Post on 17-Oct-2015
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE EDUCAO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM EDUCAO
DISSERTAO DE MESTRADO
A FORMAO DE PROFESSORES E OS DESAFIOS PARA
A EDUCAO INCLUSIVA: AS EXPERINCIAS DA
ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO
Por
Allan Rocha Damasceno
Sob a orientao da
Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa
ABRIL
2006
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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ALLAN ROCHA DAMASCENO
A formao de professores e os desafios para a educao
inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino
Prto
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Educao da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Educao.
ORIENTADORA: Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa
Niteri
2006
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Ficha catalogrfica
Damasceno, Allan Rocha A formao de professores e os desafios para a
educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal
Lenidas Sobrino Prto / Allan Rocha Damasceno.
Niteri: 10/04/2006.
194 p., 3 cm.
Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade
Federal Fluminense, 2006.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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ALLAN ROCHA DAMASCENO
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Aprovada em abril de 2006
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Educao da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Educao.
BANCA EXAMINADORA
Niteri
2006
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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DEDICATRIA
minha famlia: Gilson, Rose e Amanda, meu eterno ninho;
Tutuca, meu especial tio;Ruth, minha me e av.
Janana, minha incentivadora, com quem tenho uma dvida impagvel.
A Yago, um educando mais que especial em minha vida!
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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AGRADECIMENTOS
Gostaria inicialmente de agradecer a Deus por permitir que esteja aprendendo e
crescendo um pouco mais a cada dia.
A meus pais que sempre me incentivaram e minha irm querida meus sinceros
agradecimentos pela presena preciosa.
A minha Janana pela pacincia, perseverana e amor devotado durante toda a
realizao deste trabalho. querida Ana Clara pelas horas que no pude me dedicar ao
brincar to precioso para ela, minhas desculpas e a certeza de que voc um dia entender
que papai alm de ter um grande desafio a ser vencido, no podia se furtar em promover
esse debate to necessrio e importante no cenrio educacional brasileiro.
minha orientadora, interlocutora e amiga, Prof. Dr. Valdelcia Alves da Costa,
no tenho palavras para expressar tamanha gratido e, com certeza, se me atrevesse a
escolher algumas, nesta pequena pgina no haveria espao suficiente. Obrigado por tudo
Valdelcia, voc um cone na educao brasileira.
Aos professores que participaram deste estudo, coordenao e direo da Escola
Municipal Lenidas Sobrino Prto, que abriram as suas portas, tornando possvel
investigar como vem se dando o processo inclusivo naquele espao educacional.
Enfim, agradeo a todos os amigos de c e de l, que contriburam para a realizao
de minha dissertao de mestrado.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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Todo o acto educativo um acto feito de desafio, de imprevisvel, de novo. no confronto com as
exigncias que o quotidiano nos traz, que nos vamos fazendo mais e melhores educadores.
(Peas, 2003, p. 141)
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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SUMRIO
APRESENTAO..................................................................................................................
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CAPTULO I - FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA: OS DESAFIOS DA FORMAO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA ................................
20
CAPTULO II - A FORMAO DE PROFESSORES FRENTE DEMANDA DAS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS ESTUDANTES COM DEFICINCIA ......................
33
1. A DEMOCRATIZAO DA ESCOLA NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA .....
33
2. A FORMAO DE PROFESSORES PARA A AUTONOMIA E A EMANCIPAO PELA DEMOCRATIZAO DA ESCOLA .................................
44
CAPTULO III - A FORMAO DE PROFESSORES PARA A INCLUSO ESCOLAR DE ESTUDANTES COM DEFICINCIA ............................................................................
61
1. EDUCACAO INCLUSIVA: SEUS FUNDAMENTOS HISTRICOS, FILOSFICOS E LEGAIS .............................................................................................
64
2. FORMAO DE PROFESSORES E ESCOLA INCLUSIVA: A QUESTO DO PRECONCEITO ..............................................................................................................
93
CAPTULO IV - DEFICINCIA VISUAL, AUDITIVA E MENTAL: SEUS ASPECTOS EDUCACIONAIS ..................................................................................................................
104
CAPTULO V - EDUCAO INCLUSIVA E AS EXPERINCIAS DOS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO ...............................................................................................................................
147
1. A FORMAO DOS PROFESSORES DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO .......................................................................
149
a. A FORMAO DOS PROFESSORES: SUAS DIMENSES ACADMICAS E
PROFISSIONAIS .....................................................................................................
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
2. AS CONCEPES SOBRE A ESCOLA INCLUSIVA: O QUE PENSAM AS PROFESSORAS DA ESCOLA MUNICIPAL LENIDAS SOBRINO PRTO/RIO DE JANEIRO ...........................................................................................
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CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................
182
REFERERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..............................................................................
190
ANEXOS ................................................................................................................................
196
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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TABELA DE ILUSTRAES
Figura Ttulo Autor URL Pgina
1 Viva a diferena No divulgado www.veradias.pro.br 1
2 Dane of youth Pablo Picasso www.allposters.com 7
3 Education is the key to success
Joysmith Brenda
www.jbgallery.com 20
4 Projeto de valorizao da cultura
afro-brasileira na escola pblica
No divulgado http://200.198.51.40/sistema/projetos/transfer/diver
sidade
48
5 Deficiente: para o povo essa histria
uma lenda
No divulgado http://portal.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhosecoordenadorias/deficien
tes
91
6 Claude dessinant, Francoise et Paloma
Pablo Picasso www.arteemcasa.com 134
7 Abaporu Tarcila do Amaral
www.tarciladoamaral.com.br
168
8 Reading, 1875 - 1876 Pierre A. Renoir
www.allposters.com 177
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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RESUMO
Em minha dissertao realizei um estudo no qual investiguei a formao dos professores com vistas organizao da escola inclusiva. Busquei investigar questes: Como democratizar a escola, se seus professores permanecem atrelados s amarras conservadoras impostas pelo pensamento dominante? Como pensar em escolas inclusivas organizadas por professores que no se percebem capazes de elaborar sua prtica pedaggica com base em aes reflexivas? A formao de professores, tanto inicial, quanto continuada tem contribudo para/na organizao de escolas inclusivas? Este estudo se baseou, sobretudo, no pensamento de Theodor Adorno, representante da teoria crtica da escola de Frankfurt e de alguns de seus comentadores, onde procurei discutir a formao docente possvel, no atual estgio civilizatrio, que no d conta do atendimento da diversidade dos estudantes com deficincia, pois sua dimenso unicamente adaptativa no vem sendo ainda capaz de possibilitar aos professores a reflexo necessria para o desenvolvimento de sua autonomia, com vistas sua emancipao. Portanto, embora a formao docente possvel no contemple as diferenas dos estudantes, pensando-as, sobretudo, como inerentes condio humana, logo se faz necessrio atualmente pensar para alm dessa, na busca da superao dos limites impostos pelo desconhecimento acerca das necessidades educacionais especiais dos estudantes com deficincia. Tendo, ento, como eixo norteador a formao crtica dos professores para a autonomia docente, com vistas organizao de escolas inclusivas analisei algumas dimenses, como a educao e emancipao; educao e poltica; educao e sensibilizao. A incluso escolar deve ocorrer por intermdio da mudana de concepo sobre educao, deficincia, escola, dentre outras categorias, e no apenas com base nos dispositivos legais ou por algum tipo de ao autoritria. O movimento inclusivo escolar de estudantes com deficincia , sobretudo, sensibilizar os professores pela reflexo crtica acerca de sua formao e de sua prtica pedaggica. Analisei tambm a educao inclusiva e suas possibilidades no desenvolvimento de sentimentos de solidariedade e respeito entre professores e estudantes, deficientes e no deficientes, para o acesso a uma educao emancipadora. Foram analisadas as questes legais que amparam a incluso escolar de estudantes com deficincia na rede regular de ensino; as possibilidades na organizao de escolas inclusivas; a incluso escolar de estudantes com deficincia como um processo em andamento; a relao entre a incluso escolar e o preconceito, com base no pensamento de autores como Crochk e Costa, entre outros, que possibilitaram aprofundar minhas reflexes crticas acerca da gnese do preconceito na sociedade e sua manifestao pelos indivduos. Ainda analisei os aspectos educacionais que envolvem a deficincia visual, auditiva e mental, presentes na escola estudada. Os resultados deste estudo, que foi realizado em uma Escola de Ensino Fundamental da Rede Pblica do Municpio do Rio de Janeiro, teve como sujeitos a diretora adjunta e quatro professoras da instituio. Por intermdio de entrevistas semi-estruturas com os profissionais da escola, foi possvel perceber que o caminho a ser percorrido para a organizao da escola inclusiva muito extenso, contudo necessrio. Os resultados obtidos no locus de meu estudo permitiram concluir que a formao dos professores tem contribudo pouco, de sobremaneira, no combate e na superao da excluso dos estudantes deficientes, sobretudo pelo escasseamento do debate em torno dessa questo. Mesmo sentindo-se um tanto solitrios no movimento de incluso escolar, os professores da escola utilizam a experimentao como um dos recursos no fazer pedaggico frente s demandas dos estudantes deficientes. Dentre as consideraes finais, penso que a principal contribuio de meu estudo a possibilidade da crtica sobre a formao profissional, inicial e continuada do professor, que tem sido predominantemente voltada para a reproduo de fazeres pedaggicos, o que vem obstando ou retardando o processo de incluso escolar de estudantes deficientes na escola pblica inclusiva. Palavras-chave: formao de professores; educao e escola inclusiva; necessidades educacionais especiais.
