Post on 18-Jan-2019
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA- UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO- CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA ELIANA SANTOS CARNEIRO LEITE
STRESS OCUPACIONAL: ANÁLISE SOBRE AS CAUSAS E
EFEITOS NO PROFESSOR.
Salvador
2011
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MARIA ELIANA SANTOS CARNEIRO LEITE
STRESS OCUPACIONAL: ANÁLISE SOBRE AS CAUSAS E EFEITOS
NO PROFESSOR.
Monografia apresentada como requisito para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação – Campus I da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientação da professora Heloisa Lopes Andrade.
Salvador
2011
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FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Leite, Maria Eliana Santos Carneiro
Stress ocupacional: análise sobre as causas e efeitos no professor / Maria Eliana Santos Carneiro Leite. – Salvador, 2011. 53f. Orientadora : Profª. Heloisa Lopes Andrade. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado Pedagogia. Campus I. 2011. Contem referências e apêndice. 1. Professor - Stress ocupacional. 2. Professor - Saúde mental. 3. Bournout (Psicologia). 4. Professores - Satisfação no trabalho. I. Andrade, Heloisa Lopes. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento Educação. CDD : 371.1
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MARIA ELIANA SANTOS CARNEIRO LEITE
STRESS OCUPACIONAL: ANÁLISE SOBRE AS CAUSAS E EFEITOS
NO PROFESSOR.
Monografia apresentada como requisito para obtenção da graduação em
Pedagogia do Departamento de Educação – Campus I da Universidade do
Estado da Bahia, sob a orientação da professora Heloisa Lopes Andrade.
Salvador______ de ______________________ de 20___.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profª Heloísa Lopes da Silva Andrade- UNEB (Orientadora)
__________________________________________________
Profa Msa Rilza Cerqueira Santos - UNEB
_________________________________________________________
Profa Dra Ronalda Barreto Silva - UNEB
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Dedico esse trabalho:
À minha família, que mesmo longe me deu apoio,
incentivo e carinho.
À Cristian e Ícaro (marido e filho), pelo amor
incondicional e por estarem sempre ao meu lado.
Ao meu pai Roque Carneiro e minha mãe Elísia Carneiro,
por terem me dado a vida e os melhores ensinamentos.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, Bendito e Soberano, pelo dom da vida, pelo cuidado,
atenção e proteção que tem dispensado a mim.
Aos meus pais Elísia Carneiro e Roque Carneiro, exemplos de vida, de
amor e cuidado, aqueles que mesmo longe, cuidam de mim e torcem pela
minha conquista e felicidade.
À Cristian, por compartilhar sua existência comigo, pelo amor que
diariamente tem me dado, por não ser apenas marido, mas companheiro,
parceiro e amigo.
À meu filho Ícaro, minha razão de viver, meu anjo, maior presente que
eu poderia ganhar nesta vida.
À minha família (irmãos, cunhadas, sobrinhos, tios, avós e primos), pelo
carinho, união e por se fazerem tão perto apesar da distância.
À minha segunda família (meu sogro Jorge, minha sogra Lindinalva e
minha cunhada Vanessa), pelo apoio e torcida.
Às minhas colegas de curso (Andréia, Mariluce, Milena e Rosana), por
terem transformado os inúmeros trabalhos em equipe numa jornada de
alegria e amizade. Em especial à colega Andréia, pessoa iluminada, ombro
amigo das horas fáceis e difíceis, parceira de Estágio e amiga para toda a
vida.
À minha orientadora Heloísa Lopes, pela dedicação e compreensão,
estando presente nesta etapa tão importante da minha vida.
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À Escola Maria Constança, em especial às coordenadoras Eneuma e
Maristela, e também à professora Ilma, pela receptividade, acolhimento e
credibilidade.
A todos os meus amigos, os que estão perto de mim, e também os que
moram longe, pelo incentivo e vibrações de sucesso.
A todos que contribuíram com a concretização deste sonho, meus sinceros agradecimentos.
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“Continuo buscando, re-procurando. Ensino porque busco, porque
indago e me indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço
e comunicar e anunciar a novidade”.
(Paulo Freire)
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RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo trazer uma análise que mostra de que forma o stress interfere e compromete a atividade laboral do professor. Para tanto, buscou-se por meio de um estudo teórico e ida a campo, verificar os fatores que tem contribuído para um quadro de stress desse profissional. A pesquisa foi de cunho qualitativo, tendo o Estudo de Caso como método que verificou um contexto de alto nível de stress nos professores da Escola Municipal Maria Constança. A jornada desse profissional é cercada de inúmeros desafios e riscos, que acabam por trazer uma série de comprometimentos de fundo psicossocial, com profundas conseqüências na qualidade do seu trabalho e vida. Além do stress, outras doenças (burnout, depressão, ansiedade, etc.) afetam diretamente o exercer docente. O esforço para desempenhar com profissionalismo sua tarefa, aliado as pressões e acúmulo de frustrações causa, no professor, o desgaste físico, mental e emocional. Entre eles, o stress. Palavras-chave: Stress. Trabalho. Professor.
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RESUMEN
Este Trabajo de Finalización del Curso tiene como objetivo llevar um análisis que muestra cómo el stress interfiere y compromete la atividad laboral de los docentes. Por tanto, nos hemos esforzado por médio de um estúdio teórico y retornar al campo, para verificar los factores que han contribuído a um marco de stress este profesional. La investigación fue de tipo cualitativo, trás el Estudio del Caso como un método que muestra um contexto de elevado nível de stress en los profesores de la Escuela Maria Constanza. La vida de este Professional es rodeado de innumerables dasafíos y riesgos, que conduzcan a una larga serie de problemas psicosocial, con profundas consecuencias en la calidad de su trabajo y de vida. Además, del stress, otras enfermedades( burnout, depresión, ansiedad, etc.), afectan directamente el ejercicio docente. El esfuerzo para jugar con profisionalismo su tarea, junto con las presiones y la acumación de frustaciones, llevan el profesor al cansancio físico, mental y emocional. Entre ellos, el stress. Palabras claves: Stress. Trabajo. Profesor.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Formação Acadêmica.........................................................35
Tabela 2- Tempo de Exercício Docente.............................................36
Tabela 3- Carga Horária Semanal.....................................................37
Tabela 4-Atividades de Lazer.............................................................37
Tabela 5- Desconfortos Físicos...........................................................38
Tabela 6- Fatores Biológicos...............................................................39
Tabela 7- Fatores Psicológicos............................................................41
Tabela 8- Fatores Externos.................................................................42
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................13
2 O QUE É STRESS?.........................................................................16
2.1 COMO O CORPO E A MENTE REAGEM AO STRESS ............17
2.2 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O STRESS....................20
3 DOENÇAS OCUPACIONAIS DOCENTE E STRESS................23
3.1 STRESS DOCENTE.......................................................................23
3.2 SÍNDROME DE BOURNOUT......................................................26
3.3 DEPRESSÃO..................................................................................29
3.4 ANSIEDADE..................................................................................30
4 BREVE SÍNTESE DO STRESS NA ESCOLA MARIA CONSTANÇA......................................................................................33
4.1 CAMINHOS DA PESQUISA.........................................................33
4.2 ANALISE DO STRESS NA ESCOLA MARIA CONSTANÇA...35
4.3 PERSPECTIVAS DE ENFRENTAMENTO DO STRESS............44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................46
REFERENCIAS..................................................................................48
APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS -QUESTIONÁRIO................................................................................50
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1 INTRODUÇÃO
O desgaste físico e mental tornou-se uma realidade no cotidiano da sociedade moderna.
Correria, horários apertados, perdas de horas de sono, má alimentação, situações de risco,
insatisfações pessoais, problemas familiares, aborrecimentos, conflitos, frustrações, entre
outros, são fatores que podem desencadear um processo de tensão, ansiedade, fadiga crônica
ou o popular stress.
O stress decorrente do trabalho ou stress ocupacional vem apresentando um processo
crescente nas últimas décadas. O trabalho ocupa a maior parte da vida das pessoas. As
jornadas longas de trabalho, com raras pausas para descanso, o ritmo acelerado e exigências
em níveis altos, tanto de atenção como de concentração e desempenho, desencadeia no
profissional grande desgaste, desenvolvendo dessa forma sintomas prejudiciais à sua saúde.
Pesquisas realizadas, principalmente em países industrializados, apontam índices
preocupantes acerca das ocorrências relacionadas ao stress ocupacional. Segundo pesquisa,
“70% dos trabalhadores brasileiros sofrem de stress e, destes, 30% encontram-se em um nível
mais grave da doença, inclusive com tendências suicidas”. (HORN apud COSTA, 2011). Essa
ocorrência se dá devido ao ambiente de insegurança vivido pelo trabalhador, fazendo com que
o mesmo desenvolva sintomas que são associados ao stress ocupacional.
O trabalho satisfatório traz prazer, alegria e satisfação. Além de ser fundamental, ele também
traz a garantia de sobrevivência na vida das pessoas. Quando o trabalho é desprovido de
significados e reconhecimento, carregado de exigências, falta de autonomia, medo,
insegurança conflitos e pressões, ele passa a determinar sofrimento e ameaça à integridade
física e/ou psíquica do indivíduo. Essas ocorrências apresentam-se recorrentes e são cada vez
mais observadas no local de trabalho.
Essa reação de stress acontece em profissionais, cuja atividade exige um alto grau de contato
com pessoas. Nem sempre esses profissionais possuem recursos para tratar adequadamente
desses desencadeadores do stress, podendo como consequência, apresentar reações de graus
variados, resultando em exaustão física e mental, depressão, raiva, ódio, sintomas
psicossomáticos e até a síndrome de Burnout (reações emocionais que se caracterizam por
profundo sentimento de frustração e exaustão ao trabalho).
Os professores também são indivíduos que estão sujeitos a muitos fatores estressantes ligados
a sua atividade profissional. Apesar de não existirem estudos brasileiros que abordam
diretamente o índice de stress ocupacional em professores, pesquisas mundiais demonstram,
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conforme Lipp (1996 p. 176), “[...] que os professores estão sujeitos a muitos fatores
estressantes ligados a sua atividade profissional”. Essas reações de stress podem desempenhar
sentimentos que aos poucos interferem e prejudicam a vida desse profissional. Assim, o
impacto do stress tem uma influência direta na saúde do professor, no seu desempenho
profissional e na qualidade do processo ensino-aprendizagem.
Atualmente, os problemas que envolvem a profissão docente são inúmeros: Indisciplina dos
alunos, violência nas escolas, insuficiência de apoio pelas políticas públicas, falta de condição
de trabalhos, desvalorização da profissão, entre outros. Por isso, criar estratégias e condições
que facilitem a relação trabalho/prazer do professor são ações de suma importância, para que
esta relação seja satisfatória, tanto nos aspectos que envolvem o contexto pessoal, como no
seu cotidiano do espaço escolar.
