Post on 18-Feb-2021
FABIANE GOMES DA SILVA DE LIMA
GLAUCE SOARES CASIMIRO
JOECIMARA MIQUILINO ALVES
NEOgrafias Trabalhos de Conclusão do
Curso de Letras
2019
Volume 3
NEOgrafias Organização: Fabiane Gomes da Silva de Lima Glauce Soares Casimiro Joecimara Miquilino Alves Reitor
Taner Douglas Alves Bitencourt Pró-Reitoria de Graduação
Alessandro Gomes Lewandowski Pró-Reitor de Extensão
Luciana Auxiliadora Guimarães Fonseca Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Denise Renata Pedrinho Coordenadora de Curso
Fabiane Gomes da Silva de Lima Bibliotecária
Kelly Cristina de Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera Uniderp
N361 NEOgrafias Trabalhos de Conclusão do Curso de Letras.
[Recurso eletrônico] / Organização [de], Fabiane Gomes da Silva de Lima, Glauce Soares Casimiro, Joecimara
Miquilino Alves. - Dados eletrônicos. -- Campo Grande.
Universidade Anhanguera Uniderp, 2019.
163 p.- (NEOgrafias Trabalhos de Conclusão do Curso de
Letras; v.3).
Sistema requerido: Processador 400 MHz ou superior com
128MB de RAM; Windows 8 ou posterior; disco rígido com
600MB livres; placa de vídeo de 8MB; placa de som de 16-bit;
dispositivo de PEN-DRIVE.
ISSN 2675-0481
1. Línguas e linguagem. 2. Linguística. 3. Intertextualidade. I. Lima, Fabiane Gomes da Silva de. II. Casimiro, Glauce Soares.
III. Alves, Joecimara Miquilino. V Série.
CDD 21.ed. 400
APRESENTAÇÃO
Os trabalhos de Conclusão de Curso apresentados, nestas Neografias, são
do Curso de Letras, da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte de uma
exigência para a finalização das licenciaturas.
Na leitura dos trabalhos, vemos a literatura e seu ensino como temáticas
prioritárias. De fato a leitura de texto literário é uma experiência muito particular,
capaz de abrir caminhos, influenciar para sempre nossa vida, nossos gostos, nosso
jeito de pensar.
No entanto, a seleção do texto literário a ser trabalhado com os alunmos de
ensino fundamental e médio, é um desafio para o professor. Com textos variados, o
professor poderá investir na formação dos mesmos como leitores e usuários da
língua. Lendo, conhecerão autores importantes de nossa tradição, que tornaram e
tornam nosso país conhecido no mundo inteiro e ao mesmo tempo nos convidam a
refletir sobre problemas da sociedade brasileira.
A leitura dos trabalhos permite afirmar que nossos acadêmicos se
empenharam na pesquisa e certamente serão conduzidos para uma pesquisa mais
ampla, através da especialização, mestado ou doutorado.
Estas Neografias representam um esforço da coordenação dos cursos das
licenciaturas, dos professores e dos formados em socializar o aprendizado e suas
conquistas. Enfim, queremos que tenham internalizado o conceito de educação
continuada tão relevante nesta era do conhecimento.
Juvelina Zompero Pereira
Professora dos Cursos de Letras e de Pedagogia da
Universidade Anhanguera-Uniderp
SUMÁRIO
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR ................................... 5
Maria Cristina da Silva Prudêncio
O ENSINO DA LITERATURA NO ENSINO MÉDIO: A FORMAÇÃO DO ALUNO
LEITOR ..................................................................................................................... 21
Milena Honorato Cosmo Gomes
A TECNOLOGIA COMO INSTRUMENTO NA APRENDIZAGEM DE IDIOMAS ....... 52
Poliana Aparecida Lima Neris
TECNOLOGIA EDUCACIONAL COMO FERRAMENTA A FAVOR DO ENSINO ..... 71
Sandely Santos Barreto
A UTILIZAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS PARA FORMAÇÃO DE LEITORES NO
ENSINO FUNDAMENTAL ......................................................................................... 90
Suelen Ribeiro Tinoco
A INTERTEXTUALIDADE NA FORMAÇÃO E NO CONHECIMENTO DO LEITOR 108
Thamires dos Santos Isidoro
LINGUÍSTICA: A LINGUAGEM NA ERA DIGITAL .................................................. 146
Viviane Nayara Pereira Gomes
O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO AMBIENTE ESCOLAR Maria Cristina da Silva Prudêncio
RESUMO
A abordagem temática deste estudo tem como enfoque estudar o preconceito
linguístico existente no ambiente escolar. A relevância em se estudar sobre esse
tema se justifica para evitar que esse tipo de situação ocorra entre os envolvidos na
relação pedagógica. A importância em estudar as várias formas de linguagem, de
acordo com as variantes linguísticas é evidente, pois o espaço escolar pode se
mostrar como rico na pluralidade de indivíduos que ali estão inseridos, não dando
lugar ao preconceito. A questão norteadora buscou responder: Em que consiste o
preconceito linguístico no ambiente escolar? Como objetivo geral deste trabalho
buscou-se compreender o que é preconceito linguístico no espaço escolar. Os
objetivos específicos em conceituar a variação linguística, contextualizar o
preconceito linguístico e destacar a necessidade de uma escola receptiva, dirimindo
o preconceito linguístico no ambiente escolar. O presente trabalho de conclusão de
curso se deu a partir de uma pesquisa bibliográfica, por meio da revisão da literatura.
Foram pesquisados materiais como livros, artigos científicos, teses de doutorado e
dissertações de mestrado junto a livros, sites de bancos de dados de trabalhos
científico e revistas científicas que publicam sobre a temática junto à plataforma
Google Acadêmico.
Palavras-chave: Linguagem; Preconceito linguístico; Variedade Linguística.
1 INTRODUÇÃO
O território brasileiro é rico de uma vasta diversidade cultural e identitária,
sendo que é comum que haja variações linguistas entre regiões e devido a
condições sociais das pessoas. Assim, pode haver casos em que surgem situações
de preconceito linguístico na esfera educacional.
Nesse sentido, verifica-se como de suma importância evitar que esse tipo de
situação ocorra entre os envolvidos na relação pedagógica. Por isso é que pesquisar
nessa área contribui para toda a comunidade docente e discente, inclusive para os
genitores desses educandos.
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Nesse sentido, destaca-se a importância em estudar as várias formas de
linguagem, de acordo com as variantes linguísticas, pois o espaço escolar pode se
mostrar rico, diante de uma pluralidade de indivíduos que ali estão inseridos, não
dando lugar ao preconceito. Considerando as particularidades que revestem o
espaço escolar, destacou-se a seguinte problemática: Em que consiste o
preconceito linguístico no ambiente escolar?
Como objetivo geral deste trabalhobuscou-secompreender o que é
preconceito linguístico no espaço escolar. Os objetivos específicosem conceituar a
variação linguística, contextualizar o preconceito linguístico e destacar a
necessidade de uma escola receptiva, dirimindo o preconceito linguístico no
ambiente escolar.
O presente trabalho de conclusão de curso se deu a partir de uma pesquisa
bibliográfica, por meio da revisão da literatura. Sendo pesquisados materiais como
livros, artigos científicos, teses de doutorado e dissertações de mestrado junto a
livros, sites de bancos de dados de trabalhos científico e revistas científicas que
publicam sobre a temática junto à plataforma Google Acadêmico.
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2 A VARIEDADE LINGUÍSTICA
A linguagem e a língua podem se evidenciar de diferentes modos. A
comunicação pode se dar de várias formas, assim sendo em razão dos vários
processos históricos e regionais, o Brasil possui uma variedade de dialetos e
dicções, causando variantes. No tocante às variações linguísticas elas podem se dar
como dialetal e a de registros.
Nesse sentido, é importante destacar que que toda língua apresenta
variação, em decorrência da multiplicidade de indivíduos que há na sociedade,
sendo heterogênea, composta por várias identidades sejam elas pessoas, regionais
ou relacionadas a aspectos culturais. Desse modo, Alkmin (2011) destaca que:
Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variações. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um conjunto de variedades. Concretamente: o que chamamos de “língua portuguesa” engloba os diferentes modos de falar utilizado pelo conjunto de seus falantes do Brasil, em Portugal, em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor etc. (ALKMIN, 2011, p.33)
Corroborando com tal visão, a perspectiva suscitada por Camacho (2011), o
qual faz uma crítica ao modelo tradicional em que a língua é ensinada no espaço
escolar, destacando que por esse método, há uma deficiência no ensino, pois aqui
fixa-se na mente do educando que há apenas um padrão correto de língua que ele
deve seguir, considerando que os demais são inadequados, anulando, portanto, a
variação linguística. Sendo assim, aponta que:
O modo como a língua é ensinada na escola pratica tradicionalmente o modelo da deficiência. O principal pressuposto da tradição normativa é que cabe a escola o papel de compensar supostas carências socioculturais. Decorre desse pressuposto que a principal tarefa do ensino é substituir a variedade não-padrão pelo padrão. A esse modo de existência, a Sociolinguística propôs uma alternativa fundamental, segundo a qual variações de linguagem não devem passar por um crivo valorativo, já que não são mais que formas alternativas que o sistema linguístico põe à disposição do falante. (CAMACHO, 2011, p.69)
Portanto, a seguir será dado enfoque à variação de registro e à variedade
dialetal, a qual se subdivide, por sua vez, em variantes geográficas, variantes
sociais, variantes históricas, entre outras que serão melhor especificadas a seguir.
