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MAURÍCIO WAMMS DA LUZ
UM BRINDE A CERVEJA ARTESANAL: A RELAÇÃO DA CERVEJARIA STIER
BIER COM O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO DE IGREJINHA/RS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional –
Mestrado – das Faculdades Integradas de
Taquara – FACCAT, sob orientação da Prof.
Drª Dilani Silveira Bassan
Área de Pesquisa: Desenvolvimento Regional
TAQUARA
2020
ii
AGRADECIMENTO
Agradeço em primeiro lugar tanto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), quanto às Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), que me
permitiram uma formação acadêmica diferenciada e de qualidade. Agradeço também a todos
que me incentivaram e dar buscar novos horizontes, conceitos e conhecimentos.
Agradeço a minha orientadora Drª Dilani Bassan, que desde o primeiro momento
acreditou nas minhas ideias, até conseguirmos as transformar num projeto de pesquisa. Além
de toda paciência que demonstrou ter, sempre respeitando minhas limitações e me forçando a
ultrapassar as barreiras que eu acreditava possuir. Se não fosse toda a tua compreensão, esta
pesquisa não teria a mesma qualidade, e tão pouco teria conseguido publicar artigos e apresentar
seminários. Neste ponto, também cito o líder do grupo de pesquisa do qual tive o imenso prazer
de fazer parte, o Dr. Daniel Gevehr, que me fez ver a migração sob novos olhos.
Agradeço também a todos os meus colegas, que permitiram que estes dois anos não
fossem vividos apenas dentro da sala de aula, fazendo com que houvesse muitos encontros,
bate-papos, saídas de campo e, também, conhecer indivíduos únicos. Entrei no Mestrado
acreditando que aprenderia apenas sob desenvolvimento regional, e sai sabendo quantos pneus
tem uma carreta e com quantos dia o frango é abatido.
Sou imensamente grato a Cervejaria Stier Bier, por ter gentilmente aceito participar da
minha pesquisa, e sem a qual não teria tido acesso ao mercado cervejeiro e seus representantes,
portanto, um grande abraço a Silmara e ao Gustavo, além de toda a equipe.
Não posso deixar de agradecer a minha família, pois sem ela nada seria possível. Aos
meus pais, que estiveram ao meu lado em todos os momentos que precisei, auxiliando em tudo
que podiam, por isso vocês são meus maiores exemplos. Ao meu irmão, que sempre me ajudou
quando precisei, segurando as pontas quando eu não podia me fazer presente, por isso sei que
o mundo é pequeno para os teus sonhos. E ao meu parceiro de agência Ismael Hehn, a quem
considero da família, e que na reta final da pesquisa entendeu a minha ausência.
Por fim, agradeço minha companheira Jéssica, que além de me dar uma família me fez
lembrar que a academia é uma caminhada contínua, e que a vida é interdisciplinar e
interinstitucional, onde não sabemos onde vamos parar e nem quem vamos encontrar pelo
caminho.
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RESUMO
A partir dos anos 2000 observa-se no Brasil o crescimento do número de registro de
novas cervejarias artesanais, junto ao Ministério da Agricultura. A evolução apresentada
durante a década de 2010, representa um contraste entre a geração de empregos e renda,
apresentado pelas cervejarias artesanais e o Estado. Esta pesquisa teve por objetivo
compreender a relação entre as cervejarias artesanais e o desenvolvimento dos territórios em
que estão sediadas, correlacionando a presença das cervejarias artesanais com a melhora na
qualidade de vida dos indivíduos, a partir da evolução dos indicadores socioeconômicos do
território. Toma-se como referência a Cervejaria Stier Bier, sediada no município de Igrejinha,
Rio Grande do Sul, onde iniciou suas atividades no ano de 2017, permitindo uma análise da
evolução dos indicadores socioeconômicos, anteriores e posteriores a esta data. A pesquisa
utilizou-se de uma bibliografia que tem autores de referência sobre os temas pertinentes ao
estudo, possibilitando problematizar as questões sociais, culturais, e mercadológicas que
permeiam a cerveja artesanal, bem como o mercado cervejeiro artesanal brasileiro, visto sob
uma perspectiva interdisciplinar, que possibilita aproximar a discussão do mercado cervejeiro
artesanal com o campo dos estudos do desenvolvimento regional e das ciências sociais
aplicadas. Utilizando como base a metodologia qualitativa e descritiva propostas por autores
conceituados, promoveu a compreensão da relação entre os resultados dos dados secundários e
primários, os indicadores socioeconômicos, a partir de entrevistas e questionários, com o
desenvolvimento socioeconômico dos indivíduos residentes no território das cervejarias
artesanais. A evolução dos resultados dos indicadores socioeconômicos, demonstraram que
Igrejinha, ao propor um programa de desenvolvimento permitiu que houvesse uma
reestruturação da economia local, uma diversificação das cadeias produtivas, possibilitando a
instalação da Cervejaria Stier Bier no município. Por consequência, possibilitou a geração de
emprego e a redistribuição de renda, frente ao enfraquecimento do setor calçadista, principal
cadeia produtiva local. Com essa constatação, compreendeu-se que as cervejarias artesanais
possuem características que possibilitam o desenvolvimento socioeconômico de um território,
a partir da geração de emprego e renda, que consequentemente reflete na qualidade de vida dos
indivíduos.
PALAVRAS-CHAVES: História da Cerveja. Cerveja artesanal. Mercado cervejeiro artesanal.
Microcervejarias. Desenvolvimento Regional.
iv
ASBSTRACT
From the 2000s onwards, there has been an increase in the number of new craft
breweries registered in Brazil with the Ministry of Agriculture. The evolution presented during
the decade of 2010, represents a contrast between the generation of jobs and income, presented
by craft breweries and the State. This research aimed to understand the relationship between
artisanal breweries and the development of the territories in which they are based, correlating
the presence of artisanal breweries with the improvement in the quality of life of individuals,
based on the evolution of the socioeconomic indicators of the territory. Reference is made to
Cervejaria Stier Bier, based in the municipality of Igrejinha, Rio Grande do Sul, where it started
its activities in 2017, allowing an analysis of the evolution of socioeconomic indicators, both
before and after this date. The research used a bibliography that has reference authors on the
topics relevant to the study, making it possible to problematize the social, cultural, and
marketing issues that permeate craft beer, as well as the Brazilian craft beer market, seen from
an interdisciplinary perspective, which makes it possible to bring the discussion of the craft
beer market closer to the field of studies of regional development and applied social sciences.
Using as a basis the qualitative and descriptive methodology proposed by renowned authors, it
promoted the understanding of the relationship between the results of the secondary and
primary data, the socioeconomic indicators, from interviews and questionnaires, with the
socioeconomic development of individuals residing in the territory of craft breweries. The
evolution of the results of the socioeconomic indicators, showed that Igrejinha, when proposing
a development program, allowed a restructuring of the local economy, a diversification of the
production chains, allowing the installation of the Stier Bier Brewery in the municipality.
Consequently, it enabled the generation of employment and the redistribution of income, in
view of the weakening of the footwear sector, the main local production chain. With this
observation, it was understood that artisanal breweries have characteristics that enable the
socioeconomic development of a territory, from the generation of jobs and income, which
consequently reflects on the quality of life of individuals.
KEYWORDS : History of Beer. Craft beer. Craft beer market. Microbreweries. Regional
development.
v
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Linha do Tempo Cervejaria Stier Bier ...................................................................52
FIGURA 2: Vale do Paranhana .................................................................................................56
FIGURA 3: Pub da Cervejaria Stier Bier ..................................................................................72
vi
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Tipos de cervejarias de pequeno porte .................................................................23
QUADRO 2: Conceitos de Cervejarias ABRACERVA ...........................................................24
QUADRO 3: Censo e População Estimada 2010 a 2017 ...........................................................58
QUADRO 4: Representatividade no Mercado ..........................................................................61
QUADRO 5: Cervejarias e Parceiros Comerciais .....................................................................66
QUADRO 6: PIB Total de Igrejinha de 2010 a 2016 .................................................................68
QUADRO 7: PIB Total do RS de 2010 a 2016 ..........................................................................70
QUADRO 8: Vínculos Empregatícios Ativos em RS e no Igrejinha de 2010 a 2018 ................71
QUADRO 9: Evolução Vínculos Empregatícios Cervejaria Stier Bier .....................................74
QUADRO 10: Indicadores Blocos IDESE ................................................................................78
QUADRO 11: IDESE de 2010 a 2016 ......................................................................................79
QUADRO 12: IDESE - Bloco Saúde de 2010 a 2015 ...............................................................80
QUADRO 13: IDESE - Bloco Educação de 2010 a 2015 ..........................................................81
QUADRO 14: IDESE - Bloco Renda de 2010 a 2016 ...............................................................84
vii
LISTA GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Cervejarias Registradas ......................................................................................48
GRÁFICO 2: Cervejarias Registradas USA .............................................................................49
GRÁFICO 3: Cervejarias Registradas por UF ..........................................................................50
GRÁFICO 4: Cervejarias e o Turismo ......................................................................................64
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LISTA DE SIGLAS
Acerva Gaúcha - Associação dos Cervejeiros Artesanais do Rio Grande do Sul
AmBev (Cia de Bebidas das Américas
ABIPEME - Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado
ABRACERVA - Associação Brasileira de Cerveja Artesanal
ANEP - Associação Nacional das Empresas de
CERVBRASIL - Associação Brasileira da Indústria da Cerveja
FEE – Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBS - Institute of Brewing Studies
IDESE - Índice de Desenvolvimento Socioeconômico
MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
SEMPE - Secretaria Especial de Micro e Pequena Empresa
PIB – Produto Interno Bruto
PNB – Produto Nacional Bruto
PRODEN - Programa de Desenvolvimento
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11
1.1 A história da Cerveja .......................................................................................................... 15
1.2 Características da cerveja artesanal .................................................................................... 18
2 MICROCERVEJARIAS: SUAS SINGULARIDADES E O MERCADO ........................... 22
2.1 Microcervejarias e a inovação através de suas características ........................................... 22
2.2 As microcervejarias e o mercado cervejeiro....................................................................... 26
2.3 As microcervejarias e o conceito de território .................................................................... 29
3 OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS, A ECONOMIA REGIONAL E O
DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO ........................................................................... 33
4 A CERVEJARIA STIER BIER E O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DE
IGREJINHA/RS ....................................................................................................................... 42
4.1 Metodologia de Pesquisa .................................................................................................... 42
5 A CERVEJA ARTESANAL, A STIER BIER E O DESENVOLVIMENTO ...................... 45
5.1 O mercado cervejeiro contemporâneo ................................................................................ 46
5.2 O território a partir da Cervejaria Stier Bier/RS ................................................................. 51
5.3 Igrejinha e a Cervejaria Stier Bier: A relação entre indicadores socioeconômicos, território
e a cerveja artesanal .................................................................................................................. 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 88
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 91
APÊNDICE A .......................................................................................................................... 97
APÊNDICE B ........................................................................................................................... 98
APÊNDICE C ......................................................................................................................... 100
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INTRODUÇÃO
No Brasil desde o início dos anos 2000 tem se observado a existência de uma cultura
cervejeira, que se caracteriza pelo consumo de produtos diferenciados, produzidos por
cervejarias que não fazem parte dos grandes grupos econômicos, já instalados e estabilizados
no consumo brasileiro. A busca por novos produtos tem como consequência o registro de novas
cervejarias junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, órgão responsável
pela emissão dos registros. Considerando que ao solicitar o registro junto ao MAPA, a
cervejaria possui uma sede e uma rede com qual se relaciona, o estudo compreende que exista
uma relação entre as cervejarias artesanais e o território.
Considera-se que as cervejarias artesanais tenham como forma de interação com o
território a possibilidade de geração de emprego e renda. Uma das premissas da teoria do
desenvolvimento regional é que as desigualdades sociais tendem a diminuir, quando observado
que no território ocorre a geração de emprego, aspecto fundamental para a redistribuição de
renda entre os indivíduos. Portanto, esse entendimento salienta a importância de compreender
como as cervejarias artesanais dialogam com os territórios em que estão instaladas, e como se
relacionam com os mesmos.
Com base no número de empreendimentos instalados no Rio Grande do Sul e dos dados
econômicos do setor, que tornam o estado um dos principais expoentes, questiona-se sobre a
como as cervejarias podem estar relacionadas com a evolução dos indicadores
socioeconômicos, que representam o desenvolvimento socioeconômico dos territórios em que
estão sediadas. A relação direta com a população ocupada no município onde estão instaladas
as cervejarias, pode ser um exemplo, tendo em vista que as cervejarias apresentam uma
demanda por mão de obra elevada de celetistas e sazonais, que por consequência tende a refletir
na redistribuição de renda, ocasionando uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos.
A análise dos indicadores socioeconômicos de um território, que tem como finalidade
expressar as percepções que a comunidade do território tem sobre aspectos imateriais, como
por exemplo a redistribuição de renda e a melhora da qualidade de vida, permitem compreender
o diálogo entre as cervejarias artesanais e os seus respectivos territórios.
O estudo sobre a evolução dos indicadores socioeconômicos do território em que as
microcervejarias estão inseridas justifica-se pelo fato de que conhecer a participação destas no
desenvolvimento socioeconômico pode fomentar políticas públicas de apoio à instalação de
novos empreendimentos, bem como, o setor privado poderá usufruir da análise deste estudo
para sustentar decisões de gestão e/ou comerciais.
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A literatura sobre as cervejarias no Brasil ainda é limitada no campo do
desenvolvimento regional, por isso, um estudo que relacione estes empreendimentos com a
evolução de indicadores socioeconômicos pode vir a fundamentar pesquisas futuras, que
tenham como interesse correlacionar tanto a cerveja, quanto empreendimentos de pequeno
porte com a possibilidade de gerar o desenvolvimento social e econômico de um território.
Este estudo se propôs a compreender a relevância das cervejarias artesanais para o
desenvolvimento socioeconômico do território em que estão instaladas, utilizando-se como
parâmetros indicadores sociais e econômicos, além de dados primários, no intuito de apresentar
a evolução do desenvolvimento.
Partindo dessa premissa, a pesquisa se analisou a relação da Cervejaria Stier Bier com
o desenvolvimento socioeconômico de Igrejinha, Rio Grande do Sul, após a instalação da
cervejaria no município, em 2017, além de compreender a similaridade entre as cervejarias
artesanais e os territórios.
As cervejarias que seguem o conceito de artesanal se diferenciam das cervejas
industriais, produzidas em massa, também conhecidas como populares, principalmente pelo
formato de produção adotado pelas cervejarias. Tendo uma produção baseada na utilização de
insumos escolhidos com a intenção de obter harmonias distintas e notórias, sendo produzidas
por meio de processos sob o cuidado constante e direto de um mestre cervejeiro. Por isso, é
possível considerar que as cervejas artesanais, podem ser cervejas diferenciadas.
O Brasil apresenta um mercado de bebidas consolidado, com predominância de grandes
grupos econômicos. No final da década de 1990 a criação da AmBev (Cia de Bebidas das
Américas) inicia o processo de consolidação do mercado brasileiro de bebidas. Reflexo de uma
tendência internacional de concentração empresarial e de globalização. Tal tendência pode ser
exemplificada através da Interbrew-AmBev, no início dos anos 2000, constituída a partir da
fusão dos grupos AmBev e Interbrew (CAMARGO e BARBOSA, 2005).
O mercado cervejeiro brasileiro contrapõe uma concentração empresarial globalizada
consolidada com o surgimento de microcervejarias, com diversas presenças de mercado, tais
como locais e regionais, além dos brewpubs1 (Brasil, 2018). O surgimento desse contraste é
decorrente da existência de uma demanda por cervejas diferenciadas.
O contraponto, entre as cervejarias, e a demanda por cervejas diferenciadas são
1 De acordo com Kalnin (1999) o conceito de brewpub é designado para cervejarias que tem como foco a
comercialização da produção no próprio local, geralmente através de um anexo gastronômico.
13
confirmados pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL,
2018). Este expõe uma tendência contínua de crescimento do número de produtores de cervejas,
que atingiu no ano de 2017, 679 empreendimentos, um aumento de seis vezes em relação a
2007. O Rio Grande do Sul é o estado que concentra o maior número de cervejarias, totalizando
142, seguido por São Paulo com 124, Minas Gerais com 87 e Santa Catarina com 78
empreendimentos (BRASIL, 2018a). No caso do Rio Grande do Sul, tais empreendimentos
estão geograficamente espalhados.
Um dos reflexos do advento dessas cervejarias de pequeno porte é a criação da
Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (ABRACERVA), entidade que tem em seu estatuto
a categorização brasileira das cervejarias artesanais, sendo: microcervejaria brasileira,
microcervejaria associada e brewpub, em todos os casos a produção não pode ultrapassar os 50
mil hectolitros2 (ABRACERVA, 2019).
Considerando que a entidade tem como finalidade representar o setor cervejeiro
artesanal, o presente estudo utilizará as categorizações e definições da mesma. Portanto, parte-
se da premissa que todas as cervejarias analisadas no decorrer do estudo devem se adequar a
uma das categorias.
No ano de 2017 o setor cervejeiro obteve uma participação de 1,6% no PIB brasileiro,
num valor superior a R$ 107 bilhões. Ao considerar-se que as microcervejarias, as associadas,
e os brewpubs, detém uma fatia de 1,4% desse mercado, e que no cenário mundial a participação
média é superior a 10%, supõe-se que possa existir uma parcela considerável da demanda a ser
explorada (CERVBRASIL, 2018; MARCUSSO, 2015).
Como forma de compreender como as microcervejarias podem estar contribuindo para
o desenvolvimento socioeconômico, a pesquisa terá uma abordagem qualitativa e descritiva, na
qual será utilizado como referência a Cervejaria Stier Bier, sediada no município de Igrejinha,
com instalação no ano de 2017, e a relação com o desenvolvimento socioeconômico de
Igrejinha/RS. Os dados primários são decorrentes de entrevistas realizadas junto a Cervejaria e
o Poder Público Municipal, sendo complementados pelas respostas obtidas através dos
questionários aplicados a cervejarias artesanais localizadas no Estado.
