Post on 23-Feb-2017
MARCELLE CONTEcomunidade@diariodaserra.jor.br
DIÁRIO • SEXTA-FEIRA 25/11/2016 PÁGINA B3
EducaçãoOs estudantes que farão a segunda prova do Enem nos dias 3 e 4 de dezembro já podem conferir seus locais de prova na página o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na internet. Estima-se que mais de 277 mil estudantes devam realizar a prova.Saúde
MÉDICO DE BOTUCATU PARTICIPA DE MISSÃO HUMANITÁRIA NO SERTÃOO infectologista Alexandre Naime Barbosa passou sete dias fazendo atendimentos médicos no sertão do Piauí
Com o intuito de atender à população extremamente pobre e sem assistência à saúde básica, um grupo de 14 profissionais da saúde se voluntariou a participar da “Missão Médica Volun-tária ao Sertão do Piauí”. Dentre os voluntários está Alexandre Naime, médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, que se propôs a doar suas férias em prol da ação.
Naime recebeu o convi-te para participar da mis-são por meio da médica e apresentadora da TV Globo e do canal Discovery Cha-nel Karina Oliani, que em parceria com a Volunteer Vacations (entidade que or-ganiza viagens de cunho voluntário com pessoas que doam suas férias para trabalhar ajudando os mais necessitados) planejou a missão que posteriormente deverá ser representada em um documentário.
O médico explica os mo-tivos que o levaram a acei-tar o convite. “Fui chamado pelo fato de já ter participa-do de outros projetos mé-dicos voluntários, por ser infectologista - e a presen-ça de doenças infecciosas na região ser muito grande - e por concordar em doar minhas férias trabalhando para quem mais precisa. Não pensei duas vezes, e aceitei o convite de primei-ra porque sabia da serieda-de do projeto e da grande necessidade daquela popu-lação”.
A missão aconteceu en-tre os dias 1 e 9 de novem-bro e, deste período, dois dias foram gastos com des-locamento até as cidades e sete dias foram destinados aos atendimentos médicos. “As comunidades atendi-das eram extremamente remotas, sempre a dezenas de quilômetros do centro dos municípios, que por sua vez eram muito peque-nos. Dessa forma, íamos de camionetes até os locais, e nos instalávamos em esco-las públicas dessas comu-nidades, montando toda a estrutura necessária, como consultórios médicos, de ginecologia e obstetrícia, oftalmologia, centro de procedimentos cirúrgicos, farmácia e odontologia”, coloca Naime.
Os quatro pontos de atendimento no sertão do Piauí foram montados na Serra do Inácio, no muni-cípio de Betânia (onde os profissionais ficaram dois dias sem banho por falta de água), Batemaré, muni-cípio de Paulistana, Tan-que de Cima, município de Acauã e nesta própria cidade, e receberam mui-tas pessoas necessitadas de tratamento.
“A estrutura montada, apesar de simples, foi mui-to bem planejada e con-seguimos resolver as de-mandas de saúde daquela população. Doenças bási-cas como verminoses, diar-reias infecciosas, hiperten-são, diabetes, infecções de pele, lombalgias e cefaleias eram as mais frequentes na clínica médica e na infecto-logia”, relembra Alexandre Naime.
No total, foram feitos quase 2 mil atendimen-tos voluntários e gratuitos para mais de 1.500 pesso-as carentes, além da dis-tribuição de mais de 100 tipos de medicações.
De acordo com o médico Alexandre Naime, além dos 14 profissionais da saúde que fizeram atendimentos nas áreas de Clínica Médica, Infectologia, Cirurgia, Pediatria, Oftalmologia, Ginecologia, Odontologia, Psicologia, Fisioterapia e Farmácia, o grupo contou com a colaboração de voluntários, também da área da saúde, que auxiliaram na logística, alimentação e demais ações fundamentais. Ao todo, o grupo foi constituído por 48 pessoas.
MÉDICO DESTACA SITUAÇÕES SIGNIFICATIVAS DO PROJETODentre os muitos momentos marcantes da missão humanitária, o infectologista Alexandre Naime destaca duas situações opostas, mas igualmente enriquecedoras. “Um grande diferencial da missão foi a presença do oftalmologista e de um processo de montagem de óculos em tempo real [OneDollarGlasses]. Dessa forma, após o diagnóstico de miopia ou astigmatismo feito pelo médico, o paciente já recebia seu óculos personalizado e gratuitamente. Foram entregues mais de 350 unidades”, relembra o médico. “Outro momento marcante foi visitar o poço de coleta de água da população de Batemaré. Um barreiro frequentado por porcos e cabras, onde pude conversar com o sertanejo ‘Seu Zé’, que pegava água na sua ‘carroça-pipa’. Ele me contou da seca e da não ocorrência de outra fonte de água mais limpa. Não ter água de qualidade para beber é principal causa de mortalidade no mundo atualmente”, lamenta.
“A GRATIDÃO QUE ERA NÍTIDA NOS OLHOS DAQUELE POVO SOFRIDO NOS RECOMPENSAVA”Segundo Alexandre Naime, a oportunidade de poder ajudar as pessoas carentes de maneira tão efetiva foi muito motivadora. “A experiência de poder mudar a vida das pessoas muito necessitadas, mesmo que seja com um pequeno gesto e por um curto momento, não tem preço. A gratidão que era nítida nos olhos daquele povo sofrido nos recompensava a cada momento, e já nos motiva a organizar a próxima missão”.Ele finaliza apontando a importância de todos os envolvidos na missão. “O grupo formado se mostrou muito especial, desde o primeiro dia. Centenas de quilômetros rodados, muitas caixas e equipamentos pesados, sol escaldante, calor, poeira, falta de água e banho por dias se tornaram apenas histórias engraçadas graças ao foco e dedicação em dar nosso melhor para a gente tão sofrida, mas também tão querida do sertão”.
Os médicos Karina Oliani e Alexandre Naime Barbosa medicam criança com impetigo (infecção bacteriana)
Equipe de saúde que atuou na missão
O infectologista Alexandre Naime realiza atendimento médico na sala de uma escola
Fila de espera para consultas, em Batemaré
Seu Zé se prepara para encher sua carroça-pipa. “Ele me contou da seca e da não ocorrência de outra fonte de água mais limpa”, afirma Naime
ANDREI POLESSI