A variedade dialetalcorresponde aos diferentes dialetos que podem ser
utilizados, o que irá depender de vários fatores. Assim a mesma se subdivide em
variedades geográficas, sociais, históricas, devido à idade, ao sexo, grau de
escolaridade.
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A variação dialetal é devida aos usuários da língua e ao grupo social a que pertencem. Ela ocorre em função da região em que os usuários vivem, dos grupos e da classe social a que pertencem, de sua geração, de seu sexo, seu grau de escolaridade e ainda da função que exercem na sociedade.(MARINHO, 2006)
No que concerne às variantes de ordem geográfica ou como também são
chamadas de diatópica, estão relacionadas às diferenças relacionadas à língua em
um determinado local (espaço geográfico), entre sujeitos de determinada região.
Assim, conforme Mussalin e Bentes (2006, p. 34): “A variação geográfica ou
diatópica está relacionada às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico,
observáveis entre falantes de origens geográficas distintas.”
Corrobora com essa conceituação a trazida por Valadares (2010, p.40):
Assim, a variação geográfica ou diatópica caracteriza-se, de acordo com Preti (2000), por ocorrerem num plano horizontal da língua, na concorrência das comunidades linguísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais. Ainda, de acordo com Preti (2000), suas manifestações são contidas na comunidade por uma hipotética linguagem comu+m do ponto de vista geográfico que, sendo geralmente compreendida e aceita, contribui para o nivelamento das diferenças regionais.
Ademais, com relação à variação ou como também é conhecida como
diastrática, pode ser compreendida como “um conjunto de fatores e que têm a ver
com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da
comunidade de fala” (Mussalin; Bentes, 2006, p. 34).
Com base no exposto, a variação linguística com base no fator social leva
em consideração todos os aspectos da vida do falante, seja ela de maneira
econômica, cultural ou propriamente social. Essa variação é decorrente do fato de
que as pessoas e as classes sociais pertencem a grupos distintos e isso interfere no
momento da comunicação.
Nessa senda, conforme Marinho (2006), essas variações de ordem social se
dão em razão do meio no qual as pessoas estão inseridas, que refletirá
significativamente no processo comunicacional, com normas e padrões que seguem
a identidade de cada falante:
As diferenças linguísticas na dimensão social ocorrem em função de as pessoas pertencerem a classes ou grupos sociais distintos. O meio em que vivem os falantes – o ambiente familiar bem como o grupo social – é caracterizado por normas de conduta e padrões culturais e linguísticos próprios a cada comunidade. Daí a semelhança entre as formas de expressão de falantes de um mesmo grupo. (MARINHO, 2006, p.12)
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Nesse enfoque, para que possa compreender a língua, a partir do seu
aspecto social, como é o caso da variação linguística, o ramo específico de estudo
escolhido para isso é denominado de sociolinguística, a qual é uma ciência que
incumbe o estudo da língua e da sociedade de forma relacionada. (ALKMIN, 2011)
Sobre isso, evidencia-se, portanto, que há um ramo específico da linguística
que volta o olhar para as sociedades e questões sociais relacionadas com os
aspectos lingüísticos sendo que dentro dessa perspectiva é possível perceber que a
esta ciência é que cabe o objeto de estudo compreendido na variação linguística, em
decorrência de fatores regionais, sociais e outros.
Adiante, a terceira possibilidade de variação linguística consiste na variante
em razão da história, tendo em vista que a língua evoluiu ao longo dos anos, a qual
se torna mais perceptível quando se fala em linguagem escrita, pois é por meio dela
que se fazem os registros de determinada época e costumes de um povo. Sobre
esse conceito, Marinho (2011, p.12) assevera que:
A língua evolui e se desenvolve ao longo do tempo. As mudanças linguísticas ocorrem em estados sucessivos de uma língua em função das ações dos falantes, que contribuem para que determinada forma caia em desuso para que outra, por eles adotada, sobreviva. O conjunto de mudanças que ocorre com o passar do tempo é chamado de variação histórica ou diacrônica. As variedades históricas são mais perceptíveis na língua escrita, na medida em que, por escrito, se pôde fazer o registro dos usos das épocas dos diferentes estágios por que passa a evolução da língua.
Além dessas formas de variações apresentadas, a linguagem ainda pode
variar de acordo com a idade dos interlocutores, sexo ou nível de escolaridade. Tais
variações ocorrem tendo em vista o contexto em que são produzidas, em razão de
que no quesito relacionado à idade é possível observar que os jovens têm uma
linguagem própria, repleta de gírias e vícios de linguagem, com assuntos muitas
vezes relacionados com tecnologia e coisas inerentes à idade, o que pode tornar a
transmissão da mensagem um pouco mais difícil para alguém que não compartilha
da mesma faixa etária.
Outrossim, com relação ao sexo, em muitas ocasiões, homens ou mulheres
podem divergir da forma como se comunicam, tendo dialetos e gírias típicas do seu
gênero. Assim como quanto à escolaridade, como é o caso dos jargões típicos de
determinadas áreas, como os adotados por médicos com termos clínicos e os
advogados com o “juridiquês”.
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Portanto, foi possível observar que a variedade dialetal pode se desdobrar
de diversas maneiras e em diferentes níveis, sejam elas marcados por aspectos
geográficos, sociais, históricos, quanto a faixa etária, sexo ou nível de escolaridade
de cada interlocutor, o que pode influenciar no processo de transmissão da
mensagem.
A outra classificação de variação da linguagem corresponde à variação de
registro, a qual surge em decorrência do fato de que um mesmo interlocutor pode se
valer de uma linguagem em outras situações, de acordo com o contexto abordado.
Nessa perspectiva, Marinho (2006) aponta que:
As variedades de registro ocorrem em função do uso que um mesmo falante faz da língua nas diversas situações em que produz uma atividade verbal. Conforme as circunstâncias em que a interação verbal se realiza, o falante buscará a forma de expressão que julgar mais adequada. Caso se encontre entre amigos, num campo de futebol, participando de um jogo, o falante poderá dizer: “Chuta a bola pra mim!”. Com certeza ele não dirá algo como “Solicito-lhe que impulsione a bola com o pé na minha direção”, já que essa forma de expressão seria inteiramente inadequada a tal situação comunicativa. (MARINHO, 2006, p.13)
Dessa forma, essa modalidade de variação dependerá do contexto em que
esse falante fará uso da língua, julgando a forma mais adequada de utilizá-la, ou
seja, em um ambiente mais formal seguir uma linguagem mais culta, enquanto em
um encontro informal com amigos optar por uma linguagem mais coloquial.
Portanto, ao longo deste capítulo foi possível perceber que a variação
linguística se dá de diversas formas, sendo importante compreender essas vertentes
para que seja possível vislumbrar que não existe uma forma certa ou errada de se
falar, pois a língua portuguesa é repleta de várias possibilidades, a qual dependerá
de diversos fatores, o que será trabalhado ao longo dos demais capítulos.
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3 PRECONCEITO LINGUÍSTICO
De acordo com o que foi estudado anteriormente, houve a possibilidade de
visualizar que o Brasil é um país rico em detalhes, sendo resultado de uma mistura
de povos e consequentemente sua cultura e modo de vida são tão diversos. Por
isso, verifica-se que existem diversas variantes no que concerne à linguagem, quer
seja de ordem regional ou social, por exemplo.
Nesse sentido, isso significa dizer que a língua está em constante mudança
e os responsáveis por essa mudança são os próprios falantes. Existem situações em
que as pessoas não seguem ao padrão esperado e fixado pela conhecida norma
culta padrão da língua brasileira, em razão das variantes linguísticas existentes,
motivo pelo qual pode haver um grande desprestígio com relação a essas outras
variantes e essas pessoas que não seguem o padrão da norma culta, as quais
podem ser vistas com um olhar de menosprezo por parte dos demais indivíduos.
De acordo com o que expõe Faraco (2008, p. 73), a norma padrão pode ser
conceituada como uma “codificação abstrata, uma baliza extraída do uso real para
servir de referência em sociedades marcadas por acentuada dialetação, a projetos
políticos de uniformização linguística”.
Em decorrência das várias questões que afetam a linguagem, há um ramo
específico da linguística que volta o olhar para as questões sociais relacionadas com
os aspectos linguísticos, dentro dessa perspectiva é possível perceber que a esta
ciência é que cabe o objeto de estudo compreendido na variação linguística, em
decorrência de fatores regionais, sociais e outros. Surge, assim, a denominada de
Sociolinguística, consistente num ramo da linguística que estuda as relações
existentes entre a língua e a sociedade, dando ênfase ao caráter institucional das
línguas.
Sobre a sociolinguística Monteiro (2002, p.28) a conceitua como sendo uma
plataforma para ter uma melhor compreensão acerca da estrutura social por
intermédio da linguagem, salientando que:
[...] a sociolinguística analisa os aspectos sociais com o intuito de compreender melhor a estrutura das línguas e seu funcionamento. Por sua vez, a sociologia da linguagem busca alcançar um melhor entendimento da estrutura social através do estudo da linguagem (MONTEIRO, 2002, p.28).
Considerando isso, existem várias situações de preconceito linguístico no
cotidiano, sendo que ele é oriundo de um estereótipo de que determinada pessoa,
por suas características, não sabe falar bem ou não é inteligente o suficiente. Há de
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se ressaltar que não existe uma língua que seja a única em qualquer região do
mundo, sendo que cada uma terá suas particularidades. Assim, o monolinguismo
seria uma invenção para excluir as pessoas que não falam de acordo com o padrão
esperado.