A análise dos indicadores no período de 2010 a 2018 tem como objetivo observar como
as microcervejarias podem participar na evolução dos indicadores socioeconômicos de seus
territórios, no caso tomando a Cervejaria Stier Bier e o município de Igrejinha como referência.
O estudo tem como objetivo específico compreender como a Cervejaria Stier Bier interage com
2 Cada hectolitro corresponde a 100 litros, portanto, a produção máxima é de 5 milhões de litros anuais.
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as demais cadeias produtivas encontradas no território, a exemplo da hotelaria, transporte e
alimentação, bem como ocorre a interação com as pertencentes a outros territórios, e a relação
socioeconômica com o território.
Sendo assim, a realização desta pesquisa sobre a relação das microcervejarias,
representada neste estudo pela Cervejaria Stier Bier, com desenvolvimento social, poderá
proporcionar uma análise que venha auxiliar o setor público a propor políticas públicas e ações
que permitam o crescimento da cadeia produtiva da cerveja, não somente da fabricação. A
compreensão dos resultados contribuirá para a tomada de decisões do setor privado, bem como
produzir literatura acadêmica sobre a relação entre o setor cervejeiro e o desenvolvimento social
e econômico.
O presente estudo está estruturado em cinco capítulos: a introdução que apresenta uma
explanação do que será tratado na pesquisa; o capítulo primeiro do referencial teórico
compreende os aspectos históricos, culturais e mercadológicos da cerveja no Brasil,
referenciados pelos autores Marcusso (2015), Morado (2009) e Santos (2004); no terceiro
apresenta-se o mercado cervejeiro artesanal, com destaque para Coutinho (2018) e Cervbrasil
(2018), referências sobre o cenário contemporâneo do setor cervejeiro; Schumpeter (1988) e
inovação; e pôr fim a Associação Brasileira de Cervejas Artesanais (ABRACERVA, 2019)
como referência para os conceitos e nomenclaturas utilizadas para definir as cervejarias; o
quarto capítulo aborda os conceitos de território, desenvolvimento e indicadores
socioeconômicos, neste, é dado ênfase à caracterização dos conceitos de território, indicadores
e desenvolvimento, tendo como referência os autores Boisier (2016), Brandão (2011), Furtado
(1983), Sen (2000) e Abramovay (2006); quanto à conceituação dos indicadores
socioeconômicos, os principais autores são Jannuzzi (2006), Land e Michalos (2012) e Esterlin
e Angelescu (2012); o quinto é dedicado aos procedimentos metodológicos, as técnicas
utilizadas, e a análise dos dados primários referentes às informações coletadas através das
entrevistas realizadas junto aos representantes do setor cervejeiro, público e comércio, bem
como oriundos da Cervejaria Stier Bier.
Buscou-se, a partir das entrevistas descrever um panorama do setor cervejeiro regional,
bem como demonstrar a sua influência sobre o desenvolvimento do território. Por fim, as
considerações finais sobre a evolução dos indicadores socioeconômicos do município de
Igrejinha e a participação da cervejaria Stier Bier no desenvolvimento do município de
Igrejinha.
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1 ASPECTOS HISTÓRICOS, CULTURAIS, MERCADOLÓGICOS DAS
MICROCERVEJARIAS
Nesta seção serão apresentados os principais aspectos históricos, culturais e
mercadológicos do setor cervejeiro artesanal. O primeiro aspecto a ser abordado refere-se a
história da cerveja ao longo dos anos, desde o surgimento da “bouza”, bebida que se assemelha
a cerveja, como conhecida atualmente, percorrendo a idade média, a criação da Reinheitsgebot,
“Lei da Pureza Alemã”, a instalação da primeira cervejaria brasileira, até a contemporaneidade.
O setor cervejeiro, será tratado num segundo momento, em nível nacional, estadual e mundial,
bem como das características das cervejarias de pequeno porte.
1.1 A história da Cerveja
Inicialmente é fundamental compreender o significado de um dos conceitos basilares
deste estudo, a Cerveja, palavra que foi cunhada com base no termo latim cervisia, bebida
resultante da fermentação de um mosto a base de cevada, lúpulo e água, de acordo com a Lei
da Pureza, pela Saccharomyces cerevisiae, que se tornou a terceira bebida mundialmente mais
consumida atualmente (COELHO-COSTA, 2015).
A história da cerveja inicia antes mesmo da descoberta da escrita, pois, é possível
encontrar referências em desenhos rupestres. Tais símbolos representam a elaboração de um
líquido que se assemelha a cerveja, como conhecemos (SILVA; LEITE e PAULA, 2016).
Coelho-Costa (2015) destaca a existência de menções sobre a produção de cervejas no Livro
dos Mortos, no qual a cerveja seria originária da Mesopotâmia, mais precisamente da Suméria,
com base nas inscrições talhadas em pedras encontradas por arqueólogos.
De acordo com Silva, Leite e Paula. (2016) é possível encontrar referências sobre a
presença da cerveja nas antigas sociedades. Supõem-se que durante o Egito Antigo, a levedura
utilizada no preparo da massa dos pães, era oriunda do processo de fermentação de uma bebida
semelhante a cerveja. Esta bebida dispunha de alto teor alcoólico, semelhante a “bouza”, que é
produzida até os dias atuais, de forma similar a empregada milhares de anos. Segundo os
autores, escavações arqueológicas ocorridas no século XIX, recuperaram vestígios de cevada
em utensílios que se encontravam no interior de tumbas faraônicas. Fato que corrobora a
alegação de que a cerveja, como conhecida atualmente, possui vínculo com a “bouza”
produzida a época.
Durante a Idade Média não era aferida à cerveja, unicamente, o status de bebida
16
alcoólica com caráter social, havia o reconhecimento de suas características nutricionais e
terapêuticas, pois era possível encontrar adjuntos herbáceos. Contudo, também havia a
distinção de sabor entre a bebida dos nobres e da plebe, tendo o primeiro um paladar acentuado,
com a presença de insumos díspares; e o segundo sendo brando (SILVA, LEITE e PAULA,
2016).
Silva, Leite e Paula (2016) afirmam que a responsabilidade pela produção da cerveja,
para consumo familiar e presente nas refeições diárias, era das mulheres. Observa-se isso
devido ao fato de que era uma alternativa viável para as famílias de menor poder aquisitivo,
sendo mais acessível que o vinho encontrado na época. A importância da cerveja no contexto
familiar se destaca quando se percebe a ligação desta com o desjejum das famílias menos
abastadas. Os autores ainda afirmam que neste mesmo período origina-se a importância dos
mosteiros para a produção cervejeira, principalmente nos quesitos técnicos e de criação de
receitas, fator de suma relevância para a qualidade deste produto. Esta alegação demonstra uma
possível ligação da Igreja Católica com a cerveja, pois observa-se que existia a comercialização,
para os indivíduos que podiam comprar, e distribuição da produção para aqueles que estavam
em necessidade financeira.
De acordo com Morado (2009) os cervejeiros da Idade Média possuíam um status
diferenciado e notório, sendo considerados mestres especializados. Devido ao fato de a cerveja
possuir relevância para a manutenção da economia, durante o reinado do imperador Carlos
Magno. Isto demonstra a importância histórica que a cerveja apresenta desde o Egito Antigo,
com a presença de utensílios nas tumbas faraônicas até a Idade Média, através da criação do
decreto Capitular de Villis, e a compreensão da importância socioeconômica da cerveja.
Flandrin (2009) complementa descrevendo que entre os séculos XIV e XVIII,
diferentemente do vinho, que apresentava maior teor alcoólico e custo elevado, a cerveja com
sua característica nutrícia e módica, passou a apresentar alta demanda na Europa,
particularmente no norte e leste. Foi, então, possível perceber a presença de especialistas em
lúpulo, que tornava o método inicial artesanal em um processo de semi-industrialização. Silva,
Leite e Paula (2016) afirma que apesar da relevância nutricional e econômica que a cerveja
detinha, culturalmente ainda era menosprezada, sendo associada às tabernas e ao cotidiano dos
camponeses e indivíduos menos abastados.
No ano 1516, os alemães estabelecem a Lei da Pureza, para a fabricação de cervejas. A
Reinheitsgebot, também conhecida como “Lei da Pureza Alemã”, foi instituída pelo então
Duque Guilherme IV da Baviera. De acordo com a Reinheitsgebot, apenas produtos que
utilizem unicamente lúpulo, água e cevada, podem ser considerados como cervejas (GONTIJO
17
e GESSNER, 2015). A Lei da Pureza pode ser considerada um marco no desenvolvimento da
cerveja, como contemporaneamente conhecida, ao simbolizar que os consumidores possuíam a
salvaguarda de que as cervejas alemãs gozavam de “qualidade superior”. Ao mesmo tempo que
demonstra um desprezo para com as bebidas, que de acordo com idealizadores da Lei da Pureza,
se auto denominavam como cerveja, mas que empregavam substituição, ou adição de outros
insumos, como o trigo, arroz, milho, açúcar, entre outros. Para Gontijo e Gessner (2015) a
instituição da Reinheitsgebot ocasionou que as cervejas consideradas vulgares, seriam
impedidas de empregar o termo “cerveja”, já que utilizavam insumos menosprezados.
O Brasil (BRASIL, 2009) também possui uma legislação na qual estabelece a definição
de cerveja: uma bebida obtida através da fermentação alcoólica, de um mosto, produzido a base
de malte de cevada e adição de água, utilizando levedura, e acréscimo de lúpulo. Todavia a
legislação brasileira diverge da Lei da Pureza Alemã, devido ao fato de que aceita a substituição
de até 45% do malte de cevada por outros adjuntos cervejeiros. Dentre os adjuntos habilitados
para a produção de cervejas no Brasil está a cevada cervejeira, o açúcar e amido com origem
vegetal, e demais cereais maltados e não maltados, aptos para o consumo humano. Com base
nessas informações, é plausível de supor que, as cervejas brasileiras que aproveitam a
possibilidade de substituir um percentual do malte por adjuntos, não seriam consideradas
cervejas sob a ótica da Lei da Pureza Alemã (SILVA, LEITE e PAULA, 2016).
A introdução do Brasil na história da cerveja se dá a partir da chegada de Maurício
Nassau em Recife, em 1637. Neste período a cidade de Recife alcançou patamar semelhante as
mais proeminentes cidades europeias e seu porto se tornou importante para a Companhia da
Índias. Neste contexto ocorre a instalação da primeira cervejaria no território brasileiro, tendo
sido trazida desmontada por Nassau. Todavia, foi durante o 2º Reinado, que durou entre 1840
e 1889, que ocorreu um maior desenvolvimento da cultura cervejeira, em que os principais
anúncios encontrados tratavam exclusivamente sobre a comercialização dos produtos, sem
nenhuma menção a produção (COUTINHO, 2018).
Nesse momento, o Rio já tinha uma população de padrão médio formada por militares,
oficiais de indústria, proprietários de pequenas manufaturas, profissionais liberais e
funcionários públicos. A cidade já era comparável a outras da Europa Central e possuía um
mercado consumidor relevante. A venda era feita no balcão e na própria cervejaria que atendia
a particulares. Convites eram espalhados pelos proprietários em bares próximos e festas eram
realizadas dentro das cervejarias. As entregas eram feitas por carroças ao comércio dos bairros
próximos (COUTINHO, 2018).
Entre a década de 1860 e a Primeira Guerra Mundial o Brasil presenciou a expansão da
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produção cervejeira em seu território, ainda que apresentasse características artesanais e de
produção em pequena escala. Com o advento da Primeira Guerra decorre a impossibilidade de
conseguir os insumos necessários para a produção da cerveja, pois estes tinham origem alemã
e austríaca. A cerveja produzida nesse período seguia a Lei da Pureza, portanto o fato de as
cervejarias não conseguirem importar a matéria-prima necessária para a produção, ocasionou a
substituição dos insumos por alternativas encontradas em solo nacional, como milho, arroz e
trigo (SILVA, LEITE e PAULA, 2016).
De acordo com Santos (2004) entre as décadas de 1860 e 1870 surgem as primeiras
máquinas frigoríficas, no estado do Rio de Janeiro e São Paulo, e desta forma a produção passa
a se destacar nestas regiões. Este desenvolvimento tem como maiores representantes na
fundação das cervejarias “Companhia Cervejaria Brahma”, no estado do Rio de Janeiro e a
“Antarctica Paulista”, no estado de São Paulo. Em paralelo à produção nacional a importação
de cervejas sempre esteve presente no mercado brasileiro, inicialmente devido a não existência
de uma oferta capaz de produzir o necessário para o mercado, e também pelo paladar dos
consumidores.
Desta forma a importação de cervejas pode ser caracterizada pela existência de três
grandes momentos: primeiro, a importação de cervejas de origem holandesa, através do porto
de Recife; segundo a importação exclusiva de cervejas inglesas, após os tratados assinados por
Dom João VI; terceiro, e mais atual, a introdução alemã, decorrente da proximidade com o
paladar brasileiro (COELHO-COSTA, 2015).
A seguir descrevem-se as características da cerveja artesanal são discutidas, com o
intuito de diferenciá-las do produto das cervejarias de grande porte. O hábito de consumo
também é apresentado a fim de fornecer um embasamento para a discussão sobre a participação
das cervejarias de pequeno porte no mercado.
1.2 Características da cerveja artesanal
Primeiramente, é necessário esclarecer que a terminologia cervejas artesanais não é
utilizada para definir um estilo específico de cerveja, de volume de produção ou forma de
inserção no mercado. De acordo com Stefenon (2012) não existe um termo que apresente uma
definição precisa, ou que represente a regra geral do que seria uma cerveja artesanal. No
mercado é possível encontrar nomenclaturas, como: especial, artesanal, gastronômica,
premium, super premium, portfólio, gourmet, todavia todas estas terminologias são utilizadas
de forma a caracterizar cervejas diferenciadas.
19
Ainda segundo o autor no segmento das cervejas artesanais é possível perceber que as
microcervejarias seguem um modelo de produção, que é de pequenos volumes, mas com grande
valor agregado, com tendência a produzir rótulos e estilos distintos, para que desta forma se
destaquem no mercado através da oferta de produtos únicos.
Segundo Flores (2009) é possível considerar a cerveja produzida por microcervejarias
como artesanal, pois um produto artesanal é o resultado de um procedimento de transformação
de matérias primas e serviços, baseado num método realizado a partir de um sistema de
produção em pequena escala, que resulta numa menor quantidade de bens finais e flexibilidade
nas técnicas utilizadas. Dentre estas técnicas é possível observar a existência de sistemas
díspares, com diferentes classificações, como por exemplo, a intervenção humana e o emprego
de mecanismos industriais. Salienta-se que produção artesanal e artesanato não são sinônimos,
ao passo que a produção artesanal contém o artesanato e o inverso não se verifica. A produção
artesanal permite que um indivíduo alie a execução de uma atividade criativa à possibilidade
de geração de renda, potencializadores de um desenvolvimento econômico, e
consequentemente a melhora na qualidade de vida.
Todavia, o trabalho artesanal não deve ser visto unicamente com o viés de subsistência,
pois é uma atividade que exige competências singulares, manuais e criativas. Existem casos em
que as habilidades são legados, passados de geração para geração, ou para outros indivíduos da
mesma sociedade (KELLER, 2011). A Secretaria Especial de Micro e Pequena Empresa
(SEMPE), através da Portaria Nº 8, de 15 de março de 2012, determina que a produção artesanal
é o conjunto de processos, habilidades e métodos, produzidos por meios de produção restritos,
no viés da automatização e matérias-primas, do qual se pode obter um bem final (BRASIL,
2012).
Dentre as características encontradas nas cervejas ofertadas pelas cervejarias de
pequeno porte encontra-se a primazia pela qualidade, a identidade, a singularidade, o elemento
humano e manual frente a quantidade e a automatização. Estes produtos não são tratados como
meras mercadorias ou bens triviais, sendo considerados como diferenciados, com valores
socioeconômicos agregados, que possuem demanda aquecida em nichos específicos (FLORES,
2009; KELLER, 2011; ROMÁN, 2003).
Com base nisso, é possível supor que as cervejas artesanais não possuem uma demanda
e consumo limitado, podendo ser produzidos com exclusividade, ou em pequena escala, que
difere a cada produto; trazem consigo um valor agregado, que pode reverter num valor elevado
em relação as cervejas comerciais de grande produção. A inserção destas cervejas em nichos
específicos de mercado ocorre da forma que as cervejarias consideram proporcionar maior
20
retorno de demanda. Tal forma de inserção permite e ocasiona num contato diferenciado entre
os produtores, empreendimentos e consumidores/clientes.
De acordo com Flores (2009), Keller (2011) e Luz e Bassan (2018) identifica-se no
mercado nichos em que os consumidores demonstram interesse em adquirir produtos que
consideram diferenciados, a exemplo dos artesanais, exclusivos ou naturais, o que por sua vez
tende a elevar o valor de venda dos mesmos, ocasionando dessa forma um boom na produção
artesanal. O reaparecimento do interesse mercantil por produtos diferenciados além de
ocasionar o aquecimento de nichos específicos de mercado, como no caso das cervejas
artesanais pode refletir na sociedade, considerando que as cervejarias podem vir a aumentar o
quadro de funcionários, portanto realizar a contratação de novos funcionários, além de possíveis
capacitações extras dos funcionários já existentes.
O Rio Grande do Sul se apresenta como um estado com relevância no cenário cervejeiro,
com uma das maiores cadeias produtivas e organizada por meio de uma estrutura oligopólica
diferenciada3. Neste mercado, a fim de se destacar da concorrência, conquistar espaço e obter
maiores lucros, as cervejarias podem ter como estratégia comercial e de posicionamento, ofertar
produtos diferenciados (LUZ e BASSAN, 2018).
