Post on 21-Dec-2020
O BRINCAR EM DIFERENTES ESPAÇOS NAS INSTITUIÇÕES DE
EDUCAÇÃO INFANTIL
TOLENTINO, Eneida Gomes¹- PPGE/UFJF1
Grupo de trabalho – Educação da Infância
Agência Financiadora – Fundo de Apoio à Pesquisa na Educação Básica(FAPEB)
Resumo O presente trabalho foi desenvolvido, com apoio financeiro do FAPEB, em escolas públicas do município de Juiz de Fora-MG, destinadas ao atendimento da Educação Infantil e do 1º ano do Ensino Fundamental. Partindo de uma das atribuições do Departamento de Educação Infantil, do qual sou integrante da equipe, realizamos visitas periódicas nas instituições de Educação do município a fim de orientar o trabalho pedagógico na Educação Infantil. Nestas visitas realizadas, observamos como estava organizado o cotidiano, e principalmente como era possibilitado o brincar na rotina das crianças, visto que a Proposta Curricular do município para a Educação Infantil destaca esta atividade como o fundamento do trabalho com as crianças pequenas. Nestas observações constatamos uma priorização de questões relacionadas à alfabetização e ao ensino de conteúdos descontextualizados, o que nos apontou uma necessidade de discutirmos com o grupo de profissionais questões fundamentais sobre a atividade do brincar e a reorganização dos espaços em função desta. Assim, iniciamos um processo de reflexão de nossa atuação, enquanto técnicas orientadoras do trabalho cotidiano das instituições, pensando possibilidades de estratégias de ações que poderiam fomentar discussões e transformações na prática pedagógica dos profissionais que atuavam nestas escolas. Foi assim que surgiu a ideia de inscrever nossa proposta ao FAPEB. Este financiamento contribuiu muito para a realização de nosso trabalho. Planejamos e realizamos momentos de formação em contexto, nos quais estudamos, discutimos e refletimos sobre a prática pedagógica com relação ao brincar/brinquedo e o espaço destinado a estes no cotidiano da instituição. Destas discussões emergiram possibilidades de reorganizações e transformações diversas.
Palavras-chave: Brincar. Brinquedos. Reorganização de espaços.
Introdução
Durante nossa trajetória de trabalho na Educação Infantil, primeiramente como
professoras e coordenadoras pedagógicas de escolas públicas no município de Juiz de Fora e
1 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Educação(UFJF), Pós graduação em Arte-Educação Infantil(UFJF), Professora e Coordenadora Pedagógica na Rede Municipal de Juiz de Fora, Técnica do Departamento de Educação Infantil da Secretaria de Educação de Juiz de Fora.
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atualmente como integrantes da Supervisão de Coordenação Pedagógica de Educação Infantil
do Departamento de Educação Infantil- Secretaria de Educação de Juiz de Fora
(SCPEI\DEI\SE\JF), percebemos algumas dificuldades das escolas e seus profissionais de
Educação Infantil em incluir o brincar como atividade principal da prática pedagógica com as
crianças pequenas.
Pudemos observar que em função de uma grande preocupação em atender às
demandas e expectativas impostas pelas famílias e sociedade, em geral, o planejamento do
trabalho com as crianças centralizam-se em extensas listas de conteúdos trabalhadas de forma
nada significativa para as mesmas. Nesta perspectiva o brincar assume um lugar secundário
na proposta de trabalho dessas escolas, sendo muitas vezes didatizados a fim de servirem
como ferramenta de trabalho com conteúdos, ou até mesmo para tornar mais agradável a
maneira de ensinar (DEBORTOLI.2005).
Desta forma, quase não resta às crianças tempo para um brincar em sua verdadeira
essência “livre”. Consequentemente, os espaços destinados às salas de atividades de Educação
Infantil são organizados de forma a atender também a esta proposta de trabalho, decoradas
com muitos cartazes com conteúdos estudados pelas crianças e a presença de muitos jogos
pedagógicos e poucos brinquedos e artefatos diversos.