Nesse sentido, Bagno aponta que:
O fato é que, como a ciência linguística moderna já provou e comprovou, não existe nenhuma língua no mundo que seja “uma”, uniforme e homogênea. O monolinguismo é uma ficção. Toda e qualquer língua humana viva é, intrinsecamente e inevitavelmente, heterogênea, ou seja, apresenta variação em todos os seus níveis estruturais (fonologia, morfologia, sintaxe, léxico etc.) em todos os seus níveis de uso social (variação regional, social, etária, estilística etc.) (BAGNO, 2009, p.27-28)
Sendo assim, extrai-se das concepções deste autor que excluir uma
determinada pessoa simplesmente pelo seu modo de expressar a língua, constitui
em uma atitude preconceituosa, tendo em vista que não há um monolinguismo no
mundo inteiro, assim, não há um padrão correto a se seguir, sendo que a língua é
heterogênea.
De acordo com Rique, o preconceito linguístico pode ser conceituado como
sendo um julgamento prévio que visa menosprezar as variações linguísticas, o qual
ainda está presente nos meios de comunicação e nas situações cotidianas,
destacando que:
O preconceito linguístico nada mais é do que um julgamento que menospreza as variedades linguísticas. Infelizmente o que vemos é esse preconceito ser mantido cada vez mais através de programas de televisão, rádio, materiais didáticos e gramáticas normativas que tentam propor o que é certo ou errado na nossa língua. (RIQUE, 2002, p.18)
De igual forma, Scherre (apud Abraçado, 2008), complementa esse conceito
ao relacionar o preconceito linguístico a toda forma de julgamento depreciativo, bem
como com caráter desrespeitoso, jocoso e que vise humilhar a fala de determinada
pessoa.
Assim, de acordo com a autora, o exercício desse tipo de atitude significa
suprimir o direito da fala de outra pessoa, como se apenas aquele que exerce a
atitude preconceituosa, tenha o domínio da fala. Logo, ninguém pode se valer de um
direito de depreciar outra pessoa apenas pela maneira como ela fala ou vê o mundo.
A autora elucida isso ao discorrer que:
O julgamento depreciativo, desrespeitoso, jocoso e, consequentemente, humilhante da fala do outro ou da própria fala [...] Depreciando forma de ver o mundo [...] O preconceito linguístico todos eles domínio de uma língua. Exercer isso é retirar o direito de fala de milhares de pessoas que se exprimem em formas sem prestígio social. Não quero dizer com isso que
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não temos o direito de gostar mais, ou menos, do falar de uma região ou de outra, do falar de um grupo social ou de outro. O que afirmo e até enfatizo é que ninguém tem direito de humilhar o outro pela forma de falar. Ninguém tem o direito de exercer assédio linguístico. Ninguém tem o direito de causar constrangimento ao seu semelhante pela forma de falar (SCHERREapud BRAÇADO, 2008, p.02)
Portanto, no que tange aos vários direitos que uma pessoa tem, a fala (no
sentido de poder se expressar é um deles), sendo que ninguém pode ser reprimido
ou discriminado por conta disso, sendo que ninguém detém o domínio da fala correta
e sem erros, devendo ser respeitadas as diferenças existentes sejam elas
relacionadas à região ou a um critério cultural.
De modo semelhante ao que foi estudado até aqui, os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1998) destacam que o Brasil é rico
em variedades dialetais, existindo, em decorrência disso, muito preconceito ao qual
é atribuído um valor social diferente a depender do modo como a pessoa fala.
Nesse sentido, no que tange à concepção de que existe uma autoridade
sobre a linguagem, Brito (2002) aponta que:
Essa pessoa culta (expressão de classe social) é transformada em modelo de cultura, de moral e de respeitabilidade: ela é a de onde emana a verdade sectária e autoritária, a mesma que se manifesta em outros campos sociais e resulta da mesma dificuldade em aceitar a diversidade, como, por exemplo, ocorre com relação às orientações sexuais e c religioso ... Como bem assinala MaurizzioGnerre, “esta concepção de língua e de gramática é um resto de épocas em que as organizações de Estado eram explicitamente ou declaradamente centralizadas” (BRITO, 2002, p.147)
Ademais, são poucas as pessoas que reconhecem a existência do
preconceito linguístico, ainda mais a sua gravidade e as consequências que ele
ocasiona, sendo visto como um problema social. Quando não há esse
reconhecimento, também não é visto que efetivamente existe um problema, assim
como não é possível pensar em soluções para o mesmo (BAGNO, 2009).
Portanto, de acordo com o que foi estudado até o presente momento não
existe uma forma única de se encarar a língua sendo que o Brasil é um país rico em
diferenças, e em razão dessas existe uma variedade de possibilidades em que
podem ocorrer o uso da mesma, podendo ser em razão da regionalidade, de
critérios sociais, como aqueles tidos como econômicos, faixa etária, gênero entre
outros.
Desta forma não existe nenhum indivíduo que possui o monopólio da língua,
ou seja, ninguém segue a norma padrão em todas as ocasiões, então nenhum
indivíduo pode ser hostilizado por não seguir exatamente ao que dispõe a norma
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culta. Situações em que as pessoas dizem “pobrema” ou invés de “problema”, ou
também a variante da palavra “você”, que se torna “ocê” ou “cê”, são maneiras de
diversificar a linguagem por esses fatores apontados.
O preconceito linguístico consiste nessa forma de hostilizar as pessoas por
falarem dessa maneira, enxergando essas variantes como forma de dizer “eu sou
superior à você, porque eu não falo errado”. Contribuindo para que haja uma
exclusão social das demais, ao representarem uma ideia de que exista apenas uma
língua correta, ou seja, de que apenas a norma padrão culta da língua portuguesa
fosse o modelo ideal.
Portanto, é imprescindível que se identifiquem os sinais desse preconceito
que muitas vezes se mostra de forma velada na sociedade, sendo mister conhecer
as suas causas e consequências para que a partir disso sejam adotadas posturas
que visem a erradicar essa prática e fomentar na sociedade de que existem essas
diferenças e que elas devem ser respeitadas.Isso deve ser aliado ao fato de que
ninguém é melhor do que ninguém por falar de acordo com a norma padrão, pois o
Brasil é um país em que as diferenças não podem ser vistas como desigualdades
apenas, mas como oportunidades para proporcionar que todas as pessoas possam
andar juntas para criar laços e produzir uma melhora em sua qualidade de vida no
país em que vivem.
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4 A ESCOLA NA BUSCA DA DESCONSTRUÇÃO DO PRECONCEITO
LINGUÍSTICO
Anteriormente foi realizada uma contextualização acerca das variantes
linguísticas que compõem a língua portuguesa, a qual se dá de diversos fatores,
sendo principais os caracteres regionais e sociais. Posteriormente, o enfoque se
deu em conceituar e caracterizar o preconceito linguístico, o qual, em termos gerais,
consiste em uma forma de menosprezar a fala de outro por simplesmente não se
adequar à norma padrão.
Pois bem, nesse capítulo o enfoque será dado para o papel da escola na
busca da erradicação do preconceito linguístico, tendo em vista que esse é o
primeiro espaço de construção de um conhecimento formal e muitas das atitudes ali
presentes, serão fundamentais para refletir na vida do estudante adulto, sendo
imprescindível que haja o diálogo e o debate sobre as variantes linguísticas e o
combate ao preconceito linguístico.
Nesse prisma, ressalta-se que em muitas ocasiões, o preconceito linguístico
não se demonstra como evidente, mas vem subliminarmente transvestido em uma
brincadeira ou estereótipo que se instala no ambiente escolar entre os envolvidos.
Em razão disso, essas situações podem passar como despercebidas, mas podem
causar um impacto significativo na fala e no comportamento do outro, inclusive em
momentos que ocasionem a exclusão daquele que não se adequa aos padrões
esperados.
Sobre isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais da língua Portuguesa
(1998) apontam que o preconceito linguístico pode funcionar como um elemento de
exclusão social e, em razão disso, é imprescindível que ele seja identificado e, a
partir de então, combatido. Apontando que:
Fica claro, portanto, que a língua é um fator decisivo na exclusão social. Por isso, o preconceito linguístico deve ser admitido e combatido. Primeiramente, as escolas deveriam fazer uma abordagem mais aprofundada sobre esse tema, além de abordar, nas aulas de Português, todas as variantes existentes na língua. A mídia deveria parar de estereotipar os personagens de acordo com a sua maneira de falar, e poderia investir em campanhas que ajudem a desconstruir o preconceito linguístico. Dessa forma, podemos abandonar o rigor formal acerca da Língua como feito pelos Parnasianos e diminuir o preconceito e segregação na sociedade (BRASIL, 1988, p.26).
Desta forma, em um primeiro momento, a esfera escolar deve adotar um
enfoque de aprofundamento sobre essa temática, bem como trazer nas aulas de
língua portuguesa, todas as variantes existentes e, também, é necessário que a
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mídia contribua para a erradicação deste instituto, parando de criar estereótipos para
os personagens retratados, investindo em campanhas que busquem combater essa
forma de preconceito.Sobre essa representação estereotipada que as mídias
adotam, uma das mais conhecidas é a figura do Jeca Tatu, representados nos filmes
por Mazzaropi, retratando um homem do interior e que tinha traços característicos de
linguagem.
Portanto, com base nesse perfil que se traça sobre essas pessoas, muitas
das vezes são vistos, erroneamente, como sujeitos rústicos e que não possuem
inteligência, sendo apontados como ignorantes e que pouco podem contribuir para a
criação e desenvolvimento de alguma coisa. O que não se evidencia como verdade,
tendo em vista que cada indivíduo possui seus saberes e conhecimentos prévios e
podem contribuir para a construção do saber.