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A f ormao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
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ABSTRACT
In my composition I accomplished a research witch I investigated a teacher formation craving the inclusive school organization. I searched for reasons: How could be possible to democratize the school, if its teachers maintain themselves linked by conservatory hawsers imposed by the ruling thoughts? How can we think about inclusive schools organized by teachers that do not seem to be able to create their own pedagogical practice based on reflective actions? Had the teachers formation (as initial as continuous) contributed for/in the inclusive schools organization? This research was based on, above all, the Theodor Adorno thoughts, an author of Frankfurt School, where I tried discussed the possible teaching staff formation, in current civilizatory stage that is not able to attend the disable students diversity, because its uniquely adaptable dimension has not being capable to make possible to the teachers the necessity reflection development of their autonomy, craving for a emancipation. Consequently the possible teaching staff formation does not perceive the differences of the students, thinking about them, above all, how inherent to the human condition, so making necessary nowadays thinking beyond this, in the quest for limit-breaks impost ignorance near to the specials educational need of the disable students. Having, then, like guide axle the criticism formation of the teachers for the teaching staff autonomy, craving the inclusive schools organization I analyzed some dimensions with the education and emancipation; education and politics; education and sensibility. The school inclusion should happen by the intermediate of the conception change about education, disability and school, between others categories, and not just based on legal apparatus or by some kind of authority actions. Inclusive school movement of disable students is, above all, to sensibilize the teachers by the criticism reflection around their own formation and pedagogical practice. I analyzed too the inclusive education and their possibilities in the development of the solidarity feelings and respect between the teachers and students, disable and not disable, to the access of a emancipative education. The legal reasons that take care of school inclusion of disable students in the regular teaching web were analyzed; the possibilities in the inclusive schools organization; the school inclusion of disable students like a current process; the relation between school inclusion and the prejudice, based on the thoughts of the authors like Crochk and Costa, and others, that make possible to deepen my criticism reflections around the genesis of the prejudice in the society and its manifestation by each human being. I also analyzed the educational aspects that involve the visual, mental and auditory disabilities in view in the studied schools. The results of this study, that was accomplished in a Elementary school of the public web Municipality of Rio de Janeiro, had like subject the adjunct directorship and four teachers of the institution. By the intermediate of interview half structure with the school professionals, it was possible to perceive that the way we must travel over for the inclusive school organization is too long, however necessary. The results got in the locus of my study allows me to conclude that the teacher formation has contributed only a little, excessively, in the combat and the surmount of the exclusion of the disable students, above all scarcity of the debate pointed. Even feeling a kind solitary I the movement of the school inclusion, the schoolteachers utilized the experimentation like one of the resources in the pedagogical doing in front of the demands of the disable students. In the finals considerations, I think that the mainly contribution of my study is the possibility of the criticism about the professional formation, initial and continuous of the teacher that had been predominantly turned to the reproduction of the pedagogical doing, what come hindering retarding the process of the school inclusion of the disable students in the inclusive public school. Keyword: Teacher formation; education and inclusive school; special educational needs.
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
A diferena a essncia da humanidade
Figura 1
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
A educao tem sentido unicamente como educao dirigida a uma auto-reflexo crtica.
A exigncia que Auschwitz no se repita a primeira de
todas para a educao.
Theodor Adorno
APRESENTAO
Este estudo representou para mim em mais uma oportunidade de viver experincias,
que na sociedade da homogeneizao tm sido dificultadas aos indivduos.
Colocar-me no movimento de viver essa experincia me fez relembrar a minha
trajetria de professor, e atrelada essa, a minha trajetria humana.
A experincia do convvio com a deficincia vem de longa data. Ter um tio
deficiente fez-me despertar, ainda precocemente, para a diversidade humana. Esse convvio
possibilitou-me compreender que a idia da deficincia como incapacidade estava
completamente equivocada. Entretanto, o olhar de censura, de condescendncia, de
preconceitos que o cercavam me levava a questionar a prpria condio do ser deficiente.
Contudo, ainda no possua elementos que pudessem me apoiar a elaborar a idia de
deficincia, e da, a dialogar com outras compreenses, que estivessem alm das que
comumente so difundidas.
A opo pelo exerccio do magistrio, penso hoje, relaciona-se exatamente com a
idia que cultivava sobre a possibilidade infinita do ser humano aprender, mesmo com
questes objetivas presentes, como a deficincia. A escolha pela rea de atuao, a fsica,
foi norteada com base nas dificuldades que observava, quando estudante no Ensino Mdio,
nos colegas que percebiam naquela rea do conhecimento um grande quebra-cabea, um
saber cujo entendimento era possvel apenas a poucos. O descontentamento com todo esse
contexto levou-me, ainda no terceiro perodo do Curso de Fsica na Universidade a
investigar as causas dessas dificuldades e a desenvolver estudos voltados para essa direo.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Os resultados desses estudos se tornaram publicaes apresentadas em congressos
da rea, com ateno especial meno honrosa concedida pela Universidade a um, dentre
os trabalhos que desenvolvi a poca.
No meu trabalho de concluso do curso de Fsica, investiguei e desenvolvi
propostas metodolgicas de ensino de fsica para estudantes com dificuldades de
aprendizagem. Recordo-me de ter ouvido de uma das avaliadoras da banca: Eu se fosse
voc investiria nessa rea. Voc se revela no que faz!. Nunca mais esqueci essa afirmao.
Em minha primeira experincia em sala de aula como professor, em uma Escola de
Ensino Mdio Profissionalizante, localizada no Municpio do Rio de Janeiro, pude perceber
que, entre tantos estudantes, havia um especial.
Yago1, seu nome. Ao encontr-lo em minha classe o percebi muito distante, mas
acolhido por alguns colegas que se identificavam com sua humanidade.
Uma questo me afligiu naquele momento: Como trabalhar de maneira a atender as
demandas educacionais daquele estudante? Como acolher Yago? Em nenhum momento em
minha formao havia participado de debates que contemplassem as necessidades especiais
de estudantes deficientes. Contudo, havia o desejo em ajud-lo. Sentia-me sensvel ao seu
acolhimento.
Embora tenha sentido medo, no me permiti imobilizar. Percebendo que existia a
necessidade de me movimentar, busquei apoio junto aos pares. Minhas experincias no
foram exitosas, no primeiro momento. Os demais professores, como eu, tambm no se
reconheciam naquela realidade. Existia uma grande diferena entre ns: Eu no me
contentava com que Yago estivesse margem.
Naquele contexto, verifiquei que a melhor opo era aprofundar os estudos que j
realizava como autodidata. Foi no Curso de Especializao em Educao Especial da
Universidade Federal Fluminense, onde encontrei elementos para poder intervir melhor
naquele contexto.
Dessa experincia, pude avanar e verificar que o problema que me afligia era
extensivo a um contexto muito maior. Assim como eu, muitos outros professores estavam
vivendo o dilema da incluso escolar de deficientes. Entretanto, as minhas observaes me
revelaram que o medo que eu havia sentido, e que era recorrente, no os colocavam, em sua
1 Neste estudo todos os sujeitos so identificados por pseudnimos.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto maioria, no movimento que ocorrera comigo. Muitos professores se imobilizavam frente
mudana necessria, mas nem por isso simples de ser realizada.
Pensei: Como contribuir para minha diferenciao como indivduo professor, como
tambm possibilitar o debate acerca das lacunas que existiram em minha formao, para
que essas no se afirmem como elemento dificultador na formao de meus colegas
professores e, conseqentemente, em mais um obstculo incluso escolar dos estudantes
deficientes?
Nesse sentido, apresento minhas contribuies apresentadas neste estudo. Com base
nas reflexes do pensamento de Adorno, representante da Teoria Crtica da Sociedade,
debato a formao de professores possvel na sociedade contempornea.
Analisando as categorias como educao para a democratizao; educao para
emancipao; educao poltica; educao e preconceito; educao para a sensibilizao;
entre outras, busquei compreender a dimenso adaptativa que tem sido priorizada na
formao dos professores, que no pode ser negada, mas que no tem oportunizado o
desenvolvimento da autonomia e emancipao desses indivduos.
com a premissa de que a formao dos professores, afastando-se da idia de sua
dicotomizao inicial e continuada, embora sem neg-la, no tem oportunizado a
diferenciao dos indivduos na sociedade da homogeneizao, que inicio o debate.
Desse ponto podemos inferir: Como pensarmos uma educao que se volte para a
diversidade e a diferena dos estudantes, se o enfoque nos estudantes homogneos,
iguais? Como pensarmos em uma educao inclusiva se no reconhecemos a diversidade
dos estudantes como sendo a essncia de sua humanidade? Como pensarmos em uma
sociedade democrtica com a manuteno de escolas excludentes?
Portanto defendo a idia de que antes de pensarmos em capacitao e
aperfeioamento para professores em servio, incorporao de debates na formao inicial,
que se voltem prioritariamente para o como fazer, o que considero reducionista, o
movimento de repensarmos a formao que aponte para alm da adaptao, possibilitando
o desenvolvimento da autonomia docente, migrando para o com base em minhas reflexes
vou (vamos) realizar.