É importante destacar que a organização dos espaços e das rotinas, geralmente são
pensadas revelando as posturas pedagógicas das instituições e de seus profissionais, bem
como suas concepções.
As escolas de educação infantil têm na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário. (HORN,2004, p.61)
Diante deste cenário, começamos a pensar em uma forma de intervenção que nos
possibilitasse interagir com os grupos de profissionais das escolas a fim de provocar uma
reflexão sobre suas concepções e práticas de trabalho, com o intuito de propor aos mesmos
uma reflexão sobre a importância do brincar e uma reorganização dos espaços e tempos
promovendo uma dinamização na rotina das instituições.
Decidimos então, em 2009 elaborar um projeto de pesquisa/intervenção, buscando
apoio do Fundo de Apoio à Pesquisa na Educação Básica (FAPEB) por meio da Secretaria de
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Educação da Prefeitura de Juiz de Fora. A finalidade deste era a promoção de uma formação
em contexto a fim de provocar discussões que viabilizassem o desejo de mudança na prática
pedagógica dos profissionais, resultando numa (re)organização dos espaços e tempos,
favorecendo o brincar nestas instituições e o reconhecimento das crianças como protagonistas
desta nova organização. Depois deste outros vieram.
O foco de todos os projetos era o brincar, mas as especificidades de cada instituição
nas quais os realizamos e nossos erros e acertos foram delineando novas formas e rumos.
Ao pensarmos e propormos uma reorganização dos espaços na Educação Infantil de
modo que os mesmos contribuíssem para a construção da identidade e da autonomia, e, tendo
o brincar como fundamento da proposta, nos pautamos numa concepção de criança e de
infância. Partindo, então, “do pressuposto de que as crianças são sujeitos ativos que
participam e intervêm no que acontece ao seu redor e que suas ações são também forma de
reelaboração e recriação do mundo. Nos seus processos interativos, elas não apenas recebem e
se formam, mas também criam e transformam – são constituídas de cultura e também são
produtoras de cultura” (CORSINO, 2006, p. 39).
Consideramos que não é possível construir uma proposta de trabalho para Educação
Infantil sem levar em conta a concepção que temos de infância. Remetemo-nos então, à
concepção, expressa no documento Diretrizes Educacionais para a Rede Municipal de Juiz de
Fora, onde se lê:
Infância é uma construção social influenciada pelo contexto histórico, psicológico, político e social. As crianças são sujeitos históricos, construtores e produtores de cultura. Elas devem ser percebidas como cidadãs. Devemos vê-las como seres ativos e participativos. Esta concepção rompe com a idéia de que a criança seria 'construída na escola'; 'viria a ser cidadã', produtora de conhecimentos. (PJF, 2008, p. 21)
Partindo desse entendimento sobre a infância podemos refletir como devemos
organizar nossos espaços e, consequentemente, os tempos escolares, a fim de propiciar às
crianças um desenvolvimento integral, considerando-as protagonistas do/no processo
educativo.
Percebemos a necessidade de pensar em meios de ampliar o universo da brincadeira
para as crianças no espaço da Educação Infantil, pois temos vivenciado neste segmento da
educação uma grande preocupação com o processo de escolarização e de antecipação de
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conteúdos do Ensino Fundamental para a Educação Infantil. O brincar fica destinado apenas a
momentos como recreio/recreação ou quando “sobra tempo” para o mesmo. Muitas vezes as
brincadeiras promovidas são “didatizadas”, tendo como objetivo o ensino de algum conceito
ou conteúdo estabelecido pelo professor de acordo com o seu planejamento. É preciso ampliar
o olhar dos profissionais da Educação Infantil sobre a importância da brincadeira para as
crianças, como ela pode promover a aprendizagem e o desenvolvimento de maneira lúdica,
rompendo com a visão de que a brincadeira é um “tempo perdido” para a aprendizagem.
Compreendemos que o brincar é típico da infância e é nessa época que a brincadeira se
inaugura. Segundo Rosa (2001, p. 21), o brincar vai muito além da apropriação de um método
para ensinar ou como um recurso facilitador da aprendizagem, ele atinge uma “possibilidade
de abertura de um campo onde os aspectos da subjetividade se encontram com os elementos
da realidade externa para possibilitar uma experiência criativa com o conhecimento”.