Em consonância com o contexto aqui apresentado, as nossas indagações centrais neste estudo
são: Que fatores geram stress na atividade docente? Que prejuízos o stress causa nas relações,
sejam pessoais e profissionais do educador? Diante disto, os objetivos traçados foram:
Compreender os fundamentos de stress na atividade laboral do professor; identificar os
desencadeadores do stress no exercício docente; Investigar as causas e efeitos físicos,
biológicos e psicológicos provocados pelo stress na atividade laboral do professor.
O interesse pela temática surgiu a partir de uma experiência de estágio numa escola pública
para conclusão do Curso de Magistério, quando foi percebido que o professor da turma
demonstrava problemas visíveis de saúde, como dores generalizadas pelo corpo, assim como
desinteresse pela atividade docente. Já na Universidade, numa segunda experiência de campo
em escola particular, foi possível confirmar, como posto anteriormente, uma situação de
possível quadro de stress no professor da turma observada. Em terceiro momento, já como
aluna do Estagio Supervisionado II da Universidade, foi possível perceber situações
recorrentes que configuravam o stress, a partir do relato da professora da turma que queixava-
se de problemas de saúde devido aos 25 anos de profissão, tanto físicos (dores na coluna,
problemas na voz), como problemas emocionais (insônia, irritabilidade, fadiga e desinteresse
pelo trabalho realizado). Tais situações descritas acima demarcaram e fomentaram o interesse
de estudo e reflexão sobre essa temática.
Optou-se neste estudo a pesquisa de abordagem qualitativa ancorada em revisão bibliográfica
de autores como Lipp (1996; 2006); Codó (1999); Huffman (2003); Dadidoff (2001);
Carvalho (1995); Andrews ( 2003), entre outros.
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O primeiro capítulo deste trabalho visa trazer alguns conceitos de stress e suas
especificidades, buscando ressaltar como ele age no corpo e na mente humana, além de
destacar os fatores que contribuem para o desenvolvimento de um quadro evolutivo de stress.
No segundo capítulo, são abordadas algumas doenças ocupacionais docentes, entre elas
encontra-se: Stress docente, burnout, depressão e ansiedade. Também são mostradas nesse
capítulo, as causa e efeitos dessas doenças e suas consequências na vida social e profissional
do professor.
No terceiro capítulo é discutida a abordagem metodológica utilizada para a realização da
pesquisa. Assim sendo, são apresentados: o campo de pesquisa; o instrumento utilizado; a
sistematização dos dados e análise dos resultados. Vale ressaltar que a análise dos dados é
feita ancorada nos autores escolhidos para fundamentar o trabalho.
A parte das considerações finais reforça a importância do papel do professor para a promoção
do desenvolvimento integral do educando, além da necessidade de pesquisa e reconhecimento
do elevado impacto negativo do stress na atividade docente. Esta parte ainda destaca algumas
perspectivas de busca por alternativas e estratégias que visam combater esse mal que aflige a
vida pessoal, social e profissional do professor.
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2 O QUE É STRESS?
Na sociedade atual, os indivíduos se encontram inseridos em um contexto de intensa
competitividade, luta por sobrevivência, agitação, violência, pressões para cumprimento de
responsabilidades, excesso de trabalho, dificuldades financeiras, problemas de ordem
profissional, social e familiar, entre outros. Todos esses fatores impõem um novo estilo de
vida às pessoas, que muitas vezes, por não suportarem as pressões sofridas no dia-a-dia,
desenvolvem problemas e sintomas prejudiciais à saúde, entre eles o stress.
Segundo Lipp (1996):
O stress é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. (LIPP, 1996, p. 20).
Conforme a autora, o corpo reage constantemente à estímulos e situações, sejam consideradas
boas ou ruins, causando no organismo reações de natureza física (dores, cansaço, tremores,
etc.) e emocionais (desânimo, medo, alegria, entre outros). Muitas dessas situações provocam
sensações que colocam o indivíduo em um estado desconfortável, gerando mal estar e stress.
Para Codo (1999, p. 247), “o termo stress tem origem na física, o seu significado original é o
de fricção ou desgaste provocando fricção. As energias vão sendo roubadas pela fricção de
um corpo em relação a outro corpo”. O stress seria uma resposta do corpo a qualquer
exigência feita por ele. Esse estado se dá, pela força que o corpo faz para reagir às pressões
que existem na vida, levando o indivíduo a um estado de desgaste físico e mental.
Segundo Carvalho (1995):
O stress está ligado fundamentalmente a questões psicológicas. Assim o estressado não se dá conta da carga emocional que recebe, entrando num estado de confusão mental, provocando um descontrole das funções normais de seu organismo. Em consequência, o indivíduo perde o ritmo de suas reações psicológicas. (CARVALHO, 1995, p. 123).
Assim, conjunto orgânico do individuo sofre mudanças diante das alterações químicas
ocorridas diante do seu estado emocional. O stress seria, nesse caso, a resposta do corpo à
situações que geram sentimentos e sensações, causando no organismo alterações e
desconforto sejam físicos e/ou emocionais.
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Para Huffman (2003 p.464), o “[...] estresse é uma reação corporal que pode ocorrer em
resposta tanto a estímulos internos, cognitivos, quanto a estímulos externos, ambientais”. Isso
significa que o stress é a resposta do corpo através de manifestações físicas e/ou emocionais
como frequência cardíaca elevada, embrulho no estômago, respiração acelerada, boca seca,
entre outros, a uma determinada situação imposta. Conforme raciocínio da autora “[...] o
corpo está sempre e algum estado de stress, seja agradável ou desagradável, moderado ou
grave” (HUFFMAN, 2003, p.465).
Andrews (2003) concorda com Hoffman (2003) quando afirma que o “[...] stress é a resposta
do corpo a qualquer mudança, boa ou ruim, tanto excitante como trágica. Trata-se de uma
parte necessária de nossas vidas, não podemos e não devemos eliminá-la”. (ANDREWS,
2003, p. 59).
A autora supracitada ressalta que o stress, não necessariamente, deve ser caracterizado como
ruim. Como fator de resposta de um corpo, mantido constantemente a estímulos externos,
muito do stress desenvolvido por esse corpo pode ser agradável ou benéfico.
Para Lazarus (1990, apud LIPP, 1996, p.65) “[...] um evento é estressante se sua demanda
excede os recursos do corpo para lidar com ela”. Isso significa que qualquer evento pode ser
percebido como uma provocação estressante ou uma oportunidade emocionante, dependendo
da avaliação individual de cada pessoa. O indivíduo avalia e determina se uma experiência é
danosa ou não, a partir de experiências anteriores, vivências e padrões emocionais de
comportamentos e enfrentamento da mesma.
Segundo Carvalho (1995, p.140), “[...] dependendo do seu nível, o stress é fator positivo,
servindo até como impulsionador na vida das pessoas, levando o indivíduo a ser criativo,
produtivo, favorecendo seu crescimento”. Dessa forma, ele não aparece apenas em coisas
ruins, mas em momentos da nossa vida em que desejamos também alguma coisa boa.
Carvalho (1995, p.140) ainda destaca que “[...] o stress representa aqueles desafios que nos
excitam e nos mantêm alertas, sem os quais a vida, para muitas pessoas, seria enfadonha e, até
mesmo, sem valor”. Cada pessoa visualiza os acontecimentos sob a ótica de uma carga
emocional influenciada e determinada ao longo de sua vivencia e experiência, possibilitando
aprendizado e nova maneira de olhar e sentir o mundo. Dessa forma, o stress também pode ser
bom para que as experiências de vida não sejam desprovidas de emoções e sentido.
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2.1 COMO O CORPO E A MENTE REAGEM AO STRESS.
O stress é um sintoma que afeta indiscriminadamente milhares de pessoas. De um modo geral
quando estressado o corpo passa por mudanças que afetam o seu funcionamento provocando
mal estar e prejuízos à vida do indivíduo.
Para Holmes e Rahe (1967 apud LIPP 1996, p. 465) “[...] a exposição a numerosos eventos
estressantes da vida em um curto período de tempo pode causar prejuízo à saúde”. Esses
eventos não precisam ser necessariamente ruins para que seja desencadeado o stress. Eventos
alegres como de um casamento, dolorosos como uma perda de um ente querido, ou mudanças
repentinas de rotina, como a mudança de trabalho, podem gerar stress. Essa ativação é
benéfica se o indivíduo necessita agir para fugir de algum perigo ou motivar-se, por exemplo,
mas ela geralmente tem consequências negativas.
Segundo Carvalho (1995, p.125) “[...] o sistema nervoso central é responsável pelas
transformações químicas que ocorrem no organismo, reconhecendo a qualidade de cada
mensagem captada e enviada até ele por terminações nervosas”. Ou seja, as áreas do cérebro
são responsáveis pela elaboração e expressão das emoções boas ou ruins.
Segundo Lipp:
A fim de que certo evento externo atue como um estressor, ele necessita primeiramente ser percebido por um dos receptores do sistema nervoso periférico. As mensagens são então levadas pelos sistemas sensoriais para o cérebro e são integradas com as representações anteriormente adquiridas pelas pessoas em decorrência de sua história de vida. (LIPP, 2002, p.20).
Assim, podemos dizer que a avaliação de uma determinada situação como boa ou ruim,
amedrontadora ou prazerosa, está ligada a historia de vida do individuo, das suas crenças e
valores, ou quando a situação exigir do organismo uma ação protetora.
O stress também pode afetar aspectos físicos e psicológicos do ser humano. Para Lipp:
Na área emocional, o stress pode produzir desde apatias, depressão, desânimo, sensação de desalento, hipersensibilidade emotiva, até raiva, ira, irritabilidade e ansiedade, além de ter o potencial de desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas. (LIPP, 1996, p. 27).
Conforme o autor, esses sintomas são claramente observáveis na medida em que a patologia
começa a se manifestar, as reclamações costumam ser cada vez mais recorrentes, o indivíduo
passa a sentir dores de cabeça e no corpo, gerando desânimo e desinteresse pelas atividades
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realizadas diariamente, diminuindo, dessa forma, sua autoestima. Diante disso, a maneira de
tratar as pessoas se modifica, a pessoa manifesta irritabilidade e passa a não gostar de sua vida
pessoal e de si mesmo, evita contatos com amigos, colegas e familiares, preferindo viver
sozinha e isolada de tudo que para ela possa fazer mal.
