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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
VALMIR MATIAZZI
MÍDIA JORNALÍSTICA ONLINE:
APROPRIAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO NA SALA DE AULA
VITÓRIA
2010
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VALMIR MATIAZZI
MÍDIA JORNALÍSTICA ONLINE:
APROPRIAÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO NA SALA DE AULA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação, na linha de pesquisa Educação e Linguagens. Orientadora: Profª Drª Moema Martins Rebouças
VITÓRIA 2010
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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Matiazzi, Valmir, 1972- M433m Mídia jornalística online : apropriação e ressignificação na
sala de aula / Valmir Matiazzi. – 2010. 197 f. : il. Orientadora: Moema Lúcia Martins Rebouças. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito
Santo, Centro de Educação. 1. Inovações educacionais. 2. Educação. 3. Mídia digital. 4.
Jornalismo eletrônico. 5. Linguagem. 6. Semiótica. 7. Inovações tecnológicas. I. Rebouças, Moema Lúcia Martins. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Educação. III. Título.
CDU: 37
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Entrego para minha esposa, amiga e companheira de todas as horas, Andréia Lins, esta epopéia dissertativa que se tornou um pequeno pedaço de mim; para meu filho Lorenzo que me impulsiona a buscar vida nova a cada instante; para meus pais Djaime e Lourdes pelo amor e dedicação de toda uma vida; para meus quatro irmãos que me proporcionam um mundo repleto de sentidos; para meu sogro Octávio, minha sogra Marly e minha cunhada Aléxia pelo carinho e incentivo; para os professores e colegas do PPGE pelas reflexões compartilhadas; para os amigos pela alegria do cotidiano; para os meus antepassados que deixaram a Itália e cruzaram o Atlântico para desbravar uma nova terra e fincar raízes. Motivo de minha existência.
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AGRADECIMENTOS
À professora Doutora Moema Martins Rebouças, minha orientadora, pela paciência,
entusiasmo, dedicação e confiança depositada em mim. Mais uma vez, muito
obrigado por me possibilitar a realização do sonho que é esta dissertação.
Aos professores Doutores César Cola e Hiran Pinel pelas boas reflexões
compartilhadas em sala de aula. Momentos agradáveis na busca do saber.
À professora Doutora Iluska Coutinho que prontamente aceitou meu convite para
participar da banca de defesa. Amiga dos tempos de Escola Técnica. Minha
Professora na Faculdade de Jornalismo. Caminhos que se cruzam.
Aos professores e professoras do Curso de Mestrado em Educação do PPGE.
Aos Funcionários do PPGE pelo carinho e atenção.
À Diretoria da Escola Monteiro Lobato. E, em especial, a Carmem Faria e Graciela
Schuwartz por permitirem o acompanhamento das aulas no laboratório de
informática.
Aos estudantes da sexta série A da Escola Monteiro Lobato. Sem eles nada teria
acontecido.
À paciência de minha família.
À paciência e ao carinho dos amigos, em especial, ao casal Gladson e Eliana.
À Marilene Mattos, coordenadora do curso de comunicação social da FAESA, pelas
palavras de incentivo e pelo “puxão de orelhão” num momento de angústia durante a
dissertação.
Aos que cruzei pelas estradas da vida e que me trouxeram a este caminho.
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Mundo
O mundo é pequeno pra caramba Tem alemão, italiano, italiana O mundo, filé à milaneza tem coreano, japones, japoneza O mundo é uma salada russa tem nego da Persia, tem nego da Prussia O mundo é uma esfiha de carne tem nego do Zâmbia, tem nego do Zaire O mundo é azul lá de cima O mundo é vermelho na China O mundo tá muito gripado Açucar é doce, o sal é salgado O mundo - caquinho de vidro - tá cego do olho, tá surdo do ouvido O mundo tá muito doente O homem que mata, o homem que mente Por que voce me trata mal se eu te trato bem? Por que você me faz o mal se eu só te faço bem? Todos somos filhos de Deus Só não falamos as mesmas linguas
Zeca Baleiro
Carta
Que coisa entendeis por uma nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa pátria? Mas é uma pátria a terra em que não se consegue viver do próprio trabalho? (resposta de um italiano a um Ministro de Estado da Itália, a propósito das razões que estavam ditando a imigração em massa para o Brasil no final do século XIX)
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RESUMO
Esta dissertação pertence à linha de Educação e Linguagens do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A
dissertação teve o objetivo de investigar como as informações mediadas pela
linguagem da mídia informativa online são apropriadas e ressignificadas para a
consecução da aprendizagem dentro da sala da aula. E, ainda, pesquisar como se
desenvolve o relacionamento entre aluno, nova tecnologia e educador. A pesquisa
ficou dividida em quatro eixos centrais: Reflexões sobre as novas tecnologias e a
sociedade; a educação e sala de aula; o jornalismo, a informação e a mídia online; e
a semiótica discursiva como análise dos discursos produzidos. Para tanto ao longo
do texto dissertativo foram usados aportes teóricos nos quais se destacam: Castells,
Fiorin, Paulo Freire, Greimas, Landowski, Lèvy, Orozco, Tedesco. A pesquisa
empírica foi desenvolvida na Escola de ensino fundamental Monteiro Lobato, mais
precisamente com 22 alunos da sexta série A. O estudo utilizou uma pesquisa
qualitativa-quantitativa com a coleta de dados por meio de questionários e a
utilização de um grupo focal com os alunos. Foi feito também entrevistas com as
professoras responsáveis pelo laboratório de informática. O pesquisador esteve In
Loco no laboratório de informática para acompanhar o desenvolvimento dos projetos
realizados pelos alunos com o auxílio do computador.
Palavras-chave: Novas Tecnologias, Ressignificação, Mídia Jornalística Online,
Linguagem, Semiótica e Educação
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ABSTRACT
It’s objective was to investigate how the information mediated for the language
from informative online media are appropriated and ment to achieve
knowledge in the class-room. And to research how has developed the
relationship between students, new technology and teacher. The research was
divided in four central axles: reflections on the new technologies and the
society; the education and classroom; the journalism, the information and the
media online; e the discursive semiotics as resource to analyze the produced
speeches. For throughout the text was used theorical as: Castells, Fiorin,
Paulo Freire, Greimas, Landowski, Lèvy, Orozco, Tedesco. The empirical
research was developed in Basic Education School Monteiro Lobato, more
precisely with 22 students from sixth grade. This study is a qualitative-
quantitative research. The data was collected by questionnaires and focal
groups with the students. It was also made interviews with the responsible
teachers for the computer science laboratory. The researcher was In Loco, in
the laboratory of computer science, to follow the development of the projects
carried by the students with the computer assistance.
Key-Words: New Technologies, Resignification, Online Journalistic Media,
Language, Semiotics and Education
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LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E IMAGENS
Gráficos
Gráfico 01 – Ler Jornais e revistas na Internet............................................. 38
Tabelas
Tabela 01 - Você tem computador em casa............................................... 35
Tabela 02 - Qual local acessa a Internet.................................................... 36
Tabela 03 - Tempo que fica online por dia................................................. 37
Tabela 04 - Qual desses meios de comunicação você gosta mais............ 38
Desenhos e Fotografias
Imagem 01 – Home do site Saudeanimal...................................................... 119
Imagem 02 – Home do site Saudeanimal...................................................... 119
Imagem 03 – Joaninha – Fotojornalismo....................................................... 120
Imagem 04 – Desenho do escorpião e a água.............................................. 127
Imagem 05 – Desenho do escorpião e a água.............................................. 127
Imagem 06 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste................ 128
Imagem 07 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste................ 128
Imagem 08 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste................ 128
Imagem 09 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste................ 128
Imagem 10 – Desenho da personagem Luisa e a natureza.......................... 137
Imagem 11 – Desenho da personagem Luisa e a natureza.......................... 137
Imagem 12 – Desenho do Geógrafo Antônio e o Cacto................................ 138
Imagem 13 – Desenho do Escorpião e a água............................................. 138
10
Imagem 14 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste............... 139
Imagem 15 – Desenho de Lucas e o rio secando......................................... 139
Imagem 16 – Desenho da Floresta e a joaninha........................................... 140
Imagem 17 – Desenho da Floresta e a joaninha........................................... 140
Imagem 18 – Desenho do leão na África....................................................... 140
Imagem 19 – Pirâmide do Egito – Fotojornalismo......................................... 146
Imagem 20 – Escorpião – Fotojornalismo..................................................... 146
Imagem 21 – Desenho do Escorpião e a água.............................................. 146
Imagem 22 – Desenho do Escorpião e a água.............................................. 146
Imagem 23 – Desenho do leão na África....................................................... 151
Imagem 24 – Desenho da personagem Luisa e a natureza.......................... 151
Imagem 25 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste................ 151
Imagem 26 – Desenho da Floresta e a joaninha........................................... 151
Imagem 27 – Mostra de cores no software MicroMundos............................. 152
Imagem 28 – Desenho do Geógrafo Antônio e o Cacto............................... 154
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA .................... ........................ 20
1.1 METODOLOGIA..................................................................................... 27
1.2 APRESENTAÇÃO DO CAMPO PESQUISADO..................................... 31
2 A ESTRADA DO FUTURO: EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS 39
2.1 RESGATE HISTÓRICO RUMO À CIBERCULTURA............................. 56
2.2 A ALDEIA GLOBAL DA INFORMAÇÃO................................................. 66
2.3 ESTRATÉGIAS DA NOTÍCIA................................................................. 82
3 EDUCOMUNICAÇÃO: VELHOS E NOVOS HORIZONTES ....... ......... 92
3.1 EDUCAÇÃO E CIDADANIA: BUSCA HISTÓRICA E PERSPECTIVA FREIREANA...........................................................................................
101
4 A RESSIGNIFICAÇÃO DO COTIDIANO MEDIADO PELO AMBIENTE VIRTUAL .................................. ........................................
118
4.1 A DINÂMICA DA SALA.......................................................................... 132
4.2 ANÁLISES DAS IMAGENS.................................................................... 141
4.3 ANÁLISE DAS CORES.......................................................................... 149
4.4 UMA VIA INTERDISCIPLINAR E TRANSDISCIPLINAR....................... 153
4.5 RELAÇÃO COMPUTADOR/ALUNO/PROFESSOR NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA......................................................
159
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... .................................... 164
REFERÊNCIAS...................................................................................... 172
APÊNDICE .......................................................................................... 181
APÊNDICE A - Entrevista com Carmem Faria Santos, Co nsultora de informática da Escola Monteiro Lobato........... ............................
182
APÊNDICE B - Entrevista com Graciela Alessandra Sch uwartz, professora e coordenadora de informática da Escola Monteiro Lobato............................................. ......................................................
185
APÊNDICE C - Grupo Focal com os alunos da sexta sér ie.............. 187
APÊNDICE D - Entrevista com o jornalista e especial ista em jornalismo online, Renato Costa Neto............... ................................
190
APÊNDICE E – Questionário.......................... ..................................... 192
APÊNDICE F – Gráficos.............................. ......................................... 194
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INTRODUÇÃO
Ao começar essa dissertação senti a necessidade de me apresentar. Sou sujeito
participante da história. Sou filho de migrantes rurais, descendentes de imigrantes
italianos, que vieram para o Espírito Santo para serem colonos das terras do distrito
de Demétrio Ribeiro, em João Neiva, – terra de relevo íngreme, com quase nenhum
recurso natural e infra-estrutura social – local de onde meus pais saíram para tentar
a vida em Vitória, em 1959, com pouca instrução, dois filhos nascidos e recursos
minguados.
Nascido em Vitória, caçula de cinco irmãos, filho de borracheiro e costureira, cujo
legado maior foi ter conseguido que todos seus filhos pudessem estudar e conseguir
o diploma de formação-técnica, para ter uma profissão, que nos possibilitasse
construir nossas vidas e famílias, com emprego ‘garantido’.
Precisando de uma formação tecnicista, para auxiliar no orçamento da família, entrei
na Escola Técnica Federal do Espírito Santo (ETEFES), em 1987, para estudar
Eletroeletrônica. Num ambiente diferente do ensino fundamental, na ETEFES pude
sentir bem de perto as questões das diferenças das classes sociais.
Na ETFES as aulas teóricas eram sempre acompanhadas de uma prática, o que
facilitava a aprendizagem. Logo, comecei a me encontrar e a gostar das novas
tecnologias. E foi na ETEFES, ainda, aos 18 anos, conheci o lado educador pela
primeira vez ao entrar numa sala de curso pré-técnico para ministrar, gratuitamente,
aulas de matemática para estudantes oriundos das famílias de baixa-renda. Um
mundo novo parecia se abrir à minha frente. Uma experiência valiosa no lado
humano, pois naquele momento estava sendo um diferencial na vida de muitos
daqueles adolescentes iguais a mim. O universo da Educação começa a ganhar
contornos em minha vida.
O caminho parecia estar aberto. Anos depois, trabalhando em escalas e turnos,
retomei os estudos para o vestibular com os livros e apostilas que estivessem à
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disposição. Ingressei no curso de Comunicação Social de Jornalismo da FAESA em
1996.
No ano de 1998, com o “boom” da Internet comercial no Brasil comecei a me
interessar pelas novas tecnologias de comunicação e suas aplicações sociais. No
ambiente da faculdade de Comunicação Social - Jornalismo, tive a oportunidade de
ter maior contato com a Internet e entender a sua utilização como novo meio de
comunicação no mundo globalizado.
Descobri que o jornalismo era uma paixão antiga, mas escondida. Guardado na
reminiscência de minha vida, recordei do tempo que vendia jornal na Praça de
Goiabeiras. Deliciava-me ler os jornais, principalmente a parte esportiva. Acredito no
jornalismo ético, que é um instrumento de transformação social. Resolvi investir na
profissão e nela continuo até hoje.
Ao final do curso, em 2000, procurei desenvolver um projeto de conclusão de curso,
aliando a democratização, às novas tecnologias e aos meios de comunicação.
Desenvolvi um site com informações direcionadas para os deficientes auditivos – “O
universo do deficiente auditivo na Internet: efetivando o direito à informação”. O
objetivo era democratizar a informação e possibilitar uma “voz” a esse grupo.
Busquei, ainda, em 2000, a especialização (Lato Sensu) para avançar nas reflexões
teóricas sobre a comunicação social e suas vertentes e também para me posicionar
melhor no mercado de trabalho. Na especialização procurei manter os estudos
voltados para as novas tecnologias de comunicação e direcionei a pesquisa para
entender o jornalismo capixaba produzido na Internet. Com o tema “Jornalismo
Capixaba Instantâneo e a Internet: Transformações e Estratégias” consegui avançar
no entendimento das novas tecnologias na sociedade.
No ano de 2003, fui convidado a participar do processo seletivo para contratação de
um educador para o curso de Jornalismo do Centro Universitário Vila Velha (UVV).
Ao final do processo fui aprovado. Lecionei várias disciplinas no curso de jornalismo
e coordenei atividades laboratoriais: o Jornal Laboratório e o Jornal Mural do curso
de Comunicação Social. Trabalhei, ainda, como Educador Orientador da equipe de
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produção do canal Universitário de Televisão UNITV. Atualmente, na UVV, leciono
para os cursos de Marketing, Gestão de Vendas e Gestão Empresarial. Sempre
buscando novas oportunidades, fui contratado no ano de 2008 para lecionar no
curso de Comunicação Social da Faesa. Na instituição, ministro aulas para os cursos
de Publicidade e Propaganda, Jornalismo e RTV.
Neste cenário de dificuldades e possibilidades percebi que a necessidade de
mudanças e transformações sociais é fato que se vivencia cotidianamente. Como
educador não poderia ser diferente. O desejo de atualizar o meu conhecimento e
reinventar minhas práticas na educação é real. Mas, há barreiras, tais como o
método de ensino tradicional instituído e que dominam as instituições de ensino –
educador fala e aluno escuta. Elas só são rompidas lentamente, quando se
reformulam os processos educativos de ensino, aprendizagem e gestão. E é por
essa via, a investigação de processos educativos, que esta pesquisa se pauta.
Pensando nesse viés é possível aliar um novo canal da comunicação de massa
formado no ambiente virtual para o aprendizado dentro da sala de aula. A
característica de pesquisa hipermidiática, possibilitada pelas novas mídias,
descentraliza a informação, permite ao aluno selecionar e fazer as conexões1
intertextuais e hipertextuais, adequando-as à sua necessidade de leitura de mundo.
Nesta nova relação interativa entre mídia e educação é possível que os meios
massivos de comunicação retornem às comunidades e sujeitos nelas inscritos o
acesso à comparação de diversas realidades, proporcionando ações reflexivas
dentro e fora da escola.
1 Quando falamos em conexões intertextuais e hipertextuais, queremos dizer que o usuário poderá frente às novas mídias digitais ou mídias interativas como define DIZARD (1998) ter certa liberdade de ação em frente a um roteiro de conteúdos propostos com personalização de interfaces gráficas, garantindo acessibilidade individualizada a informações diversas. O usuário participa, portanto, da redação do texto que lê. Tudo se dá como se o autor de um hipertexto oferece uma matriz de textos potenciais e os usuários “navegam”, cada qual à sua maneira, utilizando as combinações desejadas. Desta maneira as relações dialógicas são estabelecidas por algum mecanismo de link eletrônico da ordem hipertextual. A hipertextualidade pode ser definida como uma instância dialógica do enunciado distinta e específica contribuindo a intertextualidade. A intertextualidade, neste caso, é caracterizada pela não linearidade, a não seqüencialidade da leitura do texto, enfim, a dispersão textual. A leitura linear é substituída por uma leitura em correlações na qual o ponto de partida nada mais é do que o ponto de intersecção provindo de múltiplos horizontes. As conexões intertextuais poderão ser realizadas a partir da seleção da informação feita pelo usuário dentro do próprio texto quando ativamos o hipertexto. Surge, então, uma multiplicidade de textos que se intercomunicam e que vão despertar ou não interesse pela ampliação da informação. O capítulo aldeia global da informação desta dissertação faz melhores reflexões sobre as questões intertextuais e hipertextuais.
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Ao relacionamento dessas áreas denomina-se: educomunicação, que pode ser
definida como “área de investigação que permeia dois territórios de saberes
precisamente demarcados em uma visível confluência: a comunicação e a
educação” Córdoba (2002, p. 5).
Essas duas áreas, a comunicação e educação, se complementam e podem ser úteis
no processo de mudanças sociais. Ismar de Oliveira Soares define educomunicação
de forma abrangente.
Educomunicação é o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais (tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos, centros produtores de materiais educativos e analógicos e digitais, centros coordenadores de educação a distância, e outros), assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem. (SOARES, 2002, p. 14).
Já Schaun (2002, p. 82-3) ressalta a importância da educomunicação para as
relações sociais. O autor acredita na transformação do ser humano e no meio em
que vive, na descoberta de novos caminhos para a resolver problemas e, também,
na criação inovadora de olhares diferenciados sobre o cotidiano.
A linguagem dos veículos de comunicação de massa pode participar do processo
educativo, principalmente no ambiente virtual, apoiando o ensino como mediador na
aprendizagem e na inclusão social.
Os meios de comunicação de massa – rádio, televisão, jornal.... – permitem, em escala jamais sonhadas nos séculos passados, a democratização do saber, do entretenimento, da informação... Graças a eles, milhões de pessoas podem ler, ver e ouvir o que há pouco tempo era privilégio de uma diminuta elite. (NETTO, 1976, p. 124).
Sendo assim, a mídia digital online2 guarda uma grande quantidade de informações,
integrando som, texto e imagem. Isso só é permitido graças ao avanço da tecnologia
da informática. O acesso mais rápido às informações e a grande quantidade de
dados guardados na rede fazem com que o conhecimento seja distribuído. Como
efeito o domínio do saber não será mais estático, mas em constantes mudanças.
2 Devido às formas de grafias diferentes da palavra (on line, on-line e online) nas literaturas, resolvi utilizar ao longo do texto a grafia online para a padronização.
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Com as mudanças geradas, o sistema educacional deverá mudar para poder
acompanhar as próprias mudanças inerentes aos seres humanos.
Diante dessas perspectivas, pode-se observar que o meio, Internet, na escola
poderá despertar a procura e o interesse ainda maior dos usuários, que vão buscar
a informação desejada, seja ela qual for. E nesse cenário as publicações digitais
informativas de caráter jornalístico poderão assumir o papel de mediador no
processo de aprendizagem entre o conteúdo proposto pelo educador e as buscas
pessoais dos alunos.
A tecnologia é inserida nesse contexto educacional como um agente facilitador do
processo. A mesma tecnologia que muda os meios de comunicação de massa,
paralelamente, modifica os meios de ensino dentro da escola.
Nesse contexto, é possível definir tecnologia, simplesmente, como sendo mais do
que uma invenção, mais do que máquinas. É um processo e uma maneira de
pensar.
A tecnologia educacional é, fundamentalmente, a relação entre tecnologia e a educação, que se concretiza em conjunto dinâmico e aberto de princípios e processos de ação educativa, resultantes da aplicação do conhecimento cientifico e organizado à solução ou encaminhamento de soluções para problemas educacionais. (NISKIER, 1993, p. 15)
As novas tecnologias de comunicação trazem consigo sempre uma revolução dentro
da sociedade. A comunicação torna-se, cada vez mais eficaz, passando da era do
telefone para o rádio, do rádio para a televisão, da televisão para a informática e
assim por diante. Ao refletir sobre tecnologia é difícil definir os limites de seu uso, de
sua apropriação na sociedade, pois a evolução tecnológica provoca mudanças nas
práticas culturais, modificando as estruturas e os projetos sociais.
A aparição e o uso de novas tecnologias geram alterações na forma de comunicar,
pensar, expressar e também na percepção dos sentidos dos humanos. Com isso a
comunicação age não diretamente sobre o comportamento, mas sobre os sistemas
de conhecimentos dos indivíduos, modificando, assim, a percepção de mundo.
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Cada inovação tecnológica modifica os valores, hábitos e costumes, estabelecendo
novos padrões de realidade cada vez mais exigentes no que diz respeito à utilização
de novas tecnologias. Nascem como uma crença e são, para muitos, uma ideologia
salvacionista. André Parente relaciona também as novas tecnologias com a
formação da sociedade em que ela vai estar inserida. “Cada tecnologia suscita
questões relacionadas à sua consistência enunciativa especifica que, em última
instância, se articula com a produção cultural de uma sociedade num determinado
momento”. (PARENTE, 1999, p. 64).
Diante de todo o contexto apresentado, o tema “Mídia jornalística online: apropriação
e ressignificação na sala de aula” foi pensado a partir do problema: “Como os alunos
se apropriam e resignificam as informações do cotidiano veiculadas na mídia
informativa online, mediadas pela linguagem jornalística no ambiente virtual para a
consecução da aprendizagem na sala de aula?”
O projeto tem como objetivo investigar como as informações mediadas pela
linguagem da mídia informativa online são apropriadas e ressignificadas para a
consecução da aprendizagem dentro da sala da aula. E, ainda, pesquisar como se
desenvolve o relacionamento entre aluno, nova tecnologia e educador.
As reflexões sobre o tema estão organizadas em quatro capítulos. No estudo poderá
ser observado um ecletismo consciente para a construção da pesquisa. Utiliza-se
diversos autores para o aprofundamento das discussões.
No primeiro capítulo apresento a contextualização do problema, a metodologia e a
apresentação do campo pesquisado (a escola e os sujeitos).
Já no segundo capítulo ficou dividido em quatro sub-partes. Na primeira “A estrada
do futuro: educação e novas tecnologias”, as reflexões propostas justificam-se pelo
principio de que a técnica ocupa espaço na vida dos seres humanos e integra, cada
vez mais, o mundo social, no qual se tecem as relações coletivas da sociedade. A
educação também sofre influência das técnicas, pois necessita a cada instante de
instrumentos para facilitar o processo de ensino-aprendizagem.
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A mídia online, união das tecnologias de comunicação e informação, poderá ser
utilizada nesse contexto educacional para servir de mediador, entre o aluno e o
educador, e de facilitador da troca de saberes. Para alguns teóricos as novas
tecnologias são idealizadas como forma de salvação para todos os problemas.
A partir desse princípio, a ideia de discussão fará também um contraponto com uma
crítica às novas tecnologias. É necessário que haja a reflexão sobre as novas
tecnologias, pois defendo que sejam consideradas como elementos mediadores
para a construção de uma nova representação da sociedade e não como uma
construção salvacionista de todos os problemas sociais.
O “Resgate histórico rumo à Cibercultura” busca contextualizar a educação e a
sociedade em cada época a partir da introdução dos computadores no universo da
sala de aula. Com o desenvolvimento da tecnologia de comunicação e de
informação (Internet) é formada uma nova cultura, a Cibercultura. Neste novo
ambiente, a informação e o conhecimento estão em constante atualização. O tempo
e o espaço já não representam barreiras. E o indivíduo dessa nova cultura
cibernética (cibercultura) torna-se imediatista e construtor do próprio roteiro na busca
do conhecimento.
Já a “A aldeia global” da informação descreve a Internet e suas multifaces.
Discutiremos como a Internet se localiza no mundo atual, as suas diferenciações dos
outros meios de comunicação, como a educação poderá ser utilizada nesse contexto
e, ainda, algumas oportunidades e utilidades que a sociedade poderá encontrar na
Internet. Uma parte mais técnica será também referenciada nas reflexões sobre o
virtual e o hipertexto. Ainda é refletido o desenvolvimento do ambiente midiático na
sociedade e sua utilização na educação.
A quarta sub-parte é diretamente ligada à produção da informação: Estratégias da
notícia. Nessa parte há uma contextualização da noticibilidade e das teorias
aplicadas ao jornalismo (agenda setting, newsmaking e objetividade) para a
“construção” do produto jornalístico. E, ainda, como acontece a persuasão ao
usuário do meio de comunicação de massa via a notícia.
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No capítulo três, “Educomunicação: velhos e novos horizontes” é o tema proposto
para as reflexões. A proposta é discutirmos as inter-relações entre os campos da
comunicação e da educação. A proposta do texto é apresentar e refletir a
importância dos meios de comunicação na sala de aula, uma vez que os veículos de
comunicação influenciam diariamente no cotidiano das pessoas. A chamada
educomunicação é um método de ensino que, se bem aplicado, oferece condições
para que os educadores e alunos da escola possam agir, fazer, refletir e pensar uma
educação diferente dentro da sala de aula.
O capítulo apresenta ainda a “Educação e cidadania: busca histórica e perspectiva
Freireana” que faz uma crítica à função da escola e à função da educação no
contexto em que estão inseridas na sociedade vigente: libertação ou dominação. As
reflexões serão, ainda, contextualizadas a partir de Paulo Freire sobre a escola e a
aplicação das novas tecnologias (mídia online) dentro das salas de aula e de que
forma poderá contribuir para a formação de um ser humano autônomo e livre.
No capítulo quatro, a ideia é apresentar reflexões sobre a ressignificação do
cotidiano mediado pelo ambiente virtual. Para tanto começamos com uma análise
dos sites visitados pelos alunos na internet no momento da busca das informações.
E, também, porque o site visitados pelos alunos pode ser considerado uma mídia
jornalística online (revista e jornal). Em seguida, apresentamos e debatemos como é
a dinâmica da sala de aula (Laboratório de informática). Num terceiro e quarto
momento, é feito uma análise do caminho de construção das imagens produzidas
pelos alunos dentro dos projetos. A quinta sub-parte do capítulo discute as questões
interdisciplinar e transdisciplinar do projeto. Já a última parte tem o objetivo de
contextualizar a relação aluno, nova tecnologia e professor.
20
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
O ser humano tornou-se diferente dos outros animais pela sua capacidade de criar
soluções para quaisquer problemas que o ameace na sobrevivência ou,
simplesmente, para melhorar as condições de vida. A essa capacidade se deu o
nome de técnica. “A técnica é uma habilidade humana de desenvolver, fabricar,
construir e utilizar instrumentos e objetos das mais variadas formas.” (MONTEIRO,
1998, p. 17).
As reflexões sobre a utilização de técnicas percorrem mais enfaticamente pelo
século XX. Recorro aos pensadores Adorno e Horkheimer para entender o processo
de advento das tecnologias (técnicas) na sociedade. Tecnologia essa, que Adorno e
Horkheimer denunciam como um instrumento de dominação do próprio homem. Por
isso não devem ser aplaudidas e nem contestadas, mas analisadas racionalmente.
O terreno na qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação. Ela é o caráter compulsivo da sociedade alienada em si mesma. (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 114).
É possível, segundo os teóricos de Frankfurt, afirmar, que por trás das técnicas
agem ideias, projetos sociais, interesses econômicos e estratégias de poder. Assim,
dar um único sentido ao uso da técnica corre-se o erro de cair numa dubiedade.
Tedesco (2002, p. 59-60) percebe algo mais que Adorno e Horkheimer. Para o
teórico são as tecnologias que provocam as mudanças na sociedade. Porém,
explicita que, em verdade, a evolução das tecnologias responde, simplesmente, às
exigências das relações sociais. Para explicar deixa o exemplo: “Não foi a imprensa
que determinou a democratização da leitura, mas é a necessidade de democratizar a
cultura que explica a invenção da imprensa” (TEDESCO, 2002, p 59). Do ponto de
vista de Tedesco, é possível sustentar que a evolução das tecnologias responde
tanto às exigências do individualismo crescente da sociedade, como as exigências
da integração social.
21
Sabe-se que o texto jornalístico não está imune a esse fato. Os veículos de
comunicação, hoje, os grandes distribuidores de informação, estão vinculados a
interesses ideológicos. É importante que esse fato seja apontado. Sendo os meios
de comunicação os principais veículos de informação, seriam eles importantes
fontes de pesquisa para os alunos? Poderiam ser fontes acadêmicas de consulta?
Nas últimas décadas a discussão sobre a presença da técnica na sociedade ganha
novas reflexões. Pierre Lèvy (1996, p.14-6), teórico contemporâneo, afirma que uma
técnica não é boa, nem ruim. Ela depende do contexto e de seu uso. Também não é
neutra, já que é condicionante ou restritiva.
Lèvy (1996, p. 14-16) diz que as técnicas são portadoras de projetos de implicações
sociais e culturais. A presença dela num determinado lugar e época cristaliza as
relações de forças entre os seres humanos. Ele cita a imprensa como um exemplo,
cujo uso das máquinas rotativas disponibilizou para a classe burguesa, que detinha
o capital econômico, o acesso ao capital cultural, do qual era desprovida.
O uso da técnica deve ser entendido dentro de um contexto que não exclui o homem
de sua responsabilidade social. Ela infiltra-se no universo social, composto por
unidades autônomas e em permanente construção. Há sempre uma necessidade de
capital (investimentos) para introduzi-la no mercado. A técnica não é autônoma,
servindo como um instrumento importante nas disputas travadas nos campos de
produção, à medida que certas tendências culturais e sociais não se desenvolvem
sem a presença dela.
O uso então define a técnica, materializada em objeto ou instrumento. Mesmo que
uma invenção se antecipe à necessidade do homem, ela precisa adaptar-se ao
indivíduo e, posteriormente, à sociedade para ser aceita e absorvida. A nova técnica
necessita de adequações e avaliações constantes para continuar inserida na
sociedade. O importante é avaliar o impacto das técnicas e abordar as situações em
que o uso das tecnologias afeta o homem. A técnica integra o mundo social na qual
se tecem as relações coletivas da sociedade, e, assim, é difícil separar o ser
humano do ambiente natural, das técnicas e das linguagens pelas quais dá sentido à
vida e ao mundo.
22
Castells (2000, p. 224) entende que a técnica não determina a sociedade.
Simplesmente é incorporada por ela. Mas a sociedade também não determina a
inovação da técnica. Simplesmente a utiliza.
Muitos Fatores, inclusive a criatividade e a iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta cientifica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo. (CASTELLS, 2000, p. 25)
A introdução da escrita, segundo Ferres (1995, p 8 e 9), impos o domínio e
reconhecimento dos códigos da linguagem escrita, o que trouxe a diminuição da
intensidade da vivência humana e permitiu a monopolização do saber. Criou
condições para o aparecimento das civilizações e como conseqüência tirou o
homem do “paraíso tribal”.
Assim, os novos meios de comunicação (tecnologia no ambiente virtual) apóiam a
tese de Mcluhan (1998, p. 21 a 38), que diz que os meios modificam e melhoram a
comunicação, e como conseqüência criam “uma avalanche” de informação que
acaba influenciando a percepção humana.
Nesse mundo diversificado de novas tecnologias cada uma influenciou sua época,
até chegar ao estágio das mudanças que estamos vivendo hoje. O ciberespaço,
conhecido também como a grande rede (WEB), é o meio de comunicação que surge
da interconexão mundial das redes de computadores. A cibercultura pode ser
definida como o conjunto de técnicas materiais e intelectuais de práticas, atitudes,
pensamentos e de valores que se desenvolvem com o crescimento do ciberespaço.
O termo especifica não apenas a infra-estrutura tecnológica da comunicação digital,
mas também um universo de informações que o abriga.
O ciberespaço é apresentado por Lèvy (1999, p. 17) como sendo o novo meio de
comunicação – Lèvy utiliza também “rede” para o termo ciberespaço – que surge da
interconexão mundial dos computadores. O termo especifica a infra-estrutura
material da comunicação digital e também todo o conjunto das informações que ele
abriga, assim como todos os seres humanos que utilizam e se alimentam desse
universo. O ciberespaço tende a constituir-se num novo espaço de sociabilidade, e
23
também gerar novas formas de relações sociais, com códigos e estruturas próprias,
adaptadas às novas condições de espaço e tempo.
Entretanto, a cibercultura não se superpõe às culturas preexistentes, nem as
aniquila. No lugar de divisões, estabelecem-se os nexos. É exatamente o que se
observa com a Internet, a adaptação a um tipo de comunicação que combina
modelos da imprensa escrita com a dinâmica do audiovisual.
Dentro desse paradigma tecnológico, o acesso mais rápido às informações e a
grande quantidade de dados guardados na rede fazem com que o conhecimento
deixe de ser estático, tornando-se dinâmico e em constantes mudanças.
A internet relançou um imaginário e a procura de estilos e de formas que exprimam a modernidade. Estas tecnologias são ao mesmo tempo veículos de outras formas de cultura e lugares e criação da cultura contemporânea. Se, por um lado, é indispensável não confundir nova cultura com nova tecnologia, por outro lado, pode-se no mínimo sublinhar que esse novo suporte facilita uma nova expressão cultural e linguagens ainda em gestão, embora seja ainda demasiado cedo para poder saber se, a prazo, representarão uma ruptura cultural relevante. (WOLTON, 2000, p. 79).
A informática, enquanto suporte de comunicação permitiu ampliar o número de
linguagens, a escrita deixou de ser única, permitiu construir uma variedade semiótica
mais vasta que engloba imagem, som, movimento e simulação, permitindo gerar
ambientes que estão a serviço do virtual.
Nesse contexto, a mídia online tem uma gama de características próprias e
inovadoras e que é capaz de proporcionar ao leitor uma gama de informações
ilimitadas, para permitir a ele a interatividade para determinar o caminho a ser
percorrido, selecionando assim as informações que lhes interessa.
Para o jornalismo e o sistema de informação, a Internet representa um desafio a ser encarado. As novas redes da comunicação modificam em profundidade a pesquisa, a produção e a difusão da informação. Desta forma ocorre no modo de pensar da sociedade uma metamorfose radical, cada vez mais acelerada com os avanços tecnológicos e com as possibilidades da informação instantânea. (BASTOS, 2000, p. 82).
Diante dos avanços tecnológicos e das novas formas de veiculação da informação, a
educação tem e terá um papel fundamental na sociedade do terceiro milênio. Será
pela educação que o homem terá condições de compreender e de se situar na
24
sociedade contemporânea, enquanto cidadão participante. E as novas tecnologias
devem ser compreendidas como elementos mediadores para a construção de uma
nova representação da sociedade.
Sendo assim, uma ruptura paradigmática da educação cartesiana poderá, de
maneira lenta, ser anunciada. As barreiras nessa nova percepção da educação aos
poucos deverão ser repensadas quanto às formas tradicionais do processo de
ensino-aprendizagem, da formação dos educadores, do currículo escolar, enfim, de
tudo e todos que formam o complexo sistema educacional.
Para o avanço dessa nova forma de educação, deverão, aos poucos, serem
estabelecidos novos padrões diferentes das formas tradicionais. Tajra (2002)
explica, então, que dentro desse modelo educacional mediado pelo virtual os
indivíduos poderão ser construtores do conhecimento.
O currículo é aberto e flexível, podendo ser sugerido e constituído pelos diversos participantes. Assim sendo, o paradigma educacional deverá atender às necessidades de uma sociedade fundamentada no conhecimento, na geração autônoma de oportunidades e nos cenários atuais da ciência. (TAJRA, 2002, p. 42).
Para que essa proposta se realize são necessárias muitas conquistas e uma delas
envolve a introdução dos computadores na escola. Maria Cândida Moraes (1997, p.
10) explicita que o computador é um recurso facilitador do processo de
aprendizagem para os alunos. Refletindo o pensamento de Moraes, Daísa Teixeira
(2001, p. 18) descreve que o computador não é somente uma máquina. Ele pode ser
interpretado como uma ferramenta quando utilizado para explicitar o raciocínio do
aluno, o ajudando a refletir e analisar ideias, saberes e conceitos.
O computador possibilita oportunidades de aprendizagem, pois é uma ferramenta
capaz de desenvolver, segundo Valente (1997, p. 53), um ciclo que compreende um
processo de descrição, execução, reflexão e depuração, possibilitando trocas de
experiências entre alunos e educador para a promoção da aprendizagem e
construção do conhecimento.
25
Advogo que a educação deve ser repensada segundo as exigências do mundo
atual. Como linha condutora do pensamento em educação no Brasil, deve-se utilizar
o conceito vigente na lei-9.394/96 de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira
(LDB). “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais, nas organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais”.3
Na visão Freiriana (1980 e 1986), a educação precisa assumir seu verdadeiro papel
na formação da consciência crítica, disseminando a autonomia como valor central na
defesa de um projeto de cidadania moderno que promova a liberdade do homem.
Num pensamento libertador, a educação deve ser encarada com um instrumento
que possibilite ao indivíduo o conhecimento e o pensamento crítico. O objetivo é
possibilitar que o indivíduo conheça e pratique a cidadania plena, com a
interpretação do mundo que o cerca.
Paulo Freire (1967) discute a questão da educação para a busca da cidadania e dos
direitos humanos numa ótica libertadora. Nesse caso, a educação poderá ter um
papel decisivo no crescimento da cidadania e na formação da consciência da
dignidade do ser humano. A educação libertadora praticada por Freire vê o homem
como educando e como um agente da história. A educação não é tratada como uma
doação dos que julgam saber aos que se supõe que nada saibam. O educador não
pode ser a contradição do educando.
Na educação libertadora, o indivíduo cria uma relação de comunicação horizontal e
o diálogo é essencial para a construção da cidadania. Busca desenvolver a
consciência crítica inerente dos indivíduos. Por isso os indivíduos serão agentes de
transformação do mundo, que não tem uma realidade estática, pois está em
constantes transformações.
Educar é preparar o indivíduo para a liberdade. As pessoas tornam-se livres a partir
do momento que é concedido o direto de escolha. E só podem escolher quando
3 Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira – Lei 9.394/96.
26
conhecem alternativas. Sem informação não há alternativa e sem alternativa não há
liberdade. Assim nos ensina a concepção dialógica e libertadora de Freire.
27
1.1 METODOLOGIA
A pesquisa empírica terá uma busca de natureza qualitativa do objeto de estudo na
qual a investigação de campo consistirá na observação do comportamento dos
alunos perante as buscas de informação no ambiente virtual (revistas e jornais
digitais), e as mediações realizadas pelo educador nesta interação alunos/nova
tecnologia. Interessa-me apreender e analisar como os alunos se apropriam e
ressignificam as informações mediadas pela linguagem da mídia informativa online e
se nesse proceder interativo com a linguagem jornalística e com os fatos do
cotidiano publicados na mídia online informativa há aprendizado.
Os enunciados produzidos nessa interação entre alunos e educadores e entre estes
e a mídia informativa online serão analisados com o referencial da semiótica
discursiva. A opção por esta metodologia se dá pelo fato dela possibilitar a análise
de todos os enunciados/discursos numa relação sócio-histórica. Por isso, usar a
semiótica discursiva nos “projetos” produzidos pelos alunos, nas interações com os
computadores, é “tentar entender” o contexto social de produção de discursos que
ganham visibilidade na tela desses computadores a partir do momento em que eles
desenvolvem os projetos.
A palavra projeto é usada para relatar que os alunos da escola Monteiro Lobato
produzem atividades no laboratório de informática colocando em prática os
ensinamentos aprendidos em sala de aula. É realizado um projeto no universo
ambiente MicroMundos na qual o aluno deve montar uma história com o auxilio do
computador e dos conhecimentos adquiridos nas aulas das variadas disciplinas . A
ideia é analisar esse percurso de construção desse projeto.
Nesse proceder analítico o texto e a imagem produzidas pelos alunos são
considerados como objetos de significação. Num segundo movimento analítico, o
texto e a imagem são compreendidos como objetos de comunicação entre dois, ou
seja, é dito para alguém, e encontra seu lugar entre os objetos culturais inseridos na
28
sociedade e determinado por formações ideológicas. Portanto, a análise envolverá a
relação com o contexto sócio-histórico que o envolve e que lhe atribui sentido.
Esse entendimento de texto e imagem da semiótica discursiva será utilizado na
pesquisa, para compreender a produção de sentido a partir da análise dos
procedimentos que estruturam o objeto – de cada “projeto” produzido pelos alunos e
a inserção deles no contexto em que são produzidos.
Também se faz necessária a contextualização do campo, caracterizando a escola na
qual se desenvolveu a pesquisa. Para tanto, foram feitas entrevistas com os
educadores que estão diretamente ligados as questões digitais (laboratório de
informática), questionários com os alunos, análise dos projetos desenvolvidos pelos
alunos com as novas tecnologias, aplicação de grupo focal e a observação das
práticas de aula que se desenvolvem utilizando as novas tecnologias (mídia
informativa online.
