O Comício como evento: Relações Públicas na política

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27MARÇOO COMÍCIO ENQUANTO EVENTO

Relações Públicas na Política

27MARÇONUNO MIGUEL DA SILVA JORGE

DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO | ISCTE-IUL

Ter espaço para um contributo inovador

Interesse pelo tema Relação entre a teoria e a prática

Contribuir para a construção do quadro teórico da profissão

PONTO DE PARTIDA

Do ponto de vista do profissional de Relações Públicas na Política, como é que o momento do comício é constitutivo da identidade do partido e sua expressão?

COMÍCIO ENQUANTO ACÇÃO DE COMUNICAÇÃO

QUESTÕES OPERACIONAIS FORA DO ÂMBITO DA ANÁLISE

AS DIMENSÕES COMUNICACIONAIS SÃO ALVO DE REFLEXÃO

ESTUDAR O COMÍCIO?

Escassez de conhecimento sobre o fenómeno no âmbito das Relações Públicas na Política.

Para compreender a utilidade tem para a estratégia de comunicação.Por questões relativas à utilidade do formato e da sua utilização.

OBJECTIVOS

Explorar as perspectivas dos profissionais e especialistas de Comunicação sobre o papel do comício.

Perceber o estatuto do comício hoje em Portugal.

Compreender a estrutura valorativa da argumentação do líder num comício eleitoral.

OPÇÕES METODOLÓGICAS

METODOLOGIA QUALITATIVA

Opção epistemológica de cariz interpretativista

Natureza da própria investigação

Defende-se para as Relações Públicas uma noção

interpretativista do mundo social

Existem objectivos claros de pesquisa

Não há uma estrutura de procedimentos rígida

Daymon e Holloway (2010) Oliveira (2008) Godoy (1995) Stack (2010)

Yin (2012) Silverman (2013)

DEFINIÇÃO DO

PROBLEMA e dos objectivos da investigação

REVISÃO DE LITERATURA

dentro do quadro das Relações

Públicas

REVISÃO DE LITERATURA

para reformular o quadro teórico

INVESTIGAÇÃO

EMPÍRICA para incorporar as perspectivas de profissionais

RELAÇÕES PÚBLICAS NA POLÍTICA

RELAÇÕES PÚBLICAS

DISCIPLINA SOCIALIhlen e van Ruler (2007); Sommerfeldt (2013); White e Mazur (1995)

MAIS QUE UM PROCESSO AUXILIAR Botan e Taylor (2004); Wilcox (2006); L’Etang (1994); Eiró-Gomes e Nunes (2013)

TEM UM CORPO TEÓRICO PRÓPRIO Raposo (2014); Wilcox, Cameron e Xifra (2010); Sebastião (2012)

TEM AS SUAS PRÓPRIAS ASSOCIAÇÕES

É UMA FUNÇÃO POLÍTICA DAS ORGANIZAÇÕES(Simões, 1995, 2001); Simões e Lima (2008); Raupp, 2004)

“As Relações Públicas na Política são o processo de gestão através do qual uma organização ou actor individual para fins políticos, através de acção comunicativa intencional, procura influenciar e estabelecer, construir e manter relações benéficas e a sua reputação com os públicos chave para ajudar a suportar a sua missão e atingir os seus objectivos.” (Stromback e Kiousis, 2011, p.8)

Porquê estudar as Relações Públicas na Política?

Compreender a validade da teoria de Relações Públicas na vida politico-partidária; Trazer novas perspectivas para a teoria geral das Relações Públicas; Falta um corpo teórico unificador das várias disciplinas.

Stromback e Kiousis (2011)

OS PARTIDOS POLÍTICOS ENQUANTO ORGANIZAÇÕES

O objecto não são as suas opções ideológicas, mas a compreensão da sua realidade comunicacional. Estudam-se as metodologias que possibilitam aumentar o reconhecimento da legitimidade e da identificação com a organização.