A primeira pergunta a essa afirmativa a de que, de fato, isso uma transferncia
de responsabilidade, projetando-a exclusivamente para o professor? Essa argumentao
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto desconstruda quando o professor considerado como mais um agente, que considero nesse
momento como elemento-chave para a efetivao do processo inclusivo, que deve partilhar
as responsabilidades junto aos rgos competentes e demais membros da sociedade pela
redemocratizao da escola, alm dos profissionais da escola. A responsabilidade de
todos, mas caber ao professor possibilitar o acolhimento e atendimento das necessidades
educacionais especiais dos estudantes deficientes em sua sala de aula, uma vez que o
sistema no vem sendo capaz de atender responsavelmente a complexa estrutura de
transio da escola exclusiva para a escola inclusiva.
Dessa forma, elaborar minha dissertao tornou-se um desafio, um entre muitos a
serem vividos em minha formao. Escrev-la levou-me a entender minha fragilidade
humana e da concluir que no somos imunes ao preconceito.
Ter elaborado minha dissertao me fez perceber que na sociedade da
homogeneizao, da ideologia dominante, o germe da emancipao est presente, assim
como o aprisionamento ideolgico. E, penso que a autonomia est acessvel pela reflexo
crtica, em minha compreenso, uma instncia de resistncia barbrie.
Hoje, ao discutir sobre a escola inclusiva, penso em transformao social, em
retomada da democratizao do Brasil. E, ao pensar em redemocratizao a associo
liberdade, ao desenvolvimento da sensibilidade com vistas emancipao, organizao de
uma sociedade mais justa e humanizada, portanto constituda por pessoas felizes.
Foi nesse movimento que elaborei minha dissertao, que divide-se nas seguintes
partes: a apresentao, com os fundamentos para a definio do objeto de estudo; o
primeiro captulo onde apresento o tema e a formulao da situao-problema, onde
procuro apontar os desafios da formao de professores para a escola inclusiva, e
discuto a formao do professor como questo de estudo necessria para o entendimento do
atual processo de incluso escolar de deficientes.
No segundo captulo foi desenvolvido o tema da formao de professores frente
demanda das necessidades especiais dos estudantes com deficincia; enfocando a
democratizao da escola na sociedade contempornea, discutindo a incluso escolar no s
como movimento de redemocratizao da escola, mas tambm como processo de mudana
nas estruturas sociais, e debatendo ao mesmo tempo a formao de professores para a
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto autonomia e emancipao, buscando a compreenso da formao no pensamento de
Adorno, Costa, Crochk, dentre outros autores.
No terceiro captulo, debato os aspectos presentes no processo de incluso escolar,
em especial os seus fundamentos histricos, filosficos e legais, e apresento minhas
reflexes sobre a questo do preconceito e a sua relao com a formao dos professores
considerando a escola inclusiva.
No penltimo captulo, o quarto, discuto aspectos educacionais no processo de
escolarizao de estudantes que apresentam deficincia visual, auditiva e mental,
identificadas nos estudantes da escola estudada.
Finalmente, o quinto captulo refere-se apresentao e anlise dos dados coletados
nas entrevistas realizadas com as professoras da Escola de Ensino Fundamental regular,
Lenidas Sobrino Prto, pertencente Rede Municipal do Rio de Janeiro, onde destaco
questes ligadas estruturao e organizao da educao inclusiva, com nfase nos
aspectos da formao dos professores dessa Escola.
Espero que minhas contribuies nesta dissertao, dando continuidade s minhas
experincias, possam contribuir para a reflexo acerca da formao do professor, se
contrapondo aos impedimentos postos incluso de estudantes com deficincia na mesma
escola.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Educao Inclusiva: por uma escola-mundo
onde caibam todos os mundos Figura 2
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Educar alunos com deficincia tarefa a ser desenvolvida pelo professor no cotidiano escolar em parceria com esses mesmos alunos
Valdelcia Alves da Costa
Uma escola que se desenvolve fugindo aos conflitos uma escola dbil
Amrico Peas
CAPTULO I - FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA: OS
DESAFIOS DA FORMAO DE PROFESSORES PARA
A ESCOLA INCLUSIVA
A problemtica deste estudo vincula-se questo da formao dos professores, em
particular os que atuam ou iro atuar em classes inclusivas. Embora minha anlise possa se
estender para a questo da formao dos professores de maneira geral, entendo que meu
objeto de pesquisa necessita se particularizar, considerando os limites do estudo.
Versando meu estudo sobre a formao do professor para e na escola inclusiva,
tendo como pressuposto que essa se configura no espao pedaggico que considero, assim
como os pesquisadores da educao (Costa, Glat, Carvalho, dentre outros), como sendo o
mais adequado para o atendimento dos estudantes deficientes, apresento algumas
orientaes defendidas por Ainscow (1995), autora com experincias internacionais sobre a
realidade da formao de professores para a escola inclusiva.
A primeira considerao que destaco aponta para as recomendaes de outras
realidades internacionais, incorporadas aqui com base nas experincias de Ainscow (1995,
p. 14), que esto em consonncia com as analisadas por outros estudiosos da formao de
professores para a incluso escolar de estudantes com deficincia1 no Brasil, como Costa,
Crochk, dentre outros:
1 Aditarei neste trabalho algumas nomenclaturas que se referem ao mesmo grupo de indivduos. Quando me referir aos estudantes com deficincia, estarei tratando daqueles que possuem alguma deficincia objetiva, como por exemplo: surdez ou cegueira. Excepcionalmente, tambm poderei me referir a estes sujeitos como estudantes com necessidades especiais.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Ao encorajarmos os professores a explorarem formas de desenvolver a sua prtica, de modo a facilitar a aprendizagem de todos os alunos, estamos, porventura, a convid-los a experimentarem mtodos que, no contexto da sua experincia anterior so estranhos. Consequentemente, necessrio empregar estratgais que lhes reforcem a auto-confiana e que os ajudem nas decises arriscadas que tomarem. A nossa experincia diz-nos que uma estratgia eficaz consiste em implicar a participao dos professores em experincias que demonstrem e estimulem novas possibilidades de aco.
Nesse sentido, se faz necessrio que o professor desenvolva um senso crtico, para
que enfrente o desafio, novo para todos, que ensinar na e para a diversidade de seus
estudantes. E, sobre a orientao que pensa que pode ser dada aos professores no
desenvolvimento dessa capacidade, Ainscow (1995, p. 17), esclarece:
Esta orientao acompanha o pensamento actual no mundo da formao dos professores em que se aceita, de forma crescente, que a prtica se desenvolve a partir de um processo fundamentalmente intuitivo, atravs do qual os professores ajustam os seus planos de aula, a sua actuao e as sua respostas luz do feedback dos elementos da sua classe.
E acrescenta (1995, p. 17):
Para alm de se sublinhar a importncia de se dar aos professores oportunidades de considerarem novas possibilidades, a outra estratgia que consideramos til consiste no apoio experimentao na sala de aula atravs de formas que encorajem a reflexo sobre as actividades. A chave desta estratgia que consideramos til consiste no apoio experimentao na sala de aula atravs de formas que encoraje, a reflexo sobre as actividades. A chave desta estratgia situa-se na rea do trabalho em equipe. Encorajamos, especificamente, os professores a formarem equipes e/ou partenariados em que os respectivos membros concordem em se ajudar uns aos outros a explorar aspectos da sua prtica.
A referida autora (p. 18) recomenda o trabalho em equipe e a experimentao como
sendo direes possveis para o desenvolvimento das aes docentes que atendam s
demandas de aprendizagem dos estudantes com deficincias na escola inclusiva.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Atravs de todos este processos de trabalho em equipe e em partenariado dada forte nfase quilo que Gidin (1990) chama de dilogos. Esta forma de reflexo crtica, realizada em colaborao com os colegas, especialmente importante na rea das necessidades educativas especiais. Especificamente, as nossas tradies levaram-nos a conceptualizar o trabalho de uma forma relativamente estreita, em que foram excludas muitas possibilidades que poderiam ter gerado melhores oportunidades para as crianas que pretendemos ajudar. Especificamente, as nossas tradies levaram-nos a olhar para o nosso trabalho fundamentalmente em termos tcnicos.
A reflexo crtica por parte dos professores, que o fio condutor da linha de anlise
deste trabalho, est presente nas experincias de Ainscow, como capaz de promover a
mudana das idias que derivem em aes factualmente acolhedoras e inclusivas, pois a
ausncia dessa capacidade promoveria certas implicaes, como destacado por Ainscow
(1995, p.18):
No entanto, quando as abordagens so aplicadas de forma acrtica, podem conduzir a formas de trabalhar que continuam a manter, em relao a certas crianas, os pontos de vista baseados na deficincia. Assim, necessrio ajudar os professores a aperfeioar-se como profissionais mais reflexivos e mais crticos, de modo a ultrapassarem as limitaes e os perigos das concepes baseadas na deficincia.
Ou seja, a ausncia da reflexo contribuir para afirmar a excluso dos estudantes
com deficincia da escola regular. Assim, necessrio se faz que os professores sejam
apoiados a entenderem, enfrentarem e superarem os limites pedaggicos e atitudinais
postos incluso escolar dos estudantes com deficincias, como destacado por Ainscow
(1995 p. 20):
Deste modo, possvel sensibilizar os professores a novas formas de pensar que lhes desvendaro novas possibilidades para o aperfeioamento da sua prtica na sala de aula. Isto implica que no nos limitemos a preocupar-nos com mtodos e materiais e que levemos os professores a tornarem-se pensadores reflexivos e a sentirem a confiana suficiente para experimentarem novas prticas, luz do feedback que recebem dos seus alunos.
