Post on 28-Dec-2018
O ENSINO POR MEIO DA ANÁLISE DAS IMAGENS HISTÓRICAS:
ESTUDAR HISTÓRIA NO MUNDO DAS IMAGENS
Mariza Lemes Bernardino1
Edina Rautenberg 2
RESUMO
Este artigo tem por objetivo contribuir com uma nova metodologia para o ensino de História, que seja mais reflexiva e dinâmica, pois na trajetória de muitos anos e de experiências de prática docente, vejo que enfrentamos grandes problemas com a falta de interesse dos jovens nesta disciplina. Devido a essa problemática é de fundamental importância buscar fundamentos teórico-metodológicos que ajudem a entender este contexto e estruturar uma proposta de ação pedagógica que interfira e venha despertar a busca do conhecimento nos jovens. A proposta de intervenção do estudo de imagem é desenvolver métodos diferenciados que possibilitem despertar no aluno, a curiosidade em saber o que elas representam. Hoje, as condições políticas e culturais exigem um repensar das condições de trabalho do professor e de seu papel na vida escolar, sendo assim, estabelecer novas formas de relações pedagógicas para possibilitar aos alunos uma melhor assimilação do conhecimento produzido é de suma importância. Na realidade dos dias atuais a escola sofre muito com a concorrência da mídia, tornando cada vez mais difícil trabalhar com a geração de alunos que vivem em um mundo de informações adquiridas por meio de sistemas de comunicação audiovisuais, imagens, sons e outros meios. Esse tipo de perfil na educação escolar tem apresentado muitos desafios ao professor de História e desenvolver uma prática de ensino relacionada aos novos tempos é fundamental diante das mudanças que ocorrem a toda hora. Palavras – chave: Educação - Ensino – Metodologia - Imagens Históricas
1 Professora PDE, formado em História e Pedagogia, atua no Colégio Estadual Carlos Drummond de Andrade – Ensino Fundamental e Médio no Município de Assis Chateaubriand – PR, NRE de Assis Chateaubriand, 2012. E-mail.@hotmail.com.
2 Professora Orientadora do trabalho desde abril de 2012. Professora Colaboradora, Mestre em História, pela UNIOESTE. Lembramos que o trabalho de PDE iniciou sob a orientação do professor Marcos Smaniotto, sendo concluído com o auxílio da professora Edina.
INTRODUÇÃO
Neste artigo buscamos refletir sobre o processo teórico-prático de ensino e
aprendizagem dos alunos do Colégio Estadual Carlos Drummond Andrade - Ensino
Fundamental e Médio, do Município de Assis Chateaubriand – PR, no intuito
também de analisar a prática educativa e pedagógica.
Sabemos que o ensino é algo dinâmico e necessita de adaptações às varias
realidades, no entanto, precisamos incorporar a ideia central de que é preciso
renovar, aprofundar, ler e discutir métodos de ensino e aprendizagem que tragam
sentido e eficiência para o aluno. Porem, a inovação para Leandro Karnal (2005),
não é a utilização de meios eletrônicos em sala de aula, mas é uma atitude interna
que atinge os que nos rodeiam, pois, as aulas inovadoras e avaliações abertas
causam murmúrios entre alunos, pais, colegas e todos os membros da escola.
Diante disso, a educação para um mundo em transformação chama a atenção
para a necessidade de levar o aluno a entender os pontos positivos e negativos que
a mídia transmite em seu dia a dia, e o que se passa no mundo, pois a renovação do
ensino de História se apresenta para que o aluno consiga relacionar acontecimentos
históricos de épocas diferentes e as novas formas de abordar o ensino.
Nesta perspectiva, desenvolver um estudo sobre metodologias teóricas e
estratégias de ensino que despertem no jovem o interesse para a aprendizagem da
disciplina de História, foi o grande desafio deste trabalho, considerando que os
jovens da atualidade vivem num presente contínuo sem estabelecer relações com a
diversidade cultural. Com tantas mudanças e transformações contemporâneas a
nossa preocupação com a importância do conhecimento histórico na formação
intelectual do jovem, faz com que um dos objetivos fundamentais do ensino seja
desenvolver a compreensão histórica da realidade social. Entretanto, para isso é
necessário compreender também que a aprendizagem só será sentida pelo aluno
quando significativa, pois, um grande problema enfrentado nos dias atuais em sala
de aula é o de que vivemos em uma sociedade consumista, num mundo tecnológico
responsável por ritmos de mudanças rápidas.
