social de microblog Twitter.
As redes sociais de microblog, embora muito usadas atualmente como um
rápido meio de obter e compartilhar informações não se caracterizam por si só como
um veículo jornalístico, porém, muitos veículos de informação passaram a utilizá -lo
na prática que atualmente é chamada de microjornalismo.
A observação desse grande fluxo de informações que transitam no microblog
Twitter remete à importância de analisar os modos de participação, divulgação da
notícia, relacionamento com o leitor e o impacto dessa rede social de internet e de
que forma ela pode mostrar-se aliada de um grande e tradicional veículo jornalístico
como a Folha de S. Paulo.
Embora no Twitter nem todas as fontes sejam confiáveis, o jornalista pode
filtrar, analisar e escolher a melhor forma de interpretar as informações divulgadas
nessa mídia. Esses dados, quando bem analisados no microblog, podem tornar-se
uma ferramenta auxiliar do jornalismo digital, e também das mídias tradicionais, no
que se refere a cobertura em tempo real, capacidade e rapidez na disseminação de
notícias, compartilhamento de links, complementação de uma reportagem e
principalmente proximidade do público.
Para compreender a adaptação e convergência da Folha de S. Paulo ao meio
web e sua relação com as mídias sociais, o trabalho levanta em seu primeiro
capítulo, um histórico das principais mudanças do jornal Folha de S. Paulo ao longo
de suas nove décadas de existência, levando em conta sua linha editorial,
adaptação a novas tecnologias e seu comportamento frente às transformações
sociais e dos meios de comunicação.
No segundo capítulo abordamos os processos de migração de veículos
jornalísticos para a internet, suas adaptações ao webjornalismo nos primeiros anos e
como se deu esse processo de convergência e adaptação de conteúdo.
Aspectos importantes a serem considerados e que dizem respeito à mudança
da prática jornalística, produção e disseminação de conteúdo na web 2.0,
caracterizada por novas ferramentas colaborativas são levantados nesse capítulo.
Ainda falando de participação, abordamos a popularização das redes sociais
e as características que as tornam favoráveis ao uso jornalístico, como a rapidez na
divulgação das notícias.
O terceiro capítulo apresenta o conceito de inteligência coletiva usado por
Pierre Lévy e os meios através dos quais esse fenômeno se desenvolve no
ciberespaço.
Contextualizado esse conceito, passamos a analisar como ele ocorre na rede
social de microblog Twitter e como as suas redes e seu design colaborativo
favorecem esse fenômeno.
No quarto capítulo passamos a observar o comportamento do perfil
@folha_com criado pela Folha de S. Paulo no microblog. Analisamos a forma como
o veículo divulga as notícias e principalmente o nível de interação estabelecido com
os leitores.
Finalmente apresentamos uma análise relacionando os propósitos e os fluxos
de interatividade no microblog, o uso que o jornal Folha de S. Paulo tem feito nessa
rede social e como esse uso tem influenciado no jornalismo desse veículo.
1. DO JORNALISMO COLONIAL AO JORNALISMO ONLINE
1.1 O INÍCIO DO JORNALISMO NO BRASIL
Para poder analisar a trajetória de um veículo de comunicação com ce rca de
nove décadas de existência, torna-se primordial analisar a história que precede seu
surgimento em termos de imprensa e contexto social.
A imprensa no Brasil surge tardiamente e enfrentando muitas dificuldades,
cerca de 200 anos depois de países como os Estados Unidos e até mesmo outras
colônias. Estudiosos afirmam que esse atraso se deu devido graças à ausência do
capitalismo e da burguesia.
Se observarmos os países nos quais a imprensa se desenvolveu
rapidamente, há de se notar que naquele contexto já começava a se desenvolver o
capitalismo.
O primeiro jornal oficial a circular no Brasil data de 1808. “A Gazeta do Rio de
Janeiro”, sem atrativos para o público, pois tratava basicamente de assuntos
relacionados à Europa e a Família Real. De forma parcial, seu foco era ressaltar as
qualidades dos nobres portugueses. Tal linha editorial não poderia ser diferente,
uma vez que os textos eram extraídos dos jornais de Lisboa, os quais tinham como
claro objetivo agradar a Familia Real.
Em contra partida a essa linha editorial caracterizada pela falta de
imparcialidade surge o jornal não oficial “Correio Brazi liense” que publicava
conteúdos críticos, como o trecho abaixo:
“O primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela e cada um deve, segundo suas forças físicas ou morais, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos ou talentos que a natureza, a arte ou a educação lhe prestou. O indivíduo que abrange o bem geral duma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela: as luzes que ele espalha tiram das trevas ou da ilusão aqueles que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia e do engano. Ninguém mais útil, pois, do que aquele que se destina a mostrar com evidência os acontecimentos do presente e desenvolver as sobras do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas
públicas quando estes, munidos de uma crítica sã e de uma censura adequada representam os fatos do momento, as reflexões sobre o passado e as sólidas conjecturas sobre o futuro.” ( Primeiro parágrafo do exemplar nº 1 do Correio Braziliense – junho de 1808 ).
O jornal era redigido por Hipólito José da Costa, brasileiro que escrevia
foragido na Inglaterra. Chegou até a enfrentar críticas pelo fato de redigir o periódico
em outro país, porém, atribuía a publicação distante à censura existente no Brasil e
consequentemente ao risco que os redatores corriam nessa época. A repressão por
parte das autoridades era grande o que levou à proibição da circulação do jornal em
território nacional.
Os exemplares, que possuíam cerca de 100 páginas chegavam ao Brasil
clandestinamente. Dentro de sua linha editorial estavam temas que afetavam o
Brasil, Inglaterra e Portugal. Porém, hoje podemos avaliar que a publicação se
aproximava mais de uma revista do que um jornal, devido a sua periodicidade
mensal, volume de páginas e informações.