O consumo de cervejas decorre de um consumo hedonista, da mesma forma que em
outros nichos. O comportamento consumidor/marca (produto) é influenciado por um poder de
compra pendular (SEMPREBOM e PRADO, 2016). Neste caso, o poder sobre a decisão da
compra de um produto apresenta uma variação entre a influência que a marca detém sobre os
indivíduos, e o desejo de satisfação pessoal do consumidor.
De acordo com os autores o consumidor adquire o produto para satisfazer um desejo
pessoal, não sendo, portanto, para suprir uma necessidade do ambiente externo, a exemplo das
necessidades básicas, sem haver uma interferência direta sobre a decisão. A falta de uma
interferência sobre a escolha, e o consumo sendo decorrente de um desejo, impacta na relação
do consumidor com a marca. Pois, no consumo hedonista o consumidor tende a adquirir o
produto que mais lhe agrada, diminuindo a importância da dominância da marca no mercado.
Isto pode ocasionar numa equalização no cenário mercantil, onde os produtos industrializados,
de marcas globalizadas e os artesanais ou de pequenos empreendimentos, adquirem potencial
de compra similar.
No mercado cervejeiro artesanal três itens podem receber maior grau de consideração,
3 De acordo com Vian et al. (2013) o oligopólio diferenciado acontece quando a estrutura do mercado é formada
por um pequeno número de grandes empresas que dominam o setor, através da oferta de produtos diferenciados.
21
sendo: sabor, marca e preço. Sob esta ótica o sabor é o item de maior relevância na escolha dos
produtos adquiridos pelos consumidores, apresentando a existência de um percentual de
consumidores que conseguem perceber nuances em produtos de mesma classificação como a
cerveja. Todavia a lealdade dos consumidores à escolha de uma marca, está mais suscetível ao
quesito preço. Para os autores, a fidelidade para com uma marca pode ser, com variação de
marca para marca, sensível aos preços dos concorrentes (LUZ e BASSAN, 2018; BOTELHO
e URDAN, 2005). Porém para Hernández et al. (2011) uma maior lealdade reflete numa
predisposição a repetir a compra e a pagar um preço mais elevado, em relação à concorrência.
O padrão de consumo de cerveja no Brasil está em processo de transformação, sendo
possível perceber uma intensificação após a década de 1990. Dentre as transformações
perceptíveis encontra-se a crescente preferência por produtos diferenciados, refletido no
consumo de vinhos finos, cafés exclusivos e seguido pelas cervejas especiais. Esse crescente
interesse, no caso por cervejas especiais, leva a formação de um mercado que apresenta
características de oligopólio diferenciado, pois as cervejarias passam a buscar na elaboração e
na oferta de produtos diferenciados, algo que as distingue no cenário cervejeiro (STEFENON,
2012).
A partir da literatura apresentada pode-se observar que a cerveja tem no decorrer dos
tempos uma importância socioeconômica relevante, desde sua gênese na Suméria, e no Egito
Antigo, bem como durante a Idade Média e a proximidade com a Igreja Católica e os
monastérios, até a contemporaneidade e a busca por produtos artesanais. O Brasil desde a
instalação da primeira cervejaria, trazida por Nassau, se tornou um país com um mercado
cervejeiro baseado numa estrutura de oligopólio e de produtos diferenciados, tendo durante
períodos o estado do Rio Grande do Sul como expoente, visto que é um dos estados com maior
concentração de microcervejarias.
A importância da cerveja no desenvolvimento dos indivíduos torna-se mais relevante
ao observar as singularidades das microcervejarias e seus aspectos mercadológicos. Pois, as
microcervejarias apresentam características naturais aos empreendimentos de pequeno porte e
que, portanto, as diferenciam das cervejarias comerciais de grande porte. Dentre características
é possível citar a diferença da realidade resultante da análise “trabalhadores X hectolitros”, e a
influência que essa questão pode ter sobre o território que a circunda.
Para que se possa compreender melhor a relevância da cerveja na economia, tanto
nacional quanto internacional, e que resultados pode ocasionar no desenvolvimento dos
indivíduos, na sequência será discorrido sobre a literatura referente às cervejarias de pequeno
porte e às características que as fazem serem consideradas artesanais, bem como a dinâmica do
22
mercado cervejeiro em que estão inseridas.
2 MICROCERVEJARIAS: SUAS SINGULARIDADES E O MERCADO
Este capítulo traz autores que discorrem sobre as cervejarias de pequeno porte e as
características que distinguem, em tamanho ou tipo. A literatura utilizada também dialoga com
a presença das cervejarias no mercado, tendo como um dos principais autores utilizado
Schumpeter (1988) e a Teoria do Desenvolvimento.
2.1 Microcervejarias e a inovação através de suas características
O setor cervejeiro possui duas facetas comerciais em que a primeira é formada por
grandes cervejarias, com produção em larga escala, pertencentes a corporações com alcance
global; e a segunda, onde situam-se os pequenos e médios empreendimentos, cervejarias que
apresentam baixa capacidade de produção, com alcance predominantemente local ou regional.
De forma generalizada as cervejarias de menor porte são denominadas de micro cervejarias,
todavia é possível distingui-las pelo alcance local ou regional, e pelo objetivo, como fabricação
para o próprio bar ou restaurante, dentre outros (MATOS, 2011; GONTIJO e GESSNER,
2015).
De acordo com Matos (2011) ao analisar as grandes cervejarias, que sobretudo oferecem
aos consumidores cervejas do tipo pilsen é possível perceber a capacidade de produzir em
grande quantidade, com o objetivo de diminuir o custo de produção, que permite operar no
mercado utilizando uma margem de lucro reduzido, diminuindo a possibilidade da entrada e
crescimento de concorrentes, tanto de produto como de empresas. Esta parcela do mercado
desperta uma competitividade impetuosa, com as empresas optando por utilizar insumos mais
baratos, no emprego de antioxidantes e estabilizantes nas fórmulas, com o intuito de diminuir
os custos decorrentes de perdas. Visto que a cerveja é um produto perecível é necessário
cuidado com a qualidade dos processos de produção e com a distribuição.
É possível observar o interesse dos produtores em se conectarem através de associações
(ou a terminologia definida pelo grupo), que possuem uma gestão ligada no fortalecimento do
coletivo. O advento destes grupos decorre da intenção de obter respostas para as necessidades
individuais (SCRAMIN, 2011). Dentre as interações existentes no cenário cervejeiro,
encontram-se associações como: a Associação dos Cervejeiros Artesanais do Rio Grande do
23
Sul (Acerva Gaúcha); a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (ABRACERVA); e
também de associações municipais ou regionais, como a Associação de Cervejeiros Artesanais
de Igrejinha (ACERVAI), do município de Igrejinha/RS. Esta forma de associativismo pode
proporcionar o acesso aos canais de distribuição e comercialização, que poderá resultar no
desenvolvimento, através da geração de renda, educação continuada e a melhora na qualidade
de vida.
Nos EUA o segmento em que as cervejarias de pequeno e médio porte se inserem é
denominado de Craft Brewing. O Craft Brewing teve início nos anos 1970, na Inglaterra. Dentre
as cervejarias encontradas nesse segmento destaca-se as minis cervejarias, as cervejarias
gastronômicas e as cervejarias regionais (KALNIN, 1999).
Para Kalnin (1999) o conceito de mini cervejaria é utilizado de maneira abrangente e
genérica, ao passo que existe a necessidade de que o segmento seja determinado, por meio da
utilização de nomenclaturas que definam de forma mais coerente as cervejarias, como pode ser
observado no Quadro 1.
QUADRO 1: Tipos de cervejarias de pequeno porte
CERVEJARIA DEFINIÇÃO
Brewpub
(Cervejaria para Gastronomia)
O volume de produção está relacionado à
demanda do estabelecimento. Tende a ser a
extensão de um restaurante, ou similar.
Mini cervejaria ou Microcervejaria A produção tem como destino principal a
comercialização externa ao local de produção.
Devido à baixa capacidade de produção o
mercado atendido tende a ser apenas local.
Cervejaria Regional Assim como no caso da Mini cervejaria o foco
continua sendo a comercialização fora do local
de produção. Todavia, com a maior capacidade
de produção, a oferta do produto, e a área
atendida expande.
Contract Brewing
(Produção por Contrato)
A cervejaria é responsável pelo
desenvolvimento e a comercialização do
produto. Contudo, a produção é terceirizada. Fonte: Adaptado por Kalnin (1999) com base na nomenclatura do Institute of Brewing Studies (IBS)
No Brasil, diferentemente dos EUA, a definição para as cervejarias de pequeno porte,
as distinguem em três segmentos, conforme pode ser observado no Quadro 2, criado a partir do
estatuto da Associação Brasileira de Cervejas Artesanais (ABRACERVA, 2019).
24
QUADRO 2: Conceitos de Cervejarias ABRACERVA
CERVEJARIA DEFINIÇÃO
Microcervejaria Brasileira Empresa com sede no Brasil, de capital
predominantemente nacional (mais que 50%),
detentora de registro de estabelecimento
produtor junto ao MAPA4, que produza as
próprias marcas, ou marcas de terceiros sob
encomenda, podendo ou não comercializar no
próprio local e que produz até 50.000
hectolitros de cerveja anuais, e que não tenha
como integrante do quadro societário
empresas do ramo cervejeiro que produzam
volume superior a 50.000 hectolitros.
Microcervejaria Associada Empresa com sede no Brasil, de capital
predominantemente nacional (mais que 50%),
que seja detentor dos direitos de produção e
dos direitos de marca de cerveja, e que produz
em planta terceirizada ou sob encomenda e
comercializa, mas que não seja proprietário de
planta de produção, não tendo registro de
estabelecimento produtor perante o MAPA, e
que produz até 50.000 hectolitros de cerveja
anuais, que não tenha como integrante do
quadro societário empresas do ramo
cervejeiro, que produzam volume superior a
50.000 hectolitros.
Brewpub Empresa com sede no Brasil, de capital
predominantemente nacional (mais que 50%),
detentora de registro de estabelecimento
produtor junto ao MAPA, que produza as
próprias marcas para comercialização
exclusivamente no local de produção, e que
produz até 50.000 hectolitros de cerveja
anuais, que não tenha como integrante do
quadro societário empresas do ramo
cervejeiro, que produzam volume superior a
50.000 hectolitros.
Fonte: Abracerva (2019)
Com base nas definições americanas e brasileiras pode-se destacar um ponto em
especial, que tange às características do Brewpub, pois ambas se distinguem na questão de
comercialização da produção. Enquanto o Institute of Brewing Studies (IBS) considera que o
brewpub a produção está relacionada com a demanda, a Abracerva define que a comercialização
da produção é exclusivamente no local.
Uma das singularidades das cervejarias artesanais é a produção de cervejas
4 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
25
diferenciadas, utilizando produtos disponíveis a todo o setor, distinguindo-se das cervejarias de
grande porte pela produção em menor quantidade, a diversidade, a escolha de ingrediente, os
sabores e a comercialização.
Schumpeter (1988) afirma que a produção é o ato de conciliar materiais ou forças
disponíveis ao produtor. Da mesma forma, é possível produzir os mesmos produtos, ou novos,
de forma distinta, ao utilizar diferentes insumos ou métodos. A evolução da utilização de novos
insumos ou métodos pode apresentar uma constância, através da mudança em pequenas etapas.
Sendo que ao se observar a combinação de novos produtos, métodos, e afins, de forma
descontínua, é plausível supor que esteja ocorrendo uma das manifestações que caracterizam o
desenvolvimento. Ainda de acordo com o autor, cinco combinações podem caracterizar o
desenvolvimento, sendo a introdução de: i) um novo bem, seja inédito, ou nova versão; ii) um
novo método, testado ou não, de produção ou comercial; iii) um novo mercado, entrada num
mercado existente, ou a abertura do mesmo; iv) fonte de oferta de matérias-primas ou de bens
semimanufaturados, existente ou criada; v) uma organização industrial, podendo ser a criação
de um monopólio ou a intenção de fragmentar.
Com base nas afirmações de Schumpeter (1988) é possível supor uma correlação com
as pequenas cervejarias e o mercado cervejeiro. A inovação poderia ser vista por uma
perspectiva em que as pequenas cervejarias, apesar de produzirem os mesmos produtos
(cerveja, chopp, afins) que os grandes grupos cervejeiros, se distinguem ao ofertar novas
versões do produto, seja na forma, no sabor, no estilo, ou outro. As pequenas cervejarias
estudam formas de se inserir no mercado, seja local, atacado ou varejista, produzindo dessa
forma novos nichos comerciais, como os brewpubs que tem em anexo um bar ou restaurante,
parcerias de distribuição, formas de gerenciamento, posicionamento de marca e outros.
O aumento das microcervejarias, constatado pelo Brasil (2018), demonstra que também
é perceptível uma modificação no cenário do mercado cervejeiro brasileiro, com o aumento do
número de cervejarias e de produtos registrados. Demonstrando que pode vir a ocorrer uma
transformação na atual participação das cervejarias, comerciais e artesanais no mercado
brasileiro.
Schumpeter (1988) afirma que as combinações tendem a aparecer em novos
empreendimentos:
Em primeiro lugar não é essencial — embora possa acontecer — que as combinações
novas sejam realizadas pelas mesmas pessoas que controlam o processo produtivo ou
comercial a ser deslocado pelo novo. Pelo contrário, as novas combinações, via de
regra, estão corporificadas, por assim dizer, em empresas novas que geralmente não
surgem das antigas, mas começam a produzir a seu lado; para manter o exemplo já
26
escolhido, em geral não é o dono de diligências que constrói estradas de ferro
(SCHUMPETER, 1988, P. 77).
Partindo da premissa do autor, de que as combinações imperitas partem de empresas
novas, a transformação no cenário do mercado de cervejas no Brasil, decorre do surgimento das
pequenas cervejarias, que podem ser o reflexo do aumento do interesse do brasileiro por
produtos diferenciados, e da cultura cervejeira. Esse ponto reflete no formato que o mercado se
apresenta, de um oligopólio diferenciado, onde as cervejarias tentam se distinguir e destacar
através da oferta de produtos diferenciados, e que possuem valor agregado (STEFENON, 2012;
GONTIJO e GESSNER, 2015; LUZ e BASSAN, 2018; KALNIN, 1999; SUZUKI, 2010;
MORADO, 2009).
Como forma de se diferenciar no atual cenário mercantil, as empresas buscam formas
de construir e manter vínculos mais intensos com os consumidores. Empresas que apresentam
pouca diferenciação ou disparidade de custo, buscam se adequar a realidade do mercado em
que estão inseridos (MACHADO e GIRALDI, 2008; SCHMIDT, 2011). Ballester e Sabiote
(2011) complementam que nos dias de hoje, não basta mais ter um bom produto, é essencial
diferenciá-lo da concorrência, considerando a distinção entre as cervejas comerciais e as
consideradas artesanais, criando laços e experiências.
Por estes motivos as cervejarias de pequeno porte estão encontrando e aproveitando
nichos específicos no mercado cervejeiro, desde novas formas de inserir seus produtos no
mercado, como no caso dos brewpubs, como na escolha por ofertar produtos diferenciados.
2.2 As microcervejarias e o mercado cervejeiro
A produção de cerveja no Brasil acompanha a disposição mercadológica observada em
nível mundial, possuindo duas frentes: a primeira, liderada pelas grandes companhias, que
apontam como dominantes no cenário, através da produção de grandes volumes e atuação
nacional e, a segunda, conta com pequenas e médias empresas, preocupadas em oferecer
produtos de maior qualidade para nichos específicos, e que tendem a trabalhar regionalmente
(GONTIJO e GESSNER, 2015).
No cenário mundial da indústria da cerveja identifica-se o domínio comercial por quatro
grandes corporações, que envolvem 44,8% do volume total de vendas, que se distribuem da
seguinte forma: i) AB-InBev, 20,2%; ii) SAB-Miller, 9,5%; iii) Heineken, 9%; iv) Carlsberg
6,1%. Além de poucas companhias possuírem o domínio sobre o mercado mundial de cerveja,
é perceptível a existência de tal domínio em mercados nacionais, a exemplo do Brasil, Japão,
27
Polônia e México, nesses países encontra-se um controle superior a 90%, exercido apenas por
três empresas (MARCUSSO, 2015).
O domínio do mercado de cervejas pelas grandes companhias possibilitou a criação de
um cenário propício para o surgimento e crescimento das pequenas cervejarias. Com base na
estratégia de produção de grandes volumes e distribuição em todo território nacional, para
redução de custos e aumento da lucratividade, as grandes cervejarias focam na distribuição de
cervejas padronizadas, com intuito de agradar a todos os paladares, sem apresentar sabores
únicos.
O mercado cervejeiro brasileiro é concentrado entre quatro grandes companhias
cervejeiras, que somando o volume de vendas possuem aproximadamente 98% do mercado
nacional, sendo que as cervejarias de menor porte detêm pouco mais de 1%. Desta forma, o
mercado de cervejas no Brasil se estrutura através do oligopólio com grande concentração. Esta
concentração é exemplificada através do domínio superior a dois terços do mercado por apenas
uma companhia, a AmBev, que é responsável por 68% do mercado brasileiro, sendo seguida por
outras três companhias: Grupo Petrópolis com 11,3%, seguida pela Brasil Kirin com 10,7% e a
Heineken Brasil com 8,6% (MARCUSSO, 2015).
De acordo com Santos (2004) esta contraposição entre cervejarias de grande e de
pequeno porte já existiam nos anos de 1860 e 1870, quando surge a primeira cervejaria com
capacidade de produção industrial, a Friederich Christoffel, na cidade de Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul, que chegou a produzir mais de um milheiro de garrafas no ano de 1878. O nicho
comercial das cervejas especiais representa uma pequena parcela do total do mercado, em que
se observa geração de pequenos volumes de produção, que trazem consigo elevado valor
agregado (KALNIN, 1999; STEFENON, 2012). O desígnio das cervejarias de menor porte é
surpreender a demanda existente neste nicho comercial, através da oferta de produtos com
sabor, aroma, flavor diferenciados. Esse propósito é soberano ao porte da cervejaria, que sabe
que o interesse do consumidor gera a disposição por pagar valores superiores pelos produtos
(STEFENON, 2012). A concepção de que o consumidor tem o poder de adquirir produtos
diferenciados, desenvolvidos de forma conceitual, que utilizam melhores produtos e possuem
qualidade diferenciada, possibilitou que as pequenas cervejarias obtenham uma vantagem
competitiva em relação a concorrência (STEFENON, 2012).