TRÊS ÁREAS DE ACTUAÇÃO

Institucional

Parlamentar

Eleitoral

Acções e instrumentos das Relações Públicas na PolíticaAs relações com os órgãos de comunicação social

A escrita de discursos

O contacto pessoal dos candidatos (arruada, visitas a instituições)

Websites e plataformas online

Filmes promocionais (tempos de antena)

Materiais impressos (flyers)

Debates

Cartazes

Estudos de opinião

get out the vote

Os Comícios

OS COMÍCIOS SÃO UMA ACÇÃO DE COMUNICAÇÃO.

COMO PODEMOS COMPREENDER A REALIDADE DO COMÍCIO?

POLÍTICA É COMUNICAÇÃOA Comunicação é constitutiva da Política.

polity policy

politics

Vowe (2008); Denton (1997); Smith (1990)

LIGA-SE À ACÇÃO HUMANACompreensão e construção de significados

em conjunto

labor trabalho

acção

Arendt (1958)

Relações Públicas na Política são argumentativas

Argumentação: Perelman e Olbrechts-Tyteca (1958)

Não são da esfera informativa

Não são uma demonstração

São da esfera dos valores

Pressupõe uma escolha entre outras possíveis

ANCIENT REGIME SOCIEDADE MODERNA

Legitimidade tradicional Legitimidade pós-revolucionária

Paixões Interesses

Aproximação através de uma ordem pré-estabelecida

Homens isolados necessitam do próximo para concretizar interesses

Valores absolutos Valores relativos

Legros (1999); de Mattei (2002); Dumont (1983)

O Homem isolado necessita criar acção conjunta (Tocqueville, 1835)

Inibe as paixões em prol dos interesses (Hirschman,1997)

Massa: fenómeno psicológico resultante da necessidade de identificação, abole a diferença (Geremek, 1999; Ortega & Gasset, 1930; Freud, 1920)

Relação de integração: centro e periferia (Shills, 1974; Duverger, 1964)

LUTA DE VALORES

MASSAS PARTICIPAM NA VIDA POLÍTICA

Formas de representação Organização do combate político Lutam pelo poder

OS PARTIDOS POLÍTICOS

Aurélio (2009); Michels (1915); Smith (1925); Weber (1919); Duverger 1964)

Personificam a vontade da massa.

‘um libertador dos impulsos do eu enquanto parte do nós.’ (Freud)

Permitem que os laços de comunidade se mantenham.

LÍDERES

Plessner (1924); Freud (1920, 1929): Heidegger (1956); Oakeshott (1962); Espírito Santo (1997)

COMÍCIO É UM EVENTO DE MASSAS

A massa reune-se à volta do líder

COMÍCIO É UM EVENTO DE MASSAS

Proximidade para o centro de valores da comunidade

COMÍCIO É UM EVENTO DE MASSAS

Distinção entre quem está dentro e quem está fora: nós e os outros.

COMÍCIO É UM EVENTO DE MASSAS

Algum grau de radicalismo: o bem e o mal; comunidade contra a sociedade;

o interesse contra as forças que se opõem

O COMÍCIO ENQUANTO EVENTOtempo próprio | comunidade | ritual | festa | unicidade | simbolismo

LIGAÇÃO AO SAGRADOCom o esvaziamento do divino, o sagrado surge na política como uma forma de participar os valores fundadores - os da vontade humana Sentido de pertença entre iguais Simbologia colectiva Sentido messiânico de um futuro prometido

Cabral (1992); Pintasilgo (1992); Riviére (1988); Otto (1917)

MAGIA E CARISMAOs políticos têm o poder mágico: revelam e criam significados através do poder simbólico das palavras. Carisma: poder simbólico que implica o reconhecimento de uma qualidade extraordinária, que legitima o agente.Monnerot (1949); Weber (1919, 1922); Shils (1974); Bourdieu (1992); Plessner (1924); Espírito Santo (1997); Jorge et al (2011)

DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO SAGRADO

NO COMÍCIO FORA DO COMÍCIO

Espaço sagrado Espaço profano

Espaço puro Espaço impuro

Reconstrução do tempo mítico Tempo histórico

Centro do mundo A periferia

Contacto com a origem Confronto de valores

Comunidade Sociedade

Caillois (1939, 1964); Eliade (1957, 1969)

FESTA POLÍTICAComunhão: reconhecimento entre iguais Libertação: excesso natural Efeito regenerador - refunda a vontade Purificção dos participantes - renova o tempoPintassilgo (1992); Ozouf (1976); Eliade (1957); Cailloi (1939)

Líder conta o mito do futuro | Representa o futuro idealizado tornado presente no espaço sagrado | sentimento de totalidade

OBRA DE ARTE DO FUTURO

Wagner (1849)

O RISCO DA INSTRUMENTALIZAÇÃO

A utilização para ganhar atenção mediática esvazia o seu significado. A ar t ific ia l ização torna-o numa pseudo-representação. Quando não cumpre a sua função vital, perde valor.

