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Gustavo Costa e Jorge Lima da Silva (mestrandos UnB) Anlise da narrativa jornalstica: construo de sentido pela notcia
Introduo Este trabalho prope o uso da narratologia ou dos procedimentos da Anlise da
Narrativa, tal como desenvolvida pela teoria da literatura, para a anlise da produo
de sentido pelos textos jornalsticos.1 Acreditamos que atravs dos procedimentos da
narratologia possvel remontar seqncias de notcias sobre um mesmo tema
recompondo histrias plenas de sentido que nos permitem visualizar aspectos
simblicos nem sempre explcitos. Partindo do entendimento da notcia como um
produto cultural, de carter ritualstico e antropolgico, propomos a recomposio de
enredos em torno de temas que se mantm no noticirio durante dias, semanas ou
meses seguidos. Sobre estas histrias recompostas, sugerimos a utilizao de
categorias ou funes (ordenamento temporal das aes) da Anlise da Narrativa que
permitam visualizar uma sintaxe narrativa e ligar os fios de um enredo subentendido
pela redundncia ou repetio de contedos antes dissipados em notcias dispersas.
Arma-se ento uma trama na forma de intriga que sugere e permite a anlise dos
conflitos, dos papis das personagens, dos antagonistas e protagonistas, dos cenrios
e das temporalidades narrativas. Vista desde sua narratividade, os relatos das notcias
abrem-se ento anlise simblica, como qualquer texto literrio ou obra de arte. Para
no ignorar os aspectos operativos e profissionais prprios da comunicao
jornalstica, sugerimos uma anlise do narrador, introduzindo-se neste processo os
procedimentos da Pragmtica da Comunicao, que traz o especfico da comunicao
jornalstica para o interior da Anlise da Narrativa. Vamos por partes.
Acreditamos que o discurso jornalstico se mostra permeado de sentidos2 que
podem ser observados e interpretados tanto pelo que evidencia quanto pelo que
insinua, sugere ou oculta.3 As notcias produzidas e veiculadas pelos meios de
comunicao de massa no apenas trazem audincia informao, mais que isso,
atualizam a realidade social. Renovam diria e cotidianamente a percepo do mundo,
do espao de convvio e de ao. O jornalismo atua alm da mera produo de
1 A narratologia um ramo da teoria literria ainda em conformao. Sugerimos, para o seu entendimento preliminar, a leitura de Mieke Bal, Teoria de la Narrativa (Una Introduccin a la Narratologia), Ctedra, Madrid, 2001 2 A palavra sentido ser utilizada, daqui por diante, para referir-se s potencialidades semnticas. Evitaremos, pois, a palavra significado para evitar confuses conceituais com a perspectiva saussuriana de referncia aos termos lingsticos. Entendemos que o termo significado tal como proposto por Saussure possui carter mais fixo e esttico, enquanto sentido nos oferece volatilidade, dinmica, atualizao constante e multiplicidade. 3 Nos ltimos anos, diversos estudos procuraram identificar elementos ideolgicos dos fatos narrados pelas notcias para alm dos contedos proporcionais. So estudos por demais conhecidos e por isto julgamos dispensvel cit-los aqui.
notcias para um consumo massivo de informaes. Configura-se em veculo de re-
insero da audincia no universo social. Algo que se d de forma habitual, ritualstica.
Falamos, pois, de um processo scio-cultural de produo, veiculao e absoro dos
fatos do cotidiano, que atuam na construo social da realidade, medida que se
transformam em experincias compartilhadas do mundo.
Berger e Luckman4 observam que a apreenso da realidade social se d de
forma objetiva e subjetiva, mediante um contnuo de tipificaes e padres
recorrentes da interao. A relao do homem com o mundo social uma relao
dialtica, ou seja, um atua sobre o outro. A sociedade um produto humano. A
sociedade uma realidade objetiva. O homem um produto social. Torna-se desde j
evidente que qualquer anlise que deixe de lado algum destes trs momentos ser
uma anlise distorcida. Os padres, as tipificaes, os modelos, os paradigmas so
ferramentas-guia para interiorizao da realidade e sua absoro como experincia
social. Estes ganham contornos, amplitude e sentido no emaranhado de relaes
histricas, tradicionais, mticas, religiosas, regionais, institucionais, etc., do que
podemos chamar de cultura. Isto quer dizer que a realidade apreendida de forma
objetiva e subjetivamente, atravs da interiorizao de sentidos estabelecidos scio-
culturalmente. Fatos isolados pouco ou nada significam, seno, quando inscritos num
contexto maior, num pano de fundo que permita interpreta-lo, encaixa-lo no escopo da
realidade social. Esse processo no est livre de impresses do imaginrio. Ao
contrrio, utiliza-se do imaginrio coletivo, do sistema simblico continuamente
alimentado pelo universo cultural para preencher as lacunas deixadas na leitura
meramente objetiva e racional.