Por volta de 1820, as perseguições por parte dos súditos e subordinados da
Coroa encerraram e o mesmo pode circular livremente no Brasil. No entanto, o seu
papel crítico não era tão forte como antes, devido ao surgimento de novos jornais
que poderiam refletir mais de perto opiniões sobre a Coroa.
Em São Paulo o primeiro jornal surge em 1827, um pouco tarde se
comparado com cidades como o Rio de Janeiro, que já possuía nove veículos
impressos. “O Farol Paulistano” começou a circular em 2 de fevereiro desse ano,
quando também foi fundada a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Esta
teve uma grande influência na cultura da cidade na metade do século XIX. Nomes
como Rangel Pestana e Teófilo Otoni foram fundamentais na disseminação de
periódicos literários.
A partir daí, outros jornais começaram a surgir pelo Brasil, tanto como
observadores, como na forma de veículos que interferiram de alguma forma na
sociedade.
Exemplos são jornais como “A República”, datado de 1870, que tornou-se
famoso por publicar o Manifesto Republicano. Outro foi o “Correio Paulistano”, que
tratava de temas como a abolição e a República.
Em janeiro de 1875 começava a circular “A província de S. Paulo”, que logo
mais se tornaria “O Estado de S. Paulo”, um dos principais concorrentes da “Folha
de S. Paulo”. O jornal, assim como “O Correio Paulistano”, surgiu com o intuito de
combater a escravidão e a monarquia. O momento da inauguração era propício, pois
a cidade de São Paulo passava por uma época de desenvolvimento e crescimento
urbano.
Um fato marcante para o jornalismo nacional foi a criação da Associação
Brasileira de Imprensa, em 1908. O objetivo era defender as causas dos jornalistas e
profissionais de imprensa de forma neutra. Os idealizadores da associação foram
Gustavo de Lacerda, Mário Galvão e Amorim Júnior que acreditavam que os jornais
não cumpriam seu papel social. Na época esses veículos costumavam defender os
interesses empresariais e apenas visavam o lucro de se seus proprietários. A
associação sofreu resistência no início, pois os participantes eram classificados
como anarquistas, porém, com o tempo e em busca por uma instituição que os
defendessem e representassem. Os jornalistas da época foram aderindo à entidade
aos poucos.
Na primeira década do século XX, junto com a expansão industrial e o
desenvolvimento da cidade de São Paulo, surgem as primeiras grandes empresas
jornalísticas. Um exemplo é “A Gazeta”, dirigida por Adolfo de Araújo, que chegaria
às mãos de Cásper Líbero em 1918.
O momento era bom para a imprensa paulista. São criados diversos veículos,
principalmente revistas. Entre elas, “A Cigarra”, de Gelásio Pimenta, uma das mais
famosas na história da imprensa brasileira. Nomes como Olavo Bilac e Plínio Barreto
colaboravam para os textos da revista.
1.2 SURGE O GRUPO FOLHA
É nesse contexto de consolidação da fase industrial no Brasil, no período pós-
Primeira Guerra Mundial que surge o grupo Folha.
Em 19 de janeiro de 1921, Olival Costa e Pedro Cunha criam a “Folha da
Noite”. Organizado como uma empresa, no início, procurava criticar os serviços
públicos. A redação era localizada à Rua São Bento, no centro de São Paulo e a
impressão dos exemplares era feita na oficina do “O Estado de S. Paulo”.
Figura 1. Ilustração da primeira edição do jornal Folha da noite.
Em de 24 de outubro de 1930, a multidão que comemorava a deposição do
presidente Getúlio Vargas depredou as instalações da Folha. Máquinas de escrever
e móveis foram incendiados como forma de protesto ao veículo que apoiava o ex-
presidente.
Nos anos seguintes muitas mudanças importantes ocorreram no grupo, como
a criação de um novo jornal, o “Folha da Manhã”, versão matutina da “Folha da
Noite”. Porém, nos anos seguintes, uma das mais importantes ocorreu na linha
editorial, quando o jornal foi vendido ao cafeicultor Octaviano Alves Lima. A partir
daí, as matérias passaram a reproduzir os interesses liberalistas e em oposição ao
Estado Novo. Entre outras modificações, veio também um novo nome para o grupo,
que passa a ser chamado de “Folha da Manhã”.
Entre os fundamentos do bom jornalismo está a imparcialidade, porém, é
possível observar que não foi o que ocorreu no ínicio da história da imprensa em
nosso país
O jornalista deve ter suas opiniões, mas saber respeitar as opiniões dos outros; dever perseguir a imparcialidade, as várias versões sobre o mesmo fato, ouvindo todos os lados envolvidos na notícia. (STEINBERGER, 1998,
p:24).
Sendo assim, apenas cerca de 130 anos após o surgimento da imprensa no
Brasil, na década de 40, quando o controle do jornal passou às mãos de José
Nabatino Ramos, a Folha determinou como objetivo buscar a imparcialidade.
Nessa segunda metade do século, a imprensa passa a produzir num ri tmo
muito mais acelerado e logo aumenta o seu número de tiragens e as empresas
passam a priorizar a especialização dos jornalistas.
A linha editorial apresentava matérias de interesse da classe média, com
assuntos como saúde e educação.
Durante um longo período, a “Folha de S.Paulo” mostrou-se um jornal sem
grande projeção no cenário nacional. Devido algumas dívidas, em 13 de agosto de
1962, e enfrentando uma greve dos jornalistas, José Nabatino viu-se obrigado a
vender seu jornal aos empresários Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho.
É nesse período também que se inicia o processo de modernização do parque
gráfico e o jornal passa a ser impresso em cores.