De acordo com Oshima:
Fisicamente os sintomas mais frequentes do stress são dores de cabeça, dores musculares, insônia, taquicardia, alergias, queda de cabelo, falta de apetite, e os psicológicos são perda de memória, isolamento, introspecção, sentimento de perseguição, desmotivação, irritabilidade, ansiedade, tiques nervosos, entre outros. (OSHIMA 2005, apud BRAZ, 2011).
Segundo Greenberg:
O stress provoca alterações físicas a partir da ação dos hormônios adrenais que causam a aceleração dos batimentos cardíacos, dilatação das artérias coronárias, dilatação dos tubos brônquios, aumento da taxa do metabolismo basal, constrição dos vasos sanguíneos nos membros, maior consumo de oxigênio, aumento na glicose sanguínea e aumento na pressão sanguínea (GREENBERG, 2002 p. 131).
De um modo geral os efeitos desencadeadores do stress podem causar no organismo:
hipertensão arterial, úlceras gastrointestinais, câncer, psoríase, vitiligo, depressão, pânico,
surtos psicóticos, entre outros. Não se pode atribuir ao stress à causa dessas patologias e sim
uma ação agravante desta problemática.
Segundo Carvalho (1995, p. 123), “[...] à medida que a pessoa torna-se emocionalmente
frágil, suas defesas orgânicas diminuem, deixando-a mais vulnerável aos diversos tipos de
doenças”.
O stress prolongado pode suprimir o sistema imunológico, o que pode tornar o corpo
susceptível a doenças, desde mais simples como um resfriado, como mais graves como
doenças cardíacas e câncer.
O autor Carvalho anda afirma que,
[...] dependendo de predisposições orgânicas do indivíduo, o stress pode causar desde transtornos psicológicos- falta de vontade de fazer coisas, ansiedade, etc.- até manifestações físicas mais sérias como úlcera, infarto, câncer e mesmo manifestações mentais como tentativa de suicídio. (CARVALHO, 1995, p. 123).
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De acordo com Souza (1997 apud BRAZ, 2011), “[...] o câncer surge através de outros
problemas já existentes na vida do indivíduo”. Esses problemas somados à falta de esperança,
desespero, sintomas típicos do estresse, acaba por agravar essa e outras doenças.
Conforme Carvalho (1995.p.131) “[...] o stress é um processo”. Ou seja, ele não surge como
um “passe de mágica”. O seu desenvolvimento depende da resistência psicológica do
indivíduo, da sua personalidade, do seu modo de perceber as coisas que se passam à sua volta.
Não é apenas uma situação e sim sucessão de situações que levam o indivíduo ao estado tenso
e estressante. Esse indivíduo geralmente não acredita que está realmente doente.
O apoio da família, dos amigos, enfim, as pessoas que convivem podem ser importantes
instrumentos de alerta, conscientização e orientação na busca da cura e melhor qualidade de
vida para o indivíduo.
2.2 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O STRESS.
Apesar de o stress fazer parte da nossa vida, algumas coisas causam mais stress que outras. É
importante analisar o stress como um processo e não como uma reação única. Uma pessoa
estressada, apresenta diversos sintomas que vão se apresentando e mudando sua rotina
conforme o tempo.
Segundo Carvalho (1995. p.139) “[...] o stress envolve aspectos de desgaste emocional e
físico, mas o ritmo de vida no mundo contemporâneo parece ser o principal responsável por
esta síndrome”. O estilo de vida carregado de correria para cumprimento de tarefas, escassez
de tempo para relaxar, horários apertados, excesso de trabalho, velocidade de informações,
competitividade, entre outros, vem obrigando o homem a modificar seu ritmo interno,
causando assim o stress.
Segundo Huffman:
O corpo está quase sempre em algum estado de stress, seja agradável ou desagradável, seja moderado ou grave. A total ausência de stress significaria a total ausência de estimulação externa o que levaria eventualmente a morte. ( HUFFMAN, 2003, p. 465).
Uma viagem ou um casamento são tão estressantes quanto uma decepção ou uma doença. No
entanto, o tipo de estresse bom, proporciona em algumas situações um estado de alerta, de
motivação para certos acontecimentos que precisam de esperteza, perspicácia, inteligência,
etc. Nem sempre os fatores geradores de stress são negativos, a alteração pode ser através de
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situações agradáveis, que possibilitem algum tipo de prazer para a pessoa. Assim, a origem do
estresse pode se dá através de um fato ruim ou bom.
Para Lipp (2003, p. 43), “[...] a reação do nosso corpo depende da avaliação que fazemos
daquele determinado evento da vida.” É a avaliação que o indivíduo cria na mente, diante da
situação externa, que determina o seu grau de stress.
Conforme Huffman (2003, p. 465), “[...] as percepções individuais de um evento variam,
tanto que um evento que é altamente estressante para uma pessoa, pode ser minimamente
estressante para outra”. Essas percepções são definidas devido à forma como o indivíduo
passa pelas experiências anteriormente vividas, e de que forma ele absorveu e internalizou
suas emoções.
Segundo Carvalho:
Cada um de nós reage de forma diferente diante de uma mesma situação. Há pessoas que se irritam e se inquietam diante de um determinado acontecimento. Já outros encaram-no com controle. Da formação da sua personalidade dependerá a sua atitude diante dos fatos. (CARVALHO 1995, p. 124).
Isso significa que a forma como o indivíduo foi criado, os valores passados, as dificuldades
enfrentadas, os desejos, as referências construídas desde a infância, vão ao longo da vida
dando a forma da personalidade e moldando a sua maneira de encarar as situações adversas.
Segundo Hoffman (2003 p. 465), “[...] Apesar de o stress fazer parte das nossas vidas,
algumas coisas causam mais stress que outras. As causas mais importantes de stress são
mudança de vida, stress crônico, aborrecimentos, frustrações e conflitos”. Para o autor, os
aborrecimentos são pequenos problemas do dia-a-dia que se acumulam para causar um stress
maior. A frustração tem relação com metas que foram impedidas, bloqueadas ou não atingidas
na nossa vida. Os conflitos surgem quando as pessoas são obrigadas a escolher por duas
alternativas opostas. Tudo isso requer uma carga maior de stress, dependendo da
complexidade da situação. Quanto mais duradouro o conflito ou mais importante a decisão,
mais stress será gerado.
Os fatores externos que influenciam na nossa vida do indivíduo conforme Carvalho são:
Seu meio ambiente, seu tipo de vida condições familiares, a escolha e o local de trabalho, as circunstancias e que exerce a profissão, características desse trabalho, tempo que permanece nele, tarefas que lhe são atribuídas, além dos problemas em relação à locomoção, por exemplo, tempo, tipo, qualidade, problemas ocasionais (CARVALHO, 1995, p. 125).
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O autor acima citado ainda destaca que os fatores internos são determinados pela forma como
o indivíduo se relaciona com o meio em que vive, como enfrenta as dificuldades e mudanças
no trabalho, etc. Ou seja, desde o útero e após o nascimento, o indivíduo recebe influência do
meio externo constantemente, estas, por sua vez, demarcam e influenciam nossos atos e nossa
vida.
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3 DOENÇAS OCUPACIONAIS DOCENTE
Sabe-se que os professores são expostos, no seu trabalho, há muitos fatores externos e
internos que influenciam na sua saúde física e metal. Excesso de trabalho, indisciplina em sala
de aula, salário baixo, pressão da direção, violência, demandas de pais de alunos, bombardeio
de informações, desgaste físico e falta de reconhecimento, são algumas das causas dos
transtornos enfrentados por esse profissional. Veremos aqui algumas delas.
3.1 STRESS DOCENTE
Algumas ocupações parecem ser mais estressantes que outras. Os professores frequentemente
se queixam de seu trabalho, considerando-o cansativo, frustrante, estressante e pouco
recompensador.
Segundo Lipp:
O stress do professor é uma síndrome de respostas de sentimentos negativos, tais como raiva e depressão, geralmente acompanhados de mudanças fisiológicas e bioquímicas potencialmente patogênicas, resultante de aspectos do trabalho do professor e mediados pela percepção de que a exigência profissional constitui uma ameaça à sua autoestima ou bem-estar. (LIPP, 1996, p.169)
Os professores são sujeitos que desempenham, dentro das suas atividades laborais, diversas
funções. A atuação, dentro e fora de sala de aula, gera inúmeros transtornos que afetam
diretamente sua saúde, causando doenças e problemas de natureza física e emocional.
Conforme Codo:
O trabalho, enquanto atividade criativa e de transformação, modifica não apenas o mundo, mas também o homem que o executa. O homem se reconhece no seu trabalho e se orgulha daquilo que constrói, se orgulha do fruto do seu trabalho e também se transforma nesse processo. Modificam seus hábitos, seus gostos, seu jeito de vestir, seu modo de comportar-se. Em fim, o trabalho possibilita o enriquecimento do homem como sujeito histórico, carregado de conhecimento, experiências, habilidades e conquistas. (CODO, 1999, p. 112)
A partir do momento em que essa atividade não é reconhecida, e o poder de trabalho não é
valorizado o sujeito passa a desenvolver um misto de sentimentos e sintomas que atingem seu
corpo e mente, comprometendo sua eficiência e seu prazer pelo trabalho e pela vida.
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Segundo Lambrou (2004 apud BRAZ, 2010, p.8), “[...] estudos realizados sobre a profissão
do professor, dizem que a mesma está em terceiro lugar no ranking das profissões mais
estressantes”. Dessa forma, são inúmeras as dificuldades enfrentadas por esses profissionais
que, muitas vezes, são ignorados ou passam despercebidos pela própria instituição
responsável pelo oferecimento da condição ideal de trabalho.
Dentro da atividade do professor podemos verificar diversos fatores estressores potenciais.
Lipp (1996) utiliza na sua obra o modelo de Maracco e McFadden (1982) para fundamentar a
tipologia de fatores estressores. Segundo o autor “[...] os estressores potenciais do ambiente
podem ser: ocupacionais, domésticos e sociais”. (LIPP, 1996, p. 170). Os estressores
ocupacionais estão relacionados à profissão, devido às situações vividas no ambiente de
trabalho, os domésticos fazem referência aos problemas e situações vividas com a família,
com filhos e doenças, e os sociais referem-se à conduta, às mudanças de valores e modo de
vida.
No campo ocupacional Maracco e McFadden (1982, apud Lipp 1996) destacam ainda como
fatores estressores: “[...] psicológico (mau relacionamento com os colegas), ou físico (ruído
excessivo na sala de aula), ou uma combinação de ambos (por exemplo, corrigir um número
excessivo de provas)” (MARACCO E MCFADDEN 1982, apud Lipp, 1996).