Para ns, como produto cultural, as notcias narram no apenas os fatos
historicamente localizados, mas constroem a realidade social re-significando-a
mediante elementos presentes no universo cultural5. Narram os dramas e tragdias da
vida humana, os conflitos, as lutas, as utopias, os sonhos, os medos, os desejos, as
frustraes, os sentimentos de personagens que preenchem as pginas de jornais e
revistas, bem como a programao de rdio e tev. Esse processo narrativo do
cotidiano surge impregnado de elementos provenientes do imaginrio e da memria
cultural coletiva a misturar-se com a realidade objetiva dos fatos reportados. Interpretar
simbolicamente a produo jornalstica, tal qual pretendemos, realizar uma espcie
de etnologia da notcia. 4 BERGER, P & LUCKMAN, T. A Construo Social da Realidade.Petrpolis. Vozes. 2001, pg. 87. 5 MOTTA, Luiz Gonzaga. Conflito Poltico e Gerao de Sentido nas Notcias in Cadernos do CEAM n6, EdUnb, Braslia, 2001, p.33.
Pensamos que, apesar do esforo empreendido pelos profissionais de ater-se
objetividade dos fatos, possvel observar na contnua produo jornalstica a
recorrncia de notcias que narram histrias e conflitos que se repetem ao longo dos
anos, com diferentes personagens e cenrios. Como fbulas que se atualizam para
manterem-se vivas culturalmente. Notcias sobre morte e vida, sobre maternidade e
paternidade, sobre lutas irreconciliveis, sobre esperana e solidariedade, sobre dor e
alegria, sobre a natureza, seus encantos e calamidades, sobre amores que vencem
obstculos, heris que viram bandidos, bandidos que viram heris. Fragmentos
antropolgicos que emanam do recontar dirio da Histria do homem. Como num
ritual, a cada dia que passa, mais um dia narrado. Um dia a ser posicionado na
suprema narrativa humana. E nela, alcanar sentidos. justamente atravs da anlise
destas narrativas produzidas pelas notcias que se torna possvel identificar e
interpretar os sentidos alimentados por elementos culturais, e proceder a uma
abordagem antropolgica das notcias. Entendida como produto cultural, dotado de
sistema simblico estruturado em torno de sua linguagem, as notcias so postas em
anlise a revelar de que forma surgem, na sua economia discursiva, os termos
condutores a tal nvel subjetivo.
A discusso desenvolvida neste trabalho trata as notcias como produtos culturais
dotados de elementos antropolgicos que emergem dos contedos informativos
proposicionais, transcendendo-os simbolicamente. Convm ressaltar que no se est
considerando as notcias como textos de fico escritos por jornalistas. A prtica
jornalstica de noticiar um exerccio instrumental de busca da objetividade mxima,
de uma referencialidade limpa de juzos de valor, como exigncia profissional, o que
pode ser observado nos manuais de redao e texto de introduo ao jornalismo. O
que faz do jornalismo um mediador especializado da realidade social, na qual agente
construtor e re-significador, sua credibilidade para contar a realidade histrica tal
como ela . O jornalismo fala populao mediante um contrato de veracidade.
Relata aquilo que apura como fato acontecido. No faz fico. O que muitas vezes
confere uma ilusria crena de que o que se v nas notcias so os fatos, e no sua
construo em forma de linguagem, sujeita a todas as suas imprecises. A mediao
da realidade desempenhada pelo jornalismo emprega impresses reveladoras no
apenas das intenes ideologicamente direcionadas, mas elementos antropolgicos
como crenas, valores, desejos, ticas, morais e diversas outras nuanas que fazem
parte da cultura onde esto inseridos todos os membros deste processo de mediao.
Contudo, acreditamos que h no processo de mediao da realidade social
realizado pelas notcias componentes simblicos atuantes que interpelam os sujeitos
durante os seus esforos de compreenso da realidade catica e contraditria. neste
esforo de apreenso da realidade que o imaginrio dos leitores penetra no ato de
leitura preenchendo as lacunas deixadas pelo texto6. A natureza logomtica da
linguagem lhe confere potencial disseminador de sentidos que extrapolam a referncia
direta e racional, pois sugere imagens, sensaes, texturas, sentimentos, memrias.
