Post on 04-Jul-2015
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO
FUTURO
Comunicação de Maria João
Silva
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Contar e ouvir estórias é por certo uma das mais
antigas actividades humanas
Pois
O que constituía mistério para a mente humana era
explicado com fantasia e imaginação, em imagens
compreensíveis sob a forma de lendas, fábulas e mitos
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
As estórias enquanto narrativas orais fazem parte do
património cultural de vários povos
As narrativas orais acabaram por ser colectadas e
chegaram aos nossos dias através dos livros para
crianças, herdeiros desse hábito de contar estórias
oralmente
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
<<Ah, pudesse eu voltar à minha infância Minha Velha Aia!
conta-me essa história que principiava, tenho-a na
memória, “Era uma vez”...>>
António Nobre
“Só”
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
As histórias/Os contos ajudam o Leitor e Ouvinte ...
... A libertar-se de preconceitos
... A abrir-se a novos horizontes sobre a sua própria vida
... A estruturar-se como pessoa
... A desenvolver-se continuamente
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
As histórias/Os contos transmitem aspectos da cultura e
mensagem
A tomada de consciência das mensagens veiculadas
pelos contos e os debates que se pode, gerar em torno
deles é muito importante quando se visa
Educar para viver num mundo inter/multicultural
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
A leitura consciente de contos, as mensagens que
transmitem e os materiais usados em contextos
pedagógicos têm um papel importante na medida em que...
Levam educadores e educandos a descobrir os seus
códigos e a estarem atentos ao sistema de
comunicação que deles decorrem.
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Bruno Bettelheim (1995) refere que a criança precisa
muito especialmente de sugestões em forma simbólica
sobre como lidar com estes obstáculos para chegar sem
risco à maturidade.
Não há histórias inócuas, as histórias sempre transmitem
mensagens implícitas e /ou explicitas
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
O conto de fadas confronta a criança sem rodeios com as
exigências básicas do ser humano, pois não há
sentimentos proibidos ou inabordáveis.
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
A morte, o culto da morte, o direito ao luto estão no conto
da Branca de Neve.
“A Titulo de Exemplo”
No conto os Dois Irmãos é enfatizada a necessidade de
integrar as tendências contraditórias da soberania adulta,
só depois dos dois gémeos se reunirem a felicidade foi
possível
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
“A Título de Exemplo”
Hansel e Gretel só conseguiram resolver os seus
problemas afastando-se da casa dos pais regressando
depois de terem passado determinadas provas, sendo
ultrapassado o pavor do abandono evidenciado por estas
duas personagens
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
A destruição moral a que pode levar uma relação de uma
mãe que não consegue ultrapassar o seu narcisismo e ver
a filha como rival parece estar presente no conto a Gata
Borralheira
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Os contos mostram que desde a infância o ser humano é
sujeito a pulsões e emoções violentas e a conflitos
profundos, percorre-se também a antiquíssima vontade
de Viver e Ser Feliz
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
• Os processos interiores são traduzidos por imagens
visuais
Ao Contar Uma História
• A participação activa constitui factor vital que enriquece
a experiência das crianças
• Existe uma afirmação da personalidade, através do
confronto de experiências partilhadas com o outro
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
O conto, transmitindo mensagens, pode funcionar como
elemento mobilizador da afectividade da criança e
estimulador da sua participação pelas funções poética e
expressiva que contém quando estas são positivamente
utilizadas
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Valorização de trocas culturais
O Conto pode ser um dispositivo privilegiado de:
Cooperação
Partilha, já que a criança pode identificar e identificar-se
com múltiplos personagens que interagem em
contextos diferentes, têm personalidades e hábitos
diferentes
Análise critica e de auto-avaliação
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Com os contos a criança entra em contacto com
contextos diferenciados e habitua-se a estar no lugar do
outro, iniciando assim o percurso da aceitação
enriquecedora da diversidade
Na perspectiva de uma EDUCAÇÃO INTER/MULTICULTURAL
CRITICA, que permita que as crianças de grupos sociais e
culturais diversos sejam educadas para um BILINGUISMO
CULTURAL onde, simultaneamente com o conhecimento
aprofundado da sua cultura de origem, desenvolvem atitudes
de alteridade e de respeito pelo pelo outro, através do
conhecimento critico e contextualizado de outras culturas,
passando ao exercício de uma democracia representativa
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Como se promove este percurso de aceitação da diversidade?