Foi de fundamental importância o trabalho com pesquisas na mídia para o
desenvolvimento das atividades, pois, notamos sem dúvida, que ela norteia a
inserção dos alunos no cenário de hoje, numa sociedade tecnológica, com hiper-
abundância de informações e enxurrada de imagens.
Com o desenvolver dos trabalhos sobre as pesquisas das imagens na mídia,
percebemos também, que as informações que chegam através dela são imagens
que precisam ser questionadas, codificadas, problematizadas, pois como toda
empresa, a mídia tem como produto as informações e as imagens utilizadas para
apresentá-la. Precisamos alertar nossos alunos que estas imagens são utilizadas
pela mídia como mercadorias que esta empresa (mídia) procura impor, convencer e
vender para seus expectadores. Como toda empresa, a mídia procura o lucro, e
cada vez mais tem tornado seus expectadores numa “sociedade do espetáculo”,
onde cabe aos telespectadores assistirem passivamente, sem precisar pensar ou se
importar diante do que lhes é apresentado. Infelizmente este trabalho com imagens
da grande imprensa não foi o foco de nossa intervenção, ele se apresentou durante
o andamento da mesma. No entanto, acredito que as discussões possibilitaram aos
nossos alunos, se não tornarem-se mais críticos ao que assistem na grande
imprensa, ao menos poderem interpretar de maneira mais consciente, as imagens
que recebem através dela. Através do trabalho, esperamos que nossos alunos
consigam captar informações que possibilitam entenderem como nossa sociedade
se encontra hierarquizada, as diferenças sociais existentes nela e as problemáticas
apresentadas em seu cotidiano.
Consideramos então, que o processo do conhecimento é a grande aventura, e o
grande desafio enfrentado pelo professor é quando prepara suas aulas e as
desenvolve com seus alunos. Portanto, ensinar a fortalecer o próprio ponto de vista
histórico significa ensinar a construir conceitos e aplicá-los diante das diversas
situações problemas. Em nossa pesquisa percebemos que as estratégias vêm
melhorando muito nos últimos anos e uma delas que se revela excelente é fornecer
ou orientar o desenvolvimento de um tema a ser pesquisado e indicar caminhos
lúdicos ou então divertidos de reflexão para que o aluno tenha uma aprendizagem
prazerosa usando as imagens. Como por exemplo: jogos de memórias usando
imagens, jogos interativos de aprendizagem com fotografias, etc. Com isso,
podemos notar que diferentes recursos para trabalhar a história permitem que o
aluno abra enormes horizontes os quais poderão dar crédito a sua curiosidade.
Neste contexto, a aprendizagem de metodologias apropriadas para a construção
do conhecimento histórico, torna-se um mecanismo essencial para que o aluno
possa adquirir um olhar consciente para sua própria sociedade e para si mesmo.
Diante das perspectivas faz parte do conhecimento histórico à ampliação do
conceito de fontes históricas, que poderão ser trabalhadas pelos alunos como
documentos oficiais, textos de épocas diferentes e atuais, mapas, ilustrações,
gravuras, imagens, poemas, manifestos, histórias em quadrinhos, panfletos,
caricaturas, pinturas, fotos etc., o importante nas análises desses materiais é que se
tenha o cuidado para que as fontes recebam um tratamento adequado e de acordo
com sua natureza como também uma análise crítica.
A metodologia no trabalho com as imagens segundo Jacques Le Goff (1992), é
de grande relevância, pois as imagens tornam-se uma fonte interessante para
trabalhos que envolva a memória do cotidiano histórico, como também do passado e
presente. Diante disso, afirma a historiadora Circe Bittencourt que, imagens diversas
produzidas pela capacidade artística humana também nos informam sobre o
passado das sociedades, sobre suas sensações, seu trabalho, suas paisagens,
caminhos, cidades, guerras. Qualquer imagem é importante, e não apenas aquelas
produzidas por artistas.