Assim vistas, as notcias conformam um sistema eminentemente simblico. Como bem
o prope Chilln, as notcias so estruturas simblicas que utilizam a linguagem para
comunicar, para mediar fatos componentes da realidade social. E, por maior que seja a
fora empregada ao narrar de forma objetiva e referencial, atuar sob a tenso entre
conceito e imagem, entre logos e mythos. Portanto, mesmo as notcias jornalsticas
objetivas so agentes construtores de uma realidade social e no mera reproduo
como um espelho da realidade na medida em que narram a histria. Diz este autor que
a linguagem humana no pode ser reduzida a relaes de significados cannicos,
lineares e unidimensionais, puramente lgica e precisa, um veculo transportador de
conceitos como um trem de mercadorias, no quais os vages (significantes)
transportam a carga (significados), pois a palavra smbolo polissmico, alusivo,
equvoco: Al concebir el lenguaje como retrico, Nietzsche nos dice no slo que la palabra es expresin y representacin en vez de reproduccin, sino tambin que tal expresin tiene inevitablemente un carcter figural, es decir, metafrico-simblico. La palabra es siempre tensin entre el concepto unvoco (logos) y la imagen equvoca (mythos), expresa siempre de modo figurado: imperfecto, incompleto, alusivo, borroso. Por su naturaleza eminentemente simblica, el lenguaje a un tiempo revela y oculta, alumbra, insina y oscurece: hay una zona de borrosidad y de claroscuro inevitable entre las palabras y su sentido.7
A narratologia aplicada s notcias: narrativas da realidade Ao destacar o carter narrativo das notcias de jornal, no se est afirmando que
estas so narrativas individuais acabadas e dotadas de elementos simblicos
facilmente identificveis. Sua linguagem, forosamente objetivada, reduz a evidncia
narrativa, embora no a extinga. 8 No numa nica e isolada notcia onde
encontraremos uma narrativa a contar uma histria, mas num conjunto delas sobre o
mesmo assunto, no contnuo acompanhamento de fatos que se sucedem ao longo de
6 A palavra texto est sendo utilizada para descrever qualquer linguagem comunicativa, seja escrita, significa, icnica ou audiovisual. 7 Chilln, Albert, Jornalismo y Literatura, Alde Global, Barcelona, 1999, p. 34 8 Com exceo das notcias estilisticamente devotadas narrativa como os fait divers e as reportagens do new journalism
dias ou semanas seguidas. Como aes, ou episdios a conformar uma histria. Ou
seja, na observao da seqncia de notcias que compem uma cobertura
jornalstica que se pode observar a conformao de um enredo que conforma ento
uma histria completa. Observadas em seu encadeamento, o conjunto das notcias
formar uma seqncia de aes que transformam e modificam, no transcorrer do
tempo, o estado inicial das coisas. O conjunto destas notcias o relato da histria
recomposta - forma ento a base emprica para a aplicao das tcnicas
hermenuticas da anlise da narrativa.
O relato referencial, mimtico, e age cognitivamente na recriao de um universo
que o ambienta e o suporta. O texto jornalstico no mais que a recriao lingstica
de fatos. Como o o texto literrio. Contudo, este confronto mental se d com o que
Ricoeur denominou o mundo da obra, uma proposio de mundo. Esta entendida no
como a leitura de uma inteno oculta no texto, mas com a inteno de expor-se ao
texto e receber dele um si mais amplo, que seria a proposio de existncia
respondendo, da maneira mais apropriada possvel, proposio de mundo. Do que
ele revela atravs da exposio do leitor ao mundo do texto e a resposta deste si mais
amplo.9 Como prope Ricoeur leitura da obra de arte, tambm acreditamos que
pode ser empregado leitura do texto jornalstico, a partir de um conjunto de notcias
formadoras de uma narrativa. essencial a uma obra literria, a uma obra de arte em geral, que ela transcenda suas prprias condies psicossociolgicas de produo e que se abra, assim, a uma seqncia ilimitada de leituras, elas mesmas situadas em contextos scio-culturais diferentes. Em suma, o texto deve poder, tanto do ponto de vista sociolgico quanto do psicolgico, descontextualizar-se de maneira a deixar-se recontextualizar numa nova situao: o que justamente faz o ato de ler.10
Para empreendermos a busca rumo identificao dos subsdios que relacionam
dois mundos diversos, mas complementares, precisamos estudar a literalidade das narrativas. Segundo Jakobson, isso no significa fazer literatura, tampouco crtica literria, mas apreender as peculiaridades do discurso literrio, a partir da idia de sentido e interpretao. Com efeito, o sentido seria a correlao de um elemento da narrativa com outro elemento ou com a prpria narrativa. Por outro lado, a interpretao de um elemento da narrativa diferente, pois se constri segundo a personalidade, posies ideolgicas do analista e segundo a poca.11 Do ponto de vista de sua existncia, a narrativa no tem uma existncia independente, visto que aparece em um universo povoado por imagens e outras narrativas, no qual se integra.
Em nossa proposta de construo de um modelo de anlise buscamos observar um tipo especial de obra em prosa: a narrativa. Sugerimos o uso da proposta metodolgica, elaborada por Todorov, para a analise das narrativas, aplicando tal 9 In RICOEUR, Paul. Interpretao e Ideologias. 2 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1983, p. 58. 10 Ricoeur, op. cit., p. 53 11 Todorov, Tzvetan, As categorias da narrativa literria, in Anlise Estrutural da Narrativa, Vozes, Petrpolis, RJ, 1973, p.210.
mtodo s histrias relatadas pelas notcias durante determinado perodo de tempo, tal como observamos acima. Em princpio, a proposta de anlise enfoca a histria contada pelos veculos de comunicao de massa, cujos relatos, desencadeados por um acontecimento singular atravs da seqncia de notcias sobre um mesmo assunto divulgadas em edies sucessivas do jornais, telejornais ou radio-jornais. Com o objetivo de facilitar a observao dessa grande estria, sugerimos a utilizao da anlise da narrativa, aplicada sobre a histria reagrupada pela seqncia de notcias, complementada por uma anlise pragmtica e uma anlise simblica, tal como observaremos mais adiante.