OS CONTRIBUTOS DOS PROFISSIONAIS E ESPECIALISTAS

RECOLHA E ANÁLISE

OBJECTIVO c o m p re e n d e r a s p e r s p e c t i v a s d o s profissionais e especialistas

MÉTODO DE RECOLHA 19 entrevistas semi-estruturadas, de carácter presencial

CATEGORIAS DE ENTREVISTADOS

Profissionais dos partidos ConsultoresEspecialistas

MÉTODO DE ANÁLISE Qualitative Content Analysis (Schereier, 2012)

GRELHA Concept-driven

TRATAMENTO DOS DADOS NVIVO

OS RESULTADOS

O comício é hoje usado principalmente com fins principalmente mediáticos. Do ponto de vista das Relações Públicas defende-se que existem outras acções e instrumentos mais interessantes para este efeito. O comício deve ser compreendido como uma acção que reforça a identidade partidária: fortalece os laços e a identificação com os valores.

OBJECTIVOS DO COMÍCIO ELEITORAL

EVENTO VITALIZAR A COMUNIDADE

WORD-OF-MOUTH

UNIFORMIZAR O ARGUMENTÁRIO

DEMONSTRAR FORÇA

OBJECTIVOS SECUNDÁRIOS

COBERTURA MEDIÁTICA

MARCAR A AGENDA DE CAMPANHA

BARÓMETRO ELEITORAL

AFIRMAÇÃO POLÍTICA

APOIAR O LÍDER

INFLUÊNCIA DA FESTA POLÍTICA

NÃO É UMA MERA ACÇÃO PROMOCIONAL

CONSTRÓI PATRIMÓNIO SIMBÓLICO

REFORÇA A RELAÇÃO DE PERTENÇA

NOÇÃO DE PERTENÇA

RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE

NECESSÁRIOS PARA A LUTA ELEITORAL

CAMPANHA TAMBÉM EXISTE FORA DA COBERTURA MEDIÁTICA

CONTRÓI LAÇOS COMUNITÁRIOS

MOTIVA PARA A INFLUÊNCIA DIRECTA NEM TODA A INFLUÊNCIA DECORRE ENTRE CANDIDATOS E ELEITORES

Período pós-revolucionárioO legado simbólico Afirmação na rua Influenciar as decisões políticas

EVOLUÇÃO DO COMÍCIOem Portugal

Os grandes eventos eleitorais Estabilização do regime político Eventos de campanha Apresentar as propostas aos eleitores

EVOLUÇÃO DO COMÍCIOem Portugal

Os espectáculos mediáticosArtificialização do comício Aumento da cobertura mediática das campanhas Espectáculo montado para a televisão Caso: pontal/pontinha

EVOLUÇÃO DO COMÍCIOem Portugal

Os comícios contemporâneosNovos formatos Menos participantes Dificuldade de mobilização

EVOLUÇÃO DO COMÍCIOem Portugal

Formatos alternativos não resolvem o problema estrutural. Falta de interesse e desânimo com a política são os grande adversários do comício. A vitalidade do comício é a vitalidade da política.

O FORMATO

O PÚBLICOA comunidade: quem se desloca ao comício Os que fazem par te do evento: são assistentes-participantes (apesar da intenção de os tornar em decoração). Proximidade física: como num concerto ou jogo de futebol O comício destina-se a quem já tem uma atitude favorável; não se destina a convencer

FIGURA CARISMÁTICA

FIGURA CARISMÁTICAO líder é a figura carismática | representa os valores do partido | fala em nome do centro | evento é feito para a sua apoteose

Duas notas A escassez de figuras carismáticas leva à artificialização do carisma. A excepção dos partidos mais à esquerda,em que a organização aparece como o colectivo carismático.