O interesse está em analisar como acontecem os modos de interação. A primeira
tarefa é analisar como se dá a relação entre o aluno e o computador. Depois entre o
aluno, o computador e o educador. Para tanto foram feitas observações dessas
relações sem a interferência do pesquisador. Foi analisado, após seleção, as
revistas e jornais online que foram escolhidas pelos alunos para obter as
informações para o desenvolvimento do projeto. E, por fim, a análise dos projetos
desenvolvidos pelos alunos.
A pesquisa foi realizada com alunos da 6ª série do ensino fundamental numa escola
que esteja contemplada com laboratórios equipados com computadores em pleno
funcionamento, acesso a Internet e um projeto pedagógico que utiliza os recursos da
informática para a aprendizagem do aluno. Escolheu-se a instituição Escola Monteiro
Lobato, pois nela encontram-se educadores capacitados ao uso da informática,
projetos pedagógicos voltados para a utilização do computador e laboratório de
informática disponível para os alunos.
E, ainda, pela própria localização geográfica, está em Vitória, o que facilita a
pesquisa. Mesmo sabendo da importância de estudar o universo e a realidade do
29
ensino público, preferi não escolher nenhuma escola dessa rede. Os motivos são
vários e dentre eles podemos destacar: o tempo estipulado para concretizar a
pesquisa; as ameaças de greves constantes na rede pública de ensino do Espírito
Santo, o que poderia atrapalhar e até inviabilizar as investigações; a falta de
laboratórios na área de informática ou a existência de laboratórios, porém “lacrados”
para o uso do aluno; a falta de educadores capacitados para o uso da informática
nas escolas; a falta de projetos pedagógicos voltados para o uso da tecnologia de
informática; softwares defasados; e outros mais.
Vale ressaltar, ainda, que a maioria dos projetos desenvolvidos pelas escolas
envolvendo educação e informática é elaborado por grupos externos a própria
escola, o que sujeita os poucos educadores que se envolvem nesses projetos ao
papel de “discípulos” e receptores de conhecimentos alheios.
Antes de escolher a Escola Monteiro Lobato, levei o projeto a escolas públicas e
para minha surpresa as vozes não ecoaram dentro das escolas e não houve
aceitação. O projeto somente poderia ser desenvolvido nos finais de semana, com a
supervisão de voluntários e sem nenhuma participação de membros do colegiado
das escolas. Pude perceber, ainda, que o laboratório de informática estava fechado
no cadeado e quando utilizado era para os alunos usarem o programa de conversa
(MSN), o chat e jogar. Em virtude desses relatos, escolhi uma instituição particular
de ensino.
Desenvolvi a pesquisa em uma turma, com cerca de 22 alunos, na qual fiz
observações na sala de aula. Os sujeitos escolhidos, em observações iniciais, para a
pesquisa são jovens com idade entre 11 e 12 anos. A escolha por essa quantidade
de alunos permite que se faça um acompanhamento mais próximo do grupo, o que
facilita a aplicação dos instrumentos de coleta de dados que serão utilizados como
citados anteriormente.
Na fase de observação foram entrevistados alguns professores e aplicado
questionário aos alunos. Na abordagem utilizei a coleta qualitativa dos dados para
desenvolver uma análise teórica e compreender os fatos correlacionados no
contexto geral do tema proposto. As entrevistas e os questionários têm o objetivo de
30
verificar a viabilidade do uso da mídia informativa online como mediador e facilitador
da aprendizagem.
O pesquisador, durante a investigação, ficou presente na sala de aula com um diário
de bordo. A proposta foi registrar todos os eventos ocorridos na sala de aula, desde
reações físicas (risos, surpresas, falas, etc...) dos alunos diante de uma atividade
proposta pelos educadores até absorção e o desenvolvimento das ações sugeridas.
Também foi analisado o material produzido pelos alunos a partir das atividades
propostas. Ao final da pesquisa, os dados empíricos coletados foram analisados à
luz do referencial teórico proposto para este estudo.
31
1.2 APRESENTAÇÃO DO CAMPO PESQUISADO
A Escola Monteiro Lobato4, localizada em Vitória, capital do Espírito Santo, começou
a funcionar em 1969 com o nome Escolinha de Artes "O Pica-pau”. A escola surge
numa época em que o Estado reprimia qualquer forma de manifestação de ideias
libertarias. Mesmo assim, escolas surgem em todo o Brasil com o intuito de
possibilitar para as crianças um espaço no qual o pensamento possa ser produzido
livremente, sem que as ideias sejam cerceadas. O espaço aparece, principalmente,
sob a forma de Escolinhas de Arte, na qual a educação, de uma forma alternativa,
podia privilegiar a livre expressão como forma de comunicação e de documentação
da construção de personalidade.
A arte é uma linguagem. A forma da produção das crianças pode ser "lida" e explicada como dependente da maneira de comunicar. O efeito do processo de produzir reflete na própria produção como um meio de decodificar o que está inserido. 5
O sistema educacional proposto possibilita uma liberdade do pensamento e uma
construção do individuo autônomo, reflexivo e crítico. Anos depois a escola troca de
nome e passa a ser conhecida com Escola Monteiro Lobato. Com 40 anos, a escola
continua a manter os padrões iniciais na qualidade do ensino. Atualmente, oferece
4 José Bento Monteiro Lobato (18 de abril de 1882 a 04 de julho de 1948) natural de Taubaté, São Paulo. Desde criança já estava envolvido com a literatura e escrevia contos para os jornais do colégio Kennedy e Paulista. Anos mais tarde, já cursando a faculdade de Direito, dividia seu tempo com a arte de escrever e desenhar. Nessa fase da vida entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria. Lobato foi fazendeiro, jornalista, escritor e pintor. Os primeiros contos foram publicados no jornal “O Estado de São Paulo”. Seu livro “Urupês” foi publicado em 1918. Nesse livro está o personagem de sua criação: O Jeca Tatu. Passou a dedicar-se, então, à literatura infantil, podendo ser considerado o criador desse gênero no Brasil. Pelo muito que fez a literatura, a data do aniversário de nascimento foi batizado como o “Dia do Livro”. A obra de Lobato compreende 30 volumes, sendo 13 de assuntos gerais e 17 de literatura infantil. Lobato conseguiu criar um mundo novo, repleto de personagens, especialmente na literatura infantil. Criou tipos que tornaram célebres como D. Benta e Pedrinho. De sua grande obra, os mais conhecidos são: Nas Reinações de Narizinho; Viagem ao Céu e o Saci; Caçadas de Pedrinho e Hans Staden; História do Mundo para Crianças; Memórias da Emília e Peter Pan; Emília no País da Gramática e Aritmética da Emília; Geografia de Dona Benta; Serões de Dona Benta e Histórias das Invenções; D. Quixote para as Crianças; O Poço do Visconde; Histórias de Tia Nastácia; O Pica-pau Amarelo e a Reforma da Natureza; O Minotauro; Fábulas e Os Doze trabalhos de Hércules. Melhores informações sobre a vida e a obra de Moneiro Lobato podem ser adquiridas nos sites: www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/ monteirolobato.htm e www.lobato.globo.com 5 http://www.monteirolobatocems.com.br. Acesso em 16/03/2009.
32
educação desde a pré-escola até o 2º grau. A Monteiro Lobato destaca-se no
cenário capixaba pela renovação dos valores educacionais e, também, por ser a
primeira a implantar as ideias construtivistas no Estado.
Diante dos valores educacionais construídos pela Monteiro Lobato, escolheu-se a
escola para realizar a pesquisa empírica. A Escola oferece ainda:
• Ótimas condições para aliar a questão da mídia online e a educação. A sala
de informática tem vinte computadores disponíveis, softwares variados,
Internet e uma ótima infra-estrutura.
• Condições ideais para a pesquisa, pois a escola oferece um projeto
pedagógico concreto e mediado pelo uso da tecnologia (computador e
Internet).
• Educadores capacitados para lidar com a tecnologia de comunicação e
informação.
• Plano pedagógico que está “atrelado” à interdisciplinaridade e está
direcionado para formação do individuo livre, autônomo, cidadão e crítico.
• Localização privilegiada em Vitória, o que facilita qualquer pesquisa. E portas
abertas para desenvolver pesquisas educacionais. E garantias de cumprir um
cronograma, pois não há riscos de falta de aula.
Conhecendo a Escola, o plano pedagógico centrado no MicroMundos foi outro
atrativo para realizar a pesquisa. O MicroMundos é uma linguagem de programação
LOGO criada pelo matemático sul-africano Seymour Papert, que trabalhou com Jean
Piaget no início da década de 60.
O MicroMundos é uma ferramenta de autoria com capacidade de interatividade e
animação, que inclui uma versão moderna e avançada da linguagem de
programação “Logo” (linguagem de programação, acessível e muito próxima à
realidade, especialmente desenvolvida para utilização no processo de ensino)
33
tornando o processo de criação de um projeto escolar em uma experiência
verdadeiramente rica de aprendizado. Na linguagem “Logo” “a criança programa o
computador. E ao ensinar o computador a “pensar”, a criança embarca numa
exploração sobre a maneira como ela própria pensa. Pensar sobre modos de pensar
faz a criança tornar-se um epistemólogo”. (PAPERT, 1985, p. 35).
Portanto para Valente (1997, p. 57 a 60) a informática educativa no Brasil pode ser
definida de “Construcionismo de Papert”6, pois enfoca o individuo e a construção do
seu conhecimento e toda sua origem está no desenvolvimento e na difusão da
linguagem “logo”. Pode-se afirmar que a “Logo” foi a primeira linguagem
computacional desenvolvida para a educação.
O MicroMundos, então, fortalece o desenvolvimento de habilidades para que o aluno
encontre soluções para os problemas, e desenvolva o pensamento crítico e a
criatividade. O computador fornece resultados diante dos problemas propostos que é
utilizado pelo aprendiz como objeto de reflexão. Caso o resultado não for o
desejado, é preciso que o aluno depure e formule novas ideias por meio de reflexões
de novos conceitos.
O MicroMundos é um sistema aberto, de interface amigável e fácil interação e sua
principal característica é a de possibilitar ao aluno resolver situações-problema e
desafios em um ambiente de construção de projetos multimídia. O ambiente de
projetos MicroMundos permite interação com diversos objetos, possibilitando que
ações sejam executadas ao mesmo tempo.
A estrutura do MicroMundos possibilita a interação com o conhecimento dentro de
uma perspectiva construtivista e interacionista, caracterizando-o como um software
educacional metodologicamente adequado ao desenvolvimento de projetos
6 Podemos definir o construcionismo de Papert como a abordagem pela qual o aluno constrói, por meio do computador, o próprio conhecimento. Para Papert a construção do conhecimento acontece somente quando o aluno constrói um objeto de seu interesse. É o aprendizado por meio do fazer, o que acaba motivando o próprio aluno a buscar mais saber. Assim sendo, Papert afirma que o envolvimento afetivo torna a aprendizagem mais significativa. No caso do computador, Quando o aluno interage com o computador, ele utiliza conceitos que contribuem para o seu desenvolvimento intelectual. Informações mais detalhadas no livro “Máquina das Crianças”, Papert.
34
pedagógicos abrangendo todas as áreas de currículo escolar do ensino fundamental
e médio.
Num contato inicial com a coordenadora de informática da escola Monteiro Lobato
foi possível observar que o projeto MicroMundos é utilizado num modelo
interdisciplinar. Todas as disciplinas trabalham seus conteúdos temáticos dentro de
sala de aula e os alunos constroem o seu próprio projeto dentro de uma orientação e
de um tema no laboratório de informática. Diante das reflexões expostas sobre as
condições da escola e o plano pedagógico centrado no universo do MicroMundos,
ficou mais fácil desenvolver a pesquisa.
Já os sujeitos escolhidos, em observações iniciais, para a pesquisa são jovens com
idade entre 11 e 12 anos e que estão cursando a sexta série do ensino fundamental.
Jovens que já tem um contato mais próximo do mundo virtual e um acesso mais
amplo ao universo da informação. A escolha dos jovens parte dos conceitos da
Moratória Social defendida por Margulis (2001).
A juventude que é defendida por Margulis como sendo Juventudes. Para o teórico,
as juventudes têm um prazo que lhes permite gozar de uma menor exigência
enquanto completam sua instrução e alcançam sua maturidade social. Diante dessa
realidade, não adianta negar os meios de comunicação na escola ou nos lares. Eles
fazem parte do cotidiano para a formação e aprendizagem desses sujeitos.
Para Margulis (2001, p. 44) ser jovem depende de uma série de fatores: da idade, da
classe social, do gênero, entre outros. Isso significa que a juventude, como muitos
pensam, não é uma manifestação semelhante para todos aqueles que se encontram
na mesma faixa etária.
Em nossa busca na pesquisa, os sujeitos (a juventude pesquisada) pode usufruir de
menores exigências para ingressar na vida adulta. Não são “obrigados” a dividir o
tempo de estudo com o mercado de trabalho. Com isso tem mais tempo para os
estudos e o lazer. Esses jovens, por pertencerem a uma classe social elevada
economicamente, estão sempre na “mira” das mídias, que acabam sugerindo
padrões de símbolos e imagens a serem seguidos: vestir roupas da moda; ser uma
35
pessoa bonita, alegre, despreocupada, magra e saudável; vestir roupas da moda;
viver aventuras; estar longe do rigor cotidiano do trabalho; entre outros. Esses
jovens têm o poder de consumo.
Analisando, então, as respostas dos 21 questionários aplicados aos alunos,
podemos entender melhor a realidade dos sujeitos participantes da pesquisa. Doze
meninos e nove meninas responderam ao questionário. O questionário teve a
intenção de conhecer os sujeitos e a relação que eles têm com a nova tecnologia no
cotidiano. Com perguntas voltadas sobre a Internet e a participação desses alunos,
foi possível observar que a maioria é oriunda da classe social mais privilegiada
financeiramente. Vale ressaltar que a mensalidade para os alunos é de R$ 780,00.
Os outros alunos, que não pertencem a essa classe social normalmente são filhos
de funcionários da própria escola e por isso estudam gratuitamente.
Mesmo assim, a pesquisa revelou que todos os alunos têm pelo menos um
computador em casa. Desta maneira é possível evidenciar que todos estão de
alguma forma vivendo o mundo da informática. Então, ao perguntarmos se o aluno
tem computador em casa, cerca de 71% dos sujeitos tem dois ou mais de dois
computadores na residência.
Tabela 01 - Você tem computador em casa? Quantos?
Um Computador 6 29%
Dois Computadores 7 33%
mais de três Computadores 8 38%
Fonte: Questionário aplicado aos alunos
Isso vem confirmar que os sujeitos, alunos, neste cenário midiático e informatizado,
Tajra (2000, p. 29) é cercado de informações. A mídia a todo instante seja qual for o
meio, coloca a vida humana ciente dos acontecimentos em qualquer lugar do globo
terrestre. Faz vivenciar e sentir as notícias como se estivesse no próprio local
Inseridos no mundo virtual, esses sujeitos ao serem questionados se tem acesso à
Internet, 100% dos alunos responderam que sim. Em relação ao local de acesso, os
36
De que local você costuma acessar a Internet?
100%
0%
81%
19%
0%
de casa lan house escola casa de amigo outros. Quais?
alunos, 100% confirmaram que tem acesso à Internet na própria casa. Como a
pergunta possibilitava duas escolhas, a escola também foi local de acesso à Internet,
com 81%.
Tabela 02 – Qual local acessa a Internet?
Fonte: Questionário aplicado aos alunos
Como então fugir desse ambiente virtual. Hoje, ele faz parte do cotidiano dos alunos
e da sala de aula. Para Carlos Souza (2003, p. 89) a introdução do computador no
dia-a-dia da escola deve acontecer, porém de forma cautelosa e articulada, pois não
será a máquina, nem tão pouco as aplicações que vão melhorar o processo
pedagógico de aprendizagem. E sim o uso combinado com estratégias adequadas à
realidade dos sujeitos, levando em consideração as necessidades, a motivação, o
desenvolvimento cognitivo e o interesse.
Esses alunos estão em constante contato com a nova tecnologia (internet). Ao
questionar o tempo diário na Internet, 76% dos alunos ficam entre duas e mais de
quatro horas conectados. Isso vem provar que são sujeitos que fazem parte dessa
nova cultura midiatizada.
37
Tabela 03 - Tempo que fica online por dia?
menos de 1 hora 0 0% 1 hora 5 24% 2 hs. 9 43% 3 hs. 4 19% mais de 4 hs. 3 14%
Fonte: Questionário aplicado aos alunos
E esses sujeitos ainda escolheram a Internet como o meio de comunicação
preferido. O meio é “novo” e tem uma forte característica visual. Os alunos ao serem
questionados sobre qual a diferença da Internet para outros meios relataram:
“Na internet você pode ver o que quiser, na hora que quiser. Os outros você tem
que esperar de acordo com o que você quer saber”.
“Na internet e nas leituras você fica mais informado e nos outros você não recebe
a informação completa”
“Na internet posso saber mais coisas que nos outros”
“Na internet podemos pausar o vídeo e na TV não podemos”
“Na Internet dá para pesquisar, jogar e conversar”
Assim, nesse cenário virtual de interação e de eficácia, os sujeitos, 90%, colocaram
a Internet como principal meio de comunicação. A Televisão está na segunda
colocação com 67%. As duas mídias têm forte apelo visual, o que certamente
facilitou as escolhas e apontou os hábitos dos nossos sujeitos da pesquisa.
38
Tabela 04 - Qual desses meios de comunicação você g osta mais
Qual desses meios de comunicação você gosta mais? 1ª opção 2ª opção total % Internet 9 10 19 90% Televisão 6 8 14 67% Rádio 1 1 2 10% Jornal 0 0 0 0% Revista 1 2 3 14% Livro 4 0 4 19%
Fonte: Questionário aplicado aos alunos
Para minha surpresa, esses novos sujeitos têm o hábito de se informarem na
Internet. Quando questionados sobre a leitura de jornal ou revista na Internet, 86%
responderam que já leram ou lêem. Os endereços citados por eles foram:
Globo.com, Atrevidinha, Gazeta, Tribuna, Veja, Capricho, Globo esporte, Nova
Escola, Carro, Fuxico, Flamengo, Ciência hoje, e Caras.
Você já leu algum jornal ou revista na Internet, qu ais?
86%
14%
sim
não
Gráfico 01 - Ler Jornais e revistas na Internet
Os gráficos logo nos fazem refletir que os nossos sujeitos da pesquisa estão
conectados com o mundo apresentado na Internet. As evidências apresentadas nos
gráficos não nos permitem mais negar que a mídia digital faz parte do cotidiano
desses alunos. E, assim, como a família e a escola, educam, portanto, essa
dimensão educativa pode e deve ser estudada e aprofundada no ambiente
educacional para propiciar novas formas de aprendizagem.
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2 A ESTRADA DO FUTURO: EDUCAÇÃO E NOVAS
TECNOLOGIAS
Monteiro (1998, p.17) explica que o ser humano torna-se diferente dos outros
animais pela sua capacidade de criar soluções para qualquer problema que o
ameace na sobrevivência ou, simplesmente, para possibilitar uma melhora nas
condições de sobrevivência. A essa capacidade se deu o nome de técnica. Sendo
assim, a técnica pode ser definida como uma habilidade humana de desenvolver,
fabricar, construir e utilizar instrumentos e objetos das mais variadas formas.
Já Murad (1999, p. 12) explicita que para inventar um objeto, o ser humano começa
a observar, seja a natureza ou outros objetos já criados. Precisa internalizar a
técnica para fazer o bom uso dela, adquirindo e aprimorando novas identidades e
avaliando as causas sociais que surgirão por meio do seu uso. Com a análise dos
acontecimentos, o ser humano poderá, mais tarde, aperfeiçoar as criações, dando
oportunidades às novas invenções.
Pierre Lèvy (1999, p. 21 a 24) acrescenta, ainda, que quanto maior for a sintonia
entre a técnica e o homem, maior será a absorção da criação dentro da sociedade.
E, ainda, com o tempo, essa mesma criação passa a não ser mais percebida, pois
estará devidamente inserida no cotidiano da sociedade. Assim aconteceu, no
passado, com a técnica de se escrever.
O homem inventa a escrita e causa uma ruptura na maneira de se comunicar. Com o
avanço dos séculos, o ser humano dificilmente percebe como a escrita mudou a
forma de transmitir as informações. “As inovações técnicas abrem novos campos de
possibilidades que os atores sociais negligenciam ou aprendem sem qualquer
predeterminação mecânica.” (LÈVY, 1998, p. 60). Dessa mesma forma acontece
com os modernos meios de comunicação e transmissão de informações (televisão,
rádio, Internet e outros). É o homem, a técnica e criação interagindo entre si.
40
A técnica, então, integra o mundo social, no qual se tecem as relações coletivas da
sociedade (homem). Sendo assim, Pierre Lèvy explica que é impossível separar o
ser humano de seu ambiente natural, dos signos e imagens pelas quais ele dá
sentido à vida e ao mundo. “Não se pode separar o mundo material das ideias
através das quais os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos homens
que os inventam, os produzem e deles servem “.(LÉVY, 1999, p.22)
Bougnoux (1996, p. 59 a 61) afirma que a criação da técnica (objeto) e o próprio
criador (homem) acabam se confundindo num certo instante histórico. Para isso,
Bougnoux lança uma pergunta: onde começa e termina a técnica nos seres
humanos? Para ele, a técnica infiltra-se em nossos comportamentos, enterra-se e
naturaliza-se a ponto de já ter sido possível falar de um homem alfabético,
tipográfico e catódico.
O homem acaba esquecendo dos aparelhos criados pelas técnicas à medida que
convive com eles. Assim, o homem e técnica, o sujeito e o objeto acabam
interagindo entre si e criam uma relação de interdependência.
Contudo, um conjunto de infra-estrutura social torna-se necessário para promover as
condições para o desenvolvimento da técnica. Normalmente a técnica se materializa
em objeto ou instrumento e o seu desenvolvimento se dá pelo uso e o seu
funcionamento dentro da sociedade. Pelo uso, a técnica é atualizada e apropriada,
sofre transformações, adapta-se ao homem e vice-versa, num movimento constante
ao longo dos tempos. A invenção é materializada em objeto e, devido ao uso, é
inserida na sociedade. Não se pode dizer que a técnica é boa ou ruim, pois ela
depende do contexto do seu uso. Também não é neutra, pois da mesma maneira
que cria oportunidades poderá fechar possibilidades.
Ela está diretamente ligada à sociedade organizada pelo homem e constitui parte da
produção, por estar inserida na rede de produções sociais. O conjunto das infra-
estruturas (econômicas, sociais, políticas e culturais) também sofre modificações e
se transforma pelo uso da técnica. “Portanto, qualquer atribuição do sentido único à
técnica só pode ser dúbio”. (LÈVY, 1999, p. 24)
41
Esse fato poderá ser notado, principalmente, no caso do desenvolvimento da
cibertecnologia (tecnologias digitais) que é desenvolvida por nações que buscam a
hegemonia militar ou capital financeiro. Porém, essa mesma cibertecnologia é
direcionada para a sociedade para aumentar a autonomia dos indivíduos,
possibilitando uma maior colaboração entre os seres humanos dentro dela. Pode
existir a possibilidade dos “projetos de dominação” entrarem em conflitos entre si,
mas, muitas vezes, acabam alimentando-se e reforçando-se mutuamente.
O uso da técnica deve ser entendido dentro de um contexto que não exclui o homem
de sua responsabilidade social. Ela infiltra-se no universo social, composto por
unidades autônomas e em permanente construção. Há sempre uma necessidade de
capital (investimentos) para introduzi-la no mercado. A técnica não é autônoma,
servindo como um instrumento importante nas disputas travadas nos campos de
produção, à medida que certas tendências culturais e sociais não se desenvolvem
sem a presença dela.
O fracasso ou sucesso de uma técnica, segundo Babin e Kouloumdjan (1989, p. 126
a 135), depende de alguns fatores para que sejam absorvidas na sociedade:
1. Nível de confiabilidade que ela inspira.
2. Simplicidade no manejo do objeto técnico.
3. Preços aceitáveis em relação aos padrões econômicos e culturais da
sociedade.
4. Disposições culturais preexistentes.
5. Maturação interna dos usuários: corresponde ao tempo entre a
invenção e a utilização pelos indivíduos na sociedade.
Os fatores de um a três, acima citados, estão relacionados à estratégia de marketing
necessária para o lançamento do produto (objeto da técnica), que trabalha o
psicológico do usuário, despertando a necessidade de utilização do objeto. O fator
quatro explica que as disposições estão relacionadas ao sistema cultural. Podem
favorecer ou dificultar a absorção de uma técnica.
42
Já no fator cinco, o usuário precisa sentir a necessidade de utilizar a nova técnica.
Ele deve estar motivado para fazê-lo. Por isso a técnica precisa surgir no tempo
correto para satisfazer a utilização dos indivíduos.
Atualmente, as técnicas estão ocupando um espaço maior na vida humana. Elas
fazem parte do cotidiano e o homem já encontra dificuldades para conseguir viver
sem elas, pois a facilidade que propiciam para que o homem sobreviva de forma
mais adaptada é amplamente perceptível. Contudo, é conveniente que o ser
humano entenda as causas e os efeitos que a técnica pode provocar sobre si
mesmo, pois, ao mesmo tempo em que auxilia proporcionando facilidades, poderá
também criar outros problemas a serem enfrentados.
Assim, para Castells, a técnica não determina a sociedade, nem a sociedade
escreve o curso da transformação tecnológica. A velocidade do domínio da
tecnologia depende da habilidade das sociedades. A cada período histórico a
técnica ajuda a traçar o destino de uma sociedade por meio da incorporação de
novos métodos num processo quase sempre conflituoso de causas e
conseqüências. O uso e a forma que a sociedade a interpreta classificará seu
potencial (bom ou ruim).
Os “bombardeio” das técnicas no dia a dia está cada vez intenso. Isso forma um
conjunto complexo, segundo Murad (1999, p. 24), denominado tecnologia. O termo
designa o ramo do conhecimento destinado a estudar as técnicas. Ou seja, é o
conjunto de procedimentos fundados sobre o conhecimento científico e aplicados
para investigar e transformar a natureza. Toda nova tecnologia surge a partir de uma
outra tecnologia ou do seu aperfeiçoamento. Um exemplo é o rádio que deu origem
e inspirou a construção da televisão.
Figueiredo e Giangrande (1999, p. 121 a 124) explicam que as novas tecnologias
trazem transformações no comportamento humano, não só no relacionamento
interpessoal, mas também na relação com o tempo e o espaço. No caso da Internet,
citam: “A percepção da realidade adquire uma nova dimensão virtual. Ela elimina em
grande parte o uso dos órgãos dos sentidos no processo de comunicação”
Figueiredo e Giangrande (1999, p. 122). Essa eliminação ocorre, pois as mensagens
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são mecanicamente codificadas, de forma impessoal e muitas vezes cifradas e,
como conseqüência, a percepção do receptor é “eliminada”.
Wolton (1999, p. 76) também acredita nas novas tecnologias como forma de
salvação para todos os problemas. As novas tecnologias são o símbolo da liberdade
e da capacidade para dominar o tempo e o espaço. Ele aponta ainda três conceitos
fundamentais para compreender o sucesso das novas tecnologias: autonomia,
domínio e rapidez. Cada elemento pode agir, sem intermediário, quando quiser, sem
hierarquia e em tempo real. Isso confere um sentimento de liberdade absoluta.
Cada dispositivo tecnológico veicula uma visão do mundo, relativo a uma
modelagem de tempo e espaço. Se cada sociedade tem seus tipos de tecnologias é
porque elas são capazes de fazê-las e de se servir delas como uma realidade
nascente.
Será que a sociedade humana conseguirá administrar e orientar com sabedoria o
próprio desenvolvimento? A tecnologia, o homem e a mudança andam lado a lado
provocando alterações e deixando algumas afirmativas. Entre outras mais pode-se
citar:
• As novas tecnologias “podem ser nocivas” ao homem.
• As novas tecnologias “podem” formar realmente uma nova sociedade
(grupo social).
• As novas tecnologias “podem” facilitar a vida do homem em diversos
setores.
• As novas tecnologias “podem” facilitar a comunicação humana ou
produzir o isolamento social à nível de convívio.
• As novas tecnologias “podem” despertar uma mudança no pensar.
Dentro das diversas tecnologias, a da informação é uma das mais enfocadas. A
liberalização do acesso aos produtos culturais, o aumento da transparência dos
poderes instituídos e o incremento da liberdade de expressão são as principais
vantagens que costumam ser atribuídas às grandes redes, como a Internet.
44
Devido à sua natureza potencial de interatividade, o indivíduo tem à sua disposição,
independentemente do lugar em que vive, a possibilidade, não só de reagir às
mensagens e aos produtos culturais disponíveis nas redes, mas também de exprimir
livremente as suas opiniões e de partilhar os seus conhecimentos.
As tecnologias sempre fizeram parte da vida do ser humano, isso desde a pré-
história com a descoberta do fogo e a invenção da roda, passando pela invenção do
papel, da televisão, da Internet, e outras milhares de invenções. Assim a chamada
revolução tecnológica determina, faz tempo, a ordem social do mundo. De fato os
avanços tecnológicos provocaram e provocam uma alteração em todos os campos
da atividade humana e no próprio homem.
Sendo assim, as novas tecnologias e o seu papel perante a sociedade descrevem a
necessidade de uma reflexão. A tecnologia, usando uma metáfora, pode ser
comparada pelos teóricos da Escola de Frankfurt7 como um projétil e a sociedade
como um alvo vivo, pronto para ser abatido ou aniquilado. Dessa maneira, as novas
tecnologias devem ser compreendidas como elementos mediadores para a
construção de uma nova representação da sociedade e não como uma construção
salvacionista de todos os problemas sociais.
Um exemplo do impacto dilacerante de uma tecnologia é citado por Mcluhan, (1998,
p. 40) utilizando reflexões do livro The rich and the poor (O Rico e o Pobre, de
Robert Theobald):
Quando missionários deram machados de aço aos nativos australianos, sua cultura – baseada no machado de pedra – entrou em colapso. O machado não apenas era raro como sempre fora um símbolo de classe (status), de
7 A escola de Frankfurt ficou conhecida no mundo por formular a chamada Teoria Crítica da sociedade. A escola foi formada por educadoreses, em grande parte sociólogos marxistas alemães. A Escola de Frankfurt é uma escola de pensamento marxista de Sociologia, Pesquisa Social e Filosofia que abordou criticamente aspectos contemporâneos das formas de Comunicação e Cultura humanas. Deve-se à Escola de Frankfurt a criação de conceitos como Indústria Cultural e Cultura de Massa. O grupo surgiu no Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt na Alemanha. No ano de 1924, o Instituto de Pesquisa Social foi fundado. Em 1929, Max Horkheimer tornou-se diretor do Instituto. O Instituto nasceu com uma inspiração marxista. No entanto adotou uma postura crítica ao marxismo, não levando em conta as ideias como, a "infra-estrutura econômica", "luta de classes", Ideias de Max Weber, o conceito de trabalho de Marx, e a teoria de Freud sobre a origem das civilizações foram adotadas pelos intelectuais. A característica comum da Escola de Frankfurt é centrada na Teoria Crítica, que tem como pontos comuns: criticar a sociedade burguesa, crítica ao dogmatismo marxismo, crítica a filosofia tradicional e crítica a razão. Dentro os principais teóricos destacam-se: Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Franz Neumann, Erich Fromm, Jürgen Habermas e outros mais.
45
importância viril... afiados machados foram entregues as mulheres e as crianças. Os homens tinham mesmo de pedi-los emprestados às mulheres, o que causou a ruína da dignidade dos machos. Uma dignidade feudal e tribal tradicional entra rapidamente em decadência.
Refletindo a citação é possível afirmar que a tecnologia, como por exemplo, um
simples machado, põe fim a uma cultura e modifica os hábitos de toda uma
sociedade. O pesquisador Paulo Blikstein 8 alerta, também, sobre os perigos das
novas tecnologias na sociedade. Blikstein afirma que o avanço tecnológico não é
uma coisa imparcial e neutra como os grupos hegemônicos querem que os seres
humanos percebam. Para Blikstein, é preciso ter uma postura crítica e estar atento
para identificar se as inovações tecnológicas são, realmente, benéficas para a
maioria das pessoas, ou se acentuam as explorações veladamente, embaladas de
forma a parecerem muito interessantes, indispensáveis e acessíveis a todos que
estão inseridos na sociedade.
Os sofisticados recursos tecnológicos de que hoje dispomos, do celular à internet, podem, ao contrário do que se espera e do que se imagina, ser limitadores e empobrecedores, além de, em muitos casos, acentuar desigualdades inquestionavelmente e escravizar seus usuários. É preciso, portanto, que deixemos o fascínio de lado e sejamos críticos das novas tecnologias, questionando-as a cada minuto, ao invés de idolatrá-las e almejar ter acesso a elas.9
Blikstein explica que as novas tecnologias atuais são mais resultado do que causa.
Resultam de uma mudança no sistema econômico, nos sistemas de produção e na
forma pela qual as empresas funcionam. O avanço tecnológico acelerou-se a partir
das demandas da sociedade, mais especificamente, do sistema produtivo. “É
comum termos a ideia de que a tecnologia vai se desenvolvendo sozinha, mas, na
verdade, existem interesses de empresas, de países, que dirigem o desenvolvimento
tecnológico.”10
Adorno e Horkheimer. Acreditam também que a qualificação para a força do
trabalho, devido à introdução das novas tecnologias na sociedade, é uma maneira
de manipular e apoiar os indivíduos para a manutenção de um modelo de produção 8 Paulo Blikstein, mestre em Tecnologias da Educação pela Universidade de São Paulo. 9 Blikstein, Paulo. Novas tecnologias podem limitar e escravizar o homem. Disponível em www.jb.com.br/papel/cadernos/emprego. Acesso no dia 16/06/2008. O texto faz parte de uma entrevista concedida à jornalista Eliane Bardanachvili do Jornal do Brasil. 10 Paulo Blikstein, mestre em Tecnologias da Educação pela Universidade de São Paulo. Blikstein, Paulo. Novas tecnologias podem limitar e escravizar o homem. Disponível em www.jb.com.br/papel/cadernos/emprego. Acesso no dia 16/06/2008. O texto faz parte de uma entrevista concedida à jornalista Eliane Bardanachvili do Jornal do Brasil.
46
que preserva, em sua totalidade, o culto da mercadoria e da alienação. "O terreno no
qual a técnica conquista seu poder sobre a sociedade é o poder que os
economicamente mais fortes exercem sobre a sociedade. A racionalidade técnica
hoje é a racionalidade da própria dominação. Ela é o caráter compulsivo da
sociedade alienada em si mesma". (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 114).
A técnica espelha-se para Civita (1975, p. 102) na hierarquização e na coação. Ela
exerce poder sobre os indivíduos, sobre toda ordem lógica, cria uma relação de
dependência, concatenação e conexão dos conceitos fundamentando-se nas
relações correspondentes da realidade social e da divisão do trabalho.
Para esses dois teóricos de Frankfurt, acreditar que as tecnologias poderiam
possibilitar um maior potencial - racional, técnico e reflexivo - para os indivíduos
seria simples ilusão. Enquanto discute-se sobre os possíveis usos de uma
tecnologia, formas de utilização já se estabeleceram e se impuseram na sociedade.
Quando, finalmente, é percebida, nada mais pode se fazer. Ela já passa a dominar o
cotidiano e as formas de pensar do indivíduo dentro da sociedade.
Com base nas reflexões de Adorno e Horkheimer (1985, p. 14) pode-se afirmar que
a natureza dos indivíduos não é dissociável do progresso. A produtividade
econômica confere as elites que controlam os aparelhos tecnológicos uma
superioridade imensa sobre a sociedade. O individuo comum (proletariado) se vê
anulado diante do poder econômico. É a tecnologia trabalhando em prol das classes
hegemônicas, proporcionado o aumento do capital para poucos. "A racionalidade
técnica é a racionalidade do próprio domínio. É o caráter repressivo da sociedade
que se auto-aliena” (GENRO, 1987, p. 96).
Entretanto Tedesco (2002, p. 59 a 60) percebe algo mais que Adorno e Horkheimer.
Para o teórico são as tecnologias que provocam as mudanças na sociedade. Porém,
explicita que, na verdade, a evolução das tecnologias responde, simplesmente, às
exigências das relações sociais. Para explicar deixa o exemplo: “Não foi a imprensa
que determinou a democratização da leitura, mas é a necessidade de democratizar a
cultura que explica a invenção da imprensa” (TEDESCO, 2002, p. 59). Do ponto de
vista de Tedesco é possível sustentar que a evolução das tecnologias responde
47
tanto às exigências do individualismo crescente da sociedade, como as exigências
da integração social.
Castells (2000, p 24 a 31) complementa as reflexões de Adorno e Horkheimer. O
autor considera que não há adoção, mas adaptação de novas tecnologias, numa
negociação que visa ao atendimento das necessidades dos indivíduos e do
mercado. No entanto, pondera que os usos das novas tecnologias modelam, de
maneira considerável, os indivíduos e a sociedade na qual está inserida. O começo
vem sob o domínio do mercado. Assim, as hipóteses iniciais apontam que o acesso
às tecnologias será restrito às elites do primeiro mundo, num processo de expansão.
Para Benjamim (1996, p. 165 a 174) as tecnologias devem, também, serem
entendidas e não taxadas como o mal da humanidade. Benjamin parte da premissa
que não se deve contestar a tecnologia, assim como não se deve aplaudir todas as
novas tecnologias. O fundamental é entender se ela poderá servir a massa, sem
causar uma alienação.
Benjamim entende a tarefa de pensar as mudanças que se configuram na
modernidade a partir do espaço da percepção, misturando para isso o que se passa
nas ruas com o que se passa nas fábricas e nas escuras salas de cinema e na
literatura. Assim, com a ajuda das técnicas, a atividade crítica e o prazer artístico se
conjugam. “Fazer as coisas ficarem mais próximas é uma preocupação tão
apaixonada das massas como sua tendência a superar o caráter único de todos os
fatos através da sua reprodutividade. Cada dia fica mais irreversível a necessidade
de possuir o objeto” (BENJAMIN, 1996, p. 170).
Diante das ideias citadas por Adorno e Horkheimer é possível dizer que as novas
tecnologias estão sempre atreladas a um modelo de sociedade imposto por uma
classe hegemônica e pelo paradigma das novas tecnologias. Para Habermas (1983,
p. 343) as tecnologias com sua lógica mecanicista controlam a vida dos seres
humanos e normatizam seus comportamentos com o ritmo das máquinas,
diminuindo, assim, as diversidades das decisões, tornando os homens escravos do
sistema no qual estão inseridos. Assim, a própria técnica é criada para o controle
social.
48
Mesmo com os avanços intelectuais dos indivíduos, a chamada revolução
tecnológica continua beneficiando os grupos privilegiados da sociedade. Esses
grupos controlam os processos produtivos e se apropriam das inovações científico-
tecnológico para acumular maior poder na medida em que concentram os benefícios
econômicos resultantes desse desenvolvimento cientifico-tecnológico. A impressão
que se tem, é que por mais que os homens avancem nas reflexões, na razão e na
intelectualidade, não conseguem acompanhar as tecnologias que a cada instante
são amplamente renovadas.
Com as evidências do discurso da criticidade, o poder do sistema econômico, a
hegemonia e a alienação da sociedade são os pilares para todas as contestações. E
no eixo central está o sistema capitalista que pode ser explicado por duas grandes
correntes.
Catani (1982, p. 7 e 8) utiliza Max Weber e procura explicar o capitalismo através
dos fatores externos à economia. A ideia central está vinculada na valorização do
trabalho, na busca da profissão e na salvação individual dentro da sociedade. Dessa
maneira a concepção capitalista está conferida a fatores culturais.
A segunda corrente, centrada em Karl Marx, parte de uma perspectiva histórica para
explicar o capitalismo. Ele o define como sendo um determinado modo de produção
de mercadorias gerado ao longo dos séculos. Capitalismo também é um sistema no
qual a força de trabalho transforma-se em mercadoria e coloca-se no mercado como
objeto de troca. A concentração das propriedades e dos meios de produção
concentra-se nas mãos de uma classe social e uma outra classe, na qual a venda da
força de trabalho seja a única fonte de subsistência, deverá existir para dar
continuidade ao processo11.
Satisfazer necessidade é desencadear o consumo de mercadorias, que,
conseqüentemente, gera o lucro. A sociedade capitalista está sempre fundada no
trinômio: produção/distribuição/circulação.
11 Uma busca mais profunda sobre o assunto poderá ser encontrada na obra de Karl Marx: o Capital: critica da economia política. Tradução de Reginaldo Sant’Anna. São Paulo: Difel, 1985.
49
Porém, para Vieira (1999, p. 22) é preciso entender que a realização das condições
humanas está diretamente relacionada aos direitos civis (direitos de liberdade,
igualdade, de ir e vir, à vida), políticos (são os direitos de participação organização
política da sociedade) e sociais (trabalho, moradia, saúde, educação) em que a
sociedade está inserida. À medida que o processo de globalização se expande, as
condições econômicas, políticas e sociais nos países menos-desenvolvidos piora,
aumentando a degradação das condições humanas. As necessidades básicas e a
liberdade ficam a mercê do lucro acumulado no sistema capitalista, aumentando a
proliferação da miséria no mundo.
Vieira (1999, p. 73) relata ainda que a globalização está associada aos processos
econômicos, tais como a circulação de capitais, a ampliação dos mercados ou a
ampliação produtiva em escala mundial. É também fenômeno da esfera social, como
a criação das instituições supranacionais, a universalização dos padrões culturais e
a busca de soluções para os problemas do planeta. Assim, o termo Globalização
tem designado a transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e
culturais que ocorrem no mundo.
Ao lado das imensas possibilidades tecnológicas criadas, a fome se alastra pelo mundo reduzindo milhões de pessoas a situações estúpidas de miséria e de ameaça permanente à sobrevivência. O avanço mesmo da tecnologia possibilitou a atual revolução tecnológica que tem deixado milhões no desemprego em todo o mundo. (OLIVEIRA, 1996, p. 24).