Os estressores potenciais só se transformam em stress propriamente dito, se ameaçam o bem
estar do professor e à sua autoconfiança. Contudo, esta avaliação depende da interação entre
as características individuais do professor (experiência passada, traços de personalidade,
sistemas de crenças, atitudes, valores e fatores biológicos como sexo e idade). Para lidar com
estes estressores reais, o professor utiliza de certos mecanismos para afastar a ameaça à sua
autoestima e ao seu bem-estar. Em situações em que os mecanismos usados tornam-se
insuficientes, ocorre o stress.
Diversos trabalhos de pesquisas mundiais mostram que ser professor é uma das profissões
mais estressantes na atualidade.
Segundo Moracco (1982, apud LIPP, 2002):
Em uma pesquisa com 691 professores primários e secundários norte-americanos, demonstrou que os estressores ocupacionais do professor podem ser agrupados em cinco fatores: falta de apoio da administração, trabalho com os alunos, falta de segurança financeira, relacionamento com os colegas e sobrecarga de trabalho (LIPP, 2002, p. 173).
No cenário educacional, podemos observar diversas queixas que constituem a fonte de stress
do professor. Entre eles podemos citar: Número excessivo de alunos para o espaço destinado,
25
iluminação inadequada, excesso de barulho interno, atividades extraclasse, hostilidade de
alguns alunos nos intervalos ou durante as aulas, falta de segurança, entre outros. No ensino
fundamental as dificuldades parecem ser maiores, pois ele lida com as fases fundamentais do
desenvolvimento da criança. O aluno vai aos poucos construindo seu conhecimento e
desenvolvendo atividades, valores e hábitos através do contato com o professor e colegas.
Numa pesquisa realizada com 564 professores primários do estado de São Paulo, Mello
(1982) em Lipp (1996) destacou o salário inadequado como maior insatisfação na atividade
docente. Quanto às dificuldades no trabalho docente, os professores destacaram condições
pedagógicas adversas, tais como: “[...] classes numerosas, falta ou inequação de material
didático e de apoio técnico” (MELLO, 1982, apud LIPP, 1996 p. 175).
As pesquisas indicaram também que, apesar dos professores estarem sujeitos a muitos fatores
estressantes, nem sempre esse profissional possui a condição para tratar-se. Segundo Lipp
(1996, p. 177) “[...] nem sempre esses professores têm recursos próprios ou ambientais para
lidar adequadamente com seu stress ocupacional, podendo, em decorrência, apresentar
depressão, raiva e sintomas psicossomáticos.”.
Braz (2010) destaca que as razões para o stress do professor são muitas, como podemos notar:
Inicialmente pode-se citar a limitação em que muitos vivem para produzir com qualidade seu trabalho, já que na maioria das vezes a situação não á favorável e o ponto mais forte é a dedicação e a vocação desses profissionais. Outra razão se dá pela limitação de um programa pré-determinado, onde há um cronograma do que deve ser ensinado. Nesse caso, a Instituição estipula uma meta para o profissional, independentemente da qualidade do ensino e o conteúdo que deve ser trabalhado em sala de aula. Outro fator muito importante é a insatisfação desses profissionais ao verem o método de ensino e o que será repassado para os alunos, uma vez que podem não concordar com a qualidade do material que é oferecido pela Instituição. (BRAZ, 2010, p. 8).
Sem dúvida, as fontes de stress são múltiplas e diversificadas, pois em muitas situações é a
interpretação que se dá a um evento que o qualifica como um agente estressor. O professor
está vulnerável a suscetíveis reações de stress, conhecer, prevenir e combater o stress pode ser
o primeiro passo para que o professor possa exercer sua atividade de forma menos
desgastante, mediando com eficiência o processo ensino-aprendizagem, beneficiando também
o aluno.
26
3.2 SÍNDROME DE BURNOUT
Também chamada de síndrome do esgotamento físico e mental associado ao trabalho, à
síndrome de burnout caracteriza-se pela perda de sentido e de satisfação do indivíduo com
relação a sua atividade laboral. Atualmente, esta síndrome encontra-se dentre a problemática
que mais acomete a atividade profissional e vida do professor.
O termo burnout foi usado em 1974 por Freudenberger para descrever os sentimentos, afetos
e saúde dos trabalhadores que exerciam suas profissões. Conforme Freudenberger (1974 apud
CODO, 1999, p.241) o burnout é “[...] um estado de esgotamento físico e mental cuja causa
está intimamente ligada à vida profissional”.
Em suas observações, ele detectou que trabalhadores voluntários, com o tempo, passaram a
apresentar desgastes de humor e desmotivação, além de sintomas físicos e total estado de
exaustão. Esses eventos seriam, portanto, reações emocionais que se caracterizavam por
profundo sentimento de frustração e exaustão no ambiente de trabalho.
Segundo Lipp:
O burnout refere-se a uma reação de stress crônico em profissionais cujas atividades exigem um alto grau de contato com pessoas; caracteriza-se por três componentes: exaustão emocional; perda do sentimento de realização no trabalho, com produtividade diminuída; despersonalização extrema, manifestando-se através de atitudes negativas para com as pessoas no trabalho. (LIPP, 1996 p. 172).
Conforme o autor, seria a completa perda da satisfação de interesse e prazer ao exercício
profissional, que dá lugar a um conjunto de condutas negativas, como por exemplo, perda de
rendimento no trabalho, desmotivação, falta de responsabilidade para com seus
compromissos, atitudes consideradas hostis, que acabam por comprometer a carreira
profissional do indivíduo.
Para Codo e Menezes (1999, p. 238) o burnout “[...] é a síndrome através da qual o
trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas já não o
importam mais e qualquer esforço lhe parece ser inútil”.
O autor supracitado esclarece que a síndrome de burnout, composição de burn=queima e
out=exterior, ou seja, “perder a energia” está diretamente ligado ao contato direto com
pessoas, sobretudo, se estas manifestam preocupações ou problemas. Dessa forma, as relações
e convivências tornam-se tensas e difíceis, gerando um extremo esgotamento físico e
27
emocional, trazendo muitos prejuízos à saúde do trabalhador. O autor acima citado ainda
ressalta que “[...] o trabalhador se envolve afetivamente com seus clientes, se desgasta e, num
extremo, desiste, não agüenta mais, entra em burnout” (CODO, 1999, p.238).
Apesar de estudos de literaturas internacionais indicarem que não existe uma definição única
sobre burnout, é consenso entre os estudiosos que este seria uma resposta ao stress laboral
crônico, não devendo, contudo, ser confundido com o stress.
Conforme Codo e Menezes (1999, p. 240) “[...] o stress é um esgotamento pessoal com
interferência na vida do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho”.
Para esses autores, situações geradas pelo sofrimento do trabalho como cansaço, fadiga,
depressão, insensibilidade, irritação, agressividade, dor de cabeça, tonturas, tremores, falta de
ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, problemas
digestivos, apresentam-se como alguns sintomas desencadeadores do burnout. Contudo, é
preciso cautela quanto à associação de sintomas desse tipo com o burnout, logo que outras
doenças caracterizam-se por esses mesmos sintomas. A procura por uma ajuda de especialista
é indispensável para que erros de interpretação e diagnóstico não sejam adotados.
Para Sorato e Ramos(1999):
Profissionais atingidos pelo burnout passam a não se importar mais com as relações aos interpessoais, desenvolvem sentimentos e atitudes negativas com relação aos colegas, sentem-se exauridos, incapazes de poder dar mais de si. (CODO, 1999, p.276).
A necessidade de manutenção do emprego, assim como a competitividade e relações de
trabalho, relações e problemas entre colegas também são pressupostos deflagradores do
burnout.
O burnout, pelos seus próprios sintomas, oferece barreiras às boas relações interpessoais. Para
o indivíduo não faz sentido gastar energia com essas questões, eles tornam-se apáticos e
exaustos.
Segundo Codo e Menezes (1999):
Um trabalhador que entra em bunout assume uma posição fria frente a seus clientes, não deixando envolver com seus problemas e dificuldades. As relações interpessoais são cortadas, como se ele estivesse em contato apenas com objetos, ou seja, a relação torna-se desprovida de calor humano. Isso acrescido de uma grande irritabilidade por parte do profissional. (CODO, 1999, p. 242).
28
Os autores supracitados ainda destacam que essa síndrome é apresentada em profissionais que
possuem uma relação direta e constante com outros indivíduos. Professores, médicos e
enfermeiros são os profissionais mais suscetíveis à síndrome de burnout.
Segundo Lipp (2002, p. 172) “[...] de acordo com pesquisas norte americana, o professor está
incluído entre os profissionais que apresentam um alto índice de burnout”.
O burnout surge, dessa maneira, como um grande fator desencadeador do stress na profissão
docente.
Segundo Codo e Menezes (1999):
O professor começa a desenvolver atitudes negativas, criticas em relação aos alunos, atribuindo-lhes o seu próprio fracasso. O trabalho passa a ser lido pelo seu valor de troca; é a “coisificação” do outro ponto da relação, ou seja, o aluno, em nosso caso específico sendo tratado como objeto, de forma fria. (CODO, 1999, p. 242).
Os autores acima citados destacam que os professores frequentemente são considerados
incapazes, suas opiniões são ignoradas, as decisões maiores são tomadas em níveis
hierárquicos superiores, deixando o professor excluído e longe de uma função autônoma no
seu trabalho.
Para Cunningham (1983, apud LIPP, 1996):
As causas de stress que levam ao “burnout” de professores são: classes muito grandes, falta de tempo e de recursos, isolamento, mau relacionamento com os colegas, falta de apoio e oportunidades limitadas de promoção [...] mudança frequente de emprego, isolamento, conflitos inter e intra individuais e uma redução generalizada no desempenho profissional. (LIPP, 1996, p. 174).
Não podemos negar que o bornout é uma doença de proporções internacionais. O autor
supracitado esclarece que independentemente de etnia, classe ou condição social, ele se
propaga à medida que os aspectos emocionais transformam o exercício laboral em algo
exaustivo e insatisfatório. Conhecer o burnout, seus antecedentes e suas consequências, pode
ser o primeiro e primordial passo na direção do bem estar pessoal e profissional, do prazer no
exercício da profissão e na qualidade de vida.
29
3.3 DEPRESSÃO
Palavra utilizada para descrever um estado emocional de desânimo, cansaço, desinteresse e
tristeza, a depressão tornou-se, na atual era moderna, uma doença bastante freqüente ao passo
que se vive a era dos “altos e baixos“ emocionais. Ela atua comprometendo o corpo, humor e
pensamentos. Ela afeta a maneira como o indivíduo dorme, alimenta-se, como se sente em
relação a si próprio e como pensa e reage sobre as coisas e pessoas que o cercam.
Segundo Davidoff (2001, p. 553) “[...] todos se sentem infelizes às vezes. A depressão,
porém, é um estado mais intenso e persistente”.