Como a obra literria, em especial a narrativa, entendemos ser o texto jornalstico,
tambm, ao mesmo tempo uma histria e um discurso: Ela histria, no sentido em que evoca uma certa realidade, acontecimentos que teriam ocorrido, personagens que, deste ponto de vista, se confundem com os da vida real. Esta mesma histria poderia ter-nos sido relatada por outros meios; por um filme, por exemplo; ou poder-se-ia t-la ouvido pela narrativa oral de uma testemunha, sem que fosse expressa em um livro. Mas a obra ao mesmo tempo discurso: existe um narrador que relata a histria; h diante dele um leitor que a recebe. Neste nvel, no so os acontecimentos relatados que contam, mas a maneira pela qual o narrador nos fez conhec-los.12
No texto jornalstico, procuramos identificar as categorias narrativas no domnio da
histria, buscando na materialidade dos fatos: a lgica das aes, os personagens e
suas relaes. preciso verificar como a trama, enredo, ou intriga organizada no
plano de organizao macro-estrutural do texto narrativo, caracterizado pela sucesso
dos eventos, segundo suas estratgias discursivas. Os eventos so apresentados de
forma encadeada de modo a fomentar a curiosidade do leitor. O fio condutor do
processo narrativo baseia-se nas aes explicitadas pela sucesso de atos praticados
pelos atores e seu conseqente enquadramento temporal ao longo de toda a narrativa
jornalstica. A opo inicial por determinada estratgia comunicativa implica a
tendncia de apresentar os fatos de maneira serial e encadeada, com o escopo de
fomentar a curiosidade do leitor sem direcionar a seqncia para um desenlace que
inviabilize a continuao da intriga. A ao tem uma lgica, que est diretamente ligada
s repeties, pois em toda obra narrativa existe essa tendncia. Em toda obra existe uma tendncia repetio, que concerne ao, aos personagens ou mesmo a detalhes da descrio. Esta lei da repetio, cuja extenso ultrapassa de muito a obra, precisa-se em muitas formas particulares que levam o mesmo nome que certas figuras retricas. Uma destas formas seria, por exemplo, a anttese, contraste que pressupe, para ser percebido, uma parte idntica em cada um dos dois termos.13
12 Todorov(1973), op. cit., p. 212 13 Todorov(1973), op. cit., p. 213
O conflito como categoria da anlise da narrativa se atualiza pelas aes dos
atores sociais (personagens). Essas aes se sucedem e so desempenhadas pelos
sujeitos que tomam parte na intriga, sendo cada performance narrada determinada
pelo tempo em que se desenvolvem, com a finalidade de proporcionar transformaes,
ou seja, mudanas de estado. Alm da anttese, outras caractersticas ligadas ao,
se repetem no texto. A gradao outra forma de repetio, que tem como funo
evitar um perigo que ronda toda narrativa: a monotonia. O paralelismo tambm outra
varivel ligada repetio, e segundo Todorov, de longe a forma mais difundida, pois
todo paralelismo constitudo de pelo menos duas seqncias que comportam
elementos diferentes e semelhantes. As funes que cada personagem desempenha
durante o desenrolar dos fatos no so estticas, mas se revezam a cada captulo da
estria. A narrativa jornalstica evidencia claramente o contexto no qual as tomadas de
posio acontecem, construindo o fundo para que os atores sociais desempenhem
seus papis, de forma a caracterizar os contornos de cada personagens e suas
possveis atitudes.
Dentro dessa estrutura maior, que o enredo, identificamos as unidades mnimas,
que Barthes chama de seqncia. So blocos semanticamente coesos, organizados
em ciclos que o leitor reconhece com facilidade. Ainda segundo Barthes, so tomos
narrativos unidos por uma relao de solidariedade: a seqncia inicia-se quando, um
dos seus termos no tem antecedente solidrio e fecha-se quando outro dos seus
termos deixa de ter conseguinte. O conflito toma corpo a partir do encadeamento das
aes dos personagens, evidenciando uma seqncia dos fatos que, por conseguinte,
definem uma certa serialidade narrativa jornalstica. Esse processo dinmico se
desenvolve como captulos de uma novela, onde cada episdio claramente marcado
pela alternncia de aes entre os contendores ou personagens.