Além disso, mais uma vez os PCNs da Língua Portuguesa elucidam esse
tema, ao salientar que:
A Língua Portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográficas e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum considerar as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas. O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e, também, para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma forma “certa” de falar _ a que se parece com a escrita _ e o de que a escrita é o espelho da fala _ e, sendo assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico (BRASIL, 1998, p.26).
De acordo com o exposto, é comum que essas variantes linguísticas sejam
vistas nas escolas como uma linguagem de menor prestígio, sendo inferiores ou
erradas, fomentando a exclusão social dessas pessoas. Assim, essa questão deve
ser combatida na esfera escolar como um dos objetivos educacionais presentes,
buscando concretizar o respeito pela diferença.
De igual forma, para que isso seja efetivado nesse ambiente educacional é
imprescindível que a escola adote algumas posturas, entre elas abandonar o mito de
que existe uma linguagem certa ou errada, ao buscar consertar a fala do aluno, pois
isso pode servir como maneira de oprimi-lo. Essas práticas não apenas
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desvalorizam a fala, como também reafirma que a comunidade dos mesmos possa
ser traduzida como incapaz, demonstrando desconhecimento da norma culta e dos
dialetos existentes.
Nesse interim, enfatiza-se que o combate ao preconceito linguístico nas
escolas e nas salas de aula se concentram, mais efetivamente, em ações que não
sigam uma dicotomia de que exista um certo ou errado na linguagem, mas que
traduzam as variantes linguísticas em razão da sua adequação à situação
comunicacional, ou seja, não há apenas uma maneira certa de se pensar a língua
portuguesa, o que existe é que em determinada situação cada variante e modo de
falar seja o mais adequado. Por exemplo, um advogado, em razão da sua profissão,
adota uma linguagem extremamente formal em uma audiência, mas se essa mesma
pessoa encontrar um amigo em um contexto informal, a sua fala formalista se mostra
como inadequada, sendo mais útil que ele adote uma linguagem mais coloquial.
Ademais, no que se relaciona sobre a importância da escola eliminar
qualquer forma de preconceito, adota-se o pensamento de Pereira e Júnior (2014).
Entre outras medidas, prelecionam que para eliminar o preconceito linguístico é
importante que haja atitudes no sentido de que:
[...] combater o preconceito linguístico é reavaliar a chamada paranoia ortográfica. Aquela em que os professores corrigem a priori, os erros ortográficos, se as palavras estão ou não acentuadas ou escritas corretamente e não o sentido do texto. A mudança de atitude irá enganar este preconceito, mas para isso o professor precisa abandonar a atitude repetidora e reprodutora da gramática. Passar a investigar e a se atualizar, participar de eventos linguísticos e sempre incentivar o aluno a procurar sua resposta de maneira críticaem sala de aula, deixando claro que não existe o “certo” e o “errado” (PEREIRA; JÚNIOR, 2014, p. 07)
Desta forma, verifica-se a necessidade de evitar qualquer forma de
discriminação contra a pessoa, com base em pré-conceitos, tendo em vista que a
variação linguística é proveniente de um conjunto de fatores sociais, culturais ou
regionais. Não havendo que se falar em uma única língua como padrão a todos os
indivíduos ao redor do mundo, assim, não se pode impor um padrão de
comportamento linguístico como justificativa para excluir essas pessoas do contexto
educacional.
Corrobora com essa visão o trazido pelos PCNs da língua portuguesa, ao
dispor:
A questão não é falar certo ou errado, mas saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por
18
que se diz determinada coisa. É saber, portanto, quais variedades e registros da língua oral são pertinentes em função da intenção comunicativa, do contexto e dos interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de correção da forma, mas de sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja, de utilização eficaz da linguagem: falar bem é falar adequadamente, é produzir o efeito pretendido (BRASIL, 1988, p. 27)
Assim, falar certo ou errado não é a pauta principal que se deve enfocar,
mas qual a linguagem apropriada para cada contexto em que a pessoa esteja
inserida. Em outras palavras significa dizer que não deve ser tentado mudar os
dialetos dos educandos, mas propor a conscientização de saber qual o momento
oportuno para adequar a fala, a depender da situação comunicativa que lhe será
apresentada.
Nesse sentido, justificando as falas retromencionadas, de acordo com o que
preleciona Brito (2002, p.146):
A ideia básica que predomina nas sociedades de escrita, como é o caso da sociedade ocidental, é que existe uma forma correta de falar a norma culta ou língua formal ou ainda língua padrão, entre outros nomes poder participar ativamente da sociedade. A pessoa que sabe gramática seria educada, culta, mais preparada para a vida pública e social.
Desta forma, o papel da escola é garantir um ambiente educacional
inclusivo, que saiba respeitar as diferentes variantes linguísticas e veja o aluno como
um sujeito que possa contribuir, identificando os preconceitos linguísticos existentes
e procurando combatê-los, de modo a proporcionar a integração do educando,
permitindo que não existe uma língua única, nem um jeito certo ou errado para que
ele use a fala, mas que saiba se adequar a cada situação comunicativa que lhe
serão apresentadas durante a sua vida.
19
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme visto ao longo do presente trabalho conclui-se que a linguagem
corresponde a uma necessidade do ser humano, por meio da qual é possível que ele
se inclua na esfera social, bem como possa se organizar e registrar a sua história. O
estudo da linguística em suas relações com questões sociais recebe a denominação
de sociolinguística.
Portanto, em razão desses apontamentos, foi possível identificar que a
linguagem pode variar, dependendo de vários fatores, sejam eles
geográficos/regionais, sociais, relacionados à idade, gênero, entre outros, surgindo o
que se denomina como variedade linguística.
Nesse prisma, verificou-se que a língua padrão e a norma culta não se
caracterizam como a única maneira correta de se pensar na língua portuguesa,
sendo que essas variedades também contribuem para a construção da mesma, bem
como para a formação e desenvolvimento dessas pessoas.
Desta forma, é imprescindível que a escola combata qualquer forma de
preconceito linguístico que se enraíze nos educandos, rompendo com essa visão
limitada de que apenas existe um jeito certo de falar e taxando como inferiores
aqueles que não a seguem, sendo necessário deixar claro que todos possuem o seu
valor, independentemente das diferenças que tragam em suas bagagens, cabendo à
escola valorizar e fomentar o respeito.
20
REFERÊNCIAS
ABRAÇADO, Jussara. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre o preconceito linguístico, variação linguística e ensino. Cadernos de Letras da UFF, Rio de Janeiro, n. 36, p. 11-26, 1. sem. 2008. ALKMIM, T.M. Sociolinguística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A.C. (orgs.) - 9º Ed. -
São Paulo: Cortez, 2011.
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Loyola, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmentros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental _ Língua Portuguesa. Volume: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 1998.
BRITO, Luiz Percival Leme. Língua e ideologia. In: BAGNO, Marcos. linguística. São Paulo: Loyola, 2002.
CAMACHO, R.G. Sociolinguística. Parte II. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C.
(orgs.) - 9º Ed. - São Paulo: Cortez, 2011.
MARINHO, Janice Helena Chaves. Variação linguística e ensino: caderno do
professor. (org) Janice Helena Chaves Marinho; Maria da Graça Costa Val. – Belo Horizonte: Ceale, 2006, 60p. MUSSALIN, Fernanda;BENTES, Anna Cristina. Introdução à Linguística: domínios
e fronteiras. Vol. 1. São Paulo: Contexto, 2006. PEREIRA, Cherma Miranda; JUNIOR, Celso Francês. O preconceito linguístico no âmbito escolar brevense. Disponível em:
http://coloquiodeletras.ufpa.br/downloads/i-coloquio/anais/8_cherma.pdf. Acessado em: 30 abr.2018. VALADARES, Flávio Biasutti. Gramática e escola: considerações sobre variação linguística e ensino de língua portuguesa. Revista Eletrônica de Linguística.V.4,n.2,2010.
21
O ENSINO DA LITERATURA NO ENSINO MÉDIO: A FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR
Milena Honorato Cosmo Gomes
RESUMO
O presente artigo aborda a respeito do ensino de literatura no âmbito escolar, tendo
como objetivo geral as contribuições que tal ensino proporciona para a formação
leitora, social e cognitiva do aluno. Relata ainda sobre o papel da escola na
formação do leitor, e algumas metodologias utilizadas na pratica docente para
incentivar essa formação, e a importância do professor se posicionar como mediador
do conhecimento, possibilitando assim a interação do aluno com o texto,
estimulando a interpretação e o prazer pela leitura. Além disso, o trabalho ainda
ressalva sobre o papel da escola e como promover o gosto por tal pratica literária,
mostrando a importância da contextualização entre conteúdo e bagagem individual
de cada um, afinal para que se possa ensinar sobre leitura se faz necessário seduzir
o docente com obras e textos onde ele possa se encontrar e posicionar como leitor
critico, tornando-se assim um sujeito participante e entendedor da sociedade na qual
se vive . Para desenvolver esse artigo utilizou-se do método bibliográfico explicando
e solucionando o problema em questão através de autores como Jorge Araújo,
Paulo Freire, Buse, Yunes, Coelho e Lajolo entre outros.
Palavras-chave: Literatura; Formação de leitores; Professor-mediador; Leitura;
Letramento-literário.