Nesta visão, devemos perceber a complexidade que possuem as relações
sociais presentes no cotidiano e na organização social, isso implica em nos
perguntarmos qual o lugar que o indivíduo ocupa na trama da história. Assim, o
conjunto de preocupações que informam o conhecimento histórico e suas relações
com o ensino vivenciado na escola, aprimoram as atitudes e valores imprescindíveis
para o exercício pleno da cidadania e o exercício do conhecimento autônomo e
crítico, a valorização de si mesmo como sujeito responsável da história.
Torna-se importante entender que essa geração de jovens que vivem o presente
intensamente, sem se preocupar com o passado ou mesmo o seu futuro, vivem as
imposições da sociedade de consumo que transforma tudo e até o saber escolar em
mercadoria e a história oferecida a esse tipo de jovem é a do espetáculo através dos
filmes, propagandas, novelas etc.
Em nosso cotidiano tudo muda a cada momento, e o conceito com o qual
precisamos trabalhar hoje e com muita liberdade, é o de mudança. Neste contexto
de vida social, surgiram novas exigências para o ensino de história e é de suma
importância que seja dinâmico e contribua para a compreensão do sentir-se sujeito
histórico em sua contribuição para a formação de um cidadão crítico.
Porém, o nosso aluno deverá se perceber como um ser social, alguém que vive
numa determinada época, num determinado país ou região, originário de
determinada classe social e contemporâneo de determinados acontecimentos. No
entanto, ele é um ser de seu tempo e vive limitações que lhe são determinadas, pois
sua vida é feita de opções que ele mesmo poderá fazer enquanto sujeito de sua
própria história social e de seu tempo.
Assim, a partir das renovações teórico-metodológicas da História, bem como das
novas concepções pedagógicas segundo Circe Bittencourt (2005), o uso escolar do
documento passou a estimular a observação do aluno, como também ajudá-lo a
refletir sobre as ações sociais do cotidiano, ajuda o aluno a desenvolver o espírito
critico, reduzir a intervenção do professor e diminuir a distância entre a história que
se ensina e a história que se escreve.
Ao trabalhar com fotografias na sala de aula, percebemos que é muito
interessante, porque elas guardam na sua superfície sensível, a marca do passado
que as produziu, consumiu e um dia já foram memória presente, próxima àqueles
que as possuíam, as guardavam e colecionavam como relíquias, lembranças ou
testemunhos.
Contudo na concepção de Maria Ciavatta (2004), as fotografias são mundos de
relações silenciosas, densas, congeladas no tempo mínimo do obturador. Mundo
este de seres calados e imóveis que devem ser decifrados a partir do contexto onde
se encontram na história de sua relação com os demais seres, tanto pessoas quanto
objetos. Portanto, são o conhecimento dessas relações ocultas, expressões
complexas do mundo da cultura que permitem aproximarmo-nos das fotografias
além do prazer estético, da sua imediaticidade encantadora.
O trabalho em sala de aula com fotografia de acordo com Peter Burke (1992) é
interessante, pois, é um meio visual em que os acontecimentos passados são com
frequência tornados mais acessíveis pela resposta emocional do momento, isto
porque a fotografia traz em si uma relação material e causal com o sujeito. E
segundo Circe Bittencourt (1998), imagens fotográficas retratam a história visual de
uma sociedade, documentam situações de estilo de vida, gestos, atores sociais e
rituais, aprofundam a compreensão da cultura material, sua iconografia e suas
transformações ao longo do tempo.
A utilização do documento histórico em sala de aula contribui na ilustração do
tema trabalhado no que se refere à natureza do documento histórico ou a sua
concepção e para reforçar o que for falado pelo professor.
Assim, com o desenvolvimento do nosso trabalho notamos que a leitura de
imagens emerge como uma estratégia privilegiada no processo de ensino-
aprendizagem e busca através do estudo das imagens em sala de aula, despertar
reflexões a respeito de aspectos políticos, econômicos, culturais, sociais, e das
relações entre o ensino da disciplina e a produção do conhecimento histórico.
Trabalhar as imagens motiva o aluno, torna as aulas mais atraentes e interessantes,
como também o estudante terá oportunidade de mostrar sua capacidade de
apresentar uma consciência histórico-crítica relacionada ao estudo das imagens
analisadas.
