Post on 20-Feb-2016
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O DIFERENTE NUMA SOCIEDADE DESIGUAL
Havia uma sociedade que foi esquecida em um mundo subterrâneo, tudo por lá era
como sombras, não se podia ver nitidamente a face do outro. Todos viviam de forma
igual e coletiva, o padrão era o mesmo para os membros daquela comunidade. Suas
crenças se resumiam a um ideário incerto e duvidoso. Contudo, a dúvida era proibida e
o alimento filosófico que eles possuíam era a repetição dos mesmos movimentos e
costumes, não era permitida de forma alguma a contradição, pois temiam a ira dos seres
superiores que, por crença dos patriarcas da sociedade afirmavam existir.
Porém, um jovem à frente de seu tempo, não percebia e não acreditava que
houvesse mal investigar, o porquê das crenças de sua sociedade. Em suas investigações
descobriu toda uma farsa por parte de seus lideres, na verdade a luz estava a poucos
metros acima de seu mundo, não seria fácil, nem difícil chegar lá. Deveria passar por
vigias e pelos sacerdotes do Templo das sombras, não titubeou, estudou todo o plano e o
pôs em prática. Conseguiu fugir da cidade das sombras, daquela que era um modelo
igualzinho para todos, quer fossem jovens, crianças, quer fossem velhos, a tradição, o
costume, os gostos e preferências não podiam ser diferentes, pois aquele que assim se
portasse seria severamente apedrejado pelos demais, ser diferente estava proibido. Disse
ele: “adeus meu único mundo, vou conhecer outros mundos existentes, mas volto para
te trazer às boas novas”.
Chegando ao topo e já em superfície, depois de uma longa caminhada noturna por
cavernas sombrias, percebeu que estava no desconhecido, pois teve a primeira sensação
de brisa matinal e vento em sua pele, era primavera e o Sol já apontava na aurora, à
medida que as trevas diminuíam a luz aumentava e o jovem expedicionário sego ficava
devidos os raios solares. Contudo, a perplexidade era muito grande, pois o perfume das
flores, o canto dos pássaros, as falas ao longe que se ouviam era tudo maravilhoso.
Passado o trauma da luz, agora podendo ver, saiu em direção ao aglomerado de pessoas
que corriam de um lado para o outro, era a vida cotidiana de uma cidade dos tempos
medievos.
O jovem logo de uma vez percebera que todas as pessoas eram diferentes, homens,
mulheres, crianças, palhaços, atores, comerciantes, artesões, intelectuais, nobres,
plebeus, enfim, pessoas vivendo suas vidas diferentes numa sociedade desigual, ele
pensou “como pode isso ser possível? Sendo todos eles diferentes se aceitam e
convivem de certa forma, harmoniosamente bem”.
Teve então a ideia de voltar ao seu mundo e contar tudo aos outros para libertá-los
de seus medos, prisões, conceitos e tradições. Contudo, ao chegar e contar tudo,
explicando como seria bom que todos também fossem ver, teve forte oposição daqueles
que determinavam as ações por lá, no entanto um grupo muito acanhado fez com ele
uma nova expedição e foram conhecer o mundo exterior ao deles, começou então uma
nova história para aquela comunidade que tinha medo de ser diferente, de conviver com
novos modelos temendo sua ruína e corrupção, porém eles preferiram a tolerância, pois
os que quisessem ir conhecer o mundo exterior ficavam livres para ir, aquele que
preferisse ficar como estava, livre também estava em sua escolha. Todavia, os que
fossem deveriam continuar respeitando os que não fossem e vice e versa.
Assim vivemos nós, somos em algum momento o jovem que almeja novos
conceitos, mais também somos aqueles que temem, rejeitam e discrimina o novo, o
diferente. Isso é histórico e vem desde a concepção eurocêntrica de evolução das
espécies. A ideia de pré-história está ligada ao pensamento eurocêntrico, que contempla
a noção de Progresso Histórico; Ou seja, a humanidade evoluiria de estágios menos
aperfeiçoados para situações melhores, conforme o tempo passa e as civilizações se
sucedem. Assumir que a História começa com a invenção da escrita (4 mil anos a.C.)
leva a acreditar, dentro da perspectiva evolucionista, que parte da humanidade (A euro-
asiática) que havia elaborado sistemas de escrita já “havia se desenvolvido”. Enquanto
os grupos cujo desenvolvimento tecnológico corresponderia ainda aos padrões da Idade
da Pedra, estariam então “atrasados”.
Essa concepção permitiu às nações brancas européias considerarem-se superiores
às outras sociedades humanas (não européias) e serviu para justificar a conquista de
povos, nações, reinos e até de continentes inteiros. A noção evolucionista (de que o
europeu é mais desenvolvido) constituiu uma base falsamente científica para a prática
do racismo (que evoluiu para vários tipos de preconceitos e intolerâncias).
É por isso que temos uma sociedade desigual que não aceita o diferente. Vivemos
em meio às injustiças sociais, favelas, mendigos, excluídos, trabalhadores e
desempregados, analfabetos e estudantes, brancos, negros, índios e orientais, mais
somos filhos do mesmo pai que é Deus e da mesma mão que é a Terra. Vivemos aqui,
quer em cavernas, quer em cidades não importa o meu universo, devo sempre respeitar,
aceitar e tolerar o meu próximo e o outro, sem por condições para isso. Sem paixão
pessoal o certo e viver o outro, pois somos diferentes e nossa sociedade é desigual.
Nilton Carvalho é professor, Historiador, Teólogo, especialista em Educação/Docência Universitária pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, é graduando em Direito pela Universo (Universidade Salgado de Oliveira – Campus Goiânia) e mestrando licenciado, em Ciências da Religião. ndc30@hotmail.com