Partindo da afirmativa citada acima por Oliveira, é possível acreditar que o
desenvolvimento tecnológico impede a realização de condições humanas
satisfatórias nos países menos-desenvolvidos. O desenvolvimento tecnológico
configura uma incompatibilidade frente ao processo da construção e efetivação da
cidadania nas sociedades menos-desenvolvidas.
O paradoxo avanço tecnológico/desigualdade social parece fato consumado na
sociedade. É notável o avanço tecnológico da microeletrônica, da engenharia
genética, da informática. Em contra partida também aumenta no globo terrestre o
número de desempregados e miseráveis. Com isso é possível concluir que o avanço
instrumental não é capaz de garantir um combate à desigualdade social na
sociedade, e que a liberdade e a dignidade são subjugadas pela razão instrumental.
50
É importante ressaltarmos que nas sociedades modernas, o mercado surge para
promover o processo produtivo. Desta forma, a liberdade fica centrada na inserção
dos indivíduos no mercado. O individuo é livre para o sistema de compra, troca e
venda da produção.
A liberdade que representa a valorização das condições humanas passa por um
processo de crise, em conseqüência das políticas liberais. Nos dias atuais a
liberdade é condicionada diretamente ao mercado.
O mercado se revela como a instância inconsciente dotada de capacidade de produzir o próprio homem enquanto ser livre. A condição de possibilidade para efetivação da liberdade humana é, ao contrário do que haviam pensado as grandes filosofias da modernidade, a renúncia a toda liberdade pessoal e a toda submissão a um mecanismo inconsciente: as leis do mercado. A liberdade do homem é fruto da liberdade dos preços enquanto mecanismo de socialização. (OLIVEIRA, 1996, p. 64).
Como nessa perspectiva a condição de liberdade depende do mercado, não
podemos afirmar que a liberdade será capaz de contribuir para uma cidadania plena.
Essa liberdade cria mais uma condição que nos permite afirmar que a garantia de
construção da cidadania está centrada apenas nas mãos de uma pequena parte da
sociedade.
Diante desse quadro social, como fica a igualdade na sociedade? A igualdade de
direitos também não condiz com a igualdade social na sociedade vigente. A ideia de
que a igualdade é para todos acaba mascarando as desigualdades apresentadas na
sociedade e a não universalização das leis acaba com o pressuposto da
universalidade da cidadania. Diante disso, a cidadania tende a permanecer nas
classes detentoras do poder político e econômico.
A discussão possibilitou entender então que a tecnologia não é neutra, vem
carregada de ideologias, que favorecem a manutenção da hegemonia de uma
classe dominante. Quando se faz uma reflexão crítica sobre os meios e as
tecnologias, consegue-se entender a estrutura da sociedade de maneira mais
ampla. Numa sociedade igualitária, deve-se ter uma educação que possibilite à
51
construção de um pensamento crítico e o acesso as tecnologias vigentes, formando
assim um cidadão mais pleno.
Diante desse cenário, a revolução tecnológica determina, faz algum tempo, uma
nova ordem econômica, política e social no mundo globalizado. As tecnologias
provocam uma verdadeira revolução nos campos da atividade humana, sendo assim
a educação e a escola não poderiam ficar ilesas a todo esse processo.
Embora haja divergências sobre os resultados qualitativo e quantitativo produzido pelas tecnologias e das necessidades emergentes da reconfiguração estrutural do ser humano com o seu meio ambiente, é certo que os processos educativos devem preparar ou auxiliar o ser humano para os embates decorrentes dos novos desafios, procurando minimizar os efeitos dessa reconfiguração. (LIMA, 2000, p. 59)
Nesse contexto histórico e sobre essa reconfiguração proposta por Lima, em que os
processos educativos estão sendo questionados, há uma necessidade constante
dos educadores adotarem modelos pedagógicos de ensino que atendam as
modificações que a sociedade exige. Brandão (1984, p. 99) explica que é nesse
contexto que a educação necessita ser constantemente reinventada para
acompanhar a revolução global existente na sociedade. O termo “reinventada” está
escrito no sentido de que a educação é uma invenção humana e, a qualquer
momento, poderá ser refeita de um modo diferente ou até o oposto.
Tedesco (2002, p. 20 a 23) reconhece que o conhecimento constitui a variável mais
importante na explicação das novas formas de organização social e econômica.
Portanto, a educação, atividade na qual se produz e se distribui conhecimento
assume uma importância em pelo menos dois sentidos diferentes.
• Do ponto de vista político-social: As disputas pela apropriação dos lugares
onde se produz e se distribui o conhecimento socialmente mais significativo
constitui o centro dos conflitos sociais do futuro.
• Do ponto de vista dos conteúdos da educação: O desenvolvimento das
tecnologias cria a necessidade de evitar que se produza, a temida, separação
definitiva entre conhecimento e pensamento. Caso aconteça, o homem corre
52
o risco de se transformar em escravo impotente de qualquer artefato técnico,
por mais mortífero que fosse.
Nesse contexto, é necessária uma reflexão sobre o papel da educação na
sociedade, o desenvolvimento para se definir os conhecimentos, as capacidades
que os indivíduos exigem e forma com que todo o processo deve acontecer.
Levando esse pensamento para dentro das salas de aula, as tecnologias não
mudam necessariamente a relação pedagógica, mas servem para reforçar uma
visão conservadora ou progressista. O educador despreparado poderá utilizar o
computador para reforçar ainda mais o seu controle sobre os outros. Por outro lado,
se utilizar a tecnologia de uma forma, interativa, participativa e reflexiva poderá obter
resultados para ampliar a interação dentro e fora do universo da escola.
As tecnologias estão cada vez mais presentes no cotidiano da escola. É maravilhoso crescer, evoluir, comunicar-se plenamente com tantas tecnologias de apoio. Porém, é frustrante, por outro lado, constatar que muitos só utilizam essas tecnologias nas suas dimensões mais superficiais, alienantes ou autoritárias. Construir o conhecimento depende de como essa tecnologias serão utilizadas12.
Souza13 faz então indagações e levanta dúvidas sobre o futuro da educação. Como
inverter a dinâmica de uma educação que é fator de reforço das desigualdades?
Como rearticular os diversos universos sociais cada vez mais distantes? O desafio,
segundo a pesquisadora, não é só de introduzir novas tecnologias, com o conjunto
de transformações que isto implica, mas também de assegurar que as
transformações sejam fonte de oportunidades.
É necessário repensar de forma mais dinâmica e com novos enfoques a questão do universo de conhecimentos a trabalhar: ninguém mais pode aprender tudo, mesmo de uma área especializada. O velho debate que data ainda do século XVI, sobre se a cabeça deve ser bem cheia ou bem feita, torna-se mais presente do que nunca.’Encher’ a cabeça tornou-se inviável, além de inútil.14
Pode-se, então, deduzir que ignorar as transformações tecnológicas é algo
inconcebível. É preciso entender os efeitos causados para então encontrar soluções
12 MORAN, José Mamuel. Mudar a forma de ensinar e de aprender. Disponível em http://www.eca.usp.br/prof/moran/textos. Acesso no dia 13/04/2008. 13 SOUZA. Maria Carolina Santos. A Tecnologia da Informação enquanto construção social- histórica e seu significado na sociedade contemporânea. Disponível em http://www.projetoeducar.com. br/informatica-educativa. Acesso em 16/04/2008. 14SOUZA. Maria Carolina Santos. A Tecnologia da Informação enquanto construção social- histórica e seu significado na sociedade contemporânea. Disponível em http://www.projetoeducar.com. br/informatica-educativa. Acesso em 16/04/2008.
53
em busca de um equilíbrio na sociedade, evitando o reforço das desigualdades. É
entender que as tecnologias podem servir para a elitização, alienação e o
aprofundamento das contradições sociais. Mas, também, para gerar a
democratização do conhecimento e possibilitar uma sociedade mais equilibrada.
Para Mercado15 o reconhecimento de uma sociedade cada vez mais tecnológica
deve ser acompanhado da conscientização da necessidade de incluir nos currículos
escolares as habilidades e competências para lidar com as novas tecnologias. Com
elas pode-se desenvolver um conjunto de atividades com interesse didático-
pedagógico, como: intercâmbios de dados científicos e culturais de diversas
natureza; interação social para desenvolver a cidadania e o aumento da autonomia
nos alunos. É função da escola preparar os alunos para pensar, resolver problemas
e responder rapidamente às mudanças contínuas.
Pensar nas novas tecnologias aplicadas à educação é sempre um desafio. Demo
(2003, p. 13 a 36) explicita que o desafio é maior quando se pensa nas práticas
pedagógicas diante da tecnologia. Nesse contexto, Demo enumera alguns pontos de
relevância que podem facilitar a vida do aluno, do educador e da educação de
maneira geral.
• As práticas devem ser inovadoras baseadas na construção do conhecimento
e para uma melhora na qualidade de vida do indivíduo e da sociedade de
maneira geral.
• Deve-se exercer práticas democráticas e voltadas no despertar da cidadania.
• Promover a participação e consciência crítica do aluno e do educador perante
a sociedade.
• As atitudes devem ser de responsabilidade compartilhada entre os indivíduos
no processo de construção do conhecimento e da sociedade.
15 MERCADO, Luís P. Leopoldo. Formação docente e novas tecnologias. www.cedu.ufal.br /projetos/internet/brasiliadef. Acesso em dia 13/04/2008.
54
• Deve-se buscar uma melhor qualidade política das práticas pedagógicas,
promovendo mudanças nos currículos escolares e nas condições do aprender
a aprender.
• O educador e o aluno devem aprender a conhecer, fazer, a viver; aprender, a
ser e a conviver, saber pensar e transformar.
• Promover no espaço escolar a motivação, a flexibilidade, a autonomia, a
criatividade e a inovação.
• Formar um indivíduo reflexivo e capaz de superar limitações. Um indivíduo
que desenvolva competências e habilidades para produzir o conhecimento.
Os deslumbramentos das tecnologias são facilmente perceptíveis. Entretanto,
enquanto a tecnologia for vista como redentora de todas as angústias e dúvidas
educacionais, não será possível encontrar soluções para os problemas que a escola
sozinha não pode resolver. Ao invés de lotar a escola com as tecnologias de
informação, é necessário um debate sobre as questões da tecnologia e uma
proposta para se construir um sistema escolar melhor.
Tajra (2002, p. 18 a 20) explicita que a formação dos seres humanos para a
sociedade do conhecimento não depende somente das questões relacionadas às
novas tecnologias. É importante possibilitar uma alfabetização digital e relacioná-la
com as atividades do cotidiano (produtivas, lazer, educação e outras mais). Para
Tajra que indivíduos estimulados serão capazes de suprir suas próprias
necessidades e incapacidades. “A sociedade do conhecimento é gerida pelos
cidadãos capazes de construir suas próprias oportunidades, sendo que isso só é
possível quando as pessoas possuem acesso à educação e, conseqüentemente, ao
conhecimento” (TAJRA, 2002, p. 18)
A questão é muito mais complexa que dar acesso aos computadores ou à Internet. É
preciso uma reavaliação dentro do próprio sistema educacional. Armstrong e
Casement (2001, p. 209 a 214) apontam que o próprio currículo das escolas é
determinado por aquilo que as classes dominantes da sociedade consideram
importantes de serem conhecidos. Mesmo assim, há um fingimento das elites ao
55
enaltecerem a necessidade da criatividade e de melhorar o raciocínio dos indivíduos,
quando isso têm exigências meramente funcionais.
Sair dessa situação é complexo. É necessário estimular os estudantes a
desenvolverem habilidades críticas para poderem entender as limitações que toda a
tecnologia possui. Tentar imaginar o melhor futuro que pode ser construído a partir
da realidade é o ato crítico de qualquer geração.
56
2.1 RESGATE HISTÓRICO RUMO À CIBERCULTURA
Contemporaneamente, a revolução educacional dos últimos anos sobreveio como
movimento generalizado de mudança educativa que parte, justamente, da
introdução de novas tecnologias, principalmente o computador e suas variáveis no
cotidiano escolar. O ensino ficou compreendido num panorama nacional de
transformação.
O computador16 é definido por Ramalho (2003, p. 36) como um equipamento
eletrônico com capacidade de receber processar, transformar, armazenar e devolver
a informação ao usuário. O equipamento é utilizado para realizar inúmeras tarefas
ao mesmo tempo. A definição tecnicista e industrial de Ramalho sobre o computador
ganha um novo olhar diante da educação.
A utilização da informática pode ser encarada como um fator desencadeador para
melhorias na qualidade da aprendizagem. O próprio Ministério da Educação e
Cultura (Mec) traça e estabelece princípios norteadores17 (teóricos e metodológicos)
para as experiências de aprendizagem nos ambientes informatizados. E são eles:
• Utilizar a tecnologia (computador) para propiciar o desenvolvimento da
capacidade humana de aprender.
• Estimular o desenvolvimento intelectual dentro de uma abordagem
interdisciplinar
• Constituir um sistema educacional que estimule no aluno o desenvolvimento
de novas habilidades de fazer, compreender, refletir e inventar recursos para
a melhoria da própria vida e da sociedade.
16 Vale ressaltar que em escala comercial para o público, o computador começou a aparecer nos Estados Unidos e na Inglaterra na década de 70. No Brasil, a popularização aconteceu na década de 90 com a abertura econômica, principalmente, de produtos eletrônicos. 17 As informações na integra dos princípios norteadores para as experiências de aprendizagem nos ambientes informatizados estão no portal do MEC. www. portal.mec.gov.br/seb/arquivos /pdf/novas_ tecnologias1.pdf. Acesso no dia 16 de julho de 2009.
57
• Abordar a informática não como uma disciplina e nem como um processo de
informatição de escolas.
• Promover uma atuação conjunta no ambiente informatizado de aprendizagem
do educador e do aluno no processo educativo.
• Possibilitar ao aluno e ao educador o desenvolvimento da capacidade de
aprender a aprender, estimulando a autonomia por meio de projetos temáticos
e interdisciplinares que tenham como fundamento o aprender fazendo,
experimentando e construindo estratégias.
É possível reforçar as reflexões e posicionar a mídia online como uma fonte paralela
para ser utilizada dentro da sala de aula. Os alunos poderão desenvolver a
capacidade de análise para contextualizar os assuntos e produzir reflexões com as
matérias das revistas e jornais online. Dentro de uma abordagem interdisciplinar, a
mídia online permite que os alunos, quando estimulados, na busca por informações
leiam ou avaliem fotos para a construção do saber em várias disciplinas e estimulem
hábitos de cidadania. Vale lembrar que o computador e o uso da Internet são
instrumentos do processo na aprendizagem.
Entretanto, vale ressaltar que no Brasil os estudos para chegar às construções de
saberes mediados pelo computador são recentes. Tajra divide a informática no Brasil
em duas perspectivas: “ações da política da informática no Brasil” e “ações da
política da informática educativa no Brasil”.
Algumas datas merecem reflexões para a construção das ideias. Com a criação da
Comissão Coordenadora das Atividades de Processamento Eletrônico (Capre) e da
Secretaria Especial de Informática (SEI) buscava-se regulamentar, supervisionar e
fomentar o desenvolvimento da informatização da sociedade brasileira, voltada para
a capacitação científica e tecnológica capaz de promover a autonomia nacional. Em
1979, o Capre passa a ser de responsabilidade do SEI.
58
Pensando numa nova forma de buscar a melhoria no processo de aprendizagem, a
primeira demonstração do uso do computador na educação nas instituições de
ensino do Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, em 1973, na I Conferência Nacional de
Tecnologia Aplicada ao Ensino Superior. Nessa mesma época, o Brasil iniciava os
seus primeiros passos em busca de um caminho próprio para a informatização de
sua sociedade, fundamentado na crença de que tecnologia não se compra, mas é
criada e construída por pessoas. 18
Nesse período histórico o Brasil politicamente respondia a um regime militar de
governo. A educação tecnicista era colocada como a “salvadora” dos problemas
econômicos do Brasil. Com o mercado de trabalho em expansão era preciso formar
mão-de-obra qualificada para atender a política-economica adotada pelo governo
militar. A informática surge como uma solução da política para atender aos objetivos
e interesses da Política de Informática no Brasil. A educação passa a ser concebida
como um instrumento para a modernização do País, pois é encarada como um
instrumento para a modernização e a diminuição das desigualdades sociais por meio
da qualificação da mão-de-obra. Tecnicismo, numa leitura mais crítica, era sinônimo
de emprego e dinheiro para a construção do bem-estar do sujeito e da família.
O processo decisório da política de Informática na Educação Brasileira também esteve influenciado pela ideologia tecnicista e tecnocrática de educação e sociedade que dominou a sociedade brasileira pós 64, pois apesar de ser contraditoriamente "nacionalista", a técnica e os técnicos, em grande parte imbuídos daquela ideologia, continuaram sendo os pilares que sustentavam essa política. 19
É possível concluir que o tecnicista na educação responde à ótica economicista do
ensino e constitui-se numa das formas de desqualificação do processo educativo
escolar. Neste sentido, Raquel Maraes recorre a Saviani para expor que a
perspectiva tecnicista da educação emerge como mecanismo de recomposição dos
interesses burgueses na educação. O tecnicismo se articula com o parcelamento do
18 MORAES, Maria Cândida. Informática educativa no Brasil: uma história vivida, algumas lições aprendidas. Artigo capturado no site http://www.inf.ufsc.br/sbc-ie/revista/nr1/mariacandida no dia 07 de setembro de 2008. 19 MORAES, Raquel de Almeida. Estado, Educação e Informática no Brasil: das Origens a 1989. O Processo Decisório da Política no Setor. Capturado no dia 07 de fevereiro de 2008 no site http://www.sociologia.de/soc/index1.htm
59
trabalho pedagógico, decorrente da divisão social e técnica do trabalho no interior do
sistema capitalista de produção.
As entidades educacionais responsáveis pelas primeiras investigações sobre o uso
de computadores na educação brasileira foram: a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contudo, a UFRJ foi pioneira na utilização
do computador em atividades acadêmicas por meio do Departamento de Cálculo
Científico, criado em 1966, e que deu origem ao Núcleo de Computação Eletrônica
(NCE). Nessa época, o computador era utilizado como objeto de estudo e pesquisa
no próprio ensino superior, dando ensejo a uma disciplina voltada para o ensino de
informática.
A democratização da política brasileira ganha força, e o regime militar começa a ruir.
A mobilização popular força uma transição para a democracia, negociada entre a
sociedade e o regime militar. Os entendimentos são articulados pelo governador
mineiro Tancredo Neves, líder oposicionistas, que é eleito presidente da República
pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985.
Cinco anos antes, um importante passo para a informática na educação é dado. A
SEI cria uma comissão para gerar normas e diretrizes para a área de informática no
Brasil. O ano é considerado o marco da informática na educação no Brasil. Em 1981
e 1982, foram realizados Seminários de Informática na Educação, no qual surgiu o
Projeto EDUCOM (Educação com Computadores) em 1983. Esse foi, efetivamente,
a primeira ação social e concreta para levar os computadores para a sala de aula
das escolas públicas para contribuir com o processo de ensino aprendizagem.
Outras ações foram tomadas, e no ano de 1995 criou-se o Programa Nacional de
Informática na Educação (Proinfo), cujas bases eram parecidas com o Proninfe -
criado no ano de 80 para implantação da base tecnológica e metodológica nas
escolas. O Proinfo criou em cada Estado do Brasil, Núcleos de Tecnologia
Educacional (NTE). Os NTEs dão apoio ao processo de informatização das escolas,
auxiliando tanto na incorporação e planejamento da nova tecnologia, quanto no
60
suporte técnico e capacitação dos educadores. Além disso, instala, somente,
computadores em escolas com mais de 150 alunos.
O principal objetivo do ProInfo é melhorar a qualidade do processo de ensino-
aprendizagem, propiciar uma educação voltada para o desenvolvimento cientifico e
tecnológico, despertar uma cidadania global numa sociedade tecnologicamente
desenvolvida e possibilitar o desenvolvimento de conhecimento nos ambientes
escolares mediante a incorporação adequada das tecnologias de informação.
Mesmo com tantas iniciativas, é possível perceber e concluir que a sonhada inclusão
digital é lenta e está longe de um final. Na rede particular de ensino é possível
perceber um avanço da educação na era da informática, Já na escola pública
algumas escolas, uma minoria, são equipadas, porém o uso efetivo não se
concretiza para o aluno.
O professor Eduardo Chaves20 explicita que a controvérsia ocorre, pois um grupo
defende a utilização do computador basicamente como um instrumento de ensino.
Já outros, defendem a utilização do computador como uma ferramenta de
aprendizagem. Nesta disputa, há os que vêem a educação escolar como um
processo de transmissão, pelos educadores aos alunos, de conteúdos
informacionais (conceitos), sistematizados em áreas específicas (disciplinas) e
organizados seqüencialmente de forma cada vez mais complexa (séries).
Nessa visão da educação há, conseqüentemente, a valorização relativa do processo
de ensino e instrução e é colocado em relevo o papel do educador como detentor
das informações e dos conhecimentos a serem repassados aos alunos. A
aprendizagem, por sua vez, fica caracterizada como um processo passivo do ponto
de vista do aluno, de absorção de informações e conhecimentos.
20 O educador Eduardo CHAVES é Ph.D. em Filosofia pela University of Pittsburgh, EUA, Educadores de Filosofia da Educação e Filosofia Política na UNICAMP e Membro do International Advisory Council do Programa Partners in Learning da Microsoft Corporation. Entrevista concedida a Arlete Embacher do site miniweb educação. Acesso em 13/03/2009. http://www.miniweb.com.br/Atualidade/ Entrevistas/eduardo_chaves/prof_eduardochaves.html
61
O computador deve ser utilizado de modo a reforçar ou tornar mais eficiente o trabalho do professor, sem que, em decorrência da utilização do computador, seja fundamentalmente alterada a visão de ensino e aprendizagem adotada. O computador é apenas uma máquina de ensinar. Uma máquina que ajuda o professor a ensinar melhor.21
A outra corrente que defende a educação como um processo de desenvolvimento,
pelos alunos, de competências e habilidades com a conseqüente valorização relativa
do processo de auto-aprendizagem e de aprendizagem colaborativa na construção
ou elaboração da própria aprendizagem. O educador deixa de ser o de detentor
único e exclusivo de informações e conhecimentos cuja absorção define a
aprendizagem do aluno, e passa a ser, principalmente, o motivador, o incentivador, o
animador, o instigador, o facilitador do aprendizado do aluno.
Nesse caso, o papel da escola é fornecer aos alunos ambientes que favoreçam a
aprendizagem para desenvolver estruturas cognitivas que se traduzam em
competências e habilidades para continuar a aprender. O computador deve ser
utilizado não como uma máquina de ensinar, mas como uma ferramenta para a
aprendizagem.
Para que a introdução do computador não se transforme numa panacéia dentro das
escolas brasileiras, como tantas outras na tentativa de resolver os problemas da
educação brasileira, é necessário reflexões e discussões sérias para se entender
todas as implicações dessa inovação no processo pedagógico. Todo cuidado é
pouco, pois novas tecnologias da comunicação na escola poderão significar uma
possibilidade de transformar o processo de ensino numa cópia, transmissão e
imposição de conhecimentos prontos, próprios do modelo tradicional de educação. O
processo deverá ser direcionado o fortalecimento de novas ideias para transformar a
escola num espaço de produção, recepção e socialização de saberes.
21 O educador Eduardo Chaves é Ph.D. em Filosofia pela University of Pittsburgh, EUA, Educadores de Filosofia da Educação e Filosofia Política na UNICAMP e Membro do International Advisory Council do Programa Partners in Learning da Microsoft Corporation. Entrevista concedida a Arlete Embacher do site miniweb educação. Acesso em 13/03/2009.
62
O saber-fluxo, o trabalho-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva mudam profundamente os dados do problema da educação e da formação. O que é preciso aprender não pode mais ser planejado nem precisamente definido com antecedência. Os percursos e perfis de competências são todos singulares e podem cada vez menos ser canalizados em programas ou cursos válidos para todos. Devemos construir novos modelos do espaço do conhecimento. No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em "níveis", organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes "superiores", a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva. (LÈVY, 1999, p. 158.)
Nesse cenário desenhado atualmente, o homem vive o “tempo das redes” (Internet),
que não é cronológico. É o fluir de uma interação com as redes em um tempo
midiatizado. Vive além dos espaços, que não são físicos. Essa circulação de
informação, cada vez mais acelerada e intensa, distribuída pelos pontos da rede
está determinando o surgimento de uma nova cultura, a chamada cibercultura.
Lèvy (1999, p. 18) define a cibercultura: “Quanto ao neologismo cibercultura,
especifica aqui o conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente
com o crescimento do ciberespaço”. Entretanto, a cibercultura não se superpõe às
culturas preexistentes, nem as aniquila. No lugar de divisões, estabelecem-se os
nexos e as hibridações. É exatamente o que se observa com a Internet, a adaptação
a um tipo de comunicação que combina modelos da imprensa escrita com a
dinâmica do audiovisual.
Seria pertinente considerar que algumas tendências para o século XXI passam pela
proliferação das culturas identificadas com territórios em um ambiente de cultura
multimídia. Lèvy (1999, p. 85 a 106) A união de modos de viver diferentes e
geograficamente isolados ganha um novo sentido em cada circunstância cultural.
Porém acaba por unir pessoas no mesmo espaço midiático, cujos destinos passam
por caminhos diferentes, mas, que gira em torno de algo comum e de uma ação
comum, a comunicação. Uma circunstância cultural irreversível, já que na rede o
mundo se vê interligado em seus signos (som, texto, imagem).
63
A Internet guarda, ainda, uma grande quantidade de informações, integrando som,
texto e imagem. Isso só é permitido graças ao avanço da tecnologia da informática.
O acesso mais rápido às informações e a grande quantidade de dados guardados
na rede fazem com que o conhecimento seja potencializado. Como efeito o domínio
do saber não será mais estático, mas em constantes mudanças.
A internet relançou um imaginário e a procura de estilos e de formas que exprimam a modernidade. Estas tecnologias são ao mesmo tempo veículos de outras formas de cultura e lugares e criação da cultura contemporânea. Se, por um lado, é indispensável não confundir nova cultura com nova tecnologia, por outro lado, pode-se no mínimo sublinhar que esse novo suporte facilita uma nova expressão cultural e linguagens ainda em gestão, embora seja ainda demasiado cedo para poder saber se, a prazo, representarão uma ruptura cultural relevante. (WOLTON,1999, p. 79).
Já Castells (1999, p. 397) revela que a velocidade da informação e das consultas
altera os padrões da concepção do tempo, já que o passado, o presente e o futuro
interagem numa mesma mensagem. Basta apenas um “clique” para que isso
aconteça. O futuro passa a ser curto. A atualização da nova informação é constante,
pois a pressa pelo presente é urgente. A fronteira física também é eliminada,
mudando a noção do espaço. “Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural,
histórico e geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou em colagens de
imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares”
Compartilhando as informações dos teóricos citados, pode-se afirmar que a Internet
pode permitir uma modificação nas organizações sociais, uma vez que, possibilita
alterações nas estruturas dos movimentos, podendo gerar uma descentralização dos
poderes, de estratégias de recursos e na construção de alianças. Desta forma um
novo modo de pensar é criado pelo uso da rede.
Para Moraes (1998, p. 14 a 21) a Internet aumenta a oferta de informações, torna
possível um estoque imaginável de informações, imagens, entretenimento e
saberes. Faz criar uma cultura desterritorializada, que será fruto de uma
coletividade. A Internet contribui para a construção de uma nova sociabilidade, em
que o homem se isola dos grupos comunitários (presença física), para se encontrar
em novos grupos virtuais, produzindo assim paradoxo. A Internet possibilita
mudanças na economia e no trabalho, tornando-se cada vez mais elemento que
64
constitui a cultura atual. Ela amplia os horizontes nos campos sociais e no trabalho.
Influencia diversas áreas, como compras, investimentos, reuniões virtuais, cursos,
formação de grupos e outros mais.
Diante dessa provável potencialidade oferecida pela Internet, é difícil encontrar uma
teoria única que possa responder todas as indagações a respeito do papel da
comunicação na sociedade e nem consiga compreender, por inteiro, a ação das
técnicas de comunicação. Contudo, o processo da comunicação se desenvolveu e
intensificou a partir do aprimoramento das técnicas de difusão da informação (meio).
Assim aconteceu com a invenção da imprensa por Gutemberg22, e mais
recentemente com os meios eletrônicos. Desta maneira, começou o processo de
transformação da comunicação até os dias de hoje.
Mcluhan desenvolveu seus estudos segundo algumas premissas, entre as quais
pode-se destacar: os meios de comunicação são extensões do sentido humano, em
que algumas habilidades humanas se amplificam, modificam ou expandem, afetando
o pensamento humano. Outro conceito foi a partir da frase “o meio é a mensagem”.
Ele diz que a tecnologia por si só provoca mudanças. Ela independe do meio onde
está inserida.
Mcluhan expôs ao mundo a tese revolucionária de que “o meio é a mensagem”. Sua
ideia era que cada meio de comunicação produz efeitos sociais e psicológicos sobre
os indivíduos. Produz uma forma de consciência ou modo de pensar singular, que
quase independem do conteúdo que é transmitido. Esses efeitos constituem a
mensagem do meio. O próprio indica:
Os meios de comunicação, transformando o ambiente, fazem surgir em nós relações únicas de percepção sensorial. A extensão de um sentido qualquer transforma nossa maneira de pensar e atuar, nossa maneira de perceber o mundo. Quando mudam tais relações o homem se modifica. (MCLUHAN , 1998, p. 41).
22 Johannes Gensfleische zum Gutenberg é responsável pelo nascimento da impressão no mundo. No ano de 1438 cria a máquina da tipografia que facilita a difusão do saber. Melhores informações em: GIOVANNINI, Giovanni. Evolução na Comunicação: do sílix ao silício. São Paulo: Nova Fronteira, 1987. Págs 87 a 92.
65
A aparição e o uso de novas tecnologias provocam alterações na forma de se
comunicar, de pensar e expressar, na percepção e na proporção dos sentidos dos
humanos. Com isso a comunicação age não diretamente sobre o comportamento,
mas sobre os sistemas de conhecimentos dos indivíduos, modificando, assim, a
percepção que tem sobre o mundo. Os efeitos são visíveis, pois se referem à
maneira pela qual a produção de mensagem se reflete sobre o conhecimento. Com
o uso da Internet que leva os seres humanos a usarem diversos sentidos ao “mesmo
tempo”, poderá, usando a tese de Mcluhan, ser mais fácil informar e educar. Pois o
meio é “novo” e tem uma forte característica visual.
Lèvy (1999, p. 111 a 121) acrescenta, ainda, que as técnicas comunicativas
desempenham fundamental importância para classificar uma cultura, uma vez que o
eixo do estudo da comunicação está centrado na técnica, para em seguida, ser
deslocado para a sociedade e, mais especificadamente, para a cultura. E que o
sistema psíquico é responsável pela formação da personalidade e aprendizagem
humana, já que trabalha diretamente na emoção e na razão do ser humano. O
psíquico possibilita também ao homem participar do processo de constituição do
conhecimento, sem deixar espaço para tornar-se passivo na recepção da
informação.
Cita, ainda, a informática como uma das etapas na história da comunicação. Nesse
momento, com a informática, é observada a criação de uma sociedade mundial,
mais conhecida como o “universal sem totalidade”. A informática permite essa
universalidade, pois reúne características para formação de um ambiente sem
fronteiras, desigual e dinâmico. Os ambientes se interagem e se transformam
constantemente. Assim sendo pode haver a modificação veloz do conhecimento que
influenciará na formação cultural do indivíduo exposto ao meio.
66
2.2 A ALDEIA GLOBAL DA INFORMAÇÃO
A Internet teve sua origem em experiências militares feitas nos Estados Unidos nos
anos 60. Os americanos buscavam criar dispositivos que, mesmo sobre um ataque
soviético, permitissem continuar o tráfego de informação. Foi nesse ambiente que
surgiu uma nova tecnologia que funciona à base de uma rede de computadores sem
possuir um controle central. 23
Moraes (2003, p. 257 A 259) relata que depois dos experimentos, no final dos anos
60, uma rede de longo alcance que interligava quatro computadores foi testada pela
ARPAnet (Advanced Research Projects Agency Network). Logo em seguida, o
projeto ganhou força e com o desenvolvimento do protocolo TCP-IP (Transmission
Control Protocol / Internet Protocol) que tornou possível a comunicação entre
computadores de redes diferentes. Entretanto foi na década de 80 com o invento da
World Wide Web (www) que a Internet decolou.
A www possibilitou a navegação mais fácil com a implantação do Hipertexto, que
será estudado mais à frente. A Internet foi desenvolvida com o princípio de deixar o
usuário captar as informações necessárias que estivessem disponíveis na rede.
Dênis de Moraes define a Internet como sendo: “... um serviço de serviços em que
nenhum deles, separadamente, trabalha uma audiência de massas, mas em
conjunto, constituem a categoria de rede e meios mais formidável do mundo”24.
Para Hélio Freitas (1997, p. 101 a 114), a Internet pode, também, ser definida no
contexto da comunicação mediada pelo computador, pois envolve trocas de
informações em nível global, por meio de uma cooperativa de redes usando o
protocolo TCP/IP (Protocolo de Controle de Transferência / Protocolo de Internet) e o
modelo cliente/servidor (usuário / gerenciador de recursos) para a comunicação de
dados. As mensagens podem suportar uma extensão das manipulações de
distribuição, de tempo e serem codificadas numa variedade de tipos de mídia. O
23 AZEVEDO, Carlos. Meios de comunicação como arma de guerra. Disponível em www.observatoriodaimprensa.com.br Acesso em 22/02/2008. 24MORAES, Denis. Estratégia de Mídia no Cenário Global. Revista do Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação, Rio de Janeiro, v.2, Janeiro/Junho de 1998.
67
conteúdo resultante da troca de informações pode envolver uma grande quantidade
de pessoas e de símbolos usados para a comunicação.
A expansão da Internet é freqüentemente comparada a uma vasta “torre de Babel eletrônica”. Dado poder-se encontrar ai de tudo, como serviços de consumo comerciais-online e conteúdos dos mais variados tipos. Com milhões de utilizadores em todo o mundo, interagindo e trocando informações através deste tipo de meio de comunicação, a nova tecnologia não pode ser mais encarada como uma moda passageira ou uma rede para especialistas em computadores. (BASTOS, 2000, p. 22).
A Internet diferencia-se dos meios de comunicação tradicional pela sua
característica de potencial de interatividade, e a comunicação é sempre alimentada a
cada participante que se conecta à grande rede. Ela permite acessar informações e
entretenimento baseado no fato que qualquer pessoa pode emitir ou receber
conteúdos.
Para Dênis Moraes25 o sistema Internet utiliza categorias-chave de comunicação.
Uma delas é a comunicação interpessoal, tanto síncrona, de característica imediata,
como a acrônica. Outro modelo é a comunicação de massa, que é transmitido por
um editor a uma “platéia”. O surgimento massivo da Internet acontece de forma
paralela com a fragmentação da audiência mundial nos meios de comunicação
tradicional e com a globalização. Toda nova etapa na história da humanidade traz
seus avanços e aflora também os retrocessos. Assim aconteceu com a escrita, o
mesmo com as navegações e todas as outras invenções que alteram o curso da
história.
Lèvy (1999, p. 235 a 247) levanta alguns questionamentos sobre o poder da
Internet. É possível salientar que a inacessibilidade à informática poderá ser um dos
grandes problemas a serem enfrentados pela sociedade do mundo digital. Muitos
indivíduos não poderão ter acesso às novas tecnologias da informação e dificilmente
conseguirão acompanhar o novo universo que emerge. O processo é continuo e
para os excluídos é lento, porém, a história revela que a adaptação é possível. Cada
novo sistema de comunicação cria os seus excluídos. Não havia iletrados antes da
invenção da escrita.
25 MORAES, Denis. Estratégia de Mídia no Cenário Global. Revista do Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação, Rio de Janeiro, v.2., Janeiro/Junho de 1998.
68
Rodrigues26 faz uma abordagem sobre a liberalização do acesso aos produtos
culturais como uma das vantagens das novas tecnologias da informação. A ligação
em rede permite aos indivíduos uma grande diversidade de produtos culturais, que
dificilmente poderiam existir sem o acesso à Internet. Desta forma, o homem
encontra nos novos dispositivos tecnológicos um instrumento que lhe permite
relacionar-se com indivíduos, povos, e culturas, distantes no espaço e no tempo
para compartilhar a própria experiência do mundo.
Paradoxalmente, Rodrigues alerta que as novas tecnologias da informação se, por
um lado, permitem ao sujeito relacionar-se com povos e culturas distantes, por outro,
conduzem o homem rumo à solidão, na medida em que implicam a perda da
identidade cultural do sujeito. Segundo Rodrigues, com a mundialização da cultura
técnica são anuladas as diferenças culturais.
A Internet, historicamente, torna-se recurso geral para pessoas que buscam e
pesquisam informação. Acompanhar a evolução da Internet torna-se tarefa difícil,
uma vez que a Internet de ontem, não é a mesma de hoje. O ritmo da evolução é tão
rápido que uma descrição da Internet de há um ano ou mesmo seis meses poderá
estar extremamente desatualizada. Este fato semeia confusão. É muito difícil
manter-se atualizado em relação a algo tão dinâmico.
O professor Moacir Pereira (1988, p. 85 a 88) traça algumas diretrizes que podem
dar direito e acesso dos diferentes grupos sociais na emissão e recepção das
informações. Segundo o professor, uma política de comunicação democrática deve
orientar-se pelos seguintes princípios:
• Informação é um recurso social e um direito de todo cidadão, não podendo,
portanto, ser reduzida a condição de mercadoria.
• A Informação deve estar a serviço do desenvolvimento integral da população
e da eliminação das desigualdades e injustiças.
• A pluralidade é condição essencial da comunicação democrática.
26 RODRIGUES, Adriano. As Novas Tecnologias da Informação e a Experiência. Disponível no site www.bocc.ubi.pt. Acesso no dia 18/05/2008.
69
• A identidade cultural nacional, regional, local, de diferentes grupos sociais e
étnicos tem que ser respeitada.
Para o jornalista Clóvis Rossi27, existe, ainda, uma necessidade de conscientizar os
indivíduos formadores da sociedade para que se consiga inclusão de normas que
protejam à democratização da comunicação e, por conseguinte, da informação.
Só uma sociedade consciente e mobilizada seria capaz de gritar e impedir que o governo sufocasse um meio de comunicação. E, na direção inversa, só uma sociedade consciente poderia impedir que um ou mais órgãos de comunicação se dedicassem, impunemente, a conspirar contra um governo legitimamente estabelecido. A liberdade de informação, como de resto, as demais liberdades não serão conseguidas simplesmente por atos administrativos ou por doação de um governo mais esclarecido. Ou será uma conquista da sociedade ou simplesmente não virá. (PEREIRA, 1988, p. 91).
Diante desse contexto, o avanço das modernas tecnologias gera novos problemas e
coloca novos desafios no campo da comunicação. Afinal, mesmo com a invenção da
imprensa, não foi totalmente atingida a democratização da informação.
Embora ainda não haja uma inclusão total, a Internet, segundo Lèvy (1999, p. 235 a
239), caminha para tal. Isso ocorre devido o movimento próprio do universo para a
interconexão geral. Para Lèvy, não basta estar à frente das telas é preciso participar
dos movimentos coletivos. Os instrumentos tecnológicos devem valorizar a cultura,
as competências individuais, os recursos e os projetos locais, desta forma ajudando
as pessoas a formarem grupos de aprendizagem cooperativos.
Como nas abordagens mais clássicas, as políticas voluntarista contra as desigualdades e a exclusão devem visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos. Devem, em contra partida, evitar o surgimento de novas dependências provocadas pelo consumo de informação ou de serviços de comunicação concebidos e produzidos em uma óptica puramente comercial ou imperial e que tem como efeito, muitas vezes, desqualificar os saberes e as competências tradicionais dos grupos sociais e das regiões desfavoráveis (LÈVY, 1999, p. 238).
A expansão das mídias (revistas e jornais) na Internet é uma prova desse novo
cenário produzido. A Internet modifica os parâmetros de comportamento e possibilita
27 ROSSI, Clóvis. Jornalista do Jornal a Folha de São Paulo. Disponível no site www.folhaonline.com.br. Acesso em 21/03/2008
70
que as informações de um jornal cheguem até o leitor sem atraso em qualquer parte
do globo para ser lido simultaneamente com o fato. A separação e a distância
existente na hora da entrega da notícia e da leitura dos jornais e das revistas digitais
estão sendo diluídas pelo Ciberespaço.
A questão da interatividade é sem dúvida um dos fatores que contribuem para a
abertura e aceitação da Internet na sociedade. A todo instante novos “softwares” são
desenvolvidos para agilizar e incrementar o processo de produção. As indústrias
agradecem, multiplicam seus lucros e geram empregos devido à necessidade de
crescimento do setor internético. Então, segundo Paveloski28, a interatividade
possibilita uma ruptura com os parâmetros que definem a comunicação linear e
analógica própria dos meios de comunicação de massa tradicionais (rádio, televisão,
meios impressos).
A Internet abre janelas, para além das fronteiras, por meio de arquivos
suplementares, notas de rodapé, som e imagem. Escrever não fica mais restrito a
lugar, momento ou grupo. O texto não é mais estático e o processo de informação
transforma-se num sistema instantâneo, globalizado e participativo.
Para Dominique Wolton (1999, p. 78 a 81) a Internet é uma mistura de realidade e
fantasia e que o entusiasmo ingênuo será diminuído daqui a dez anos, quando o
acumular de uma experiência de utilização tiver relativizados os discursos do hoje. A
sociedade contemporânea está cada vez mais individualizada e as dimensões
psicológicas são responsáveis para exercerem esse poder de atração. As novas
tecnologias mudam as relações sociais e humanas, tal como o domínio da
comunicação gera símbolos e utopias.