A partir dos anos 1990 inicia nos EUA a consolidação das cervejarias de menor porte,
conseguindo estabelecer uma produção com qualidade, constância e aperfeiçoamento de
receitas e técnicas, além do nascimento de uma cultura cervejeira multíplice. As cervejarias de
grande porte tentaram asfixiar esta consolidação, lançando produtos diferenciados, todavia, não
28
conseguiram obter sucesso em superar a expansão desses empreendimentos (BREWERS
ASSOCIATION, 2018).
De acordo com a BREWERS ASSOCIATION (2018) os EUA terminaram o ano de
2017 com 6266 cervejarias de pequeno porte, sendo: i) 202 cervejarias regionais; ii) 3812
microcervejarias; iii) 2252 brewpubs. Apresentando um crescimento médio de 15,5% em
relação ao total do ano anterior, destaque para as microcervejarias que apresentaram um
crescimento de 19,3%. A participação financeira das pequenas cervejarias na economia norte-
americana chegou ao montante de US$ 67,8 bilhões de dólares no ano de 2016, através do
sistema de três níveis (cervejaria, atacadista e varejista). Stefenon (2012) aponta que o egresso
dos consumidores das cervejas comerciais para as cervejas especiais tem sido um fator
impactante para o crescimento das cervejarias de menor porte. Fato que na Europa, ocasiona na
expansão de micro cervejarias, como no caso do Reino Unido, onde apenas no ano 2009 foram
criadas 70 cervejarias, contrastando com a diminuição das vendas de cervejas comerciais.
As cervejarias de menor porte encontraram no Brasil um mercado aquecido, devido ao
momento da demanda, que apresenta aumento da renda e apelo dos consumidores por produtos
diferenciados. O posicionamento estratégico das cervejarias em ofertar produtos diferenciados
proporciona um fortalecimento da marca em meio a um cenário competitivo e altamente
concentrado (STEFENON, 2012).
O mercado de cervejas especiais no Brasil ainda é modesto e tem amplitude para
assimilar um aumento na produção, tendo capacidade para equiparar com a média mundial que
é de 11%, a exemplo Europa que apresenta média de 12% e dos EUA em que o total de vendas
de cervejas especiais é de 20% (GONTIJO e GESSNER, 2015; STEFENON, 2012).
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2018), o Brasil
encerrou o ano de 2017 com 679 cervejarias legalizadas e com 8903 produtos registrados, tendo
a região sul e sudeste como expoentes. Os estados com maior número de cervejarias registradas
são respectivamente Rio Grande do Sul (142), São Paulo (124), Minas Gerais (87). A
participação da produção cervejeira no PIB do Brasil em 2017 foi de 1,6%, com faturamento
de R$ 107 bilhões (CERVBRASIL, 2018). Paralelo a isso Marcusso (2015) apresenta o fato de
que mesmo as cervejarias de pequeno porte representando uma reduzida parcela do mercado,
possui uma correspondência entre produção (hectolitro) por empregado, superior as grandes
companhias. Sendo que, nas cervejarias dominantes existe uma necessidade de 2 empregados
por hectolitro, nas cervejarias de pequeno porte a taxa sobe para 30 por hectolitro.
O mercado cervejeiro rio-grandense, além de contar com o maior número de cervejarias,
é estruturado através de um oligopólio do tipo diferenciado. Esta indústria é marcada pela
29
competição entre as empresas através do oferecimento de produtos diferenciados. Contudo, a
concorrência através da disputa de preços também é perceptível, embora em menor intensidade.
As microcervejarias tendem a centrar os esforços nos seus produtos, principalmente na
publicidade e comercialização e no desenvolvimento de novos produtos. Conforme Luz e
Bassan (2018), para uma marca assumir um papel de liderança no mercado cervejeiro é
essencial a existência de estratégias empresariais, de investimento e de comunicação com o
público-alvo.
Tendo como base o faturamento de R$ 107 bilhões (CERVBRASIL, 2018), o setor
cervejeiro apresentou no ano de 2017 uma participação das pequenas cervejarias de 1,6%. Pode-
se presumir que as operações (na totalidade) destas cervejarias sejam de aproximadamente R$
6,68 bilhões. Considerando-se que a participação das cervejarias de pequeno porte norte-
americanas é de 20%, podemos supor que existe uma margem de 18,4% para crescimento, que
representaria um salto de R$ 19,26 bilhões, totalizando um montante de R$ 21,4 bilhões de
participação na economia nacional.
Sendo assim, é possível supor que as cervejarias de pequeno porte podem aproveitar
essa oportunidade de crescimento para inserirem seus produtos no mercado, e
consequentemente possibilitar que venha a ocorrer um desenvolvimento socioeconômico do
território em que estão inseridas.
2.3 As microcervejarias e o conceito de território
O termo território é genericamente empregado para definir uma extensão de superfície
territorial, onde estão inseridos grupos sociais, instituições, organizações e indivíduos, que
possuem relação de poder.
A territorialidade humana e seu substrato material, com todas as características
naturais e as socialmente construídas são termos que encerram uma única assertiva –
resultam de relações sociais desenvolvidas entre os diferentes agentes mediadas pelo
poder e projetadas numa dada porção do espaço geográfico, que se torna território
(BRITO, 2005, p. 117).
Com base na afirmação de Brito (2005), as cervejarias de pequeno porte podem exercer
uma influência sobre o território, que consiste no município em que possui sua base produtiva
e administrativa, e de municípios limítrofes, ou não, que possuam relações, que decorre do
poder que é oriundo de relações econômicas existentes com os respectivos indivíduos. A relação
de influência que esses empreendimentos podem exercer, têm como decorrência a possibilidade
de que o município sede seja o mais impactado, do ponto de vista dos recursos humanos,
30
outrossim, existe a possibilidade de que os moradores deste município sejam beneficiados com
a criação de postos de trabalho, com geração de renda e melhoria da qualidade de vida.
Da mesma forma, é plausível supor que o município apresenta interesse no recolhimento
dos impostos resultantes das atividades do empreendimento. Estes fatores evidenciam uma
característica marcante das cervejarias de menor porte, a criação de emprego superior às marcas
dominantes, se comparado o volume de produção e o quadro de funcionários (LUZ e BASSAN,
2018).
Ao analisar um território o questionamento ímpar a fazer é sobre os processos
socioeconômicos existentes, entender por que se encontram neste local e não em outro, suas
dinâmicas, carências e déficits. Esta indagação possibilita explorar as razões que diferenciam
um território entre: receptor, que carece de intenções, ao passo de se conformar com os
interesses mercantis individuais; ou espaço-plataforma homogêneo, no qual aglomerações
humanas e atividades humanas tendem a estar agrupadas numa escala regular, sem fricções ou
imperfeições que impeçam uma competição espacial (BRANDÃO, 2011).
O território em que uma cervejaria de pequeno porte está instalada pode ser conceituado
como espaço-plataforma por apresentar características que se assemelham a este conceito. A
presença de empreendimentos de pequeno porte pode vir a fomentar a criação de uma
competitividade espacial. No caso do objeto de referência deste estudo, a Cervejaria Stier Bier,
de acordo com IBGE (2018) o município de Igrejinha apresenta outra particularidade
resultantes das atividades produzidas pela população pertencentes ao território, decorrente de
sua origem predominantemente germânica: um dos expoentes na produção de calçados
femininos.
Tais pontos se tornam ainda mais relevantes quando observados sob o ponto de vista do
capital social, que considera traços culturais característicos de uma comunidade, fatores
contributivos para que os indivíduos sejam propensos a participar na busca por soluções a
necessidades comuns. Desta forma, pode ocorrer a cooperação entre indivíduos e o subsídio
para políticas de fortalecimento à competitividade, em diversos níveis, como setorial, regional
ou local.
Existe uma alternativa ao território baseado no pensamento na teoria neoclássica, onde
nenhum território é passivo, ou exclusivamente receptor, por ser uma produção social. Esse
pensamento procura analisar os conflitos e as disputas que estruturam e estão ao redor do
ambiente social. Segundo Brandão (2011) não existe um modelo ímpar a ser seguido na busca
pelo desenvolvimento, mas múltiplas vias e trajetórias. De acordo com a mesma teoria, é
possível realizar a comparação entre território e mercado, ao considerar que o território é uma
31
entidade que tem capacidade para tomar decisões soberanas e racionais, com base em
informações e análise de fatores. Contudo, da mesma forma que um território pode ser passivo
ao mercado, um território dinâmico não tem controle sobre o mercado, sendo um recurso para
os dominantes mercantis, este apenas tem o poder de tentar ajustar a balança socioeconômica
ao superar os atritos inerentes ao sistema mercantil.
Observa-se dessa forma que o território das cervejarias de pequeno porte é formado a
partir do interesse de indivíduos, representando desta forma um dos conceitos basilares de Brito
(2005) sobre a definição de território, que são distinção, dimensão e organização, onde: o
primeiro, afirma que a territorialidade humana reflete os interesses dos indivíduos, passando
por questões econômicas e políticas, enquanto a territorialidade animal segue os instintos e a
natureza biológica; o segundo, os territórios não possuem dimensão fixa, podendo não ser
imóveis, a exemplo de navios, e duração temporal de um território também é flexível, sem prazo
para iniciar ou findar; por fim, os territórios são espaços que se organizam ao redor de uma
liderança, que exerce poder sobre os demais que o circunda, podendo exercer poder sobre um
ou mais territórios.
Abramovay (2006) complementa afirmando que um território pode, não somente, ser
formado a partir da existência de um agente que exerça poder sobre os demais, como o território
pode estar intimamente ligado ao mercado existente dentro, ou que forme, este território. Isto
ocorre devido ao fato de que as regras sobre as quais o mercado funciona, podem refletir e
correlacionar os diferentes grupos sociais que participam e dependem deste. Da mesma forma
que o ambiente cultural também pode influenciar a constituição do território. Sendo assim a
dinâmica de mercado não existe de forma autônoma da sociedade, havendo a necessidade de
que a sociedade legitime a dominação decorrente (SABOURIN, 2002).
Portanto, o conceito território observa a distinção, os interesses econômicos e políticos;
a produção social do espaço e do ambiente; a divisão social do trabalho, que investiga a
dimensão espacial; e pôr fim a intersetorialidade, a contextualização da constituição sócio
produtiva num cenário maior, de demanda e oferta, e a relação entre o território, sociedade e o
mercado (ABRAMOVAY, 2006; BRANDÃO, 2011; BRITO, 2005; SABOURIN, 2002)
Considerar as características da produção e da divisão social, levando em conta a
intersetorialidade existente, no decorrer de um planejamento focado no desenvolvimento,
permite que a resposta seja mais próxima, como afirma Lima (2006):
[...] defende que é pela especialização de cada espaço nas atividades para as quais ele
é melhor dotado que será alcançado o ótimo, permitindo que o desenvolvimento seja
mais rápido. A este modelo de desenvolvimento regional, dito funcional por Aydalot,
ainda se associam as ideias de independência da evolução dos espaços e de
32
convergência dos níveis de desenvolvimento regional, como respostas neoclássicas à
questão sobre as fontes de desigualdade regional (LIMA, 2006, p. 69).
Partindo da afirmação do autor de que o desenvolvimento pode ser alcançado de forma
mais ágil, através da priorização das competências já encontradas no território, presume-se que
os cidadãos dos municípios sede das cervejarias de pequeno porte apresentam características
que permitem a expansão de atividades ligadas a produção de cervejas artesanais e especiais.
Dentre as características pode-se citar a questão cultural com a presença marcante de imigrantes
alemães e o pioneirismo já demonstrado por alguns municípios, como no caso do município de
Igrejinha (IBGE, 2018). Complementando este argumento é possível supor que o município de
Igrejinha/RS pode vir a demonstrar indicadores que sustentem a suposição de que está
ocorrendo um desenvolvimento econômico e social, ao passo de que a cervejaria pode ser
considerada um input, que está inserida num mercado hierarquizado.
A presença das cervejarias artesanais pode promover uma perspectiva de
desenvolvimento regional, através do reflexo decorrente da participação no mercado, como por
exemplo: geração de empregos, aumento da renda, melhora na qualidade de vida dos
colaboradores, recolhimento de impostos, investimentos, dentre outros (ROJAS, 2012).
As microcervejarias ao buscar a inserção de seus produtos no mercado tendem a
apresentar características baseadas na inovação, seja de produção, produtos e outros. Tal
fenômeno além de permitir a participação desses empreendimentos no mercado, também pode
ser visto como uma alternativa para o rompimento da estrutura de poder consolidada, seja no
cenário nacional, ou internacional. O rompimento de estrutura pode se refletir nos indivíduos
direta e indiretamente ligados ao setor cervejeiro. Essa suposição parte da premissa que ao
considerar que as microcervejarias apresentam uma demanda maior de trabalhadores por litro
produzido, e que tal característica pode ser compreendida como uma forma de geração de
emprego e renda, e, portanto, uma redistribuição de renda.
Ao longo desse capítulo foi discorrido sobre as cervejarias de pequeno porte, que no
Brasil foram designadas como microcervejarias, pela ACERVA, os brewpubs apesar de
receberem uma nomenclatura diferenciada, podem ser observados sob as mesmas premissas
das microcervejarias, pois ambos compartilham características básicas, como a produção
máxima de 50.000 hectolitros anuais.
No capítulo a seguir serão apresentadas abordagens que discutem sobre os indicadores
socioeconômicos, com a finalidade de se poder realizar uma análise de como as
microcervejarias podem estar contribuindo para a redistribuição de renda e influenciando no
desenvolvimento do território em que estão inseridas.
33
3 OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS, A ECONOMIA REGIONAL E O
DESENVOLVIMENTO DO TERRITÓRIO
O Estado nos territórios em desenvolvimento ou subdesenvolvidos busca enfrentar os
problemas crônicos existentes, como o desemprego elevado, as desigualdades sociais, a
concentração da riqueza, através do desenvolvimento regional, proporcionando políticas que
reflitam na geração de emprego e renda, redistribuição de renda, na reestruturação
socioeconômica e política, e melhora dos indicadores socioeconômicos (FURTADO, 1983;
BOISIER, 2016; VIEIRA e SANTOS, 2012; JANNUZZI, 2006).
Para avaliar as condições de uma sociedade é preciso partir do conceito de
desenvolvimento que difere de crescimento. Vieira e Santos (2012) e Erber (2011) diferenciam
os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento econômico, em que: o crescimento
econômico é a ampliação da capacidade de produção de uma economia, ou seja, produção bens
e serviços; o desenvolvimento econômico, por sua vez, ocorre quando o crescimento econômico
está acompanhado por uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos e na diminuição das
desigualdades entre os estratos sociais. Os autores complementam dizendo que os indicadores
que podem ser utilizados para calcular o crescimento econômico são o Produto Nacional Bruto
(PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB). Outras variáveis que podem ser analisadas são: a força
de trabalho; a receita poupada e investida, e o aperfeiçoamento tecnológico.
Oliveira e Lima (2012) sustentam que as teorias do crescimento e desenvolvimento
apesar de possuírem formas de análise coexistentes, se distinguem no objetivo e enfoque. Ao
passo que as teorias de crescimento regional têm como interesse central a macroeconomia, que
dentre os indicadores utilizados está o PIB, como um fator do crescimento regional.
Granito et al. (2007) ao dialogarem sobre a importância do desenvolvimento alegam
que:
Assim, a questão do desenvolvimento local ganha amplitude quando associada a um
contexto de globalização, em face dos movimentos de reestruturação produtiva e da
crise do padrão de desenvolvimento. Esse tema, portanto, emerge como uma resposta,
no âmago das disputas em torno de alternativas e caminhos, o que lhe dá um caráter
estrutural e universal (GRANITO et al., 2007, p. 2).
A partir da globalização existente, o desenvolvimento regional, se apresenta como um
tema emergente, devido às possibilidades e reflexos que pode promover como, ferramenta de
promoção de liberdade, reestruturação socioeconômica e de transformação social.
O desenvolvimento é o processo de transformação social, no qual ocorre uma melhora
na qualidade de vida dos indivíduos e a diminuição das desigualdades sociais. Havendo a
34
necessidade da utilização de diferentes indicadores econômicos e sociais, para a verificação da
evolução dos dados. Sendo assim, o desenvolvimento social, pode fomentar alterações na
estrutura social de um território e de seu dispositivo cognitivo, a reestruturação do poder
político, social e econômico. Porém, não é um processo localizado e, sim, um processo social
global (BASSAN, 2014; VIEIRA e SANTOS, 2012).
A economia regional é um debate já difundido na literatura nacional, onde destaca-se as
aglomerações produtivas locais como uma das ferramentas essenciais para o desenvolvimento
de um território. Para que possa ocorrer um debate sobre os resultados encontrados na realidade
empírica, junto a tríade sociedade, Estado e setor privado é necessário num primeiro momento
a identificação das principais aglomerações existentes, e compreender a relação para com as
demais, bem como os reflexos decorrentes (CROCCO et al., 2006). Neste caso específico
estuda-se a cadeia produtiva da cerveja artesanal, bem como as atividades produtivas que
podem ser influenciadas direta ou indiretamente pela mesma.