22
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto Entendo que a formao de professores para o atendimento da diversidade dos
estudantes com deficincias, no dever apenas se circunscrever em torno dos mtodos e
tcnicas, porque apenas esses no daro conta das diversas e diferentes condies
pedaggicas no previstas do cotidiano escolar inclusivo. Os professores que tero que
desenvolver uma postura investigativa para o enfrentamento e superao dos desafios
cotidianos.
E, embora a questo parea se fechar em torno da reflexo crtica dos professores,
Ainscow (1995, p. 21) alerta para a necessidade de no se limitar a questo em torno do
indivduo. Ou seja, alm dos profissionais elaborarem suas reflexes com base em suas
percepes e anlises, a necessidade de debater suas experincias condicional para que o
projeto da escola inclusiva se torne exitoso:
Assim, embora a reflexo seja uma condio necessria para a formao profissional, no suficiente. Tem de ser acrescida por confrontaes com pontos de vista alternativos. Da a necessidade de se criarem oportunidades para realizar experincias de demonstrao de formas diferentes de trabalhar em colaborao com os colegas.
Ante o exposto, possvel cotejar com a realidade brasileira, e afirmar que h em
nosso meio educacional uma demanda por professores capazes de elaborarem concepes
educacionais e pedaggicas com base em reflexes, tornando-se assim autores de sua
prpria prtica pedaggica. Ou seja, vivemos em um contexto escolar atual onde os
professores se tornaram reprodutores de prticas institudas, muitas vezes pelo prprio
sistema de ensino, contribuindo para a manuteno de estruturas das quais deveriam ser, a
priori, seus reelaboradores. Nesse sentido, proponho algumas questes de anlise
relacionando-as formao de professores e organizao de escolas inclusivas, cerne do
meu estudo:
Como tornar a escola inclusiva se seus professores permanecem atrelados s amarras de uma prtica pedaggica tradicional decorrente de uma
formao docente conservadora ainda dominante?
23
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Como pensar em escolas inclusivas organizadas por professores que no se percebem capazes de elaborar sua prpria prtica pedaggica com base em
reflexes crticas e experimentaes junto com seus estudantes?
A formao de professores, inicial e continuada, tem contribudo para a organizao de escolas inclusivas?
Os desafios postos organizao de escolas inclusivas esto presentes no processo de formao dos professores, tanto inicial quanto continuada?
Quais os elementos presentes no processo de formao (inicial e continuada) que contribuem para a organizao de escolas inclusivas?
Como enfrentar ou mesmo superar, pela formao crtico-reflexiva, os desafios postos incluso de estudantes com deficincia na escola
regular?
As experincias vividas pelos professores, tanto profissionais quanto acadmicas, tm contribudo para a organizao de escolas inclusivas? De
que maneira?
Como os professores podem ser apoiados em sua atuao docente para tornar possvel a organizao de salas/escolas inclusivas?
No caso da educao escolar inclusiva, minha experincia como professor de fsica
do ensino regular, atuando em escolas com estudantes deficientes includos, revelou-me
que existe uma grande resistncia dos professores desse nvel de ensino em acolher esses
estudantes em suas salas de aula. Muitos so os fatores alegados para afirmar a segregao,
como falta de preparo profissional, carncia de cursos de capacitao e aperfeioamento,
inexistncia de adaptaes estruturais das escolas, dentre outros.
Entretanto, o que se observo que mesmo quando alguns desses obstculos so
minimizados, ainda assim a resistncia, de maneira geral, permanece. Qual ser, ento, o
principal, se que se pode singularizar, entrave organizao de escolas inclusivas? O que
entendo e defendo que os pensares e aes daqueles que devero atuar nessas escolas
demandadas socialmente, devero se constituir em fator de modificao dessa estrutura,
que hoje no atende demanda humana, porque no est preparada para educar para e na
diversidade humana.
24
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto Penso que esperar que o sistema, por si mesmo, se reestruture, de maneira que os
professores, em postura submissa, aguardem as propostas e estratgias de mudanas
desenvolvidas pelo poder executivo objetivando a incluso daqueles que foram, e porque
no afirmar que ainda permanecem em outra escola, - a especial -, historicamente excludos
das instncias sociais comuns, os deficientes, no resultar em mudanas efetivas no
sistema educacional. O momento de mobilizao, do trabalho cooperativo, da busca de
parcerias em prol da mudana escolar e educacional, e qui, social, promovida pela
incluso escolar no acolhimento da diversidade dos estudantes com deficincia na escola
inclusiva.
Contudo, observo que as escolas especiais sobrevivem mantendo longe do convvio
social os estudantes deficientes, ratificando assim a lgica da excluso presente na
sociedade de classes. O momento atual que vivemos de busca da superao da escola
especial. Os professores podem e devem agir se desejam promover a reestruturao da
escola para se tornar inclusiva. Quanto a isso Costa (2005, p. 67), esclarece:
Diante dessa possibilidade, a questo posta aos profissionais que atuam na educao dos deficientes : no o momento de pensar a prpria concepo de educao especial, uma vez que ela contm a idia de discriminao, de segregao, de barbrie, de excluso escolar, social e cultural dos educandos com deficincia denominados especiais, ou seja, inadaptados, desiguais? Pensar sobre isso pode ser revolucionrio, pois Aquele que pensa ope resistncia, embora constatando que, para os profissionais dessa rea [...] mais cmodo seguir a correnteza, ainda que declarando estar contra a correnteza. (Adorno, 1995a, p. 208).
Entretanto, para isso necessitamos desenvolver uma postura reflexiva, significada
por Adorno (1995, p.169) como auto-reflexo crtica, elemento essencial no movimento
pela emancipao das pessoas:
Esclarecimento a sada dos homens de sua auto-inculpvel menoridade. A democracia repousa na formao da vontade de cada um em particular, tal como ela sintetiza na instituio das eleies representativas. Para evitar um resultado irracional preciso pressupor a aptido e a coragem de cada um em se servir de seu prprio entendimento.
25
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
No estou afirmando neste trabalho que a responsabilidade pela efetivao do
processo inclusivo exclusivamente do professor, eximindo o sistema, e apresentando-o
como o super-heri. Estou debatendo as responsabilidades e posicionando o professor
como um elemento essencial no atual estgio em que vivemos o processo de incluso
escolar de deficientes. Na verdade quero reforar a idia de que por mais que existam
possibilidades de debate na formao do professor, seja inicial ou continuada, a questo
que nessa transio do processo inclusivo penso que no daremos conta de capacitar ou
formar todos os educadores para intervirem na realidade atual. O professor dever ser
capaz de desenvolver suas estratgias, junto com seus estudantes, ainda que empiricamente,
tendo como meta o atendimento das necessidades educacionais dos estudantes com
deficincias. Isso no me parece que poder ser contemplado em cursos extra-curriculares
ou disciplinas inseridas dos cursos nos diversos nveis de ensino. E, isso tambm no reduz
a importncia desses. O trabalho a ser feito o despertar pela conscientizao da
necessidade de se refletir sobre a realidade para nela intervir. Parece-me que isso est posto
a poucos, da podemos entender o discurso da maioria dos professores que se sentem
incapazes de participar do processo.
Refletindo sobre a realidade da formao de professores, e como vem se dando,
podemos fazer algumas constataes. A primeira delas diz respeito possibilidade de
oferecimento dos cursos de formao inicial e continuada para professores pelo Ministrio
da Educao e suas Secretarias. No me parece, hoje, que seja possvel a promoo de
cursos de capacitao em grande escala para a preparao dos docentes que iro atuar na
escola inclusiva, pressupondo que essa seja a melhor alternativa para o desenvolvimento da
auto-reflexo crtica capaz de promover a autonomia intelectual.
Temos obstculos a serem enfrentados, no que se refere s possibilidades da
formao de professores para atuao na escola inclusiva. Destaco que hoje no dispomos
de professores suficientes para capacitarem os professores em servio, conforme foi
apresentado em debate sobre a formao de professores para a escola inclusiva no II
Congresso Brasileiro de Educao Especial, ocorrido em novembro de 2005 na
Universidade Federal de So Carlos, So Paulo. Entretanto, outros servios podem ser
ofertados de maneira que busquem suprir essa carncia de professores de professores.
Servios como TV escola e outros programas de educao distncia talvez se
26
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto constitussem em possveis solues transitrias para esse obstculo. Entretanto, teramos
que avaliar qual o impacto dessa formao no que diz respeito ao desenvolvimento da auto-
reflexo crtica e da sensibilidade no trabalho com estudantes deficientes. Assumindo o
risco, atrevera-me a afirmar que, possivelmente o debate e o dilogo nos cursos presenciais
de formao de professores tambm no garantem o desenvolvimento das citadas posturas
almejadas, porque deve existir o desejo do professor em ser um agente transformador.
Contudo, a viabilidade do debate entre os pares nos encontros presenciais j denota a
possibilidade de desenvolvimento dessas capacidades pela reflexo e anlises
coletivamente desenvolvidas. Em contrapartida, com quem os professores atendidos pelos
programas de educao distncia poderiam debater suas questes? Existiriam tutorias?