Segundo Todorov, poderemos entender a narrativa como uma seqncia com a
seguinte conformao: Situao Inicial o primeiro captulo, no qual o narrador informa
o leitor sobre o cenrio, sobre as aes iniciais de cada personagem, bem como os
preparativos para futuras aes, mostrando as possibilidades para o desenrolar e os
possveis rumos dos acontecimentos; Desequilbrio o segundo captulo, com o
surgimento de fatos que desestabilizam um quadro de aparente equilbrio;
Transformao o terceiro captulo, o quadro inicial totalmente transformado,
desembocando num clmax; Resoluo o quarto captulo caracteriza-se pela
resoluo do processo de transformao, cujas conseqncias so irreversveis;
Situao Final o eplogo, o anticlmax, acontece quando a situao de aparente
estabilidade retomada, com uma certa incoerncia, sendo a situao final diversa da
inicial. Essa disposio seqencial dos fatos caracteriza, de certa forma, a organizao
da economia da narrativa, que se estabelece em torno dos personagens cujas aes
se revezam ao longo do conflito. Nessa disposio serial dos relatos, a recorrncia,
outra categoria narrativa, se apresenta como uma instncia necessria para a
organizao da histria contada, pois gera um certo ritmo e estrutura a seqncia da
histria, pela alternncia das aes, de forma a permitir ao leitor a fcil apreenso do
desenrolar dos acontecimentos. No desenrolar do conflito cada personagem assume
seu papel a partir das aes que desempenha, indicando o caminho, assumindo uma
conduta, ou seja, um maior ou menor comprometimento e conseqente
posicionamento em funo dos efeitos dessas aes que pratica na sucesso dos
acontecimentos. Essa sucesso de acontecimentos plenamente retratada de forma
clara pela narrativa, cuja velocidade imprimida ao relato alarga o horizonte temporal,
embora a isocronia sugerisse um certo respeito do narrador s dimenses temporais.
Esse fato se evidencia pela seqncia narrativa de Todorov, onde cada captulo
construdo em torno de uma determinada ao e, por conseguinte, de um personagem.
Outro aspecto que a seqncia narrativa nos permite inferir, diz respeito ao tempo.
Se no fosse pela histria, teramos a impresso de que o tempo decorrido no
cronolgico, pois os fatos relatados remetem o leitor aos fatos anteriores, e ao mesmo
tempo aos possveis desfechos, gerando impresso de uma atualizao cclica do
conflito, definindo, de certo modo, outra dimenso que no a histrica. Essa seqncia
de eventos temporalmente ordenados: preparao, perturbao, confronto, distenso e
retorno a uma nova situao de estabilidade, suscitam no leitor um certo desejo de
conhecer o desenlace dos acontecimentos. Nesse ponto o leitor requisitado,
ensejado a uma participao efetiva, a partir da mobilizao de sua memria. Essa
relao causal entre eventos narrados configura-se como uma estratgia do narrador
desenvolvida com o objetivo de captar a ateno do leitor. Toda a serialidade que vai sendo construda ao longo das seqncias narrativas
tem o foco nas aes que os personagens desempenham, atribuindo grande
importncia aos personagens da narrativa, que navegam com fluncia entre a fico e
a realidade, pois as personagens representam a pessoas, segundo as modalidades
prprias da fico.14 Segundo Beth Brait, o autor da narrativa aquele que da forma
personagem que habita a realidade ficcional, sendo a matria da qual feita e o
14 Ducrot, Osvald & Todorov, Tzvetan. Dicionrio enciclopdico das cincias da linguagem, S.Paulo, Perspectiva, 1972, p.210.
espao habitado, diverso da matria e do espao dos seres humanos, mas guardando
um estreito relacionamento entre essas duas realidades. Essas realidades so
permeadas pelo mundo da linguagem, que representa, simula e cria a chamada
realidade.15
A discusso que se refere s diferenas e semelhanas existentes entre pessoas e
personagens, a princpio nos fazem acreditar que os personagens das narrativas,
especificamente os das narrativas jornalsticas, sugerem um relato fiel de uma
realidade objetiva. Entretanto, estamos lidando com a linguagem que nos permite uma
construo fragmentada e reduzida da realidade, gerando no leitor uma certa
conivncia rumo produo do sentido. Atravs dessa construo possvel e
fragmentada da realidade o narrador reinventa a realidade e articula uma certa
existncia s personagens. Atravs de um processo de caracterizao, o narrador d
dimenso e cria a iluso de existncia para os espaos e personagens. A partir da
decomposio das frases, podemos constatar que elementos estruturais foram
definidos pelo narrador para situar o leitor no seu ponto de viso.
