Post on 08-Nov-2018
MACHADO DE ASSIS
[1839-1908]
Memórias Póstumas
de Brás Cubas (1881)
FUVEST / UNICAMP 2014
PERSONAGENS
Quincas Borba
(humanitismo)
Sabina
Cotrim
BRÁS CUBAS
Dona Plácida
Virgília
Eugênia
Marcela
Lobo Neves
Nhá Loló
Prudêncio
1. REALISMO CRÍTICO E MODERNO
"defunto autor"
foco narrativo em primeira pessoa, mas
“distanciado” da história
1 A – NARRATIVA “SUBJETIVA”
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em
primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento,
duas considerações me levaram a adotar diferente
método: a primeira é que eu não sou propriamente
um autor defunto, mas um defunto autor, para quem
a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito
ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
também contou sua morte, não a pôs no introito,
mas no cabo: diferença radical entre este livro e o
Pentateuco.”
(cap. 1 – Óbito do autor)
METALINGUAGEM – falar sobre a própria obra
[INTERTEXTUALIDADE: referência a outras obras]
1 B – NARRATIVA FRAGMENTADA
"forma livre", "estilo ébrio"
digressões (desvios narrativos)
metalinguagem e intertextualidade
DIGRESSÃO: narração fragmentária e
manipulação arbitrária do tempo e do espaço
[METALINGUAGEM:
a conversa com o leitor; a desfaçatez]
“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele
me canse; (...) Mas o livro é enfadonho, cheira a
sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício
grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste
livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e
o livro anda devagar; tu amas a narração direita e
nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o
meu estilo são como os ébrios, guinam à direita
e à esquerda, andam e param, resmungam,
urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e
caem...” (cap. 71 – O senão do livro)
1. Capítulo 125 - Epitáfio
AQUI JAZ
DONA EULÁLIA DAMASCENO DE BRITO
MORTA
AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE
ORAI POR ELA!
2. Capítulo 139 – De como não fui ministro de estado
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FORMA: CAPÍTULOS CURTOS E MODERNIDADE
1 C – CRÍTICA AO CIENTIFICISMO
HUMANITISMO
sátira ao
Positivismo, ao
Evolucionismo e
ao Determinismo
esquemáticos
“Ora bem; abre mão dos velhos preconceitos,
esquece as retóricos safadas, e estuda a inveja,
esse sentimento tão sutil e tão nobre. (...) O mesmo
direi do indivíduo que estripa a outro; é uma
manifestação da força de Humanitas. Nada obsta (e
há exemplos) que ele seja igualmente estripado. Se
entendeste bem, facilmente compreenderás que a
inveja não é senão uma admiração que luta, e sendo
a luta a grande função do gênero humano, todos os
sentimentos belicosos são os mais adequados a
sua felicidade. Daí vem que a inveja é uma virtude.”
(cap. 117 – O Humanitismo)
HUMANITISMO sátira ao EVOLUCIONISMO e ao POSITIVISMO
1 D – USO CONSTANTE DA IRONIA
visão crítica e bem-humorada do
ser humano e da vida social
exercita
ambiguidade
HUMOR: A IRONIA
1 . “Era meu o universo; mas, ai triste! não o era
de graça. Foi-me preciso coligir dinheiro,
multiplicá-lo, inventá-lo. Primeiro explorei as
larguezas de meu pai; ele dava-me tudo o que eu
lhe pedia, sem repreensão, sem demora, sem
frieza; dizia a todos que eu era rapaz e que ele o
fora também.”
(cap. 15 – Marcela)
2 . “... Marcela amou-me durante quinze meses e
onze contos de réis; nada menos.”
(cap. 17 – Do trapézio e outras coisas)
2 – INVESTIGAÇÃO PSICOLÓGICA
E SOCIAL
O HOMEM SOCIAL: O JOGO DE APARÊNCIAS
“Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe
exponho e realço a minha mediocridade; advirta que
a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na
vida, o olhar da opinião, o contraste dos
interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a (...)
não estender ao mundo as revelações que faz à
consciência; (...). Mas, na morte, que diferença! que
desabafo! que liberdade! Como a gente pode (...)
confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!
Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos,
nem conhecidos, nem estranhos; não há platéia. (...)
Senhores vivos, não há nada tão incomensurável
como o desdém dos finados.”
(cap. 24 – Curto, mas alegre)
“Reconheço que [Cotrim] era um modelo. Argüiam-
no de avareza e cuido que tinham razão; (...). Como
era muito seco de maneiras tinha inimigos que
chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato
alegado neste particular era o de mandar com
freqüência escravos ao calabouço, donde eles
desciam a correr sangue; (...) ocorre que tendo
longamente contrabandeado em escravos,
habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais
duro que esse gênero de negócio requeria (...). Era
tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias
irmandades, e até irmão remido de uma destas,
(...).”
(cap. 123 – O derradeiro Cotrim)
REALISMO SOCIAL: O BRASIL (RJ) NO SÉCULO XIX
“Meu caro crítico, Algumas páginas atrás, dizendo
eu que tinha cinqüenta anos, acrescentei: ‘Já se vai
sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos
primeiros dias’. Talvez aches esta frase
incompreensível, sabendo-se o meu atual estado;
mas eu chamo a tua atenção para a sutileza
daquele pensamento. O que eu quero dizer não é
que esteja agora mais velho do que quando
comecei o livro. A morte não envelhece. Quero
dizer, sim, que em cada fase da narração da
minha vida, experimento a sensação
correspondente. Valha-me Deus! é preciso explicar
tudo.”
(cap. 138 – A um crítico)
A VERDADE ESCONDIDA NAS DIGRESSÕES
“Um filho!Um ser tirado do meu ser! Esta era a
minha preocupação exclusiva daquele tempo. (...)
Eu só pensava naquele embrião anônimo, de
obscura paternidade, e uma voz secreta me dizia: é
teu filho. Meu filho! E repetia estas duas palavras,
com certa voluptuosidade indefinível, e não sei que
assomos do orgulho. Sentia-me um homem.”
(cap. 90 – O velho colóquio de Adão e Caim)
A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS DIGRESSÕES - 1
“Uma tarde, após algumas semanas de gestação,
esboroou-se todo o edifício das minhas quimeras
paternais. Foi-se o embrião, (...).”
(cap. 95 – Flores de antanho)
“Este último capítulo é todo de negativas. Não
alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro,
não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é
que, ao lados dessas faltas, coube-me a boa fortuna
de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...)
Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa
imaginará que não houve míngua nem sobra, e
consegüintemente que saí quite com a vida. E
imaginará mal; porque, ao chegar a este outro lado
do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é
a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria.”
(cap. 140 – Das negativas)
A PERSONALIDADE POR TRÁS DAS DIGRESSÕES-2
[PESSIMISMO – CETICISMO]
BRÁS CUBAS
um burguês egocêntrico,
vaidoso e fracassado que se
esconde por detrás da
petulância, das ironias e das
digressões
3 – LEITOR CRÍTICO
o narrador chama o
leitor para julgar /
avaliar o livro, as
personagens, ele
próprio