A brincadeira está ligada ao contexto social e cultural, e é fruto de nossa história, que
é dinâmica e está em constante transformação. De acordo com Brougère (2001) as crianças
compartilham de uma cultura lúdica, ou seja, um conjunto de procedimentos que permitem
tornar a brincadeira possível entre o grupo, criada a partir das relações que o brincante
estabelece com seu meio.
É preciso, efetivamente, romper com o mito da brincadeira natural. A criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável. Não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto de cultura. É preciso partir dos elementos que ela vai encontrar em seu ambiente imediato, em parte estruturado por seu meio, para se adaptar às suas capacidades. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo menos nas formas que ela adquire junto ao homem (BROUGÈRE, 2001, p. 97-98).
Para Vigotski (1998) a criança ao brincar não está preocupada com o objeto em si e
sim com seu significado. Na brincadeira, “os objetos perdem sua força determinadora. A
criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é
alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê”
(p. 127). Em outras palavras, a criança brinca com aquilo que tem nas mãos e na cabeça
(BROUGÈRE, 2001).
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Desenvolvimento
Justamente, esta forma de conceber o brincar como uma das atividades principais da
infância e que muito tem a contribuir com seu desenvolvimento, foi o que nos motivou a
propor tal trabalho, que por ventura foi concretizado.
Sendo assim, o primeiro projeto aprovado foi “Reorganizando os espaços na Educação
Infantil”, desenvolvido em 2010, em uma escola de Educação Infantil e 1º ano do Ensino
Fundamental, da zona norte da cidade, que atende crianças de 3 a 6 anos. Em visitas à referida
escola observamos que as salas de atividades eram totalmente desprovidas de brinquedos e
que estes quando existiam ficavam nas prateleiras mais altas das estantes ou trancados dentro
dos armários. Notamos também uma preocupação excessiva dos professores quanto ao
ensino de letras e números, fixando-se em atividades de cópias e decorando as paredes com
cartazes estereotipados.
Propomos então, por meio do projeto, uma reestruturação destes espaços, por
acreditarmos nas possibilidades diferenciadas de organização dos mesmos enquanto
instrumento que proporciona interações e aprendizagens diversas entre os pares. Para
fortalecimento da proposta feita aos educadores, oferecemos como subsídio momentos de
estudos e formação em contexto, nos quais tivemos a oportunidade de refletirmos sobre os
desdobramentos cotidianos da práxis educativa. Para tal, aproveitamos o espaço das Reuniões
Pedagógicas mensais, na quais estudamos e discutimos sobre temas como infância, brincar,
organização dos espaços, organização do tempo, a organização de espaços por meio de
cantinhos e as formas de registro e sua importância. Além disso, acompanhamos experiências
vivenciadas pelas crianças nos cantinhos juntamente com os educadores.
Realizamos entrevistas, por meio de questionários com as famílias, para que
pudéssemos perceber o envolvimento das mesmas nas práticas cotidianas escolares das
crianças, vislumbrando uma parceria neste processo.
Como fruto de nossos estudos, discussões e reflexões, conseguimos reorganizar os
espaços das salas de atividades, transformando estes em local de brincadeira, no qual as
crianças passaram a ter acesso aos brinquedos e artefatos sem a dependência do adulto. Para
tal adotamos a organização de cantinhos variados na sala de atividades.
A partir desta primeira experiência, no ano seguinte, em 2010, submetemos duas
novas propostas para a aprovação do FAPEB, que nos permitiram envolver outras duas
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escolas de Educação Infantil, da rede municipal de Juiz de Fora, neste processo de formação
em contexto, os quais foram aprovados e desenvolvidos em 2011. Vale ressaltar, que
diferentemente da primeira experiência que foi sugerida à escola por nós, a escolha das duas
outras escolas se deu, a partir do interesse das mesmas, demonstrado no decorrer das visitas
periódicas às instituições.