Para entender o sucesso das comunicações basta entender a necessidade do
homem moderno que está sempre aberto ao símbolo da liberdade e da capacidade
para dominar o tempo e o espaço. A autonomia, o domínio e a rapidez são as
chaves para entender as novas tecnologias e entrar nesse novo mundo globalizado
que está de portas abertas. Cada um pode agir sem intermediário, quando quiser e
28 PAVELOSKI, Alessandro. Subsídios para uma Teoria da Comunicação Digital : uma análise das teorias da comunicação à luz da nova realidade da comunicação em tempos de Internet. Disponível no site www.bocc.ubi.pt . Acesso em 13/05/2008
71
em tempo real. Isso confere um sentimento de “liberdade absoluta”. A Internet é um
mundo aberto. As novas tecnologias são, enquanto figura de emancipação
individual, uma “nova fronteira”. Não é apenas a liberdade, a abundância e ausência
de controle que seduzem. É também a ideia de uma possível “autopromoção”.
Diante de toda essa “revolução” internética como fica o paradigma educacional?
Uma ruptura paradigmática da educação cartesiana poderá, de maneira lenta, ser
anunciada. O tempo e o espaço não serão mais determinantes desse novo modelo
educacional. As barreiras nessa nova percepção da educação aos poucos deverão
ser repensadas quanto às formas tradicionais do processo de ensino-aprendizagem,
da formação dos educadores, do currículo escolar, enfim, de tudo e todos que
formam o complexo sistema educacional.
Tajra explica que dentro desse modelo educacional mediado pelo virtual os
indivíduos poderão ser construtores do conhecimento.
O currículo é aberto e flexível, podendo ser sugerido e constituído pelos diversos participantes. Assim sendo, o paradigma educacional deverá atender às necessidades de uma sociedade fundamentada no conhecimento, na geração autônoma de oportunidades e nos cenários atuais da ciência. (TAJRA, 2002, p. 42).
É importante ressaltar que o uso da Internet possibilita, caso necessário, uma
comunicação sincrônica, ou seja, em tempo real. Esse recurso possibilita, de
maneira geral, uma agilidade intrínseca no processo e, também, possibilidade uma
assistência imediata na construção dos saberes.
Diante das ideias propostas sobre a Internet, suas oportunidades e da maneira que
ela se engendrou tão rapidamente na sociedade, observa-se que esse meio firma-se
como via de comunicação e informação. Mas, ainda, têm várias vertentes a serem
estudadas e que poderão vir a serem utilizadas no universo da educação.
A rede de informação interligada, que é a Internet, mudou a forma linear de busca de
saber impetrada pelos meios de comunicação e suportes de informação que
tínhamos conhecimento. Mesmo os aplicativos mais modernos têm seus limites de
conteúdo conforme a capacidade do suporte em que está inserido.
72
Nessa rede de informações, baseada em tecnologia, o aluno tem a possibilidade de
buscar por meio dos hipertextos a informação e construindo um saber em um meio
que “não tem limites” pré-estabelecidos. A interatividade que é dada pelo hipertexto
integra-se ao universo da sala de aula, possibilitando ao aluno uma autonomia e
livre escolha de que se quer pesquisar, constituindo o aprender a aprender.
A questão do virtual e do hipertexto tornou-se de vital importância para a construção
da rede. Compreender os dois princípios possibilitou a abertura de um novo caminho
para a sociedade. O virtual começou com a escrita. Pode-se dizer que os mundos
virtuais são constitutivos da humanidade, na medida em que são os núcleos do
imaginário. Ocorre desde o momento em que se faz as narrativas, que se virtualiza
desde as primeiras pinturas e gravuras pré-históricas e, que se comunicam não tanto
no espaço, mas sim no tempo.
Pode-se definir o virtual pelo menos de três óticas diferentes. André Parente (1999,
p. 14 a 16) define como uma primeira tendência, o surgimento de uma tecnologia do
virtual que é capaz de explicar porque a imagem em nossa cultura contemporânea
se tornou auto-referente e, com isso, rompeu com os modelos de representações.
Uma segunda tendência toma o virtual tecnológico como um sintoma e não como
causa das mutações culturais. As imagens contemporâneas (televisão, cinema,
etc...) são virtuais, auto-referentes e são significantes sem referente social. A terceira
afirma o virtual como uma função da imaginação criadora das mais variadas formas,
seja entre a arte, a tecnologia e a ciência, e ainda, são capazes de criar novas
condições para modelar o indivíduo e o mundo.
Para Pierre Lèvy (1996, p. 15 e 16) a palavra virtual vem do latim medieval “virtualis”,
derivado por sua vez de “virtus”, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o
que existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter
passado, no entanto, à concretização efetiva ou formal, “A árvore está virtualmente
presente na semente”. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe ao
real, mas ao atual.
73
Como André Parente, Lèvy (1999, p. 46 a 52) também define o virtual por três
sentidos, um deles já citado acima, que é o “filosófico”. Um segundo sentido, é o que
ele chama de “corrente”, ao qual a palavra virtual é empregada para significar a
irrealidade. A palavra realidade pressupõe uma efetivação material. Se usarmos a
expressão “realidade virtual”, ela irá soar como uma expressão contraditória. Em
geral, acredita-se que “uma coisa” não pode assumir o papel ou ter a qualidade de
ser real ou virtual ao mesmo tempo.
O terceiro é o da “técnica” que está ligada diretamente à informática. O computador
é uma montagem de unidades de processamento, de transmissão, de memórias e
de interfaces de informações, que permitem criar o virtual, ou melhor, a realidade
virtual, cuja digitalização é o fundamento técnico do virtual.
A informática, enquanto suporte de comunicação permitiu ampliar o número de
linguagens, a escrita deixou de ser única, passou-se a construir uma variedade
semiótica mais vasta que engloba imagem, som, movimento, simulação, permitindo
gerar ambientes que estão a serviço do virtual.
Na virtualização, segundo o enfoque da “técnica”, que tem invadido progressi-
vamente a vida cotidiana, é necessário questionar acerca das conseqüências dessa
nova realidade na prática e nas identidades sociais. Será necessário questionar se a
atual formação cria competências para uma vivência virtualizada mediada por uma
pluralidade de linguagens. A virtualização progressivamente atinge todos os
domínios da “esfera simbólica” de toda a humanidade, tornando-se duplamente
global.
A interatividade “digital virtual” caminha para a superação das barreiras físicas entre
os agentes (homens e máquinas), e para uma interação cada vez maior do usuário
com as informações, e não com objetos no sentido físico. Isso acontece graças à
evolução da informática, que possibilitou a inter-relação entre conteúdo e técnica,
possibilitando a leitura de roteiros não lineares atendendo às necessidades do leitor,
por meio do recurso da hipereferência.
74
Parente (1999, p. 71) explica que o hipertexto surgiu para alguns teóricos no século
XVIII com a “Enciclopédia de Diderot e D’Allembert”. A obra era composta de trinta e
cinco volumes, onze dos quais constituídos de pranchas e dois de índices. A
enciclopédia tinha um volume de informação fora dos padrões normais de época e
uma estrutura que dava condições de fazer consultas pela ordem alfabética de
entradas, possuía dispositivos de recuperação de informação, fazendo assim, a
enciclopédia um “livro máquina” de uma técnica complexa a serviço do pensamento
humano.
Avançando no tempo chegamos a definições modernas de hipertexto. Para Lèvy
(1993, p. 33), o hipertexto é um conjunto de “nós” ligados por conexões. Os “nós”
podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências sonoras, documentos
complexos que podem eles mesmos ser hipertexto.
Os itens de formação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós,
mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo
reticular. Ou seja, o hipertexto é um elo que liga a outros elos de outras estrelas,
possibilitando que o usuário escolha o caminho que queira seguir, sem ter um
começo ou fim definido.
A metáfora do hipertexto dá conta da estrutura indefinidamente recursiva do sentido, pois já que ele conecta palavras e frases cujos os significados remetem-se uns aos outros, dialogam e ecoam mutuamente para além da linearidade do discurso, um texto já é sempre um hipertexto, uma rede de associações. O vocábulo “texto”, etimologicamente, contém a antiga técnica feminina de tecer. (LÉVY,1993, p. 73).
O hipertexto então rompe com a seqüencialidade do texto, rompe com o modelo que
torna o texto um objeto, entre a escrita e a leitura. Para caracterizar o hipertexto,
Lèvy (1993, p. 24 a 27) recorre a seis princípios29, que proporciona uma visão
panorâmica, que organiza, resume e amplia a ideia de rede que se pretende
construir. O “rizoma” é usado como metáfora para a explicação da rede hipertextual.
Os princípios são:
29 As reflexões sobre os seis princípios básicos do hipertexto podem ser encontradas na integra em Lèvy (1993, p 24 a 27). No texto, para apresentar os princípios, foram colocadas partes iguais a encontrada em Lèvy e também resumo com edição feita pelo autor da dissertação para facilitar a compreensão. Entretanto o sentido das ideias foi mantido ao original.
75
• Princípio de Metamorfose
A rede hipertextual está em constante construção e renegociação. Ela pode
permanecer estável durante certo tempo, mas esta estabilidade é, em si mesma,
fruto de um “trabalho". O princípio de metamorfose explicita a ideia, suficientemente
vivenciada por todos os que lidam diariamente com informações, de que a rede de
significações que constitui o conhecimento está em permanente transformação.
• Princípio de Heterogeneidade
Os nós e conexões de uma rede hipertextual são heterogêneos. Serão encontradas
imagens, sons palavras, diversas sensações, etc... As conexões serão lógicas. Na
comunicação, as mensagens serão multimídias, multimodais, analógicas e digitais.
O processo colocará em jogo pessoas, grupos, artefatos, forças naturais de todos os
tamanhos, com todos os tipos de associações que pudermos imaginar. A
heterogeneidade esta presente na composição dos nós e há uma variedade de
conexões que podem ser estabelecidas entre eles.
• Princípio da Exterioridade
A rede não possui unidade orgânica, não vive sozinha. Seu crescimento, sua
diminuição, sua composição e sua recomposição permanente dependem de um
agente exterior. Por exemplo, a adição de novos elementos, conexões com outras
redes. A exterioridade caracteriza a permanente abertura da rede hipertextual e do
conhecimento em construção.
• Princípio da Topologia
No princípio da topologia a rede funciona por proximidade, vizinhança. Nela o curso
dos acontecimentos é uma questão de relação entre as diversas partes do texto.
Não há espaço universal homogêneo, onde haja forças de ligação e separação,
cujas mensagens poderiam circular livremente. Tudo que se desloca deve utilizar-se
da rede hipertextual, tal como ela se encontra, ou então será obrigado a modificá-la.
A rede não está no espaço, ela é o espaço. O princípio da topologia é a ideia de
proximidade entre significações, um espaço de representações, mas um espaço vital
onde se estreitam e se multiplicam as conexões que entretecem o conhecimento.
76
• Princípio da Mobilidade
No princípio da mobilidade a rede não tem centro, ou melhor, possui diversos
centros, que são como pontas móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor
de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, rizomas, construindo por instante
uma “figura” qualquer e depois corre para desenhar mais à frente outras “figuras”
dando sentido ao todo.
• Princípio da Multiplicidade
No princípio da multiplicidade o hipertexto se organiza de um modo “fractal” que
qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode se revelar como sendo composto
por todo uma rede, e assim por diante. Cada nó da rede hipertextual é apenas uma
utilização possível entre outras. Cada nó é potencialmente uma outra rede, ao
infinito. A multiplicidade funciona como uma multitemporalidade, na qual o tempo se
contrai e se expande.
Em resumo, as seis características da rede hipertextual colocadas por Pierre Lèvy,
constroem a teia básica, a partir da qual a ideia de rede, para a representação do
conhecimento deva ser tecida. O hipertextual é uma realidade e nos leva a repensar
e refletir a dinâmica dos processos de comunicação. O hipertexto é um complexo
sistema de estruturação e recuperação da informação de forma multissensorial,
dinâmica e interativa.
André Parente (1999, p. 80) considera o hipertexto um agrupador de diversos
campos de pesquisa (ciência da informação, cibernética, teorias das redes, teorias e
sistemas de comunicação, etc...) e de acordo com o campo pesquisado o conceito
hipertexto muda. Segundo Parente, um hipertexto para torna-se ideal deve ser:
• Um método intuitivo de estruturação e acesso à base de dados
multimídia.
• Um esquema dinâmico de representação de conhecimentos.
• Um sistema de auxílio à argumentação.
• Uma ferramenta de trabalho em grupo.
77
Para André Parente, ainda, o hipertexto favorece a construção da intertextualidade
em todos os níveis. A leitura é feita como uma rede de interconexões, ou seja, a
leitura constrói o texto. Na verdade, “A intertextualidade constitui uma forma de
pensamento em rede que se contrapõe à ideologia de uma leitura passiva, guiada
pela ordem dos discursos” (PARENTE, 1999, p. 87). Todo texto deve reportar-se a
outros textos, signos, imagens, sons e desejos que constituem e contribuem para a
construção do sentido.
Suanno30 explica que o hipertexto coloca em “cheque” as seqüências fixadas como
começo e fim definidos. Na narrativa hipertextual, o autor oferece múltiplas
possibilidades através das quais os próprios leitores constroem sucessões temporais
e escolhem personagens, realizando saltos com base em informações referenciais.
O hipertexto é um modo de interagir com textos e não só uma ferramenta como os
processadores de textos. Por sua característica, o usuário interliga informações
intuitivamente e associativamente por meio de saltos. Os saltos estão baseados em
indexações e associações de ideias e conceitos, sob a forma de link. Eles agem
como portas virtuais que abrem caminhos para outras informações que marcam o
movimento do hipertexto. O usuário assume um papel ativo, sendo ao mesmo tempo
co-autor.
Todo o ambiente técnico propiciado pelo hipertexto criou um novo conceito de
organização de conteúdos. O jornal participou dessa mudança e adaptou-se ao
meio. A hipertextualidade proporcionou a essa mídia relacionar seus conteúdos,
transformando-se em um meio de comunicação, mais interativo, dinâmico e,
principalmente, instantâneo, como veremos a seguir. Esta perspectiva de análise
torna-se especialmente relevante em nosso estudo, na medida em que pode
possibilitar a interdisciplinaridade na construção do conhecimento em sala de aula e
constitui parte importante de categorias a serem definidas na presente pesquisa,
como abordaremos oportunamente.
Com as concepções e a popularização do virtual e do hipertexto, o ambiente da
mídia online ganhou e ganha espaço na sociedade. Entretanto, três termos – mídia,
30 SUANNO, Marilza Vanessa Rosa. Novas Tecnologias de Informação e Comunicação: reflexões a partir da Teoria Vygotskyana. Disponível em www.bocc.ubi.pt. Acesso em 18/05/2008.
78
multimídia e hipermídia – precisam ser compreendidos para avançarmos nas
reflexões. A Mídia, segundo Bougnoux (1996, p. 117 a 118) origina-se da palavra
latina media, que significa meio. Mídia é designação dos meios de comunicação
social, como jornais, revistas, cinema, Internet, rádio, etc., ou seja, meios que
transmitem informação para um grupo social.
Pode-se estender ao significado de mídia às técnicas de comunicação que levam
por meio de seu conteúdo uma mensagem verbal ou não-verbal como a fotografia, a
música, o vídeo, a Internet e as vertentes artísticas de forma geral, como o teatro, a
pintura, o desenho e outras mais.
A história das mídias antiga e nova não podem ser narradas apenas em termos tecnológicos, envolvendo somente relações entre pessoas e máquinas. Também é preciso vê-la pelo prisma da política, da cultura e da economia, que permite que as coisas novas, (...) estejam no palco da mídia e, às vezes, permite que veteranos, como os jornais, mantenham por mais algum tempo o seu fastígio, (...) a nova mídia é determinada pelas forças da invenção, criatividade, da demanda de mercado e da liberdade de regulação. (DIZARD, 1998, p. 12).
Dessa maneira, com os avanços tecnológicos surgem novos padrões de
transmissão de mensagem, como o cinema falado e, posteriormente, a televisão,
que faz o ser humano utilizar mais de um sentido. O nascimento da multimídia é um
reflexo desse desenvolvimento tecnológico. Lembramos que mídia é meio de
comunicação de massa, portanto, multimídia é a utilização de várias mídias
simultaneamente com um mesmo fim. Cada qual complementando e/ou facilitando
veiculação da mensagem principal, transmitindo, assim, uma informação
contextualizada e multissensorial.
Num primeiro momento, a multimídia surge de forma linear, isto é, não permite que o
receptor interaja ou intervenha no roteiro de sua apresentação. O receptor é passivo,
podendo apenas optar por ver ou não o que está sendo ofertado. Com a
digitalização de alguns meios de comunicação a multimídia aumenta seu alcance,
quebrando a linearidade de seus roteiros e passa a ser também interativa.
Pierre Lèvy explica que o termo multimídia significa “aquilo que emprega diversos
suportes ou diversos veículos de comunicação” (1999, p. 63), porém o uso freqüente
79
do termo multimídia referencia-se a tendências da comunicação contemporânea: a
multimodalidade e a integração digital. A multimodalidade incorporou-se ao conceito
de multimídia dado por Lèvy, ou seja, a multimodalidade faz uso de diversas mídias,
estimulando as modalidades sensoriais para alcançar seu objetivo.
O sistema de hipermídia é o resultado das mudanças de mentalidade dos indivíduos
que trabalham com a indústria da informática. Esses resultados implicam na junção
da linguagem escrita e audiovisual com a linguagem informática (interação homem-
máquina, melhorias nos processos de informação, de tratamento de imagem, de
digitalização de sons, textos, fotografias e etc...). Dessa “nova união” surge a
necessidade de definir um conjunto de “regras” para o desenvolvimento dos
produtos que vão constituir a hipermídia.
O conjunto dos princípios gerais31 que colaboram para uma melhor qualidade e
qualquer aplicação hipermídica são definidos por Galvão MEIRINHOS (1998, p. 23 a
26) como:
• Princípio da estimulação sincronizada
Este princípio estabelece que a transmissão de informação é conseguida pela
sincronização da imagem, do texto e do som. A implementação deste princípio em
qualquer produto hipermídia permite ao indivíduo integrar a mensagem sob múltiplas
formas e canais.
• Princípio da interatividade
A interatividade é um dos recursos com maior capacidade de reforçar as mensagens
dos sistemas hipermídia. Esta permite ações participativas e ativas por parte do
indivíduo entre diferentes cenários possíveis. A aplicação deste princípio evita que o
indivíduo se torne um espectador passivo. O sistema deve portanto, desenvolver a
ideia que o indivíduo navega livremente, independentemente de estar submetido a
um esquema “pré-definido”. 31 As reflexões sobre O conjunto dos princípios gerais que colaboram para uma melhor qualidade e qualquer aplicação hipermídica são encontrados na integra em Galvão MEIRINHOS (1998, p 23 a 26). No texto, para apresentar o conjunto dos princípios gerais, foram colocadas partes iguais a encontrada em Meirinhos e também resumo com edição feita pelo autor da dissertação para facilitar a compreensão. Entretanto o sentido das ideias foi mantido do original.
80
• Princípio da simulação dinâmica
Os sistemas hipermídia devem possuir uma dinâmica própria, de forma a poder
absorver o interesse e esforço de quem o utiliza, ou seja, todo o sistema deve
possuir vida autônoma com capacidades de estimulação visual e auditiva. Para isso,
usam-se diferentes formas como: fundos dinâmicos, iconografia animada, e botões
que respondem instantaneamente ao navegador.
• Princípio da necessidade temática
A existência de um sistema hipermídia deve responder a uma necessidade
específica socorrendo-se dos recursos de multimídia. O design dos sistemas
hipermídia será desenvolvido segundo a especificidade do público utilizador. Razão
pela qual, a experimentação dos sistemas deve ser efetuada com amostras
representativas do universo dos utilizadores, para assim redefinir e introduzir a
operacionalidade e navegabilidade no sistema.
• Princípio da unicidade visual
O sistema hipermídia deve assumir, tanto em forma como em conteúdo, um aspecto
visual único e um estilo invariável. O utilizador final deve entender o sistema como a
obra de um só indivíduo, na qual exista uma homogeneidade constante e geral.
• Princípio do aforro temporal
Este princípio deve compreender o utilizador como um indivíduo inteligente,
operativo e impaciente de acontecimentos e emoções. Os sistemas hipermídia
devem evitar a todo o custo seqüências longas de texto, imagem e som. A economia
de tempo obriga o sistema a narrar de uma forma breve e concisa.
• Princípio da uniformidade funcional
Este princípio estabelece que o sistema deve possuir pautas e regras de
funcionamento uniformes. As variáveis de construção de um sistema hipermídia
uniforme devem simplificar ao máximo o uso para o indivíduo. Como exemplos,
podemos destacar: O uso de um número limitado de fontes tipográficas, um
processo de interação constante, evitar o uso do duplo clique ou botão do lado
81
direito do mouse, zonas com funções e disposição espacial dos botões ou ícones de
navegação fixos.
Concluindo, pode-se dizer que os sistemas hipermídia devem ser pensados como
uma sucessão de estímulos visuais, textuais e sonoros orientados ao usuário. Ele
deve sentir o poder de definir o seu percurso, no qual a mensagem deve fluir e cuja
apropriação dos significados não é feita através da análise, mas pela navegação no
"espaço virtual".
82
2.3 ESTRATÉGIAS DA NOTÍCIA
O jornalista busca a notícia nos acontecimentos do cotidiano da sociedade para
preencher os veículos de comunicação de massa. Conceituar notícia não é uma
tarefa nada fácil, pois os teóricos utilizam diferentes aspectos para a conceituação.
Um exemplo clássico que mostra o conceito de notícia está na famosa forma irônica
do editor americano do Jornal New York Daily Tribune, Charles Dana. Ele afirma que
quando um cachorro morde um homem não é notícia. Mas, se o homem morde o
cachorro, isso sim é notícia. Para o editor, numa visão simplista, o diferente, o novo,
o inédito sempre será tratado como notícia no jornalismo.
Já para Sodré e Ferrari (1989, p. 17) a notícia é a informação corrente dos
acontecimentos do dia posta ao alcance do público. “Notícia não é a morte do
ditador, mas o relato que é feito dessa morte. Porém, independente do número de
acontecimentos que possam acorrer, só será notícia aquele que for anunciado.
Desta forma, noticiar é anunciar determinado fato.”
Para Luiz Beltrão (1992, p. 67) a notícia é a informação de fatos correntes, que são
corretamente interpretados e posteriormente transmitidos, com certa freqüência à
sociedade.
Numa visão mais capitalista, Ciro Marcondes (1988, p. 13) define como a informação
transformada em mercadoria com todos os apelos estéticos, emocionais e
sensacionais. A informação, então, sofre um tratamento que a adapta às normas
mercadológicas de generalização, padronização e simplificação. Já Cremilda Medina
é mais enfática é afirma que: “notícia é um produto à venda.”
Mauro Wolf (1994, p. 169) acredita na notícia como o resultado de um processo. É o
produto de um processo organizado que implica uma perspectiva prática dos
acontecimentos. Tem por objetivo reunir os fatos, avaliar suas relações a partir do
cotidiano, descontextualizá-lo do acontecimento no contexto em que se originou
para depois o recontextualizá-lo no discurso informativo.
83
Mesmo com variadas definições, o fato necessita de algumas regras para se
transformar uma notícia para veiculação nos meios de comunicação de massa. Para
isso valores chamados “valores-notícia” devem estar agregados ao acontecimento
para que se torne noticiável o fato. E são eles segundo Hohlfeld (2001, p. 209 a 213)
• Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento - se
personalidades famosas, há mais noticiabilidade;
• Impacto sobre a nação e o interesse nacional - implica o grau de significação
e importância de proximidade geográfica, de atingir o imaginário, etc.;
• Quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento - quanto maior seu
número, naturalmente maior noticiabilidade apresenta;
• Capacidade de entretenimento - o inusitado, o inesperado, sempre atrai;
• Interesse humano - uma das categorias mais valorizadas tradicionalmente no
jornalismo, envolve tanto campanhas beneméritas quanto pode distorcer-se
facilmente para o sensacionalismo;
• Atualidade;
• Qualidade - o material disponível deve ter um mínimo de qualidade técnica
compatível com o veículo em que será transmitido;
• Protetividade - evita-se noticiar o que pode criar traumas, pânicos ou
ansiedade desnecessária ou inconseqüente;
• Exclusividade ou furo - cada veículo busca ser o único ou o primeiro a narrar
determinado acontecimento ou, ao menos, detalhes e desdobramentos do
mesmo.
Mesmo com os valores-notícias citados acima, pode-se afirmar que os jornalistas
acabam resumindo os fatos a quatro valores-notícias para determinar a divulgação.
O acontecimento deve ser de interesse público (atingir o maior número de pessoas),
ser verdadeiro, ser inédito e novo.
Nelson Traquina (1993, p. 168) faz suas reflexões afirmando que as notícias
acontecem na conjunção de acontecimentos e de textos. Enquanto o acontecimento
cria a notícia, a notícia também cria o acontecimento. Para que a notícia seja
veiculada há caminho a ser percorrido. O produto final nunca será o fato como ele
realmente aconteceu. Os jornalistas constroem os acontecimentos na narrativa de
84
um fato interpretado. A notícia é a descrição do evento interpretado. É um conjunto
de significações construídas no texto.
Ao avaliar a notícia sob a luz da semiótica (LANDOWSKI, 1992, p. 118) posso refletir
que a notícia é um “sujeito” semiótico. A notícia (enunciado) produz efeitos de
sentidos, que envolve a interpretação e colocação das palavras no texto, a
hierarquização do que entra no primeiro parágrafo do texto, a escolha das falas das
fontes (colocação das aspas) e a diagramação deste enunciado na página. Essas
são estratégias utilizadas pelo enunciador (jornalista) com o objetivo de envolver o
enunciatário (leitor, ouvinte, telespectador. Em nosso caso o aluno) para que
absorva a informação desejada.
Desta maneira, Kucinski (2005, p. 40) coloca que o jornalista não é um simples
mediador neutro. Para ele, o profissional da notícia desfruta de uma autonomia
discursiva na criação de sentidos. Tudo isso graças à capacidade do jornalista de
escolher ou destacar alguns temas, fundir e teatralizar os fatos e de reformular e
recriar as narrativas. O jornalista pode oscilar de um conformismo e reforço dos
padrões dominantes ao extremo oposto da crítica total, contribuindo para sua
mudança social.
O jornalista, então, pode ser considerado um filtro do acontecimento do cotidiano. O
Gatekeeper, termo utilizado dentro da teoria de newsmaking, analisa melhor essa
realidade, pois busca estudar e analisar como se desenrola o processo de seleção
dos fatos a serem divulgados. Para essa teoria o jornalista equivale ao “filtro”,
“porteiro” dentro da instituição, na medida em que se apropria de valores e critérios
para decidir o que será veiculado.
85
O termo refere-se à pessoa que toma a decisão e foi introduzido pelo psicólogo Kurt Lewin, numa pesquisa, publicada em 1947, sobre as decisões domésticas em relação à compra de alimentos para casa. O artigo de White deu origem a uma das tradições mais persistentes e prolíferas sobre o jornalismo. Na teoria de White, o processo de produção de notícias é concebido como uma série de escolhas, onde o fluxo de notícias tem que passar por diversos portões (gates), que são momentos de decisão em relação aos quais o gatekeeper (jornalista) tem de decidir se vai escolher ou não uma notícia, e deixá-la passar ou não.32
Segundo a teoria, a seleção dos fatos é um processo hierarquicamente ordenado e
ligado a uma rede de “feedback”. As decisões são tomadas pelo jornalista
(Gatekeeper) em relação a um conjunto de valores e critérios, já citados.
O termo newsmaking significa produção de jornal, isto é, através desse conceito é
possível entender como são produzidos os jornais, e conseqüentemente, as notícias.
A abordagem teórica do newsmaking procura entender como as notícias são o que
são, que imagem elas fornecem do mundo e como essa imagem é associada às
praticas cotidianas na produção das notícias. Na teoria do newsmaking, as normas
profissionais e organizacionais são mais fortes que as preferências pessoais do
jornalista. Segundo a teoria, a cultura jornalística e a organização do trabalho
condicionam o processo de construção e seleção das notícias.
Contar histórias significa relatar um fato, desenvolver uma narrativa minimamente coerente que contemple um começo, um desenvolvimento de acordo com as regras estilísticas - a chamada ‘pirâmide invertida’ - e um fim, envolvido em uma série de fatos anteriores. Toda história tem um começo, um meio e um fim. E, sobretudo, tem um sentido, uma moral (BARROS e MARTINO, 2003, p. 178).
Segundo Wolf (2003, p. 240 a 241), o processo informativo pode ser composto por
várias fases, que variam de acordo com a organização do trabalho de cada
organização. No entanto, existem três fases que são as que mais influenciam na
qualidade da informação e se encontram presentes em quase todos os órgãos de
comunicação: a apuração, a seleção e a apresentação.
É na fase da seleção e de apuração dos materiais que o jornal começa a ganhar sua
forma, e ela é feita proporcionalmente aos recursos disponíveis. É importante um
32 VIZEU, Alfredo. O Jornalismo e as “teorias intermediárias": cultura profissional, rotinas de trabalho, constrangimentos organizacionais e as perspectivas da Análise do discurso. Disponível em: < http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=vizeu-alfredo-jornalismo-teorias-intermediarias.html Acesso em 03\09\2009.
86
jornal ter um fluxo constante e seguro de notícias para garantir a execução do
processo informativo. Por isso, a fase de recolha está ligada às fontes estáveis.
A segunda fase é a seleção das notícias, na qual todo material recolhido vai ser
reduzido. “A triagem e a organização do material que chega à redação constituem o
processo de conversão dos acontecimentos observados em notícias” (WOLF, 2003,
p. 240).
Segundo o Manual da Redação, do jornal Folha de S. Paulo (2001, p. 21),
“selecionar significa também priorizar assuntos, mesmo em detrimento de outros, de
modo a concentrar o trabalho principal da equipe naquilo que a edição julgar mais
relevante”.
A seleção das notícias não pode ser vista apenas como uma escolha subjetiva do
jornalista. Para ele, é preciso vê-la como um processo complexo, que envolve toda a
rotina de trabalho do profissional. Além disso, a diferença entre as notícias não é a
única forma de fazer a seleção. A questão da eficiência também é muito importante.
“A necessidade de ser eficiente e a escolha de procedimentos que permitam a
eficiência domina as fases de seleção e produção” (WOLF, 2003, p. 241).
A terceira fase é a apresentação às notícias. Essa fase tem o objetivo de tentar
anular os efeitos das limitações provocadas pela organização produtiva e tentar
restituir à informação a sua realidade. No entanto, é na apresentação das notícias e
na edição que aparece a hierarquização dos fatos. A principal função da edição é
transformar o acontecimento em uma história com começo meio e fim, que crie no
leitor um envolvimento pelo fato. No momento em que o jornalista está editando todo
material recolhido e selecionado ele é obrigado a fazer escolhas e veicular a
informação para o público.
Em nome dessa veiculação e da busca da imparcialidade o enunciador (jornalista)
também produz mentiras no texto. A “lei dos dois lados”, apresentada Clovis Rossi
(2000, p. 10) utilizadas no texto jornalístico do gênero informativo, sugere ao
enunciador a ouvir todos os lados envolvidos num mesmo acontecimento. Desta
maneira, “teoricamente”, ele se torna “neutro” na narrativa e propicia para o
enunciatário a possibilidade de tirar as próprias conclusões. Contudo, algumas
fontes podem estar mentindo e o jornalista é obrigado a publicar essa mentira para
87
criar a isenção. Então, notícia pode ser definida como uma realidade interpretada e
veiculada pelo enunciador.
E as estratégias no texto jornalístico continuam para apresentar a notícia ao leitor.
Segundo Beltrão (1992, p. 149) o jornalista aprende que para construir uma notícia é
necessário seguir alguns caminhos predeterminados. Um exemplo são as perguntas
básicas que compõem a informação e que devem ser respondidas em uma matéria:
o que?, quem?, quando?, como?, onde?, por que?. As respostas a essas perguntas
compõem o chamado lide, que representa o primeiro parágrafo de um texto
jornalístico. Informa a essência da notícia e apresenta o ponto principal da matéria,
que tem por objetivo “prender” a atenção do leitor, ouvinte, telespectador.
A informação jornalística precisa apresentar alguns elementos básicos de que o leitor tem necessidade para a total compreensão da notícia. Que fato (coisa) aconteceu? Quem provocou o fato (coisa) acontecido? Onde foi? Por que? Para que?.
Essa característica de colocar os fatos mais importantes no início do texto é
conhecida como pirâmide invertida, um termo jornalístico para identificar o parágrafo
introdutório nos textos jornalísticos.
A pirâmide da informação seria invertida porque, ao contrário das pirâmides físicas, o mais importante estaria no alto, ou seja, no início do texto. O formato tornou-se quase uma unanimidade na imprensa porque poupa tempo do leitor e permite que o texto seja cortado para adequar-se ao espaço editorial disponível, sem comprometer a qualidade da notícia ou da informação33 .
Essas técnicas representam as questões da objetividade do texto jornalístico.
Permitem ao leitor inteirar-se dos fatos com menor tempo. E aos jornalistas elas
agilizam a redação e facilitam o ajuste final do texto. A objetividade pode ser
entendida de duas maneiras diferentes: objetividade como forma e objetividade
como conteúdo. A objetividade como forma nada mais é do que um texto direto,
conciso e de fácil entendimento. Já a objetividade como conteúdo é aquela que o
jornalista tem que informar a partir de um texto impessoal, sem juízo de valor, com a
separação do que é fato e opinião. O conceito de objetividade está ligado à relação
entre as declarações jornalísticas e a realidade.
33 CASTILHO, Carlos. Para que serve a pirâmide invertida? Disponível em http://observatorio. ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=311ENO001 acesso em 14\10\2009
88
A objetividade jornalística não pode ser confundida com imparcialidade ou equilíbrio.
A imparcialidade que se exige nas reportagens jornalísticas está relacionada com o
conteúdo global de um veículo de comunicação, com os interesses existentes numa
sociedade que dentro desse veículo compete com algum outro em torno da opinião
pública. A objetividade é uma importante estratégia de legitimação de um produto, o
jornal, dentro de um campo de produção.
Koschwitz cita (KUNCZIK, 1997, p. 223) e observa a importância do conceito de
objetividade jornalística entre os jornalistas. Para ele: “[...] a objetividade de uma
informação é o grau de identidade entre o fato e a sua descrição mediante à
informação [...]” e está ligada à qualidade do produto jornalístico. A notícia objetiva é
aquela que se distingue da opinião, que fica com os fatos, que não muda, não
suprime e não publica de favor e que contém o mínimo de equilíbrio.
De acordo com o Manual da Redação do jornal Folha de S. Paulo (2001, p. 45), há
uma dicotomia. O manual coloca que não há objetividade em jornalismo:
Não existe objetividade em jornalismo. Ao escolher um assunto, redigir um texto e editá-lo, o jornalista toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições pessoais, hábitos e emoções.
Além disso, o jornalista não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele
vai precisar saber o que aconteceu por outras pessoas, que vão perceber o fato de
acordo com as suas limitações de sentido e interpretá-lo segundo sua história,
opiniões e preferência.
A notícia é um produto real (por isso pode ser lida ou ouvida) que faz referência a algo exterior a ela (por isso é um símbolo). O texto jornalístico, como qualquer texto de literatura, é um ‘referente’. Assim, todo texto informativo ‘se refere’ a um fato sem ser o próprio fato, daí sua dimensão ficcional (KUNCINK, 1997, p. 50).
Quando o jornalista seleciona um fato para virar notícia em detrimento a outro,
escolhe determinadas palavras para a manchete, seleciona quem vai falar, ou ainda
elimina da edição do jornal uma matéria ao invés de outra, ele está deixando de ser
objetivo.
A objetividade se reforça pelo uso de um formato comum e estandardizado para envolver as notícias (...), que funciona como um controle implícito de seu conteúdo ao obrigar os jornalistas a obter todos os fatos (quem, o quê, quando, onde, como etc) necessários para construir um relato sólido e plausível de um incidente (BERNNETT cita BARROS, 2003, p. 54).
89
A objetividade é definida, então, não pelo modo como o jornalista faz o seu trabalho,
de obter e interpretar os fatos, mas pela forma como esses fatos são colocados no
papel. Em um esforço para sermos honestos, utilizamos as fontes de informação
para produzir quantos efeitos necessitamos.
Josenildo Guerra, professor e pesquisador de jornalismo, defende a objetividade
jornalística. De acordo com ele, o jornalismo tem que ser capaz de reportar os fatos,
da maneira como eles aconteceram, ou senão a atividade perde a razão de existir.
Dessa forma, a objetividade se torna um parâmetro para que a sociedade possa
cobrar dos jornais a verdade sobre os fatos.
Apesar de objetividade jornalística ser um tema que há muito tempo é discutido e
questionado, até hoje muitos conceitos ainda não se coadunam. Quando se fala em
objetividade é comum aparecerem opiniões diversas e contraditórias. A minha ideia
não é aprofundar as questões da objetividade, mas apresentar algumas reflexões
sobre o tema para que entendamos que os veículos de comunicação desejam a todo
“custo” a atração e a fidelização do público. E até mesmo o “agendamento” das
discussões diárias desse público.
A esse “pautamento” damos o nome de agenda setting, que é uma construção
teórica que pensa a ação dos meios não como formadores de opinião, causadores
de efeitos diretos, mas como alteradores da estrutura cognitiva das pessoas. É o
modo de cada indivíduo conhecer o mundo que é modificado a partir da ação dos
meios de comunicação de massas – ação esta que passa a ser compreendida como
um “agendamento”, isto é, colocação de temas e assuntos na pauta da sociedade.
Todo esse aparato de estratégias, técnicas e objetividade jornalísticas tem o objetivo
de alcançar agenda-setting, que é uma das formas utilizadas pela mídia para
influenciar o público por meio do que ela veicula. Uma hipótese que determina os
assuntos de acordo com suas prioridades hierarquiza acontecimentos, legitimiza e
ordena os temas em discussão.
Wolf (2003, p.165) explica que em meio aos estudos sobre os efeitos dos meios de
comunicação na sociedade, surgiu nos anos 70 a investigação da agenda setting,
90
que propõe uma etapa sobre os efeitos da comunicação de massa. Dessa maneira,
tem-se um conceito do poder da mídia exercido sobre a opinião pública. Este
conceito remete à hipótese da agenda setting, a qual a mídia, pela seleção,
disposição e incidência dos assuntos, vem determinar os temas sobre os quais o
público falará e discutirá.
A agenda-setting então parte da premissa de que as pessoas têm tendência a
excluir ou não de seus próprios conhecimentos aquilo que os meios de comunicação
incluem em seu conteúdo, numa espécie de transferência da agenda da mídia para
a agenda do seu público receptor.
Segundo Wolf (2003, p.165) a agenda setting parte dos seguintes pressupostos:
• Os veículos de comunicação não pretendem persuadir.
• Eles indicam ao público sobre o que é necessário ter uma opinião e discutir.
• Fornecem ao público a compreensão de grande parte da realidade social.
Quanto maior o interesse que o receptor demonstrar pelo tema abordado e maior o
número de dúvidas a serem esclarecidas pela informação, maior será o poder da
agenda setting sobre a sociedade. Há uma seleção desses temas, propiciando maior
dramaticidade e teatralização na apresentação.
O processo de criação da agenda setting envolve também o acúmulo de
informações. Para os destinatários, a freqüência com que certos assuntos aparecem
na mídia é importante para a percepção de seu significado, compreensão e
interpretação que deverá ser feita com a combinação da informação nova com a já
acumulada na memória.
Assim, podemos afirmar que a função da agenda setting é selecionar posteriormente
os grandes temas sobre os quais há que concentrar a atenção do público e mobilizá-
lo para a tomada de decisões. A hipótese da agenda setting desenvolve-se a partir
de um interesse geral pelo modo como as pessoas organizam e estruturam a
realidade do cotidiano.
91
Ao pensarmos nessa agenda setting, o próprio projeto da escola é pautado num
assunto amplamente apresentado e debatido pela mídia. A questão do meio
ambiente e o futuro da água no planeta têm espaço garantido na mídia. A todo
instante matérias sobre o tema são veiculadas para nós. E a escola não poderia ficar
de fora desse debate.
92
3 EDUCOMUNICAÇÃO: VELHOS E NOVOS HORIZONTES
Adilson Citelli (2000, p. 135) relata que o propósito de aprender as inter-relações
entre os campos da comunicação e da educação deriva das inquietudes geradas
pela expansão das mídias no século XX. A crescente presença da escrita, do rádio,
da televisão e, finalmente, da Internet mostrava estar se desenhando uma nova área
de conhecimento na qual a investigação permeia dois territórios de saberes
precisamente demarcados em uma visível confluência: a comunicação e a
educação.
Utilizar-se da comunicação para educar não é algo novo. Entende-se a educação
como o aprendizado constante do homem em seu meio natural, na qual são criadas
as fundamentações teóricas e metodológicas com o intuito de difundir e perpetuar os
conhecimentos adquiridos para gerações futuras. Partindo desse princípio, a
educação para ser disponibilizada precisa valer-se dos métodos comunicacionais
inventados pelo homem ao longo de sua história. E a comunicação para ser
reinventada, transformada e difundida necessita dos métodos educacionais para se
concretizar. Na verdade, a Comunicação e a Educação se entrelaçam.
A Educomunicação pode ser definida como um elo entre os processos educativos e
comunicativos, integrando-os nas práticas voltadas ao desenvolvimento humano.
Considerado um “território problemático, complexo, pouco explorado e que está
sempre em construção”,34 esta pode ser verificada na crescente utilização de novas
tecnologias e meios de comunicação no ambiente escolar.
A subsistência e a expansão dos sistemas de comunicação de todo o mundo passam pela Educação. Por outro lado, a renovação do sistema educacional em todo o planeta depende da comunicação. “Necessários, complementares e antagônicos em alguns pontos”.35
34 SOSA, Leonardo Gabriel. Texto: ¿Hay que destruir los medios de comunicación social? Capítulo X. Disponível na Internet pelo site: http://www.geocities.com/CollegePark/Theater/4569/ educomunicacion.htm#observacion Acesso em 13/09/2009. 35 SOSA, Leonardo Gabriel. Texto: ¿Hay que destruir los medios de comunicación social? Capítulo X. Disponível na Internet pelo site: http://www.geocities.com/CollegePark/Theater/4569/ educomunicacion.htm#observacion Acesso em 13/09/2009.