A depressão ocorre como resposta do corpo às más condições ao qual o indivíduo vem
sofrendo. Ela atua como sinal de que algo errado está acontecendo. Ela desenvolve-se de
diversas maneiras, as variações quanto ao tempo e grau de sintomas, exige do doente a
atenção e procura por acompanhamento e tratamento em busca da sua cura.
Para Davidoff:
Durante a depressão profunda, as pessoas sentem-se desesperançosas e desanimadas e o tempo custa a passar. Entes queridos, comida, sexo, hobbies, trabalho e recreação, tudo parece desinteressante. Como consequência, as pessoas deprimidas isolam-se dos outros, negligenciando deveres e responsabilidades. (DADIDOFF 2001, p. 554).
O pensamento do depressivo sugere uma autocrítica de si mesmo, demonstrando sentimento
de culpa, irritação e incapacidade de controle da sua própria vida. Tudo o que permite
satisfação e prazer é trocado por um intenso desanimo e desinteresse pela vida. Esse estado de
sofrimento acarreta um “[...] risco maior de doenças, uma vez que as funções imunológicas
são menos eficazes durante a depressão de que ordinariamente” (DAVIDOFF, 2001, p. 554).
Atualmente, para que os objetivos da produção escolar sejam alcançados é preciso maior
tempo, disposição e dedicação ao exercício docente. Sem tempo adequado para recuperação
de tamanho esforço, e, envolvido numa carga emocional e física exacerbada, o professor
expõe-se a um conjunto de situações que podem levar desde sintomas como stress, até mesmo
à evolução para uma depressão.
Segundo Webber:
O stress pode evoluir para outras doenças de fundo emocional como depressão. O professor perde o interesse pela sua pessoa, e até da sua higiene e cuidados pessoais, apresentando sentimentos de culpa com idéias suicidas, dificuldade de concentração, alteração no sono e no apetite, além de perda do interesse sexual (WEBBER, 2010 p.13).
30
A autora Davidoff (2001) concorda com Webber (2010), quando enfatiza que “[...] os
estresses intensificam e prolongam as depressões” (DAVIDOFF, 2001, p. 554). Ela ainda
ressalta que nesses casos as sensações de alegria e satisfação são substituídas por sintomas
depressivos como fadiga, pessimismo, baixa autoestima, ansiedade, insônia, culpa,
irritabilidade e desinteresse pela maioria das atividades de sua vida.
Segundo Curi:
Excesso de trabalho, indisciplina em sala de aula, salário baixo, pressão da direção, violência, demandas de pais de alunos, bombardeio de informações, desgaste físico e, principalmente, a falta de reconhecimento de sua atividade são algumas das causas de estresse, ansiedade e depressão que vêm acometendo os docentes brasileiros. (CURI, 2011).
De acordo com o autor acima citado, muitos dos elementos deflagradores das doenças
psíquicas como a depressão, são resultados de um quadro deficiente da configuração dentro
do espaço de trabalho. O autor ainda destaca que “[...] os mais jovens são os que têm mais
dificuldade para lidar com os problemas da profissão e muitos optam por abandonar o ofício”
(CURI, 2011).
Para Davidoff (2001, p. 558) “[...] a probabilidade de depressão parece elevar-se em pessoas
que passam por estresses devastadores precocemente e que desenvolvem formas de pensar
pessimista e auto-depreciativas”. Ou seja, a depressão não parece estar associada, somente, a
situações ruins, ela ocorre devido a predisposições, tanto genéticas como ligadas ao
desenvolvimento humano.
As más condições de trabalho, aliadas ao descaso nas relações e decisões inerentes as práticas
educativas, contribuem diretamente para o agravamento do quadro de saúde do professor. O
tratamento da doença é, sem dúvidas, o meio eficaz na busca da recuperação e bem estar
físico, psíquico e social.
3.4 ANSIEDADE
A ansiedade é uma sensação que manifesta-se de diversas formas. Ela encontra-se cada dia
mais presente no cotidiano dos indivíduos que vivenciam o âmbito da vida moderna,
principalmente em pessoas que precisam lidar com situações comumente atribuídas ao
convívio e rotina de grandes cidades, onde são gerados sentimentos de medo, ameaça e stress.
A ansiedade perpassa e influencia também a vida profissional do indivíduo. Condições de
trabalho, ritmo de vida, cobranças, cumprimento de compromissos, tomada de posições e
31
decisões, são situações enfrentadas cotidianamente e que podem desencadear um quadro
grave de ansiedade. Na escola, esse quadro é manifestado à medida que o profissional da
educação, entre eles o professor, enfrenta as tensões e dificuldades do exercer profissional.
Segundo Dadidoff (2001 p.559) "[...] a ansiedade é um sentimento intenso de perigo iminente
que envolve tensão e sofrimento”. Ela é o sinal de alerta do corpo que adverte para situações
de perigo, e que estimula o indivíduo a tomar medidas para enfrentar tal ameaça. Assim como
o stress, a ansiedade seria uma resposta do corpo aos estímulos ambientais externos.
Sobre os sintomas da ansiedade Webber destaca:
É um sentimento desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio) no estômago (ou na espinha), opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça, ou falta de ar, dentre várias outras, e que pode evoluir para transtornas de pânico (WEBBER, 2010 p. 14).
Embora a ansiedade seja desagradável, ela, às vezes, pode ser normal e útil. Indicando perigos
potenciais, ela adverte para situações que necessitam de atenção e cuidado como, por
exemplo, atravessar lugares altos, realizar uma tarefa que dispensa precisão, lidar com
situações de medo, entre outros.
Na atividade docente, a rotina estressante aliada à sobrecarga de trabalho, tornam-se
instrumentos poderosos de desenvolvimento da ansiedade.
Segundo Curi (2011) “[...] a baixa autoestima, resultado do estado de ansiedade e depressão,
afeta o sistema imunológico deixando o docente mais exposto a doenças”.
De acordo com o autor, o sofrimento causado por estes estados é na maioria das vezes
manifestada no âmbito psicológico do indivíduo, no entanto, essa consternação também pode
apresentar sintomas físicos como mãos frias, sonolência e fadiga.
As causas do distúrbio da ansiedade são diversas. Para Dadidoff (2001), os fatores que
contribuem para a ansiedade são: “[...] Predisposição genética [...]” (já nasce com o
indivíduo); “[...] Predisposição de desenvolvimento [...]” (reguladores da ansiedade diante dos
fatos) e “[...] Estressores psicossociais [...]” (ligado à personalidade). (DADIDOFF, 2001 p.
564).
A autora destaca que um estado grave de ansiedade pode causar um “distúrbio de ansiedade
generalizada”. Nesses casos, o indivíduo tende a reagir exageradamente a stress e tensões
pequenas, parecendo estar continuamente ansiosas e preocupadas. Uma vez que a
preocupação interfere na concentração, a pessoa apresenta dificuldade na tomada de decisões,
32
ao lembrar-se de compromissos, assim como para dormir. A tensão e fadiga reduzem a
eficiência no trabalho, na família e com amigos.
Segundo Prusoff & Kleman (1974 apud Dadidoff 2001, p. 563) “[...] os fracassos e
frustrações aumentam a ansiedade, a irritabilidade e, com freqüência a depressão”. As autoras
acima citadas enfatizam que as vítimas de ansiedade comumente tentam camuflar esse quadro
de sofrimento, bebendo ou ingerindo drogas medicamentosas sem orientação médica.
Contudo, esse comportamento só agrava ainda mais suas dificuldades.
A falta de cuidado e tratamento para os quadros de ansiedade, aliado a problemas de ordens
físicas e emocionais, podem gerar prejuízos sérios à vida do profissional, inclusive do
professor.
33
4 BREVE SÍNTESE DO STRESS NA ESCOLA MARIA CONSTANÇA.
O presente capítulo discorre, trazendo como base para construção das ideias, os índices e
resultados da pesquisa de campo realizada numa escola pública da cidade de Salvador. Com
base nesses dados, e com o aporte referencial bibliográfico, foi possível se fazer um recorte
dos problemas enfrentados pelo professor no exercício de suas funções profissionais, assim
como uma análise e reflexão sobre os possíveis desencadeadores do stress docente. Durante a
discussão, também foi possível indicar perspectivas significativas de enfrentamento do stress,
para a promoção de qualidade de vida e no ambiente do trabalho docente.
4.1 CAMINHOS DA PESQUISA
A pesquisa de campo foi realizada na escola Maria Constança, localizada no bairro da Mata
Escura e que atende alunos dos bairros de Mata Escura, Tancredo Neves e Jardim Santo
Inácio. Fundada no ano de 1974, a escola apresenta boa estrutura física com diversas salas,
entre elas, sala de informática, vídeo e dança, biblioteca, secretaria, quadra, pátio, etc. A
escola possui um quadro de 37 professores, que atuam nas séries de Anos Iniciais e Ensino
Fundamental I e II, em três turnos (matutino, vespertino e noturno). No período noturno a
escola atende alunos do SEJA (Segmento de Educação para Jovens e Adultos).
A visita em loco caracteriza a abordagem metodológica da pesquisa qualitativa, porque
apresenta as seguintes características:
Pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento, os dados coletados são predominantemente descritos, a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto, o significado que as pessoas dão ás coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo (BOGDON E BIKLEN apud LUDKE, 1986).
Como proposta para a realização da investigação sobre o stress na atividade docente,
escolheu-se como instrumento de pesquisa, a aplicação de questionário, que serviu como
subsidio teórico para conhecimento do contexto das doenças ocupacionais, incluindo o stress,
e seus danos à saúde dos professores da Escola Maria Constança.
34
Segundo Lakatos (2001 p.201), “[...] questionário é um instrumento de coleta de dados,
constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem
a presença do entrevistador”.
Para a utilização deste instrumento, foram elaboradas, no primeiro momento, todas as
questões objetivas que foram organizadas em cinco blocos:
• Bloco 1- Tratou da identificação do profissional: Formação acadêmica; tempo atuação
no magistério; carga horária semanal de trabalho; atividades de lazer.
• Bloco 2 - Tratou dos desconfortos físicos constantes dos professores: Dor de cabeça;
Dor de garganta; Dor nas pernas; Dor nos braços; Dor nas costas; Cansaço; Fadiga
muscular.
• Bloco 3- Tratou dos fatores biológicos que acometem a saúde dos professores:
Rouquidão, Enxaqueca, Problema de pressão arterial; Problemas nas articulações;
Resfriados constantes; Faringite e Tendinite, obesidade, hipertensão, gastrite e câncer.
• Bloco 4- Trata dos fatores psicológicos que influenciam na saúde e bem estar dos
professores: Insônia; Depressão; Irritabilidade, Ansiedade; Insatisfação, Entusiasmo;
Exaustão, frustração; Desinteresse; Stress; Esgotamento Mental; Satisfação;
Insatisfação e Alergia.