1 INTRODUÇÃO
É por intermédio da leitura que o sujeito amplia seu vocabulário linguístico,
social e educacional, proporcionando um horizonte sem limites, a leitura contribui
para uma formação completa, para a construção da identidade do sujeito desde
pequeno, tornando-o como atuante mais ativo na sociedade. A importância da leitura
para o sujeito e para a sociedade se dá na necessidade da abordagem de questões
que relacionam o prazer de ler, o contato com o material escrito, sua função social, a
problematização da leitura entre outras variáveis, que permeiam as metodologias de
ensino, a escolha dos livros didáticos e paradidáticos e as formações docentes.
22
Muitos autores trazem contribuições importantes acerca da temática, Araújo (2000)
afirma que a atividade leitora facilita tudo, uma vez que é plural e capta os sentidos
ocultos do que é lido, provocando o exercício e a possibilidade de ler as entrelinhas,
o abstrato, ir além do que se está escrito, viajar sem sair do lugar literalmente. A
leitura no ensino médio, mesmo sendo tão importante não constitui uma prática
comum no Brasil, e no mundo, diversos fatores contribuem para tal problema,
atualmente o uso da tecnologia em seus variados formatos e a falta do hábito leitor
familiar, entre outros criam uma chamada “crise na leitura”, trazendo a
responsabilidade de incentivar o gosto e a formação leitora para a escola e seus
professores.
A literatura é uma arte, devendo ser tratada com a mesma importância dada
às obras artísticas, retratando por intermédio dela a própria vida de quem lê.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO, 2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, colocando a
escola e a família com a responsabilidade de mudar essa perspectiva e desenvolver
o desejo e o prazer na leitura.
Para a temática proposta nesta pesquisa levantou-se a seguinte indagação:
Qual a importância do ensino da literatura para a formação leitora do aluno?
Direcionando o estudo para os alunos do Ensino Médio. A área de concentração
escolhida foi a Literatura na Educação Básica, pela importância que tem a leitura no
ensino médio, ou em qualquer etapa da educação básica e para a vida futura,
pretendendo incentivar o hábito leitor na formação do aluno, tendo em consideração
os aspectos contextuais da leitura, a forma na qual é abordado o tema na sociedade,
sendo de responsabilidade da escola e da família o seu incentivo.
O estudo em questão pretendeu trazer várias contribuições e mudanças de
atitudes, de pensamentos, formas de ver a vida, refletindo nos alunos uma formação
cidadã mais humana e igualitária, conhecedora de uma perspectiva mais ampla de
mundo e de sociedade. Sabe-se que o hábito leitor não é cultivado na maioria das
famílias, por diversos aspectos sociais, econômicos e culturais, surgindo a
importância de se trabalhar com o incentivo ao prazer da leitura, a necessidade de
aprender a ler pelo gosto, não somente porque “tem que se ler para passar de ano”,
mas para uma verdadeira mudança de hábito.
Tem se como objetivo geral do presente trabalho compreender quais as
contribuições que o ensino da literatura proporciona para a formação leitora e social
23
do aluno e como objetivos específicos: Conhecer a importância de se trabalhar a
leitura no contexto escolar; descrever algumas metodologias para o incentivo da
leitura no ensino médio e discutir sobre algumas dificuldades para ensinar a
literatura e desenvolver o gosto leitor nos alunos do ensino médio.
Os métodos a serem utilizados para a pesquisa são de procedimento
técnico- bibliográfico, utilizando-se de diversas literaturas que colaboraram para a
fundamentação do tema em questão, com pesquisas na internet em artigos
publicados, textos em revistas onlines, vídeos no youtube de entrevistas com
profissionais da área, vivenciando assim o cotidiano e as experiências de
professores e estudiosos, bem como livros e a documentação legal expedida pelos
órgãos competentes da educação brasileira para a coleta de dados.
A abordagem da pesquisa é qualitativa de natureza descritiva, gerando
conhecimento e descrevendo sobre a temática. Adotou-se os autores Jorge Araújo,
Paulo Freire (1989), Buse (2011), Yunes (1995), Coelho (1997), Lajolo (2002),
dentre outros para embasar a pesquisa com citações devidamente referenciadas.
A seguir apresenta-se a pesquisa com a fundamentação teórica,
discorrendo-se sobre a importância da literatura para o aluno do Ensino Médio, a
formação leitora no contexto escolar do Ensino Médio, e a prática docente para
desenvolver a formação leitora no Ensino Médio as considerações finais e
referências.
24
2 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA PARA O ALUNO DO ENSINO MÉDIO
Para que se possa começar a discorrer sobre este tema, antes é preciso
relatar que se baseia na premissa de que o ensino da Literatura deve ser para
formar leitores-críticos pensando na formação social e cultural dos alunos no ensino
médio. A literatura é considerada como uma arte, um bem cultural que contribui com
o desenvolvimento da educação, concentração, aspectos cognitivos e linguísticos,
da imaginação, da sensibilidade, da criticidade, do exercício de reflexão, além de
proporcionar o conhecimento e aprendizagens fundamentais, e acesso a diferentes
lugares e culturas do mundo fictício ou real e saberes, deixando dentro de cada
sujeito-leitor uma bagagem de experiências que refletem na formação individual e
humana.
Relacionando a leitura ao contexto social do leitor, Freire (1989) afirma que a
compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura crítica implica na percepção
das relações entre texto e contexto, destacando a importância de ler e deixando
claro que a leitura de mundo deve ser anterior à da palavra e o conhecimento de
mundo determina as leituras que são feitas e a interpretação das mesmas.
A leitura tem uma importância fundamental no desenvolvimento da formação
social dos sujeitos, sendo essencial em todos os aspectos da vida, desde a fase
escolar até a maturidade social e profissional, proporcionando enriquecer o
vocabulário, o raciocínio, tornando os sujeitos leitores proficientes dialogando sobre
diversos assuntos sendo críticos, argumentando construtivamente, vivendo e
interagindo com as diferentes linguagens que dinamizam a comunicação atual, além
de se tornarem cientes do mundo que os cerca, independentemente de sua situação
financeira, econômica ou social.
Yunes coopera quando diz que:
O ato de ler é um ato da sensibilidade da inteligência, da compreensão e de comunhão com o mundo; lendo, expandimos o estar no mundo, alcançamos esferas do conhecimento antes não experimentadas e, no dizer de Aristóteles, nos comovemos catedraticamente e ampliamos a condição humana. Esta sensação de plenitude, iluminante, ainda, que dolorosa a aguda tem sido a constante que o discurso artístico proporciona. Diante de um quadro, de uma música, de um texto, o mundo inteiro, que não cabe no relance do olhar, se condensa e aprofunda em nós um sentimento que abarca no relance do olhar, se condensa e aprofunda em nós um sentimento que abarca a totalidade, como se, pela parte que tocamos, pudéssemos entrever o não visto e adivinhar o que, de fato, não experimentamos (YUNES, 1995, p. 185)
25
Segundo a autora a leitura proporciona prazeres e sensações aflorando a
sensibilidade e a inteligência em diferentes modos de ser e estar no mundo,
expandindo a existência e fazendo o leitor alcançar esferas do conhecimento não
experimentado, ampliando segundo ela em Aristóteles a condição de plenitude e
sensibilidade humana pelo discurso artístico.
Ainda Yunes reitera que:
Ler significa descortinar, mudar de horizontes, interagir com o real, interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele. Desde o inicio a leitura deve contar com o leitor, sua contribuição ao texto, sua observação ao contexto, sua percepção do entorno. O prazer de ler é também uma descoberta. Será, contudo, muito difícil descobri-lo se não há condições explicitas par esta intimidade (YUNES, 1995, p. 184).
Segundo o autor o leitor atribui, extrai e produz sentidos à sua leitura
partindo da interação entre si, observando aos contextos da produção, tornando
dessa forma o ato de ler uma atividade complexa de múltiplos processos cognitivos
utilizados para produzir sentidos a leitura a partir dos processos de compreensão,
interpretação e extrapolação da capacidade de identificar-se e interagir com o
mundo ali exposto.
O ensino da literatura no contexto escolar do ensino médio precisa ser
alcançado com o trabalho docente, de um modo diferenciado, focando no processo
de formação de leitores, convidando, estimulando e ajudando o leitor aluno a criar o
gosto pela arte de ler. O professor deve selecionar textos e obras, levando em
consideração a realidade da turma quanto ao contexto social em que se encontram
seus alunos, a faixa etária, os aspectos econômicos e culturais que envolvem a
comunidade escolar, não que se não possa oferecer literaturas diferenciadas, mas o
gosto pela leitura deve ser inicialmente estimulado a partir destes aspectos
facilitando alcançar estes alunos, introduzindo aos poucos outros gêneros textuais,
lendo para os alunos em aula, falando de livros, oportunizando aos leitores
existentes que apresentem seus textos à outros colegas, promovendo o entusiasmo
do mundo literário.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 2000) os alunos do ensino médio passam a estudar a Literatura Brasileira
inserida no conteúdo da Língua Portuguesa, na área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias.
O ensino da literatura no Brasil em muitas escolas, ao longo de muitas
décadas tem sido trabalhado com a imposição de leituras, que por muitas vezes são
26
desinteressantes para os alunos que acabam por fazer uma leitura quase que
“obrigados” afastando-os da liberdade de criar e criticar a prática da leitura, vivendo
sob um ponto de vista da periodização literária, que conforme Buse (2011) não
estimula no jovem o prazer e o gosto pela leitura, trabalhando a Literatura pelo
sentido histórico e textos fragmentados, deixando de lado o interagir e as relações
estabelecidas entre o sujeito que lê e a leitura em si.