Percebemos ainda que o estudo do contexto histórico relacionado a imagem
também contribui para o entendimento dos variados pontos de vista que os homens
constroem a respeito de si mesmos e dos outros, de seus comportamentos,
pensamentos, sentimentos e suas emoções e diferentes tempos e espaços, porém
os documentos fotográficos requerem uma crítica externa e uma metodologia de
trabalho. Nas análises com documentos devem ser observados: a sua procedência e
a sua trajetória, como por exemplo, mostrar a origem do documento e o mesmo ser
possível de analise, pois a fotografia ou a imagem possui uma historia por detrás a
qual deve ser pesquisada.
O trabalho com imagens históricas em sala de aula conforme nos orientam
Maria Auxiliadora Schmidt & Marlene Cainelli (2004), depende da concepção que se
tem a seu respeito, dos objetivos que se querem atingir e das estratégias propostas
para sua concretização. Assim, a utilização do documento histórico em sala de aula
segundo as autoras, contribui para ilustrar o tema trabalhado no que se refere à
natureza do documento histórico ou a sua concepção, para reforçar o que for falado
pelo professor, que é a fonte de informação que desenvolve no aluno a capacidade
de absorver, descrever, memorizar, criticar, pertencer, inserir-se, modificar e atuar.
Portanto, a confrontação entre diferentes tipos de documentos escritos,
iconográficos e depoimentos orais é importante porque o aluno pode construir
relações de semelhanças e diferenças, ajuda ainda buscar informações sobre as
gerações. Essa estratégia desenvolve a capacidade de comparar, localizar,
classificar e abstrair conhecimentos históricos. O professor conforme dizem Maria
Auxiliadora Schmidt & Marlene Cainelli (2004), pode estabelecer regras mais
abertas, estimulando a participação do aluno individual e em grupos, mas os
documentos ao serem apresentados devem ser selecionados de modo que
provoquem a admiração e o interesse dos alunos, mobilizem referencias e
contribuam para a construção de novas argumentações históricas. Essa estratégia
pode ajudar a desenvolver no aluno a capacidade de estabelecer relações e
generalizações, perceber localizações históricas, observar mudanças e
permanências e construir enunciados, mobilizando assim o seu conhecimento,
porém, será necessária a compreensão do mesmo, pois também é um veículo, um
instrumento que não revela nada por si só, mas serve para responder as questões
do aluno e do professor. As atividades desenvolvidas no estudo dos documentos
como fonte de respostas para as hipóteses ou problemas, podem ajudar a construir
interferências – raciocínios.
Nestas perspectivas, para iniciar nosso trabalho, optamos por trabalhar com
as imagens da Independência do Brasil, usando em específico as imagens pintadas
por Pedro Américo e René Moreaux, por acreditarmos que elas nos possibilitariam
um trabalho interessante e apropriado ao momento de estudo em que os alunos se
encontravam. Porém, a intenção de estudo e análise da imagem com os alunos é de
interrogá-las e compreender as condições em que foram produzidas, mas também
desenvolver a competência leitora e uma atitude questionadora e reflexiva que está
presente em cada imagem, pois, de acordo com Roberto Junior Catelli, (2009, p.15),
não se pode simplesmente crer que a Independência do Brasil tenha ocorrido da
forma que os livros didáticos nos apresentam. A opção se deu também, pela
curiosidade e conhecimento de várias bibliografias que já trabalharam com o tema,
nos possibilitando um aporte maior para este primeiro contato mais específico com a
análise de imagem.
Diante da ideia de Catelli, foi proposta ao aluno uma pesquisa com análise
crítica sobre as duas imagens que retratam a independência, chegando à conclusão
de que podemos analisar e que é necessário também investigar a intenção do autor
da obra e compreender suas intenções, além de indagar-se sobre as circunstâncias
em que a obra foi realizada. .
O recorte das imagens em questão também se justifica por elas constarem
nos livros didáticos dos alunos, tendo eles já um contato e visão inicial sobre as
mesmas. Neste sentido, nos propomos a instigá-los a analisar de modo crítico o fato
histórico que cada imagem apresenta, pois se observa que existem problemas nas
várias formas de interpretações. Para maior conhecimento sobre a problematização
das imagens, os alunos fizeram pesquisas no laboratório de informática e na
biblioteca, e assim compreenderem as versões contraditórias em relação a essa
questão que varia de autor para autor.