93
A sociedade de consumo na qual o homem está inserido atualmente permite um
maior acesso às tecnologias da comunicação. Nesses termos, a linguagem dos
meios de comunicação passa a ser acessível aos indivíduos independentemente de
idade, raça, sexo, crença ou classe social. No caso da educação, o uso dessas
novas tecnologias permite a inter-relação entre as disciplinas, educadores,
educandos, familiares, enfim, todas as formas de interação da comunidade escolar.
Outro teórico que define Educomunicação de forma mais abrangente é Ismar de
Oliveira Soares.
Educomunicação é o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais (tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos, centros produtores de materiais educativos e analógicos e digitais, centros coordenadores de educação a distância, e outros), assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem. (SOARES, 2002, p. 14).
Já Schaun (2002, p. 82 e 83) ressalta a importância da educomunicação para as
relações sociais. Esse destaca que a Educomunicação propõe a credulidade no
homem, seu embate e encontro permanente com o outro. A alteridade seria o
substrato que constitui a educomunicação e visa as relações sociais mais
humanizadas. O autor acredita na transformação do ser humano e no meio em que
vive, na descoberta de novos caminhos para resolver problemas e, também, na
criação inovadora de olhares diferenciados sobre o cotidiano.
O campo da inter-relação Comunicação/Educação divide-se, segundo Jorge
Huergo36, em métodos de relação ou estudos e práticas:
• Os meios vistos desde a cultura escolar (ênfase nos efeitos e manipulações);
• Os meios e a escola (ênfase nos conflitos);
• Os meios na escola (ênfase nos usos e seus interesses);
• A análise semiótica da educação (ênfase em direção ao significado);
• A pedagogia da recepção (ênfase no educando/receptor e nos processos);
36 Pesquisador do campo Educomunicação. Com livros publicados sobre o assunto.
94
• A análise das alfabetizações pós-modernas (ênfase nas mediações culturais);
• A educação e as novas tecnologias da informação e da comunicação.
Paulo Freire37 (1992, p. 81) se torna importante ao prever a utilização de conteúdos
mediáticos na educação. “A tarefa do educador, então, é a de problematizar aos
educandos o conteúdo que os mediatiza, e não a de dissertar sobre ele, de dá-lo, de
estendê-lo, de entregá-lo, como se tratasse de algo já feito, elaborado, acabado,
terminado”.
Para Cortella (2002, p. 101 a 117) a forma narrativa e textualizada como o saber é
transmitido faz com que as palavras e frases inteiras percam o seu verdadeiro
sentido. Acredita-se que isto ocorre porque o educador não consegue relacionar o
que transmite com o cotidiano dos educandos. Educar tendo por intermédio a
comunicação consiste numa forma de aprendizado bem mais próxima da essência
emanada pela natureza do homem.
Já o ato de conhecer, assimilar, aprender e transmitir determinadas informações
deriva do próprio sistema biológico do homem, pois são os seus sentidos que lhe
permitem o contato com o mundo exterior. Estar inserido na natureza e em
determinada realidade social exige do ser humano a capacidade de entender-se e
entender o outro de forma mais global. Isto implica em como se dá a percepção e
como este mundo generalizado passa a ter significado. A comunicação, em verdade,
é a forma mais primitiva que o homem tem de se relacionar com o mundo.
37 Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Pôs em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação. A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país e exilou-se no Chile, onde escreveu a sua principal obra: Pedagogia do oprimido. Paulo Freire é autor de muitas obras. Entre elas: Educação: prática da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Cartas à Guiné-Bissau (1975), Pedagogia da esperança (1992) À sombra desta mangueira (1995). Foi reconhecido mundialmente pela sua práxis educativa. Por seus trabalhos na área educacional, recebeu, entre outros, os seguintes prêmios: "Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento" (Bélgica, 1980); "Prêmio UNESCO da Educação para a Paz" (1986) e "Prêmio Andres Bello" da Organização dos Estados Americanos, como Educador dos Continentes (1992). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado "Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa". Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997, em São Paulo.
95
Quanto às formas de articulação, Hector Schmucler divide o campo educação e
comunicação em três.
Três são as formas principais de articulação de ambos os conceitos. Duas dessas formas aludem a funções: comunicação para a educação ou educação para a comunicação, a outra considera que educação e comunicação são inescindíveis: educar é comunicar (...) desde quando e por que surge como problema o vínculo entre educação e comunicação? Por acaso alguma vez foram uma mesma coisa e logo se separaram nesse processo de fragmentação de saberes e vida que produz uma ciência parcializadora do mundo?(SCHMUCLER, 1995, p. 11 e 12)
Nesse sentido, Córdoba (2002, p. 12) coloca que a comunicação se torna um campo
novo e ao mesmo tempo muito atraente para os alunos, já que vivem em uma
sociedade midiatizada, nada mais justo que em seu processo de aprendizagem
sejam utilizados os recursos com que convivem diariamente. Esse trabalho entre
comunicação e educação é facilitado devido à utilização de um espaço comum: o da
aprendizagem. Trabalho esse que “permite remover e promover novas mudanças
culturais e humanizadoras em ambos os campos”.
Diversas formas são possíveis de fazer a junção entre educação e comunicação.
Contudo Córdoba (2002, p. 15) ressalta que: “o simples uso dos meios não garante
a eficácia do processo ensino-aprendizagem. Aliás, o uso inadequado dos meios na
educação pode reduzir-se à incorporação de um simples recurso ou levar à
consecução de objetivos contrários a seus propósitos”.
Todo esse trabalho em conjunto entre os dois campos dos saberes tem uma
proposta ampla e objetiva defendida por Penteado (2000, p. 45) como uma didática
focada na capacidade de comunicação humana e na prática da educação como um
processo comunicacional.
De início, a grande pergunta feita pelos educadores dizia respeito aos possíveis danos (e para poucos das vantagens) que os novos meios, sobretudo a televisão, causariam nos jovens, influenciando-os, afastando-os dos livros, disponibilizando-lhes temas e problemas nem sempre condizentes do ponto de vista etário, moral e comportamental.(CITELLI, 2000, p. 135)
96
Mas para a utilização correta dos meios de comunicação em sala de aula Antunes
(1999, p. 110) explica que é necessário que os educadores os compreendam para
poder analisar a mídia, os próprios meios de comunicação como um todo e as
notícias junto a seus alunos. Este estudo deve ser amplo e não focar somente no
certo ou errado. “A questão fundamental não deve girar em torno dos meios serem
“bons ou maus”, deterministicamente, mas em torno do uso que se faz dos meios,
das mediações que se estabelecem a partir das mensagens desses meios, e da
reflexão que se segue como resultado dessa mediação”.
Antunes (2002, p. 23) afirma que é preciso pensar as questões da nova tecnologia
no cotidiano das escolas e as transformações que poderão ocorrer nas estratégias
de formação dos sujeitos envolvidos. Os educadores deverão ter programas de
formação continuada em serviço com vistas a responder às demandas colocadas
pelas novas linguagens.
A educomunicação possibilita, ainda, um trabalho interdisciplinar, já que mesmo
dividido em editorias, o conteúdo informativo não é específico de apenas uma
disciplina. Muitas vezes uma notícia econômica aborda fatores sociais, ambientais,
entre outros. Quando o trabalho se dá com informação, o aluno se sente mais
próximo ao conteúdo da aula.
Utilizar a Educomunicação como instrumento pedagógico vai muito além da
linguagem formal empregada pela escola. Livros, cadernos e quadros negros, ainda
que sejam de notória importância, não conseguem dar conta do dinamismo numa
sociedade da informação38. Muitos educadores, ainda, segundo Freinet (1969, p.
117) não têm a clareza desta dicotomia e, na maioria das vezes, pela falta de
entendimento, a ignoram. Ocorre que cada dia mais os meios de comunicação se
incorporam, indistintamente, ao cotidiano de todas as camadas sociais.
38 Um bom debate a esse respeito pode ser encontrado no texto “A Utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação em Educação” elaborado pelo governo cubano em junho de 1998. Ele trata das mudanças na Lei de Bases do Sistema Educativo de Cuba, citando algumas práticas escolares e analisando a importância das T.I.C. para o Sistema de Ensino cubano. Disponível na Internet pelo site www.educom.radio.com.br Consulta no dia 25/07/2008.
97
Morin (2002, p. 29) coloca que fotos exibidas em painéis e revistas, textos de jornais
e revistas na internet, cenas de novelas, noticiários televisivos ou radiofônicos,
programas de auditório, propagandas, clipes musicais não passam despercebidos.
Muito pelo contrário: são tão absorvidos, que, além de ocuparem por horas, acabam,
ainda, por virar temas de muitas das conversas diárias.
O homem não é estanque: Na vida o ser humano não é compartimentado por
matérias, não vive-se a geografia das 15 às 17 horas, a língua portuguesa das 18 às
20 horas, mas sim todo um conjunto.
A comunicação social, com toda sua potencialidade de troca de informação, pode nos servir como via de acesso para a interdisciplinaridade. [...]”. [...] Os MCM (TV, rádio , etc) contribuem, e muito, para abrir possibilidades de discussão sobre a condução do trabalho com os temas transversais, considerando que tanto educadores quanto alunos estão cotidianamente, se relacionando com estes meios.(CÓRDOBA , 2002, p. 47)
Diferente dos livros didáticos que reforçam cada conteúdo específico das disciplinas,
os meios de comunicação são como a vida, com conteúdos interdisciplinares. Isso
gera várias possibilidades de trabalho. Mas para trabalhar esse conteúdo informativo
em sala de aula é necessário um conhecimento prévio dos meios de comunicação.
Através da Educomunicação, é possível extrair todo o potencial da união entre as
disciplinas (matemática, história, geografia, educação física, português, etc.) que tem
como objetivo único o desenvolvimento social do indivíduo na busca de um mundo
melhor. É o desenvolvimento das capacidades comunicativas das pessoas, com
vistas a criarem os seus próprios meios alternativos de comunicação.
A Escola Tradicional “teima” em tratar as disciplinas como individuais e estranhas
entre si. A cada toque de sinal, os educandos guardam todo o material da aula
concluída e abrem outros livros, outras páginas do caderno, como se de aula em
aula eles passassem por universos completamente diferentes.
98
Ao oposto das metodologias utilizadas na pedagogia tradicional39, a
Educomunicação (como pensar e fazer pedagógico) funciona somente quando a
aula de história, por exemplo, sugere um intercâmbio com a língua portuguesa por
meio dos textos utilizados, com a matemática na razão da contagem dos séculos e
os primeiros momentos da astronomia, ou com a geografia, pois os fatos históricos
aconteceram em algum lugar.
Para Freire (2003, p. 57 a 75) a didática ganha um sentido de mobilidade
necessário, uma ação pedagógica interativa que extrapola e sugerem novas
alternativas para o saber dividido, compartimentado. As informações não são
repetidas, afixadas ou “decoradas”. Quando se dá um sentido vivo às palavras
instiga-se a curiosidade, o desejo de experimentar, de conhecer, de reconhecer, de
saber mais.
A necessária renovação para uma educação sobre os meios comunicacionais e as
novas tecnologias da informação, como a que enfrenta a instituição educacional, nos
põe frente a uma questão fundamental: a resistência a essas transformações dentro
das escolas. Nesse aspecto, Francisco Gutierrez40 relata:
Nem a escola básica, nem muito menos a universidade querem dar lugar a uma cultura que seja fruto dos meios de comunicação de massas. O giz, o quadro-negro e um indivíduo frente a trinta ou quarenta alunos continuam sendo a estrutura fundamental de aprendizagem numa sociedade eletrônica e universal. É por demais evidente que os meios de comunicação estão colocando em xeque o processo de escolarização.
A postura ultrapassada marca uma maior defasagem a respeito da existência dos
processos comunicativos que dinamizam a sociedade. Nesse sentido, a escola
enfrenta desajustes tão importantes, como:
• Negar-se a aceitar a descentralização cultural que atravessa o livro (até o
momento o mais importante meio pedagógico) que, mesmo sendo importante
39 Para uma abordagem mais ampla sobre Pedagogia Tradicional no Brasil e outras Tendências, ver Demerval SAVIANI em Filosofia da Educação Brasileira. São Paulo: Editora Civilização Brasileira. Páginas 19 a 47. 40 Francisco Gutierrez nasceu em Burgos, Espanha. Ainda jovem veio para a América Latina onde terminou seu curso secundário e superior. Convidado pelo governo francês em 1969, realizou em Paris os seus estudos sobre Os Meios de Comunicação e Pedagogia da Linguagem Total. Seus trabalhos estão disponibilizados no Brasil pela Editora Summus.
99
em uma sociedade da multimídia, supomos como um recurso a mais, sem
utilizá-lo na categoria de “Oráculo” como hoje propagado.
• Uma obstinada cegueira à pluralidade e heterogeneidade dos códigos de
informação presentes na sociedade (hipertextuais, audiovisuais, musicais...),
culpabilizando, por conseqüência, as tecnologias pelas crises de leitura e
esquivando-se a uma profunda reorganização das suas estruturas.
• Ignorar que a sociedade hoje conta com mecanismos de ordenação, relação e
divulgação mais práticos e acessíveis, e que a escola, ainda que muito
importante, não é mais o centro do saber.
• Alijar-se da cultura que rodeia os meios e as tecnologias da comunicação, ao
que considera como um desequilíbrio e como uma dispersão no modelo do
conhecimento, resguardando-se em uma cultura que se distancia cada vez
mais do mundo em que vivem/sobrevivem os jovens, sendo incapaz de
oferecer instrumentos que lhes permitam apropriar-se crítica e criadoramente
dos novos canais da comunicação.
As últimas variáveis estão ligadas ao que muitos dos educadores entendem como a
decadência do já desgastado poder docente, inclusive com a supressão da sua
figura. Entendemos que, em verdade, o que se esconde por detrás deste temor é
bem mais uma falta de perspectiva que uma remota possibilidade.
Ao contrário, a tendência indica que ao incorporar as novas tecnologias da
comunicação e reconhecendo a realidade cultural da escola, a presença do docente
se faz mais necessária e imprescindível do que antes. E isto acontece porque por
mais apuradas que sejam as novas tecnologias da comunicação e suas formas
distintas de distribuir as informações, elas necessitam de caminhos pedagógicos
para atingir a uma determinada camada da população. Nesse sentido, a participação
do educador é fundamental: apropriando-se dessas tecnologias, ele pode e deve
proporcionar esses caminhos.
100
Por outra parte, as transformações da maneira desde que se originam e se
concebem as informações exigem que os procedimentos para a sua aquisição e uso
sejam mais importantes que os conteúdos propriamente ditos. Isso comporta que a
linha educativa na sociedade da informação seja a de desenvolver mecanismos para
“aprender a aprender” e, mais concretamente, “aprender a aprender ao longo de
toda a vida”. As transformações no ato de educar não significam em momento algum
o fim da escola, mas supõem obrigatoriamente a sua evolução. Entendemos que,
implementando projetos ligados à educação e comunicação, seja possível
estabelecer elos num vasto campo da dialogicidade.
101
3.1 EDUCAÇÃO E CIDADANIA: BUSCA HISTÓRICA E
PERSPECTIVA FREIREANA
Teóricos discutem a todo instante a função da escola e da educação no contexto em
que estão inseridas na sociedade. Uns apontam a educação como o caminho para a
libertação e outros como um instrumento para reprodução do pensamento da classe
dominante. Cria-se, então, no pensamento do homem moderno, a necessidade de
reinventar a educação e encontrar soluções para a construção e efetivação de uma
cidadania plena na sociedade.
Mello (1997, p. 70 a 72) cita que é perceptível o crescimento do discurso, nos países
menos desenvolvidos, sobre a pressão que o progresso técnico e a modernização
fazem sobre a educação. Nesse sentido, somente uma mobilização da sociedade
civil e uma vontade da classe política poderá melhorar e modificar nos países menos
desenvolvidos a educação, que está decadente e fragilizada diante do capitalismo e
da globalização econômica. Qual seria então a saída para o futuro da educação? Do
futuro do conhecimento? E da própria sociedade? A educação deve contribuir para o
desenvolvimento do ser humano e ser destinada à formação de um indivíduo crítico
e pensante.
Saviani (1999, p. 162 e 163) explica que a globalização econômica e o capitalismo
são questionados na construção da cidadania. São sistemas que mantém a
hegemonia e a acumulação de capital financeiro em poder da elite. Como dominam,
de forma direta ou indireta, a escola e a educação, essa elite acaba controlando a
cidadania, o cidadão e a sociedade. O controle da cidadania é encarado como forma
para efetivar o poder do capital.
Para Valle (2000, p. 13) a cidadania surgiu com a formação da pólis no mundo
grego. A pólis estabelecia uma ruptura com os modos de organização vigentes na
época. Ela configurou a possibilidade de atuação do homem enquanto um ser livre.
Assim a cidadania consiste na liberdade civil em contraposição à condição de
subserviência dos escravos e das mulheres.
102
Buffa, Arroyo e Nosella (1993, p. 17) explicam que no mundo grego, a cidadania era
restritiva e provocadora da exclusão de direitos para uma parcela da sociedade, não
podendo ser justificada como mediação da eliminação das desigualdades sociais.
Na sociedade medieval e antiga, os homens eram naturalmente desiguais. Havia
senhores e servos; e senhores e escravos.
Para Aristóteles41 o individuo era cidadão no sentido absoluto, numa sociedade
quando participava das funções do Estado. Ele chamava Estado como sendo a
coletividade de cidadãos que desfrutavam os direitos. E esse número de cidadãos
deveria ser suficiente para assegurar a independência da pólis. A cidadania pode ser
entendida como participação plena nas deliberações que criam e decidem sobre os
destinos de uma sociedade. 42
No século XVIII, a Revolução Francesa, marco da era moderna, revelou novas
concepções sociais, políticas e filosóficas. As ideias de liberdade, igualdade e
fraternidade foram defendidas pela revolução. E tais concepções serviriam de base
para formular a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
“Ser cidadão é ter direitos e deveres, ser súdito e ser soberano”. A afirmativa
apresentada por Covre (2002, p. 09) está descrita na Carta de Direitos da
Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948. A carta prevê ainda que a
cidadania coloca todos os homens em condições iguais perante as leis, sem
descriminação de raça, credo ou cor. E que os seres humanos tem direito à saúde,
ao lazer, à educação, à habitação, a lutar por seus valores, de se expressar
livremente e de ter uma vida digna.
41 Aristóteles nasceu no ano de 385 A.C. em Estagiros, cidade de Trácia, na costa setentrional do mar Egeu. Aos 17 anos foi para Atenas estudar. Em 367, torna-se aluno de Platão e distingue por seu ardor e excepcional inteligência. Anos depois, rompe com Platão, mas conserva a gratidão ao mestre. De 347 a 342, Aristóteles deixa Atenas, e torna-se embaixador junto a Felipe, rei da Macedônia. Em 335, Aristóteles abre a escola do Liceu, em Atenas, e expõe suas ideias aos discípulos. A retórica ocupa um lugar importante nas aulas. Durante 12 anos prossegue os ensinamentos e publica numerosas obras que abordam todos os domínios do saber humano. Aristóteles deixa Atenas, em 323, acusado de ser contrário as ideias do partido nacional Ateniense dirigido por Demóstenes, e vai para Cálcis, na ilha de Eubéia. Morre, na ilha, no ano de 322, com 63 anos. 42 As definições apresentadas foram extraídas da síntese do pensamento de Aristóteles no livro II, capítulos iv e v da obra: Aristóteles. Política. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
103
Na ótica iluminista da Revolução Francesa é possível conceituar a cidadania no
pensamento liberal. O indivíduo é livre somente quando livre da coação e não-
reprimido. Liberdade significa a ausência das repressões, da violência física ou da
imposição de ideias. Nesse prisma, a intervenção do Estado é uma afronta à
liberdade. Nas ideias iluministas, a liberdade é tudo que se faz para o bem-comum
da sociedade.
Vicent (1995, p. 52 a 54) descreve que os liberais também defendem a igualdade
como caminho para a cidadania. O principio da igualdade é relacionado às leis
(justiça) que garantem a proteção dos indivíduos. Porém, é bom lembrar que a
desigualdade econômico-social não configura como problema jurídico. O individuo é
responsável pelo próprio fracasso ou sucesso na sociedade. “A igualdade é moldada
na ideia que a lei é igual para todos e todos são iguais perante a lei” (BUFFA,
ARROYO E NOSELLA, 1993, p. 18).
Já Marx e Engels (1992, p. 22) defenderam a liberdade como ponto de partida para
a construção de um novo homem. Livre, principalmente, de ideias. O primeiro
pressuposto da existência humana, defendido por Marx, é que os homens devem ter
condições de viver para fazer a história. Portanto, o pressuposto da sociedade é
tornar os homens cidadãos, satisfazendo as necessidades básicas e formando uma
sociedade mais justa.
Já a Fraternidade surge no liberalismo como uma forma de convivência harmônica
entre os homens. A harmonia na sociedade tranqüiliza e diminui os conflitos sociais.
Ela coloca os homens numa busca constante de comungar as mesmas ideias e de
ter “amor ao próximo”.
O pensamento de John Locke43 (1632 a 1704) segue na contra-mão da cidadania
apresentada pelos gregos e pelos iluministas. Locke admite uma desigualdade
natural entre os seres humanos. A oportunidade é igual para todos. Cada homem
pode construir seu próprio futuro. Porém, uns não têm êxito na vida devido à falta de 43 John Locke destaca-se pela sua teoria das ideias e pelo seu postulado da legitimidade da propriedade inserido na sua teoria social e política. Para ele, o direito de propriedade é a base da liberdade humana "porque todo homem tem uma propriedade que é sua própria pessoa". O governo existe para proteger esse direito. Informações capturadas no site http://www.geocities.com/cobra_pages/fmp-locke em 23\05\2008.
104
empenho. Já outros rompem os problemas sociais, conquistam o bem-estar, pois
são responsáveis e interessados.
É possível analisar que os Direitos do homem e do cidadão se constituem apenas no
papel, pois, ao longo da história, é perceptível o aumento das desigualdades sociais
nos países. Se na Grécia antiga o conceito de cidadania é voltado para a liberdade,
na sociedade capitalista, o conceito é traduzido para a satisfação das necessidades
humanas.
Mello (1997, p. 38) argumenta que a cidadania está ligada às condições sociais e
econômicas e, por isso, deve, também, fazer parte do processo de luta dos grupos
organizados da sociedade. A cidadania é construída no âmbito da organização da
sociedade civil, e por isso é possível constatar que, a educação situada no nível da
sociedade civil, poderá contribuir para a construção da cidadania.
Diante do capitalismo, a cidadania pode ser definida como: “competência humana de
fazer-se sujeito, para fazer história própria e coletivamente organizada” (DEMO,
1996, p. 01). Essa competência humana pode ser alcançada quando está atrelada a
alguns valores: educação, acesso à informação, atuação política, vida dentro de
uma coletividade. A cidadania não pode ser encarada somente como uma
concessão do Estado, mas também como um reflexo de atuação da sociedade civil
organizada.
Severino (1992, p. 10) conclui que o homem, afinal, somente será plenamente
homem se for cidadão. E ele conseguirá esse estágio a partir do principio da
igualdade fundamental de direito de todos os homens e, conseqüentemente,
solidário a todos os indivíduos da sociedade.
No Brasil atual para dar conta da problemática da cidadania basta, uma política –
com ética – que favoreça melhorias significativas no campo, principalmente, social-
econômico (educação, saúde, emprego, salário digno, lazer alimentação e
habitação) para a população. E, ainda, que o Estado legitime os direitos civis,
políticos e sociais conquistados nas leis.
105
Do mesmo modo que a cidadania, a educação, tem raízes históricas na Grécia e na
Roma antiga. Nesses países moldaram-se os pilares de todo o sistema de ensino e,
mesmo as sociedades capitalistas avançadas tecnologicamente, pouco fizeram no
sentido de mudá-lo. Mas qual a definição de educação? Ela é determinada e
interpretada de várias maneiras pelos teóricos, ao longo dos séculos, de acordo com
o momento histórico em que estivesse inserida. Educação pode ser entendida, de
uma maneira geral, como a ação de desenvolver as faculdades intelectuais, físicas e
morais do ser humano.
Num pensamento libertador, a educação deve ser encarada com um instrumento
que possibilite o individuo a um conhecimento e a um pensamento crítico. O objetivo
é possibilitar que o indivíduo conheça e pratique uma cidadania plena com uma
interpretação do mundo que o cerca.
Para efeito de definição de educação, utilizaremos a constante na Lei de Diretrizes
Básicas (LDB) da Educação Brasileira – 9.394/96. “A educação abrange os
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.44
O artigo 1º dessa lei afirma que a educação é um somatório de processos formativos
que ocorrem na sociedade. Eles desenvolvem-se na interação do indivíduo (aluno)
com dois grupos básicos: o escolar, com a educação formal, e o comunitário,
centrado na base sócio-familiar, com uma educação informal na sociedade.
Já o artigo 3º da LDB relata que o ensino deve ser ministrado com base em alguns
princípios que em síntese são: igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias; respeito à liberdade;
valorização do profissional da educação escolar; garantia de padrão de qualidade e
vinculação entre a educação escolar o trabalho e as práticas sociais.
44 Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira – Lei 9.394/96. Artigo 1º.
106
O artigo induz a preocupação com a aplicação da educação para uma sociedade
mais justa e igualitária. As ideias de formação de um cidadão estão implícitas no
artigo. Se a lei for cumprida, os indivíduos tendem a se tornarem cidadãos, na
plenitude da palavra.
E por fim, o artigo 2º da LDB, prevê que a educação tem por finalidade preparar o
indivíduo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Mais uma
vez surge a força econômica centrada no trabalho.
Em nossa compreensão, a educação deve promover uma expansão e uma
socialização do saber acumulado pelas classes sociais. O saber que proporcione um
entendimento da realidade, explicitando as contradições sociais e fortalecendo os
interesses dos indivíduos na sociedade. Longe dessa realidade proposta, a
desigualdade da qualidade da educação reforça seu caráter conservador e de
ampliação das desigualdades e das diferenças sociais.
A educação deve assumir um sentido amplo de formação e socialização do
indivíduo. Mas não deve restringir a educação simplesmente ao domínio escolar.
Toda estrutura social está fundamentada nos códigos sociais de inter-relação entre
os indivíduos da mesma e de outras sociedades. Assim sendo, educação e
sociedade mantêm uma relação estreita e se amoldam uma com a outra.
E como fica a educação diante da realidade social? O conhecimento, numa forma de
consenso, será uma variável importante na forma da organização social e
econômica. A educação, como atividade na qual se distribui o conhecimento,
assume papel importante no contexto político e social e no próprio conteúdo da
educação.
A educação deve acompanhar a modernidade e deve ser pensada para atender as
exigências do mundo. Nesse contexto, a educação precisa assumir o papel na
formação da consciência crítica do indivíduo, abrindo os horizontes para uma
cidadania plena e que promova a liberdade do ser humano.
107
A produção do saber escolar não pode restringir-se apenas ao conhecimento
técnico/instrumental, utilizado na competitividade do mercado. O conhecimento na
globalização tende a ser utilizado mais para inovar as condições de lucro do que
para humanizar as condições de trabalho e promover a liberdade do indivíduo.
A escola não deve cumprir o papel de redentora da humanidade. Ele deve ser um
mecanismo que pode trabalhar para a construção da cidadania individual e coletiva
na sociedade. Uma cidadania possível e que garanta a igualdade para todos os
indivíduos. 45
E como está a educação no Brasil? Para Mello (1998, p. 29 a 43) ao que parece,
cada vez mais caminha para um “abismo”. E são vários os fatores que contribuem
para tal afirmação: a formação dos educadores que esbarra na pouca eficácia da
profissionalização; profissionais despreparados para enfrentar a complexidade do
ensino-aprendizagem; alto índice de evasão e reprovação escolar; salas de aulas
lotadas; ausência de materiais didáticos, gestão escolar moldada no
conservadorismo; e salários baixos e congelados. A somatória de tudo revela a
degradação da escola, principalmente, a pública. Sem contar que não há uma
proposta de intervenção eficaz do Estado nas políticas públicas educacionais.
As desigualdades na educação brasileira não param. Há universidades com alto
índice de qualidade e escolas sem luz, sem telhado, sem livro didático, sem
merenda e sem infra-estrutura alguma para ensinar. Crianças e jovens de níveis
sociais menos favorecidos ainda têm de lutar para exercer o direito constitucional de
freqüentar uma escola. Muitas vezes são expulsos pelas dificuldades econômicas e
sociais, aumentando os índices da pobreza e da ignorância.
A sociedade atual exige pessoas detentoras de tipos diferentes de criatividade, com
talentos variados, sobrepostos e mutáveis. Porém não oferece condições para
concretizar uma educação real e voltada para a construção da cidadania.
45 Para uma maior compreensão é recomendada a leitura do artigo do educador da UFBA Cipriano Carlos Luckesi – Presença dos meios de comunicação na escola: utilização pedagógica e preparação para a cidadania
108
Proposta e inúmeras soluções já foram e serão apresentadas, mas o problema
persiste por anos e anos. Enquanto a discussão for mantida no nível do discurso,
quem continuará sofrendo será a educação e os alunos brasileiros. Torna-se
necessário e urgente uma mobilização geral da sociedade e dos governantes para
melhorar e reverter esse quadro.
No âmbito da cidadania, Maranhão (1993, p. 85) cita que a noção de educação deve
recuperar o sentido para além da escolarização, do processo de aprendizagem, ou
questões relativas à aquisição de conhecimentos disciplinares, o da formação do
individuo cívico, consciente dos diretos civis, políticos e sociais. Trata-se também de
ensiná-lo e orientá-lo para o uso da justiça, despertá-lo para a consciência do seu
papel na dimensão econômica da cidadania. É evidente que a escola deve fazer o
trabalho de integração cívica do individuo na sociedade. Não pode limitar-se à
simples relação pessoal de transmissão de conhecimentos ou da cultuação dos
valores morais.
Escola sendo uma instituição formal na sociedade. Tendo por função a apropriação
e a assimilação de saberes e habilidades úteis ou necessárias à vida do indivíduo
dentro da vida social. Porém a escola recebe diversas versões sobre o seu papel.
Uns acreditam na escola redentora universal, com a possibilidade de promover a
equidade social. Outros afirmam que a escola serve para reproduzir o modelo social
ditado pela classe dominante. Por fim, há aqueles que defendem a escola como
sendo impulsionadora do processo transformador da sociedade.46
Mas ao discutirmos cidadania no contexto escolar, partimos da ideia que a educação
é um mecanismo impulsionador, sim, do processo da construção da cidadania.
Proporciona uma consciência, parte fundamental para a efetivação da cidadania,
gerando, assim, no individuo um desenvolvimento social e cultural.
Buffa, Arroyo e Nosella (1993, p. 40 e 79) afirmam que a educação não é um dos
mecanismos de arbitragem sobre a quem, onde e quando é permitida a condição de
cidadão e de sujeito político. A partir dos pressupostos que o econômico e o social
46 Para uma maior compreensão é recomendada a leitura do artigo do educadores da UFBA Cipriano Carlos Luckesi – Presença dos meios de comunicação na escola: utilização pedagógica e preparação para a cidadania.
109
interferem no processo de construção da cidadania, nos faz entender que a
educação não se configura como um elemento solitário e central da cidadania. A
educação não é precondição da democracia, mas é parte e expressão de sua
constituição.
Fica, então, interrogações a serem respondidas. De que forma a educação poderá
despertar uma consciência no individuo se não oferece uma educação mínima?
Como a educação pode gerar o desenvolvimento social se a cidadania fica para
segundo plano no contexto escolar?
Numa outra ótica, explicitada por Saviani (1994, p. 225), pode-se observar que o
papel social da escola consiste numa socialização do saber sistematizado. A escola
ensina o conhecimento elaborado e não o conhecimento espontâneo. O efeito final é
caracterizado por um saber metódico e sistematizado. Isso cria a necessidade de
uma nova formação para os educadores.
O fazer pedagógico deve ser reavaliado para que esses profissionais consigam
efetivar e construir o processo de cidadania plena com a formação de indivíduos
pensantes e críticos. Mesmo com o enfraquecimento da escola, para Severino
(1992, p. 23) a educação continua exercendo a função na formação do ser humano,
através da apropriação do saber. Um saber concreto – não fragilizado – e em
sintonia com o mundo no qual o indivíduo está inserido. O educador torna-se parte
importante como mediador do saber da escola e da sociedade. Pelo seu papel
social, o educador precisa de sólida formação, tornando-se um teórico cientifico e
um pensador crítico.
Mesmo com todas essas contradições, Valle (2000, p. 28) acredita que a escola é
uma instituição ainda capaz de construir uma cidadania plena. Basta ser
democrática universal e laica. Mas, em contrapartida, a escola não é cidadã, pois
não tem em si a cidadania. A escola não é local para exercício da cidadania, porém
é um local em que se prepara e se constrói esse exercício para a formação dos
indivíduos.
110
E definir esse exercício é uma tarefa que cabe, principalmente, aos educadores.
Cabe a eles redefinir em termos pedagógicos, curriculares, metodológicos e técnicos
as características da escola comprometida com os ideais democráticos. Mas vale
lembrar que a sociedade como um todo deve participar desse processo de
elaboração e construção da cidadania. Numa sociedade democrática, a decisão
coletiva deve ser imperativa. A educação pública deve sempre ser associada à
democracia.
Paulo Freire discute a questão da educação para a busca da cidadania e dos
direitos humanos numa ótica libertadora. Nesse caso, o uso da educação popular
poderá ter um papel decisivo no crescimento da cidadania e na formação da
consciência da dignidade inerente ao ser humano. A educação libertadora pregada
por Freire vê o homem como educando, como um agente da história. A educação
não é tratada como uma doação dos que julgam saber aos que se supõe que nada
sabem.
Na educação libertadora, o indivíduo cria uma relação de comunicação horizontal e
o diálogo é essencial para a construção da cidadania. Busca-se desenvolver a
consciência crítica inerente aos indivíduos. Os indivíduos serão agentes de
transformação do mundo, que não tem uma realidade estática, mas está em
constantes transformações.47
Para Luckesi (1994, p. 49 e 50) a educação poderá ser interpretada como uma
instância dialética, que serve a um modelo e a um ideal de sociedade. Caso o
projeto, na prática, seja transformador ou democrático, a educação irá trabalhar para
mediar uma transformação e uma democratização social. A educação poderá estar a
serviço de uma melhor equalização social.
Valle (2000, p. 31 a 33) conclui, então, que é tarefa da escola garantir o acesso à
socialização dos seres humanos, que possa falar que há algo de comum entre cada
um dos cidadãos na sociedade, que não inibe e não exclui o desenvolvimento da
singularidade dos indivíduos.
47 Para aprofundar-se no assunto, recomenda-se a obra de: FREIRE. Paulo. Educação como prática da liberdade. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 1967.
111
A sala de aula é, sem dúvida, o local onde se pode recriar o cotidiano. O educador
tem a obrigação de prestar contas aos alunos, pais, colegas e a sociedade sobre
decisões no uso dos instrumentos para a socialização. Uma enorme
responsabilidade, no ato da educação, cabe ao educador, não a de construir sozinho
a cidadania, mas, sim, de buscar instrumentos de democratização que poderão
servir para conduzir a sociedade, que também precisa redescobrir sua
responsabilidade na invenção da educação.
Entretanto, Saviani (1987, p. 36) afirma que o caminho é repleto de armadilhas. Do
ponto de vista prático é necessário retomar a luta contra a seletividade, a
discriminação e o rebaixamento do ensino nas camadas populares da sociedade.
Lutar contra a “marginalidade”, por meio da escola é esforçar-se para garantir aos
indivíduos um ensino de melhor qualidade.
Cabe à escola comprometer-se com a preparação do indivíduo para a conquista da
cidadania. Possibilitando e criando condições para que o ser humano possa
entender a realidade e possa transformá-la para o bem-estar social. O indivíduo, por
meio da escola, estará preparando-se para enfrentar as mazelas e armadilhas
sociais do mundo em que faz parte. Mas, vale ressaltar, que a transformação é lenta
e vai exigir dos indivíduos disciplina na aprendizagem e no estudo para transformar
a sociedade. O reconhecimento do outro e a negociação de formas de trabalho
comum. O conflito não será eliminado e nem as diferenças, mas a busca de
conciliação cria um mecanismo no qual os conflitos podem ser resolvidos pelo
diálogo e acordos.
Mesmo com tantos problemas, Brandão (1984, p. 99) coloca que a educação é
inevitável na vida do homem e na sociedade em que está inserido. Ela sobrevive aos
sistemas que servem de reprodução das desigualdades e das ideias que legitimam a
opressão do poder dominante. Porém, por outro lado, a educação pode pregar a
liberdade, criar a igualdade entre os indivíduos e construir um novo mundo.
Nesse sentido é possível refletir e contextualizar com a visão de Paulo Freire a sobre
a escola e a aplicação das novas tecnologias (jornal e revista online e computador)
112
dentro das salas de aula e de que forma poderá contribuir para a formação de um
ser humano autônomo e livre. Para isso recorre-se às reflexões que Freire propôs
sobre a pedagogia libertadora e autônoma. A busca é a formação de um homem
cidadão, que consegue exercer seus direitos e cumprir seus deveres na sociedade.
A visão de liberdade, autonomia e crítica são princípios essenciais para uma
pedagogia da liberdade, que substituía a "escola" autoritária por uma escola com
estrutura e baseada na ética e no respeito ao ser humano. Buscar continuamente a
liberdade, a autonomia e refletir a realidade do próprio mundo em que se vive devem
ser uma constância no ambiente educacional. O importante é construir uma
educação centrada na "prática da liberdade" por meio do diálogo.
A educação libertadora defendida por Paulo Freire (1980 e 2002)48 permite que os
indivíduos compreendam e construam um mundo mais fácil para se viver. Os
indivíduos desenvolvem a consciência critica para questionar e compreender os
movimentos produzidos na sociedade. A libertação proposta é destinada para
resgatar a dignidade humana e proporcionar ao ser humano uma realização integral
dos seus direitos.
Já a educação que propicie uma autonomia (1996)49 é centrada no desenvolvimento
do ser humano, respeitando os interesses de cada um e estimulando a criatividade.
A autonomia é conquistada numa relação em que prevaleça o diálogo e ninguém
seja dono exclusivo do saber. O aluno é estimulado a ser o construtor do seu
conhecimento.
O educador tem papel fundamental no desenvolvimento da educação autônoma. Ele
deve ser o estimulador dos saberes para que o aluno possa se desenvolver
moralmente e intelectualmente, conseguindo assim interagir de maneira mais
concreta o mundo. Para Freire a autonomia deveria sempre ser um dos objetivos da
educação, sendo favorecida com métodos que privilegiassem a cooperação entre os
indivíduos. Com uma linguagem peculiar e com uma filosofia da educação
renovadora, Freire (1996) propôs que a educação deveria estar fundamentada na
48 Os livros ao longo das páginas fazem reflexões o tempo inteiro sobre a educação libertadora. 49 O livro ao longo das páginas faze reflexões o tempo inteiro sobre a educação para a autonomia
113
consciência da realidade cotidiana vivida pela população e jamais reduzi-la a simples
conhecimento de letras, palavras e frases.
Nessa categoria de educação proposta por Paulo Freire, a mídia online encaixa-se
como ponte mediadora da construção do conhecimento. O uso da mídia online é
justificado pela sua linguagem direta. A linguagem jornalística, cujo objetivo é
alcançar um largo público e lhe fornecer informações objetivas, atualizadas, de um
mundo real, e próximo das pessoas. A linguagem jornalística oferece acesso ao
português fundamental – uso da linguagem cotidiana dentro da normal gramatical da
língua portuguesa –, possibilitando para o aluno um crescimento no nível de leitura,
na interpretação e na construção de textos.
José Marques de Mello (1980) sugere também a utilização do jornal na sala de aula
como forma de desenvolver a consciência da cidadania. “Uma leitura critica dos
jornais, fornecendo-lhes instrumentos para tornar os alunos leitores críticos, não só
de textos, mas do mundo que os rodeia” (FARIA, 1996, p. 13). A união das reflexões
de Paulo Freire e a mídia online causarão efeitos na educação e conseqüentemente
nos alunos. O saber não será mais estático, mas em constantes mudanças. Com as
mudanças geradas, o sistema educacional deverá mudar para poder acompanhar as
próprias mudanças inerentes aos seres humanos.
O educador na educação libertadora também tem um papel fundamental, pois é
necessário que a educação esteja – no conteúdo, nos programas e métodos –
adaptada para o melhor fim da busca: “Permitir ao homem chegar a ser sujeito,
construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens
relações de reciprocidade, fazer cultura e a história”. (FREIRE, 1980, p. 40)
Partindo dessas ideias é possível refletir que a concepção Freireana evidencia
reflexões críticas sobre a realidade, pois leva o homem a ser sujeito, criador de
cultura e construtor da história. Freire instaura então uma concepção libertadora da
educação baseada na livre conscientização. “A conscientização é o olhar mais crítico
possível da realidade, que a desvela para conhecê-la e para conhecer os mitos que
enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante”. (FREIRE,
2004, p. 45).
114
A educação deveria ser convertida para a ação da democracia. A educação deveria
estimular a colaboração entre os sujeitos, a decisão, a participação e a
responsabilidade social e política das pessoas. A consultora de informática Carmen
Faria (entrevista no Apêndice A) reforça as ideias de Freire para essa construção
democrática, aliando jornalismo online e educação. Para ela, a mídia possibilita que
as pessoas construam ideias democráticas e conscientes do mundo.