É necessário diante do exposto, priorizar o potencial do aluno leitor,
oferecendo textos diversificados que sejam próximos e distantes da realidade
histórica e social, com o intuito de proporcionar caminhos para a construção de sua
identidade leitora e que seja sujeito atuante sobre seu mundo, transformando-o com
ações que afirmam sua liberdade com criticidade, fugindo da atual alienação em
relação a leitura de mundo.
Ler desperta os sentimentos e emoções, permitindo navegar em um imenso
novo espaço de informações e cenários, despertando o senso crítico nos alunos-
leitores para que se questione e tome posicionamentos relacionados as propostas
relatadas pelos autores, auxiliando também na expansão do vocabulário e na
formação de opiniões.
É através da leitura que se expande a compreensão de mundo, fazendo-se
parte de suma importância para a aprendizagem, pois é assim, lendo, que se
aprende a interpretar, criar, adquirir experiências e bagagens históricas e sociais.
Para Lajolo (2002, p. 105), “A Literatura constitui modalidade privilegiada de leitura,
em que a liberdade e o prazer são virtualmente ilimitados”. Atua integralmente no
desenvolvimento do homem, percorrendo pela linguagem, pelo mundo imaginário e
trabalha na expansão da criatividade.
Segundo Coelho (1997), a Literatura é uma área de conhecimento de grande
importância para o desenvolvimento humano e formação do caráter leitor do aluno
por possibilitar aos leitores refletirem e vivenciarem situações fictícias intermediadas
por experiências humanas na vida real, cotidianas, ou, do mundo fantástico e
maravilhoso da ficção, não somente pela gratuidade e entretenimento que a ficção
proporciona.
O leitor entra em um mundo de fantasia e compara seus próprios
sentimentos e linha de convívio social com obras lidas, acrescentando novos
sentimentos e experiências vivenciadas a cada leitura, desperta em si, a vontade de
conhecer, experimentar e viver.
27
Silva (2010) cita que através da leitura literária, a escola, pode propiciar e
ampliar os limites culturais e sociais do leitor, ofertando liberdade de produção e
crítica integrada às experiências do aluno. A leitura pode mudar a maneira de ver o
mundo, pois através dela, abre-se diversas formas de enxergar uma situação, ou,
problema, possibilitando assim um leque de opções para resolvê-los.
No dia-a-dia escolar, as aulas de literatura devem despertar o gosto por
livros e pela leitura, abrindo espaço para que o aluno encontre a melhor obra que lhe
trará prazer e conhecimento, conforme Tozzi (2012, p. 50), “é uma prática cultural
que tem a ver com escolhas, na qual é preciso se reconhecer, se fazer, se montar
como sujeito protagonista”. para isso, é preciso levar em consideração toda a prática
de ensino, dando aos alunos autonomia de escolha.
Lembrando que boa parte da mediação da leitura acontece na escola,
através do professor, que antes de ensinar o aluno a se tornar um leitor tem a
incumbência de ser um profissional-leitor, pois cabe a ele dar o exemplo, podendo
instigar os alunos a se interessar pela leitura através de indicações, comentários a
respeito de obras literárias já lidas por ele, dando ênfase em historias que chamem a
atenção do público-alvo.
Silva (2009) afirma que,
Igualmente importante é garantir um tempo na escola para ler e, por consequência, fazer um investimento pessoal, silencioso, individual, contínuo e, também, coletivo na leitura [...]. Para que o interesse pela leitura ocorra, faz-se necessário apresentar os livros aos leitores em formação. (SILVA, 2009, p.52).
Promover a formação do leitor requer um dialogo do aluno com a obra,
fazendo com que este seja atraído pela mesma. Segundo Ziraldo (1988, p.27), “... a
tônica da escola deveria ser a leitura, num trabalho que fizesse do hábito de ler uma
coisa tão importante como respirar.” Tendo em vista que a literatura anda lado a lado
com a leitura, pois uma não se faz entender sem a outra, pode-se compreender esta
filosofia de que ela é base fundamental para o aprendizado, pois é através dela que
se chega ao conhecimento.
Trabalhar a literatura no ensino médio é de suma seriedade, levando em
conta a faixa etária dos alunos neste período. Nesta fase da vida, o adolescente esta
emocionalmente vulnerável, é um momento radical na sua vida, onde este se
encontra em constante mudança da sua concepção de mundo, enfrentando conflitos
entre amigos, famílias, regras e emoções.
28
É nesse momento que a literatura entra proporcionando um convite ao
mundo da subjetividade e magia, abrindo um espaço para o aluno se expressar,
descobrir e compreender suas emoções. Cosson contribui dizendo que
A experiência literária não só permite saber da vida por meio da experiência do outro, como também vivenciar essa experiência. Ou seja, a ficção feita palavra na narrativa e a palavra feita matéria na poesia são processos formativos tanto da linguagem quanto do leitor e do escritor. Uma e outra permitem que se diga o que não sabemos expressar e nos falam de maneira mais precisa o que queremos dizer ao mundo, assim como nos dizer a nós mesmos (COSSON, 2011, p.17).
Portanto, deve-se ressaltar a importância em que se tem de designar um
momento das aulas de literatura para a leitura e manuseio de livros literários, a fim
de que se permita experimentar e vivenciar um novo mundo ainda não conhecido
formando o aluno-leitor num processo de aprendizagem e conhecimento.
2.1 PROMOVENDO A LEITURA
Pensando na formação do leitor, faz-se aqui um desvio, para que se possa
discutir sobre a importância do hábito da leitura no âmbito escolar, dentro do
contexto do Ensino Médio, como desenvolver o gosto literário para que este
contribua na construção e formação de alunos leitores. FREIRE mostra que o mundo
é lido todo o tempo no cotidiano,
Desde que nascemos, vamos aprendendo a ler o mundo em que vivemos. Lemos no céu as nuvens que anunciam chuva, lemos na casca das frutas se elas estão verdes ou maduras, lemos no sinal de trânsito se podemos ou não atravessar a rua. E, quando aprendemos a ler livros, a leitura das letras no papel é uma outra forma de leitura, do mesmo mundo que já líamos, antes ainda de sermos alfabetizados (FREIRE, 2003, p.5-6).
O ato de ler está implícito em todos os momentos, em uma conversa com
um amigo, por exemplo, na leitura dos sinais corporais entendendo todo o contexto
por trás da mensagem trazida por ele. Isso apenas reitera o fundamento de que
ensinar o aluno a apreciar a leitura, é dar-lhe independência para compreender,
interpretar e fazer com que se sinta parte da sociedade como cidadão, pois ler
acarreta em uma condição de libertação com autonomia para dialogar e debater
sobre experiências de mundo que o cerca, e de outras diferentes do seu cotidiano.
Conforme Villardi (VILLARDI, 1999, p.4)
Ler é construir uma concepção de mundo, é ser capaz de compreender o que nos chega por meio da leitura, analisando e posicionando-se criticamente frente às informações colhidas, o que se constitui como um dos atributos que permitem exercer, de forma mais abrangente e complexa, a própria cidadania. (VILLARDI, 1999, p. 4)
29
Sabe-se que ler vai além de decodificar símbolos, “a leitura é a possibilidade
de diálogo para além do tempo e do espaço; é o alargamento do mundo para além
dos limites de seus espaço quarto, mesmo sem saímos de casa; é a exploração de
experiências as mais variadas, quando não podemos viver realmente.” (MARIA,
2002, p.25).
Dessa forma, percebe-se a importância da habilidade da leitura, pois esta
ultrapassa os limites da decodificação e se torna ação, capacitando o leitor para
exercer o direito e dever de transformar a sociedade na qual está inserido.
Danielle Britto contribui afirmando que:
[...] é por meio da leitura que podemos formar cidadãos críticos, uma condição indispensável para o exercício da cidadania, na medida em que torna o indivíduo capaz de compreender o significado das inúmeras vozes que se manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua própria voz, tomando consciência de todos os seus direitos e sabendo lutar por eles. (BRITO, 2010, p. 1)
A autora atribui à leitura a formação de cidadãos críticos capazes de
apresentar opiniões próprias fundamentadas em luta por seus direitos. Ainda Lena
Lois complementa dizendo que:
Se a prática da leitura não está incorporada, o desenvolvimento da cidadania também fica comprometido. Se não se lê, não se pode aumentar o repertório crítico. Sem a crítica, o poder de julgamento fica limitado e a capacidade de intervenção e inserção cultural, também. (LOIS, 2010, p. 19)
Infelizmente o estímulo da leitura nas aulas de Literatura no ensino médio
atualmente não é voltado para promulgar o hábito de ler, nem preocupa-se com o
intuito de aprimorar o exercício da cidadania, mas se prioriza o ensino da história
literária, e o trabalho com obras literárias fragmentadas, o que acaba afastando o
aluno do gosto pela leitura e pelo aprendizado prazeroso que ela traz consigo.
Cosson colabora quando expõe que:
Em primeiro lugar nossa leitura fora da escola esta fortemente condicionada pela maneira como ela nos ensina a ler. Os livros, como fatos, jamais falam por si mesmos. Os fazem falar são mecanismos de interpretação que usamos, e grande parte deles são aprendidos na escola. Depois a leitura literária que a escola objetiva processar visa mais que simplesmente ao entretenimento que a leitura de fruição proporcionam. No ambiente escolar, a literatura é um locus de conhecimento e, para que funcionasse como tal, convém ser explorada de maneira adequada (COSSON,2011,p.26-27).