Brum (2017) define a conceito da economia regional ao apresentar a importância desta
para o desenvolvimento:
A economia regional se situa no campo de estudo da chamada economia espacial, a
qual tem a preocupação de estudar a localização de determinada atividade econômica
em relação a outras atividades econômicas, destacando aspectos como proximidade e
concentração. Esta economia espacial tem sido dividida em das abordagens:
locacional e regional. No caso desta última, a preocupação e com agrupamentos ou
aglomerações das atividades econômicas, sociais políticas e administrativas inter-
relacionadas e próximas, dentro de áreas geográficas, chamadas regiões. Portanto,
trata-se de uma abordagem com um viés macroeconômico (BRUM, 2017, p.147-148).
Segundo o autor a importância de um estudo sobre a economia regional se dá pela
necessidade da identificação das especificidades econômicas de um território, e da compreensão
destas enquanto base produtivas dinâmicas. Compreender a base produtiva permite que tanto
os gestores públicos, quanto os empreendedores tenham sustentação para a tomada de decisões,
enquanto políticas públicas ou de mercado.
Ainda a partir da definição apresentada por Brum (2017) supõe-se que analisar a
evolução de indicadores socioeconômicos dos territórios em que estão inseridos pode
possibilitar o entendimento de que as microcervejarias registradas no MAPA formam um APL
da cerveja, que por sua vez pode ser responsável pelo desenvolvimento socioeconômico dos
indivíduos por ela influenciados.
Isard (1962) complementa afirmando que a preocupação pode ser não somente em
relação a compreensão da base produtiva, mas também a relação com as políticas existentes.
[...] the regional analyst may be concerned not so much with finding which industries
35
can best use an abundant resource as with finding industries to diversify the economic
base of the community. Or he may be concerned with possible lines of development
in a region committed to a specific policy of small industries or small plants or both.
Or he may be concerned with the change over time of the spatial pattern of population
and total employment, or with the change over time in the degree to which one or
more industries are material- or market-oriented (ISARD, 1962, p.249).
De acordo com o autor o objetivo de uma análise sobre a base produtiva, pode ter como
objetivo principal não somente identificar as atividades econômicas dominantes, ou que
apresentem maiores indicadores, mas sim encontrar oportunidades de diversificar a economia.
A diversificação além de possibilitar uma forma de manter a economia aquecida, caso venha
ocorrer o enfraquecimento das principais cadeias produtivas, pode gerar uma reestruturação
socioeconômica do território, a partir da presença de novas cadeias produtivas propulsivas e de
seus empreendimentos.
Desta forma, a compreensão da relação das microcervejarias com o território também é
pertinente sobre o ponto de vista das políticas públicas, que ao supor tal entendimento pode
sugerir necessidades e demandas. Um exemplo deste ponto de vista, é a sugestão de programas
de educação continuada, seja de viés patronal, como dos trabalhadores e a busca por uma
melhor qualificação profissional.
Boisier (2016) diz que desenvolvimento regional pode ser observado sob dois pontos
distintos: o primeiro, o “top down” de orientação neoclássica que almeja a diminuição da
desigualdade territorial e inter-regional, além do crescimento econômico; o segundo, “botton
up” que valoriza o capital social existente no território, ao buscar um desenvolvimento
endógeno. O autor também destaca a complexidade de definir o conceito Desenvolvimento
Regional:
Obsérvese la complejidad de esta definición al combinar três dimensiones: una
dimensión espacial, una dimensión social y una dimensión individual. El ‘progreso’
de la región debe entenderse como la transformación sistemática del territorio regional
en un ‘sujeto colectivo’ (cuestión que muchos, por raziones ideológicas, discuten); el
‘progreso’ de la comunidad debe interpretarse como el processo de fortalecimento de
la sociedade civil y el logro de una percepción de pertenencia regional y el ‘progreso’
de cada indivíduo debe interpretarse com la remoción de toda clase de barreras que
impeden a una persona determinada, membro de la comunidad em cuestión y
habitante de la región, alcanzar su plena realización como persona humana (Boisier,
2016, p. 30).
A existência de empreendimentos de pequeno porte, a exemplo da Cervejaria Stier Bier,
pode permitir uma descentralização do poder, exercido principalmente pelas grandes
cervejarias. A descentralização por sua vez possibilita a participação e inserção de novos
empreendimentos no mercado, tanto cervejeiro, quanto nas demais áreas da economia,
possibilitando que ocorra um desenvolvimento a partir das camadas mais baixas e um
36
planejamento de “botton up”, principalmente no âmbito da gestão social.
No mercado da indústria cervejeira é possível observar o poder de grandes grupos
econômicos sobre o território nacional e com domínio quase absoluto do volume de vendas,
deixando para as cervejarias de pequeno porte uma participação levemente acima de 1% do
total do mercado. O poder econômico e de mercado das grandes cervejarias exerce uma
hegemonia sobre os territórios, mantendo a maior parcela da produção e do consumo sobre seu
domínio, ou seja, as grandes marcas dominando o sistema mercantil.
Oliveira e Lima (2012) destacam a importância do conceito de pertencimento:
Em segundo lugar, além do crescimento econômico, para haver sustentabilidade é
necessário desenvolver um crescente sentido coletivo e de pertencimento a região,
uma capacidade de organização social e política que se articule a um projeto político
local, e um progressivo aumento da autonomia para tomada de decisões e para
reinvestir localmente o excedente econômico gerado no processo de crescimento
(OLIVEIRA e LIMA, 2012, p. 170-171).
Ao considerar que a implementação de um empreendimento focado na produção
artesanal, como no caso da Cervejaria Stier, num contexto em que há uma ligação sociocultural
com os indivíduos existentes no território, considerando o caso do município de Igrejinha que
tem sua origem na imigração alemã, pode ser representativo como forma de pertencimento
regional; o preenchimento do quadro de funcionários do empreendimento por indivíduos do
próprio território, pode permitir um desenvolvimento econômico e melhora na qualidade de
vida dos empregados, dos dependentes, ocasionado pela geração de renda, bem como da
sociedade, através da redistribuição de renda e movimentação da economia, principalmente do
comércio (BOISER,2016; IBGE, 2018; SILI, 2018; MARCUSSO, 2015).
Para Sen (2000) o mercado possui a capacidade de contribuir para um crescimento
econômico e o progresso econômico, considerando que seria errôneo ser genericamente contra
o mercado e seus mecanismos. Pois, o mercado pode permitir que se gere um crescimento
econômico, e em certas ocasiões uma equidade econômica.
Para Dallabrida (2017) o território é um sujeito ativo quando analisado o
desenvolvimento territorial, e que a dinâmica existente dentro deste território deve ser
considerada como fonte de conhecimento, bem como seu quadro socioeconômico. Com base
nisso, é possível supor que a implementação de cervejarias de pequeno porte pode ser um
exemplo da tentativa de alcançar uma equidade econômica, onde indivíduos buscam no
mercado a oportunidade de ofertar seus produtos para a demanda existente. Desta forma, pode
estar ocorrendo uma redistribuição do poder existente no mercado cervejeiro existente. Sen
(2000) complementa com a alegação de que o desenvolvimento como um aspecto de liberdade,
37
não pode prescindir a ampla utilização do mercado, sob um viés inclusivo, defensivo e crítico,
desde que, ocorra um cuidado com a vida humana.
A implementação de uma cervejaria de pequeno porte no município de Igrejinha/RS,
pode ser exemplo da mobilidade do capital. Meyrelles (2009) teoriza que a mobilidade do
capital pode gerar um desenvolvimento econômico devido à teoria de que:
Uma vez que a produtividade marginal do capital tende assintoticamente para zero, a
economia converge para uma situação na qual o estoque de capital e o produto em
termos per capita crescem à taxa de progresso tecnológico - suposta constante e
exogenamente determinada. Nessa perspectiva, uma menor dotação inicial de capital
resultaria num crescimento mais acelerado da economia ao longo do processo de
transição para o steady-state, uma vez que controlemos para os determinantes desse
atrator. Essa condição coeteris paribus, de condicionalidade aos parâmetros
estruturais que determinam o equilíbrio de longo prazo, é o que confere à
convergência predita pela análise um caráter condicional. Essa propriedade
permanece igualmente válida nos modelos neoclássicos de crescimento exógeno do
tipo Ramsey-Cass-Koopmans, que endogenizam a determinação da taxa de poupança
da economia (Meyrelles, 2009, p.13-14).
Para o autor a mobilidade de capital pode ter como reflexo a redução das disparidades
sociais, ao permitir que os territórios mais pobres acumulem capital, podendo ser considerado
um passo inevitável na busca do desenvolvimento econômico.
Souza (2009), sustenta que a flexibilização do processo produtivo, umas das
características da produção artesanal e consequentemente das cervejas artesanais, permite a
produção em menor ou pequena escala, permitindo que possa existir uma mobilidade do capital.
De acordo com o autor, regiões que apresentem uma maior eficiência no processo técnico e que
empregue de forma mais eficiente seus recursos, podem ter uma vantagem locacional, a qual
tende a oportunizar o interesse de novos empreendimentos do setor. O surgimento do interesse,
pode ocasionar na implementação de novos empreendimentos, por sua vez podem gerar
emprego e renda, impostos, dentre outros, que podem refletir no desenvolvimento dos
municípios.
Essa alegação decorre do fato de Souza (2009) considerar que a mobilidade do capital,
quando observado do centro para a periferia, ocorre geralmente na forma de capital de
reposição, instalação de filiais ou a surgimento de novos empreendimentos, neste caso a
instalação de cervejarias de pequeno porte, e não pela transferência de um parque fabril, ou da
presença das cervejarias de grande porte, que tendem a possuir uma produção mais tecnológica
e automatizada. A instalação de novas fábricas pode ocasionar na geração de emprego e renda,
que por consequência pode gerar o desenvolvimento de municípios periféricos.
Furtado (1983, p. 15) explica que a teoria do desenvolvimento econômico pode ser
usada para explicar “numa perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento
38
persistente da produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção
e na forma como se distribui e utiliza o produto social”. A Cervejaria Stier pode vir a influenciar
no desenvolvimento do território criado em seu entorno, seja pelo montante de imposto
recolhido pelo Estado, pelas oportunidades de emprego geradas, pela renda dos funcionários e
pela qualidade de vida, dentre outros.
Com base na explicação do autor é possível considerar que a Cervejaria ao ofertar
produtos diferenciados, em mercados distintos, e consequentemente transformando a
organização produtiva e econômica existente, tende a possuir características de inovação, que
vão ao encontro das ideias de Sen (2000) (BOISER,2016; BASSAN, 2014; FURTADO, 1983).
Para Sen (2000) o desenvolvimento pode ser visto como um processo que tem como
finalidade proporcionar liberdade para os indivíduos, seja liberdade econômica, política, de
expressão, etc. Estas liberdades podem ser substanciais e intangíveis, que servem para
oportunizar um enriquecimento da vida humana, observado principalmente como uma melhora
na qualidade de vidas dos indivíduos. Dentre as liberdades que o autor cita estão: possuir a
capacidade de evitar a fome e a subnutrição; a morbidade e a morte prematura, tanto infantil
quanto adulta; as associadas a leitura e matemática; participação política e de expressão.
Algumas destas liberdades podem ser quantificadas através da utilização de indicadores
socioeconômicos.
A utilização de indicadores socioeconômicos para a mensuração do desenvolvimento
social e econômico de um território já está amplamente difundido pela literatura acadêmica
nacional e internacional. Observa-se que num primeiro momento os indicadores sociais são
utilizados para analisar a qualidade de vida e o bem-estar dos indivíduos. Por conseguinte, os
indicadores econômicos são utilizados para compreender, se na realidade empírica, um possível
crescimento econômico, reflete no desenvolvimento econômico dos indivíduos e do território.
Os indicadores podem ser utilizados como auxílio em estudos sobre: a evolução do
desenvolvimento de um território; na criação, implementação, supervisão e apreciação de
políticas públicas; avaliação econômica e de bem-estar da sociedade de um território (WINK et
al., 2013).
Os indicadores sociais podem ser considerados elos que permitem a ligação entre o
conhecimento teórico e a observação empírica dos fenômenos sociais existentes no território,
permitindo observar, monitorar e compreender a realidade existente, com base na dimensão
social de interesse, num recorte temporal e geográfico (JANNUZZI, 2005).
Jannuzzi (2006) conceitua a terminologia indicador social:
39
Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social
substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social
abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para
formulação de políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que
informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que estão se
processando na mesma (JANNUZZI, 2006, p.15).
Segundo o autor, um estudo que tenha foco na compreensão da realidade social de um
território, pode através da utilização de indicadores sociais analisar a evolução do
desenvolvimento social deste, pois carregam consigo uma significância social, tangível ou
intangível.
A realização de estudos baseados em indicadores que interessem a ambos, pode permitir
um confronto da teoria com a realidade prática, de interesse da academia, o acompanhamento
das políticas públicas, implementadas pelo setor público, e as possibilidades existentes de
mercado, para o setor privado. Sendo assim, é possível supor que a utilização de indicadores
socioeconômicos para analisar a realidade empírica de um território, pode aproximar a
academia e os setores privados e públicos.
Land, Michalos e Sirgy (2012) corroboram a conceituação de Jannuzzi (2006) dizendo
que os indicadores sociais são séries estatísticas temporais “…used to monitor the social system,
helping to identify changes and to guide intervention to alter the course of social change”
(LAND e MICHALOS apud FERRISS (1988), 2012, p.1) e complementam:
Examples include unemployment rates, crime rates, estimates of life expectancy,
health status indices, school enrollment rates, average achievement scores, election
voting rates, and measures of subjective well-being such as satisfaction with life as a
whole and with specific domains or aspects of life. (LAND; MICHALOS e SIRGY,
2012, p.1).
Ambos os autores indicam a utilização dos indicadores sociais para analisar questões
intangíveis que, contudo, refletem diretamente na qualidade de vida e no bem-estar dos
indivíduos, sendo uma forma de as quantificar para que seja possível compreender de forma
teórica a realidade empírica da sociedade existente.
Para Bassan (2002) os indicadores sociais que inferem sobre a qualidade de vida dos
indivíduos são essenciais para realizar uma análise que permita a completude sobre um
território, pois permite observar a possível existência de um desenvolvimento social e
econômico, ao invés de uma análise que foque apenas na riqueza ou pobreza de um território,
que o classifique como pobre ou rico, baseada nos dados do PIB e do PNB:
Há algumas décadas atrás, o indicador utilizado para classificar uma região como
pobre ou rica era o PIB per capita (Produto Interno Bruto per capita); porém este
indicador consegue apenas avaliar a questão quantitativa, ou seja, preocupa-se mais
com o total do produto per capita gerado, e não em como ele é gerado, deixando de
40
medir o padrão de vida de seus cidadãos. Pois, para que se possa realmente avaliar o
grau de pobreza ou riqueza de uma região há necessidade de analisar fatores como:
alimentação, educação, transporte, infraestrutura, saúde, moradia, podendo assim
atender as necessidades sociais da população (BASSAN, 2002, p.55).
Para a autora analisar fatores como alimentação, educação, saúde, dentre outros, que
são intangíveis é necessário para compreender o nível de desenvolvimento de um território,
pois, uma análise onde conste somente o PIB e o PNB, compreenderá unicamente os aspectos
quantitativos do território, desconsiderando questões que são pertinentes a qualidade de vida
dos indivíduos, as questões de desigualdades sociais e de estrutura socioeconômica e política.
Jannuzzi (2006) complementa a afirmação de Bassan (2002) que os indicadores de PIB
e renda per capita podem não condizer com o bem-estar real dos indivíduos, ao passo que a
utilização de outros indicadores, que representem questões intangíveis, formam uma proxy mais
propícia na busca por retratar um desenvolvimento ou subdesenvolvimento social e econômico,
além de permitir uma comparação intermunicipal, interestadual, inter-regional, internacional
ou outros.
Com base nas considerações de Bassan (2002), Jannuzzi (2006), Land et al. (2012)
considera-se que entre as competências dos indicadores sociais e econômicos está a importância
destes para a compreensão do bem-estar e da qualidade de vida dos indivíduos.
Easterlin e Angelescu (2012) também consideram que os indicadores sociais devem ser
utilizados como forma de analisar fatores objetivos e subjetivos:
Quality of life [QoL] embraces the multiple dimensions of human experience that
affect well-being. QoL is captured in both objective and subjective indicators.
Objective indicators are those external to the individual and encompass measures of
material living levels and their components, as well as family life, physical and mental
health, work, environment, and so on. The measures relate both to circumstances
whose increase raises QoL, such as level of nutrition or life expectancy, and to
“bads,” such as pollutants and crime, whose increase lowers QoL. Subjective
measures are self-reports of personal well-being, as obtained in surveys of happiness,
general life satisfaction, prevalence of positive and negative moods, and the like
(EASTERLIN e ANGELESCU, 2012, p. 113).
Considerando que a utilização de indicadores socioeconômicos permite analisar a
alimentação, educação, saúde, dentre outros, torna-se compreensível a importância destes para
a análise do desenvolvimento socioeconômico de um território. Pois, a utilização dos
indicadores em um estudo sobre o desenvolvimento dos indivíduos, pode permitir que se
compreenda como os indivíduos estão sentindo os reflexos decorrentes da mobilidade de capital
que possa existir no território em que estão inseridos.
Estudos que busquem compreender o desenvolvimento de um território podem também
utilizar indicadores que possibilitem a realização de uma análise sobre a realidade econômica
41
do mesmo, com o intuito de descobrir se está ocorrendo apenas um fenômeno de crescimento
econômico, ou se este está refletindo num desenvolvimento econômico territorial e da
sociedade.
Jannuzzi (2006) apresenta uma série de indicadores que podem ser utilizados, dentre
eles indicadores de: mercado de trabalho, como o da taxa de desemprego, do rendimento médio,
e da população ocupada; renda e pobreza, sendo os principais a renda e/ou PIB per capita, renda
média, Índice de Gini, classe econômica5.