Nos anos 70, ainda durante o regime militar, a “Folha de São Paulo” publicou
em suas páginas textos de escritores perseguidos pela ditadura, e se dizia a favor
da redemocratização do país. Porém trechos de suas publicações da época
demonstram que no início, a postura do grupo Folha era outra.
Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama. (Trecho da Folha de S. Paulo, publicado em 22 de setembro de 1971).
O próprio diretor de redação na época, Otavio Frias Filho, afirmou que a Folha
não sofreu censura por motivos de natureza financeira e, por isso, não tiveram
censores atuando dentro de suas redações, como ocorreu em diversos outros
veículos que se opuseram ao regime militar.
A seguir, em 80, passa o jornal com maior distribuição no território Brasileiro.
A década também é marcada pela informatização da redação de forma pioneira no
país. Criou-se em 1984 o Manual de Redação da Folha.
Um fato importante nessa época é a criação do instituto Data Folha, criado
inicialmente para fazer pesquisas e coletar dados relacionados às eleições e
assuntos de opinião pública, porém depois passa a ser um órgão independente que
atende a clientes externos também.
A década seguinte foi marcada por inovações no grupo Folha. Uma nova
reforma gráfica é feita e baseado no fato de que o novo perfil de leitor não tem
tempo e nem paciência, passam a produzir textos mais concisos e também a utilizar
mais recursos como fotografias, imagens, infográficos e artes.
2. O JORNALISMO NA WEB
Desde o início do século XIX, quando surgiram as primeiras atividades
jornalísticas na Europa, um dos objetivos principais dos veículos de informação é dar
a notícia com a maior rapidez possível. O furo de reportagem e a possibilidade de
informar em primeira mão sempre foram muito valorizados no jornalismo, e não seria
diferente com o advento da internet.
Sempre que uma nova mídia surge, no início ela é nada mais do que uma
adaptação da mídia anterior. Quando surgiu a televisão, as reportagens eram textos
de rádio lidos na frente de uma câmera. Somente após alguns anos as novas
técnicas foram aprimoradas para que essa nova mídia fosse melhor utilizada. Novos
recursos foram implantados como a utilização de gráficos, fotografias, vídeos
gravados entre outros.
O mesmo ocorreu com a chegada da internet. As empresas de notícia foram
as primeiras a alimentarem a rede com conteúdo na década de 90, porém, o que era
chamado de jornalismo online era apenas a postagem de exemplares de jornais
impressos, digitalizados nas páginas da web.
Com o passar dos anos e a popularização da internet, as empresas
jornalísticas perceberam a necessidade de usar uma linguagem própria para essa
nova mídia, diferente da simples transcrição do jornal impresso. É neste contexto
que surge o webjornalismo e os portais de notícias.
Em meados da década de 90, a Folha já dava sinais de que pretendia aderir
às mídias alternativas, porém mostra-se ao mesmo tempo estar cautelosa, pois a
internet ainda era pouco acessível no Brasil, e os valores de investimento por parte
dos grupos jornalísticos que pretendiam estar online eram altos. Por outro lado,
veículos concorrentes como “O Globo” e a Agência Estado já haviam entrado nessa
nova mídia.
Pouco depois, o grupo optou por acompanhar a nova tendência do jornalismo
na internet. Como um dos principais conglomerados de comunicação no país,
principalmente quando se trata de audiência e publicidade, o grupo cria em 1995, a
Folha Web, o primeiro jornal com notícias em tempo real e em língua portuguesa.
Em 1996 o grupo cria o UOL-Universo Online, provedor de internet, que
permitia aos usuários da internet (um número pequeno na época) realizar buscas
relacionadas ao conteúdo publicado nos jornais “Folha de S. Paulo”, “The New York
Times”, “Notícias Populares”, “Folha da Tarde” e revista “Isto É”.
O conteúdo mostrava-se mais noticioso do que aprofundado nas matérias,
fator que ainda se mostra presente no jornalismo online atualmente.
No ano 2000, o IG1 já atualizava seu portal de notícias a cada minuto. Desta
forma, era possível visualizar em uma só tela, dezenas de títulos de matérias,
ficando claro que as técnicas de apuração e verificação de fontes na web não eram
tão criteriosas como as utilizadas nas mídias tradicionais.
O portal que antes se chamava Folha.Web, passa a ser conhecido como
Folha.com. Algumas editorias são as mesmas do jornal impresso, como Mundo,
Mercado, Cotidano, Esporte, Ilustrada, Economia, entre outras. .
O que realmente podia se observar era uma busca frenética dos grupos de
comunicação pela rápida difusão da informação, o que o jornalista e sociólogo
Ignácio Ramonet chamou de instantaneísmo:
Ela se acelerou até alcançar o limite absoluto de aceleração. A que velocidade circula a informação hoje? À velocidade da luz, ou seja, 300 mil quilômetros por segundo. Passamos de um mundo de jornalismo para um mundo do imediatismo, do instantaneísmo, não há tempo para estudar a informação. A informação é feita cada vez
mais de impressões, de sensações.(RAMONET, 2003: p: 247).
Diversos nomes foram designados para essa prática. Entre eles web
jornalismo, jornalismo digital, ciberjornalismo, jornalismo de hipertexto e jornalismo
online.
A internet apresentou novas formas de produzir informação, e transformou o
webjornalismo em uma prática que abrange diversas possibilidades: a convergência
texto, áudio e vídeo, e a quebra de linearidade oferecida pelo hipertexto. A
multimídia passou a caracterizar o webjornalismo pela rapidez, interatividade e
fluidez da informação
1 Sigla para Internet Group, provedor de acesso à internet criado em janeiro de 2000.
Se na produção da notícia dos jornais impressos há um ciclo de produção
industrial no qual cada um tem a sua função e existe uma hora específica para o
fechamento e envio para a gráfica, no jornalismo de web, o tempo de fechamento é
determinado pelo período em que o fato aconteceu e a redação do texto pelo
jornalista
O processo de produção de notícias do jornal impresso possui diversas
funções como pauteiro, repórter, editor e diagramador. No jornalismo digital, essas
funções são centralizadas todas nas mãos de um só profissional.