Refletindo-se a respeito da importância do hábito de ler para a formação do
aluno leitor, chega-se a cogitar que o professor, como mediador desse ensino, deve
mudar sua forma de enxergar a literatura no Ensino Médio, compactuando para um
30
melhor desenvolvimento cognitivo e intelectual dos jovens em sala, tendo um novo
olhar sobre o que é realmente o ler. Grazioli e Coenga relatam sobre a importância
do professor ser um leitor para motivar seus alunos quando dizem que:
Partilhar é o termo ideal, porque antes de tudo, leitura é uma experiência que envolve a troca, o diálogo e a interação. Muito se ouve falar que os alunos não leem. Há uma questão, no entanto, que deve anteceder a essa: como o professor enfrenta o desafio da leitura? Nesse sentido, o professor que deseja formar leitores e promover em sala de aula precisa se perguntar antes: Como me tornei leitor? Como descobri o interesse pela leitura? Qual a experiência de leitura que eu tenho que partilhar com os outros? (2014, p. 191)
Será possível um professor ser formador de leitores, mesmo não sendo
leitor? Só se pode partilhar, estimular quando isto se faz presente em sua vida.
Fabiane Burlamaque, autora de várias pesquisas focadas na leitura no Brasil aponta
que muitos professores não cultivam o hábito de ler, considera-se lamentável, pois
“[...] a experiência leitora do professor é um dos componentes imprescindíveis no
trabalho que ele desenvolverá em sala de aula com o objetivo de formar novos
leitores literários” (BURLAMAQUE, 2006, p. 83).
Portanto, é preciso pensar em como esse professor mediador do ensino, vai
inserir seus alunos dentro de um repertorio de leitura, afinal para o aluno não leitor é
uma nova experiência fora de sua realidade, sendo “[...] um dos obstáculos para o
sujeito começar a ler é justamente ele não saber por onde começar; é a angústia de
chegar a uma livraria ou a uma biblioteca e não saber o que escolher [...]” (MARIA,
2009, p.17).
Comparando-se como andar em um parque de diversões pela primeira vez,
por isso é tão importante que o professor esteja preparado para promover e guiar os
alunos pelos caminhos prazerosos da leitura.
Sendo assim, necessita-se de um profissional que acredite na capacidade
que a leitura tem de transformar a vida dos alunos, Buse (2011) sugere que o
trabalho da Literatura comece através de textos contemporâneos, pois primeiro é
necessário aproximá-los de livros que cerquem seu cotidiano, que levantem
questões significativas de sua própria realidade, para mais adiante alcançar certa
maturidade leitora e a partir de então os alunos apreciariam e entenderiam os
clássicos. Pressupõe-se que se o leitor se enxerga e reconhece suas próprias
experiências e sentimentos ao longo das histórias, logo se abre caminho para a
inserção no universo literário.
31
Ainda Buse (2011) relata que o processo de leitura literária atualmente no
ensino médio afasta o jovem da leitura, delimitando o estudo das obras a nomes e
escolas pertencentes, cobrando divisão cronológica e vazia de sentidos. Ranke e
Magalhães (2011) acrescentam ainda que as propostas para o ensino de Literatura
no Ensino Médio se limita exclusivamente a cronologias de escolas literárias, seus
respectivos autores e estilos, deixando de lado qualquer relação entre texto-leitor-
autor, sem levar em consideração a liberdade de expressão do aluno em relação a
obra lida.
Nas escolas é comum encontrar bibliotecas quase nulas de alunos, por que
isso acontece? Talvez seja falta de incentivo, ou mudar a forma como é trabalhada a
disciplina de literatura, programar aulas fora da sala é também, uma forma de atrair
os alunos que por vezes estão entediados da “mesmice”, por isso, pode e deve-se
usar a biblioteca escolar a favor do ensino, trabalhar a leitura ali dentro utilizando
todos os livros disponíveis para que o aluno identifique temas que lhe atraiam, e
mais que apenas ler, é um lugar onde se pode descobrir pontos de vistas diferentes
a cerca das leituras feitas, compartilhando aprendizado, além do mais, respeitar
outras opiniões é um aprendizado secundário fornecido por tais aulas e que é
indispensável para a formação social do aluno como cidadão.
Perante a situação que foi descrita anteriormente, tem dê-se pensar a cerca
de propostas para por em pratica durante as aulas de Literatura que estimulem o
gosto pela leitura e pelas obras literárias. Silva (2010) e Lajolo (2008) defendem que
há certas praticas que devem ser adotadas para uma maior interação com a leitura,
como: rodas de leitura, visitas a feiras de livros e bibliotecas, e ate mesmo
entrevistas com escritores.
32
3 A FORMAÇÃO LEITORA NO CONTEXTO ESCOLAR DO ENSINO MÉDIO
3.1 O ENSINO LITERÁRIO ATRAVÉS DOS LIVROS DIDÁTICOS
Criado na década de 1970, o livro didático tinha como proposito ajudar nas
necessidades dos docentes que não possuíam uma boa formação, conforme Molina
(1987, p.127), “a solução para o despreparo do professor, em dado momento,
pareceu simples: bastaria oferecer-lhe um livro que sozinho ensinasse aos alunos
tudo o que fosse preciso”. Porém esse modelo de ensino se tornou ultrapassado e
inadequado, levando em consideração a predominância de questões ligadas a
gramática, e o estudo histórico de fragmentos de obras e poesias, sem realmente
apresentar ao aluno a literatura em si.
É necessário refletir o que de fato tem sido ensinado nas escolas como
leitura literária, considerando todas as contribuições para o desenvolvimento social,
cultural, cognitivo, artístico e politico que é proporcionado através da Literatura, que
não deveria ser apenas leituras de textos que não condizem com a realidade dos
alunos-leitores. Lajolo (1995a, p. 113) alega que esse ensino literário nas escolas
ainda é feito através de romances fragmentados em páginas dos livros didáticos, e
que mais tarde servem somente como base para questões indicadas nestes livros.
Ainda, Lajolo (2002) declara que “a atividade de leitura, que em sua origem era
individual e reflexiva, transformou-se em consumo rápido de textos”, e é exatamente
o que se tem visto nas práticas escolares.
A memorização tem sido a forma de ensino principal dessa matéria, e esses
pedaços de obras encontrados nos manuais didáticos estão calcados nas
características da literatura, é encontrado em ordem cronológica cada movimento
literário – o Classicismo, o Barroco, Arcadismo... Fatos históricos, conceitos, tudo
sobre a historia da literatura, mas qual incentivo a leitura é visto através desses
manuais? Pinheiro (2006, p.39) afirma que este “modelo de ensinar literatura que
pouco tem contribuído para a formação de leitores”, ou seja, é um conhecimento
breve, já que essa memorização é feita somente para as atividades avaliativas, e
logo é esquecido.
A organização escolar ignora o fato de que os alunos-leitores são mais do
que esta imposto no plano educacional, há por trás de cada um sua particularidade,
uma visão única do mundo em sua bagagem de vida, que ao impor os livros
didáticos como metodologia de ensino, não demonstra o que a literatura tem de
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melhor, apenas esconde os infortúnios da vida com seus textos uníssonos,
elaborados com uma única interpretação, apresentando aos jovens um mundo
homogêneo e simétrico, tornando a aprendizagem tortuosa e desprazerosa para os
educandos, Bettelheim traz o seguinte conceito: “A aquisição de habilidades,
inclusive a de ler, fica destituída de valor quando o que se aprendeu a ler não
acrescenta nada de importante à nossa vida.” (BETTELHEIM, 1981, p. 12)
E ainda, Braga e Silvestre (2009, p.17) complementa,
Se o ato de ler implica ler o mundo, mesmo antes, e até depois, de termos acesso ao código escrito, pressupõe-se que entra em jogo toda a experiência existencial do leitor e que, portanto, ler é um processo ativo da interação texto-leitor. Por isso, o professor, no momento em que propõe uma atividade de leitura, deve levar em conta, inicialmente, a condição prévia do aluno. (BRAGA e SILVESTRE, 2009, p.17)
Essa prática de estudo estilhaçado, não tem a intenção de resgatar aquela
bagagem individual e relacionar essas experiências com os trechos ali descritos,
originando uma ideia no leitor de algo extenuante e sem finalidade; Portanto, não há
no ensino atual de literatura no ensino médio uma exploração de suas
potencialidades, como sua riqueza em linguagem, diversidades culturais, e ajuda na
compreensão da realidade, mas sim um defect. quanto a qualidade de ensino na
formação do habito leitor, uma vez que não é estimulada a leitura critica. O que se
pode observar na verdade é um afastamento cada vez maior entre a escola e
formação de leitores autônomos.
Outra característica problemática relacionada ao livro didático e que deve ser
modificada, está ligada a estratégia utilizada para tal ensino, que deveria partir do
estudo dos gêneros literários, porque por intermédio deste campo que o aluno obterá
um contato direto maior com a obra, tendo uma experiência de leitura prazerosa,
proveitosa, para assim partir para um estudo mais aprofundado de suas
características.
Pontua-se também, que tais manuais tem o papel de fornecer “sugestões” ao
docente de como trabalhar a literatura na sala de aula, não sendo obrigatório utiliza-
lo exatamente como chegou em suas mãos, mas sim, com o intuito de ser moldado
conforme a necessidade e realidade de cada turma. Soares (2002) aponta uma
importante percepção entre professor e livro didático:
Olha, há o papel ideal e o papel real [do livro didático]. O papel ideal seria que o livro didático fosse apenas um apoio, mas não o roteiro do trabalho [do professor]. Na verdade isso dificilmente se concretiza, não por culpa do professor, mas de novo vou insistir por culpa das condições de trabalho que o professor tem hoje. Um professor hoje nesse país, para ele minimamente
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sobreviver, ele tem que dar aulas o dia inteiro, de manhã, de tarde e, frequentemente, até a noite. Então, é uma pessoa que não tem tempo de preparar aula, que não tem tempo de se atualizar. A consequência é que ele se apoia muito no livro didático. Idealmente, o livro didático devia ser apenas um suporte, um apoio, mas na verdade ele realmente acaba sendo a diretriz básica do professor no seu ensino. (SOARES, 2002, p. 115).