EMOÇÕES DO COMÍCIO

COMUNHÃOnoção de tribo, dissolução do eu no nós, psicologia de massa.

ENTUSIASMO E MOTIVAÇÃOmomento de festa, vitaliza a ligação ao centro, renova o tempo.

CRENÇA E EXTASEcontacto com o sagrado, noção de dentro/fora do grupo.

LIBERTAÇÃO Um caminhar para um grande final como parte de um todo que se deseja.

ELEMENTOS CÉNICOS

REFORÇAM A IDENTIDADE São mais do que um cenário.

QUEBRAM A NOÇÃO DE TEMPO HISTÓRICO

Transportam para um momento extra-quotidiano.

RITUALIZAM Criam um portal entre o mundo sagrado e a vida profana.

LIGAM A ORGANIZAÇÃO NO TEMPO

Ligam o passado, o presente e o futuro. Ex: o simbolísmo do lugar

INFLUENCIAM DURANTE E DEPOIS

A plateia vai travar o combate pós-comício. Compreensão dos 6 fluxos de influência.

DISCURSOÉ uma expressão da identidade partidária. Não é uma representação do líder, mas da comunidade como um todo. Adversário: partidos à esquerda vêem-no como uma classe antagónica; os restantes entendem-no como “os outros partidos”

MOTIVADOR O comício é um lugar de entusiasmo.

MEDIÁTICO Defende-se que o mediatismo deve emergir como uma consequência.

EMOCIONAL Referido pelos especialistas: apelo à massa.

TEATRAL / RELIGIOSOO carácter religioso encontra-se nos grandes discursos: ex: Marther Luther King

PRAGMÁTICOPara relacionar os valores com casos específicos. Não para apresentar propostas.

REPETITIVO garantir que o público compreende e se lembra das ideias principais.

CARACTERÍSTICAS DO DISCURSO

VALORES NO DISCURSO

Na oposição: valores abstractos | No poder: valores concretos

DO ETHOS DO ORADOR

DA NOÇÃO DE COMUNIDADE

COMPETÊNCIA COLECTIVO

RESPONSABILIDADE AGRADECIMENTO

CREDIBILIDADE ORIGEM

PROXIMIDADE ESPERANÇA

AUTORIDADE COMPETIÇÃO

INFLUÊNCIA DOS MEIOS DIGITAISA comunidade exprime a voz do partido perante aqueles que lhe são próximos.

Partidos limitam-se a fazer cobertura dos eventos.

Existe a possibilidade da comunidade ampliar as mensagens.

Reconhecimento da legitimidade torna-se essencial.

Impossibilidade do comício virtual: necessidade de proximidade, ritual do espaço, convergência de valores.

FUTURO DO COMÍCIOVai continuar a fazer parte da vida política. Necessita de se afastar da noção de montra mediática. É inútil como sessão de esclarecimento, mas importante na construção do reconhecimento da legitimidade. Não é promoção. É comunhão.

ALGUMAS NOTAS FINAIS…

O comício tem sido usado principalmente para ganhar cobertura mediática. Mas deve ser utilizado como um vitalizador da relação do partido com a comunidade.

Se assim não for, torna-se num elemento sem substância e meramente decorativo.

Pensar a comunicação eleitoral como promoção é redutor.

EM CONCLUSÃO

Estudou-se o comício tendo em conta a realidade portuguesa. As Relações Públicas na Política são um campo de estudo recente: o que poderia ser uma limitação acabou por permitir dar um contributo inovador.

De futuro, seria interessante compreender de que forma os valores identificados neste trabalho foram utilizados pelos diversos líderes, para expressar a identidade partidária.

No que respeita ao estudo das Relações Públicas na Política procurou-se contribuir para a construção de um corpo teórico que permita compreender o reconhecimento da legitimidade organizacional no sector da Política.

EM CONCLUSÃO

27MARÇOO COMÍCIO ENQUANTO EVENTO

Relações Públicas na Política