O perfil do profissional de jornalismo da web é de um jovem, muitas vezes
recém formado, e que sabe lidar com softwares e tecnologia. Ele acaba sendo o
responsável pelo processo de produção da notícia da apuração até a publicação.
Esse processo impede que outra pessoa revise ou faça a edição, fator que implica
na qualidade das matérias publicadas, as quais muitas vezes apresentam erros.
Essa falta de editores nas redações de jornalismo digital, não interfere some nte na
questão da falta de revisão de erros do texto, mas também no fato de poder explorar
questões que o repórter não soube abordar.
A Folha de S. Paulo passou a disponibilizar o jornal impresso em formato
digital em seu website, numa tentativa de aliar a mídia tradicional à internet. No
início era possível acessar essa versão online gratuitamente pelo período de 30
dias. Hoje, só é possível ter acesso a esse conteúdo mediante contrato de
assinatura mensal.
Através de situações como essa é possível observar que o advento do
jornalismo online exerce grande influência sobre as tiragens do jornal impresso
Folha de S. Paulo. Atualmente, a média é de 292 mil exemplares, ou seja, 137 mil
exemplares a menos do que no ano 2000, período de maior distribuição do mesmo,
no qual a tiragem era de 429 mil exemplares.
Desta forma, a Folha de S. Paulo seguiu procurando adaptar-s às novas
mídias ao mesmo tempo em que tenta manter a produção e sustentar a circulação e
fidelidade dos leitores do tradicional jornal impresso
2.1 A WEB SE TORNA 2.0 – A WEB DA INTERATIVIDADE
Tim O´Reily, fundador da empresa O´Reily Media2 percebeu que várias
mudanças haviam ocorrido na internet, como o surgimento de ferramentas
colaborativas e plataformas que permitiram navegar na internet com maior
interatividade.
Nessa nova forma de se relacionar, o jornalista não mais escreve para que o
leitor acompanhe o texto passivamente, como acontecia na Web 1.0. Ele pode
participar de fóruns, e postar um comentário na mesma página, referente àquela
notícia. A postagem de um texto pode ser vista como o início de uma discussão,
agregando diversos pontos de vista que podem enriquecer a notícia.
Outra característica que confere mais autonomia a participação ao leitor são
os hipertextos – conjunto de significações que se interligam através de palavras,
fotografias, páginas, imagens entre outros. Essa forma de disponibilizar conteúdo
quebra a linearidade que antes era uti lizada nos textos de impresso e também da
Web 1.0. Nela, o modelo de hierarquia é rompido e o leitor pode escolher quais
conteúdos relacionados àquela notícia gostaria de ver.
Sites de jornalismo cidadão também são outra forma de interatvidade na web
relacionada à notícia. Alguns são basicamente plataformas online onde as pessoas
podem postar vídeo ou fotos sobre praticamente qualquer assunto. Outros se
concentram em uma área geográfica específica e proporcionam uma cobertura mais
objetiva, específica.
Nesse contexto de crescimento da interatividade e participação de milhares
de pessoas ao redor do mundo, no qual qualquer usuário da web passou a poder
postar textos e conteúdos multimídia.
Um outro ponto discutido a respeito da web colaborativa são os blogs, que,
inicialmente surgiram como uma forma de diário online, mas que com o passar do
tempo adquiririam outras funções e, questionava-se se era uma forma de jornalismo.
2 Empresa americana de mídia que publica livros e websites sobre informática.
2.2 JORNALISMO MÓVEL
No ano de 2005 o Brasil já possuía mais de 80 milhões de pessoas uti lizando
serviços de telefonia móvel. Nesse contexto de surgimento de novas mídias, as
empresas jornalísticas viram nesse mercado uma oportunidade em potencial para a
divulgação de notícias.
O grupo Folha, em 2000 lançou seu site WAP – também conhecido como
protocolo de aplicação sem fio – com conteúdo da sua página na internet, a Folha
Online. Logo em seguida alguns grupos como O Estado de S. Paulo, iG, Editora
Abril e outros também apostaram no lançamento de serviços de notícias através do
celular.
A publicação de notícias nessa nova mídia também exigiu a criação de um
novo setor dentro das redações, direcionados especificamente para a produção de
conteúdo móvel e o investimento em softwares que publicam conteúdo de forma
automática nos celulares.
Em alguns casos, como o da Folha de S. Paulo, as notícias são publicadas
por robôs que analisam as notícias mais acessadas no site Folha Online e
selecionam os dois primeiros parágrafos e os publicam no Folha WAP.
Nessa mídia é possível fazer uma comparação de uma publicação, com o
lead de uma matéria publicada em um jornal impresso, na qual em média dois
parágrafos resumem a notícia.
Embora esse seja um meio rápido de informar, o perfil dos consumidores de
telefonia móvel no Brasil não favorece esse mercado, pois a maioria dos clientes é
proprietária de linhas pré-pagas e o acesso ao WAP possui tarifas a ltas.
2.3 BLOGS
O blog, termo resultante da contração “Web log”, é o site cuja estrutura
permite ao usuário fazer uma rápida atualização a partir da postagem de artigos, ou
como são popularmente conhecidos, “posts”.
Os posts geralmente são organizados de forma cronológica inversa, e podem
ser escritos por diversos usuários.
Os blogs se caracterizam com uma das principais ferramentas de participação
e interatividade na internet. O que no início (2000) era considerado apenas um diário
de adolescente expondo situações banais do cotidiano mostrou-se ser um grande
espaço colaborativo no qual as pessoas podem comentar e receber as atualizações
de postagens através da assinatura do feed RSS3.