Considerando a hipótese de quanto menor for a taxa de desemprego de um território,
maior a possibilidade da existência de um desenvolvimento econômico e social dos indivíduos,
a utilização deste indicador torna-se relevante, como já observado por Jannuzzi (2006):
[...] em países desenvolvidos, a taxa de desemprego tem sido usada como indicador
para monitoramento da conjuntura macroeconômica. Para agentes privados é, em tese,
um sinalizador das perspectivas de crescimento ou queda de demanda por bens e
serviços. Para o setor público, a taxa de desemprego é um indicador importante para
acompanhamento da política econômica e na formulação de políticas de emprego e
distribuição de renda (JANNUZZI, 2006, p.90).
A relevância da taxa de desemprego, como indicador, pode ser explicada através dos
reflexos citados pelo autor, ao considerar que tanto o setor privado quanto o público podem
basear suas estratégias utilizando-se dos resultados dela provenientes. Quanto ao setor privado
a percepção dos gestores sobre o resultado desse indicador, pode ter como efeito um aumento
na produção de bens, ou serviços, que por sua vez tem como resultado a geração de novos
postos de trabalho, e consequentemente de renda. O setor privado ao monitorar o resultado das
políticas existentes, pode manter ou adequá-las a fim de melhorar os resultados obtidos.
Neste estudo, a análise sobre o indicador de desemprego e a comparação com a evolução
do número de colaboradores, pode promover a compreensão sobre a participação das
cervejarias no resultado do indicador de desemprego.
Outro indicador que também pode ser utilizado para analisar a existência do
desenvolvimento dos indivíduos de um território, e que pode proporcionar uma comparação
entre dados primários, obtidos diretamente nos empreendimentos, e secundários, coletados
junto aos órgãos públicos é a renda média mensal dos trabalhadores. Tal comparação pode
proporcionar uma compreensão sobre a relevância de tais empreendimentos em relação a
geração e redistribuição de renda. Considerando que estes dois pontos são importantes para a
5 De acordo com o autor no Brasil o índice de classe econômica, o da Associação Brasileira dos Institutos de
Pesquisa de Mercado (ABIPEME) e da Associação Nacional das Empresas de Pesquisa (ANEP). Os índices
propostos são sintéticos e seguem um sistema de pontuação. A pontuação é dada sobre informações, que possuem
maior facilidade de levantamento, como: nível de educação do chefe da família, bens, posses e serviços.
42
ocorrência de um desenvolvimento econômico e social.
Desta forma é possível concluir que nem todos os indicadores estão diretamente ligados
ao aspecto social, a exemplo do indicador de salário médio mensal, que é um indicador
econômico. Todavia, a qualidade de vida dos indivíduos, a realidade social implícita no
indicador, tende a ser reflexo deste, considerando que temas como a educação, saúde, dentre
outros, podem ser influenciados por este indicador.
Para Jannuzzi (2006) os indicadores sociais também podem ser divididos por temáticas:
demografia; educação; saúde; mercado de trabalho; qualidade de vida; habitação; infraestrutura
urbana; segurança e justiça; renda e pobreza; e meio ambiente. Observa-se que dentre as
temáticas apresentadas encontram-se divisões que dialogam com aspectos tangíveis e
intangíveis, como o caso da qualidade de vida, que evidencia o social, a exemplo da educação
e da saúde, o econômico, como a renda e pobreza.
No caso desta pesquisa, a utilização de indicadores sociais pode permitir a compreensão
da instalação da Cervejaria Stier Bier (RS) e suas contribuições no desenvolvimento do
município de Igrejinha/RS.
4 A CERVEJARIA STIER BIER E O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO
DE IGREJINHA/RS
Este capítulo tem por objetivo entender a relação entre as cervejarias de pequeno porte
e o desenvolvimento socioeconômico. Esta pesquisa propôs, por meio da realização da análise
de dados primários e secundários, de entrevistas semiestruturadas, com representantes do
empreendimento, do setor cervejeiro, do poder público, e da indústria e comércio, obter
informações sobre o panorama do setor cervejeiro artesanal rio-grandense, bem como,
compreender como estes empreendimentos podem estar contribuindo para o desenvolvimento
socioeconômico de seu território. Para isso a Cervejaria Stier Bier, instalada no município de
Igrejinha (RS), será utilizada como referência do setor, e por consequência os indicadores
sociais e econômicos de Igrejinha como reflexo da participação das cervejarias no
desenvolvimento do território.
4.1 Metodologia de Pesquisa
Esta pesquisa teve como objetivo analisar como a cervejaria de pequeno porte Stier
Bier/RS pode se relacionar com o desenvolvimento social e econômico de seu território, o
43
município de Igrejinha/RS. Para realizar a análise o estudo utilizou como dados secundários,
indicadores sociais e econômicos que permitiram verificar a existência de tal desenvolvimento.
Os dados secundários foram obtidos junto à entidades e órgãos públicos, com metodologias
reconhecidas pela academia, a exemplo do IBGE, da FEE, MAPA. O período compreende os
anos de 2010 até o ano de 2018, possibilitando que o pesquisador faça uma análise da evolução
dos indicadores selecionados.
A coleta de dados primários ocorreu através da realização de duas entrevistas, sendo
uma com a gestora da Stier Bier/RS e outra com o representante do Poder Público. Foram
aplicados questionários, virtuais, com representantes de microcervejarias gaúchas, sendo que
foram utilizados no estudo todas os questionários que foram retornados. Para organização
destes resultados foi criado um banco de dados, fomentado pelas múltiplas fontes, que facilitou
na busca e na comparação, durante a análise, bem como o encadeamento das evidências
observadas, como sugere Yin (2001).
A utilização de questionários e de entrevistas é decorrente das possibilidades que os
mesmos proporcionam, como obter informações que não poderiam ser obtidas materialmente,
diminuindo o risco de distorção, permitindo maior precisão nas respostas, e o elevado número
de informações que é possível levantar. Yin (2001) e Gil (2002) afirmam que a utilização de
um levantamento pode permitir a descoberta de dados sobre o objeto do estudo, seja ao realizar
um levantamento, com todos os integrantes do universo pesquisado, um censo, ou com um
percentual que permita compreender o cenário completo. Tal forma, permite obter informações
gerais sobre a população, dados indispensáveis para boa parte das investigações sociais.
Levantar dados através de um censo, pode permitir que se obtenha informações que se
complementam, tanto no quesito do posicionamento do empreendimento e das marcas, quanto
da possibilidade a existência de reflexos que indiquem um desenvolvimento dos colaboradores.
Os instrumentos de coleta de dados primários eram constituídos da seguinte forma:
questionário, composto por 13 questões, disponibilizado de forma online, a partir da plataforma
Google, aplicado aos gestores das cervejarias artesanais instaladas no Rio Grande do Sul;
entrevista com o representante do Poder Público de Igrejinha, composta por 13 perguntas; por
fim a entrevista com a representante da Cervejaria Stier Bier, do município de Igrejinha
composta por 14 questões.
As questões das entrevistas tiveram como diferencial a percepção da influência da
Cervejaria Stier Bier sobre os indicadores e o desenvolvimento, enquanto os questionários têm
objetivo principal a construção um panorama do cenário cervejeiro artesanal gaúcho, que
corrobore a relação da Cervejaria Stier Bier com o município de Igrejinha. Além destes, o
44
instrumento também possui questões que podem preencher lacunas não encontradas em
referenciais teóricos, e nos dados secundários.
A pesquisa apresentou uma abordagem qualitativa e descritiva, que teve como objetivo
compreender como a Cervejaria Stier Bier se relaciona com o desenvolvimento do território, e
o reflexo na qualidade de vida dos indivíduos (SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009; MINAYO,
2002; GIL, 2002; YIN, 2001). Dado que o objetivo geral da pesquisa é analisar a relação entre
a Cervejaria Stier Bier, o desenvolvimento do território de Igrejinha/RS, e os indicadores
sociais, uma das preocupações do pesquisador foi relacionar a teoria com a realidade dos
indivíduos pertencentes a este território.
Para Minayo (2002) na pesquisa qualitativa não há a necessidade de qualificação em
valores, nem a análise métrica. Pois, nesta abordagem busca-se compreender os porquês
pertinentes ao objeto, podendo ser de uma forma não-métrica e utilizando diferentes formas de
coleta de dados, de análise e abordagens. Tendo como uma das finalidades entender os
processos e relações sociais existentes.
Silveira e Córdova (2009), comparam a pesquisa qualitativa e a quantitativa em 7
pontos: i) Interpretação; ii) Contexto; iii) Proximidade; iv) Alcance; v) Fontes; vi) Ponto de
vista e vii) Quadro teórico. Com base nesta premissa realizada pelos autores é possível
considerar a pesquisa qualitativa a mais pertinente para este estudo pois: o enfoque na
interpretação do objeto, a importância do contexto, e a proximidade do pesquisador em relação
aos fenômenos é maior na pesquisa qualitativa. Esse tipo de pesquisa tende a possuir múltiplas
fontes de dados e o quadro teórico e as hipóteses são menos estruturados.
A abordagem qualitativa é mais eficiente, pois permite maior proximidade do
pesquisador com o fenômeno, além de promover uma coleta de dados em diversas fontes. A
pesquisa qualitativa destaca uma maior importância para a contextualização do objeto, que se
faz pertinente ao considerar que um estudo sobre um possível reflexo no desenvolvimento,
necessita de uma análise que contextualize diversos aspectos do desenvolvimento, a exemplo
do econômico e social.
A utilização de uma pesquisa descritiva para a execução do estudo se destaca pelo fato
de que tem como característica a descrição de fenômenos, e a relação entre variáveis (GIL,
2002). Ainda de acordo com o autor, as pesquisas descritivas são mais utilizadas para descrever
fenômenos que envolvam organizações, tais como educacionais ou empresariais.
Considerando a implementação da Cervejaria Stier/RS e a possibilidade de estar
influenciando no resultado nos indicadores sociais e econômicos, e assim, podendo ocasionar
o desenvolvimento dos indivíduos e do território foi o objeto deste estudo. Portanto, a escolha
45
por uma pesquisa descritiva pode ser defendida pela possibilidade da realização de conexão
entre ideias e fatores, com o intuito de possibilitar a compreensão de causa e efeito de
fenômenos, neste caso da instalação da Cervejaria e a influência sobre os indivíduos, os
indicadores socioeconômicos e as políticas públicas.
A pesquisa utilizou como ferramenta para análise dos dados obtidos, tanto primários
quanto secundários, tabelas, quadros e gráficos, que representaram: o resultado dos
questionários aplicados, bem como a contextualização do resultado; a evolução dos indicadores
socioeconômicos do território, decorrente do surgimento da cervejaria, bem como dos
indivíduos que podem estar sendo influenciados; o resultado dos questionários aplicados; a
contextualização através dos dados secundários, evidenciando os dados disponibilizados pelos
órgão públicos; dentre outros. A utilização dos recursos gráficos decorre da possibilidade de
utilização de diferentes métodos de leitura e análise, dos dados primários e secundários,
permitindo que o pesquisador administre e interprete os dados coletados de forma mais clara e
objetiva (DENZIN e LINCOLN, 2006).
Os indicadores foram utilizados de forma a ser possível analisar e compreender a
evolução dos índices socioeconômicos dos territórios selecionados e, também, dos indivíduos
pertencentes a estes (WINK, 2013; BASSAN, 2002). Seguindo a premissa da literatura,
utilizada por esta pesquisa, de que os indicadores podem ser utilizados para compreender
melhor o desenvolvimento de um território, neste estudo será utilizado o território decorrente
da implementação da Cervejaria Stier Bier, no município de Igrejinha/RS. O recorte temporal
utilizado na pesquisa acompanha o período de execução das atividades econômicas dos devidos
empreendimentos, precedido pelos anos anteriores ao início das operações, no caso 2013, a
partir do ano de 2010 até o ano de 2018.
A seguir é realizada uma correlação entre os conceitos apresentados na literatura
referencial e a instalação da Cervejaria Stier Bier no município de Igrejinha (RS), no ano de
2013, através dos dados coletados, primários e secundários.
5 A CERVEJA ARTESANAL, A STIER BIER E O DESENVOLVIMENTO
Como mensurar a relevância de um segmento produtivo recente para o desenvolvimento
socioeconômico de um território, guardando as proporções, diante de um cenário
contemporâneo tão amplo e volátil como o brasileiro? Uma das possíveis formas é utilizar uma
instituição como representante deste, e por consequência, considerar sua influência junto ao
território como a expressão do todo.
46
Dessa forma, a pesquisa utilizou a Cervejaria Stier Bier como instituição representante
da produção cervejeira artesanal, e a correlação com o desenvolvimento encontrado no território
em que está inserida, neste caso Igrejinha.
Na sequência foi analisado o mercado cervejeiro brasileiro, como destaque para o
cenário Rio-grandense, para conceber uma base que permita a compreensão do mercado em
que as cervejarias artesanais estão inseridas, partindo de dados estatísticos e evolutivos, e como
elas podem proporcionar o desenvolvimento de um território.
5.1 O mercado cervejeiro contemporâneo
O cenário que o mercado cervejeiro brasileiro segue é uma contemporânea disposição
mercadológica observada mundialmente, dispondo-se face a face aos consolidados grupos
econômicos, representados pelas cervejarias de grande porte. Estas inserem no mercado amplas
quantidades de seus produtos e o crescente número de cervejarias artesanais, que incorporam
no mercado sua produção, através de pubs próprios, ou de pontos de venda, ainda de forma
discreta.
Com base nas informações de Marcusso (2015) os três grupos econômicos com maior
participação no mercado eram AmBev (68%); Grupo Petrópolis (11,3%); Brasil Kirin (10,7%);
Heineken Brasil (8,6%) e considerando que no ano de 2017 o grupo Heineken comprou a Brasil
Kirin, o número de companhias que dominam o mercado nacional caiu de quatro para três. Tal
representatividade é superior à encontrada mundialmente, onde quatro grupos detêm 44,8% do
volume total de vendas. A compra da Brasil Kirin pela Heineken, demonstra o que as grandes
companhias estão realizando no intuito de manter o volume de vendas e a participação, frente
o crescimento no número de microcervejarias, e da inserção de seus produtos.
A AmBev, no ano de 2015, realizou a compra de duas cervejarias artesanais brasileiras,
sendo a primeira a Colorado6, e a segunda a Wals7. Em ambos os casos os empreendimentos
passaram a fazer parte da Cervejaria Bohemia, um dos braços da AmBev e que é considerada
do segmento premium.
As aquisições demonstram a importância que as cervejarias artesanais estão adquirindo
ao longo dos anos, principalmente ao considerar que a Cervejaria Colorado, fundada no ano de
1996, ou seja com 19 anos de existência, tinha no momento da compra, um faturamento anual
6 http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2015/07/ambev-anuncia-compra-da-cervejaria-colorado-
de-ribeirao-preto-sp.html 7 https://exame.abril.com.br/negocios/6-empresas-compradas-pela-ambev-recentemente/
47
próximo aos R$ 18 milhões de reais, com uma produção de 1.200 hectolitros. Enquanto a Wals,
criada em 1999, possuía um faturamento de aproximadamente R$ 9 milhões, com uma
produção de 500 hectolitros.
Contudo, não é somente através da aquisição total que as majors estão incorporando as
cervejarias artesanais aos seus portfólios. Observa-se que o Grupo Petrópolis se utiliza de outra
forma para comercializar cervejas especiais, cita-se o caso da Cervejaria Brassaria Ampolis8.
A CBA que foi constituída no ano de 2013, tinha como característica a produção cigana,
portanto, não tinha fábrica própria, utilizando equipamentos de outras. Consequentemente, esse
tipo de produção possibilitou essa parceria/aquisição.
Essas considerações são sustentadas por autores como Gontijo e Gessner (2015) que
consideram que o cenário brasileiro acompanha o mundial, e por Marcusso (2015) que
complementa afirmando que inúmeros outros países também apresentam um mercado
dominado por três ou menos grupos cervejeiros. Todavia, o mercado brasileiro não acompanha
unicamente a porcentagem de participação no volume total de vendas. O crescimento do
número de cervejarias ocorrido entre os anos de 2005 e 2018, segue o panorama encontrado
nos USA, principalmente entre os anos de 2014 e 2018, onde o número de novos registros se
acentuou.
Observa-se no Gráfico 1 que o número de cervejarias registradas no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, cresceu em todos os anos a partir de 2005,
totalizando 13 anos de crescimento no número total de empreendimentos com registro e
permissão para comercializar seus produtos. Ao final de 2018 totalizou-se um aumento de 847
novas cervejarias, representando um crescimento de bruto 2.116%.
8 https://vejario.abril.com.br/blog/cervejinha/brassaria-ampolis-e-incorporada-ao-grupo-petropolis/
48
GRÁFICO 1: Cervejarias Registradas
Fonte: MAPA (2019)
O crescimento ocorrido nesse período apesar de contínuo, apresenta três momentos
distintos: o primeiro que compreende os anos de 2005 a 2009, onde a abertura de novas
cervejarias, ainda era modesto com pequenas variações no número total; o segundo, que fica
entre 2010 e 2015, em que se percebe um prenúncio do surgimento de um segmento espalhado
pelo território nacional; e por fim, de triênio 2016/2017/2018, em que é possível perceber um
boom, de novos registros de empreendimentos.
Neste mesmo período ao ser considerado a porcentagem de crescimento, 5 anos se
destacam: 2008, 2010, 2011, 2015 e 2016. Os anos de 2008, 2011 e 2015 se destacam pela
desaceleração do crescimento. Esse fenômeno pode ser decorrente da situação político-
econômica que o país atravessava, a exemplo de 2015 que é marcado pela abertura do processo
de impeachment presidencial. Em consequência, 2010 e 2016 representam um aumento
percentual de registros acima da média, demonstrando que o brasileiro vislumbra a produção
de cerveja artesanal como uma possibilidade de empreendimento.
O Gráfico 2, demonstra a constância na abertura de novas cervejarias artesanais no
USA, pós 2014, demonstra que esse é um fenômeno que acompanha o cenário mundial, em que
o número total de empreendimentos é sempre positivo em relação ao ano anterior. Contudo,
existe uma diferença relevante entre a crescente do número de novos registros de cervejarias
encontradas no Brasil e nos USA, que pode ser uma reação de como a sociedade destes
territórios está respondendo a ofertas de novas cervejas artesanais.