ATRAVÉS
CONTOS/HISTÓRIAS
RELATO DE PRÁTICAS EDUCATIVAS...
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
ATRAVÉS DE CONTOS
EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA
NUMA PERSPECTIVA DE:
Criação de uma equipa de trabalho constituída por
Educadores de Infância / Professores para a
abordagem da cidadania e da multiculturalidade
através dos contos
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
1ª FASE
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Criação de grelhas de análise para descodificar as
mensagens veiculadas pelos livros de conto
2ª FASE
2ª FASE
Conto: Dumbo da Disney, Everest Editora
Grelha de Análise do Conto
REPRESENTAÇÕES
EM RELAÇÃO ÀS DIFERENÇAS EM RELAÇÃO ÀS SEMELHANÇAS
“Desculpe o atraso excede o
peso normal”
“...descomunais muito maiores
que o resto do corpo”
“Em toda a minha vida nunca
vi nada igual”
“Orelhas enormes”
“Que coisinha mais linda”
”Parabéns senhora Jumbo tem
um lindo bebé
2ª FASE
RELAÇÃO COM A DIVERSIDADE
ACEITAÇÃO ACTIVA NÃO ACEITAÇÃO
“Contemplou com imensa
doçura o seu bebé”
“Para mim serás sempre o
elefantezinho mais bonito do
mundo”
“O único elefante voador do
mundo
“Ah! Ah! Ah! Só viram aquelas
orelhas parecem dois toalhões de
banho”
“Ah! Ah! Ah! Riram os garotos
olhem para aquelas orelhas se ele
resolve agitá-las levanta-se um
vendaval”
“Não merece estar aqui connosco
proponho que não lhe ligue
importância agiremos como se lele
não existisse
2ª FASE
VALORES VEICULADOS
SOLIDARIEDADE ACTIVA SOLIDARIEDADE NÃO ACTIVA
(TOLERÂNCIA)
“Eu tomarei conta de ti”
“Tu vais ser a estrela do circo”
“Desculpem se os
incomodamos...”
“Bem, não sabiamos. Se
pudermos ajudar... ”
2ª FASE
VALORES VEICULADOS
PATERNALISMO
MOTIVAÇÃO
“Troçar assim de um pobre
elefante?
Não têm vergonha?”
“ A partir de hoje, acaba-se
a história de abusar do
pobre elefantezinho”
REFORÇO + REFORÇO -
“Quando fores
maior serás o
elefante mais
forte do circo...”
“A tua sorte vai
mudar”
“Tens que ser
forte portaste-te
bem, meu filho”
“Anda cobardolas.
Salta já!”
2ª FASE
Dumbo, o elefante, nasce “diferente”, tem umas enormes orelhas
e, por isso, é excluído da sua comunidade, mas o rato
desmistificando essa diferença dá a oportunidade a Dumbo de
crescer de acordo com a sua “diferença”
Dumbo acaba por se tornar herói, pois na sua “diferença”
consegue encontrar-se.
A problemática do “diferente” reflecte a evolução sociocultural
de uma comunidade-. É manifesta uma cumplicidade cultural que
está subjacente ao julgamento que diferencia os “diferentes” dos
“não diferentes”. Esta cumplicidade obscura, ténue, subtil e
confusa, tem por objectivo afastar ou excluir de alguma maneira os
“diferentes” cuja presença perturba e ameaça o mundo dos
“normais” e respectiva ordem social.
COMENTÁRIO
2ª FASE
Conto:
Gigões & Anantes,
Manuel Pina,
Editora Afrontamento
2ª FASE
Conto: Gigões & Anantes, Manuel Pina, Editora Afrontamento
Grelha de Análise do Conto
MENSAGENS EXPLÍCITAS MENSAGENS IMPLÍCITAS
“Gigões são Anantes muito grandes.
Anantes são Gigões muito pequenos.
Gigões diferem dos Anantes porque
uns são um bocado mais, outros
são um bocado menos”
Diferença“Era uma vez um Gigão tão grande,
tão grande, que não cabia.
- Em quê? – O Gigão era tão grande
que não se sabia em que é que ele
não cabia!
- Mas havia um Anante ainda maior
que o Gigão, e esse então nem se
sabia se ele cabia ou não”
2ª FASE
Conto: Gigões & Anantes, Manuel Pina, Editora Afrontamento
Grelha de Análise do Conto
MENSAGENS EXPLÍCITAS MENSAGENS IMPLÍCITAS
“Só havia uma maneira de os
distinguir:era chegar ao pé deles e
perguntar.