O uso jornalístico dos blogs se caracteriza pelo fato de ele servir como um
espaço de livre expressão de opinião, onde é postado o que não pode ser publicado
pelos jornalistas nos websites e jornais impressos.
Muitos veículos jornalísticos como “The New York Times”, a “Folha de S.
Paulo”, entre outros fazem uso dos blogs nos quais os jornalistas e editores
publicam textos e debatem assuntos da atualidade com os leitores, ponto primordial
que diferencia essa ferramenta do restante das mídias convencionais.
2.4 A POPULARIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS
As redes sociais são consideradas uma representação das interações sociais
e podem ser usadas para a propagação de idéias e o aumento do vínculo social.
Com interfaces que permitem que as pessoas acompanhem virtualmente a
vida de amigos, conhecidos e familiares, o número de pessoas em redes sociais tem
crescido muito nos últimos anos. Facebook, LinkedIn e MySpace, são alguns
exemplos de redes que contém milhões de membros .
Embora as redes sociais tenham alcançado seu auge recentemente, é um
fenômeno nascido no contexto da Web 1.0. De acordo com Hornik (2005), existem
três fases distintas de redes sociais:
Redes 1.0: coordenação em tempo real entre usuários (ICQ, MSN);
Redes 2.0: entretenimento, contatos profissionais, marketing social (Orkut, My
Space);
3 Sigla para Really Simple Syndication. São arquivos que armazenam links e resumos de um texto publicado na
web.
Redes 3.0: aplicativos e mobilidade (Facebook, Twitter).
Facebook: Rede social de internet criada por Mark Zuckerberg, Dustin
Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes em 2004. Atualmente possui mais de
750 milhões de usuários cadastrados. Por mês, os usuários postam mais de 30
milhões de mensagens de conteúdo nos murais. Inicialmente a rede era restrita aos
estudantes da Universidade de Harvard, posteriormente passou a agregar outras
universidades e, em 2006,passou a ser aberto para todos os usuários da Internet
com idade mínima de 13 anos. Hoje o Facebook é a maior rede social da internet.
Ao criarem suas contas no Facebook, os usuários podem se juntarem-se através de
redes temáticas, como universidades, cidades, empresas etc. Entre as ferramentas
mais utilizadas da rede, está a postagem de fotos pelos usuários em suas contas, o
que também torna o Facebook o site no qual é postado a maior quantidade de fotos
de toda a internet, com cerca de 250 milhões de fotos publicadas mensalmente.
ORKUT: Criado em 2004, no início era uma rede destinada
exclusivamente aos funcionários do Google. Em seguida passou a ser aberta a
todos os usuários da internet que fosse maiores de 18 anos. Sua sede era na
Califórnia até 2008, mas devido ao grande sucesso no país, a rede passou a ser
controlada no Brasil. Os usuários podem se relacionar adicionando contatos e
também através de comunidades com temas de interesse em comum.
MYSPACE: Criada em 2003, é a segunda maior rede social do mundo
(atrás do Facebook). Sua estrutura permite a criação de perfis nos quais são
possíveis postar fotos e vídeos. O MySpace se diferencia das demais redes sociais
porque permite que pessoas não cadastradas também possam visualizar os perfis
dos usuários cadastrados. Um dos principais diferenciais do MySpace é a
disponibilização de arquivos de áudio no formato MP3, o que atraiu o interesse de
novos artistas musicais.
3. A INTELIGÊNCIA COLETIVA NO CIBERESPAÇO
3.1 CONCEITO DE CIBERESPAÇO
Para observar como se dão os processos de disseminação da informação e
da interatividade entre os usuários nas redes sociais, e especificamente do Twitter,
faz se necessário procurar entender o meio em que o mesmo ocorre: o ciberespaço.
Ao observar a rapidez com que os novos meios de comunicação se
desenvolviam, Herbert Marshall McLuhan, filósofo e educador canadense, criou o
conceito de Aldeia Global. Ao desenvolver esse conceito na década de 60, Mc
Luhan se referia à globalização e a interconexão de comunidades através das novas
tecnologias e mídias eletrônicas. Nesse contexto, as pessoas poderiam se
comunicar e ficarem mais próximas, como numa aldeia.
Embora o conceito de Aldeia Global criado por Marshall McLuhan aborde a
comunicação e a interatividade entre pessoas distantes através de novas
tecnologias em geral, na época, aplicava-se a mídias como rádio e televisão, uma
vez que o primeiro computador pessoal foi lançado apenas em 1971.
A ideia de ciberespaço diretamente relacionada à conexão entre
computadores foi desenvolvida pela primeira vez em 1984, pelo escritor canadense
William Gibson, em seu livro de ficção científica Neuromancer.
Ciberespaço. Uma alucinação consensual experimentada diariamente por bilhões de operadores legítimos, em todas as nações, por crianças sendo ensinadas conceitos matemáticos ... Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de cada computador no sistema humano. Complexidade impensável. Linhas de luz variadas no não-espaço da mente, aglomerados e constelações de dados. Como luzes da cidade, retrocedendo...
(GIBSON, 1984)
Passados 15 anos da criação do termo ciberespaço por Gibson, o francês
Pierre Lévy aborda o tema de forma menos romântica e mais objetiva. Sua reflexão
aponta para a interação humana dentro de uma esfera informatizada que conceitua
como "o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos
computadores e das memórias dos computadores". (LÉVY, 1999: p: 92)
O filósofo canadense destaca como o ciberespaço possibilita a participação
dos usuários, diferente de mídias tradicionais como televisão, rádio e telefone. Ele
separa em três os tipos de dispositivos de comunicação:
Mídia impressa e televisiva: não existe interatividade, pois há apenas um
emissor centralizado e diversos receptores. A comunicação nesse dispositivo
é Um e Todo;
Telefone: a comunicação não é feita coletivamente, portanto é chamada Um e
Um;
Espaço cibernético: apresenta uma nova forma de interatividade, na qual a
comunicação ocorre de forma coletiva, chamada de Todos e Todos.