Caso existissem, seriam suficientes frente ao grande nmero de questes a serem
enfrentadas? Percebo que a proposta de formao de professores distncia no
inviabilizada com as questes apresentadas, mas esses questionamentos desconstroem a
possibilidade de debate efetivo. No minha inteno aprofundar questionamentos sobre
esse aspecto em especial, entretanto penso que mencion-los se fez necessrio frente
possibilidade de formao de professores distncia, to difundida hoje no pas.
Sobre esse aspecto, Crochk (1997, p. 144) apresenta sua idia sobre o debate acerca
da formao do professor para o atendimento da demanda da escola inclusiva, afirmando
que A transmisso de conhecimentos e a conseqente reflexo sobre eles no podem
prescindir da presena do professor. afirmado pelo autor a importncia da formao
presencial, uma vez que o esclarecimento no se dar na carncia/ausncia do debate, da a
importncia do professor, um indivduo mediador autnomo e emancipado.
Outro ponto de anlise se refere ao desenvolvimento das competncias profissionais
que tero que ser apresentadas pelos professores ao trmino dos seus cursos, sejam eles de
formao inicial ou continuada. Percebo um outro sentido, velado, para o uso da
terminologia competncia, que entendo como uma retomada da tecnocratizao da
educao. Parece-me que para ser um promotor da incluso escolar basta que se faa
alguma disciplina includa nos cursos de graduao ou mesmo ter freqentado com um
mnimo de aproveitamento algum curso de especializao ou capacitao profissional.
Novamente vale retomar a concepo Adorniana de formao. Adorno (1995, p. 140) nos
esclarece a pertinncia do debate sobre para que educar:
27
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Quando sugeri que conversssemos sobre: Formao para qu? ou Educao para qu?, a inteno no era discutir para que fins a educao ainda seria necessria, mas sim: para onde a educao deve conduzir? A inteno era tomar a questo do objetivo educacional em um sentido muito fundamental, ou seja, que uma tal discusso geral acerca do objetivo da educao tivesse preponderncia frente discusso dos diversos campos e veculos da educao.
Nesse sentido, Adorno nos apia no esclarecimento de que a formao possvel
esteja somente sendo capaz de manter a idia de que estamos capacitando/preparando os
professores para atuarem na escola inclusiva, quando realmente estamos apenas informando
os mesmos sobre algumas possibilidades de intervenes junto aos estudantes deficientes.
reducionista a idia de uma formao que apenas instrumentalize pedagogicamente.
Entretanto, apenas o conhecimento sobre tcnicas e mtodos, o que para mim est muito
prximo da concepo de competncias nos documentos legais e no contexto discursivo da
educao, no o nico caminho para uma interveno pedaggica bem sucedida. Nesse
sentido, a educao teria apenas uma dimenso adaptativa, ou seja, no apontando a
possibilidade e necessidade de uma formao que possa ir alm da adaptao demanda
social, sem neg-la. Costa (2005, p. 61) nos auxilia nessa compreenso, afirmando que:
A educao para a adaptao, como j destacado por Adorno (1995b), tem a funo de preparar os homens para se orientarem no mundo. Ou seja, a questo da adaptao importante e a educao deve t-la como meta, mas deve ir alm dela, no sentido da emancipao.
Alm de tcnicas e mtodos, o professor deve ser capaz de saber escolh-las,
quando us-las, como us-las, de transform-las (adaptando-as de acordo com as
necessidades). Para chegar a esse comportamento almejado, no me parece que nos cursos
de formao (inicial e continuada) se priorizem as competncias e habilidades. O enfoque
deve se redirecionar do mtodo para o professor, sem ignorar a importncia do primeiro. O
professor autnomo capaz de buscar o conhecimento das metodologias existentes e de
desenvolver as suas. Nesse sentido, o professor deve ser formado para pensar e elaborar
seus prprios mtodos de ensino.
Uma outra discusso que retoma o ponto anterior se constitui em termos da incluso
de disciplinas com enfoque nas temticas das necessidades educacionais especiais advindas
28
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto das deficincias dos estudantes, nos cursos de licenciatura e normal superior. Algumas
instituies pblicas e privadas j incorporaram em suas grades curriculares, em carter
obrigatrio ou no, disciplinas que contemplem debates sobre a educao de deficientes.
Contudo, ainda no conhecemos resultados sobre o impacto na prtica dos professores que
participaram desses debates na academia. Ser necessria a realizao de pesquisas para
estudarmos essa questo, at para ratificarmos, se /foi a melhor alternativa ou a suficiente
para o desenvolvimento da auto-reflexo e da sensibilidade dos professores que iro atuar
na escola inclusiva. No comprovada a hiptese, teremos elementos para repensarmos a
abordagem que as disciplinas oferecidas dispensam no que se referem ao desenvolvimento
da conscincia crtica por parte dos futuros professores. Este estudo transita por essas
questes.
E sobre essas questes, Costa (2002, p. 42), afirma que:
Com isso quero dizer: educar alunos com deficincia tarefa a ser desenvolvida pelo professor no cotidiano escolar em parceria com esses mesmos alunos. E mais, cabe ao professor, tambm, no espao de aprendizagem estabelecido com seus alunos viabilizar o fim dos espaos considerados da educao especial, significando isso a possibilidade de acesso inicial e permanncia em uma mesma escola para alunos com deficincia e alunos sem deficincia, na perspectiva da educao democrtica.
O que afirmado pela referida autora sintetiza a idia central deste trabalho.
Pensarmos que a educao democrtica nos leva a pensar na impossibilidade de
coexistncia de escolas especiais e regulares. Isso permite ratificar que o professor
elemento chave na mudana que se faz necessria, visto que uma sociedade democrtica
demanda escolas verdadeiramente democrticas, portanto constitudas por
indivduos/professores livres pensantes e emancipados.
Outro aspecto que a aparece neste estudo como uma categoria de anlise, inclusive
anteriormente mencionada, a sensibilizao necessria para o atendimento das demandas
humanas e pedaggicas dos estudantes deficientes. Penso que ningum seja capaz de
outorgar sensibilidade a outrem. Penso que a sensibilidade no possvel ser transferida
entre indivduos. Somos capazes de criar condies em espaos de formao que estimulem
o desenvolvimento da sensibilidade nos professores. Nesse sentido, os indivduos sensveis
29
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto estariam mais abertos ao acolhimento da diversidade humana, reconhecendo-a no como
caracterstica que apenas diferenciam os indivduos, mas como essncia da natureza
humana, desenvolvendo assim a tolerncia e aceitao no coletivo social.
Uma vez que estivessem sensveis causa da incluso de deficientes na escola
regular, os professores estaro atentos para a condio da fragilidade humana, assim
refletindo criticamente sobre a condio da deficincia, opondo obstculo a um dos maiores
agentes segregadores, ou seja, o preconceito.
Sobre o preconceito, Costa (2005, p. 134), afirma que s o desenvolvimento da
conscincia verdadeira, por meio da reflexo crtica, que poder viabilizar a superao, e
tomara, a eliminao do preconceito:
A conscincia da deficincia pode contribuir no s para o desenvolvimento humano das pessoas com deficincia, como para o enfrentamento do preconceito e da discriminao que norteiam a questo da deficincia, embora a aceitao da deficincia pelos deficientes no implique sua aceitao pela sociedade.
E a autora ainda acrescenta:
(...) considerando, sobretudo, que (...) a nossa cultura, por diversos mecanismos, dentre os quais a distino entre classes normais e especiais, pode favorecer o preconceito, como destaca Crochk (1997, p. 19). Para isso, faz-se necessrio pensar o ressignificado da formao dos professores e a educao dos deficientes, que pressupem por parte dos educadores uma postura crtica em relao ao seu papel social e prpria educao, considerando essa como movimento, ou seja, como ao poltica e reflexiva.
E mais, para Mazzotta (1993, p. 40) A fora do trabalho docente, pode canalizar-se
tanto para a transformao quanto para a estagnao social e, Na qualidade de educador
por excelncia no sistema escolar, o professor constitui elemento-chave.2
Penso que a anlise da formao dos professores e sua atuao no cotidiano escolar
a questo central deste estudo. Como essa proposta, penso ser possvel e necessrio
entendermos o processo de incluso escolar de estudantes com deficincias na escola
pblica na atualidade. Penso tambm que meu estudo se torna neste momento emergencial,
2 Grifo nosso.
30
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto uma vez que vrios estudos esclarecem que o professor, na prtica, o agente principal pela
organizao de escolas inclusivas, com todas as contradies que existem no processo de
incluso social e escolar, mas que podero ser compreendidas e superadas.
Portanto, este estudo objetiva, com base nos elementos que apontam para o
entendimento da prtica dos professores na escola inclusiva, com base na reflexo proposta
por Adorno:
* Caracterizar uma escola pblica municipal com experincias de incluso de
estudantes com deficincia, no municpio do Rio de Janeiro, em seus aspectos poltico-
administrativos, poltico-pedaggicos, acessibilidade fsica, pedaggicos e atitudinais;
* Caracterizar a formao dos professores de uma escola pblica municipal com
experincias de incluso de estudantes com deficincia, no municpio do Rio de
Janeiro, considerando seus aspectos acadmico-profissionais relativos escola
inclusiva e s necessidades educacionais especiais dos estudantes com deficincia;
* Identificar na formao dos professores de uma escola pblica municipal com
experincias de incluso de estudantes com deficincia, no municpio do Rio de
Janeiro, os elementos relativos ao atendimento da diversidade dos estudantes com
necessidades educacionais especiais em suas salas de aula.