Desta forma, nosso segundo projeto “A construção da identidade e da autonomia
através da organização dos espaços na Educação Infantil” foi desenvolvido numa escola da
zona Sudeste da cidade, que atende crianças de 3 a 5 anos. Acreditamos que a construção e o
desenvolvimento da identidade e da autonomia pressupõe à criança o direito de fazer
escolhas, tomar decisões por si própria e expressar-se, levando em conta valores e regras
construídas pelos adultos, pelo grupo e por si mesma. Além disso, reconhecemos a
brincadeira como atividade essencial para a construção da identidade e da autonomia. Nela, a
criança tem a oportunidade de desenvolver capacidades como a de imaginar, representar,
imitar, comunicar-se e expressar-se através dos gestos e da fala, ter atenção e conviver com
regras nas interações que estabelece.
O projeto foi proposto a partir de visitas de rotina à escola e conversas com os
educadores que demonstravam bastante interesse em vivenciar uma formação em contexto por
acreditarem ser de fundamental importância uma discussão mais aprofundada entre todos os
profissionais desta instituição de Educação Infantil, buscando uma reflexão acerca da
reorganização dos espaços em função do brincar.
Os estudos e as reflexões sistematizadas, como no primeiro projeto, ocorrem
mensalmente com todo o coletivo da escola durante as reuniões pedagógicas. A partir de
textos previamente selecionados, estudam e refletimos sobre os “cantinhos de atividades
diversificadas” como uma das possibilidades de “arranjo espacial” acreditando que, esta
forma de organização possibilita à criança realizar atividades variadas, de maneira segura e
autônoma, em ambientes estimulantes, desafiadores e construídos coletivamente. De acordo
com Dornelles e Horn (1998, p. 24)
Estes espaços podem ser estruturados a partir de temas, como supermercado, casinha de bonecas, biblioteca, ou também tendo como referência o tipo de atividades que podem ser realizadas nela como área mais movimentada, área semi movimentada e área mais tranquila. O sucesso desta forma de organizar o espaço depende muito de o educador saber observar o modo como as crianças brincam nele, modificando-os a partir desta observação.
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A princípio não definimos os cantinhos a serem montados, nem mesmo delimitamos a
organização dos mesmos em espaços fixos ou móveis, pois esta decisão foi sendo construída a
partir das discussões com o grupo de profissionais e junto com as crianças nas conversas
diárias. Aos poucos os espaços foram sendo (re)organizados e ficou decidido, inicialmente a
montagem de 3 diferentes cantinhos em cada sala, dentre eles: o cantinho do faz de
conta/fantasia, da casinha, do mercadinho, das profissões, da literatura/leitura e o cantinho
musical, que aos poucos foram sendo incrementados e com a participação das crianças foram
modificados e acrescentados.
Outro tema estudado com o grupo foi sobre o brincar e sua importância na construção
da identidade e autonomia das crianças pequenas, o que também contribuiu com as mudanças
das práticas pedagógicas na escola, visto que ao organizarmos os “cantinhos de atividades
diversificadas”, propiciamos às crianças, um momento privilegiado para o exercício da
autonomia, já que tais cantinhos “são uma modalidade de organização do espaço e do trabalho
que oferece várias possibilidade de atividades ao mesmo tempo, de modo que as crianças
possam escolher onde estar e o que fazer” (KLISYS, 2007, p. 31).
O educador tem um importante papel neste contexto, já que o sucesso desta forma de
organizar o espaço depende do seu olhar observador sobre o que as crianças brincam, como se
dão as brincadeiras, o que mais gostam, suas preferências ao brincar, dentre outros. No
decorrer da formação em contexto, destacamos a importância do papel do professor como
mediador nos momentos de brincadeiras. Para Santos (2001), o professor pode assumir três
diferentes funções na brincadeira das crianças:
A primeira delas é a função de “observador”, na qual o professor procura intervir o mínimo possível, de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de todos. A segunda função é a de “catalisador”, procurando através da observação, descobrir as necessidades e os desejos implícitos na brincadeira, para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E, finalmente de “participante ativo” nas brincadeiras, atuando como um mediador das relações que se estabelecem e das situações surgidas, em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso das crianças (SANTOS, 2001, p. 98-99).