Após os estudos e análises da pesquisa sobre o contexto histórico das
imagens da independência que o autor Alfredo Boulos Júnior (2007), nos apresenta,
os alunos observaram e discutiram sobre as contradições, por exemplo, na obra de
François Renée Moreaux perceberam que a imagem retrata a Independência do
Brasil como um acontecimento comum, onde D. Pedro aparece montado em uma
mula, juntamente com alguns colonos, todos vestidos com roupas bem simples.
Nesta foto a tomada de consciência a favor da emancipação dos laços coloniais se
daria pelos colonos através de um lento processo e o povo não tomava sequer
conhecimento do fato da proclamação da independência. Diante disso, aconteceram
questionamentos bem problemáticos e discussão sobre o fato.
François Renée Moreaux Pedro Américo
Onde os alunos observaram que na segunda imagem, o pintor Pedro Américo,
retrata a Independência do Brasil como um grande acontecimento de elite e D.
Pedro com uma grande comitiva apresenta-se com vestimentas de Gala montado
num belo cavalo, analisaram criticamente, problematizando o seguinte: Será que um
animal deste tipo suportaria uma viagem do Rio de Janeiro a São Paulo nessa
época? Qual dos dois seria mais resistente, o cavalo ou a mula? Após analisar as
duas imagens os alunos chegaram à conclusão de que entre os dois animais, seria a
mula mais resistente e suportaria a viagem.
Em seguida foram analisadas as imagens do quadro de Pedro Américo “O Grito do
Ipiranga”, nela notaram que se trata de uma pintura histórica encomendada por D.
Pedro II, para exaltar seu pai D. Pedro I, e rememorar o nascimento da nação e do
Império Brasileiro. Segundo a visão deles, Pedro Américo foi encarregado de criar
uma versão oficial para o episódio conhecido como Grito do Ipiranga. Comentaram
que o pintor inseriu na obra elementos inventados, como a casa e os animais, porém
no ponto de vista dos alunos este contexto histórico requer estudos mais
aprofundados e novas pesquisas para um melhor entendimento do processo.
Diante da pesquisa relacionada ao quadro de Pedro Américo, os alunos
perceberam que em vez de mulas usadas para viagens longas, ele pintou cavalos
imponentes, no lugar de roupas amarrotadas, uniformes impecáveis, e introduziu o
agrupamento de soldados da Guarda Imperial (de uniforme branco), que na época
ainda não tinha sido criada. O boiadeiro e o carro de bois, bem como o viajante e
seu escravo, tudo isso é obra da imaginação do pintor. Outro elemento inserido por
Pedro Américo foi à casa que aparece ao fundo. Essa casa inexistia em 1822, tendo
sido construída apenas por volta de 1850. A tal casa acabou sendo conhecida como
a Casa do Grito. Ela mesma acabou se tornando um monumento histórico. Porém, a
memória apresentada nas imagens alegóricas produzidas em pinturas umas mais,
outras menos célebres, revelam discordâncias e incoerências, indicando a
necessidade de uma apreciação mais atenta, de um tratamento variado de novas
versões. Nesse contexto histórico uma aluna questionou o seguinte: - Então, as
comemorações do dia sete de setembro são uma farsa? Com essa problemática da
aluna, fomos para mais uma pesquisa procurar compreender qual o sentido desse
fato histórico, compreendendo que é de interesse político das autoridades da época.
Assim sendo, continuamos a comemorar tal data por ser o marco da nossa
independência.
Perante isso, evidentemente, para datar um documento e localizá-lo em uma
temporalidade histórica depende da aprendizagem de um conjunto de diferentes
faces do tempo histórico, como por exemplo, identificar a cronologia de um fato no
tempo, a datação de um texto ou um documento, como também obter dados sobre a
personalidade autor, sua história pessoal e suas prováveis intenções quando
produziu o documento. A fase de identificação do documento significa, portanto,
selecionar seus elementos significativos, como datas, ideias, expressões, palavras
cujo significado seja desconhecido. Em seguida, esses elementos podem ser
expressos em texto e frases curtos. Entendemos então, que a crítica do documento
é fundamental e o aluno precisa saber relacionar os fatos estabelecidos pelos
historiadores, os apresentados pelo professor em classe, os pesquisados em livros
ou outras fontes, como a internet e o conteúdo do documento, no entanto, cada
documento exige um instrumental crítico particular, mas a crítica de qualquer
documento deve começar pela identificação dos temas e dos argumentos, com a
ajuda de questões ou problemáticas, como: O documento corresponde ao que se
procura saber sobre os fatos estudados? O documento dá informações falsas ou
deforma ou oculta informações? O documento contradiz outros documentos ou está
de acordo com eles? O documento revela alguma intenção de seu autor? O
trabalho durante essa fase varia conforme o tipo de documento e pode ser feito
individual ou em grupo de alunos.