Portanto, a personagem ocupa um lugar de destaque em qualquer narrativa, visto
que, como j mencionado, em seu entorno e decorrncia de sua existncia, que a
prpria narrativa se constri. Com efeito, a partir da identificao dos recursos
utilizados pelo narrador na construo das personagens, sejam retiradas de sua
vivncia real, ou de uma instncia imaginria, de sonhos e pesadelos, poderemos
materializar essas personalidades, segundo a apreenso do jogo de linguagem que
torna sua presena tangvel e sensvel os seus movimentos. Dessa forma, o texto o produto final dessa espcie de bruxaria, ele o nico dado concreto capaz de fornecer os elementos utilizados pelo escritor para dar consistncia sua criao e estimular as reaes do leitor. Nesse sentido, possvel detectar numa narrativa as formas encontradas pelo escritor para dar forma, para caracterizar as personagens, sejam elas encaradas como pura construo lingstica literria ou espelho do ser humano.16
O Narrador e a pragmtica do texto jornalstico
Ao falarmos em pragmtica referimo-nos a sua concepo moderna, proposta
por J. Austin, J. Searle, e diversos outros autores. Como ferramenta de anlise das
notcias jornalsticas a Pragmtica Comunicativa configura-se fundamental na relao
do universo discursivo do material emprico e seu contexto extralingstico. Como a
condio de produo e as peculiaridades do gnero jornalstico, a posio do
15 Brait, Beth. A Personagem. S.Paulo, tica, 1985, p.12. 16 Brait, op. cit., p. 12
narrador sobre o fato, impresses do narrador deixadas na narrativa, intenes, a
estratgia comunicativa, efeitos pretendidos, a performance dos participantes. A
Pragmtica permitir fazer a relao da interpretao simblica com o mundo emprico,
com a notcia como fato histrico, e as relaes entre as personagens (participantes da
narrativa), narradores, a audincia, o veculo. Atravs da anlise pragmtica torna-se
possvel observar o jogo cognitivo estabelecido entre emissores e pblico receptor.17 O
primeiro mergulho no texto jornalstico d-se, pois, com o apoio destas questes da
pragmtica comunicativa.18
Deste ponto de vista, o texto jornalstico19 analisado para observar as escolhas
estilsticas que suscitam diferentes pesos emocionais (alm dos informacionais) como
expresses e figuras de linguagem, valorizao de determinadas questes ou
depoimentos. Essa estratgia comunicativa identifica determinados efeitos a serem
provocados quando do momento de leitura, sejam de tenso, suspense, comoo,
indignao, medo ou riso. Revela tambm em que medida o narrador se aproxima ou
se distancia dos fatos narrados. Como ele deixa transparecer sua opinio pessoal, sua
prpria viso de mundo, sua compreenso ou at incompreenso do fato narrado.
Assim, possvel observar quais fatos recebem maior nfase em detrimentos de
outros, e que personagens assumem lugar de fala privilegiado. Estas questes revelam
a estratgia comunicativa executada pelos textos jornalsticos. No possvel
prescindir deste importante momento de anlise do texto jornalstico, pois, como bem
nos aponta Chilln, tambm os jornalistas no podem prescindir de sua ideologia, de
suas impresses, sentimentos e atitudes frente quilo que est sendo narrado por eles.
Este primeiro passo proporciona subsdios para a perfeita compreenso e
interpretao da narrativa proposta pelos textos jornalsticos, sem perder o foco das
relaes do mundo simblico e o mundo emprico: Los comunicadores no pueden prescindir de sus particulares ideologas, sentimientos, actitudes y, en resumen, de su weltanschauung- , y as mismo que su tarea est constreida por mltiples condicionamientos relativos a las rutinas productivas, a la cultura profesional imperante y, entre otros factores ms, al extendido uso de las formas y procedimientos expresivos que se
17 A pragmtica moderna tal como desenvolvida por filsofos da linguagem como J. Austin17 cara a nossa interpretao como ferramenta de anlise a partir do material emprico. Os conceitos desenvolvidos sobre os atos de leitura, so importantes para a observao. Austin prope a existncia distinta de trs atividades complementares na enunciao. Proferir um enunciado realizar um ato locutrio, ou seja, organizar foneticamente sentidos numa determinada lngua; um ato ilocutrio a impresso, a fora deixada no prprio ato de proferir um enunciado; e a ao perlocutria que so os efeitos provocados pelo simples fato de proferir um enunciado. Este campo de observao da ao perlocutria extrapola o contexto lingstico, e alcana o ambiente onde o enunciado foi proferido, as pessoas envolvidas, o momento histrico, as relaes e os efeitos. 18 Maingeneau (1996), p. 8. 19 Reitera-se mais uma vez que a palavra texto refere-se a qualquer unidade semntico-comunicativa como imagem, sons, cones e outros signos utilizados pela narrativa jornalstica, no se limitando lingstica.
componen la retrica de la objetividad. Una retrica en cuya urdimbre estilstica se condensa y expresa con notable eficacia y capacidad persuasiva no slo el mito del objetivismo considerado en general, sino muy singularmente el mito de la objetividad periodstica.20
Na tentativa de resumir as formas possveis de construo das personagens, nos
defrontamos com o papel desempenhado pelo narrador no contexto do universo
textual, pois cabe a essa categoria a funo de conduzir o leitor atravs de uma
realidade que se vai construindo sua frente. Esse o segundo passo, ou seja, a
outra questo importante para a anlise da narrativa jornalstica, o ponto de vista do
narrador, que ao longo da seqncia narrativa se mantm a uma certa distncia, mas
em outros momentos da narrativa, constri laos de afetividade que o aproximam do
leitor.