- Mas eram tão grandes que não dse
podia lá chegar!
- - E nunca se sabia se estavam a
mentir!”
Diferença VS Semelhança
2ª FASE
Conto: Gigões & Anantes, Manuel Pina, Editora Afrontamento
Grelha de Análise do Conto
MENSAGENS EXPLÍCITAS MENSAGENS IMPLÍCITAS
“Então a Ana como não podia
resolver o problema arranjou uma
teoria: Xixanava com eles e o que
ficava Xubiante era o Gigão e o
Anante o que fingia que não”
Distribuição do poder através
da comunicação
“A teoria nunca falhava porque era
toda com palavras que só a Ana
sabia. E como eram palavras de
toda a confiança só queriam dizer
o que a Ana queria”
2ª FASE
O conto Gigões & Anantes parece veicular mensagens da
relatividade da diferença. A análise feita ao conto remete-nos para
uma abordagem holística da diferença e da semelhança intra/inter
grupais.
Afinal não existem diferenças sem semelhanças nem
semelhanças sem diferenças.
“Gigões são anantes muito grandes
Anantes são Gigões muito pequenos
Os Gigões diferem dos Anantes porque
Uns são um bocado mais, outros são um bocado menos”
Assim dar voz e vez ao outro é quebrar as barreiras do
inacessível. A importância da comunicação é também referenciada
como instrumento privilegiado de inclusão
COMENTÁRIO
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Introdução na prática educativa dos contos como
dispositivo pedagógico procurando ressaltar o
aspecto formativo por parte de crianças, de atitudes
que conduzam ao desenvolvimento de uma aceitação
activa da diversidade
3ª FASE
3ª FASE
Conto: Gigões & Anantes, Manuel Pina, Editora
Afrontamento
Crianças na faixa etária dos três aos cinco anos
Momento: Hora do Conto
O conto chegou às crianças através de oito momentos:
3ª FASE
1º Momento: O texto do conto é passado para uma folha de papel
cenário previamente executada e sem a presença das
crianças.
2º Momento: O conto escrito na folha de papel cenário é lido às
crianças. As crianças riem pedem explicações sobre
algumas palavras, como por exemplo: o que é um a
”teoria”?...
3ª FASE
3º Momento: Cada criança circulou pela sala, para escolher actividades a realizar sobre o
conto, tendo à disposição materiais vários. Surgiram construções e
desenhos e foram feitos comentários que a Educadora registou, mas
também como texto livre nos desenhos das crianças.
3ª FASE
4º Momento: Recurso ao livro original para através da leitura do conto,
agora já conhecido e em contexto de livro, as crianças
pediram para mostrar a imagem que correspondia a cada
“quadra”. Como não existia essa imagem, surgiram
propostas de ilustração.
3ª FASE
5º Momento: Elaboração de um livro pelas crianças. É planeada a construção de um livro
a partir das sugestões das crianças e da Educadora (tendo em conta a
análise do conto previamente realizada).
3ª FASE
6º Momento: Dramatização. Decorrente da questão “Como seria o Anante e o Gigão?”,
constróem-se máscaras e o grupo realiza uma dramatização livre. A proposta
da Educadora é fazer, em modelagem, o rosto do Anante e do Gigão.
3ª FASE
7º Momento: Dramatização orientada pelo texto.
8º Momento: O reconto do conto. É feita a reinvenção do conto
através de uma narrativa oral e, na necessidade de a
registar, faz-se uma gravação. O conto ganha outra
dimensão: as máscaras e a dramatização.
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
Avaliação da prática em termos dos processos de
transmissão e de aquisição de mensagens culturais
o que constituiria um ponto de retorno ao arquitectar
novas práticas educativas.
4ª FASE
4ª FASE
PROJECTO PEDAGÓGICO
Desenvolver nas crianças aspectos relacionados com a educação para a
cidadania
Promover o respeito pelo outro a partilha, a cooperação e a solidariedade
Exploração:Leitura
Registo
Reconto
Grupo de 4 anos
Educadora responsável:
Helena Medeiros
Ponto de partida:
O peixinho arco íris o mais belo peixe dos
Oceanos
Avaliação
NA COMPANHIA DAS ESTÓRIAS RUMO AO FUTURO
“Se bastasse conceber para realizar
Estaria mergulhado num mundo
Semelhante ao de um sonho
Em que o possível não se destingue
do real”
Sartre