Entretanto, o documento possibilita colocar algumas questões sobre os elementos
identificados ou então sobre as datas, a autoria, a natureza do texto e as ideias,
como, por exemplo, a síntese da explicação do documento: O documento procura
expor a verdade? Pretende atingir um grupo de pessoas em particular? Com quais
objetivos foi produzido? Como o documento apresenta a realidade? Por quê? O que
é realçado no documento? Quais as relações dos dados com o lugar de onde o
documento está falando? Quais intenções essas relações revelam? Há
correspondência entre as datas de produção e de difusão do documento? Quais
eventos importantes ocorreram quando o documento foi produzido ou publicado?
Quais palavras explicam melhor o documento? Quais conhecimentos permitem
melhor compreender o sentido do documento?
O comentário do documento também é fundamental, pois, trata-se de uma fase
importante no trabalho com os documentos históricos em sala de aula e não pode
ser considerada apenas simples explicação, deve haver a introdução do conteúdo,
verificar se corresponde à análise dos dados obtidos na fase da apresentação do
documento, como o estabelecimento de natureza do texto, data, autor e questões ou
problemáticas. Nela é importante haver também perfeita correspondência entre as
questões propostas e os comentários obtidos com base nelas. Desenvolvimento,
nesta etapa, desenvolve-se a explicitação da explicação ou crítica do documento, ou
então, o documento é descrito com precisão, a fim de eliminar possíveis
ambiguidades. Essa explicitação pode ser feita em ordem cronológica ou temática.
Implica retorno sistemático ao documento, seja com breves comentários explicativos,
seja com citação de expressões, entre aspas, do documento, seja com referências e
dados, como autor, datas, fatos. O retorno ao documento é uma forma de o aluno
aprender a dar apoio a suas argumentações. Conclusão: Nesta etapa do trabalho,
solicita-se ao aluno que evidencie qual foi seu grau de interesse pelo documento,
qual é a importância do documento, quais são as principais respostas às questões
apresentadas e quais novas questões foram estabelecidas.
Num segundo momento de nossa experiência, foi desenvolvido um trabalho
com os alunos sobre o estudo e análise da imagem do Grito do Ipiranga –
Independência do Brasil. Primeiramente, foi distribuído um texto para leitura, da
professora Lourdes Lyra “Memórias da Independência”, pelo qual em grupos os
alunos fizeram leitura, discutiram fatos e pontos relevantes dos acontecimentos
como a política e a sociedade daquela época, como viviam os trabalhadores, como
estava dividida a sociedade, o poder estava nas mãos de quem? Qual o grupo que
dominava a política? Após a leitura do texto, pesquisaram em outras fontes na
biblioteca, trocaram ideias entre si e com o incentivo da professora participaram do
debate ressaltando pontos fundamentais sobre o tema em questão. Em seguida, foi
oferecido aos alunos para análise, imagens que trazem versões diferentes da obra
de Pedro Américo Figueiredo e Mello, e da obra do artista François René Moreaux.
Sobre essas obras os alunos observaram, analisaram e debateram os seguintes
questionamentos: Onde se ambienta a cena? Qual o lugar de D. Pedro I neste
quadro? Qual o perfil social dos que o cercam? Como as pessoas reagem ao Grito
da Independência? Será que esse grito existiu de verdade? As pessoas vestem-se
hoje como os brasileiros da época? Corresponde à realidade brasileira do período?
Qual o sentimento predominante nesta cena? É possível que D. Pedro I estivesse
viajando a cavalo, um animal pouco resistente para uma travessia como a Serra do
Mar e depois dessa penosa viagem, que todos estivessem tão bem vestidos? Que
interesses políticos podem ter guiado a feitura dessas obras? Esses quadros foram
pintados por encomenda? Qual foi à recepção desta obra na sociedade da época?