• Bloco 5- Tratou dos fatores externos que causam desgaste no trabalho dos professores:
Turmas numerosas; Carga horária apertada; Sobrecarga de trabalho; Indisciplina dos
alunos; Violência; Salários baixos e Conflitos com os colegas.
Vale ressaltar que a elaboração do questionário foi feita previamente, tomando como base os
estudos bibliográficos que fazem referência a pesquisas, envolvendo o tema stress, além da
essencial orientação e supervisão do professor orientador desde trabalho, quanto à construção
do mesmo. Os questionários foram aplicados para 22 professores na escola Maria Constança.
Essa atividade foi realizada na sala dos professores da escola durante o horário do intervalo,
onde os mesmos se disponibilizaram a responder os questionamentos a partir da análise da sua
situação de saúde física e psicológica, além da sua condição de trabalho. Todos preencheram
de forma individual, sem a intervenção de outras pessoas para consultá-los ou auxiliá-los.
A pesquisa foi realizada durante duas visitas e turnos distintos (manhã e tarde), tendo em vista
a captação de maior número de agentes pesquisados, respeitando, sobretudo, a flexibilização
da carga horária dos professores que atuam nas séries do Ensino Fundamental II.
35
As informações contidas, após a pesquisa, resultaram em oito tabelas, a partir dessa premissa,
foi possível a realização da sistematização dos dados e de uma breve análise dos resultados
alcançados, como veremos a seguir.
4.2 ANALISE DO O STRESS NA ESCOLA MARIA CONSTANÇA
A partir dos subsídios obtidos na Escola Maria Constança através do instrumento de pesquisa,
foi possível a construção de oito elementos de análise, organizados em blocos que
comprovaremos a seguir.
No primeiro bloco, foi possível identificar os aspectos referentes à identificação do
profissional docente. Primeiramente procurou-se identificar a sua formação acadêmica, os
resultados deste questionamento encontram-se na seguinte tabela.
Tabela 1- Formação Acadêmica do Professor
Formação Acadêmica
Pedagogia Letras Outro
9% 23% 68%
Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Os resultados apontam que a maioria dos professores não optou pelos cursos de Letras e
Pedagogia como formação acadêmica. Somando os dois, cursos obteve-se apenas 32%,
enquanto que a opção por outras áreas específicas da carreira docente somam 68%. Na
pesquisa foi registrada ainda, e de forma espontânea, a escolha pelo curso Normal Superior,
Licenciatura de História e Licenciatura de Geografia como outras áreas da formação docente.
Vale ressaltar que o professor sempre foi e sempre será muito importante na vida das pessoas.
Sua dedicação e esforço promovem o desenvolvimento e construção de saberes essenciais
para a vida em sociedade. Ser professor é assumir um papel social em prol da formação
humana no sentido mais amplo. Lipp (1996) destaca a importância do professor, sobretudo os
que atuam nas Séries Iniciais, quando afirma que [...] o professor das séries iniciais tem uma
função de grande importância social; é um dos agentes formadores mais importantes da
criança e de sua atuação- voluntaria ou involuntária- dependerá em grande parte o
desenvolvimento emocional e intelectual da criança. ”(LIPP, 1996, p. 176).
36
Quanto ao tempo de exercício, foi perguntado aos professores há quanto tempo ele atua no
magistério. Podemos verificar os resultados na tabela a seguir.
Tabela 2 – Tempo de Exercício Docente
Tempo de Exercício Docente
Até 5 anos 6 a 10 anos 11 a 20 21 a 30 Mais de 30 anos
4,5% 29% 50% 27% 9%
Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
De acordo com a tabela se forem somados os períodos superiores há 10 anos, 86% dos
profissionais apresentam uma razoável experiência na profissão.
A pesquisa também mostra que uma pequena parcela, 9% de professores encontra-se há mais
de 30 anos atuando dentro da sala de aula, o que torna a tolerância ao stress ainda menor.
Não é de hoje que a profissão docente é tratada como diferenciada, diante do nível de desgaste
físico e emocional que acarreta a rotina do professor. Codo (1999) explica as principais razões
dessa diferença ao dizer:
Flexibilidade do trabalho, possibilidade de controle sobre os processos, demanda de expressão afetiva, necessidade de criatividade e inovação pede um trabalhador que esteja presente de corpo e alma no seu trabalho, que se disponha a se dedicar, enfim, que atribua importância ao que faz na vida profissional. E por que um trabalhador vai querer um trabalho tão exigente e mal remunerado como esse? [...]. (CODO, 1999, p. 121).
Segundo Freudentthal (2000 apud Webber 2010 p.8) “[...] o Magistério sempre foi tido pela
Legislação1 como uma atividade penosa [...]”. Essa caracterização do Magistério se embasa
na premissa de que ser professor causa desgaste no organismo, tanto de ordem física como
psicológica, em razão da repetição de movimentos, pressões e tensões psicológicas que
afetam emocionalmente o trabalhador. Como também afirma Lipp (1996, p. 181) “[...]
professores com maior tempo de magistério encontram-se mais estressados”.
As escolas, na grande maioria, não apresentam recursos suficientes para o desenvolvimento
do trabalho docente, não oferecem condições e aporte técnico para o planejamento das
atividades pedagógicas, transformando a atuação do professor na sala de aula em uma
atividade penosa que afeta diretamente a sua saúde emocional e física.
1 Artigo 2º do Decreto 53.831 de 25 de março de 1964: “Regulamento Geral da Previdência Social” enquadra a função de professor como penosa, justificando a aposentadoria após 25 anos de trabalho.
37
Tabela 3- Carga Horária
Carga Horária Semanal
Um Turno Dois Turnos Três Turnos
18% 45% 36%
Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Com referencia a carga horária, a pesquisa pretendeu avaliar se a jornada de trabalho do
professor era muito longa. A tabela abaixo mostra que grande parte dos professores, 45%
atuam em dois turnos (matutino e vespertino). Contudo, o período de três turnos (matutino,
vespertino e noturno) aparece em segundo lugar com 36%, demonstrando a alta carga de
trabalho sofrida pelo professor semanalmente. Esses profissionais, muitas vezes trabalham em
mais de uma Instituição Educacional e precisam, muitas vezes, realizar aulas em horário extra
para a complementação do salário. Segundo o autor, após a jornada exaustiva de trabalho na
escola, muitos desses profissionais não desfrutam do descanso merecido, onde se vêem diante
de inúmeros compromissos e obrigações a serem cumpridas também fora da escola.
Os dados apresentados conformam com dados de pesquisas mundiais onde atestam em Lipp
(1999) que:
[...] jornada de trabalho integral, aliado ao tempo despendido em casa com preparação de aulas e correções de trabalhos e provas, afazeres domésticos e cuidados com filhos possivelmente deixam esse professores com pouco tempo para descanso e lazer, o que pode aumentar seu nível de Stress. (LIPP, 1999, P. 180).
Os constantes desgastes físicos sem o devido tempo de descanso podem acarretar danos à saúde do
professor. Dessa forma, o tempo para o lazer e descanso é de indispensável necessidade para a
manutenção do bem estar desse profissional.
Tabela 4- Atividade de Lazer Atividades de Lazer
Viagem Passeio Atividade Cultural
Outros Não Respondeu
36% 50% 27%
55% -
Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
De acordo com essa tabela, os professores normalmente procuram realizar atividades que
trazem bem estar pessoal. Os dados mostram que todos realizam atividades de lazer, e estas,
38
são feitas de uma forma bem diversificada. Vale ressaltar que as “outras” formas de lazer,
cerca de 55%, indicadas na tabela, não foram reveladas na pesquisa.
A procura por atividades que desenvolvam satisfação, relaxamento e prazer se faz, dessa
forma, extremamente importante para a promoção da saúde física e mental do professor. A
professora Ornellas (2010) sugere como outras formas de manejo e estratégias para atenuar os
sintomas do stress: “[...] adotar alimentação sadia; usar técnicas de relaxamento; estar sempre
de bom humor; praticar esportes, ou fazer exercícios físicos regularmente.” (ORNELLAS,
2010 p. 8). Esses requisitos aliados ao desejo de ensinar e aprender, são armas poderosas para
a construção de professores satisfeitos, estimulados e dispostos a promover conhecimentos
efetivamente significativos.
No segundo bloco, foi possível verificar os fatores que geram desconfortos físicos durante a
atividade laboral docente. Os índices revelam a necessária preocupação em torno de uma
discussão sobre essas vertentes, além da observância em relação às consequências desses
transtornos na qualidade de vida e trabalho do professor.
Tabela 5- Desconfortos Físicos Desconfortos Físicos Sim Não 95% 5% Desconfortos Físicos % Dores de Cabeça 34,0 Dores de Garganta 50,0 Dor nas Pernas 45,0 Cansaço 50,0 Dor nas Costas 27,0 Fadiga Muscular 41,0 Dor nos Braços 64,0 Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Os resultados da tabela apontam para altos índices de desconfortos físicos enfrentados pelos
professores da Escola Maria Constança, onde 95 % declara que trabalha sob o efeito de algum
tipo de incomodo.
Os dados revelam que os tipos de desconfortos que mais acometem o docente são dores nos
braços, 64%, seguido de cansaço físico 50%, dores de garganta 50% e dores nas pernas 45%.
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Os esforços constantes aliados às exigências e aumento de trabalho são as razões para o
desencadeamento dessas doenças profissionais. O uso exaustivo da voz em sala de aula, o
esforço para escrever no quadro (muitas vezes de giz), movimentos repetitivos, levantamento
e transporte de material de peso (bolsa, estojo, cadernos, apostilas, livros, etc.), as muitas
horas em pé, o esforço físico intenso, a má postura, movimentação na sala de aula, entre
outros, fazem dessa atividade um exercício desgastante, exaustivo e estressante.
Webber (2010, p. 8) ressalta que os professores “[...] expõem-se de maneira incomum, ficam
com a saúde vulnerável e, portanto, merecem que sejam adotadas medidas de saúde protetiva
e preventivas.”.
A pesquisa ainda revela que a fadiga muscular 41% e dores nas costas 27%, são também uma
constante entre os professores. Infelizmente é nesse ambiente penoso e exaustivo que o
professor vive, se desloca, e apesar de tudo procura manter a serenidade para assumir sua
sublime tarefa de educar, transmitir valores e formar cidadãos.
No terceiro bloco, foi possível verificar os fatores que geram desconfortos biológicos durante
a atividade laboral docente. Os dados trazem indicativos de alguns problemas de saúde que
acometem os professores como podemos verificar na tabela a seguir.