As mídias online possibilitam uma busca infinita devido a riqueza da rede e a rapidez. O aluno é obrigado a ler, entender e depois utilizar o necessário para o projeto que está desenvolvendo.... A mídia de forma geral colabora para a formação e para o despertar da cidadania no aluno.... A mídia coloca o real para o público... O jornal entende os motivos dos problemas, as prováveis soluções e cria uma consciência crítica sobre os assuntos. A mídia serve sempre como uma mediadora para se discutir os problemas (Carmen Faria – Entrevista no Apêndice A).
A educação proposta por Freire questiona a realidade das relações entre (homem,
meio ambiente e sociedade), visando uma transformação social e uma educação
crítica de caráter político-econômico. O que é aprendido não decorre de uma
imposição ou memorização para os alunos. O importante é o despertar do nível
crítico do conhecimento, que é alcançado pelo processo de compreensão, reflexão e
crítica.
Nessa abordagem procura-se dar mais valor à experiência adquirida, à troca de
experiências num processo dialógico para aquisição do saber, ao senso comunitário
e à transformação social. Assim, a educação sócio-cultural para Freire (1987, p. 20 a
23) contrapõe-se ao ensino tradicional e à educação comportamentalista. O aspecto
técnico “perde força” e a educação assume um caráter amplo, não se restringindo às
situações formais de ensino-aprendizagem.
Utilizando as reflexões Freireanas e o caminho pedagógico apontado por Carmem,
pode-se afirmar que educar seria, então, muito mais que o conscientizar. Seria uma
busca para levar o aluno a entender a situação oprimida em que as pessoas estão
vivendo na sociedade e apontar caminhos para a autonomia e para a ação em favor
da libertação individual e coletiva. “A libertação autêntica, que é a humanização em
processo, não é uma coisa que se deposita nos homens... É praxis, que implica na
115
ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.” (FREIRE, 1980,
p. 67)
A transformação é conquistada a partir, segundo Freire, da busca pela comunicação,
o diálogo e a humanização. O educador constrói o saber e o conhecimento junto
com o aluno. O diálogo é a base da confiança entre o aluno e o educador. E a busca
pelo pensar crítico acaba sendo o interlocutor dessa ação dialógica.
O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consumidas. (FREIRE, 1980, p. 93).
Freire acreditava na comunicação, o ato de dialogar, como uma importante
ferramenta na aprendizagem do aluno e na educação de uma maneira geral.
Entretanto, Freire crítica algumas modelos de educação adotados. Esse modelo
Freire chamou de educação bancária, pois transforma o homem em arquivos, longe
do ser pensante, cidadão, crítico, livre e autônomo defendido com tanta ênfase.
Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem”.... Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão —a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. (FREIRE, 1980, p. 66 e 67)
Sendo assim, Freire acreditava na educação para uma mudança na sociedade, para
a independência e inclusão do homem nessa mesma sociedade. Nesse contexto,
Freire (1982, p. 91) prevê a utilização de conteúdos mediáticos na educação. “A
tarefa do educador, então, é a de problematizar aos educandos o conteúdo que os
mediatiza, e não a de dissertar sobre ele, de dá-lo, de estendê-lo, de entregá-lo,
como se tratasse de algo já feito, elaborado, acabado, terminado”
O jornal online então pode ser utilizado na educação como um apoiador dessa
inclusão proposta por Freire. O uso do jornal em sala de aula poderá contribuir para
o desenvolvimento da educação dialógica para que o aluno descubra, entenda e
interprete o mundo real dentro de reflexões coletivas na sala de aula. “na teoria
116
dialógica da ação, os sujeitos se encontram para a transformação do mundo em
colaboração”. (FREIRE, 1980, p. 196).
Por isso a importância da educação libertadora e autônoma centrada na dialógica
engloba uma visão pedagógica e política. A alienação é encarada como um objeto
pelas forças dominantes (opressores). É preciso entender o que seria melhor para a
constituição de uma sociedade: um homem-objeto ou de um homem-sujeito.
Em sociedades cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, "a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes". Os métodos da opressão não podem, contraditoriamente, servir à libertação do oprimido. Nessas sociedades, governadas pelos interesses de grupos, classes e nações dominantes, a "educação como prática da liberdade" postula, necessariamente , uma "pedagogia do oprimido". Não pedagogia para ele, mas dele. Os caminhos da libertação são os do oprimido que se libera: ele não é coisa que se resgata, é sujeito que se deve auto-configurar responsavelmente. A educação libertadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira consciente ou mistificada, tem sido prática de dominação. A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de usa própria destinação histórica. (FREIRE, 1980, p. 01)
Nessa busca do homem-sujeito, defendida por Freire (1980, p. 35 a 37), ensinar
exige uma busca constante pela criticidade. É transformar a curiosidade que move
naturalmente os indivíduos em algo real e concreto. Para ensinar também é preciso
ética, estética, decência e pureza. "Não é possível pensar os seres humanos longe,
sequer, da ética, quanto mais fora dela".
Uma educação ética não pode se limitar ao tecnicismo e esquecer o lado humano e
o caráter formador. O educador que realmente ensina, rejeita os preconceitos,
qualquer forma de discriminação e apóia a democracia. Isso não significa
simplesmente aceitar tudo o que é novo ou recusar tudo que é velho. “O velho que
preserva sua validade, ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no
tempo, continua vivo" (FREIRE, 1980, p. 38)
Mesmo aceitando ou não o velho e novo, pode-se afirmar que os educadores
sempre buscam práticas e elementos mediadores dentro do processo de ensino-
aprendizagem para aproximar os alunos do saber. Geralmente, esse mediador é
uma tecnologia, que varia em cada momento da história. Projetos pedagógicos e
117
novos métodos surgem, são considerados e observados, pois se situam como
propostas para a reestruturação da educação brasileira.
Numa leitura das ideias de Freire, os novos métodos de aprendizagem, pautados
nas novas tecnologias apresentam várias vantagens. Toda aprendizagem está
baseada na percepção, processo pelo qual os sentidos captam informação a partir
do contexto em que se produz. As pessoas podem atingir uma limitada quantidade
de informação, num tempo, de modo que a seleção e percepção da informação
estão determinadas pelas experiências anteriores. Assim, o estudante tem a
capacidade de ser abrangido por um conhecimento que o estimule em vários
sentidos, como a audição, a visão e outras formas de percepção.
Além disso, outro aspecto primordial é a possibilidade do aluno passar a ser o
próprio agente de seu aprendizado, construindo a partir das possibilidades de
conhecimento ao seu alcance um modelo de educação que atinja as necessidades
individuais e que o complete como ser livre, orientado por si próprio a partir da
própria consciência, da liberdade e da autonomia.
118
4 A RESSIGNIFICAÇÃO DO COTIDIANO MEDIADO PELO
AMBIENTE VIRTUAL
Neste primeiro instante é meu desejo contextualizar o universo jornalístico. Por qual
motivo um texto pode ser considerado jornalístico? E, ainda, por qual motivo uma
mídia (site) online pode ser considerada mídia informativa (revista ou jornal com
caráter jornalístico)?
Com a observação In loco selecionei jornais e revistas digitais por apresentarem um
formato e conteúdo informativo com características de jornalismo. Entre os jornais e
as revistas digitais visitadas, de forma espontânea, os alunos chegaram a alguns
veículos digitais. Para as análises selecionei: Estadão on-line, Nova Escola, Folha
on-line, Uol Educação, Saúde Animal, Ciência Hoje e Super Interessante. Vale
ressaltar que os alunos visitaram também outros sites que não estão atrelados a
nenhum veículo, ou seja, são páginas livres na Internet colocadas à disposição do
público por pessoas que têm um interesse por deserto, florestas, vidas de animais,
etc...
Separei os sites apresentados acima, pois todos têm características de um produto
jornalístico. Tem características do gênero informativo, com texto normalmente na
terceira pessoa do singular. As matérias possuem título, Linha-fina (complemento
textual abaixo do título, que serve para fazer uma “ponte” com o conteúdo do texto),
fotografias para auxiliar a apresentação do texto e chamar a atenção do leitor, o
texto segue o padrão da redação jornalística contendo lead (primeiro parágrafo do
texto), sublead (segundo parágrafo do texto), segue a técnica da pirâmide invertida,
têm fontes de informação, possui intertítulo ao longo do texto. E, ainda, seguem um
layout estruturado (como se fosse uma divisão por editorias) para facilitar a leitura e
a busca do conteúdo. Tem publicidade, chamadas na home (capa do site) para
matérias (como se fosse a capa de jornal ou revista).
Abaixo segue a home (capa da revista) da revista online Saúde Animal como
exemplo:
119
Figura 01 - Home do site saudeanimal
Fonte:site saudeanimal.com.br
Figura 02 – Home do site saudeanimal
Fonte:site saudeanimal.com.br
120
Na capa acima é possível perceber o nome da publicação digital: Saúde Animal. E
também chamadas na capa. Como exemplo: Você leva seu cão à praia? A intenção
desse artifício jornalístico é chamar a atenção do usuário para que ele leia a matéria
e fique, de certa forma, “preso” ao conteúdo do site.
Também na capa surgem algumas peças publicitárias que sustentam a veiculação
da publicação. Por exemplo, nesta edição da revista especializada em animais, a
propaganda refere-se aos cães.
Abaixo para ilustrar o que é o texto jornalístico e suas características utilizei a
matéria extraída na revista UOL Educação. Segue a matéria abaixo:
JOANINHAS
Colorindo a natureza Alice Dantas Brites*
As joaninhas habitam as matas e os jardins. O pequeno animal é símbolo de sorte e fortuna
Figura 03 – Joaninha - fotojornalismo As joaninhas são insetos pequenos e coloridos, muito admirados por sua beleza e, em muitas culturas, símbolos de boa sorte e fartura. Esses simpáticos insetos pertencem à ordem Coleóptera, assim como os besouros, e à família Coccinellidae, para a qual já foram descritas mais de 5.000 espécies.
Os insetos da ordem Coleóptera possuem dois pares de asas. Um par é fino e membranoso e encontra-se sob o outro par de asas, chamadas de élitros, que são duras e resistentes. Os élitros da maioria das espécies de joaninhas possuem cores vibrantes, como amarelo, laranja e vermelho, com pequenos pontos pretos. Porém, algumas apresentam uma coloração escura e uniforme.
Fonte:site uolEducação.com.br
Estes insetos medem entre 0,3 mm e 10 mm de comprimento e possuem um par de antenas com função sensorial. As antenas são utilizadas na procura de alimentos, para localização espacial, procura por parceiros reprodutivos, entre outras funções. Para manter as antenas limpas, as joaninhas as esfregam com o primeiro par de patas, e, desta forma, removem resíduos que podem interferir em sua sensibilidade.
Como se protegem As joaninhas se alimentam de pequenos insetos, ácaros, pólen e néctar. Apenas duas espécies se alimentam de tecidos vegetais. Por sua vez, as joaninhas são predadas por insetos maiores, algumas espécies de pássaros e anfíbios.
Para se proteger, elas contam com algumas estratégias. A coloração vibrante pode atuar como uma forma de aviso ao predador sobre a sua impalatabilidade, ou seja, seu gosto ruim, ou sobre a sua toxicidade, evitando que o predador a ataque. Outra forma de defesa utilizada por algumas espécies é o comportamento de deitar-se com o abdome para cima, seguido da liberação de um líquido com odor desagradável. Dessa forma, a joaninha finge-se de morta e esquiva-se da atenção de seu predador.
121
Reprodução As joaninhas, assim como os demais insetos, são organismos dióicos, ou seja, existem fêmeas e machos. Em muitas espécies, machos e fêmeas são morfologicamente diferentes, podendo apresentar tanto tamanhos quanto cores diferentes. A esta diferença é dado o nome de dimorfismo sexual. A fecundação é interna e pode ocorrer diversas vezes ao ano.
Em cada ciclo reprodutivo, a fêmea pode colocar de 10 a mais de 1.000 ovos. Antes da postura, a joaninha procura um local adequado para a eclosão dos ovos, geralmente depositando-os de forma agrupada, sobre folhas ou caules de plantas, e próximos a fontes de alimento. Da sua eclosão até atingir a forma adulta, as joaninhas sofrem a chamada metamorfose completa, ou seja, passam pelos estágios de larva e pupa. Por isso, seu desenvolvimento é classificado como holometábolo (do grego holos, total, e metáboles, transformação).
Desenvolvimento Após um período que varia entre 4 a 10 dias, as larvas eclodem e começam a se alimentar. Muitas vezes, o primeiro alimento é a casca de seu próprio ovo. O tempo de eclosão das larvas depende da espécie, mas também está relacionado à temperatura do ambiente, sendo menor em regiões de clima tropical, ou nas estações quentes do ano. As larvas em nada lembram as joaninhas adultas. São alongadas e apresentam uma coloração escura. Durante o seu crescimento, podem ocorrer de 4 a 7 mudas. As mudas, ou ecdises, são as trocas periódicas do exoesqueleto quitinoso que envolve o corpo dos artrópodes e que permite o seu crescimento. Após um período que pode variar de uma semana até cerca de 20 dias, a larva se fixa a um substrato, geralmente caules ou folhas, e se transforma na pupa. A pupa é um estágio imóvel, no qual inúmeras transformações irão resultar no indivíduo adulto. Este estágio pode durar até cerca de 10 dias, dependendo da temperatura e da espécie. Após este período, a parede da pupa se abre e, finalmente, emerge a forma adulta da joaninha. Assim que a joaninha sai da pupa, o seu exoesqueleto ainda é mole e vulnerável, por isso, ela permanece imóvel durante alguns minutos, até que ele endureça e ela possa voar. O tempo de vida de uma joaninha varia entre 3 até cerca de 9 meses.
Conheça a Joaninha Características – são conhecidas várias espécies de coleópteros da família dos coccinelídeos, de porte pequeno e normalmente de cores vistosas. O adulto tem um formato oval e tem coloração brilhante. Habitat – áreas de lavouras, matas, jardins de áreas urbanas e rurais. Ocorrência – em todo o Brasil Alimentação – predadora em todas suas fases (larval e adulto), e tem como sua principal fonte de alimentação, pulgões e cochonilhas, mas algumas espécies podem se alimentar de plantas. São insetos extremamente úteis, pois controlam as populações destes que são tidos como pragas nas lavouras. Reprodução – suas larvas são um pouco achatadas e alongadas, e são cobertas por tubérculos ou espinhos, e apresentam também faixas de cores. Predadores naturais – pássaros, aves, anfíbios e répteis Ameaças – agrotóxico
Ao analisarmos o texto acima no plano jornalístico apenas podemos caracterizar o
texto como de um produto jornalístico informativo. Há a presença de um título:
colorindo a natureza. O objetivo do título é tocar o usuário ou leitor e persuadi-lo a
entrar na leitura do que está sendo proposto. Normalmente o título será sempre num
corpo de fonte de letra maior que o utilizado no texto. Para Cremilda Medina “notícia
é um produto à venda”50. Desta maneira o título deve “vender a matéria”. Deve
funcionar como um anúncio de publicidade. Já Bahia (1995, p. 52) aponta que o
título faz parte da redação do texto jornalístico, porém deve ter uma vida própria,
pois é uma arte. “O título é a primeira linha, a primeira oração ou a primeira frase de
uma notícia”.
50 Notícia um produto à venda é o título de um livro publicado por Cremilda Medina.
122
Ao pensarmos na semiótica os títulos acabam envolvendo mais que técnicas, pois o
jornalismo trabalha também com os efeitos dos sentidos. Isso percebido pela
escolha das palavras no título. O objetivo é envolver os enunciatários para atitudes
de atração, porém podendo ter a repulsão. Regina Souza Gomes (2008, p. 21)
coloca também que os títulos das matérias jornalísticas configuram um jogo de
interesse e subjetividades para construir uma realidade e atrair esse mesmo
enunciatário.
A linha-fina tem os mesmos objetivos do título para a busca do destinatário.
Entretanto, possui características diferentes. No caso em questão: “As joaninhas
habitam as matas e os jardins. O pequeno animal é símbolo de sorte e fortuna”. A
linha-fina tem a função de fazer uma “ponte” entre o título e o texto. Deve passar
informações além do que está contido no titulo ou apenas explicar esse mesmo
título.
Já os intertítulos têm a função de respiro na leitura do texto ou uma troca de assunto
dentro do mesmo texto. E também estabelecer uma coesão se necessário. No texto
da Joaninha são exemplos de intertítulo: “como se protegem, reprodução e
desenvolvimento”.
Há ainda a configuração do Lead e da técnica da pirâmide invertida. Essas duas
características serão refletidas mais adiante, porém serão mencionadas para trazer
a exemplificação: O lead é o primeiro parágrafo de um texto jornalístico: “As
joaninhas são insetos pequenos e coloridos, muito admirados por sua beleza e, em
muitas culturas, símbolos de boa sorte e fartura. Esses simpáticos insetos
pertencem à ordem Coleóptera, assim como os besouros, e à família Coccinellidae,
para a qual já foram descritas mais de 5.000 espécies”. Ele deve conter as
informações mais importantes do texto.
Já o segundo parágrafo é chamado de sublead. Ele deve ter informações
importantes ligadas ao Lead. “Os insetos da ordem Coleóptera possuem dois pares
de asas. Um par é fino e membranoso e encontra-se sob o outro par de asas,
chamadas de élitros, que são duras e resistentes. Os élitros da maioria das espécies
de joaninhas possuem cores vibrantes, como amarelo, laranja e vermelho, com
123
pequenos pontos pretos. Porém, algumas apresentam uma coloração escura e
uniforme”.
A essa técnica de escrever o texto jornalístico do mais importante para o menos
importante, segundo a construção dos fatos, chamamos de pirâmide invertida, como
mencionada anteriormente.
Já a fotografia também é um forte chamariz do destinatário. Segundo Gomes (2008,
p. 27) a utilização das fotos nas publicações diárias é um procedimento
argumentativo, informativo e apelativo. Nesse sentido podemos afirmar que
argumentativo quando a fotografia trabalha em conjunto com o texto jornalístico para
melhorar a interpretação dos fatos para o leitor. Já a utilização apelativa vem com o
jornalismo sensacionalista que busca somente a venda. A foto então é a mensagem.
É utilizada sem uma contextualização com o texto. O objetivo único é causar um
“choque” ou uma surpresa no destinatário e vender.
O aluno ao “visitar” os sites (revistas e jornais online) pode confrontar informações
de diversos textos e construir um conhecimento crítico. Utilizando o que acreditava
ser verdadeiro, a partir das próprias experiências de vida e também das informações
confrontadas com o livro didático.
Neste instante percebi que a mídia torna-se mediadora da informação para os
alunos a partir do momento que ela legitima os diversos lados do discurso, utilizando
fontes de informação (entrevistados) e suas técnicas de persuasão. O aluno buscava
e confrontava também a informação em mais de um texto na mídia online. Somente
depois guardava a informação para ser utilizada no projeto.
A definição de mediação utilizada neste momento parte de duas preposições. A
primeira parte das proposições de Vigotski, que nos afirma que a mediação se dá no
campo da linguagem por meio de signos, e as significações implícitas nestes
elementos são dadas pelos outros (sujeitos sociais) ao sujeito aprendente. A
mediação proposta é então denominada de ‘mediação semiótica’, pois seu objeto de
estudo está no campo da linguagem.
124
Para o autor a mediação semiótica está presente em todos os processos da vida
humana e é fundamental no processo de aquisição de conhecimento. É, ainda, a
característica organizadora das outras mediações nas atividades sociais que
promovem transformações nos sujeitos e nos processos.
O outro sentido para mediação se dá, segundo Orozco (2002, p. 26), no campo da
comunicação social. Há a intencionalidade de significar a descentralização da
comunicação dos meios, passando a mediação a ser a cultura. O autor reforça a
ideia de que, este processo de audiência, em um meio de comunicação é feito por
sujeitos e que o processo de interação acontece em negociações por uma via de
duplo sentido no qual “[...] um processo estruturante que configura e reconfigura
tanto a interação das audiências como os meios, como a criação – por parte das
audiências – do sentido desta interação”.
Este processo não é passivo, nele acontecem apropriações, recusas e
contraposições aos conceitos e informações elaborados junto às outras instituições
formadoras de opinião como a família, a escola, os amigos, o grupo social etc.
Segundo Orozco há quatro tipos de mediações, as quais denomina de “múltiplas
mediações”. São elas:
• A mediação individual – leva em conta as dimensões cognoscitivas e
subjetivas dos atores sociais (articuladas em categorias de gênero, idade,
etnicidade e classe social, orientação social).
• A mediação situacional – que leva em consideração os diferentes ambientes e
cenários em que ocorre interação entre os meios de comunicação (no caso a
TV, que é seu objeto de estudo) e as audiências.
• A mediação institucional – as falas, vozes e/ou discursos dos sistemas e
estruturas sociais, tais como família, escola, cultura de bairro e outras
instituições, formais ou informais.
• A mediação vídeo-tecnológica – que busca compreender que a televisão (ou
o outro meio que estiver em estudo) como instituição social não reproduz
simplesmente outras mediações
125
Desta maneira vale destacar que todo texto tem implícito nele as questões do tempo
e do espaço na qual o sujeito que o escreve está inserido. Sujeito esse com suas
cargas emocionais, suas ideologias e suas ideias e concepções do grupo social a
que pertence. Vale ressaltar que Landowski (1992, p. 120) coloca o texto jornalístico
como um ajustamento ao conhecido e ao cotidiano para conservação das normas
sociais dominantes.
A narrativa jornalística valoriza por princípio a irrupção do inesperado, do singular,do a-normal, para depois, tornar a situar o sensacional no fio de uma História que lhe dá seu sentido e o traz de volta à norma, à ordem das coisas previsíveis, ou seja, do cotidiano. (LANDOWSKI, 1992, p. 120)
Pensando nas ações mediadoras do meio de comunicação (revista e jornal online)
como fonte de informação acadêmica instituída a própria notícia também é
mediadora de todo o processo. Os alunos ao visitarem os sites estão em busca de
informação (notícia) para fundamentarem a construção dos projetos. A busca por
várias notícias em vários sites faz o aluno de alguma forma fomentar o próprio
pensamento crítico para a seleção da informação. Dessa forma a mídia em si e as
notícias são fontes acadêmicas instituídas, pois são ressignificadas.
Essa mediação se dá justamente no âmbito cultural de cada aluno. É a mediação
individual citada por Orozco. E como se legitima essa notícia como informação
instituída academicamente? Nas observações dentro do laboratório de informática
pude analisar e refletir sobre alguns pontos. O primeiro é que o material selecionado
(fotos e textos jornalísticos) serviu para fundamentação teórica dos alunos. Era uma
espécie de provação prática para os alunos. Um exemplo é a fala de um aluno: “Tô
lendo aqui o que a professora falou na sala de aula”. Neste instante o aluno confirma
num meio online a informação adquirida nas aulas expositivas e nos próprios livros
didáticos. É o cruzamento de dados.
As informações da mídia online também ajudaram a construir argumentos para a
construção dos projetos. O aluno conseguiu ter uma visão mais ampla do tema. Isso
favoreceu até os argumentos discursivos presente na oralidade no momento de
contar (falar) ou montar as histórias vias as imagens.
As notícias possibilitaram uma “avalanche” de novas dados para os projetos. Textos
e imagens além do livro didático possibilitaram outros olhares. “Nossa, no Egito o
126
deserto é muito quente. Como o escorpião consegue viver?”, fala um aluno. Outro
aluno responde: “dentro das pirâmides. Ou na sombra”. Com a imagem e o texto
sobre o Egito os alunos montaram o cenário.
Outro fator dessa mediação está na questão temporal. A mídia online se atualiza
numa velocidade assustadora. Já os livros didáticos têm um tempo maior de
atualização dos conteúdos. Por exemplo, o tempo de falta de chuva no nordeste
comentado pelos alunos. Quanto tempo um Leão pode viver sem beber água. Ou
um cactos reserva água por quanto tempo e em que quantidade. São informações a
mais que estimulam a busca por outros saberes quando bem trabalhadas.
A não linearidade da informação possibilitou aos alunos saírem do lugar comum. O
Local e o global se entrecruzavam, o que possibilitava novos olhares: fala de uma
aluna – “O nordeste tem seca, mas na África também”. Junto a isso podemos
destacar que a linguagem coloquial e no tempo presente sempre aproxima os
usuários (alunos) da informação. Isso é um fator de persuasão da mídia online.
E nesse universo de mediações os alunos foram se apropriando, de acordo com as
questões individuais, das notícias da mídia online. A apropriação, a ressignificação e
aplicação da informação resultaram em saberes diferentes na consecução dos
variados projetos dentro do laboratório de informática. Neste sentido entender o
percurso gerativo de sentido é entender o produto jornalístico (texto e foto) e as
relações possíveis com os projetos elaborados.
O nível fundamental no percurso gerativo do sentido é considerado o mais abstrato.
Nele acontece a oposição semântica. Segundo Fiorin (2001, p. 19) os termos
opostos no universo semântico devem manter entre si uma relação de contrariedade
e o conteúdo adquire sentido por meio das relações estabelecidas entre eles. .
Liberdade x opressão; vida x morte; seca x inundação.
Ao analisarmos as imagens criadas pelos alunos é possível perceber o nível
fundamental transparecer. A morte e vida a partir do tema água. O escorpião sob um
forte sol. Se escondendo na sombra dos cactos e tentando avistar água para se
manter vivo. O animal finalmente consegue chegar até a proximidade de um rio e
127
dividir o espaço com os outros seres na busca pela sobrevivência. É possível
analisar ainda a intenção do aluno ao mostrar num pensamento semiótico a questão
da “euforia” e “disforia”. A chegada ao rio (água) é a marca positiva. Caso não
encontrasse a água e continua-se em cima da terra seca a qualificação seria a
disforia, um valor negativo de qualificação.
Figura 04 – Desenho do Escorpião
e a água Figura 05 – Desenho do Escorpião
e a água
Fonte: Desenho dos alunos
Fonte: Desenho dos alunos
No nível narrativo as relações se tornam mais concretas. Ele trata da organização da
narrativa. É o como a história é contada do ponto de vista de um sujeito. A narrativa,
segundo Floch (2001, p. 22) é uma circulação de objetos e sujeitos. Entender essa
narrativa é preciso analisar a enunciação dos sujeitos e a busca por um objeto valor.
Nos projetos com temática sobre meio ambiente, a valorização da natureza e a
sustentabilidade movimentam a narrativa. É apresentar os personagens e os seus
papeis desempenhados na história. “Para entender a organização narrativa de um
texto, é preciso, portanto, descrever o espetáculo, determinar seus participantes e o
papel que representam na historiazinha simulada” (Barros, 2001, p. 17).
Nesse sentido Fiorin (1997, p. 20 a 28) explica que os enunciados da estrutura de
uma narrativa compreendem quatro fases: manipulação, competência, performance
e a sanção. Para que a manipulação ocorra é necessário que manipulado e
manipulador compartilhem o mesmo sistema de valores. A manipulação pode ser
por: sedução e provocação (com a modalidade do saber); e por intimidação e
tentação (com a modalidade do poder). É evidente que todo esse "querer", "dever",
“saber” e “poder” estão ligados ao sujeito destinador e aos sujeitos destinatários.
128
Para entender cada uma das fases narrativas, observamos, abaixo, a seqüência da
história construída no projeto. O personagem, sujeito da narrativa, é uma menina
chamada Maria das Dores que sobrevive à seca e à falta de água em Juazeiro do
Norte (CE). Ela cuida de um vaso de flores chamado Bela, outro personagem.
Figura 6, 7, 8 e 9 – Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste
Fonte: Desenho dos alunos
Nos desenhos, criados pelos alunos, Maria das Dores está solitária e desolada com
tanta seca. Com a vegetação morrendo e o sol castigando a região de Juazeiro. Ela
vive torcendo que chova para poder ter água e cultivar uma planta para passar os
dias conversando com ela. Uma flor chamada Bela que estava morrendo com a falta
de água. O anti-sujeito dessa narrativa é a seca, ou seja, é ela que impede o
alcance do “programa narrativo”, ou seja, está em disjunção com o objeto valor. O
programa então é de privação.
No quadro seguinte as nuvens cinzas e negras começam a surgir no céu de
Juazeiro. As orações foram atendidas. Deus mandou a chuva. A menina, então,
consegue sentir a chuva e ver o rio da cidade encher. Era água que faltava para
trazer a vida. O programa agora é de aquisição. A natureza foi modificada e a
menina obtém água.
129
Maria das Dores logo começa a pegar o que pode de água com os baldes. Vai
guardando a água para poder “cultivar” e manter viva a amiga flor. Maria “molha”
Bela e as flores desabrocham de alegria. É um programa de querer, pois é o desejo
e a torcida de Maria que afastam o anti-sujeito e a colocam em conjunção com a
alegria. Maria salva Bela e as duas passam os dias a conversar. Uma fazendo
companhia para a outra no sertão do Ceará.
No nível discursivo a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação. É nesse nível
que se percebe a presença da enunciação, do enunciador, do enunciatário, do
enunciado, do tempo, do espaço e de todas as relações existentes. Continuando o
exemplo anterior o sujeito do discurso são as personagens (Maria das Dores e Bela).
As duas têm a própria “ambigüidade” na ação. São sofredoras pela falta de chuva e
pelo medo da perda (morte). Ao mesmo tempo tem a vida, a alegria e a companhia
com a chegada da chuva. O espaço utilizado pelo enunciador é o sertão nordestino
representado no plano de fora da casa. E também o espaço micro com o interior da
casa. Já o tempo utilizado pelo enunciador é o agora. Entretanto deixando marcas
no discurso do ontem (sem chuva) e do presente (com chuva).
No momento da produção de um enunciado deve estabelecer uma relação de
confiança entre enunciador e enunciatário. Está relação deve apresentar os
seguintes aspectos segundo Fiorin (1997, p. 35): 1) como o texto deve ser
considerado do ponto de vista da verdade e da realidade. 2) como devem ser
entendidos os enunciados: da maneira como foram ditos ou ao contrário. Neste
sentido, enunciador e enunciatário “interpretam” os papéis de destinador e
destinatário do discurso, respectivamente. Barros (2001, p. 62) acrescenta ainda: “O
enunciador define-se como o destinador-manipulador responsável pelos valores do
discurso e capaz de levar o enunciatário a crer e a fazer”. Dessa forma, o enunciador
impõe ao enunciatário a sua construção sobre determinado fato.
Greimas (1996, p. 13) explicita também que o sujeito da enunciação não é apenas
um simples sujeito que fabrica mensagens, enunciados, mas é também um sujeito
que transmite o saber. Quando se trata de um fazer dizer certamente há um fazer
discurso. Também há um fazer saber, uma intencionalidade de transferência do
130
saber do destinador para o destinatário. “Todo fazer persuasivo pressupõe um fazer
interpretativo”. Sendo assim, não há uma passividade do destinatário.
Refletindo o desenho é possível verificar a intencionalidade do enunciador para os
enunciatários. A mensagem de persuasão é clara. Mesmo o tema sendo a água, a
aluna desejou marcar as questões de vida e morte centradas nas relações do ser
humano com a natureza (humanização do personagem) e deixar um alerta para os
riscos da falta de água. Ela tenta sensibilizar logo no primeiro e segundo quadro com
um cenário desolador. O discurso é a produção de um “choque” no destinatário.
Vale ressaltar que a apropriação definida no trabalho é a utilizada por Greimas no
Dicionário de Semiótica (2008, p. 34).
Apropriação caracteriza a posição do sujeito de um enunciado de estado após adquirir o objeto-valor por sua própria ação. Corresponde então à realização reflexiva do objeto-valor, efetuada num momento qualquer do percurso narrativo. [...] Representa a transformação que estabelece a conjunção entre sujeito e objeto. Corresponde a realização.
Essa construção de apropriação depende diretamente do sentido dos textos em sua
concretude de um percurso gerativo de sentido, compreendido por estruturas que
determinam as condições de existência dos objetos, na qual a significação se
organiza sob a forma de conteúdos e estruturas que organizam os significantes.
Assim a narratividade é o princípio organizador de todo discurso.
A geração de significação não passa antes pela produção dos enunciados e sua combinação no discurso; em seu percurso, ela é revezada pelas estruturas narrativas e são estas que produzem o discurso significativo, articulado em enunciados. (GREIMAS, 1975, p.146).
Os valores, então, são postos em cena pela ação de sujeitos enunciadores, que os
tematizam e figurativizam, configurando-os em elementos expressivos. Figurativizar
é configurar esses valores, expressando-os em traços mais concretos que produzem
efeito de sentido, ilusão de realidade.
Nesse sentido a mídia online possibilitou ao aluno uma aprendizagem. Uma
remontagem de sentido e ações no desenvolvimento dos projetos. O aluno viu o
mundo que o cerca via a mídia online e ressignificou seus sentidos na construção do
projeto. Acredito que se as escolas possibilitassem aos alunos um melhor contato
com os conceitos da semiótica, com a mídia online e os textos imagéticos de forma
131
efetiva e reflexiva, isso permitirá que os alunos pudessam ler, compreender,
apropriar e ressignificar um novo mundo. É preciso levar os alunos a olharem para
os diversos textos com um olhar crítico, produzindo seus próprios argumentos e não
apenas reproduzindo argumentos alheios.
132
4.1 A DINÂMICA DA SALA
Com o intuito de apreender e analisar como os alunos se apropriam e ressignificam
as informações mediadas pela linguagem da mídia informativa online e se neste
proceder interativo com a linguagem jornalística e com os fatos do cotidiano
publicados na mídia online informativa há aprendizado, acompanhei os alunos da
sexta série A do ensino fundamental da Escola Monteiro Lobato entre os meses de
Agosto e Novembro. Nas observações in loco pude observar de que maneira eles
realizavam as buscas de informação no ambiente virtual (revistas e jornais online), e
as mediações e interações realizadas entre educador/alunos/nova tecnologia.
O local para fazer as observações foi o laboratório de informática da escola. Nele os
alunos colocam em prática os ensinamentos aprendidos em sala de aula. Foi
realizado um projeto no universo ambiente MicroMundos na qual o aluno deve
montar uma história com o auxilio do computador e dos conhecimentos adquiridos
nas aulas das variadas disciplinas. É esse percurso que proponho analisar.
Com observações in loco realizadas na sala de aula (laboratório de informática) da
sexta série A e nas entrevistas com coordenadores, professores e alunos foi
possível fazer algumas reflexões relativas às práticas de ensino que se
desenvolveram utilizando as novas tecnologias e os meios de comunicação.
O desafio proposto aos estudantes pela Escola é que cada dupla ou trio de aluno
desenvolva um projeto ressaltando a importância da água para a sobrevivência dos
seres vivos. Os encontros na sala de informática ocorrem uma ou duas vezes por
semana e duram uma hora. Cada disciplina contempla essa temática em seu plano
de estudo. A seguir, os alunos, de uma forma livre para a busca de melhores
informações, foram buscar, na aula de informática, nos jornais e revistas digitais as
informações necessárias para continuar a pesquisa para produzir todo o cenário e
dar vida aos personagens.
133
Os alunos digitavam na Internet o endereço do site Google. A partir da página
escreviam palavras chaves e começavam uma busca pelo conteúdo que desejavam
de acordo com a ideia do projeto a ser desenvolvida. Entre as palavras estão:
Joaninha, nordeste do Brasil, seca, escorpião, leão, água, falta de água, rios, cactos,
deserto, flor, violeta, sertão, árvore, floresta e outras mais. O importante dessa busca
foi que o aluno procurou as informações para serem agregadas e possibilitar vida
aos personagens e a construção do cenário. O estudante teve autonomia e
liberdade para escolher e contextualizar todo o projeto. Contudo, o aluno não
poderia abandonar o tema água.
O aluno lia principalmente os textos mais curtos, porém o que chamava a atenção
era a imagem que surgia na página junto ao texto. Neste sentido a consultora de
informática Carmen Faria (entrevista no Apêndice A) explica que os alunos preferem
o desenho para terem um suporte melhor no momento de construir os cenários, que
desenhos feitos pelos alunos no ambiente MicroMundos (software utilizado no
computador) no qual terão que construir uma história com personagens e seus
habitats mostrando a relação com a água)
O aluno prefere o desenho. A linguagem é muito mais fácil no desenho. A mensagem é logo absorvida. O aluno grava mais a imagem do que o texto. Vendo a imagem, o aluno, logo, cria a ideia da situação. O texto deixa o aluno preso ao que está escrito... O aluno, principalmente, nas idades inferiores não têm desenvolvido o hábito da leitura ou tem até mesmo preguiça de ler. Outro problema é que estamos acostumados com a informação instantânea e rápida. A imagem possibilita essa informação rápida. Olhou, assimilou e, logo, passa para a outra. Por isso, primeiro o aluno vê a imagem, se gostou parte para ler o texto que complementa as informações na imagem. Nos jornais diários também funciona do mesmo jeito. A boa foto sempre ocupa lugar de destaque e só depois vem o texto. (Carmem Faria - Entrevista no Apêndice A)
Na aplicação do grupo focal essa tendência da imagem também apareceu na fala
dos alunos:
• Eu prefiro ver fotos, pois é mais fácil. Ler cansa muito. Tenho preguiça de ler.
• A foto é mais rápida de ser entendida. A imagem chama mais atenção na
hora da busca do assunto.
134
• O texto ocupa muito tempo. Somente leio textos pequenos. Os textos grandes
demoram muito e, às vezes, não entendo nada. Mas quando a professora
pede para ler, eu leio tudo.
• Prefiro o texto para conhecer mais sobre os personagens da história que
estou montando, sobre o lugar. Olho primeiro a foto. Se interessar, vou para o
texto. Não tenho muito problema para ler, mas prefiro textos menores. Assim
posso ler mais e ter mais informações.
• Quando o assunto me interessa leio o texto todinho. Mas quando não me
interessa, leio somente o começo e depois vou para o final. A foto é bem
melhor. Quando gosto da foto, eu guardo no computador.
• Trouxe várias informações que não sabia. Meu personagem é o leão.
Descobri que o leão bebe água de duas em duas semanas, a importância da
água na vida do leão, conheci onde ele mora. Eu pesquisei na revista Saúde
Animal na Internet.
Desta maneira o desenvolvimento das histórias é feito todo por meio de desenhos.
Era permitido o mínimo de texto para explicar a história a ser contada. Ao final do
projeto, os alunos apresentavam as telas com os desenhos e narravam oralmente as
histórias para os outros colegas de sala. O objetivo é de além da pesquisa, criação,
e produção, o aluno possa também relatar todo o processo, e desse modo, tirá-lo do
lugar comum, dar oportunidades para todos falarem em público, diminuindo assim os
impactos da timidez para a expressão oral.
A coordenadora de informática e responsável pelo desenvolvimento prático dos
projetos, Graciela Schuwartz, (entrevista no Apêndice B) relata que os temas são
definidos de duas formas: “Surgem da reflexão entre os professores, coordenadores
e consultores que pensam temas a partir dos conteúdos propostos em cada
disciplina a cada trimestre. A segunda vem da demanda do próprio grupo de alunos.
”O tema, segundo a coordenadora, é sempre discutido com os alunos em sala de
aula. “Algumas vezes os temas são bem recebidos e em outras não. Nessas últimas
135
situações são abertos espaços de discussão para o surgimento de novas propostas
e novos temas”.
De acordo com Carmen Faria (entrevista no Apêndice A) esse tipo de projeto
construído no MicroMundos é possível, pois o software apresenta recursos de
ferramenta de desenho, editor, habilidade para importar gráficos e sons, permitindo a
criação de projetos multimídia, jogos e simulações. Há seis anos o projeto no
MicroMundos é utilizado num modelo interdisciplinar.
Começamos a trabalhar todos de forma unida: professor de cada disciplina, assessores pedagógicos e coordenador de informática. Todos trabalhavam a sua disciplina dentro de um tema central e no laboratório de informática o aluno desenvolvia os projetos. Agora, o aluno constrói o seu próprio projeto dentro de uma orientação e de um tema. Os resultados, logo, surgiram e convites para apresentação em feiras estaduais e nacionais de educação surgiram. Os projetos incluem efetivamente todas as disciplinas da sexta série: português, matemática, artes, filosofia, ciências sociais e ciências naturais. (Carmen Faria-Entrevista no Apêndice A)
Graciela SCHUARTZ (Entrevista no Apêndice B) explica ainda que a intenção
educativa dos projetos é integrar os conteúdos de sala de aula ampliando a
possibilidade de trabalho em dimensões diferentes de aprendizagem com o auxilio
do ambiente virtual.
No projeto, devido às limitações das bibliotecas em disponibilizarem livros, a mídia
online oferece uma variedades de assuntos a serem explorados e por isso tem
importante papel na busca das informações.
As mídias online possibilitam uma busca infinita devido a riqueza da rede e a rapidez... Não existe o copiar e colar. O aluno é obrigado a ler, entender e depois utilizar o necessário para o projeto que está desenvolvendo.
Na busca pelas informações no meio online para a montagem do projeto, os alunos,
de uma maneira geral, preferem as páginas que contenham fotos e desenhos a
textos. Para Carmen Faria (Entrevista no Apêndice A) e Graciela Schuartz
(Entrevista no Apêndice B) a linguagem é muito mais fácil no desenho, pois a
mensagem é logo absorvida. Faria explica ainda: “O aluno grava mais a imagem do
que o texto”.
136
Nas observações in loco pode-se perceber com o projeto que o aluno procurou as
informações para serem agregadas e possibilitar vida aos personagens e a
construção do cenário. O estudante teve autonomia e liberdade para escolher e
contextualizar todo o projeto na temática a qual foi desafiado a investigar.
Pode-se refletir que o projeto proporciona uma autonomia para os alunos. Eles
constroem o próprio conhecimento e aplicam na aulas de informática. A busca por
todas as informações é livre, porém, com o auxilio do professor na sala de aula
comum. Ele desenvolve em sala os saberes, considerados básicos para que todos
adquiram tenham um conhecimento sobre o assunto que fundamente a pesquisa.
Os outros passos para obtenção do conhecimento, são oriundos das investigações
realizadas pelos alunos no computador e em outros meios de comunicação (revistas
e jornais online) que apóiam, desse modo, a construção do conhecimento desses
alunos na medida em que disponibilizam mais e informações.
