O goleiro, o gato e a andorinha

Post on 26-Mar-2016

250 views 11 download

description

Matéria sobre o relançamento dos livros infantis "A bola e o goleiro" e "O gato malhado e a andorinha Sinhá", de Jorge Amado, para o suplemento infantil do jornal A Tarde

Transcript of O goleiro, o gato e a andorinha

Salvador, SÁBADO, 8 de março de 2008

4e5

O goleiro, o gato e a andorinhaPersonagensdiferentes têmencontrosimpossíveis.Essa é a liçãodos contos doescritor baianomais famosodo mundo:Jorge Amado

“Meu pai era doido por futebol”

Dom Malhado e dona Sinhá

Ilustrações de KikoFarkas, para o livro Abola e o goleiro, e deCarybé, para O Gato

Malhado e aAndorinha Sinhá

FOTO

S RE

PRO

DU

ÇÃ

O

O livro O Gato Malhado e aAndorinha Sinhá tem umahistória curiosa também navida real. Ele foi escritopor Jorge Amado há 60anos para presentear seufilho João Jorge em seuprimeiro aniversário. Nocomeço, Jorge Amado nãoqueria que o presente virasselivro. Isso só aconteceu muitosanos depois, quando seu filhopediu para Carybé (artistaargentino que morou na Bahia)fazer os desenhos do Gato e daAndorinha. Jorge Amado entãoachou tudo tão bonito queaceitou transformar a história emlivro. A seguir, João Jorge contacomo foi.

A Tardinha - Seu pai escreveu OGato Malhado e a AndorinhaSinhá quando você completou 1ano. Mas você só leu a históriadepois de quase 30 anos. Comofoi isso?João Jorge - É verdade. Eu estavacom minha mãe (Zélia Gattai),mexendo em uns papéis velhos demeu pai, até que achamos osoriginais do livro. Eu já conhecia ahistória, porque minha mãe mecontava quando eu era pequeno,mas foi a primeira vez que a li.Achei tudo muito bom e resolvitransformá-la em um livro.Datilografei tudo, deixandoespaços para ilustrações. Aí leveiesse material para Carybé. Eledesenhou nos espaços em brancoe isso ficou primoroso. Quandomeu pai viu, gostou também epermitiu que a gente publicasse.O livro foi um sucesso.

AT - Seu pai, Jorge Amado,gostou tanto do sucesso de umlivro para crianças que resolveufazer outro, A bola e o goleiro, 36anos mais tarde?JJ - Não, esse foi diferente, essefoi um livro feito por encomenda,para fazer parte de uma coleçãode livros infantis feitos por

escritores de livros adultos. A bolae o Goleiro também fala de umahistória de amor, mas meu paidecidiu que essa teria um finalfeliz, o que não pôde fazer naépoca de O Gato Malhado e aAndorinha Sinhá. Quando eleescreveu O Gato..., a sociedadenão era muito tolerante. Eradifícil fazer com que um gatoficasse com uma andorinha. Em Abola... ele pôde mudar isso e criarum final feliz.

AT - Ele gostava de futebol?JJ - Meu pai resolveu falar defutebol porque sempre foi doidopor isso. Assistia aos jogos,gritava, brigava. Na Copa de1998, ele já estava doente, masvia os jogos com a gente. Ele selevantava no meio do jogo e iapara o quarto, porque dizia quepodia ter um ataque, a gente nãosabe se de nervosismo ou docoração. Ele gostava tanto defutebol que até usava as palavrasem inglês (o futebol foi criado naInglaterra) para se referir aogoleiro, às jogadas, ao gol.

AT - Jorge Amado tinha algumtime do coração?JJ - Ele era apaixonado pelaSeleção Brasileira e por doistimes: o Ypiranga, de Salvador, eo Bangu, do Rio de Janeiro.Torceu por eles a vida toda.

João Jorge ganhou O GatoMalhado quando fez 1 ano

IRA

CEM

A C

HEQ

UER

| A

G. A

TA

RDE

VITOR PAMPLONAv p a m p l o n a @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

No futebol, há um ditado: a bolaprocura sempre o craque. Duranteum jogo, depois de um bate-rebatena área, ela rola para o jogador maishabilidoso, que chuta e faz a torcidainteira gritar gol. Uma bola especial,justamente a mais adorada peloscraques, um dia fez tudo diferente.Inventou de se apaixonar justo pelopior goleiro que já existiu, tão ruimque era chamado de Cerca-Frango,Mão-Furada, Mão-Podre, Rei doGalinheiro. A bola era conhecidacomo Fura-Redes porque, com ela emcampo, nenhum time ficava semfazer gols. Mas, quando Cerca-Frangoestava embaixo das traves,Fura-Redes só queria saber dedescansar nos braços do goleiro.

Esta história incrível está no livro Abola e o goleiro, do escritor baianoJorge Amado. Ele é famoso em todo

o mundo por contar a vida depescadores, capoeiristas e baianas deacarajé que habitam até hoje aBahia.

A história da bola Fura-Redes e dogoleiro Cerca-Frango será relançadasegunda-feira pela editoraCompanhia das Letras (R$ 25,00),com outros cinco livros do escritor,entre eles, Mar morto e Capitães daareia. “Decidimos usar muitas cores eum traço moderno, mas no espíritodo futebol de antigamente“, disse oilustrador Kiko Farkas, que fez osdesenhos da nova edição de A bola eo goleiro, o segundo livro paracrianças escrito por Jorge Amado.

A partir de 10 de março, vocêvisita o sitew w w. j o r g e a m a d o . c o m . b r paraconferir as atividades queacontecerão em Salvador, no Rio eem São Paulo, como mostra decinema, exposições e um concursosobre a obra de Jorge Amado.

Os gatos vivem no chão etêm fama de solitários. Asaves vivem soltas pelo ar e,às vezes, andam em bandos.Será possível bichos tãodiferentes gostarem um dooutro? No caso do GatoMalhado e da AndorinhaSinhá, personagens de JorgeAmado, a resposta é sim.

Na história, ela é o único

animal a simpatizar com oGato na fazenda ondemoram. Os outros bichos oacham egoísta e maldoso,mesmo sem conhecê-lodireito. A Andorinha, curiosacom o jeitão do Gato,aproxima-se dele. Os doisacabam namorando, o quefaz os outros animaisperguntarem como pode

uma ave se apaixonar porum felino feioso.

A história do GatoMalhado e da AndorinhaSinhá foi uma forma queJorge Amado encontroupara dizer que, se é possíveldois bichos tão distintosconviverem, pessoasdiferentes também podemfazer a mesma coisa. O GatoMalhado e a AndorinhaSinhá não termina como oscontos de fadas, em que opríncipe e a princesa vivemfelizes para sempre. Mesmoassim, o Gato e a Andorinhaguardam lembranças dosmomentos juntos. O livroserá relançado em junho.

A TARDE FALA mais sobre Jorge Amadono Caderno 2, na segunda-feira, dia 10.