Consideraremos que o narrador pode apresentar-se como um elemento no
envolvido na histria, portanto, como uma verdadeira cmera; ou como uma
personagem envolvida direta ou indiretamente com os acontecimentos narrados. De
acordo com a postura desse narrador, ele funcionar com um ponto de vista capaz de
caracterizar as personagens.21 Compreendemos os momentos de grande aproximao
do referente emprico aqueles em que o narrador se esfora por traduzir em relatos
diretos os acontecimentos de sua observao. Nesses momentos, os relatos se
remetem ao grau mximo objetividade. Ao revs, quando ele se deixa penetrar por
percepes estticas, cresce a subjetividade e as emoes transparecem e podem
induzir o leitor a uma reao emocional. Nesse movimento de aproximao e
afastamento, percebemos certos indcios de um retorno s origens da narrativa, ou
seja, aos modelos arcaicos do narrador. Aquele que fala das coisas de terras distantes,
como falava o narrador viajante, ao mesmo tempo em que se fala das coisas da terra,
da tradio, como a falava o campons sedentrio.22
Com efeito, devemos centrar a observao no discurso, na fala dirigida ao
leitor, dividindo os procedimentos: segundo o tempo da narrativa, onde se d a
relao tempo da histria e do discurso; os aspectos da narrativa, a maneira
pela qual o narrador percebe a histria; e os modos da narrativa, o tipo de
discurso utilizado pelo narrador a fim de que conheamos a histria.23 A partir
da identificao dessas categorias e de suas qualidades narrativas intrnsecas, 20 Chilln, op. cit., p. 47. 21 Brait (1985), op.cit., p. 12. 22 Benjamin, Walter. O Narrador in Magia e Tcnica, Arte e Poltica. So Paulo, Brasiliense, 1985. 23 Todorov(1973), op. cit., p.231.
pode-se depreender como uma sucesso de eventos, cuja origem poderamos
atribuir a um acontecimento singular, desencadeia uma seqncia de
sucessivos eventos narrativos, cuja anlise da cobertura jornalstica nos
permitir aplicar essa metodologia s reportagens com o fito de permitir-nos
reescrever as seqncias, a partir da atuao de cada personagem,
conformando, por fim, uma grande narrativa.
Interpretao Simblica do texto Jornalstico Por fim, aps a anlise da narrativa jornalstica, preciso fazer o movimento da
emerso, de deixarmos a materialidade dos fatos, buscando as interpretaes
simblicas possveis. Se a prpria narrativa, oriunda das sucessivas reportagens nos
remete subjetividade e ficcionalidade, some-se a elas as ressonncias, ora
sugeridas pela narrativa, remetendo nossa interpretao ao conto e fbula, ou
atualizao do mito24. Considerados os passos anteriores, a interpretao procura
identificar padres imagticos, questes que sugerem modelos ticos e estticos,
valores mticos, recorrncias, enfim, uma srie de elementos que tm participao
direta no enredo ou que funcionam como suporte ou pano de fundo para um tema
especfico, amplificando ou diluindo seus efeitos no processo. Identificamos, assim, em
outro plano, o que podemos chamar de o fio condutor da narrativa, em cujo interior
esto depositados os sentidos metafricos e metonmicos, apoiados na ideologia e no
mito. A objetividade da notcia cede lugar ento a novos sentidos de desejo e s
utopias. o instante no qual se deve procurar identificar os contedos culturais,
aqueles sentidos, que segundo Durand, se depositaram no fundo da bacia semntica.
uma busca da realidade ausente, do mgico, do transcendente, onde moram todas
as utopias e vontades no explicitas do ser humano.
Para ns, como para os estudiosos da cultura, especificamente antroplogos e
historiadores do sagrado, o mito uma narrativa que faz referncia a um passado
remoto, mas conserva no presente todas as suas qualidades explicativas acerca da
histria do homem e da sociedade. O mito d conta de uma realidade que chegou
existncia, ou seja, conta sobre o surgimento do mundo, do cosmos, relata as
circunstncias do surgimento do prprio homem ou sobre qualquer outro aspecto
ligado sua existncia. Para outros, a idia de mito confunde-se com a mistificao, a
mentira, a iluso, interpondo-se como um aparato que distorce intencionalmente a
24 MOTTA, Luiz Gonzaga. Conflito Poltico e Gerao de Sentido nas Notcias in Cadernos do CEAM n6, EdUnb, Braslia, 2001. p. 47.