Nessa nova esfera de relações, destaca-se a importância de observar o fato
de a informação estar sob a forma de rede e não apenas a mensagem em si, pois a
informação já existe em dicionários, enciclopédias e outras mídias de leitura estática.
No caso do jornalismo, está nos tradicionais jornais impressos. O diferencial do
ciberespaço é o modo como as pessoas participam da construção da informação.
Em primeiro lugar, não é mais o leitor que vai se deslocar diante do texto, mas é o texto que, como um caleidoscópio, vai se dobrar e se desdobrar diferentemente diante de cada leitor. O segundo ponto é que tanto a escrita como a leitura vão mudar o seu papel, porque o próprio leitor vai participar da mensagem na medida em que ele não vai estar apenas ligado a um aspecto. O leitor passa a participar da própria redação do texto à medida que ele não está mais na posição passiva diante de um texto estático, uma vez que ele tem diante de si não uma mensagem estática, mas um potencial de mensagem. Então, o espaço cibernético introduz a idéia de que toda leitura é
uma escrita em potencial. (LÉVY, 1994, p. 1)
O hipertexto é apontado pelo filósofo francês como um dos exemplos da
construção coletiva da informação. Nele, diversos usuários podem redigir e
acrescentar conteúdos, o que significa que a colaboração de diversos autores
permite que um texto esteja em transformação constante.
É nesse espaço dotado de ferramentas diversas que favorecem a
interatividade e a troca de informação que emerge a chamada Inteligência Coletiva.
A inteligência coletiva parte do princípio de que todas as inteligências
individuais somam-se e compartilham-se na sociedade, e na internet, ela é
potencializada. Ela possibilita a partilha da memória, da percepção, da imaginação.
Isso resulta na aprendizagem coletiva e troca de conhecimentos como uma rede de
pessoas interessadas pelos mesmos temas.
Embora o ciberespaço possa ser um ambiente no qual se promova a inteligência
coletiva, é necessário que o usuário saiba onde encontrar e compartilhar as informações de
seu interesse, caso contrário, tornam-se apenas conhecimento e dados espalhados de
forma isolada nesse espaço.
Para que a inteligência coletiva seja promovida, é necessário haver interconexão
entre as informações, numa junção de linguagem, comunicação e tecnologia. Isso acontece
no contexto das comunidades virtuais na internet, possibilitam a criação de uma memória
coletiva, provinda da interação entre as pessoas.
Um grupo de pessoas só se interessa em constituir uma comunidade virtual para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado. O ciberespaço talvez não seja mais do que o indispensável desvio técnico para atingir a
inteligência coletiva. (LÉVY, 1999, p: 133)
3.2 A INTELIGÊNCIA COLETIVA NO TWITTER
Como visto anteriormente, a troca de informação entre os diversos autores e
o compartilhamento de conhecimento foi chamado de inteligência coletiva.
Nas redes sociais, essa inteligência emerge através da troca de mensagens e
o conteúdo compartilhado por seus usuários. Em seu livro Redes Socias Digitais,
sobre a cognição conectiva no Twitter, Lucia Santaella aborda essa troca de
informações e conhecimento de uma maneira diferente.
(...) essa mesma propriedade vem sendo chamada de “ecologia cognitiva”, termo que preferimos aos outros, pois a palavra
“inteligência” está muito sobrecarregada culturalmente com o componente semântico de racionalidade, enquanto “ecologia cognitiva” lembra a diversidade e a mistura entre razão, sentimento, desejo, vontade, afeto e o impulso para a participação, estar junto, cuja força brota do simples fato de que é bom se estar junto, ainda mais quando o compartilhamento, a reciprocidade e a cumplicidade não têm outro destino ou finalidade a não ser o puro, singelo e radical prazer de estar junto. (SANTAELLA, LEMOS 2010, p: 25-26)
O formato curto de postagem de texto no Twitter (permite apenas 140
caracteres), chamado tweet é uma das características definidoras da rede social,
criada em março de 2006 pelo arquiteto de informação americano Jack Dorsey.
Por ser uma grande comunidade virtual, o Twitter também torna-se um
método mais aberto de comunicação: o usuário pode compartilhar informações com
pessoas com as quais não troca e-mail normalmente ou mensagens instantâneas, o
que permite abrir o seu círculo de contatos para uma comunidade cada vez maior de
pessoas que tenham alguma afinidade entre si.
Ao contrário da maioria de sites de redes sociais, como Facebook ou
MySpace, a relação de seguir e ser seguido não requer reciprocidade.
Um usuário pode seguir qualquer outro usuário, e o que está sendo seguido
não precisa seguir de volta. Ser um seguidor no Twitter significa receber todas as
mensagens do perfil o qual segue.
Existem muitas razões pelas quais os usuários de internet criam uma conta
no Twitter, mas as mais comuns são para seguir perfis de experts de sua área
profissional , para seguir organizações e ativistas engajados em uma determinada
causa, para seguir marcas e empresas que ofereçam algum desconto ou promoção.
Regularmente o microblog tem sido usado para organizar protestos, às vezes
chamados de "Revoluções do Twitter" e que incluem recentemente os protestos da
Primavera Árabe, e a respeito da eleição iraniana.
Outro exemplo de sucesso expressivo é o uso do Twitter pelas emissoras de
TV americanas, que incentivam as pessoas a assistirem aos eventos ao vivo, como
o Oscar e o Super Bowl, principal campeonato de futebol americano.