Diante das pesquisas os alunos compreenderam que a sociedade daquela época se
apresentava com desigualdades sociais, poucos tinham acesso às boas condições
de vida, posição econômica, social e política.
Ao finalizar as atividades propostas, os alunos se organizaram em dois
grupos e montaram dois painéis nos quais apresentaram as versões dos pintores
Moreaux e Pedro Américo sobre a imagem do quadro “O Grito do Ipiranga” –
Independência do Brasil, levando ao conhecimento e análise de todos do colégio,
com os seguintes questionamentos:
Versão do pintor François René Moreaux na primeira imagem:
Versão de Pedro Américo na segunda imagem.
Será que naquela época
um cavalo suportaria uma
viagem tão longa, do Rio
de Janeiro a Soa Paulo?
Quais das duas imagens
você diria ser a verdadeira?
Ou nenhuma é verdadeira?
Os painéis ficaram expostos no saguão do Colégio para a observação e
discussão de todos os alunos, professores e funcionários do colégio que faziam
comentários interessantes relacionados às versões dos artistas.
Por fim, entendemos que o ensino através de análise de imagens históricas
propõe desenvolver atividades que possibilitem ao educando saber ler e fazer
análise de imagens de forma crítica e contextualizada. Observar e perceber quais
seriam os interesses econômicos e políticos dos artistas ou de quem encomenda.
Diante deste contexto, entenderam ainda que as imagens são documentos que
poderão ser pontos de partida para a prática de ensino da historia, mas não poderão
ser tratadas como fins, em si mesmas, deverão responder as indagações e as
problematizações de alunos e professores.
No terceiro momento da nossa experiência do trabalho com imagens em sala
de aula, buscando trazer inovações para o ensino, e colocando o aluno como sujeito
do processo histórico foi desenvolvido o trabalho da elaboração de autobiografias
baseadas na localização de documentos e objetos que facilitem a explicação de
histórias individuais e de acontecimentos da história local. No entanto, observamos
que os educandos diante da apresentação das imagens e fotografias analisadas
durante o processo de trabalho e desenvolvimento das atividades com imagens,
ficaram interessados e motivados em apresentar a história de suas famílias. A partir
daí, fizeram pesquisas nos álbuns da família para compreender a sua própria
história, trouxeram para a sala de aula documentos, fotografias, objetos e através
destes construíram sua própria história, mostrando e analisando nestas fontes
pontos fundamentais como, vestuário, moda, e alguns fatos sociais possíveis das
épocas em estudo, como também a história que se construiu diante da sociedade
analisada, estabelecendo através do estudo das imagens relações sociais, políticas,
econômicas, bem como, costumes e culturas presentes nos contextos em que estão
inseridos. No desenvolvimento do estudo e análise com imagens, fotografias e
documentos perceberam como a sociedade se organizava e pensava em cada
época, entenderam a partir da análise crítica das imagens a representação histórica
que se expressa em cada uma delas, notaram ainda que a história não é contexto
de decoração ou de conhecimento fragmentado, mas que as imagens são
documentos que poderão ser pontos de partida para a prática de ensino da história,
e não poderão ser tratadas como fins em si mesmos, mas sim, deverão responder
as indagações e as problematizações.
Para concretizar o trabalho com documentos foi organizado um dossiê, no
qual foi apresentada a vida do aluno desde sua infância até os dias de hoje, neste
dossiê, o aluno contou aos colegas que quando era criança, seus brinquedos eram
bem mais simples dos de hoje, brincava de carrinho simples ao invés de carrinho
com controle remoto. Em seu tempo de criança jogava videogame modelo atare, nos
dias atuais isso já é passado, existem outros muito mais modernos. Em relação a
mídia diz ele que usou o vídeo cassete, DVD, CD, etc. os quais já são
ultrapassados, o modernidade tecnológica e a ciência tem avançado muito. Outros
alunos também participaram apresentando seus dossiês apontando experiências
vividas como brincadeira de bonecas o que hoje quase não se brinca mais, pois as
meninas amadurecem precocemente, não vivendo as fases da vida.