Todavia, vale ressaltar que nós educadores, devemos ter cuidado para não interferir
ou até mesmo atrapalhar a brincadeira. Ao perceber que as crianças em determinados
momentos preferem brincar somente entre si, o professor deve aproveitar para observar o
grupo ou uma criança individualmente, registrando como elas se organizam.
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O intuito pedagógico de controlar a brincadeira priva-a de muitas possibilidades. É papel da instituição intervir no contexto em que a criança possa brincar. Os materiais, a atitude do professor, o tempo e o espaço destinados são partes integrantes desse processo. No entanto, a brincadeira não deve ser condicionada. O espaço da educação infantil deve propiciar às crianças pequenas o desenvolvimento de atividades lúdicas como a brincadeira, cabendo ao adulto mediar, adentrar e compreender a cultura lúdica dos pequenos. (ARAÚJO, 2008, p.118)
Durante as intervenções na escola, pudemos perceber que a mesma tem envolvido as
famílias no seu cotidiano através de atividades coletivas realizadas nos sábados letivos. Além
disso, nas visitas à escola e nos encontros de formação, pudemos perceber um crescente
interesse que culmina numa ressignificação dos fazeres pedagógicos.
No decorrer das discussões fomos definindo onde e como os “cantinhos” seriam
montados. Após a leitura de textos e as reflexões do grupo, ficou decidido que os cantinhos
seriam fixos, montados nas próprias salas de atividades, e por isso, os temas precisaram ser
definidos com todas as professoras que utilizam o espaço nos diferentes turnos de
funcionamento da escola.
O terceiro projeto foi realizado numa escola da região do Centro da cidade. Seu tema é
“o brincar e o brinquedo nos diferentes espaços da Educação Infantil”, tendo como objetivo
refletir sobre como promover momentos de brincadeira nos diferentes espaços e tempos da
Educação Infantil. Tal proposta surgiu a partir de uma conversa com um grupo de pessoas da
escola que apontavam o desejo de aprofundar as discussões já iniciadas acerca da temática
“brincar”.
Buscando promover uma melhor compreensão sobre a importância da brincadeira para
as crianças, realizamos encontros mensais com a equipe da escola, nos quais promovemos
estudo de textos, palestras, dinâmicas, discussões em grupo, reflexões sobre as questões
cotidianas e outros. Afinal para que haja uma mudança na prática pedagógica, é necessário
repensar nossas concepções sobre a infância, o desenvolvimento da criança e o papel da
Educação Infantil. Nos estudos mensais discutimos, subsidiados por leituras de textos,
questões relativas ao papel do brinquedo; o uso do mesmo para diferentes funções de acordo
com a situação imaginária; os brinquedos utilizados na escola; as concepções sobre o brincar;
importância da mediação e o papel do professor; as classificações de algumas brincadeiras
como: pedagógica, dirigida, livre e de recreação, além de trocas de experiências. Percebemos
que estes momentos de formação contribuíram para a reflexão e mudanças na prática de
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algumas professoras, além de contribuir com a construção de argumentos sólidos que
passaram a sustentar a prática do brincar como atividade principal da Educação Infantil nesta
escola.
Nesta experiência decidimos envolver as crianças de forma mais efetiva em algumas
decisões.Combinamos então que os professores realizariam uma pesquisa com as crianças
sobre quais brinquedos elas gostariam de ter na escola. O que posteriormente direcionou
outras decisões tomadas pela equipe de profissionais da escola. Uma discussão importante
nesse momento foi sobre a organização destes brinquedos e artefatos, visto que o objetivo é
que os mesmos sejam utilizados nos diferentes espaços da escola. Portanto, foi necessário
pensar em uma alternativa que possibilitasse o deslocamento destes para os diferentes
espaços, ficando decidido pelo grupo que os mesmos ficariam armazenados em caixas
plásticas, separadas por temas e que pudessem ser levadas para a sala de aula, sala de
recreação, pátio e o auditório, sendo estes os espaços disponíveis na escola.