49
GRÁFICO 2: Cervejarias Registradas USA
Fonte: Brewers Association (2019)
Apesar de, no decorrer da última década, o Brasil possuir períodos em que o percentual
de crescimento tenha sido inferior ao anterior, é possível considerar que o segmento está num
crescente constante. Demonstra-se, assim, que o consumidor brasileiro tem revelado interesse
em consumir cervejas artesanais, e que empreendedores estão dispostos a investir no mercado
cervejeiro, em contraposição aos USA que possuem um mercado artesanal em expansão, mas
com um ritmo de crescimento a taxas decrescentes.
O ritmo de crescimento em que o mercado cervejeiro artesanal brasileiro se encontra
em relação ao mercado norte-americano, demonstra que ainda pode haver espaço para a
abertura de novas cervejarias, até chegar no momento de estabilização. Contudo, é importante
levar em consideração que apesar do aumento de registros anuais, pode estar havendo
paralelamente um processo silencioso de fechamento de empreendimentos que não estão
encontrando o ponto de equilíbrio necessário para a sustentabilidade, devido aos mais diversos
fatores, sejam administrativos, comerciais, interesse dos consumidores.
O mercado brasileiro também apresenta distinções entre os estados e regiões. Percebe-
se uma concentração no sul e sudeste, seja de registro de empreendimento ou de produtos.
Entre os dez estados com maior número de cervejarias, encontra-se três da região sul,
quatro do Sudeste, dois do centro-oeste, e um do Nordeste, como pode ser observado no Gráfico
3. A configuração dos seis primeiros é composta unicamente por estados das regiões sul e
50
sudeste, e compreendendo mais de 80% do total de empreendimentos registrados. Os cinco
primeiros estados também são responsáveis pela média de crescimento nacional, ao passo que
todos apresentam uma taxa superior a 30%, que é relevante ao considerar o volume total de
novos registros no biênio 2017/2018: 44, 41, 28, 27, 26, respectivamente, em números
absolutos. Diferentemente de Pernambuco que apesar de ter uma taxa superior a 70%, na
realidade significou apenas oito novos registros.
GRÁFICO 3: Cervejarias Registradas por UF
Fonte: Ministério Agricultura (2018)
Comparar o percentual de crescimento com o volume total de registros é necessário para
compreender a participação real na evolução do segmento cervejeiro artesanal. Tal observação
é exemplificada ao considerar os estados do RS e de PE, em que o Rio Grande do Sul apresenta
uma taxa de crescimento inferior à alguns estados, mas que ao considerar o número total de
cervejarias registradas é o estado com maior número de registros totais, enquanto o estado de
Pernambuco tem a maior porcentagem de crescimento, mas o menor número de novos registros.
A taxa de crescimento manifesta a constatação já observada por Marcusso (2015), quanto à
evolução do mercado cervejeiro brasileiro, durante a última década.
O crescimento do número de cervejarias registradas também pode ser ilustrado
utilizando a Cervejaria Stier Bier, que no ano de 2013 é inaugurada no município de Parobé. A
abertura desta cervejaria, pode representar o momento que o mercado brasileiro está
apresentando nos últimos anos, em que é possível destacar um crescimento exponencial do
51
número de cervejarias registradas no MAPA.
A criação da Stier Bier, mesmo ocorrendo num período anterior ao referenciado, pode
ser visto concomitantemente como precursor de um nicho de mercado que está em contínuo
crescimento. Primeiramente, por considerar que a inauguração ocorreu no intervalo inicial deste
processo de expansão da cerveja artesanal no Brasil. E, consequentemente por demonstrar que
micro e pequenos empreendedores estão valendo-se do interesse dos consumidores por cervejas
diferenciadas, para abrir novas cervejarias artesanais, independente do formato comercial
(microcervejaria, brewpub ou cigana). Com base nos registros realizados, o MAPA no ano de
20189 identificou que a cada dois dias ocorria a abertura de uma nova cervejaria, o que
representou um crescimento de 23% em relação ao número total de estabelecimentos, no
montante de 889 registros.
Outro fator relevante é a questão territorial, ao considerar que parte das cervejarias
artesanais estão se instalando em cidades de pequeno e médio porte, como no caso da Stier Bier
que veio a instalar sua planta produtiva no município de Igrejinha. Ratifica-se esta consideração
ao apurar a localização de cervejarias artesanais gaúchas, registradas após 2010, cita-se: Cadela
Velha (Estância Velha/RS, 2011), Cervejaria Maria Santa (Santa Maria/RS, 2013), Cervejaria
Holy Sheep (Santa Cruz do Sul/RS, 2012), Maniba (Novo Hamburgo/RS, 2012) e KKB
(Igrejinha/RS, 2018).
Considerando que o surgimento de novos empreendimentos pode proporcionar o
desenvolvimento socioeconômico de um município, é importante situar o empreendimento e
paralelamente analisar a evolução dos indicadores sociais disponíveis, para compreender se tal
acontecimento pode estar contribuindo ou não para o desenvolvimento do território, por isso na
sequência serão analisados os indicadores de Igrejinha, na intenção de poder contrapor os dados
primários coletados.
5.2 O território a partir da Cervejaria Stier Bier/RS
A compreensão sobre a participação de uma organização no desenvolvimento
socioeconômico de um território, nesta pesquisa representada pela Cervejaria Stier Bier,
instalada no município de Igrejinha/RS, perpassa os resultados numéricos obtidos ao longo de
do período de 2016/2018. O diálogo existente entre o objeto pesquisado e os resultados dos
indicadores utilizados carrega consigo o conhecimento que pode possibilitar o desenvolvimento
de um território. Esta consideração decorre do fato de que práticas e comportamentos, podem
9 http://www.agricultura.gov.br/noticias/a-cada-dois-dias-uma-nova-cervejaria-abre-as-portas-no-brasil
52
exercer influência sobre o contexto, e consequentemente sobre o resultado.
No caso da Cervejaria Stier Bier, entre os comportamentos que podem influenciar no
desenvolvimento de Igrejinha, encontram-se: o quadro de colaboradores e suas especificidades;
a ligação com o comércio local; a relação com outras cervejarias, ou empreendimentos
pertencentes à mesma cadeia produtiva, no caso fornecedores de insumos e logística. Da mesma
forma que a filosofia aplicada pela cervejaria pode refletir no desenvolvimento do território, o
município também dispõe de aspectos que influenciam no empreendimento, a exemplo do
Programa de Desenvolvimento (PRODEN), que passou a abranger o setor cervejeiro.
Partindo da premissa que a Cervejaria Stier Bier é a instituição que pode promover o
desenvolvimento, ou seja o objeto a ser compreendido, e que o município de Igrejinha é o
território que surge a partir do poder que a Cervejaria exerce, é primordial caracterizar tanto o
objeto, quanto o território.
De acordo com a representante da Cervejaria Stier Bier, o foco principal é a produção e
comercialização de cervejas artesanais, dos mais diversos estilos, ofertadas com marca própria,
registrada junto ao MAPA, e como secundário o brewpub instalado junto à produção. Junto aos
brewpub também ocorre a comercialização de itens promocionais, tais como copo, bonés,
growlers.
O Figura 1 representa a linha do tempo da Cervejaria, contendo os principais
acontecimentos ocorridos ao longo dos anos. O empreendimento teve início no ano de 2013, no
município de Parobé, cidade limítrofe de Igrejinha. As atividades iniciaram de forma caseira,
produzindo para consumo dos proprietários e para a obtenção do registro junto ao MAPA. No
segundo semestre de 2013, a cervejaria consegue seu registro junto ao MAPA e a partir desse
momento então dá-se início a comercialização da produção. O fato da produção ter sido iniciada
em pequena escala, demonstra que a produção artesanal de cerveja pode proporcionar o
desenvolvimento social e a independência financeira, ao considerar que indivíduos que tenham
prática ou interesse em produzir cerveja, podem iniciar de forma caseira e depois obterem o
registro junto ao MAPA.
53
FIGURA 1: Linha do Tempo Cervejaria Stier Bier
Fonte: Dados da Pesquisa (2019).
No quadriênio 2013/2016 a Cervejaria apresentou um crescimento constante, tanto de
comercialização, quanto de investimentos. Os investimentos realizados estão diretamente
ligados ao volume comercializado. O formato utilizado para a inserção dos produtos no
mercado, permitiu que ao final do ano de 2016 a Stier encontrasse seu primeiro gargalo de
produção. Com uma capacidade de produção de 5.000L, e uma comercialização de 5.034L, os
proprietários decidiram buscar um novo local para instalar a unidade fabril, optando por
Igrejinha.
A decisão dos empresários por se instalar no município possui particularidades que
remetem ao diálogo objeto/resultado, no caso cervejaria/desenvolvimento. Segundo a gerência
da Cervejaria o local escolhido para a nova sede deu-se por conta da localização, considerada
privilegiada, junto à rodovia RS-115, principal acesso à Serra Gaúcha, e que contou durante o
primeiro ano com o apoio do Poder Público de Igrejinha, através do PRODEN, que custeou os
doze primeiros meses de aluguel. Sob o aspecto sociocultural a decisão por se instalar no
município de Igrejinha decorreu principalmente pelo fato da comunidade ser em sua maioria de
descendência alemã, ter vocação turística e pelos eventos que ocorrem no decorrer do ano, a
exemplo da Oktoberfest, que reúne os três aspectos por ser um evento turístico de tradição
alemã. Observa-se assim que no primeiro momento a cervejaria decidiu por se instalar no
município, com base em questões culturais e comerciais.
Contudo, neste momento considerar o diálogo entre cervejaria/território se faz
necessário, pois a instalação no município foi influenciada pela existência de um programa de
54
desenvolvimento municipal. Durante os primeiros doze meses, a Cervejaria fez parte do
Programa de Desenvolvimento Econômico de Igrejinha (PRODEN), que permitiu o
ressarcimento do aluguel, para empreendimentos que atendessem a requisitos mínimos, entre
eles, possuírem ao menos cinco colaboradores celetistas. Segundo o Poder Executivo de
Igrejinha, o PRODEN foi criado com a finalidade de prover um auxílio aluguel para
empreendimentos que desejam expandir suas atividades ou se instalar no município. Propostas
para o desenvolvimento econômico como a do PRODEN, representam a importância e a
participação do território, através de seus representantes públicos, na busca pelo
desenvolvimento.
Ao destacar o principal requisito do PRODEN, a existência de um número mínimo de
empregados, um dos pilares do desenvolvimento é destacado, que é a geração de emprego,
principal fomentador da redistribuição de renda. A Cervejaria encerrou o primeiro semestre de
2019 contando com treze funcionários diretos e outros sete indiretos (esse número não é fixo,
pois está ligado a freelancers contratados para o brewpub). Além da possibilidade de a
Cervejaria participar desse programa de desenvolvimento, o poder público também atualizou o
mesmo, para que as cervejarias do município recebam incentivos para a participação em feiras
e festivais cervejeiros, demonstrando a importância mútua do território e da Cervejaria. Ainda
de acordo com o poder público o mesmo incentivo foi oferecido para a Cervejaria KKB, já
instalada no município, mas essa ainda não atende os requisitos mínimos para a participação.
O representante da KKB confirmou a oferta, e reforçou que há o interesse em ser integrante do
PRODEN, mas que o quadro funcional ainda é inferior ao exigido.
O diálogo, destacando nesse ponto o PRODEN, existente entre o município de Igrejinha,
e os empreendimentos de pequeno porte, e neste caso com a Stier Bier, não foi encontrado nas
respostas obtidas junto ao questionário aplicado aos representantes das cervejarias artesanais.
Cervejarias como a Maniba, sediada em Novo Hamburgo/RS, com oito colaboradores, a
Cervejaria Gambiarra, de Santa Cruz do Sul/RS, com 7 empregados, e a Old Boys, de Porto
Alegre/RS, com 5 funcionários, de acordo com seus representantes não participam de nenhum
programa de incentivo. Considerando unicamente a exigência mínima de colaboradores
registrados, estas três cervejarias poderiam receber incentivos municipais, durante o período de
um ano. Este subsídio é bem visto pelas cervejarias, fator que reforça a importância do território
como parceiro dos empreendimentos ali sediados. Entre as cervejarias que fizeram parte da
pesquisa, se destaca a Cervejaria Maria Santa, de Santa Maria/RS, que respondeu não ter
participado de nenhum programa de incentivo municipal, mas que fez parte de polo cervejeiro
criado junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), o qual
55
prestava suporte e realizava aporte financeiro parcial em setores chaves das cervejarias
integrantes deste polo.
A existência de um programa de desenvolvimento, seja oriundo do poder público
municipal ou de entidades que visem o desenvolvimento econômico de um setor produtivo,
pode ser um fator determinante para o crescimento de determinado ramo da economia. Visto o
caso de polo cervejeiro em que a Cervejaria Maria Santa estava inserida durante o período que
participou de um dos programas do SEBRAE e do polo cervejeiro que está aos poucos se
formando no município de Igrejinha e no seu entorno.
O surgimento de um polo cervejeiro, centralizado no município de Igrejinha, de acordo
com poder público é possível com base no mercado ali existente e vindouro, das cervejarias
instaladas e fornecedores em prospecção. O município já conta com 3 cervejarias instaladas, a
Cervejaria Stier Bier, a KKB Microcervejaria, e a Cervejaria Serra Grande, e segundo o poder
público, mais duas cervejarias estão em processo de abertura, totalizando até o final do primeiro
semestre de 2020, cinco cervejarias artesanais, num único município.
Considerando que o Rio Grande do Sul no ano de 2018 tinha 186 cervejarias registradas,
um aumento de 31% em relação do ano de 2017, em que havia 142 cervejarias registradas, o
Estado terá ao final de 2019 aproximadamente 240 empreendimentos registrados. Portanto,
somente o município de Igrejinha poderá sediar 2% do número total de cervejarias gaúchas
registradas. Essa porcentagem considera apenas as cervejarias já instaladas e em processo de
abertura, no município de Igrejinha, e da mesma forma em nível estadual, desconsiderando
quaisquer cervejarias que venham a encerrar as atividades neste período. A participação do
município no cenário gaúcho pode ser relevante não apenas para o mercado, mas para a
sociedade como um todo, que pode perceber nessa relação uma possibilidade de
desenvolvimento econômico e social. Para compreender essa relação na próxima seção serão
analisados indicadores socioeconômicos, e seus possíveis correlatos oriundos das cervejarias.
5.3 Igrejinha e a Cervejaria Stier Bier: A relação entre indicadores socioeconômicos,
território e a cerveja artesanal
A partir da premissa de Brito (2005) o território parte da relação entre diferentes agentes
sociais, o desenvolvimento socioeconômico de um território demanda além de políticas
públicas, que fomentem a sustentabilidade econômica de setores considerados essenciais,
empreendimentos que apresentem capacidade de geração de emprego e renda. No caso das
cervejarias artesanais, a aptidão para a geração de emprego e renda é notória, e já foi destacada
56
por autores como Luz e Bassan (2018), ao concluírem que as cervejarias artesanais têm a
particularidade de possuir uma relação de colaboradores/hectolitros superior as cervejarias de
grande porte.
Considerando o município de Igrejinha como território é importante caracterizá-lo, a
fim de poder compreender a evolução de seus indicadores, para que da mesma forma que a
Cervejaria Stier Bier é considerada o paradigma da presença das cervejarias, Igrejinha é
exemplo de como os territórios podem ser influenciados pelas cervejarias artesanais.
O município gaúcho de Igrejinha foi fundado em 1 de junho de 1964 e possui uma área
territorial total de 135,9km2 (FEE, 2019). Pertencente ao Vale do Paranhana, juntamente com
os municípios de Parobé, Riozinho, Rolante, Taquara e Três Coroas. Sendo limítrofe de Parobé,
Taquara e Três Coroas, Igrejinha tem uma localização privilegiada junto a rodovia RS-115,
principal via de acesso para a região serrana de Gramado e Canela, dois municípios que são
referências turísticas sejam de turistas oriundos principalmente da Grande Porto Alegre, bem
como, de turistas que desembarcam no Aeroporto Salgado Filho oriundos das demais regiões
do estado e do país. A Figura 2 representa a região do Vale do Paranhana onde está localizado
o município de Igrejinha.
FIGURA 2: Vale do Paranhana
Fonte: Adaptado de RS/SEPLAG/DEPLAN (2015).
57
O fato de a rodovia formar um corredor ao longo de quase toda a extensão do município,
ficando de fora apenas regiões interioranas, que possuem acessos secundários, destaca-se a
vocação e potencial turístico de Igrejinha. Como exemplo dessa vocação, é possível citar os
diversos empreendimentos comerciais encontrados ao longo da rodovia: o Alles Blau,
considerado um shopping ao céu aberto e o empreendimento mais proeminente, que conta com
lojas, restaurantes, serviços e hotelaria; atacados e varejos calçadistas; gastronomia variada,
construção e movelaria rústica, e também cervejarias, como a Stier Bier, localizada próximo à
Taquara, e a KKB no limite de Igrejinha com Taquara.
Além de pertencer ao Vale do Paranhana, Igrejinha também integra o Conselho
Regional de Desenvolvimento (COREDE) Paranhana - Encosta da Serra, que é composto pelos
municípios de: Igrejinha, Lindolfo Collor, Morro Reuter, Parobé, Presidente Lucena, Riozinho,
Rolante, Santa Maria do Herval, Taquara e Três Coroas.
De acordo com o IBGE (2019) quanto ao espectro cultural, Igrejinha se destaca como
um município com a predominância de descendentes alemães, um fator que pode ser relevante,
para o valor agregado da produção cervejeira artesanal local. A importância dada e esta
característica, se justifica a partir da criação da Lei da Pureza, a “Reinheitsgebot”, que até a
contemporaneidade ainda é vista como um fator diferencial na produção de cervejas artesanais.