Considerando a problematizao e os objetivos deste estudo, penso que sua
elaborao poder contribuir para a socializao das experincias de professores no
processo de incluso escolar de estudantes com deficincia em escolas pblicas regulares,
possibilitando dessa maneira o entendimento de como vem se dando o processo de incluso
escolar de estudantes com deficincia na atualidade e, assim, o desenvolvimento de aes
em prol do atendimento s necessidades educacionais especiais desses estudantes na escola
pblica democrtica.
31
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Formao de professores: tempo de esclarecimento! Figura 3
32
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Eis um exemplo de como nossa educao constitui necessariamente um procedimento dialtico, porque s podemos viver a democracia e
s podemos viver na democracia quando nos damos conta igualmente de seus defeitos e de
suas vantagens Becker
CAPTULO II - A FORMAO DE PROFESSORES FRENTE DEMANDA
DAS NECESSIDADES ESPECIAIS DOS ESTUDANTES COM
DEFICINCIA
1. A DEMOCRATIZAO DA ESCOLA NA SOCIEDADE
CONTEMPORNEA
Pensar em escola democrtica nos possibilita a reflexo sobre a escola que temos e a
escola que queremos. Sobre a escola que temos podemos fazer algumas constataes
objetivas pertinentes, dentre as quais podemos destacar a mais relevante a este estudo:
segregadora. Como conseqncia decorrente dessa afirmao, podemos inferir - no d
conta de atender diversidade humana; educa para a homogeneizao, uma vez que
desconsidera as diferenas; reproduz a lgica dominante - s os mais fortes resistem;
hierarquiza os indivduos, uma vez que reproduz as classes existentes na organizao
social; dentre muitas outras constataes.
A afirmao e o reconhecimento da escola exclusiva esto em confronto com a
proposta de incluso escolar de deficientes, porque significa modificar estruturas
cristalizadas espao-temporalmente. Entretanto, a necessidade de mudarmos a escola que
temos, excludente, segregadora, parece-me que nunca esteve to evidente e fortalecida
como hoje.
A sociedade, ainda que pseudo-democrtica, comea a se mobilizar pela mudana e
reorientao da escola que no se contenta mais em reproduzir a lgica da marginalizao,
demasiadamente evidente na sociedade intolerante.
33
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Esse movimento valioso uma vez que essa ressignificao aponta para a
possibilidade de modificarmos outras instncias sociais que tambm apresentam a mesma
lgica da excluso, como por exemplo, a formao para e pelo trabalho.
Centrando a discusso na educao escolar e considerando os dados do Censo
Escolar de 2004 (INEP, 2005), quanto matrcula de estudantes deficientes na escola
regular, observo que a incluso escolar um movimento em desenvolvimento no Brasil, o
que refora que os esforos pela democratizao da escola e, por conseguinte, de
redemocratizao social, sendo irrefrevel no atual estgio civilizatrio.
De acordo com os dados do INEP, apenas 34,4% dos estudantes com deficincia
esto matriculados no ensino regular. Dos 566.753 estudantes deficientes matriculados nos
sistemas de ensino, 323.258 (57,04 %) esto nas escolas da rede pblica e 243.495 (42,96
%) nas escolas da rede privada, como verificado no grfico abaixo:
Relao de estudantes deficientes matriculados no ano de 2004, distribuidos por rede de ensino
43%
Estudantes deficientesmatriculados nasescolas da redepblica
D
com ne
65,6%,
(regular
importa
57% Estudantes deficientesmatriculados nasescolas da redeprivada
Grfico 1
etalhando esses nmeros, chegamos a um outro dado, ou seja, 371.383 estudantes
cessidades educacionais especiais so atendidos em escolas especiais; cerca de
e 195.370 estudantes com necessidades especiais so atendidos em escolas comuns
es), o que percentualmente significa 34,4% dos estudantes (vide grfico 2).
nte destacar que o aumento da matrcula nas escolas que esto aderindo ao projeto
34
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto de escola inclusiva vem ocorrendo em maior nmero e proporo nas escolas pblicas. Em
contrapartida, nas escolas particulares, percebe-se um crescimento mais lento.
Relao de estudantes deficientes atendidos por modalidade escolar no ano de 2004
34%
66%
Estudantes deficientesatendidos em escolasespeciais
Estudantes deficientesatendidos em escolascomuns
Grfico 2
Refletindo acerca do atendimento dos estudantes deficientes, marcadamente
predominante nas escolas especiais, podemos deduzir que ainda h um longo caminho a ser
percorrido no que diz respeito reestruturao da escola regular para o pleno atendimento
desses estudantes, o que nos possibilita compreender a razo da maior incidncia de
estudantes deficientes serem atendidos nas escolas especiais.
Dados mais recentes sobre o Censo Escolar de 2005, do INEP MEC (informativo
n 131, 10/03/2006) j nos revela que houve uma diminuio do nmero de estudantes nas
instituies especializadas em educao especial. Segundo o informe, h na educao
bsica brasileira 301.586 estudantes com necessidades especiais matriculados em escolas
especializadas. Esse nmero inclui estudantes com cegueira, baixa viso, surdez profunda,
surdez moderada, surdocegueira, necessidades fsicas, necessidade mental (deficincia
mental), autismo, sndrome de Down, necessidades mltiplas e condutas tpicas.
Proporciona mente, os estudantes com necessidades mentais especiais formam o maior
grupo nas e
meio do que
lscolas de educao especial: 52,96% do total. Os dados foram coletados por
stionrio do Censo Escolar 2005.
35
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Necessidade Especial Creche
Pr-Escola
Ensino Fundamental
Ensino Mdio
Educao de
Jovens e Adultos
Educao Profissional
(Bsico)
Educao Profissional (Tcnico)
Total
Cegueira 378 597 1.412 107 824 688 133 4.139 Baixa viso 679 779 1.896 57 605 901 106 5.023 Surdez severa ou profunda 617 2.549 11.040 501 1.791 1.001 33 17.532
Surdez leve ou moderada 239 760 2.286 38 415 361 16 4.115
Surdocegueira 42 99 241 1 33 40 0 456 Fsica 2.665 2.759 4.374 101 1.106 1.133 40 12.178Mental 10.946 25.314 77.182 310 16.918 27.703 1.369 159.742Autismo 562 1.994 2.500 42 531 573 8 6.210 Sndrome de Down 3.342 4.747 9.375 50 2.878 3.681 81 24.154
Mltipla 8.707 10.906 20.153 277 4.494 6.489 189 51.215Condutas tpicas 1.440 3.303 9.643 24 1.075 1.197 140 16.822
Total 29.617 53.807 140.102 1.508 30.670 43.767 2.115 301.586
Tabela 1 Estudantes matriculados em escolas de educao especial, por nvel de ensino, segundo o tipo de necessidade Brasil 2005
Isso significa que est ocorrendo o fenmeno de migrao dos estudantes
deficientes das escolas especializadas para as escolas regulares. um fato inquestionvel!
Dados de uma outra pesquisa revelam que o nmero de estudantes deficientes que
freqentam classes comuns no ensino regular das redes de ensino pblica e privada, de
acordo com o Censo Escolar de 2004 (INEP, 2005), cresceu de 145.141, em 2003, para
195.370, em 2004. Na rede pblica, esse nmero passou de 137.186 estudantes, em 2003,
para 186.547, em 2004. Na rede particular, o aumento foi de 7.955 estudantes, em 2003,
para 8.823, em 2004, como observado no grfico seguinte:
36
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Relao de estudantes deficientes matriculados em escolas comuns (pblicas e privadas) de acordo com o
ltimo Censo (INEP, 2005)
0
50.000
100.000
150.000
200.000
Anos
N.
de a
luno
s
12003 22004
Grfico 3
Com relao matrcula dos estudantes deficientes, observamos um aumento nesses
nmeros, conforme dados do INEP (MEC, 2005). As matrculas desses estudantes em
classes comuns (inclusivas) atingiram 34,4% em 2004, enquanto as matrculas globais
desse tipo de atendimento cresceram 12,4%. O crescimento dessas matrculas pode ser
observado na tabela:
Crescimento de Matrculas de Estudantes de Educao Especial por Tipo de Deficincia - Censo Escolar 2004
Tipo de Deficincia Crescimento Global % Crescimento Inclusivo %
Visual 85 127 Auditiva 11 30 Fsica 28 38 Mental 16 58 Mltipla 14 58 Altas habilidades/superdotados 20 73 Condutas Tpicas 279 597
Tabela 2 Descrio do aumento de matrculas de estudantes deficientes por tipo de deficincia
37
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Comparativamente, de acordo com o Censo Escolar de 2003 (INEP, 2004), apenas
28,8% dos estudantes com deficincia estavam matriculados no ensino regular. Dos
504.039 estudantes deficientes matriculados nos sistemas de ensino, poca, 358.898
freqentavam escolas exclusivamente especializadas e 145.141 estavam includos em
escolas comuns. Ou seja, existe uma demanda a ser priorizada na organizao de escolas
inclusivas, como observada no seguinte grfico:
Grfico 4
Relao de estudantes deficientes atendidos por modalidade escolar no ano de 2003
71%
29%
Estudantes deficientesatendidos em escolasespeciais
Estudantes deficientesatendidos em escolascomuns
Considerando o exposto, parece inegvel a efetivao da matrcula dos estudantes
deficientes na escola comum. Afirmamos somente em termos da matrcula porque no
tivemos a sso a dados, sejam de pesquisas acadmicas ou mesmo oficiais do Ministrio da
Educao obre a permanncia e condio desses estudantes na escola comum.