Percebe-se que a falha na educação literária começa antes mesmo de
permear o ambiente escolar, inicia-se por tais manuais errôneos e ultrapassados,
que são adquiridos e distribuídos a mando do Governo Federal que geram despesas
onerosas com algo que não contribui para a formação de leitores críticos e eficientes
já que remetem a literatura como frações, basicamente como se os únicos fatos
importantes fossem a retenção na memória de datas, estilos, obras e vida de
autores, reforçando a inadequação desses conteúdos OCEM (2008, p.54) declara
que “não se deve sobrecarregar o aluno com informações sobre épocas, estilos,
características de escolas literárias, etc”. Contudo, a crítica realizada neste artigo
não é com intenção de depreciar nenhum ato governamental, mas sim as
abordagens didáticas utilizadas em tais livros.
O livro didático concebe o ensino de literatura apoiado no tripé conceito de leitura- texto-exercício [...] o conceito de leitura e de literatura que a escola adota é de natureza pragmática, aquele só se justifica quando explicita uma finalidade - a de ser aplicado, investido, num efeito qualquer. (ZILBERMAN, 1988. p, 111).
Nota-se que essa abordagem trazida por estas cartilhas, acaba por
desassociar o texto literário de sua característica artística, dando-lhe um papel
imediato, isso faz com que essa obra se transforme em mero texto didático,
perdendo seu atrativo; entretanto, se ignorar a proposta recomendada, torna-se
novamente uma escritura literária, baseando-se no conceito de que “a definição de
literatura fica dependendo da maneira pela qual alguém resolve ler, e não da
natureza daquilo que é lido” (EAGLETON, 1997. p,11).
Assimilando o conceito trazido no paragrafo anterior, Zilberman exemplifica
ao dizer que o texto é “intermediário entre o sujeito e o mundo [...] ler passa a
significar igualmente viver a realidade por intermédio do modelo de mundo transcrito
no texto” (ZILBERMAN, 1988, p.18), ou seja, caso a leitura seja realizada com uma
única finalidade, para atividades gramaticais, entre outras impressas nos livros, o
aprendiz não usufruíra do escrito como fonte de conhecimento capaz de acordar o
imaginário. Geraldi (1997, p.97) ainda reitera,
A fruição, o prazer, estão excluídos (para que alguns e somente alguns possam usufruir à larga). A escola, reproduzindo o sistema e preparando
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para ele, exclui qualquer atividade ‘não rendosa’: lê-se um romance para preencher uma ‘famigerada’ ficha de leitura, para fazer uma prova ou até mesmo para se ver livre da recuperação. (GERALDI, 1997, p.97).
E novamente o desafio apontado é onde esta o aproveitamento dessa aula?
Qual o rendimento deste aluno, ou, qual aprendizagem carregará consigo com o
passar dos anos? Tende-se em pensar em novas abordagens quanto o ensino de
literatura nas escolas.
3.2 LETRAMENTO X LITERATURA
3.2.1 O que é letramento?
Um dos maiores desafios enfrentados pelo ensino nas escolas brasileiras é
permitir uma aprendizagem de qualidade, porem o que se vê é um fracasso neste
contexto do momento em que se adentram nas series iniciais, desde a alfabetização,
que não proporciona um aprendizado voltado aos conhecimentos prévios dos
indivíduos, sem considerar suas vivencias e bagagens sociais e culturais, em sua
fase primordial de formação e desenvolvimento, mas pelo contrario, insistem em
aplicar atividades repetitivas e exaustivas. Portanto, antes de adentrar no contexto
do letramento literário, é necessário repensar o que é o letramento?
Por muitas vezes letramento é alocado como alfabetização, mas o que
acontece na realidade é uma alfabetização dentro da própria alfabetização. É a
continuação do processo de formação da competência linguística de uma pessoa.
Para Soares (2003) são processos linguísticos indissociáveis, já que:
Dissociar alfabetização e letramento é um equivoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas praticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento (SOARES, 2003, p.14).
Entretanto, é importante conservar tais nomenclaturas, embora simultâneas
e indissociáveis, porque são processos diferentes de naturezas fundamentais, de
competências e habilidades especificas de aprendizagem. Utilizando das palavras
de Tfouni (2002, p.20) que afirma, “enquanto a alfabetização se ocupa da
aprendizagem da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento
focaliza os aspectos sócios histórico da aquisição de um sistema escrito por uma
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sociedade”, tal definição induz a pensar que não há uma definição única do que é
letramento.
Porém pode-se entender, que para o individuo tornar-se letrado atualmente
na sociedade, ele precisa desenvolver a capacidade de interpretar e compreender os
textos, mensagens, sinais e qualquer forma de comunicação que circulam no dia-a-
dia, e também dominar a comunicação por meio da escrita.
Chega-se a conceituar-se então que letramento é uma pratica social:
“letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em
um contexto específico, e como essas habilidades se relacionam com as
necessidades, valores e práticas sociais” (SOARES, 2004, p. 72). E, sobretudo, é o
aperfeiçoamento da leitura, é o poder de ler e entender tudo que está escrito nas
entrelinhas de um texto, relacionando tal escrita com seu conhecimento prévio do
mundo, e com as situações básicas encontradas no cotidiano, acarretando tais
conhecimentos a sua bagagem individual, o que afinal, é o que se espera dos
alunos-leitores que finalizam os estudos no ensino médio, e que por vezes não
acontece realmente.
3.2.2 Letramento literário
A literatura necessita de um procedimento de escolarização adequado, de
forma a caracterizar sua função social, contribuindo para a formação do estudante
visando o contexto das informações passadas adiante, como ressalta Soares (2006):
Distinguimos entre uma escolarização adequada e uma escolarização inadequada da literatura: adequada seria aquela escolarização que conduzisse eficazmente às práticas de leitura literária que ocorrem no contexto social e às atitudes e valores próprios do ideal do leitor que se quer formar; inadequada é aquela escolarização que deturpa, falsifica, distorce a literatura, afastando, e não aproximando, o aluno das práticas de leitura literária, desenvolvendo nele resistência ou aversão ao livro e ao ler. (SOARES 2006, p. 47)
Para a construção deste capítulo, parte-se da reflexão de como o letramento
literário proporciona ao aluno um aprimoramento não só intelectual, mas também
como consegue-se ver parte do sistema complexo que é a sociedade, tendo
autonomia para que possa cobrar seus direitos, tal como realizar seus deveres;
“justamente para ir além da simples leitura que o letramento literário é fundamental
no processo educativo” (COSSON, 2014, p. 30), ainda Cosson (2014, p. 120)
contribui ao dizer:
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O uso da sequência expandida do letramento literário tem como centro a formação de um leitor cuja competência ultrapasse a mera decodificação dos textos, de um leitor que se aproprie de forma autônoma das obras e do próprio processo da leitura, de um leitor literário (COSSON, 2014, p. 120).
Partindo do conceito de que o letramento acontece principalmente no
ambiente escolar, pois é o local onde os alunos tem mais contato com textos
literários e onde deveria propiciar modos diferentes de se ler esses textos, como
afirma Rildo Cosson (2009, pg. 23) “[...] devemos compreender que o letramento
literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola”. Tal letramento
veio como uma proposta que busca ir além da simples alfabetização, visando uma
nação letrada, que se apropria da leitura e da escrita e que contribui para a formação
de uma sociedade mais critica, sem se esquecer da força transformadora
ocasionada pela leitura a partir do momento em que se aprende realmente a
compreender as mensagens trazidas por tais pergaminhos interligando-as com seu
convívio.
O letramento literário envolvem todas as práticas que abrangem a escrita
literária, e seu marco essencial é a ficcionalidade, contudo “letramentos são práticas
sociais, plurais e situadas, que combinam a oralidade e a escrita de formas
diferentes em eventos de natureza diferentes, e cujos, efeitos ou consequências são
condicionados pelo tipo de prática e pelas finalidades específicas a que se destinam”
(Buzato, 2007, apud ROJO, 2009, p. 101). Perante isto, pode-se presumir que este
conceito não se faz apenas de leituras textuais e decodificações de signos escritos,
mas também, como interação com filmes legendados, best sellers, gibis, e até
mesmo a internet é considerada em alguns casos, já que constituem uma relação
com os leitores que depreendem significados múltiplos. Sabendo disso, pode-se
assegurar que os alunos estão em constantes eventos desse conceito, embora nem
sempre os façam com esse objetivo. No entanto,
[...] como as práticas de letramento e, consequentemente, as práticas de letramento literário são “enformadas”, padronizadas ou determinadas pelas instituições sociais e pelas relações de poder, nota-se que há formas de letramento mais dominantes, mais valorizadas e influentes do que outras. No caso da literatura, é evidente que as práticas de letramento literário realizadas no espaço escolar são as mais visíveis e valorizadas (ZAPPONE, 2007, p. 54).
Se a linguagem varia dentre contextos e as versas de letramento acatam ás
finalidades dos alunos, por qual motivo então, o educando deve estabelecer apenas
um único sentido ao texto? Esse é um questionamento importantíssimo acerca da
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discussão de Zaponne, onde se é possível notar a apreensão da autora
relacionando à abordagem de letramento autônomo que foi adquirido pela instituição
escolar como forma de ensino, co