O número veículos de comunicação como jornais, revistas e emissoras
brasileiras que possuem perfis no Twitter, é crescente.
Através deles os seus seguidores podem receber as principais manchetes,
dispensando a necessidade de acessar o site desses veículos. Além disso, o
seguidor também poderá compartilhar essa notícia com seus contatos.
Dentre as diversas rede sociais como Orkut, Facebook e MySpace, o
microblog Twitter, é a que possui mais agilidade na distribuição e atualização de
conteúdo e a que proporciona maior possibilidade de filtrar a informação que é de
interesse do usuário. Enquanto nas outras redes sociais como Facebook e Orkut o
foco está nos contatos pessoais entre os usuários, no Twitter, o foco encontra-se na
qualidade e no tipo de conteúdo veiculado por um usuário específico.
Graças ao design colaborativo e aos fluxos existentes no microblog, como as
funcionalidades do RT (retweet), e também do ato de seguir o perfil de um usuário
(@usuário) é que o conceito de ecologia cognitiva emerge na rede de microblog.
Vejamos como funcionam esses fluxos:
Seguir o perfil de um usuário (@usuário): Ao tornar-se seguidor de um perfil, o
usuário passa a receber diretamente em sua timeline4 todos os tweets provenientes
do mesmo. Ao seguir vários usuários, cria-se um fluxo de conteúdo formado pelas
mensagens twittadas dos escolhidos por esse usuário. Esse fluxo funciona como um
filtro de informações de seu interesse
RT (Retweets): Ao utilizar as letras RT antes de um tweet, o usuário está
atribuindo a autoria do conteúdo de uma mensagem ao seu autor original, ou seja, e
retransmitindo-a para seus seguidores. Esse é um dos meios mais utilizados para
compartilhar as informações no microblog, pois os usuários que não seguem o perfil
do autor original do tweet podem ter acesso ao mesmo.
No início o retweet era feito manualmente, ou seja, o usuário deveria
acrescentar os caracteres RT ao lado do nome de usuário do autor. Quando uma
mensagem é “retweetada”, os caracteres aparecem em negrito no início da
mensagem.
Outra ferramenta de destaque no contexto da ecologia cognitiva no Twitter
são os trending topics, palavras ou frases que são postadas múltiplas vezes no
4 O termo timeline no Twitter é usado para descrever o fluxo de tweets que aparecem na página inicial do
usuário em tempo real . http://support.twitter.com. acesso em 09/11/2011
microblog. Os trending topics se popularizam através de um grande número de
postagens que os usuários fazem a respeito de um acontecimento e que leva as
pessoas a falarem cada vez mais sobre um determinado assunto. Estes tópicos
geralmente ajudam os usuários do Twitter a entender o que está acontecendo no
mundo.
4. ESTUDO DE CASO – O USO DO TWITTER PELA FOLHA DE S. PAULO
Desde 30 de abril de 2008, quando o site de notícias Folha.com criou a sua
conta no Twitter com o endereço de @Folha_com até o dia 27 de abril de 2011
foram postados 39.829 tweets. É o segundo maior jornal da cidade de São Paulo em
número de seguidores, com 223.863.
Figura2. Ilustração do Twitter de @folha_com.
Nesse perfil são postadas as principais notícias do dia, com manchetes de
diversas editorias.
Analisando o período de 26 a 27 de outubro de 2011 foram postados 170
tweets, todos com link de direcionamento para o site de notícias Folha.com.
Figura 3. Ilustração de tweet de @folha_com, com link de redirecionamento para o portal de notícias.
Além do perfil @folha_com, o veículo possui outras 12 contas de editorias
diferentes:
Editoria
Endereço
Seguidores
Seguindo
Folha de S. Paulo @Folha_com 214.733 160.392
Ciência @folha_ciencia 9.185 30
Cotidiano @folha_cotidiano 8.132 41
Esporte @folha_esporte 15.686 38
Folha Teen @folhateen 8.337 1.261
Folhinha @folha_folhinha 632 91
Ilustrada @folha_ilustrada 38.475 505
Mercado @folha_mercado 11.957 486
Mundo @folhamundo 11.889 59
Poder @folha_poder 51.491 3.912
Tec @folha_tec 31.696 17
Tendências/Debates @folha_debate 4.288 148
Turismo @folha_turismo 6.423 30
Tabela 1. Editorias, perfil, número de seguidores e de contas seguidas no Twitter.
Durante o período de análise do perfil de @folha_com, também foi possível
perceber que os usuários retwitam muitas das notícias postadas pelo jornal. Dos 127
tweet
s
posta
dos,
todos
foram
retwitt
ados.
Figura 4. Ilustração de tweet de @folha_com retweetado por 33 seguidores.
No website folha.com existe um ícone de compartilhamento do Twitter acima
do título da matéria. Ao clicar, o usuário compartilha a notícia com todos os seus
seguidores.
Figura 5. Ilustração de matéria publicada no site Folha.com com ícone de compartilhamento do
Twitter.
O jornal O Estado de S. Paulo, principal concorrente da Folha de S. Paulo
está no Twitter desde agosto de 2007. Atualmente possui 272.038 mil seguidores e
segue 73.029 mil usuários. Ao longo desses 4 anos já postou 40.725 mil tweets.
A tabela a seguir mostra o resultado da observação dos perfis de @folha_com
e @estadao no período de 10 a 11 de novembro. Embora o objeto de estudo seja
@folha_com optou-se por observar também o seu maior concorrente para poder
traçar um paralelo entre o comportamento desses dois veículos de jornalísticos no
Twitter.
Veículo Folha de S. Paulo Estadão
Tweets 248 235
Menções
(@usuário)
5 34
Retweets 5 0
Tweets com link 239 217
Uso de hashtags 8 1
Tweets retweettados
2585 6523
Tabela 2: Análise dos perfis de @folha_com e @estadao feita no período de 10 a 11 de novembro.
