Post on 24-Mar-2016
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Mobilidade começa na calçada
Ironia do destino ou não, a Prefeitura de Candelária lançou edital para pavimentação de
13 ruas em um dos dias que permeiam a Semana da Mobilidade Humana. Acontece que
o objetivo dessa semana, de 16 a 22 de setembro, é convencer motoristas a deixarem o
carro em casa, a fim de promover uma mobilidade sustentável. Está certo que o evento é
aderido por apenas algumas cidades do país, e que no Rio Grande do Sul, só é levada a
sério em Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas. Mas, a administração municipal não
deveria ter avaliado melhor as necessidades dos cidadãos e dar valor a um bem comum
a todos: as queridas calçadas? Afinal, antes mesmo de ser motoristas, todos são
pedestres.
É lamentável o estado de boa parte dos 30 quilômetros de calçadas do Município. Pior
mesmo, só a situação daqueles que têm dificuldades próprias de locomoção: cadeirantes
e deficientes visuais, por exemplo. Idosos, sem dúvida. E, até mesmo a saudável mãe
que sabe o quanto é complicado empurrar o carrinho do seu filho recém-nascido de uma
esquina à outra. As calçadas candelarienses definitivamente não foram feitas para
pessoas. Estão lá para dar base aos postes, cestas de lixo, mesas de bar, bancas de jornal
e, principalmente, passagem para os carros.
A lei impõe ao proprietário a responsabilidade pela calçada em frente ao seu imóvel,
mas muitas pessoas não sabem sequer o que pode ser considerado um piso padrão e
acessível. Como órgão público, a Prefeitura teria papel importante para induzir ações
nesse sentido. Afinal, o que seria a calçada, se não uma via pública? Mas, pouquíssimo
do orçamento é investido para recuperar e fazer novos caminhos. E quando alguém quer
construir em terreno que lhe pertence, inúmeras são as regras para, conforme o Artigo
31 do Plano Diretor de Candelária, “acomodar o fluxo de pessoas nos dois sentidos de
circulação”. Aí, sim, o cidadão precisa entender a calçada como uma via pública, como
algo público.
Além disso, é contraditório o comportamento da sociedade contaminada pelo carro. O
cidadão candelariense reclama do buraco na rua, mas não do buraco na calçada. Se
cobrassem da Prefeitura um piso decente para andar a pé, com a mesma ênfase com que
reivindicam o recapeamento de uma avenida, as coisas começariam a mudar. A cidade é
o lugar onde se vive. Um município de alta qualidade deve ser um direito de seus
moradores. E o dever de seus gestores. Espera-se que a soma de R$2.312.678,30, orçada
para a pavimentação das ruas, seja, realmente, bem aplicada. Mas que nas próximas
eleições, os eleitores saibam depositar seu voto, sua confiança, em candidatos que
enxerguem, de fato, a necessidade do povo. Afinal, para quem não sabe para onde ir,
qualquer caminho basta.