O projeto é calcado numa seqüência de informações entre as disciplinas para que o
aluno consiga construir todo o conhecimento. Cada disciplina contribui de alguma
forma. A geografia mostra o que é água, solo, clima, ambiente, floresta, etc.... Já a
arte mostra as noções de proporção dos objetos, cenários, desenhos, do corpo
humano. As aulas de ciências revelam a importância da água para os seres vivos,
como cada bicho pode sobreviver, etc.
Segundo Graciela Schuwartz (Entrevista no Apêndice B), o projeto propicia também
que os alunos conheçam o trabalho e os personagens criados pelos colegas na fase
de construção dos cenários.
Os personagens de um determinado projeto começam a visitar o cenário de um outro. A ideia é que haja uma socialização de todos os trabalhos ainda na fase de construção. Todos devem conhecer o que o colega está produzindo. Outra intenção produzida com as visitas é que o aluno consiga entender que o personagem fora de seu ambiente natural poderá ter dificuldades para continuar vivo. (Graciela SCHUARTZ - Entrevista no Apêndice B)
Para ilustrar pode-se citar: Um cacto que vive com pouca água no deserto terá
muitas dificuldades de sobrevivência exposto numa floresta com água em
abundância. É objetivo também dessa dinâmica despertar no aluno as possibilidades
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de rearranjos que as pessoas, animais e até plantas devem fazer na vida para
continuar a sobreviver.
O Aluno diante da tecnologia do MicroMundos consegue construir o próprio universo.
Há um interesse grande para estar à frente do computador fazendo os cenários e
criando os personagens. O meio visual possibilita uma melhor compreensão e
permite que o aluno consiga compreender na prática o que deseja com o
personagem e o cenário.
Para se ter uma ideia vale destacar os seguintes cenários:
• A personagem é Luisa. Ela fica dentro da casa a observar as plantas depois
que a chuva molha a terra.
Figura 10 e 11 – Desenho da personagem Luisa e a na tureza
Fonte: Desenho dos alunos Fonte: Desenho dos alunos
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• Um Geógrafo (Antonio) e um Cacto (cactinio) são os personagens da história
em que o cacto é retirado do ambiente natural (deserto) e transportado para a
cidade.
Figura 12 – O Geógrafo Antônio e o Cacto
Fonte: Desenho dos alunos
A importância da água para um escorpião que vive no deserto do Saara.
Figura 13 - Desenho do Escorpião e a água
Fonte: Desenho dos alunos
139
• O personagem é uma menina chamada Maria das Dores que sobrevive à seca e à falta de água em Juazeiro do Norte (CE). Ela cuida de um vaso de flores chamado Bela.
Figura 14 - Maria das Dores e a seca no nordeste
Fonte: Desenho dos alunos
• Um personagem chamado Lucas vive no sertão nordestino com o rio secando
Figura 15 – Desenho de Lucas e o rio secando
Fonte: Desenho dos alunos
140
• O cenário é a Floresta Amazônica e o personagem é uma Joaninha, que vive
com a abundância da água e em harmonia com os outros animais da floresta.
Figura 16 e 17 – Desenho Floresta e a Joaninha
Fonte: Desenho dos alunos Fonte: Desenho dos alunos
• O leão Chippe é o personagem que vive na África e todos tem medo dele.
Figura 18 - Desenho do leão na África
Fonte: Desenho dos alunos
E nesse universo de imaginação, cores e desenhos os alunos puderam, com o
auxílio das revistas e jornais online, pesquisar os personagens envolvidos nas
histórias e ressignificá-los nos desenhos apresentados.
141
4.2 ANÁLISES DAS IMAGENS
Ao refletirmos sobre as imagens produzidas pelas crianças para contar as histórias
não podemos nos esquecer de que essas imagens representam a nossa própria
constituição enquanto seres humanos, pois estamos inseridos em uma sociedade
imagética. Imagens que são apropriadas e ressignificadas a todo instante pelas
crianças. Elas estão expostas a essas imagens que as encantam e influenciam na
forma de pensar e atuar no mundo.
Ao pensarmos em ressignificação para começarmos as reflexões recorro a
Rebouças (1995, p. 145 a 171) e Greimas (2008, p. 458 a 460). Ressignificação é
dar um significado diferente. Reafirmar. Voltar a afirmar. Resignar-se. Aceitar a
realidade. Assim, ressignificação consiste na capacidade do ser humano de, a partir
da reflexão acerca de um acontecimento vivenciado, atribuir-lhe significados, ora
distintos da significação realizada na época, ora reafirmando-os. Então, a
ressignificação é um sentido construído também socialmente. Caso não estejamos
familiarizados com os signos não teremos a competência para a identificação de
sentido. Se um indivíduo não reconhece o mínimo de sentido ele não tem
competência comunicativa, ou seja, não compreende o sentido do discurso.
A ressignificação, para os alunos envolvidos no projeto, é um processo que os
permite atribuir novos sentidos a uma experiência, trazendo conseqüências para a
forma como se situa diante da história. Isso permite que essas crianças utilizem os
aprendizados de forma nova. Neste sentido vale pensar a imagem na sala de aula.
Uma imagem que ocupa um espaço na sociedade e se amplia com as novas
tecnologias que possibilitam a criação de novas imagens e cada vez mais
elaboradas.
E o fazer dos alunos na construção dos projetos passou diretamente pela
construção de imagens que foram ressignificadas a partir do elemento imagético
(fotografias) e do texto jornalístico que criam efeitos de verdade no discurso
transmitido. Nesse sentido, ao buscarmos dialogar com os processos de produção
142
de imagens vivenciados pelas crianças no computador, tornou-se necessário
contextualizar todo o caminho dessa produção, bem como os resultados obtidos a
partir da ressignificação.
O ponto de partida para o aluno é a sala de aula “tradicional”. O tema do trabalho é
apresentado pelos professores que lecionam nas disciplinas envolvidas no projeto.
No caso em questão: A água. Cada professor começa a apresentar o conteúdo para
que o aluno inicie o aprendizado sobre a importância do tema para a vida no planeta
terra.
Após duas semanas de apresentações do conteúdo, os alunos então vão para o
laboratório de informática. O local equipado com computadores, internet e software
(MicroMundos) para o desenvolvimento dos projetos. Em dupla ou trio os alunos
começam a discutir com a professora de informática o que desejam elaborar.
Seguem abaixo alguns trechos de fala:
• Fala do aluno: - Professora, eu quero mostrar o nordeste brasileiro. A
professora de geografia falou que lá tem muita seca e é difícil a árvore e os
bichos viverem. Isso é verdade?
• Fala da professora: - É verdade sim. É muito sol e pouca água.
Trecho com outro grupo:
• Fala do aluno: - Professora, nosso trabalho vai ser de uma joaninha numa
floresta com água. E ela vai ser amiga de uma menininha. Vamos fazer isso.
Você me ensina a desenhar uma joaninha e uma floresta.
• Fala da professora: - Você terá a oportunidade de ver várias joaninhas e
florestas e desenhar a sua própria. Vai ficar muito bonita, tenho certeza.
Trecho com outro grupo:
• Fala do aluno: - Escorpião que vamos desenhar no computador vai ser muito
fera. O escorpião mata e vive no deserto do Egito.
• Fala da professora: - Como você sabe que vive no Egito o Escorpião?
• Fala do aluno: - Já vi num filme. E também meu irmão falou comigo.
143
• Trecho com outro grupo:
• Fala do aluno: - Nós vamos fazer do Cactos. Ele vive muito tempo sem água.
Ele vai morar na cidade.
Depois da apresentação do temas dos projetos pelos alunos, a professora de
informática sugeriu que cada grupo fizesse uma pesquisa na internet para melhor
conhecer os personagens e os seus habitats. Rapidamente, os alunos se voltaram
para o computador e 100% entraram no site de busca: Google.
Colocaram diversas palavras chaves, de acordo com o projeto, e começaram a
navegar. A professora “sugeriu” que ao encontrarem algo interessante nos textos era
para anotar a informação num arquivo de documento de Word para ser utilizado
mais à frente no desenvolvimento dos desenhos.
A pesquisa feita de forma livre pelos alunos os levava a vários tipos de informações
sobre o cenário desejado para o projeto. Alguns alunos chamavam a professora
para mostrar o que encontravam e conversavam com ela.
Percebi que a professora orientava os alunos, porém deixava claro que o projeto era
deles e que eles deveriam selecionar a informação a ser utilizada. Na observação,
os sites visitados eram variados. Pude perceber também que a maioria dos alunos
utilizou informações de sites que se caracterizam como um de revista ou jornal
online.
Percebi também a emoção dos alunos quando encontravam algo que era o que
pensavam e acabava sendo confirmado na mídia online. Fala emocionada do aluno
que soltou um sorriso e empurrou o colega: “caraca! O escorpião é muito fera. Olha
aqui”. Já outro desejou ser um Leão: “Queria ser um leão. Olha como ele é forte e o
que come. Ele é forte e todo mundo tem medo dele”.
A essa geração de sentido Landowski (1992, p. 165) diz que a significação não está
nas coisas, mas resulta da sua colocação em forma. Assim, o sentido é pensado
como um ato semiótico gerador. A enunciação é o ato pelo qual o sujeito (aluno) faz
144
ser sentido e enunciado. Portanto o sujeito semiótico é um efeito de sentido. “Há um
eu que se manifesta no espaço do aqui e no tempo do agora”. Para os alunos, a
imagem e o texto faziam parte do próprio sentido da vida deles. Eles, naquele
instante, “encarnaram” o leão e o escorpião. Era algo indissociável.
A pesquisa na internet durou três aulas. Os alunos separam as informações (textos e
imagens) e foram novamente para uma reunião com a professora de informática e
todo grupo junto. Cada um falou o que encontrou, como seriam os personagens e o
habitat a ser desenhado.
A partir desse momento foram colocando no papel o que cada desenho teria e
quantos quadros de desenhos seria preciso para toda a história ser narrada com as
imagens. Esse tempo foi de duas aulas. Paralelo às aulas de informática, os alunos
conversavam também na sala de aula “tradicional” com os professores e
apresentavam as ideias pensadas a partir das pesquisas na mídia online.
Nesse sentido a ressignificação começou efetivamente nos desenhos quando
abriram o software do MicroMundos. A professora ensinou alguns comandos novos,
visto que os alunos já haviam tido, em séries anteriores, contatos com o software.
Os alunos novatos tiveram a oportunidade de estudar o software num horário extra-
sala para chegar ao mesmo nível de conhecimento dos outros. Com a história
pensada e as informações já adquiridas, os alunos começam a criar os
personagens. A imagem dos textos noticiosos foi determinante para a construção
desses personagens.
Os cenários saíram principalmente do imagético com o auxilio dos textos noticiosos.
Nesse sentido Landowski (1998, p. 15) afirma que a imagem é uma presença antes
de ser uma representação. Neste sentido é possível apontar que esse seja o motivo
dos alunos se apropriarem mais das imagens para ressignificarem os projetos.
Uma imagem é, com efeito, de início, por si mesma presença. Ela nos põe imediatamente em contato com alguma coisa que não é um discurso sobre algum referente suposto..., mas que é, nem mais nem menos, a presença da própria imagem enquanto tal, como realidade plástica. (LANDOWSKI, 1998, p. 15)
145
A imagem, então, amplia seu universo de significação quando utiliza outras relações
de sentido, instaurando ligações com o contexto social e veiculando novas
concepções de mundo que são refletidos no seu modo de construção. A imagem
pode designar orientar e instituir o dizer-fazer.
Nesse sentido da busca da imagem Graciela Schuwartz (Entrevista no Apêndice B)
é categórica ao afirmar que os alunos preferem as imagens para desenvolverem os
desenhos:
Com certeza a imagem é mais “querida” pelos alunos, apesar de muitos ainda resistirem a desenhar da sua maneira, querendo buscar imagens prontas, mas com incentivo e estímulo eles percebem como é bom fazer a sua produção. O texto verbal também não pode ser deixado de lado e sempre é usado no laboratório de informática. (Graciela Schuwartz – Entrevista no Apêndice B)
E os alunos que participaram do grupo focal também confirmaram a fala das
professoras como já colocado nas páginas 133 e 134:
• Eu prefiro ver fotos, pois é mais fácil. Ler cansa muito. Tenho preguiça de ler.
• A foto é mais rápida de ser entendida. A imagem chama mais atenção na
hora da busca do assunto.
• O texto ocupa muito tempo. Somente leio textos pequenos. Os textos grandes
demoram muito e, às vezes, não entendo nada. Mas quando a professora
pede para ler, eu leio tudo.
• Texto em pesquisa para conhecer mais sobre os personagens da história que
estou montando, sobre o lugar. Olho primeiro a foto. Se interessar, vou para o
texto. Não tenho muito problema para ler, mas prefiro textos menores. Assim
posso ler mais e ter mais informações.
• Prefiro ver imagem para não perder tempo. Quando não entendo a foto, eu
leio o texto. Quando o assunto me interessa leio o texto todinho. Mas quando
não me interessa, leio somente o começo e depois vou para o final. A foto é
bem melhor. Quando gosto da foto, eu guardo no computador.
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Ao analisarmos a produção dos alunos podemos fazer um comparativo das imagens
(fotográficas separadas pelos alunos e a ressignificação dada no desenho do
projeto. Vejamos o exemplo abaixo:
Figura 19 e 20 – Pirâmides no Egito e Escorpião
Fontes: UolEducação.com.br e CienciaHoje.com.br
A partir das imagens, um exemplo apenas, pois os alunos pesquisaram e
selecionaram muito mais imagens, podemos observar o processo de ressignificação
do desenho construído a partir do real. Na imagem fotográfica podemos observar a
predominância da cor amarela e o ambiente árido (deserto) em torno da pirâmide. O
céu totalmente azul. Já o escorpião numa cor preta é inserido nesse ambiente de
deserto. Um pequeno trecho do texto jornalístico utilizado pelos alunos para apoiar o
desenvolvimento da imagem: “Os escorpiões vivem sob pedras, madeiras, troncos
podres, alguns se enterram no solo úmido outros na areia do deserto...”
Assim o desenho dos alunos após o levantamento das informações ficou desta
maneira:
Figura 21 e 22 – Desenho do Escorpião e a água
Fonte: Desenho dos alunos
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No primeiro desenho, mesmo com o céu azul, os alunos já colocaram nuvens e
utilizaram os cactos para representar a questão da seca. O cacto é uma planta típica
do nordeste brasileiro. É o global e o local na mesma cena. Já no segundo desenho
a ressiginificação partiu para a colocação de um rio em pleno deserto. É uma
tentativa de mostrar a água para salvar vidas. E também a presença do homem
inserida no ambiente de difícil sobrevivência. Escorpião e homem estão separados
na imagem. A presença de algumas árvores para mostrar a existência de oásis no
deserto, o que possibilita o homem se manter no ambiente.
No desenho ressignificado, observamos que a produção de sentido está na relação
como um todo e produzem efeito por si só. Mesmo o desenho sem qualidade
plástica de cores, traços, formas, gestos dos personagens, ambiente, etc... O
potencial que a imagem traz contribui para a produção do sentido. Assim, as
imagens, segundo Landowski (1992, p. 167) seguem estratégias enunciativas de
colocação em discurso para a produção de sentido que não são diferentes dos
outros textos. “A significação não está nas coisas, mas resulta de sua colocação em
forma”
E nesse cenário imagético fica-me um questionamento. Por qual motivo a imagem
ainda ocupa um papel secundário no processo de ensino-aprendizagem, sendo,
utilizada normalmente como mera ilustração. Será devido aos sujeitos não estarem
acostumado a análises criteriosas e reflexivas. É necessário envolver os sujeitos
nesse processo. Acredita-se que o trabalho com imagens em sala de aula deva
privilegiar o desenvolvimento do olhar crítico do aluno que está em constante
contato com as mesmas, na sua capacidade de interpretar e compreender
criticamente as imagens para não serem meros reprodutores de discursos.
Assim, imerso em um campo complexo de significações, o conceito de imagem é
formado por múltiplas concepções que permeiam todos os campos de conhecimento
humano e dialogam continuamente com o processo histórico cultural vivenciado
pelos sujeitos. Dessa maneira, a imagem se apresenta como um elemento mediador
constituído socialmente por propiciar a concretização da própria atividade humana,
condicionada pelas relações estabelecidas entre os sujeitos. Ela possibilita ao
homem imprimir uma significação à sua ação, atribuindo à atividade humana a
148
função criadora de novas realidades. Essas imagens somente apresentam sentido
ao ser humano quando correlacionadas ao contexto e às vivências que cada sujeito.
Mediante a relação estabelecida com o social, torna possível ao ser humano dialogar
com as imagens que circulam o seu cotidiano, fazendo emergir os valores morais e
estéticos que delineiam esse processo de produção e recepção das imagens. Se
essa inserção não ocorrer, elas passam a ser somente vistas pelo indivíduo e não
lidas por ele.
149
4.3 ANÁLISE DAS CORES
A cor está presente em nossa vida e o ser humano utiliza a cor de várias maneiras
com diferentes significações. A cor influencia direta ou indiretamente o nosso
cotidiano. Quando utilizada de maneira adequada, torna-se uma importante
ferramenta para o equilíbrio, gerando bem-estar, preservando à saúde, facilitando à
comunicação entre as pessoas.
Pensando no caminho semiótico, segundo Greimas, os signos figurativos
caracterizam-se por representações de objetos do mundo que conservam
características de semelhança com o que representam, permitindo o reconhecimento
do objeto no contexto de uma determinada cultura.
Já os signos plásticos, como é o caso das cores, são capazes de nos fazer associar
significados diversos ao texto que estamos lendo ou vendo. Ele enriquece o
elemento figurativo. Em alguns textos ele pode ser o elemento visual predominante.
Neste sentido, as cores despertam sentimentos e ideias que associamos a elas. São
elementos plásticos que possibilitam efeitos de sentido que podem ser divididos em
categorias opositivas: como quente-frio, claro-escuro, alegre-triste, sério-engraçado.
Analisando os desenhos a seguir podemos notar esses efeitos de sentido. A
utilização do verde no primeiro quadro no sentido de esperança em oposição ao
amarelo do homem no canto da foto que dá a ideia de desespero. Já no quadro dois
o quarto rosa é sinônimo de calma. Quando associado ao sexo feminino pode ser
interpretado como debilidade em certos ambientes. A utilização do azul na menina
produz a ideia de harmonia e liberdade. E, ainda, podemos destacar que o rosa é
uma cor muito utilizada pelas meninas. Neste caso o projeto foi desenvolvido por
duas alunas.
No quadro três o amarelo é predominante no cenário. No caso em questão
representa o desespero, o chão seco. Em oposição há a figura da menina utilizando
uma roupa vermelha, que significa a força e a energia para se manter viva. Já no
150
quarto quadro, o verde é predominante e significa esperança, a fertilidade, a
natureza. Nesse quadro não há uma oposição clara, pois o azul e o marrom também
predominam interferindo na analise.
Figura 23, 24, 25 e 26 – Desenho do leão na África, Desenho da personagem Luisa e a natureza, Desenho de Maria das Dores e a seca no nordeste, e
Desenho da Floresta e a joaninha
Fonte: Desenho dos alunos
Continuando as análises, na percepção visual distinguem-se três características
básicas da cor, referentes à sua tridimensionalidade, cujos aspectos, qualidade ou
contrastes participam da formação daquilo que compõe as cores. Consideram-se
como características básicas da percepção da cor:
• matiz: que difere uma cor da outra, como azul e vermelho;
• luminosidade: o claro e o escuro da cor;
• saturação: refere-se ao potencial da cor, por exemplo, quando o matiz é mais
forte e pleno (saturado) ou mais fraco (dessaturado).
Ao analisar as cores, que constituem a dimensão cromática, dos desenhos
construídos pelos alunos é de clara percepção uma saturação. As cores sempre
151
vibrantes dos desenhos (azul, amarelo, vermelho, rosa, verde) produzem um efeito
de euforia. As cores agressivas são próprias da juventude. Causam um impacto no
destinatário que não tem como deixar de ver a foto. Mesmo assim essas cores
acabam cansando a visão.
A cor, sendo utilizada indiscriminadamente, pode ter um efeito negativo ou de
distração, afetando a reação do usuário em relação às informações. Pode haver uma
fuga do destinatário. Ao analisarmos essas cores saturadas, Segundo Schimitt e
Simomson (2000, p. 111) o destinatário pode ter diferentes sensações. Quanto mais
saturada a cor empregada, maior a sensação de que o objeto está se mexendo.
Quanto mais luminosa a cor, maior a impressão de que o objeto está mais próximo
do que na verdade está. Essas impressões se configuram, nos desenhos mostrados.
E na escolha das cores utilizadas pelos alunos nos desenhos deve-se pensar na
questão da persuasão e na sedução do enunciador diante do enunciatário no
momento da produção das intencionalidades do discurso. Toda cor utilizada na
imagem deve também ser pensar na possibilidade de gerar um sentido. Intencional
ou não, as cores utilizados pelos alunos no desenvolvimento das histórias (cenário e
personagens) possibilitaram reflexões nos seus discursos visuais.
O fazer semiótico não é somente tentar compreender num primeiro grau certas coisas que se apresentam aos nossos olhos. E também não é desentralhar o sentido de nossa própria implicação nas peripécias de uma história que está acontecendo. É também – ou, na realidade, é sobretudo – tentar compreender, num segundo grau, o que faz com que compreendamos de tal maneira, e não de outra o que compreendemos. (LANDOWSKI, 2001, p. 26)
Desta maneira, a comunicação é estruturada no discurso para gerar sentidos. E se
esse sentido não existe para se pegar, segundo Landowski (2001), ele deve ser
construído: compreender é fazer, é operar, é construir. Portanto, sendo o sentido
algo que se constrói, o percurso gerador de sentido, utilizando as cores, é uma
operação complexa que pode ser entendida como um encadeamento de etapas
interrelacionadas no plano de conteúdo do discurso, onde se estrutura o sentido.
As cores também foram utilizadas nas imagens como forma de criação e delimitação
dos espaços. Segundo Farina (1982, p. 28 e 29) a cor permite obter nos desenhos o
152
mesmo efeito de um plano bidimensional, isto é criar um espaço. E, ainda, a cor
possui uma ação móvel e as distâncias visuais tornam-se relativas. O próprio volume
dos personagens ou objetos podem ser alterados pelo uso da cor.
O azul do rio, por exemplo, em duas cenas possibilitou a distância visual. O homem
em relação aos leões e as árvores em relação à encosta próxima ao próprio rio. O
que não é possível observar no quadro três. A utilização excessiva do amarelo não
criou a profundidade. Se o aluno colocasse o azul no fundo teria um fechamento e a
ideia do vazio do céu, pontuando o horizonte na cena. A impressão é de um
desenho chapado, sem limites e divisões de espaços. Já no quadro quatro a
utilização da cor azul da roupa da menina e a cor do lençol da cama mostram o
distanciamento e profundidade da imagem.
Vale destacar também na utilização das cores pelos alunos a questão do software
MicroMundos. No software MicroMundos a paleta de cores disponível para os alunos
é formada essencialmente de cores primárias e secundárias. Salvo algumas poucas
variações. Existe uma barra de rolagem à direita que permite o controle da
intensidade para mais claro ou mais escuro.
Figura 27 - Mostra de cores no software MicroMundos
Fonte: Software do programa MicroMundos
O resultado final da apropriação da cor irá depender da habilidade do aluno no ato
de manipular a ferramenta e nas técnicas de uso de cores.
O uso de cores intensas propõe ao leitor final (destinatário) a sensação de um certo
“primitivismo”. Contudo isso simplesmente pode ser resultado do desconhecimento
das técnicas (arte e software) ou “falta de vontade” do usuário de usar cores mais
elaboradas. Cores primárias e secundárias ocasionam altos contrastes quando
utilizadas em conjunto. Principalmente quando em cor luz.
153
4.4 UMA VIA INTERDISCIPLINAR E TRANSDISCIPLINAR
A proposta é refletir a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade no contexto
educacional como uma forma de dinamizar o conhecimento. As discussões sobre o
computador e a mídia online fazem parte dessa mediação como uma ferramenta
para a busca do saber e facilitador do processo de interdisciplinaridade e
transdiciplinaridade.
A interdisciplinaridade refere-se a uma concepção de ensino e de currículo, baseada
na interdependência entre os diversos ramos do conhecimento. A
interdisciplinaridade rompe a barreira existente entre as disciplinas, promove a
abertura a novos saberes, favorece a compreensão e a reconstrução do saber.
Quando existe um objeto comum a várias abordagens que antes não colaboravam
entre si, dá-se um passo na direção da abordagem transdisciplinar, pois necessita
de um modo de pensar capaz de fazer a conexão dos objetos de várias disciplinas e
organizá-las. Isso é transdisciplinaridade.
Nas observações e nas entrevistas ficou bem claro que o projeto realizado pelos
alunos tem uma proposta interdisciplinar e transdisciplinar. O tema transversal
escolhido foi a água e a sua importância para o planeta terra. A partir do tema
proposto todas as disciplinas refletiam os conteúdos relativos água. E no laboratório
de informática o aluno busca via mídia online mais informações sobre o tema para
ter um saber mais ampliado como explica a coordenadora de informática Graciela
Schuwartz (Entrevista no Apêndice B): “a interdisciplinaridade faz com que os alunos
tenham uma visão mais ampla de mundo e de como usar os conhecimentos
adquiridos”.
No desenvolvimento dos projetos a interdisciplinaridade fica aparente. Cada
disciplina possibilitava algo a mais para os alunos elaborarem a história e todo o
projeto. Observando as práticas no laboratório os professores deixavam claro que os
alunos estavam fazendo um trabalho interdisciplinar. Seguindo uma rotina produtiva
154
da imagem do trabalho a interdisciplinaridade pode ser percebida melhor. Segue o
exemplo da construção da imagem abaixo.
Figura 28 - Desenho do Geógrafo Antônio e o Cacto
Fonte: Desenho dos alunos
A disciplina de arte contribuiu da seguinte forma: ensinou para os alunos as noções
de profundidade de um desenho para não deixar a imagem “chapada”. Falou sobre o
uso das cores e o que poderia provocar em cada projeto. Explicou as proporções e
formas de cada personagem e de certa forma a estrutura como um todo. Boa parte
das orientações foi em conjunto com a matemática. No desenho acima, o sol
amarelo, a sombra do cacto, a linha do horizonte, o tamanho do personagem e dos
cactos respeitando a proporcionalidade, as cores do chão representando a seca, o
céu bem azul, etc...
Já a disciplina de Língua portuguesa possibilitou aos alunos o sentido do roteiro e
como é possível construir um texto (uma história) com a utilização de imagens. Já
disciplina de geografia explicou como é o ambiente de deserto (sem água), a
importância do clima, discute aspectos da realidade social e a relação dos seres
vivos. A disciplina de ciência mostrou como é impossível viver sem água e como os
seres vivos utilizam esse recurso que um dia poderá acabar. Falou o que acontece
com o corpo humano quando falta água e o que o cacto faz para ficar tanto tempo
sem receber água e continuar vivo. Já a disciplina de Informática era o ambiente de
155
encontro interdisciplinar para realização das atividades práticas e criativas dos
projetos.
E nesse ambiente interdisciplinar os alunos vibravam. A cada tela de desenho
finalizada era a verdadeira vitória. O testar as novas cores e as novas formas dos
desenhos a euforia impulsionava para o fazer, não como um dever-fazer como
sujeito manipulador pela intimidação de comprimento dos “programas” curriculares,
mas como um querer e um poder fazer próprio de quem assume sua autonomia e
liberdade criativa de aprendizado.
A consultora Carmen Faria (entrevista no Apêndice A) explica que a mídia online e a
educação informatizada propiciaram uma interdisciplinaridade total, com uma
cumplicidade entre os professores. “Um ato sem preconceito, na qual todos
entendiam a importância de cada disciplina na construção do objeto. Um professor
dialogava com o outro sobre os temas expostos e sobre os rumos do projeto. No
final o aluno, entende a importância de cada disciplina na construção do
conhecimento e da própria vida”. Para Carmem Faria (entrevista no Apêndice A),
nesse processo interdisciplinar o computador assume um papel importante. Ele
possibilita o fazer e o refazer das situações (cenários) proposto pelo aluno, que sai
de um universo micro de assunto (sala de aula) e busca num universo macro (mídia
online) a construção do saber.
Para tanto o termo interdisciplinaridade é definido de várias maneiras e por várias
correntes na educação. Ele suporta uma grande quantidade de sentidos e
significados diferentes. Para Ivani Fazenda (1995, p. 30 a 32) o termo não possui um
sentido único e estável. Contudo o principio é sempre o mesmo e caracteriza-se pela
troca entre os educadores e pela integração num mesmo projeto de pesquisa. E
essa forma é a mesma constituída na Escola Monteiro Lobato.
Vale reafirmar que a interdisciplinaridade busca o saber unificado e global para
preservar a integridade do pensamento. Num projeto interdisciplinar não se ensina,
não se aprende: vive-se, exerce-se. A responsabilidade individual e o envolvimento
é a marca do projeto.
156
Diante das considerações é possível fazer uma contextualização com um ambiente
educacional mediado pelas mídias online (revista e jornal). Ao analisarmos essa
mídia online nas salas de aula, as observações apontaram que ele permite que o
aluno tenha informações do mundo real (imprensa relata e contextualiza o cotidiano
do mundo) para construir o saber dentro do universo escolar. Possibilita também
adquirir novos conhecimentos com as matérias, despertar cidadania e preocupação
com o mundo em que está inserido.
Na concepção de Morin (2002, p. 105 a 108) a Interdisciplinaridade pode ser
entendida como decorrente de uma atitude intelectual não-simplificadora de
abordagem da realidade. Essa atitude implica em admitir que em cada situação há
múltiplas variáveis interferindo simultaneamente na construção do conhecimento.
Sendo assim, a interdisciplinaridade perpassa todos os elementos do conhecimento
pressupondo a integração entre eles, o que vai de encontro com o projeto realizado
pelos alunos.
Nesse cenário, a ação pedagógica da interdisciplinaridade aponta para a construção
de uma escola participativa, na qual os estudantes devem articular saber,
conhecimento e vivência. Para que isso aconteça na plenitude, o papel do professor
é fundamental no avanço construtivo do aluno. O professor pode perceber as
necessidades dos alunos e o que a educação pode proporcionar.
É necessário, então, incentivar e buscar essa cultura, ter uma visão mais ampla e
não fragmentada. Para isso é preciso que a escola torne-se um espaço de
pensamento, acabando com a fragmentação do conhecimento, pois somente assim
a cultura interdisciplinar estará cumprindo o papel de facilitador da educação.
Já a transdisciplinaridade também entra nesse cenário educativo como um caminho
para a construção do conhecimento global, numa época em que os saberes surgem
e se acumulam de forma vertiginosa, mas não garantem o crescimento pessoal e a
incorporação de valores. O objetivo no educar é o de acolher e compreender o
mundo como ele se apresenta. O conhecimento deve ser unificado para a
157
construção de um futuro. É o fim da visão individual, mecânica e simplista. O
computador assume, então, na educação informatizada um papel importante no
ambiente interdisciplinar e transdisciplinar.
Os espaços interdisciplinares e transdisciplinares criados para o aproveitamento por
meio do uso da mídia online ofereceram aos alunos da sexta série um mundo sem
restrições, um universo livre e aberto, conectado com todos os conhecimentos e com
as possibilidades coligadas ao conhecimento, indissociado de todos. E o resultado
disso foi uma gama de projetos desenvolvidos. Cada um com sua característica,
porém seguindo um mesmo tema: a água.
Fazendo uma reflexão na fala de Carmen Faria (entrevista no Apêndice A) é
possível traçar alguns paralelos e fortalecer a importância da mídia online na sala de
aula como um instrumento interdisciplinar e transdisciplinar.
Nesse processo interdisciplinar o computador assumiu um papel importante. Ele possibilita o fazer e o refazer das situações (cenários) proposto pelo aluno. No papel, talvez, o aluno poderia deixar de fazer por pura preguiça ou por ser mais trabalhoso. O computador facilitou para o professor, pois pode acompanhar mais próximo todas as etapas da construção do objeto e, também, como foi o desenvolvimento do aluno passo a passo no crescimento dentro do projeto. O computador pode ser uma ótima ferramenta pedagógica, mas também pode ser uma péssima ferramenta. Tudo vai depender de que maneira ele será utilizado na sala de aula. Se ele estimular o aluno a desempenhar atividades libertadoras, cidadãs, criticas e desenvolver o saber e o conhecimento, tudo bem. Agora, se o computador for usado para simplesmente reproduzir de uma forma digital tudo que o aluno já sabe, não adianta de nada. (Carmen Faria – Entrevista no Apêndice A)
O saber utilizar a informação é aplicar conceitos além da sala de aula. É conectar o
aluno e fazê-lo contextualizar o mundo real com a atividade exercida dentro da sala
de aula. Isso somente é capaz, quando os planos de interdisciplinaruidade e
transdisciplinaridade estão claros tanto para o educador, quando para o aluno. Os
objetivos e estratégias devem ser tratados com seriedade para que a busca do saber
e a construção do conhecimento seja plena.
Na Escola Monteiro Lobato, os projetos desenvolvidos ao longo dos anos buscam,
justamente, reforçar as ideias de construção de aluno cidadão, atuante e crítico.
158
Nesse cenário, a educação informatizada e mídia online, quando utilizados de forma
a propiciar a formação de ideias e opiniões, podem contribuir como mediadores do
processo de construção do conhecimento. A busca pelos temas transversais é
importante para a construção dessas propostas de um aluno de “saber global”.
159
4.5 RELAÇÃO COMPUTADOR / ALUNO / PROFESSOR NO
LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA
Ao vivenciarmos as transformações tecnológicas nos últimos anos é possível
perceber como essa revolução se efetiva no ambiente escolar. Ao analisar o
comportamento dos alunos diante do computador e das mídias online pude perceber
que surge um novo espaço de sociabilidade, de organização, de informação, de
conhecimento e de educação. E nesse processo de mudanças, os alunos da sexta
série A do Monteiro Lobato são diferentes. Eles são conhecidos como a “Geração
Net” ou “Nativos Digitais”. São os alunos que passam e passarão a infância e
adolescência, usando computadores, ouvindo música digital, jogando videojogos, e
socializando-se.
Neste sentido Carmen Faria (entrevista no Apêndice A) relata que no computador, o
aluno interage o tempo todo e, por estar fazendo as atividades, acaba assimilando e
entendendo melhor o assunto. No computador depende de cada aluno na sua
própria construção. Tudo pode ser rápido ou devagar, depende de cada aluno. O
computador possibilita que o aluno veja na tela (virtual) tudo que ele aprendeu na
sala de aula e depois construiu no computador.
Mas, com o computador, há o problema dos alunos que tentam burlar as atividades
e também ficarem dispersos. Muitas vezes, o aluno acaba desviando o foco da
atividade para outros caminhos e precisa que o professor o recoloque nos “trilhos”.
Então, o computador, por si, só traz resultados ruins e fantásticos, dependendo da
forma que ele é utilizado em sala de aula.
No projeto em questão pude perceber a utilização das duas maneiras. O aluno que
buscava realmente a informação e depois produzia de forma correta os desenhos do
160
projeto. E, também, os alunos que, no universo de hiperlinks, fugiam do tema e
partiam para novos mundos que se abrem com um clique.
O interessante é que a própria professora percebia e deixa o aluno, por alguns
instantes, continuar a “viagem”. Pude perceber que isso era uma dupla estratégia. A
primeira era uma forma de poder atender a todos os alunos que a solicitavam. Já a
segunda era a maneira de deixar o aluno buscar outras informações para a
construção do próprio saber. Vale ressaltar que o tempo dessa exposição do aluno
para fora do projeto era curto e não passa dos cinco minutos.
Outra observação é esses alunos habituaram-se à informação imediata e à
comunicação em tempo real, o que contribuiu para o sentimento de impaciência e
expectativa de obter resultados imediatos. O que muitas vezes não é possível devido
ao tempo curto das aulas de informática para a elaboração dos projetos. Esses
alunos também fazem o percurso de aprendizagem de forma não seqüencial e
conseguem lidar com múltiplas fontes de informação simultaneamente.
Diante do quadro tão favorável, os resultados, logo, surgem: economia de tempo,
possibilidade de criar ambientes virtuais para mostrar o lado prático de muitos
conceitos, oportunidade de pesquisar e trocar informações. Carmen Faria (entrevista
no Apêndice A) explica que o educador passa a orientar e trocar saberes com os
alunos, pois todos têm a autonomia no projeto realizado na escola Monteiro Lobato.
O projeto possibilita ao aluno trabalhar a autonomia dentro do seu próprio tempo. Cada um constrói no seu próprio passo. Cada aluno tem seu limite e liberdade para montar seu projeto (história). Ele tem a liberdade de transformar seu pensamento em ação, colocando o que entendeu do conteúdo na tela do computador. (Carmen Faria – Entrevista no Apêndice A)
Utilizando o olhar da interatividade podemos refletir que o professor de informática
da Escola Monteiro Lobato tornou-se um formulador de problemas, coordenador de
equipas de trabalho e um sistematizador de experiências. Cabe a esse professor
uma interação que gere a articulação das informações com vistas a construir para o
161
aluno novos conhecimentos para que o levem à compreensão do mundo com
olhares diferentes e críticos. Dentro do laboratório de informática, então, o professor
atua como mediador, facilitador, incentivador e investigador do conhecimento e da
própria prática e da aprendizagem individual e do grupo.
Entretanto, em alguns casos, percebi que sempre o mesmo aluno (seja da dupla ou
do trio formado para desenvolver o projeto) debatia os assuntos com o professor. Os
outros ficavam passivos diante das informações. Em alguns momentos o professor
questionava esse aluno passivo para estimular as reflexões e, em outros, deixa
passar despercebido. Entendo que se a busca é uma educação dialógica todos
devem, a todo instante, participar das reflexões. O educador deve se tornar co-
responsável no próprio processo diálogo que se efetiva na relação entre
professor/aluno/computador.
Dessa maneira, recorro a Freire (1980, p. 38 a 40) que diz que a educação
transforma o homem educando, em homem educado. E esse seria o efeito esperado
do processo educativo. Esse homem educado, então, é um ser dotado de certo
conhecimento cultural adquirido pela transmissão da educação dos antecedentes
até os seus componentes contemporâneos.
Pode-se afirmar, então, numa concepção Freireana que a educação é, ao mesmo
tempo, um "instrumento de desenvolvimento individual" e um "instrumento de
socialização". Neste sentido, no processo de elaboração dos projetos, os alunos
construíram o conhecimento por meio da comunicação, da troca, da representação,
da criação/recriação, organização/ reorganização, ligação/re-ligação, transformação,
da apropriação, da ressignificação e da elaboração/re-elaboração. Um caminho hora
individual, hora socializado dentro dos grupos.
Na interrelação professor-aluno, ambos têm responsabilidades diferenciadas no
processo ensino-aprendizagem. O sucesso da aprendizagem depende da existência
de uma mínima “sintonia” entre professor e aluno. Os fatores afetivos: simpatia,
incentivo e confiança devem aparecer no momento das interrelações da busca pelos
saberes, permitindo assim um processo dialógico. No que pude anotar na sala de
162
aula, essa sintonia estava bem presente. Os alunos tinham um canal dialógico direto
com a professora de informática e também havia uma ótima relação de afetividade.
Dessa forma, o uso do computador pelos alunos propicia a alteração da própria
produção de sentidos perceptivos que realiza em contato com o meio, oportunizando
a expressão de seus pensamentos, de situações imaginárias e de suas próprias
relações sociais. Os alunos, carregados de sentido e sensibilidade, sorriam,
cantavam, se “futucavam”, falavam gírias e expressões para mostrar o momento de
satisfação ou insatisfação quando estavam expostos ao computador na elaboração
e produção dos projetos.
Pensando, agora, na relação professor/aluno/conteúdo é necessário o educador se
desvencilhar dos conhecimentos já cristalizados como possíveis verdades acabadas.
No contexto educacional, Escola Monteiro Lobato, o professor busca uma maior
criatividade e versatilidade. Entretanto nem sempre consegue e acaba depositando
nos alunos conteúdos decorados e não construídos.
Com o projeto esses efeitos tendem a ser minimizados, pois o professor não se
limita à transmissão de conteúdos prontos, mas desenvolve a capacidade reflexiva e
exploratória dos alunos. Com a utilização do computador como ferramenta auxiliar
no processo ensino-aprendizado os conteúdos podem ser abordados de uma forma
atraente e acessível.
No laboratório percebi também de que maneira a própria comunicação está
mudando da massiva para a interativa. Um processo de reconfiguração em
andamento no qual o novo espectador é menos passivo diante da mensagem. O
aluno é ator e autor. A interatividade permite ultrapassar a condição de espectador
passivo para a condição de sujeito operativo. Neste sentido a interatividade é um
conceito de comunicação e não de informática. Pode ser empregado para significar
a comunicação entre aluno / professor, aluno / professor / computador, aluno /
computador, professor / computador, e aluno / professor / serviços.
O computador está ligado ao termo interatividade, pois há guardado em sua
memória imagens, sons e textos, que permite qualquer tipo de manipulação e
163
interferência sem a perda da informação. Neste sentido, o computador é
denominado por Dizard (1998) de ‘mídia interativa’. A Interatividade é posta em
questão, pois é uma de suas principais características deste novo meio de
comunicação, dando ao usuário liberdades de ação frente ao roteiro de conteúdo
proposto.
164
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao começar as considerações finais remeto-me ao texto de introdução da
dissertação. Lá deixei claro que eu era sujeito participante da história. Sendo sujeito
participante, sou movido ora pela paixão e ora pela razão. E nessa dualidade sinto
necessidade de apresentar neste primeiro instante a minha experiência no processo
de construção da dissertação. A experiência foi gratificante pelo muito que aprendi.
Logo no início, quando fui ao campo, um sentimento de tristeza caiu sobre mim. Ao
visitar as escolas públicas para oferecer o desenvolvimento de um projeto prático no
qual os alunos seriam “repórteres” para a construção de um jornal Mural da escola,
percebi um desinteresse geral de professores e alunos. O projeto não saiu do papel
e notei, ainda, que professores e alunos parecem não se importarem com o hábito
da leitura e da produção de texto. Foi decepcionante, mas um valioso aprendizado.