Tabela 6- Fatores Biológicos
Problemas de Saúde % Rouquidão 64,0 Enxaqueca 27,0 Problema de Pressão Arterial 27,0 Problema nas Articulações 27,0 Resfriados Constantes 23,0 Faringite 32,0 Tendinite 23,0 Obesidade 18,0 Hipertensão 14,0 Insônia 41,0 Gastrite 18,0 Câncer 0 Nenhum 0 Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Esta tabela é constituída com o indicativo de algumas doenças causadoras do desgaste
biológico dos professores. Do total, 64% disseram sofrer com problemas de voz como
rouquidão e 34% com faringite. Esse dado demonstra um dos riscos mais significativos a que
40
estão expostos os professores. Segundo Marques (2009 apud Webber, 2011 p.11) “[...] o
aparelho fonoaudiológico ou sistema responsável pela reprodução da voz, é o mais afetado no
professor, seu desgaste tende a ser muito maior do que em qualquer outra profissão”. Quanto
maior o ruído na sala de aula, maior comprometimento o professor sofrerá nas cordas vocais.
Esse quadro fica ainda pior diante da dificuldade de controle da sala de aula e mediante a
tentativa de forçar ainda mais a voz para se fazer compreender perante os alunos.
O Problema com insônia, 41%, foi outro desconforto apresentado e que merece atenção.
Situações preocupantes, nervosismo, ansiedade, problemas pessoais e profissionais estimulam
a produção de substâncias que inibem a capacidade de relaxamento e sono. Essa situação gera
a disfunção do humor, o stress, além de interferir na capacidade de atenção e concentração.
Conforme afirmativa de Lipp (1996), o uso de medicamentos para dormir foi observado como
uma alternativa negativa para resolver o problema de insônia em professores. As pesquisas de
Evans e Johnson (1989 apud Lipp, 1996) apontaram que “[...] as duas estratégias negativas
mais utilizadas referem-se ao uso de substâncias químicas para reduzir ansiedade ou para
dormir”. (LIPP,1996, p.189).
A pesquisa na Escola Maria Constança mostra ainda que “todos” os professores apresentam
algum tipo de doença. Contudo, foi verificado que nenhum professor indicou apresentar
problemas envolvendo câncer. Ainda de acordo com os dados, 27% dos professores sofrem de
enxaqueca, problema de pressão arterial e problema nas articulações. Os demais desconfortos
biológicos indicados foram: resfriados constantes e tendinites por 23%, obesidade e gastrite
por 18%, e hipertensão por 14%.
Vale ressaltar, como já referendado por Carvalho (1995) e Lipp (2002), neste trabalho
anteriormente, que o stress pode ser um grande desencadeador de outras enfermidades à
medida que as defesas orgânicas tornam-se diminuídas, devido ao quadro emocional
fragilizado.
O bloco quatro foi possível verificar os fatores psicológicos que acometem e interfere a saúde
dos professores da Escola Maria Constança. Os dados trazem exemplos de alguns
desencadeadores emocionais como podemos verificar na tabela a seguir.
Tabela 7- Fatores Psicológicos
Problemas Emocionais % Irritabilidade 50,0 Ansiedade 59,0
41
Depressão 0 Esgotamento Mental 32,0 Exaustão 36,0 Entusiasmo 27,0 Satisfação 27,0 Frustração 45,0 Insatisfação 50,0 Desinteresse 5,0 Stress 50,0 Desânimo 64,0 Alergia 5,0 Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Com o intuito de avaliar os fatores emocionais estressantes dos professores, a pesquisa
demonstrou que eles encontram-se envolvidos em diversos problemas de ordem emocional
que prejudicam a saúde e qualidade do seu trabalho. Quanto aos sintomas de stress foi
possível constatar que 64% dos professores sentem extremo desânimo no exercer laboral; 59
% apresentam sintomas de ansiedade; 50% admitiram apresentar irritabilidade, sensação de
stress e sentimento de insatisfação. Seguindo esse alto e danoso índice, 45% assumiram
sentir-se frustrado; 36% disseram estar exausto e 32% afirmaram apresentar esgotamento
mental. A professora Ornellas (2010, p.5) ressalta que "[...] a ansiedade do professor está
fundamentalmente ligada à indisciplina, ao desinteresse dos alunos e às dificuldades de
aprendizagem.”.
A pesquisa revela ainda que apesar das dificuldades e desafios enfrentados, cerca de 27% dos
professores declararam ter satisfação e entusiasmo no exercer da sua profissão. Esse dado
chama atenção para a questão do vínculo afetivo que o professor desenvolve ao longo de sua
carreira. Essa característica da atividade docente mostra que exercer esse papel não depende
apenas das habilidades técnicas, o contato com alunos e colegas possibilita a criação de
vínculo e de troca essenciais para a motivação, superação e satisfação profissional. Sorato e
Ramos (1999) afirmam que a atividade docente, em sí, compensa todas as dificuldades da
profissão, porque esta lhe oferece condições para que o professor, “[...] mesmo sobre o efeito
das adversidades sintam-se satisfeitos e comprometidos”. (SORATO E RAMOS1999, p. 297).
Quanto aos índices de professores que possuem sintomas alérgicos, apenas 5% deles
afirmaram que possui algum tipo de alergia. Essa baixa incidência nos faz refletir sobre a
importância da extinção do uso do quadro de giz na promoção da melhor condição de trabalho
e saúde do professor.
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No bloco cinco foi possível verificar os fatores externos ou ambientais geradores de stress na
atividade laboral docente. Definido por um conjunto de fatores externos e internos aos quais
as pessoas encontram-se expostas, o stress pode desencadear reações comportamentais e
biológicas maléficas a saúde do professor, como podemos verificar a seguir.
Tabela 8- Fatores Externos
Fatores Externos Stress % Turmas Numerosas 64,0 Carga Horária Apertada 45,0 Sobrecarga de Trabalho 36,0 Indisciplina dos Alunos 95,0 Salários Baixos 64,0 Violência 59,0 Problemas Pessoais 9,0 Conflitos com Colegas 5,0 Fonte: Pesquisa de campo. Julho 2011
Quando questionados sobre as situações externas geradoras de stress, os dados da tabela
revelaram a indisciplina dos alunos, cerca de 95%, como maior motivo de stress dos
professores. Junto com as mudanças sociais, a escola e o professor parecem se ver diante de
uma nova formação comportamental discente. A mudança na configuração da família, as
relações familiares (muitas vezes regadas de violência física e simbólica), as mudanças de
sentido dos valores morais e sociais, a influência do meio ao qual está inserido, são fatores
relevantes que podem justificar o perfil de indisciplina desses alunos.
O stress do professor parece estar relacionado, também, aos baixos salários e as turmas
numerosas, apontados na pesquisa por 64%; à carga horária apertada 45%; ao alto volume de
atribuições e sobrecarga de trabalho, apontado por 36%; à precariedade das condições de
trabalho ou a sua formação inadequada diante de novas situações.
Não é difícil entenderam o processor cultural e histórico que acarretou tais situações
estressantes no professor. Com a consolidação da ordem capitalista, o trabalho docente
encarou historicamente um formato pautando no sistema de “mais-valia” e competição,
acarretando longas e exaustivas jornadas de trabalho, desvalorização de salários e maior
exposição dos professores a fatores de riscos.
Segundo Ornellas (2010) "[...] o professor relegado a segundo plano, sem condições de
exercer bem suas atividades, perdeu sua autoestima e está desestimulado e sem esperanças”.
Apesar das mudanças sofridas pela carreira do professor nas últimas décadas, levando às
43
mudanças na sua condição de trabalho, os investimentos públicos e os recursos investidos no
setor, ainda mostram-se insuficientes na contribuição para a melhoria do desempenho e das
funções dessa categoria.
O professor também sofre as consequências diretas do caos das grandes cidades, do contato
com ruídos, trânsitos caóticos, violência, e descaso dos poderes públicos e privados. Dessa
forma, se faz tão necessário a valorização do papel do professor, a melhoria da sua condição
de trabalho, além da fundamental conscientização por parte desse profissional de suas fontes
de stress e formas de prevenção e combate do mesmo.
Segundo Codo e Sampaio (1999, p. 289) “[...] o trabalho do professor não se restringe,
somente, ao exercício da sua função dentro da sala de aula, implica em atualização e
preparação constantes para que seja realizado a contento.”.
A presença de conflito entre trabalho e família exerce também grande influência no nível da
carga mental do trabalhador docente. Segundo a pesquisa, os problemas pessoais, apresentado
por 9% e os conflitos com colegas por 5%, também formam estressores potenciais.
Para Codo e Sampaio (1999, p. 294) "[...] O professor sente o seu produto de trabalho como
necessário para a sociedade, o seu trabalho é importante, e este é um pré-requisito para uma
educação de qualidade”.
Sabemos que as coisas não estão no seu devido lugar, onde a educação é valorizada no
discurso e desvalorizada na prática. O que o professor precisa é de condições para fazer bem
seu trabalho, tempo para preparar suas aulas, condições para estabelecer vínculos para, dessa
forma, estar inteiro no momento que está ensinando.
4.3 PERSPECTIVAS DE ENFRENTAMENTO DO STRESS
No cenário social atual, profissionais e professores sofrem inúmeras pressões no cotidiano
escolar, manifestando dessa forma doenças ocupacionais e stress. Assim, as consequências
negativas do stress na sociedade vêm se agravando de forma significativa ao passo que a
sociedade modera se desenvolve.
Podemos dizer que o professor é um dos agentes mais importantes quando a questão é escola.
A influência do professor é evidente no processo educacional. Por isso, a condição física,
emocional e comportamental para desempenhar tal papel são elementos indispensáveis para
que essa relação seja propícia ou não, para as trocas de conhecimento e aprendizagem.
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Muitos professores já demonstram interesse e entendimento sobre os fatores que
desencadeiam o stress em sua situação profissional, mas, a maioria não sabe como lidar com
essa questão. Desse modo, é importante analisar as causas e os efeitos físicos, biológicos e
psicológicos para reunir estratégias que possam servir de meios para que esses profissionais
enfrentem os desencadeadores do stress sem provocar danos a sua saúde.
Conforme Lipp (1996, p. 191) “[...] em nível universal, a educação e o ensino estão
encontrando dificuldade em acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas e sociais pelas
quais estamos passando nesse milênio; há conflitos entre manter as tradições ou adotar valores
novos.” Isso significa que os conflitos presentes dentro e fora da escola geram insegurança e
stress.
A autora afirma que as pesquisas dos últimos anos sobre stress ocupacional do professor, têm
ajudado a levantar e compreender melhor as fontes e os sintomas de stress, contudo, não tem
dado muitas respostas sobre como reduzir o stress decorrente desse trabalho tão fundamental
que é o de educar.