Da
mesmos
Universid
de gradua
Do total
ce
, sdos mais recentes do INEP (informativo n. 128, 20/02/2006), revelam que esses
estudantes deficientes esto concluindo o ensino mdio e chegando s
ades. No Brasil so mais de 5.077 estudantes deficientes matriculadas nos cursos
o. Isso representa 0,12% das 4.163.733 matrculas no ensino superior brasileiro.
de estudantes com de necessidades especiais, 1.220 freqentam instituies
38
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto pblicas e 3.857 esto em instituies privadas. Essas informaes esto mais detalhadas na
tabela a seguir:
Matrculas Unidade da Federao
Total Pblica Privada Total 5.077 1.220 3.857 Norte 342 229 113 Acre 1 1 - Amap 11 3 8 Amazonas 231 213 18 Par 55 1 54 Rondnia 19 - 19 Roraima 2 2 - Tocantins 23 9 14 Nordeste 451 168 283 Alagoas 14 3 11 Bahia 145 7 138 Cear 31 1 30 Maranho 19 14 5 Paraba 118 109 9 Pernambuco 77 14 63 Piau 21 2 19 Rio Grande do Norte 13 8 5 Sergipe 13 10 3 Sudeste 2.618 459 2.159 Espirito Santo 37 1 36 Minas Gerais 586 187 399 Rio de Janeiro 1.006 234 772 So Paulo 989 37 952 Sul 1.147 255 892 Paran 407 207 200 Rio Grande do Sul 570 1 569
Tabela 3 Nmero de estudantes deficientes matriculados em cursos de graduao presenciais, por dependncia administrativa das instituies, segundo Unidades da
Federao, Brasil, 2004
No que se refere aos tipos de deficincias identificadas pelo Censo da Educao
Superior 2004, a deficincia visual a que concentra maior nmero de matrculas nos
cursos de graduao do Pas, isso , 1.606, o que corresponde a 31,63% do total de
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto matrculas de estudantes especiais. A seguir vm a deficincia fsica, 30,52%, e auditiva,
17,58%. Os estudantes matriculados com altas habilidades representam 6,51% das
necessidades especiais, somando 331 matrculas. Podemos visualizar essa descrio na
tabela a seguir, com base no Informativo do INEP (n. 128, 20/02/2006):
Tipo de necessidade especial Regies
Total Auditiva Visual Fsica Mltiplas Mental Condutas Tpicas Altas
Habilidades Outras
Total 5.077 893 1.606 1.550 180 59 224 331 234 Norte 342 32 233 64 1 - - - 12 Nordeste 451 77 104 203 4 8 6 40 9 Sudeste 2.618 364 980 702 145 32 53 280 62 Sul 1.147 322 198 324 30 14 144 6 109 Centro-Oeste 519 98 91 257 - 5 21 5 42
Tabela 4 Nmero de estudantes deficientes matriculados em cursos de graduao presenciais, por tipo de necessidade,
segundo Regies, Brasil, 2004
Os dados at agora apresentados caracterizam o contexto atual do processo
inclusivo. Mesmo considerando os limites sociais com os obstculos existentes na incluso
dos estudantes deficientes, esses esto chegando s escolas comuns (regulares), nos trs
nveis de ensino, ou seja, fundamental, mdio e superior.
No que se refere formao de professores para o atendimento das necessidades
especiais dos estudantes deficientes, os dados nos revelam que desde o Censo Escolar de
2002 (INEP, MEC), no existem registros sobre o nmero de docentes da educao bsica
(que compreende a educao infantil, ensino fundamental e mdio) que possuem curso
especfico ou formao sobre as questes presentes na educao especial. Ou seja, posso
afirmar que, nos procedimentos de coleta de dados adotados no se contemplou nenhuma
abordagem vinculando a formao docente educao especial, o que considero uma
hiptese remota, ou o nmero de professores com essa formao inexpressivo frente ao
total de professores da educao bsica.
Os dados da Secretaria de Educao Especial (INEP, 2005) nos apresentam em sua
pesquisa informaes sobre a formao dos professores atuantes na educao especial, nos
40
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto ltimos trs Censos Escolares (INEP, 2002, 2003 e 2004). Por exemplo, dos 50.079
educadores atuantes na educao especial no ano de 2004, um total de 35.875 professores
(71,6%) possuam cursos especficos na rea. O que tambm revelador, pois seria
fundamental que todos os professores que atuam em instituies especializadas tivessem
formao em educao especial.
A carncia de informaes a respeito da formao docente dos professores atuantes
na escola comum inclusiva nos instiga nessa discusso, considerando que so recentes as
experincias de incluso escolar de deficientes no Brasil.
Estudos atuais revelam a necessidade de pensarmos a formao do professor para
que o projeto de escola inclusiva seja exitoso, embora ainda de maneira dicotomizada, ou
seja, professor de escola regular versus professor de escola especial.
Mendes (2002, p. 81), em sua anlise sobre as perspectivas para a construo de
escolas inclusivas no Brasil, destaca que Dois aspectos parecem centrais para que haja
uma poltica de educao inclusiva: a organizao de servios e a formao de
professores.
Por outro lado, em relao formao do professor para educao inclusiva, Bueno
(1999, p. 162) aponta a necessidade de capacitao de professores do ensino regular com
formao bsica, e professores especializados, destacando que:
Se, por um lado, a educao inclusiva exige que o professor do ensino regular adquira formao para fazer frente a uma populao que possui caractersticas peculiares, por outro, exige que o professor de educao especial amplie suas perspectivas, tradicionalmente centradas nessas caractersticas.
O que ratifica minha afirmao sobre a dicotomizao dos tipos de professores, ou
seja, o da escola regular versus professor da escola especial. Temos que avanar, para alm
dos antagonismos que nos prendem s dissenses que acabam por ofuscar o objetivo da
organizao da escola inclusiva.
Quanto questo do que pensam os professores sobre a transio do processo
inclusivo no cenrio educacional brasileiro, Aranha (2004, p. 51) relata as narrativas desses,
com base em sua participao em projetos de disseminao de polticas publicas de
41
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
incluso, promovidos pela Secretaria de Educao Especial do MEC, em alguns municpios
brasileiros:
Nessa ocasio, os educadores puderam se manifestar com relao proposta do governo federal, bem como quanto s dificuldades que tem vivenciado em sua realidade local. A proposta de implementao da educao inclusiva nos sistemas educacionais municipais e estaduais mostrou-se aceita por unanimidade, considerada consistente com a motivao e o interesse dos educadores presentes. Os participantes do encontro desvelaram dificuldades que tm sido encontradas no processo, como a necessidade de programas de formao continuada para professores, formalizados em cada sistema educacional, j que grande parte dos professores, nas diferentes redes educacionais, no se percebe capacitada para o ensino na diversidade.3
O observado por Aranha factual e nos apia no entendimento da escassez de
informaes nos ltimos censos escolares sobre o quantitativo de professores da educao
bsica com formao especfica ou mesmo com experincia profissional no atendimento
aos estudantes deficientes.
Isso posto, destacamos o pensamento de Oliveira (2004, p. 240), ao afirmar que:
Nesse contexto, est em debate a Pedagogia Inclusiva, apontada como um novo paradigma em Educao. A proposta de uma educao inclusiva est pautada em uma concepo diferenciada de escola e aprendizagem, fundamentando sua prtica pedaggica em uma aprendizagem mediada. Como decorrncia, algumas alteraes significativas devem ocorrer na dinmica da escola, na busca dessa nova conscincia coletiva e, portanto, a formao de professores, inicial e continuada, est no centro das discusses.
Vale destacar que a prpria idia de formao, pressupe um continuum, ou seja,
por toda a vida. Entretanto, no poderamos negar a dicotomizao criada em torno da
formao do professor, em inicial e continuada, o que faz com que nos aproximemos
criticamente da expresso por no poder negar o seu uso recorrente no discurso pedaggico
e nos documentos sobre formao de professores.
3 Grifo nosso.
42
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Oliveira (2004, p. 240), ainda esclarece quanto a isso:
No entanto, algumas impropriedades vm sendo cometidas na forma de compreender e interpretar como se daria formao de professores nesse novo contexto, principalmente a formao do professor de Educao Especial. Falar de uma educao inclusiva que pressupe, entre outras coisas, a insero de alunos com deficincia em classes comuns do ensino regular, falar de uma pedagogia de suporte para que as diferenas no sejam meros pretextos para a no-aprendizagem. Assim, formar professores competentes e qualificados pode ser o alicerce para que se garanta o desenvolvimento das potencialidades mximas de TODOS os alunos, entre eles, os com deficincia.4
A referida autora destaca que a responsabilidade em promover a incluso escolar
est tambm nas mos dos professores, lembrando Stainback (2004), ao afirmar que os
estudantes e o professor e, no o sistema, tm a possibilidade de efetivar a criao de
escolas acolhedoras. Essas questes reforam a pertinncia da pesquisa em formao de
professores, que muito tem a contribuir sobre as possibilidades de mudana no sistema
educacional.