A ideia de promover o brincar nos diferentes espaços da Educação Infantil, surge
como estratégia de suprir a carência de espaços, considerados como adequados e para
reconstruir um conceito de sala de aula, transgredindo-o para sala de atividades. Além disso,
consideramos todos os espaços de uma escola de Educação Infantil como propícios ao
desenvolvimento da brincadeira. Assim, a organização e a disponibilidade dos brinquedos
oferecidos às crianças precisam estar de acordo com essa concepção, permitindo às mesmas o
acesso e a oportunidade de escolha dos brinquedos e artefatos possibilitando que as
brincadeiras aconteçam em diferentes espaços.
A organização do ambiente deve ser pensada de modo que possibilite momentos
diferenciados onde a criança possa envolver-se na brincadeira e fazer escolhas de acordo com
seus interesses, atuando ativamente como autores do processo. Segundo Barbosa e Horn
(2001, p. 68)
Todos os momentos, sejam eles desenvolvidos nos espaços abertos ou fechados, deverão permitir experiências múltiplas, que estimulem a criatividade, a experimentação, a imaginação, que desenvolvam as distintas linguagens expressivas e possibilitem a interação com outras pessoas.
Ainda para Barbosa (2006, p.135), “a disponibilidade de ambientes variados e a
variação dentro de um mesmo ambiente ampliam o universo cultural e conceitual das
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crianças”. Desse modo, a brincadeira deve ser o eixo para todas as atividades desenvolvidas,
devendo permear a prática pedagógica e envolver não só as crianças, mas também os adultos
que com elas convivem nesta instituição.
Uma das ações desenvolvidas nesse projeto foi a apresentação do mesmo para os pais
e responsáveis, visto que os professores sempre apontam em nossas discussões sobre o brincar
a preocupação e cobrança dos pais sobre as atividades desenvolvidas pelos filhos. Na reunião
esclarecemos sobre a importância do brincar para as crianças, o quanto as brincadeiras são
importantes para o seu desenvolvimento e o motivo pelo qual o projeto estava sendo proposto.
Posteriormente, realizamos com os pais uma pesquisa para analisar o que as crianças estavam
comentando sobre o projeto.
Considerações Finais
Em nossas observações cotidianas percebemos que o brincar tornou-se mais presente
no cotidiano da escola, as professora começaram a propiciar às crianças mais tempo da rotina
à atividade do brincar. As crianças utilizavam os brinquedos em diferentes espaços da escola.
As professoras passaram a se envolverem mais nas brincadeiras, tendo um olhar diferenciado
pra estes momentos, mas percebemos também que ainda há uma insegurança por parte de
algumas delas, que ainda têm privilegiado em suas práticas o desenvolvimento de atividades
escolares relacionadas aos conteúdos a serem trabalhados, há momentos de brincadeiras, mas
estes ainda não são compreendidos como parte intrínseca da prática cotidiana e como
atividade promotora de desenvolvimento. Quanto às crianças, estas estão adorando os
momentos de brincadeira, os novos brinquedos e a exploração dos espaços.
Ao realizarmos a avaliação final do projeto com os professores todos consideraram
que o desenvolvimento do projeto está sendo satisfatório, para a maioria houve mudança na
dinâmica da prática pedagógica e consideram importantes os momentos de formação, pois
estes contribuem para a reflexão sobre a prática.
Para finalizarmos, é importante ressaltar ainda, que o processo de ressignificação da
prática através da formação em contexto não se faz de uma hora para outra, demanda tempo e
principalmente predisposição dos envolvidos no processo. As mudanças das práticas nas
escolas cujos projetos foram realizados, foram perceptíveis, porém ainda temos um longo
caminho a percorrer, já que ainda percebemos que o brincar, agora presente nas instituições,
ainda é entendido como algo a mais na proposta pedagógica, e nãocompreendido como
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fundamento dela. Este trabalho certamente foi somente um pontapé inicial cabendo ao
coletivo das escolas buscar novas estratégias para reorganização dos espaços e tempos tendo o
brincar como fundamento da proposta de trabalho.
Referências
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