O princípio da prevenção e enfrentamento do stress deve estar presente nesse entendimento,
onde o professor deve buscar conhecer seus direitos. Todos, entidades da classe, setores
públicos, sindicatos, associações devem promover a ampla divulgação das doenças e dos
direitos dos professores. É fundamental, também, que a sociedade desperte para a efetiva
valorização da carreira docente, ao qual vem sendo tão negligenciada. Essas ações são de
essencial importância para a introdução de novas perspectivas, reduzindo, assim, os riscos da
profissão e adotando praticas melhores e mais saudáveis no meio ambiente de trabalho.
É crucial a união dessa classe, uma vez que a desunião aliada ao individualismo destrói a
possibilidade de força e fortalecimento da profissão docente. Isso implica na sua participação
em Sindicato de Professores e no engajamento em projetos que visem melhores condições de
trabalho.
A redução do poder de stress do professor pode ser feita também, através de uma
compreensão mais profunda das suas habilidades em lidar com os aspectos sócio-emocionais
de vida e trabalho, além da aprendizagem de estratégias mais adequadas para lidar com o
stress.
Segundo Lipp (1996, p. 191) ”[...] uma maneira direta de reduzir o stress implica uma
reciclagem profissional constante, com cursos de aperfeiçoamento, e uma educação
continuada através de leituras e estudos por parte dos professores.” O apoio social encontrado
em outras pessoas, seja família, amigos ou colegas, também são estratégias positivas de
enfrentamento do stress.
45
Faz-se necessário o reconhecimento dos primeiros sinais de stress e seu grau de interferência
na mente e no corpo do professor. A análise e busca por ajuda especializada deve ser feita
também, no momento em que esse profissional perceba que os conflitos, a ansiedade,
depressão ou burnout estão se tornando impossíveis de serem administrados.
Segundo Oshima:
O primeiro passo é conhecer a causa, os motivos do stress, depois com a ajuda de um especialista deve-se procurar minimizar os efeitos. Pode-se também buscar o conhecimento das dificuldades e sentimentos reprimidos que podem ser as causas e afastar os fatores ou as atividades que podem estar levando o individuo a cair nesse processo. (OSHIMA 2005, apud BRAZ, 2011).
Boa alimentação, exercícios físicos, uso de técnicas de relaxamento, atividades de lazer,
descanso, pensamento positivo, conscientização e respeito dos limites do seu corpo e mente,
também são outros recursos importantes para a prevenção e combate ao stress docente.
Segundo Oshima (apud BRAZ 2011) “[...] diversos tratamentos alternativos estão sendo
estudados na perspectiva de trazer maior qualidade de vida para o professor”. Segundo o
autor, o médico ou especialista pode indicar nos casos de stress métodos alternativos, como
atividade física, ioga, dança, esportes, que são relaxantes e que desviam a atenção dos
problemas. Segundo o autor, medicamentos como calmantes e antidepressivos, só devem ser
indicados em casos mais graves da doença.
O stress é uma doença que merece a atenção do professor, para suas causas e consequências.
Agindo dessa forma, o esse profissional aprende a conhecer e administrar o stress de forma
positiva, ganhando uma melhor qualidade de trabalho e vida.
46
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo revelou que o trabalho docente encontra-se, atualmente, cercado de riscos, de
comprometimentos a saúde e de situações geradoras de stress. Os professores vivenciam no
mundo do trabalho, fatores que o deixam vulnerável a diversos desconfortos, tanto físicos
como emocionais: Ritmo acelerado, sobrecarga de trabalho, intensas mudanças, pressões,
violência, excessivo numero de alunos por turma, alterações curriculares, falta de autonomia,
falta de condições de trabalho, desvalorização da profissão. Esses problemas contribuem para
a degradação da saúde e proliferação de doenças ocupacionais, fato que vem ocorrendo em
escalas alarmantes no corpo docente brasileiro.
Considerado com um dos principais problemas ocupacionais que vem afetando professores na
atualidade, o stress desencadeia uma série de complicações, comprometendo, dessa maneira, a
saúde do professor. Sua evolução pode trazer efeitos ainda mais devastadores, ao passo em
que contribui para o desenvolvimento de outras doenças que em situações mais graves podem
levar até a morte.
Vale ressaltar que o stress não é um problema único e específico dos professores. Assim, são
necessários mais estudos que abordem esta temática para que possam ajudar o profissional a
lidar com esse fenômeno característico da sociedade atual, em que as tarefas a desempenhar
são múltiplas e complexas, e os conflitos entre os diversos papeis a exercer são uma
constante. A repercussão psicológica, causada pelo stress, deixa marcas profundas no ser
humano, reduzindo sua motivação, autoestima e afetividade.
É preciso um amplo programa de intervenção e prevenção frente ao mal estar docente, onde
deve incluir estudos, pesquisas e uma ampla reflexão política e social sobre o papel do
professor no cenário educacional brasileiro. As situações de precarização do trabalho docente
precisam ser identificadas, analisadas e avaliadas. A ampla insatisfação dos professores deve-
se em grande parte a desvalorização do papel docente. É preciso o despertar da importância
do professor. Enquanto o professor é obrigado a assumir maiores responsabilidades, gerando
sobrecarga de trabalho, por outro lado vem sendo, na sua maioria, esquecido pelas políticas
públicas e privadas de assistência ao trabalhador.
Os professores devem buscar conhecer melhor seus direitos no que tange a sua segurança e
saúde no trabalho. O professor deve, também, expressar seus anseios, expectativas e
necessidades de alteração de condição no exercício profissional. O princípio da prevenção e
do entendimento é, nesse caso, um instrumento fundamental para adoção de práticas melhores
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e mais saudáveis, para que este profissional não se encontre a beira de um ataque de nervos a
cada dia do trabalho.
A necessidade de estudar formas mais amplas de combate do stress docente se faz
extremamente necessário no âmbito da sociedade. Um professor estressado não apresenta,
somente, danos à sua saúda física e psicológica, mas também a nível social, uma vez que,
diante de elevado índice de stress, há uma queda de produtividade que repercute diretamente
na qualidade do ensino e da educação, processo base para evolução social, política e
econômica de país.
Em suma, é imprescindível o despertar para programas de prevenção e controle do stress do
professor, possibilitando dessa maneira a conquista de uma vida mais saudável, tanto na área
física, como na área psicológica, a fim de que possam repensar o stress nos seus aspectos
positivos e negativos, reavaliando os estressores presentes no seu cotidiano, implementando
mudanças no seu estilo de vida, desenvolvendo motivação para superar as dificuldades
oriundas de sua atividade profissional, buscando ajuda profissional para sanar as situações
mais graves da doença, promovendo, dessa forma, bem estar e melhor qualidade de vida.
48
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GREENBERG, Jerrold. Administração do Estresse. São Paulo: Manole, 2002.
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49
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50
APÊNDICE A- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - QUESTIONÁRIO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
Salvador, Agosto 2011
Prezado Senhor (a),
Sou concluinte do Curso de Pedagogia com Habilitação em Anos Inicias e Ensino
Fundamental da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, e estou realizando uma
pesquisa de campo, obrigatória para meu trabalho de conclusão do curso, com objetivo
de colaborar para com as pesquisas no âmbito da pedagogia. Esta pesquisa estuda as
causas e consequências do stress na atividade laboral do professor. Conto com sua
colaboração neste meu trabalho e desde já agradeço!
LEVANTAMENTO DAS DOENÇAS OCUPACIONAIS DOS PROFESSORES DA
ESCOLA MARIA CONSTANÇA
1.0 IDENTIFICAÇÃO
1.1 QUAL SUA FORMAÇÃO?
( ) PEDAGOGIA
( ) LETRAS
( ) OUTRO
1.2 EM QUE ANO SE FORMOU?
1.3 HÁ QUANTO TEMPO ATUA NO MAGISTÉRIO?
QUAL SUA CARGA SEMANAL NO EXERCÍCIO DOCENTE?
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1.4 PERÍODO CARGA HORÁRIA SEMANAL:
( ) APENAS MANHÃ
( ) APENAS TARDE
( ) APENAS NOITE
( ) MANHÃ E TARDE
( ) TRÊS TURNOS
1.5 ATIVIDADES DE LAZER E CULTURA NOS FINS DE SEMANA E FERIADOS:
( ) VIAGEM
( ) PASSEIO
( ) ATIVIADES CULTURAIS
( ) OUTROS
2.0 SOBRE OS DESCONFORTOS FÍSICOS:
2.1 VOCÊ SOFRE ALGUM TIPO DE DESCONFORTO FÍSICO?
( ) SIM
( ) NÃO
2.2 QUAIS?
( ) DORES DE CABEÇA
( ) PROBLEMAS DE GARGANTA
( ) DOR NAS PERNAS
( ) CANSAÇO
( ) DOR NAS COSTAS
( ) FADIGA MUSCULAR
( ) DOR NOS BRAÇOS
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( ) NÃO SINTO
3.0 SOBRE OS FATORES BIOLÓGICOS:
3.1 QUAIS PROBLEMAS DE SAÚDE VOCÊ APRESENTA CONSTANTEMENTE DEVIDO A ATIVIDADE DOCENTE?
( ) ROUQUIDÃO
( ) ENXAQUECA
( ) INSÔNIA
( ) PROBLEMA DE PRESSÃO ARTERIAL
( ) RESFRIADOS CONSTANTES
( ) PROBLEMAS ARTICULARES
( ) FARINGITE
( ) TENDINITE
( ) OBESIDADE
( ) GASTRITE
( ) CÂNCER
( ) NENHUM
4.0 SOBRE FATORES PSICOLÓGICOS:
4.1QUAIS FATORES EMOCIONAIS ABAIXO VOCÊ APRESENTA CONSTANTEMENTE COM RELAÇÃO A SEU TRABALHO?
( ) IRRITABILIDADE
( ) ANSIEDADE
( ) DEPRESSÃO
( ) ESGOATEMENTO MENTAL
( ) EXAUSTÃO
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( ) ENTUSIASMO
( ) SATISFAÇÃO
( ) FRUSTRAÇÃO
( ) INSATUISFAÇÃO
( ) DESINTERESSE
( ) STRESS
( ) DESÂNIMO
5.0 SOBRE FATORES EXTERNOS:
5.1 QUAIS FAOTES ABAIXO CAUSAM DESGASTE NO SEU TRABALHO?
( ) TURMAS NUMEROSAS
( ) CARGA HORÁRIA APERTADA
( ) SOBRECARGA DE TRABALHO
( ) INDISCIPLINA DOS ALUNOS
( ) SALÁRIOS BAIXOS
( ) VIOLÊNCIA
( ) PROBLEMAS PESSOAIS
( ) CONFLITOS COM COLEGAS