Bueno (1999, p. 18), a respeito da formao de professores para o atendimento das necessidades especiais dos estudantes deficientes, afirma que:
(...) h de se contar com professores preparados para o trabalho docente que se estribem na perspectiva de diminuio gradativa da excluso escolar e da qualificao do rendimento do aluno, ao mesmo tempo em que, dentro dessa perspectiva, adquiram conhecimentos e desenvolvem prticas especficas necessrias para absoro de crianas com necessidades educacionais especiais.5
Portanto, levando em conta a demanda existente de estudantes deficientes que esto
sendo matriculados na escola comum, pela retomada do processo de democratizao social,
reafirmamos o compromisso dos professores com a organizao de escolas inclusivas e os
desafios postos sua formao.
4 Grifo nosso. 5 Grifo nosso.
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
2. A FORMAO DE PROFESSORES PARA A AUTONOMIA E
EMANCIPAO PELA DEMOCRATIZAO DA ESCOLA
Discutindo sobre a democracia, onde destaco o papel da escola como local da
democratizao do saber, Adorno (1995, p. 169) esclarece que a exigncia de emancipao
parece ser evidente. Assim:
A democracia repousa na formao da vontade de cada um em particular, tal como ela se sintetiza na instituio das eleies representativas. Para evitar um resultado irracional preciso pressupor a aptido e a coragem de cada um em se servir de seu prprio entendimento.
No que se refere democracia, entendo que a criao de uma sociedade onde as
escolas sejam democratizadas demanda indivduos que sejam emancipados, autnomos. O
chamamento feito por Adorno importante uma vez que pensando que vivemos em um
Estado democrtico, vivemos sob a tutela das escolhas das minorias dominantes. Ou seja,
um falseamento da democracia, uma pseudodemocracia. Penso na possibilidade de que
somos capazes de fazer as nossas escolhas, mesmo sem nos libertarmos do que Adorno,
inspirando-se em Kant, chama de auto-inculpvel menoridade.
E, Adorno (1995, p. 142), alerta quanto s posturas reacionrias anti-democrticas,
caractersticas dos indivduos heternomos, afirmando que:
Numa democracia, quem defende idias contrrias emancipao, e, portanto, contrrios deciso consciente independente de cada pessoa em particular, um antidemocrata, at mesmo se as idias que correspondam a seus desgnios so difundidas no plano formal da democracia. As tendncias de apresentao de ideais exteriores que no se originam a partir da prpria conscincia emancipada, ou melhor, que se legitimam frente a essa conscincia, permanecem sendo coletivo-reacionrias.
No pensamento de Adorno, est presente a idia de que democratizar significa
formar indivduos com autonomia. Sem a constituio das subjetividades, o que temos a
massificao, ou seja, alguns poucos indivduos pensam por uma maioria, e se impe o que
os primeiros exigem, independente das necessidades da totalidade dos indivduos. Isso
44
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto pseudodemocracia. Os sujeitos que se submetem a essa lgica so os que se identificam
cegamente com o coletivo. O indivduo crtico capaz de se perceber participante da
cultura, at porque no existem indivduos sem a cultura, mas importante que no se
confundam com ela.
O que nos trazido reflexo por Adorno que a democracia constitui-se no desejo
de libertar a conscincia dos domnios ideolgicos sociais, ou seja, significa reconhecer que
s atravs da reflexo e auto-reflexo crtica, da luta pela libertao do pensar que nos
tornaremos iluministas de nossa prpria conscincia. E, posso acrescentar que aquele que
consegue vencer as suas prprias amarras do pensamento, capaz de se tornar um
libertador de outras conscincias, sobretudo na relao entre professores e estudantes.
Contudo, o que estaria sendo considerado por Adorno (1995, p. 124) como
heteronomia? Ele considera a heteronomia como um tornar-se dependente de
mandamentos, de normas que no so assumidas pela razo prpria do indivduo, ou seja, o
antnimo da autonomia, significada por ele como o poder para a reflexo, a
autodeterminao, a no-participao.
Pensando nessa afirmao e fazendo uma analogia questo da formao do
professor da escola inclusiva, penso que o professor que puder libertar-se das dificuldades
por ele mesmo impostas ao processo de acolhimento aos estudantes deficientes, poder se
tornar quilo que chamamos de agente agregador, ou seja, um multiplicador de idias e
reflexes que tambm podero apontar para a libertao de outras conscincias, que se
encontram encarceradas pela auto-inculpvel menoridade.
Segundo Becker, in Adorno (1995, pp. 169-170), a configurao da
pseudodemocratizao fundamenta-se na concepo educativa de cada pas, pois:
Parece-me ser possvel mostrar claramente a partir de toda a concepo educacional at hoje existente na Alemanha Federal que no fundo no somos educados para a emancipao, pois a possibilidade de levar cada um a aprender por intermdio da motivao converte-se numa forma particular do desenvolvimento da emancipao.
Na realidade educacional, quando poca foi escrito o trecho citado, Becker
destaca-nos que a educao ofertada no dava conta do desenvolvimento do sentimento da
autonomia nos sujeitos. Ou seja, se no educamos para a emancipao, ento educamos
45
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto para a reproduo. Da ratificarmos o carter da falsa democracia, uma vez que a verdadeira
demanda sujeitos autnomos. Segundo Becker, atravs do despertar do desejo no sujeito
de se emancipar que a autonomia se configurar.
E, Adorno (1995, pp. 174175) confirma a existncia dessa ausncia/carncia do
sentimento autnomo, destacando que esse fenmeno no seria privilgio somente da
Alemanha, pois:
Creio que a questo da emancipao a rigor um problema mundial. Estive durante algumas semanas visitando escolas na Unio Sovitica. Foi muito interessante ver como num pas que h muito tempo realizou a transformao das relaes de produo mudou extraordinariamente pouco em termos de no educar as crianas para a emancipao e que nessas escolas persista dominando um estilo totalmente autoritrio de educar. efetivamente muito interessante este fenmeno da continuidade mundial do domnio da educao no-emancipadora, embora a poca do esclarecimento j vigore h tempos, e embora certamente no apenas em Kant, mas tambm em Karl Marx haja muitas coisas que se opem a essa educao no-emancipadora.
Essa constatao levou Becker (1995, p. 169) a afirmar que no fundo no somos
educados para a emancipao, concluindo que:
Evidentemente a isto corresponde uma instituio escolar em cuja estruturao no se perpetuem as desigualdades especficas das classes, mas que, partindo cedo de uma superao das barreiras classistas das crianas, torna praticamente possvel o desenvolvimento em direo emancipao mediante uma motivao do aprendizado baseada numa oferta diversificada ao extremo.
Com isso, o referido pensador reconhece a necessidade de se ofertar propostas
diversas de escolarizao para que sejam atendidas as diferentes demandas presentes na
diversidade dos sujeitos que constituem a coletividade. Quanto a isso (1995, p. 170), afirma
que:
Para nos expressarmos em termos corriqueiros, isto no significa emancipao mediante a escola para todos, mas emancipao pela demolio da estruturao vigente em trs nveis e, por intermedirio de uma oferta formativa bastante diferenciada e mltipla em todos os nveis, da pr-escola at o aperfeioamento permanente,
46
A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
possibilitando, deste modo, o desenvolvimento da emancipao em cada indivduo, o qual precisa assegurar sua emancipao em um mundo que parece particularmente determinado a dirigi-lo heteronomamente, situao que confere uma importncia maior ao processo.
Como est posta, a formao possvel a que prioritariamente conduz os indivduos
a um estado heternomo. Com isso, fica clara a inteno do sistema em se servir do
processo educativo para perpetuar a ideologia avassaladora que se fixa em seus ideais,
atendendo assim demanda de mercado posta no sistema neoliberal.
Dessa forma, Adorno (1995, p. 168) acaba por concluir que (...) o mero
pressuposto da emancipao de que depende uma sociedade livre j se encontra
determinado pela ausncia de liberdade da sociedade, o que refora a idia anterior.
Fazendo um cotejamento com a formao dos professores, posso afirmar ante o
exposto, para que minimizemos, at o total desaparecimento, que o que desejamos, do
sentimento de excluso e do preconceito, como sendo um dos principais promotores dessa
segregao, precisamos de professores que se constituam livres pensantes, educando para a
liberdade e para a emancipao como proposto por Adorno.
Nesse contexto emerge um debate importante, onde Adorno (1995, p. 139)
apresenta uma questo epistemolgica da formao docente, ao afirmar que Nesta medida
parece-me urgente incluir na discusso a questo do o que e a questo do para que a
educao (...).
Isto me leva a pensar qual a formao que desejamos e a possvel para o
desenvolvimento da autonomia dos professores atuantes na escola inclusiva. No
suficiente apenas afirmarmos que os cursos oferecidos nas esferas municipais, estaduais e
federais sero capazes de dar conta da demanda humana dos estudantes deficientes. So
esforos que se constituem em aes no processo de organizao da escola acolhedora e
democrtica. Entretanto, h de se questionar essa formao, at para verificarmos seu
potencial, e no cairmos no erro de que estamos desenvolvendo o melhor, ou se possvel
avanar ainda mais.
Adorno (1995, p. 140), ainda nos esclarece quanto pertinncia do debate sobre o
educar: para qu?, afirmando:
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A formao de professores e os desafios para a educao inclusiva: as experincias da Escola Municipal Lenidas Sobrino Prto
Quando sugeri