4.1 ANÁLISE
Durante o período de observação do objeto de estudo foi possível analisar
que o perfil @folha_com postou uma média de 5,1 tweets por hora, enquanto o
@estadao postou 4,8.
Cerca de 96% dos tweets de @folha_com publicados nesse período possuem
link de redirecionamento para o website Folha.com, enquanto o @estadao publicou
92% de seus tweets com link de redirecionamento.
A @folha_com mencionou apenas 5 usuários em seus tweets, sendo que 3
dessas menções foram feitas a perfis relacionados a editorias do próprio veículo
totalizando 2% do total de suas postagens, enquanto o @estadao mencionou
usuários 34 vezes, dentre os quais apenas 3 eram relacionados ao grupo Estado.
O perfil de Folha de S. Paulo retweetou 5 mensagens de usuários, todas
postadas por editorias da própria Folha de S. Paulo. O perfil de O Estado de São
Paulo, não retweetou mensagem alguma.
Ao longo dos dois dias de análise, a @folha_com fez uso de hashtags 5
vezes. A hashtag #NEM 5 foi utilizada 4 vezes e a hashtag #pesocial6 também foi
utilizada a mesma quantidade de vezes.
Com relação à quantidade de posts retweetados pelos seguidores, o perfil
@estadao teve 6.523 mil, número muito superior aos retweets de a @folha_com
com 2.585 mil.
Portanto, através da observação da grande quantidade de tweets com link
que redirecionam o leitor para o website Folha.com, é possível observar que o foco
de @folha_com no Twitter é direcionado simplesmente à divulgação de notícias. A
grande quantidade de tweets com link de redirecionamento para o site é o principal
indicador para essa conclusão.
Quanto a interativadade entre o perfil @folha_com e os seguidores do Twitter
pode ser associada a de um veículo de mídia tradicional como a TV e a mídia
impressa como um dispositivo de comunicação Um e Todos, uma vez que não há
uma relação de troca através de reply ou menção aos usuários.
A interatividade, principal característica das comunidades virtuais não se
aplica ao comportamento do perfil na rede de microblog, pois não se adéqua ao
ambiente e ao design colaborativo oferecido pela rede de microblog.
5 Hashtag relacionada à prisão do traficante NEM ocorrida em 09 de novembro de 2011 no Rio de Janeiro.
6 Prêmio Empreendedor Social 2011 realizado pela Folha de S. Paulo e a fundação Schwab.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cada nova tecnologia, mídia e ferramenta que surge, os veículos de
comunicação buscam a adaptação e também fazer do mesmo um aliado. Foi assim
com o rádio, a TV, internet e é agora com as redes sociais.
A internet acentuou e transformou a forma com que os jornais e seus leitores
se relacionam. A busca pela participação e pela criação na web é crescente e os
blogs foram os pioneiros nesse sentido.
A web 2.0 e suas ferramentas interativas assim como a criação e a expansão
das redes sociais vieram para confirmar o conceito de Aldeia Global de McLuhan.
Toda a sociedade global passou a se comunicar instantaneamente através da rede
mundial de computadores.
A emergência da inteligência coletiva citada por Lévy para conceituar a
construção de conhecimento através da interatividade no ciberespaço se mostra
cada vez mais aplicável em redes sociais de internet como o Twitter, na qual com
apenas 140 caracteres é possível transformar um acontecimento local em uma
manchete de proporção global;
Os jornais, com o passar do tempo perceberam esse potencial na rede social
de microblog e trataram de criar seus perfis. Um grande exemplo é o “The New York
Times” o qual está presente no Twitter desde 2007 e hoje é o jornal com o maior
número de seguidores, totalizando 4 milhões.
Se neste trabalho nos propusemos a analisar o impacto da rede social Twitter
no jornalismo da Folha de S. Paulo, podemos afirmar que ele ocorre positivamente
na questão da distribuição da notícia em tempo real e a rápida forma de divulgar
suas manchetes. A rede tornou-se uma das principais portas de acesso ao website
Folha.com. Milhares de seguidores recebem seus tweets, os compartilham e
repercutem com seus respectivos contatos. Essa troca gera um grande fluxo de
informações.
Ao direcionar os usuários para o website, o microblog contribui para um
maior número de acessos, o que é essencial para os sites de veículos jornalísticos
que têm nas publicidades em suas páginas eletrônicas um dos principais meios de
obtenção de lucro.
Porém, se esse microblog é a rede social na qual o design e os processos de
interação mais favorecem a emergência da inteligência coletiva ou a ecologia
cognitiva e a maneira de se relacionar é baseada na troca de informações, é
necessário saber utilizá-la e extrair o máximo das funcionalidades que ela oferece
para aproximar-se do leitor. Não existe um manual para o uso do Twitter, mas essa é
uma rede feita para falar e ouvir.
A falta de respostas do perfi l @folha_com aos usuários assim como a falta de
aproveitamento e divulgação de conteúdo postado por seus seguidores através dos
retweets torna a comunicação impessoal. Isso remete quase ao nível de interação
existente entre a mídia impressa e o leitor, não fosse a participação do usuário em
poder redistribuir as notícias para seus contatos.
Portanto, analisando o comportamento da Folha de S. Paulo sob a
perspectiva da prática e difusão de notícias, cobertura em tempo real e
compartilhamento de links, podemos afirmar que o Twitter se mostra um aliado
desse veículo jornalístico. Porém, ainda há um potencial na rede a ser explorado
pela Folha de S. Paulo no que diz respeito ao relacionamento com o leitor, que no
microblog deve deixar de ser tratado como um mero receptor e passar também a ser
considerado um gerador de conteúdo.
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