Foi organizada uma exposição na sala de aula com materiais do passado e
presente, onde os alunos trouxeram objetos antigos e atuais: chuveiro de balde,
chuveiro elétrico, ferro a brasa, a gás, elétrico e a vapor, telefone com fio e sem fio,
celulares, disco de vinil, CD e cartão de memória, fotos de um casamento antigo e
de um casamento atual, um serrote e um motor serra, câmara fotográfica antiga e
uma digital, foto de uma máquina de datilografia e de um computador, fotos de como
as mulheres se trajavam para irem a praia e relataram de como as mulheres de hoje
frequentam o litoral. Após analise de cada objeto concluímos o trabalho
identificando o tempo de cada um deles, como cada família fazia uso anteriormente
relacionando com a praticidade desses objetos nos dias de hoje.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta proposta de trabalho diferenciado, pude constatar que o aluno tanto
aprende quanto ensina, descobri que, no momento que buscam novas informações,
passam a conhecer determinados assuntos e automaticamente passam a ser
Trabalhar com imagens foi uma estratégica devolvida passo a passo, em tempo e
métodos próprios. Todas as incertezas e as angústias vividas nos primeiros
momentos foram compensadas pela alegria e satisfação de sentir que meus alunos
viveram intensamente a cada momento dos trabalhos desenvolvidos, como também
a interação entre si, o conhecimento adquirido e o compartilhamento dos seus
saberes.
Durante as primeiras aulas da implementação notamos que os alunos
sentiram um pouco de dificuldade nas análises das imagens ou documentos , mas
conforme eles foram se interando das atividades e do contexto histórico
apresentados foram entendendo como as visões de mundo são construídas
socialmente. Isso nos levou a refletir que uma proposta de investigação seria uma
possível contribuição de procedimento pedagógico. Diante disso sabemos que
nossos alunos não constroem sozinhos seus conhecimentos, a construção da
aprendizagem só aparece na interação do ensino aprendizagem.
Observamos que a construção do conhecimento acontece por meio da prática
inovadora, da curiosidade do aluno, criação de situações de aprendizagens
diferenciadas onde os alunos possam criar sentido no que está lhe sendo proposto.
No desenvolvimento da nossa proposta notamos também, que é preciso repensar o
processo educativo, pois hoje na modernidade em que vivemos, a educação já não
pode mais funcionar como uma “fábrica de ensino”, é necessário educar para um
mundo de inovações. A educação, concebida numa perspectiva contemporânea,
desenvolve-se num processo consciente e constantemente preocupado com o
sucesso escolar, dinamismo, aluno crítico e reflexivo, preparado para o mundo da
tecnologia. Nos momentos das atividades percebemos uma grande motivação por
parte dos alunos, todos estavam muito envolvidos nos trabalhos e procuravam
contribuir sempre com sua criatividade. Compreendemos que o desinteresse dos
alunos por determinadas atividades está relacionado com os conteúdos que
compõem os currículos das disciplinas e que muitas vezes, não são imediatamente
perceptível para eles.
No desenvolvimento do projeto de pesquisa compartilhamos saberes,
trocamos informações, criamos alternativas para superar nossas curiosidades, pois
muitos interesses deles eram desconhecidos para mim. A cada dia novas
curiosidades surgiam e a interação e a motivação do grupo cresciam conforme o
envolvimento e a participação dos alunos na busca de novos saberes, conforme
foram surgindo às dificuldades iam auxiliando-se.
Para finalizar nosso trabalho, concluímos que toda a atenção não apenas do
professor, mas de todo aquele que lida com as imagens, deve voltar-se para o lado
mais visível e frágil, onde talvez se encontrem os possíveis vestígios de um
inconsciente visual de nossa época. Portanto, é preciso repensar o processo
educativo, a educação já não pode funcionar como uma “fábrica de ensino”. É
preciso educar não para o acúmulo de informações, muitas vezes, alheias e
desnecessárias, mas para uma educação concebida numa perspectiva de
informações contemporâneas, nas quais se desenvolvem um processo consciente e
constantemente preocupado com o ensino-aprendizagem, movimento, dinamismo e
flexibilidade que idealiza um aluno crítico, envolvido em sua própria aprendizagem.
Assim, é preciso trabalhar vendo o aluno como uma pessoa inteira, com sua
expressão, seus sentimentos, sua criatividade, capaz de construir conhecimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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