realidade. Mas o mito pode ser definido a partir de sua funo ligada imaginao
criadora como um conjunto de imagens motrizes, que incitam ao, apresentando-
se como um estimulador de energias de excepcional potncia. Poderamos comparar
o mito ao sonho, pois ambos se organizam como uma sucesso de imagens que se
encadeiam, nascem uma da outra, chamam uma outra, respondem-se e confundem-
se. Esse jogo complexo de associaes visuais remete a outras imagens, outros
caminhos, por vezes, inesperados. O mito no pode ser determinado a partir de
contornos precisos a no ser como conseqncia de uma conceituao, que reduz e
empobrece sua riqueza e complexidade. Claude Lvi-Strauss alerta para o
encerramento do mito em determinados contornos, ignorando a natureza da realidade
mtica, aplicando ao seu estudo os princpios da anlise cartesiana: No existe limite, escreve ele, para a anlise mtica, unidade secreta que se possa apreender ao cabo do trabalho de decomposio. Os temas desdobram-se ao infinito; quando se cr t-los desemaranhado uns dos outros, mantendo-os separados, apenas para constatar que se ressoldam em funo de afinidades imprecisas....25
Apesar da complexidade das sociedades contemporneas, as relaes com os
mitos pouco se diferenciam dos mitos sagrados das sociedades tradicionais, quando
considerados os aspectos da fluidez e da impreciso de seus contornos, pois se
interpenetram, gerando uma rede de complementaridade de sentidos. Essas
significaes, alm de complementares, muitas vezes so contrrias, como
conseqncia do polimorfismo e ambivalncia do mito. guisa de exemplo, podemos
citar: a casa, que no sonho tanto pode significar abrigo, segurana, refgio, como
tambm a imagem do calabouo, da sepultura; a serpente que, ao mesmo tempo
objeto de averso e smbolo de fecundidade.
Alm das caractersticas de ambivalncia e fluidez, existe ainda uma outra
caracterstica, que poderamos chamar de uma lgica do discurso mtico. Como os
sonhos, cujas imagens se alternam dentro de espao restrito de significao, em
funo das leis da repetio e da associao, os mitos esto submetidos aos
mecanismos combinatrios da imaginao coletiva. Essa alternncia e combinao de
imagens tm uma certa organizao, estando inseridas em determinada sintaxe,
conforme sugerido por Claude Lvi-Strauss26. Como um ltimo trao caracterstico da
narrativa mtica, cabe salientar que se trata de uma constelao mitolgica, que
Gilbert Durand conceitua como o conjunto de construes mitolgicas sob o domnio
25 Girardet, Raoul. Mitos e Mitologias Polticas, p.15. 26 Idem, p.17.
de um mesmo tema, reunidas em tornos de um ncleo central, cuja construo da
grande narrativa nos permitir analisar seus contornos e dimensionar sua existncia.
No complexo universo das projees onricas buscamos identificar como se
compe essa multiplicidade de imagens cristalizadas em torno dos personagens, cujas
dimenses se sobrepe e se imbricam na narrativa. A personagem se constri sobre
uma linha de ruptura, no tempo do presente imediato que ele se afirma e se define.
Como o sonho, o mito no depende de nenhuma cronologia e de nenhum contexto
factual, visto que podem ser reinventados e reinterpretados, pois cada um de ns tem
a liberdade de reconstruir seus personagens.27 O grande desafio que ora nos
propomos para a anlise da narrativa jornalstica, em especial, da narrativa mtica,
consiste em apreender como se d a construo dessa grande narrativa, e como
essa se transmuta do real para o imaginrio.
Queremos concluir este trabalho convidando aos interessados a participar conosco
da adaptao que vimos fazendo na Universidade de Braslia, ao longo dos ltimos
trs anos, dos procedimentos da narratologia anlise da notcia para melhor entender
os processos de construo de sentidos. Acreditamos firmemente que estes
procedimentos abrem um campo enorme e tm uma contribuio importante a dar
teoria da comunicao e aos estudos sobre os processos de produo de sentido, e
especialmente teoria da notcia. Nos ltimos anos, muito se escreveu e publicou
sobre a teoria da narrativa, mas quase sempre se levando em conta apenas os
produtos ficcionais. O seu emprego produtos no ficcionais exigir certamente
adaptaes criativas, somadas a um esforo para no se perder o especfico da
comunicao de massa. O estudo do papel do narrador desde a perspectiva da
narratologia aplicada comunicao, por exemplo, traz desafios interessantes e
convida formulaes diversas. Neste sentido, cremos que, dando prioridade
Anlise da Narrativa que parte do texto e privilegia a histria, no se pode perder de
vista as contribuies recentes da Anlise Pragmtica, que ampliam a anlise para os
fatores extralingsticos e configuram o ato comunicativo interligando narrador e
destinatrio. Os desafios esto lanados, resta-nos recuperar a coragem, a ousadia e a
criatividade para enfrent-los.
27 Ibid., p. 81.
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