Creio que a recusa à proposta feita possa ser debitada tanto ao estranhamento da
utilização da mídia jornalística na educação, reforçada, ainda, pelo fato de minha
presença, completamente “estrangeira” àquele cotidiano escolar.
O projeto foi modificado e levado para uma escola particular, que já incluía em seu
currículo a preocupação com o uso das tecnologias e assim pude dar continuidade à
dissertação. Cheguei ao momento final com um sentimento contraditório: por um
lado o trabalho escrito e finalizado dentro de um tempo/espaço determinado, o da
duração de um mestrado. Por outro lado, a obra incompleta, pronta para ser “ponto
de partida” e, espero, revisitada para outras reflexões dentro de um outro
espaço/tempo. Sinto que cumpri os objetivos a que me propus com a dissertação,
porém, sinto, novamente, que o texto não está acabado, pois não pode estar: por ser
impossível refletir todas as vertentes do tema até a exaustão.
Pude perceber, com um olhar diferente, como se dá o desenvolvimento do processo
de ensino e aprendizagem nos ambientes educacionais. Isso é motivador para mim
que lido todos os dias com alunos nas salas de aula, não da escola básica, mas de
ensino superior. Nela posso constatar que ninguém mais é passivo neste ambiente
165
tecnológico. A interatividade e a dialogicidade deve estar, ou ao menos deveria
estar, sempre presente nas relações aluno e professor. Por outro lado, o
envolvimento na pesquisa, me abriu horizontes. Graças a ela pude fazer novos
amigos. O contato com pessoas totalmente diferentes foram estabelecidos ao longo
desses meses e isso me marcou positivamente.
Em especial os alunos da sexta série da Escola Monteiro Lobato. Jovens ávidos pela
busca do conhecimento. Uma geração que nasceu com as modernas tecnologias de
comunicação e educação e sentem-se perfeitamente à vontade e integrada com
elas. Deposito minha confiança nesses jovens, pois (são eles ou com eles) que
poderá começar a ser produzida a grande revolução no sistema de ensino.
No geral foram horas desafiadoras e quase sempre em companhia da banda “Legião
Urbana”. As músicas foram fonte de inspiração intelectual e, também, me passavam
energia nas horas difíceis para concluir a pesquisa. Como diz a letra da música
“Tempo perdido”, eu não tinha tempo a perder:
Todos os dias quando acordo
Não tenho mais O tempo que passou
Mas tenho muito tempo Temos todo o tempo do mundo...
Todos os dias Antes de dormir
Lembro e esqueço Como foi o dia
Sempre em frente Não temos tempo a perder...
E sem perder tempo e olhando a dissertação como um todo, certamente deixo
diversas áreas de saberes a serem ainda exploradas por outros: a educação, as
novas tecnologias, a cibercultura, o jornalismo com suas estratégias, o caminho
cruzado entre comunicação e educação, a semiótica aplicada à sala de aula, ao
jornalismo e às novas tecnologias, e muito mais...
Ao começar minhas análises do campo fiquei a refletir sobre a sala de aula e os
meios de comunicação. O antigo modelo de escola, com uma hierarquia rígida e
toda pautada dentro de seqüência lógica, parece não caber mais nesse mundo, pois
166
o avanço da tecnologia e das comunicações está presente no cotidiano e com isso
novas formas de socialização estão sendo incorporadas à sociedade. A juventude
utiliza nos meios de comunicação muito do que aprendem. E apreendem dentro e
fora da escola sem que essa aprendizagem esteja contemplada pelos currículos
escolares.
Recorro a Tedesco (2002, p. 15 a 18) para afirmar que nos meios de comunicação
(entendo como mídia online) tudo está disponível o tempo todo. Por isso, a
impossibilidade de se desconsiderar, dentro ou fora da escola, o papel formador que
os meios de comunicação, em especial o jornalismo, exercem sobre as pessoas,
principalmente sobre a juventude.
Utilizando Goergen (2002) explico que o jornal exerce uma função mediadora51 entre
o leitor e a realidade. E que a realidade antes de ser apresentada para o leitor é
selecionada, lida, interpretada. Algo, de acordo com Goergen, é retirado de um
determinado contexto, moldado, transferido e ganha novos sentidos e relevâncias.
A mídia tornou-se um instrumento precioso que povoa nosso dia-a-dia, que nos educa a todos e que ninguém pode dispensar. Ao mesmo tempo é um chão minado. Devemos pisá-lo com cuidado e consciência pelos perigos que espreitam em seus subterrâneos. Para evitá-los há apenas um caminho: saber das minas, ter consciência dos mecanismos, saber interpretar os signos, os sentidos que estes mecanismos expressam e transmitem. (GOERGEN, 2002, p. 4)
Nos textos que li com Landowski, Greimas, Rebouças, Fiorin e outros mais que
praticam a semiótica aprendi um universo de significados e significantes. Pude
perceber como o jornalismo trabalha tão bem os efeitos de sentidos sobre nós
leitores e produtores de notícia. Foi graças a esses autores que percebi como a
semiótica faz parte da vida humana e está tão presente no processo de aquisição
dos saberes. E como diria Greimas: o homem lê o que sabe do mundo que o cerca.
51 Aqui entendo função mediadora, neste momento, como aquilo que se articula na passagem de um lugar para outro lugar e não apenas como aquilo que permite ir de um lugar ao outro. Os alunos fazem leituras a partir de suas vivências e contextos. Dessa forma, os elementos que compõem a realidade dos alunos interferem na ressignificação que faz das mensagens que recebem.
167
É por meio dos discursos que as pessoas se entendem e constroem a sociedade em
que vivem.
O jornalismo não poderia ficar alheio a esse processo. Foi justamente nos conceitos
semióticos que a notícia ganhou novos olhares. A notícia passou a ser mediadora da
revista e do jornal online como uma fonte de informação acadêmica instituída. A
busca pela notícia na mídia online possibilitou ao aluno um prisma comparativo de
informações diferentes. A seleção e a ressignificação dessas notícias tornou-se
decisiva para a construção de um saber crítico. Outro ponto a ser pensado foi a
questão da não-linearidade da notícia na mídia informativa on-line. Os alunos
deixaram o lugar comum. O tempo e o espaço se entrecruzavam.
Quando falo em ressignificação, penso logo em dar significados diferentes a algo.
Mas isso só é possível quando vivenciamos, sentimos. Ressignificar é construir
socialmente. Para os alunos da sexta série da Escola Monteiro Lobato as notícias
(textos e imagens) que estavam nos jornais e revistas digitais permitiram novos
sentidos as experiências vivenciadas nos projetos. Neste sentido novos discursos
foram elaborados e ressignificados a partir das imagens desenhadas.
Observei também que neste cenário é incontestável a presença das novas
tecnologias no cotidiano do ser humano. Evoco a Figueiredo e Giangrande (1999)
para admitir que as novas tecnologias propiciam um dinamismo sem precedentes na
formação das pessoas.
As mudanças no próprio modo de vida exigem uma atualização permanente, as pessoas necessitam ter flexibilidade, criatividade e predisposição para constantemente receber novas informações, além de estar preparada para separar o que de fato interessa e eliminar todo o volume de informação que acharem desnecessário absorver. (FIGUEIREDO E GIANGRANDE, 1999, p. 123).
Nesse prisma encontra-se a mídia online e as mudanças engendradas pelo seu uso.
A técnica é uma invenção humana, por isso não é neutra, e para ser incorporada na
vida do homem, demanda a internalização de novos gestos mentais e físicos. Neste
sentido, a mídia online é fonte de saber instituído no ambiente educacional. E, ainda,
é fonte de pluralidade de vozes. A mídia online permite que cada vez mais pessoas
possam adquirir informações e se transformarem em formadores de opinião. Jornais
168
e revistas online fazem circular uma quantidade enorme de informações, mostrando-
se como um “mercado” de opiniões e idéias que buscam o impacto através da
veiculação da notícia. É uma quantidade de produção e distribuição de informação
nunca vista na história do homem. O problema agora não é carência de informação,
mas sim o excesso.
Há, então, a necessidade premente da utilização das tecnologias de informação e
comunicação no ambiente escolar. Não como enfeite, mas como suporte pedagógico
que possa estimular o ensino e a aprendizagem tanto de aluno como professor. E o
educador entra nesse cenário como elemento de equilíbrio na sociedade
tecnológica. Afetividade, emoção, empatia, etc... são fundamentais no processo
educativo e, isso, as máquinas não podem passar ou dar aos alunos.
Por isso as notícias devem ser sempre analisadas e não simplesmente
reproduzidas. Aqui entra o professor como mediador deste debate, possibilitando ao
aluno um olhar crítico sobre o que é produzido pelas revistas e jornais online. A
notícia deve ser sempre avaliada para depois ser ressiginificada no ambiente
escolar.
Acredito que a mídia online (revista e jornais) oferece aos professores a
oportunidade de repensar as concepções teóricas e práticas da sala de aula. Deve-
se olhar a contribuição que o mundo virtual oferece para o processo educativo.
Existe a oportunidade de todos serem ativos nesse processo. A experiência com a
mídia online oportunizou aos alunos e professores a percepção de que os saberes
não estão prontos. Tudo é susceptível de transformação e não existe verdade
absoluta. O jornalismo é impregnado pelas concepções do emissor da informação. E
essa informação pode ser discutida, analisada e validada ou não em sala de aula
junto com os alunos. Hoje, percebo que somente o professor de informática cumpre
esse papel.
Mesmo assim continuo a me perguntar. Como fica a educação no mundo repleto de
novas tecnologias? Para responder a pergunta busco reflexões no educador Helio
169
Waldman52. Para ele a situação depende da capacidade do ser humano enfrentar os
desafios educacionais. Atualmente, o campo educacional é direcionado para a
sociedade industrial, pois essa sociedade enfatizou a disciplina. “A sociedade
industrial exige o horário de trabalho, um certo sincronismo entre as relações,
invariavelmente disciplinadas, com muitas tarefas repetitivas. O aluno é preparado
para o trabalho. É esquecido que o aluno é cidadão e necessita também de uma
educação voltada para o ser pensante e reflexivo”.53.
O professor coloca também que a escola deve evoluir e acompanhar esse processo
de transformação tecnológico, cultural e social. “Vivemos a sociedade do
conhecimento e da tecnologia. Por isso, o sistema educacional terá de se adaptar
para incutir nas novas gerações as qualidades necessárias para que essa sociedade
do conhecimento funcione”.
Posso ser categórico e declarar que a educação já não pode funcionar sem se
articular com dinâmicas que extrapolam a sala de aula. A sala de aula deve assumir
papel importante na chamada sociedade tecnológica. É por meio da educação que o
homem poderá ter e aumentar as condições de compreender e de se situar na
sociedade: homem cidadão. Cada geração construída pelos conhecimentos deverá
ser apta a estabelecer uma educação que conduza o ser humano a um futuro
melhor.
Fica o desafio para que as escolas deem oportunidades a todos os professores de
interagir com as tecnologias e se apropriar das técnicas para a construção dos
saberes. Diante deste horizonte é importante investir numa reorganização do
conhecimento capaz de prover essa reforma na educação. Uma reorganização mais
democrática dos saberes para poder reduzir a exclusão e o distanciamento
inadmissível entre professor/aluno/conhecimento no ambiente educacional.
52 O educadores Hélio Waldman é Ph. D. da Universidade de Stanford na Califórnia, EUA, na área de engenharia. Atualmente, é educador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor associado da Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC/Unicamp). O educador pesquisa ativamente os sistemas de Comunicações Digitais. 53 Waldman, Hélio. Disponível em http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2003/ju213 pg06.html. Acesso no dia 16/04/2008. O texto faz parte de uma entrevista concedida ao Jornal da Unicamp.
170
Na educação libertadora, autônoma e crítica o educador tem um importante papel
para a construção do conhecimento. Ele não pode ser um mero transmissor ou
repassador do saber. Nesse caso a missão do professor é possibilitar a produção do
conhecimento. Para Freire o professor deve levar os alunos a conhecer conteúdos,
mas não como verdade absoluta.
A compreensão do jornalismo como conhecimento permite pensar em formas de
inserir a produção jornalística no campo da produção educativa. Ao pensar em
jornalismo tenho que perceber a intencionalidade e a pluralidade que recorta a
realidade e a apresenta como aquela que deve ser tomada como verdadeira naquele
momento e contexto. Ao deixar de encarar o jornalismo como um instrumento de
trabalho e ao passar a compreendê-lo como forma de saber é possível pensar em
projetos de educomunicação que se aproximem dos jovens.
Pensar em educomunicação é refletir a importância dos meios de comunicação na
sala de aula. A chamada educomunicação é um método de ensino que, se bem
aplicado, oferece condições para que os educadores e alunos da escola possam
agir, fazer, refletir e pensar uma educação diferente e que busque a qualidade tão
desejada pela sociedade. É sabido que os meios de comunicação (aqui mídia
online) influenciam diariamente no cotidiano das pessoas. Atuam diretamente nas
opiniões, desejos e condutas. Interagem no imaginário do indivíduo e na estrutura
social a qual ele participa. Utilizar a mídia de forma racional na comunidade escolar,
nas relações educador/educando e nas ensino/aprendizagem é fundamental nesse
processo educativo que interage educação e a comunicação para a construção do
conhecimento e para a qualidade do ensino.
O projeto da Escola Monteiro Lobato proporcionou também uma cidadania, pois os
alunos no desenvolver das atividades aprenderam com os textos e fotografias das
matérias jornalísticas disponíveis nas revisitas e jornais online. Conseguiram
observar o universo maior que o seu cotidiano e o que estava acontecendo com
outras pessoas. Não ficaram “isolados” no mundo. O jornal conta o cotidiano das
pessoas e das cidades. Com isso, conseguem entender os direitos e deveres que
cada um tem para com a sobrevivência do planeta.
171
Mas como tudo pode ser manipulado e maquiado, com as observações in loco
observei algumas falhas no desenvolvimento dos projetos no laboratório de
informática. A primeira observação vai do número excessivo de alunos para uma
única professora. É difícil uma atenção plena. Com isso, muitos alunos acabavam
burlando as atividades e buscavam informações que não faziam parte da temática
do projeto ou da aula. O tempo, por parte desses alunos, era mal-aproveitado e o
projeto atrasava a finalização.
Outra observação e crítica a ser feita é em relação à montagem das duplas e trios.
No caso das duplas o trabalho fluía com certa normalidade. Os dois conseguiam
interagir. Já no trio, sempre um ficava disperso e acabava atrapalhando o grupo e
até outros grupos. A dica aqui é colocar outros educadores na sala ou possibilitar um
espaço diferente, maior, mais máquinas, ou menos alunos para o desenvolvimento
dos projetos.
Percebi também a questão do gênero no desenvolvimento dos projetos.
Normalmente a divisão em duplas e trios era por afinidade. Meninas ficavam juntas
com meninas e meninos com meninos. Assim os projetos acabavam privilegiando
certos temas. As meninas utilizam a delicadeza, a tristeza e a tranquilidade na
construção dos temas: joaninha, flor, floresta, árvores, etc...Já os meninos utilizaram
a morte, a violência, o medo, a força: leão, escorpião, por exemplo. Como sugestão,
deixo a dica de montar grupos com meninos e meninas trabalhando juntos para que
se possa analisar o que resultará dessa união. Quais serão as vozes dominantes e
como será a temática do discurso e do desenho. Vale como um experimento.
Para finalizar volto a afirmar que toda a pesquisa foi desenvolvida dentro de um
espaço/tempo. Todo o processo que conduziu à realização desta dissertação não
resultou em uma conclusão, mas em várias pistas para reflexões e tomada de novos
caminhos. Espero que a dissertação sirva de ponto de partida para outras reflexões
e que ela seja refletida com novos olhares para que o saber seja apropriado e
ressignificado novamente e oferecido à sociedade para a construção de novos
saberes. E que o ciclo se repita inúmeras vezes, pois o conhecimento não pode ser
estático, pronto e acabado. E, agora, posso me despedir dessa dissertação
afirmando que toda a experiência vivida VALEU A PENA...
172
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181
APÊNDICE
182
APÊNDICE A
Entrevista com Carmem Faria Santos, Consultora de i nformática da Escola Monteiro Lobato. O que é o software MicroMundos? Há quanto tempo a E scola Monteiro Lobato trabalha com esse tipo de projeto? “O MicroMundos é uma ferramenta educacional orientada a objeto fundamentada na linguagem LOGO. A linguagem LOGO foi criada por Seymour Papert, discípulo de Jean Piaget, por meio de suas pesquisas buscando utilizar o computador como recurso pedagógico de acordo com a concepção construtivista da educação. O MicroMundos apresenta recursos de ferramenta de desenho, editor, habilidade para importar gráficos e sons, permitindo a criação de projetos multimídia, jogos e simulações. Na Escola Monteiro Lobato o MicroMundos é utilizado há dez anos. Entretanto, há sete o projeto o MicroMundos é utilizado num modelo interdisciplinar. No começo, os projetos surgiram prontos e o aluno pouco construía. As disciplinas eram trabalhadas de forma aleatória e não havia interação entre professores e as disciplinas. Um professor não sabia ao certo o que o outro deva em sala de aula. As aulas de informática eram paralelas e “costuravam” uma rede para tentar fazer com que os alunos conseguissem ver as disciplinas acontecerem de forma simultânea e interdisciplinar. O professor tinha medo da sala de informática, pois havia o receio do aluno saber mais que o mestre. Era o medo da ignorância. Com a reformulação pedagógica, começamos a trabalhar todos de forma unida: professor de cada disciplina, assessores pedagógicos e coordenador de informática. Todos trabalhavam a sua disciplina dentro de um tema central e no laboratório de informática o aluno desenvolvia os projetos. Agora, o aluno constrói o seu próprio projeto dentro de uma orientação e de um tema. Os resultados, logo, surgiram e convites para apresentação em feiras estaduais e nacionais de educação surgiram. Os projeto incluem efetivamente todas as disciplinas da sexta série: português, matemática, artes, filosofia, ciências sociais e ciências naturais.” O Projeto oferece para o aluno a categoria de Inter disciplinaridade e autonomia?
O projeto possibilita ao aluno trabalhar a autonomia dentro do seu próprio tempo. Cada um constrói no seu próprio passo. Cada aluno tem seu limite e liberdade para montar seu projeto (história). Ele tem a liberdade de transformar seu pensamento em ação, colocando o que entendeu do conteúdo na tela do computador. Diante das ações do aluno, na condição de orientadora, fazia algumas interferências para não deixar o aluno perder o caminho e fugir do contexto. Mas, é bom lembrar, que o aluno é que constrói. Na Interdisciplinaridade aconteceu uma total cumplicidade entre os professores. Um ato sem preconceito, na qual todos entendiam a importância de cada disciplina na construção do objeto. Um professor dialogava com o outro sobre os temas expostos e sobre os rumos do projeto. No final o aluno, entende a importância de cada disciplina na construção do conhecimento e da
183
própria vida. Para todos é oferecido possibilidades de buscar o saber diante das observações e construções dialógicas. Qual o papel do computador nesse processo interdisc iplinar?
Nesse processo interdisciplinar o computador assumiu um papel importante. Ele possibilita o fazer e o refazer das situações (cenários) proposto pelo aluno. No papel, talvez, o aluno poderia deixar de fazer por pura preguiça ou por ser mais trabalhoso. O computador facilitou para o professor, pois pode acompanhar mais próximo todas as etapas da construção do objeto e, também, como foi o desenvolvimento do aluno passo a passo no crescimento dentro do projeto. O computador possibilita que o aluno veja na tela (virtual) tudo que ele aprendeu na sala de aula e depois construiu no computador. O computador serve como um incentivador para o aprendizado. O computador, essa nova tecnologia, por si só traz resultados ruins e fantásticos, dependendo da forma que ele é utilizado em sala de aula. O computador pode ser uma ótima ferramenta pedagógica, mas também pode ser uma péssima ferramenta. Se ele estimular o aluno a desempenhar atividades libertadoras, cidadãs, criticas e desenvolver o saber e o conhecimento, tudo bem. Agora, se o computador for usado para simplesmente reproduzir de uma forma digital tudo que o aluno já sabe, não adianta de nada. Que avaliação pode ser feita das mídias online (rev istas e jornais) no processo de pesquisa para o desenvolvimento dos projetos fei tos pelos alunos? A mídia on-line teve um papel importante. Com as limitações das bibliotecas em terem livros, a mídia oferece uma variedades de assuntos a ser explorado. As mídias on-line possibilitam uma busca infinita devido à riqueza da rede e a rapidez. O bom é que no MicroMundos não existe o copiar e colar. O aluno é obrigado a ler, entender e depois utilizar o necessário para o projeto que está desenvolvendo. Você acredita que as mídias online e impressas desp ertam cidadania nos alunos? E o projeto MicroMundos pode despertar tamb ém? A mídia de forma geral colabora para a formação e para o despertar da cidadania no aluno. A mídia coloca o real para o público. É o rio que está morrendo, a floresta desmatada, o lixo jogado nas ruas, os problemas de saúde, o meio ambiente de forma geral que é agredido. Dessa forma, quem o jornal entende os motivos dos problemas, as prováveis soluções e cria uma consciência crítica sobre os assuntos. A mídia serve sempre como uma mediadora para se discutir os problemas do planeta Terra de uma forma correta. Desperta a importância para a preservação e conservação do meio ambiente. Já o MicroMundos desperta também a cidadania. O projeto desenvolvido no MicroMundos trata de temas de preservação do Planeta Terra. Ele possibilita que os alunos conheçam o nosso meio ambiente e respeite cada ser que está inserido nele. Os alunos passam a se respeitar mutuamente, há um respeito à ideia do colega. De uma maneira geral, o aluno prefere mais o visual (foto e desenhos) ou textos?
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O aluno prefere o desenho. A linguagem é muito mais fácil no desenho. A mensagem é logo absorvida. O aluno grava mais a imagem do que o texto. Vendo a imagem o aluno, logo, cria a ideia da situação. O texto deixa o aluno preso ao que está escrito. O ditado já diz “que uma imagem é melhor do que mil palavras”. Outro problema é que o aluno, principalmente, mas idades inferiores não têm desenvolvido o hábito da leitura ou tem até mesmo preguiça de ler. Outro problema é que estamos acostumados com a informação instantânea e rápida. A imagem possibilita essa informação rápida. Olhou, assimilou e, logo, passa para a outra. Por isso, primeiro o aluno vê a imagem, se gostou parte para ler o texto que complementa as informações na imagem. Nos jornais diários também funciona do mesmo jeito. A boa foto sempre lugar de destaque e depois vem o texto. Quais as diferenças que você observa nos alunos qua ndo estão nas aulas tradicionais (giz e quadro negro) para as aulas que necessita do uso do computador? No computador, o aluno interage o tempo todo e, por estar fazendo as atividades, acaba assimilando e entendendo melhor o assunto. Na sala de aula tradicional o aluno tem uma tendência a ficar mais passivo, de receber as informações prontas. A aula parece ter um tempo estipulado. No computador depende de cada aluno na sua própria construção. Tudo pode ser rápido ou devagar, depende de cada aluno. Outra observação é que na aula tradicional é difícil fazer todos os alunos participarem. Já com o uso do computador, devido à facilidade, todos devem construir algo e participem da aula.
A mídia online digital na sua visão pode ser um ins trumento pedagógico para a aprendizagem do aluno? A mídia informativa pode ser usada, sim, como um instrumento de aprendizagem. Mas o professor deve ter consciência do seu uso e saber que um único material não é suficiente para colocar o aluno no caminho do saber. Deve ser oferecido para esse aluno outro material. Sejam outros jornais online, livros, revistas, etc... O professor deve oferecer várias opiniões, com várias informações para o aluno. Assim, o aluno pode construir a própria opinião e o próprio conhecimento.
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APÊNDICE B
Entrevista com Graciela Alessandra Schuwartz, profe ssora e coordenadora de informática da Escola Monteiro Lobato
Qual a intenção educativa no trabalho com esses pro jetos? A informática em nossa escola tem em primeiro lugar o objetivo de integrar os conteúdos de sala de aula possibilitando a interdisciplinaridade e ampliando a possibilidade de trabalho em dimensões diferentes de aprendizagem. Em segundo lugar de proporcionar aos alunos a apropriação da linguagem de programação Logo para que a construção do seu conhecimento aconteça de maneira ativa, personalizada e significativa. Como você avalia os resultados desses projetos na a prendizagem dos alunos e nas relações entre eles e os professores? A avaliação que faço dos projetos é sempre positiva. Eles representam uma extensão da sala de aula e, neste sentido, funcionam como complemento ao conteúdo desenvolvido pelos professores. Já foi feita uma avaliação comparativa entre os res ultados alcançados e os processos de aprendizagem de cada turma participant e do projeto? Sim, como as turmas são formadas por alunos diferentes, tem professores diferentes, é uma conseqüência obtermos resultados também diferentes. Como é definido os temas dos projetos? Existem duas formas. a primeira surge da reflexão entre os professores, coordenadores e consultores que pensam temas a partir dos conteúdos propostos em cada disciplina a cada trimestre; a segunda vem da demanda do próprio grupo de alunos. De maneira geral como os alunos recebem as proposta s (temas) dos projetos? Após a discussão com a equipe pedagógica o professor leva para a sala de aula as propostas e junto com o grupo define as ações a serem desenvolvidas. Algumas vezes os temas são bem recebidos e em outras não. Nessas últimas situações são abertos espaços de discussão para o surgimento de novas propostas. Qual a sua participação, enquanto professora respon sável da sala de informática, no desenvolvimento dos projetos? Minha participação envolve desde o planejamento até a escolha do software para melhor desenvolver os projetos. Eu busco integrar o trabalho realizado em sala de aula com o uso do computador como uma ferramenta pedagógica a mais,
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procurando auxiliar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor das crianças como um todo. Que avaliação pode ser feita das mídias on-line no processo de pesquisa para o desenvolvimento dos projetos feitos pelos alunos? A grande preocupação que os educadores precisam ter é com as escolhas do que será pesquisado e quais os sites visitados, mas em minha opinião tudo pode ser aproveitado desde que o professor saiba conduzir o que for levado para sala de aula. De uma maneira geral, já foi observada e avaliada a preferência dos alunos em seus projetos pelas imagens (fotografias e desenhos ) ou por textos verbais? Com certeza a imagem é mais “querida” pelos alunos, apesar de muitos ainda resistirem a desenhar da sua maneira, querendo buscar imagens prontas, mas com incentivo e estímulo eles percebem como é bom fazer a sua produção. O texto verbal também não pode ser deixado de lado e sempre que possível também é usado no laboratório de informática. Em sua atuação na escola docência você já observou se há alguma diferença tanto no comportamento, como no envolvimento e part icipação dos alunos nos diferentes espaços escolares e nos suportes tai s como os da sala de aula tradicional (giz /caneta e quadro negro/prancha) e os de laboratório de informática que necessitam do uso do computador? Os alunos são nativos digitais e sua preferência está nos meios tecnológicos. O computador faz parte da vida deles e eles não se vêem mais sem sua utilização, tanto que, por exemplo, uma aula de informática “não pode” ser cancelada ela precisa ser reposta. Em sua opinião, o desenvolvimento do projeto oferec e para o aluno a possibilidade de uma aprendizagem que considera a I nterdisciplinaridade e a sua autonomia? Na escola é o que temos como meta. A autonomia dos alunos é trabalhada em todos os momentos, em todos os espaços e a interdisciplinaridade faz com que os alunos tenham uma visão mais ampla do mundo e de como usar os conhecimentos adquiridos. Qual o papel do computador no processo de aprendiza gem interdisciplinar? O computador proporciona uma troca de informações muito rápida e a possibilidade de trabalhar com várias disciplinas ao mesmo tempo. Muitas vezes o aluno pensa que está fazendo um projeto na área de Língua Portuguesa e não percebe que ao programar (linguagem LOGO) usa a matemática, ao desenhar usa as noções de perspectiva (artes) e assim por diante.
187
APÊNDICE C
Grupo Focal com os alunos da sexta série
OBS: todos os nomes são fictícios, pois não foi autorizado pela direção da Escola Monteiro Lobato a utilização dos nomes verdadeiros. A turma pesquisada tem 22 alunos. O grupo focal foi realizado com oito alunos que aceitaram voluntariamente fazer a pesquisa. Contudo, somente resposta de cinco foram utilizadas. Três alunos foram excluídos na transcrição, pois repetiam respostas dos colegas anteriores ou ficaram tímidos. O número de aluno corresponde há 36,36% da turma. O que você gosta de acessar na Internet
Márcio: Eu gosto de ver a Revista Veja, jogos e Chat, charge, traduzir músicas de inglês para português. Na Revista Veja busca assuntos variados, mas não sou de ler muito. Gosto da charge, pois os desenhos são engraçados. Thiago: Observar fotos sobre mulheres. Gosto muito de ler informações sobre carros e de bater papo no Chat. Não gosto de ler jornal e nem revista. Os textos são muito complicados. Lílian: Entro na Internet para conversar no chat, fazer pesquisa para a escola. Utilizo os sites do Google e do Cadê nas pesquisas. Ana: A primeira coisa que faço na Internet é olhar o meu e-mail. Também gosto de entrar no site do orkut para colocar minhas fotos e dos meus amigos. Também uso para buscar letras de música para ficar lendo e ouvindo. Gosto de ler os resumos da novela nos jornais na Internet. Leio outros jornais e revistas na Internet quando a professora manda. Cláudio: Gosto de ler resumos dos filmes e ter informações sobre o futebol, Flamengo. Costumo ler também as histórias, quadrinhos. Leio revistas sobre esporte e sites de esporte.
Você prefere ler textos ou ver fotos na Internet? P or qual motivo?
Márcio: Eu prefiro ver fotos, pois é mais fácil. Ler cansa muito. Tenho preguiça de ler. Thiago:
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A foto é mais rápida de ser entendida. A imagem chama mais atenção na hora da busca do assunto. Lilia: O texto ocupa muito tempo. Somente leio textos pequenos. Os textos grandes demoram muito e, às vezes, não entendo nada. Mas quando a professora pede para ler, eu leio tudo. Ana: texto em pesquisa para conhecer mais sobre os personagens da história que estou montando, sobre o lugar. Olho primeiro a foto. Se interessar, vou para o texto. Não tenho muito problema para ler, mas prefiro textos menores. Assim posso ler mais e ter mais informações. Cláudio: Leio as mensagem no e-mail. Prefiro ver imagem para não perder tempo. Quando não entendo a foto, eu leio o texto. Quando o assunto me interessa leio o texto todinho. Mas quando não me interessa, leio somente o começo e depois vou para o final. A foto é bem melhor. Quando gosto da foto, eu guardo no computador.
Você sabe fazer pesquisa? Qual Site de busca você u sa?
Márcio: Sim. Coloco a palavra e vou navegando nos sites que apareceram. Uso o Google e Cadê para pesquisa. Thiago: Eu gosto de usar o Alta Vista e o Cadê. Lilia: Uso somente o site Google e o Cadê. Ele é completo e tem tudo que preciso para fazer minha pesquisa. Os sites em inglês, eu corro deles, pois não sei falar o inglês. Eu sei fazer a pesquisa e sempre encontro o que procuro. Ana: Eu gosto de fazer pesquisa no Cadê. Cláudio: Entro em vários sites para fazer pesquisa. O Google e o Cadê são os meus favoritos. Mas quando já sei o assunto vou direto a sites conhecidos, sem passar pelo Google ou Cadê.
Você sabe o que mídia online (revista e jornal)
Márcio: Nunca li muito. Já vi com meu pai, mas não sei ao certo o que é. Meu pai gosta de ler. Revista on-line, eu vejo as que têm muitas fotos: Playboy, Surfe, Desenhos.
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Thiago: Eu leio jornal na Internet quando preciso da informação. As revistas, eu gosto de ler a Quatro Rodas, que é de carro. Não sou muito de ler. Lilia: A mídia on-line é aquela que está no computador e na Internet. Leio a Veja quando me mandam ler e falam que é importante. Ana: Eu conheço o que é jornal on-line. Eu gosto de ler as revistas Contigo e Veja. Leio também jornais com minha mãe na Internet. Ela é professora e me coloca para ler. Por isso eu sei o que é jornal e revista on-line. Cláudio: Eu gosto muito dos jornais que falam de esporte. Na Internet tem um monte. Eu olho todos. Gosto de revistas de esporte e carros.
A pesquisa na Internet contribui de que maneira par a construir o seu projeto no Micromundo? .
Márcio: Trouxe várias informações que não sabia. Meu personagem é o leão. Descobri que o leão bebe água de duas em duas semanas, a importância da água na vida do leão, conheci onde ele mora. Eu pesquisei na revista Saúde Animal na Internet. Thiago: Meu personagem é um escorpião. Observei o lugar que ele vive e gosta de ficar, quanto tempo vive e de quanto em quanto tempo bebe água para viver. Lilia: Meu personagem fica no nordeste do Brasil. Descobri por qual motivo há seca no nordeste, como as pessoas vivem e qual a importância da água na cidade de Juazeiro do Norte (Ceará). Ana: Meu personagem é uma joaninha. Vi vários tipos diferentes de joaninha, onde mora, como é a vida, de que se alimenta, qual a importância da água na vida dela. Eu descobri muitas informações que não sabia. Foi muito legal fazer a pesquisa e descobrir como é o meu personagem. Cláudio: Meu personagem era uma pessoa. Eu tive que pesquisar a importância da água na vida do homem. As doenças causadas pela água suja e pela falta de água. Descobri como é importante deixar a água limpa e também não jogar fora água.
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APÊNDICE D
Entrevista com o jornalista e especialista em jorna lismo online, Renato Costa Neto. Você acredita que as novas tecnologias de comunicaç ão podem contribuir para melhorias no processo de aprendizagem do aluno ? Com certeza. Porque, é lógico que agente vê muita propagando assim: escola lá no cabrobró ganhou computador. Isso é o primeiro passo. O segundo passo é saber pra quê que a molecada, alunos de faculdade vai usar. Vai usar pra fazer fotolog, pra ver mulher pelada? Ou pra trabalhar? Tem uma experiência maravilhosa em São Paulo São centros de tecnologia em SP que pegavam jovens que estavam indo bem nas escolas públicas e ensinavam essa molecada a programação em HTML e etc. E eles estavam fazendo os trabalhos na prefeitura. Ex. A prefeitura precisava de um Site da maratona de São Paulo. A arte, a programação, o banco de dados, era tudo feito por alunos deles. Ou seja, para se usar a Internet e as novas tecnologias para o aprendizado, depende do ensinamento. Não adianta agente comprar 300 computadores em escolas da grande vitória. Daí o professor não sabe usar, o aluno fica vendo Playboy o dia inteiro. Daí o aluno continua sendo excluído da era digital. Você acredita que o jornalismo online, de uma forma geral, consegue formar mais cidadãos, as pessoas mais críticas? Sim. Porque quanto mais o Gazeta On Line evoluir, outros site de jornalismo aqui do Estado também, isso vai ser bom porque vai tirar aquele estigma de que o que está na Internet é meio falso. A Internet não tem a mesma credibilidade que o jornal e o rádio têm. As pessoas ainda vêem a Internet com um meio não confiável. Os outros meios têm uma maior credibilidade. A Internet ainda está começando a conquistar isso. As pessoas estão começando a recorrer ao Gazeta OnLine, ao Século Diário, ao site da prefeitura para se informarem. Isso ta quebrando aquela ideia de que Internet é aquilo que qualquer um pode fazer uma página. A evolução dos sites tem ajudado a criar essa credibilidade. A Internet tem instrumentos dentro do próprio site. Como você avaliaria a importância da cada um? A Internet é um grande almanaque de informações. A imagem (fotografia) tem importância na Internet, pois chama atenção e fica gravada e arquivada. Pode ser vista. A imagem chama logo a atenção. O texto escrito não pode ser longo, pois ninguém tem tempo para ficar lendo muito. O Rádio propicia uma informação rápida e “mastigada” para o ouvinte que está na Internet. Ele pode continuar a fazer as atividades e vai ouvindo as notícias. A Imagem de televisão ainda está andando na Internet. Por isso ainda não há tantos investimentos. O Usuário da Internet que algo barato e que não dê trabalho para usar.
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A mídia on line contribui para a construção do conh ecimento e da informação dos alunos? Contribui para o conhecimento quando há um foco numa pesquisa. A informação contribui para a construção do conhecimento de qualquer pessoa. No jornalismo ou na Internet não poderia ser diferente. A leitura deixa as pessoas mais informadas e, de uma certa forma, cidadã. Basta saber utilizar a informação.
Com seu conhecimento profissional na área do jornal ismo e de vida mesmo, numa escala de 1 a 5, que nota você daria para a co ntribuição que as informações jornalísticas na Internet, podem propor cionar aos seus leitores (alunos do ensino fundamental). 1 – nenhuma contribuição; 2 – pequena contribuição; 3 – média contribuição; 4 - boa contribuição; 5 - excelente contribuição. Tornar o aluno crítico – nota 4 Proporcionar um melhor vocabulário – nota 3 Melhor preparar para a expressão escrita – nota 4 Melhor preparar para a expressão oral – nota 3 Tornar o aluno atuante na comunidade – nota 3 Tornar o aluno mais independente, sujeito, cidadão – nota 4 Tornar o aluno mais autônomo – nota 4
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APÊNDICE E
Questionário Pesquisa realizada por Valmir Matiazzi para o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), como requisito obrigatório e fundamental para a sua dissertação de Mestrado, que está sob a orientação da Profª. Dra. Moema Martins Rebouças.
Qual o tema que você está desenvolvendo em seu proj eto e por que o escolheu? Como você avalia a sua participação no desenvolvime nto do projeto com o software MicroMundos? ( ) participo mas não gosto, pois é uma imposição da escola. ( ) participo e gosto, pois me interesso pela pesquisa na internet. ( ) não participo satisfatoriamente, pois não gosto de pesquisar usando o computador. ( ) outra opção____________________________________________________ Como você avalia a sua aprendizagem em um suporte c omo o computador?
( ) prefiro a utilização do livro. ( ) acho que ela deve ser complementada por outros suportes como o dos livros e apostilas. ( ) acho que com o computador podemos ter acesso a muitos conhecimentos.
Você tem computador em casa? Quantos? ( ) 1 ( )2 ( ) mais de três
Quantos minutos ou horas você utiliza o computador por dia? ( ) 1hora ( )2 hs. ( )3 hs ( )mais de 4hs.
Você tem acesso a Internet? ( ) sim ( ) não
De que local você costuma acessar a Internet? ( ) de casa ( ) lan house ( ) escola ( ) casa de amigo ( ) outros. Quais?__________________________________
Quantas vezes por semana você entra na Internet? Quanto tempo você costuma ficar on line quando entr a na Internet por dia? ( )menos de 1hora. ( ) 1hora ( )2 hs. ( )3 hs ( )mais de 4hs
Em quais sites costuma entrar diariamente e por quê ? Você já leu algum jornal escritos no papel, quais e com qual periodicidade?
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( )uma vez ( )nunca ( )uma vez por semana. ( )duas vezes por semana ( )mais de três vezes por semana. Você já leu alguma revista escrita no papel, quais e com qual periodicidade? ( )uma vez ( )nunca ( )uma vez por mês. ( )duas vezes por mês ( )mais de três vezes por mês.
Você já leu algum jornal ou revista na Internet, qu ais?
Na sua opinião, qual a principal diferença entre a Internet e os outros meios de comunicação como: a televisão, o rádio, o jornal , a revista e o livro? Qual desses meios de comunicação você gosta mais? ( ) Internet ( ) Televisão ( ) Rádio ( ) Jornal ( ) Revista ( ) Livro
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APÊNDICE F
Como você avalia a sua participação no desenvolvime nto do projeto com o
software MicroMundos? Como você avalia a sua participação no desenvolvime nto do
projeto com o software Micromundos?
0%
95%
5%0%
participo mas não gosto, pois éuma imposição da escola.
participo e gosto, pois meinteresso pela pesquisa nainternet.
não participo satisfatoriamente,pois não gosto de pesquisarusando o computador.
outra opção
Como você avalia a sua aprendizagem em um suporte c omo o computador?
Como você avalia a sua aprendizagem em um suporte c omo o computador?
5%
76%
19%
prefiro a utilização do livro.
acho que ela deve sercomplementada por outrossuportes como o dos livros eapostilas.
acho que com o computadorpodemos ter acesso a muitosconhecimentos.
Você tem computador em casa? Você tem computador em casa? Quantos?
29%
33%
38%
1
2
mais de três
Quantos minutos ou horas você utiliza o computador por dia
Quantos minutos ou horas você utiliza o computador por dia?
47%
10%
19%
24%
1 hora
2 hs.
3 hs.
mais de 4 hs.
195
Você tem acesso a Internet?
Você tem acesso a Internet?
100%
0%
Sim
Não
De que local você costuma acessar a Internet?
De que local você costuma acessar a Internet?
100%
0%
81%
19%
0%
de casa lan house escola casa de amigo outros. Quais?
Quantas vezes por semana você entra na Internet?
Quantas vezes por semana você entra na Internet?
14%
28%
19%
10%
29%
3 dias
4 dias
5 dias
6 dias
7 dias
Quanto tempo você na Internet por dia?
Quanto tempo você costuma ficar on line quando entr a na Internet por dia?
0%24%
43%
19%
14%
menos de 1 hora
1 hora
2 hs.
3 hs.
mais de 4 hs.
196
Você já leu algum jornal escrito no papel? Qual per iodicidade?
Você já leu alguma revista escrita no papel? Qual p eriodicidade?
Você já leu alguma revista escrita no papel, quais e com qual periodicidade?
0%29%
14%
57%
nunca
uma vez por semana
duas vezes por semana
mais de três vezes por semana
Você já leu algum jornal ou revista na Internet?
Você já leu algum jornal ou revista na Internet, qu ais?
86%
14%
sim
não
Qual desses meios de comunicação você gosta mais?
Qual desses meios de comunicação você gosta mais?
02468
101214161820
Internet Televisão Rádio Jornal Revista Livro
1ª opção
2ª opção
total
Você já leu algum jornal escritos no papel, quais e com qual periodicidade?
0%
48%
19%
33%nunca
uma vez por semana
duas vezes por semana
mais de três vezes por semana