Considerando a origem germânica desta Lei, é possível supor que os germânicos têm uma
ligação histórica e cultural com a produção cervejeira. Da mesma forma que a pesquisa faz um
paralelo entre a Stier Bier e Igrejinha, é plausível considerar que os descendentes encontrados
no município podem trazer consigo essa herança cultural. Consequentemente, pode originar
uma pré-disposição para a instalação de um polo cervejeiro, em decorrência de uma
comunidade que intrinsecamente apresenta um interesse por cervejas, chopp e seus derivados.
A Oktoberfest, que tem no ano de 2019 a 32ª edição, evento municipal de maior visibilidade,
pode ser considerado um exemplo desta constatação.
Corroborando a constatação da relevância histórico-cultural para a predisposição na
instalação de cervejarias artesanais no município, Gontijo e Gessner (2015) afirmam que a etnia
alemã tem a tradição de ser referência na produção de cervejas de melhor qualidade, baseado
na criação da “Reinheitsgebot”, além de ser possível considerar que as cervejas produzidas
dentro deste território podem trazer o aspecto sociocultural como valor agregado, às
diferenciando das demais cervejas encontradas no mercado.
A pesquisa levou em consideração a participação de Igrejinha, em número de
cervejarias, em relação ao estado do Rio Grande do Sul, que no ano de 2018 era de 1,61%,
sendo uma relação de 3 cervejarias no município, e 186 no Estado. No entanto ao observar o
58
Quadro 3, percebe-se que a participação de Igrejinha na população total do Rio Grande do Sul,
em 2018, era de aproximadamente 0,3%. O município de Igrejinha tinha no ano de 2018 uma
população estimada em 34.909 habitantes, um crescimento de 3.249 habitantes em relação ao
ano de 2010.
QUADRO 3: Censo e População Estimada de Igrejinha e do Rio Grande do Sul - entre
2010 e 2018
Ano RS Evolução % Igrejinha Evolução % Participação%
2010 10.693.929 - 31.660 - 0,30
2011 10.963.317 2,5 32.620 3 0,30
2012 11.014.448 0,5 33.097 1,5 0,30
2013 11.066.527 0,5 33.234 0,4 0,30
2014 11.119.817 0,5 33.343 0,3 0,30
2015 11.175.777 0,5 33.466 0,4 0,30
2016 11.229.947 0,5 33.646 0,5 0,30
2017 11.280.193 0,4 34.254 1,8 0,30
2018 11.329.605 0,43 34.909 1,9 0,31
2010-2018 689.676 5,9 3.249 11 0,47
Fonte: FEE (2019)
A partir do Quadro 3 é pertinente salientar que no período entre 2010 e 2018, três anos
se destacaram em termos de crescimento populacional, em 2012, 2017 e 2018, quando
apresentaram, respectivamente, crescimento anual de 1,5%, 1,8% e 1,9%. Enquanto isso,
observa-se no Estado do Rio Grande do Sul um crescimento anual entre 0,4% e 0,5% nesses
três anos. Constatou-se desta forma que a população estimada de Igrejinha cresceu 11% entre
os anos de 2010 e 2017, enquanto no Rio Grande do Sul o aumento foi de 5,9%. Salienta-se
que uma análise sobre o crescimento observado entre os anos de 2010 e 2011, de 3% no
município e de 2,5% no estado, deve levar em consideração num primeiro momento o valor
decorrente da realização de um censo, enquanto no segundo é realizada a estimativa
populacional.
Nos anos de 2013 e 2014, apesar de ocorrer um aumento da população, o crescimento
foi menor do que nos anos anteriores (2013-2012, 2014-2013), ao passo que a partir de 2015
59
o crescimento populacional anual foi sempre superior ao anterior, com destaque para o ano de
2017, com quase três vezes o anterior, e do ano de 2018 que manteve o mesmo ritmo. A
participação do município de Igrejinha na população total do Rio Grande do Sul se manteve
estável ao longo da série 2010-2018, sendo aproximadamente 0,3% do total. Quando visto o
crescimento bruto, Igrejinha teve uma porcentagem de crescimento superior à sua participação
geral.
Levar em consideração a participação da população residente em Igrejinha, e a
população estadual, e sua possível conexão com a abertura de novas cervejarias no município,
tem como objetivo compreender a relação habitantes/cervejaria. Tendo como referência as 186
cervejarias, registradas, em 2018, e a população de 11.329.605 habitantes, a relação no Rio
Grande do Sul foi de 60.911 habitantes para cada cervejaria artesanal registrada. O Estado é
composto por 497 municípios, o que por consequência criaria uma média de 22.796 habitantes
por cidade, sendo necessário, portanto, quase três municípios para cada cervejaria. Em
contrapartida a relação encontrada em Igrejinha é de 11.636 habitantes para cada cervejaria
artesanal registrada. Exclui-se, portanto, a cervejaria de grande porte também instalada nos
limites municipais, ao considerar que a produção ali existente se destina ao mercado nacional
e/ou internacional. Com uma média 5,23 vezes menor que a estadual, a existência de políticas
públicas que fomentam e auxiliam as cervejarias artesanais instaladas no município se
justificam, fato que fortalece o interesse do poder público na criação de um polo cervejeiro,
com a centralização em Igrejinha, da mesma forma que já existem os polos calçadista e
moveleiro.
A existência desse polo também já é discutida pelos empreendimentos diretamente
ligados a produção cervejeira artesanal, pois de acordo com o representante da Stier Bier e do
poder público, além das cervejarias, existe o diálogo para a instalação de fornecedores de
matérias-primas e de insumos, que em sua maioria são importados. As respostas obtidas nos
questionários também esclarecem que além do interesse das cervejarias artesanais na criação
de parcerias para compras de insumos, distribuição e produção, os representantes entendem que
exista um diálogo com outros empreendimentos e agentes sociais.
Para que um território venha a prover o desenvolvimento social e econômico dos
indivíduos ali residentes é necessário a geração de emprego e renda, fundamental para a
redistribuição do capital, bem como uma situação econômica que viabilize a instalação de novos
empreendimentos, que conforme sugere Schumpeter (1988) pode possibilitar a reestruturação
da estrutura de poder existente dentro de um território.
A partir da premissa de Schumpeter (1988) de que os empreendimentos são basilares
60
para a reestruturação do poder de um território, compreender como as cervejarias artesanais se
relacionam com o mercado cervejeiro já consolidado, composto principalmente por cervejarias
de grande porte nacionais ou que tem seus produtos importados e distribuídos, pelos grandes
grupos cervejeiros ou de importação, permite elucidar indagações sobre como cervejarias de
pequeno porte podem se comportar no mercado de forma a encontrar o ponto de equilíbrio entre
a expansão comercial e a sustentabilidade econômica. Exemplos desse fenômeno são os
produtos da Cervejaria Corona, a Corona e a Coronita, que são produzidos no parque fabril
instalado no México; a cerveja Norteña, produzida no Uruguai; e a da cervejaria Franziskaner,
produzida na Alemanha e que juntamente com os outros dois exemplos é distribuída no Brasil
pela Cervejaria Ambev10, pertencente ao grupo Anheuser-Busch Inbev (AB Inbev).
Para compreender esse ponto questionou-se aos representantes de cervejarias artesanais
sobre como eles percebem a participação de sua cervejaria no mercado cervejeiro, com foco
principal no cenário artesanal. Fator importante a ser ponderado ao analisar como as cervejarias
podem possibilitar o desenvolvimento econômico de um território, por meio da geração de
emprego e renda, é o fato de as oportunidades de trabalho serem proporcionais à participação
das cervejarias no mercado. O questionamento justifica-se pelo fato que a participação no
mercado está diretamente ligada à produção, que por consequência reflete no número de
trabalhadores necessários, nos diversos setores de uma cervejaria, como a produção, logística,
administração, ou outros, dependendo da formatação da cervejaria. As respostas obtidas estão
inseridas no Quadro 4.
10 https://www.ambev.com.br/marcas/cervejas/
61
QUADRO 4: Representatividade no Mercado11
Cervejaria Participação
Cervejaria Gambiarra Já teve, devido ao nome ser marcante.
Cervejaria Old Captain A cervejaria tem mais de 20 anos de história e foi
fundada por ex-pilotos da Varig, tem como temática
a aviação e está situada em canoas que é a cidade do
avião.
Cervejaria Cadela Velha Não, apesar da qualidade extrema, ainda muito
pequena em termos de produção e de aporte
financeiro para divulgação e demais investimentos.
Cervejaria Maria Santa No mercado local entendo que sim, acredito ser a
marca mais forte na cidade de Santa Maria,
entretanto, fora não temos uma venda significativa.
Old Boys Cervejas Especiais Sim, no mercado local, devido ao tempo de atuação
e à consistência na qualidade de nossas cervejas.
Cervejaria Holy Sheep Não
Cervejaria Maniba Sim. Temos ótimos produtos (dito pelos
consumidores), premiações, conceito de marca, etc.
KKB Microcervejaria Sim, o aumento do número de microcervejarias e a
variedade de produtos disponíveis gera melhora no
atendimento e serviço das demais cervejarias.
Fonte: Dados da pesquisa (2019). Respostas de entrevistas realizadas com os representantes das cervejarias.
A participação de um empreendimento no mercado se dá sob circunstâncias ímpares, e
a premissa é observada também no mercado cervejeiro, em que cada cervejaria artesanal
percebe sua presença e influência de forma distintiva. No Quadro 4 é possível considerar que
cada uma das oito cervejarias artesanais, contemplam sua atuação no mercado de forma distinta.
Apenas duas cervejarias consideram que não são representativas no mercado, a Cervejaria Holy
Sheep e a Cervejaria Cadela Velha. O representante da Cervejaria Holy Sheep considerou que
nem num recorte geográfico mais próximo a cervejaria possa ter representatividade. O segundo,
que representa a Cervejaria Cadela Velha, por sua vez acredita que a não representatividade
está diretamente ligada às limitações da própria cervejaria, principalmente do viés financeiro,
ao acreditar que a falta de aporte financeiro, dificulta o investimento em divulgação da marca e
também não possibilite o aumento da produção, que considera ainda baixa. A Cervejaria Maria
Santa por sua vez, considera ser representativa regionalmente, mais especificamente em Santa
11 As respostas são dos próprios representantes, ocorrendo apenas correções linguísticas e de formatação.
62
Maria, município sede. A consciência de uma representatividade apenas no território sede, pelo
fato de não possuir uma venda com proporção significativa em outros municípios, vai ao
encontro da média de habitantes por cervejaria, pois nesse caso, a Cervejaria Maria Santa está
inserida dentro de um território que já possui um número de habitantes superior ao esperado, já
que Santa Maria possui uma população estimada de 278.364 habitantes (FEE, 2019), o que
pode também justificar sua maior participação local.
O entendimento de que suas cervejarias são relevantes, foi observado nas respostas de
cinco representantes de forma positiva sobre a participação da cervejaria no mercado de
cervejas artesanais. A partir das respostas obtidas entende-se que para todos os representantes
a relevância de cada cervejaria partiu de pilares em comum, como o valor comercial da marca,
a qualidade dos produtos, e o longevidade da cervejaria. Esses três elementos podem não ter
sido encontrados ao mesmo tempo em todas as respostas, todavia, existe a presença de uma
dualidade em comum, seja o elo entre a qualidade e a longevidade, a marca e seus produtos. A
partir da conclusão de que esses elementos são uma constância nas respostas dadas pelas
cervejarias, é admissível a comparação entre o valor comercial da marca, a qualidade dos
produtos e a longevidade da cervejaria, com as respostas dos representantes de outras
cervejarias, com o objetivo de saber se as mesmas podem ser ou não representativas no mercado
cervejeiro artesanal.
Porém a simples categorização não contém em si, os motivos pelos quais esses
coeficientes impulsionam a participação de uma cervejaria no mercado. O primeiro, a marca,
autores como Semprebom e Prado (2016) defendem que no consumo hedonista, que é o caso
do consumo da cerveja artesanal, o desejo de satisfação pessoal é influenciado pelo poder que
a marca detém sobre o consumidor. Portanto, o ímpeto da marca, seja através da identidade
visual, presença nas mídias e a participação (e vitórias) em feiras e festivais cervejeiro pode
motivar um aumento na participação de mercado. A qualidade dos produtos, está ligada à marca
e a participação em concursos cervejeiros, pois ao mesmo tempo que o consumidor assevera a
qualidade ao adquirir os produtos, os resultados de concursos podem fornecer esse
comprovante, antes mesmo do ato da compra. Por fim, a longevidade da cervejaria, de acordo
com as respostas dos representantes das cervejarias significa a sustentabilidade do
empreendimento, ou seja, a necessidade de um ponto de equilíbrio financeiro.
De acordo com as respostas da entrevista, os gestores da Cervejaria Stier Bier
demonstram compreender a importância destes três conceitos que podem influenciar na
representatividade do empreendimento, e consequentemente no crescimento da produção, que
pode levar ao aumento do quadro de funcionários. A Stier Bier, foi fundada em 2013, tendo ao
63
final de 2019 mais de seis anos em atividade, o que de acordo com a resposta da representante
demonstra que a mesma está encontrando o ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade e a
expansão no mercado. A qualidade dos produtos e o valor da marca, para as demais cervejarias
pesquisadas, estão diretamente ligados. Desde a fundação, a Cervejaria participa de eventos
cervejeiros, proporcionando assim o contato com um maior número de consumidores e
personagens de referência no cenário cervejeiro artesanal brasileiro. A qualidade dos produtos
foi comprovada no ano 2019, no Concurso Brasileiro de Cervejas (CBC) quando a Stier Bier
ganhou a medalha de prata com a German-Style Altbier Stier Bier Altbier12, maior honraria
possível nessa categoria. Autores como Stefenon (2012) consideram que aspectos como esse
influenciam no valor agregado de um produto, representada pela Cervejaria Stier Bier, sendo
também responsável pela identidade da marca, projetada pelo empreendimento ou percebida
pelo cliente.
Segundo a Stier Bier, além da participação em eventos, no empenho constante pela
qualidade dos produtos, a cervejaria tem como uma de suas características a dedicação pela
diminuição de estigmas que permeiam a cerveja artesanal, bem como a ampliação da
consciência que a cerveja artesanal pode ser uma fonte de renda. Em relação a isso três questões
podem ser analisadas: a primeira, foi a participação na fundação da Associação dos Cervejeiros
Artesanais de Igrejinha (ACERVAI), no ano de 2018 (que tem o proprietário da Stier como
primeiro presidente); a segunda é consequência da primeira que foi a promoção do primeiro
Festival de Cerveja Artesanal de Igrejinha, em 2019; a terceira são as promoções realizadas, ao
longo do ano, no pub que funciona junto à cervejaria.
Nos três casos, de acordo com a representante da Cervejaria, o interesse principal é o
fomento da cultura cervejeira artesanal, tanto no município quanto na região. A criação da
ACERVAI e a realização do festival, possibilitou que a comunidade conhecesse as inúmeras
cervejarias existentes no Rio Grande do Sul, tendo aceitado a inscrição de 20 cervejarias. Da
mesma forma, que permitiu aos cervejeiros artesanais e caseiros (com o apoio de produção da
Stier Bier) que percebessem os rendimentos que a cerveja artesanal pode prover. Por fim, a
realização de promoções no pub, são realizadas com a intenção de desestigmatizar a cerveja
artesanal, principalmente na questão financeira que, por conseguinte agregou novos clientes,
gerando aumento de produção, e a necessidade de contratações.
A representante salienta que uma porcentagem considerável dos clientes é oriunda de
outras cidades, reforçando assim a vocação turística de Igrejinha, e como outros
12 https://revistabeerart.com/news/cervejarias-premiadas-blumenau
64
empreendimentos instalados no município podem se beneficiar da existência da Cervejaria.
Pois, de acordo com a mesma, existem dias da semana, principalmente em dias de promoção,
que o público supera os 300 clientes.
GRÁFICO 4: Cervejarias e o Turismo
Fonte: Dados da Pesquisa (2019).
O Gráfico 4 demonstra as possibilidades ainda não aproveitadas por parte das
cervejarias artesanais. Tendo como ponto de partida o potencial turístico apresentado pela
Cervejaria Stier Bier, entende-se que quase 40% das cervejarias podem encontrar no turismo
uma nova forma de atrair e fidelizar novos clientes, na intenção de expandir a produção ou
buscar a sustentabilidade econômica do empreendimento. Considerando a potencialidade do
turismo como aliado para o desenvolvimento econômico de um município, por meio das
cervejarias, a resposta dada pelo representante da Cervejaria Maria Santa, demonstra a
necessidade de diálogo constante entre o setor privado e o Poder Público. Neste caso, conforme
o representante da Maria Santa, as prefeituras e as cervejarias, dada a representatividade da
cervejaria para o desenvolvimento do município por meio do turismo, depende de uma
cooperação conjunta: “Já teve impacto maior, quando recebíamos muitos clientes aos sábados,
mas com as obras da rodovia em frente à fábrica, tivemos que encerrar essa atividade.”.
A necessidade de uma cooperação público-privada, torna-se relevante, ao observar a
resposta do representante da Cervejaria Maria Santa, sobre a relação entre o turismo e a
Cervejaria no município de Santa Maria, esta era maior quando havia um fluxo contínuo de
62,50%
25%
12,50%
SIM NÃO INCAPACITADA
65
clientes, contudo, o maior impacto desse encerramento pode ter sido sobre o desenvolvimento
do território. Comparando com o serviço prestado pela Stier Bier, que tem de acordo com os
gestores, seis colaboradores registrado em regime CLT, e que durante os finais de semana pode
chegar a ter mais de 10 freelancers, contratados de acordo com a necessidade. Esse número
pode aumentar se considerar a produção destinada para a venda no próprio bar. Sendo assim,
com base nos números da Stier Bier, é plausível supor que por consequência do encerramento
da atividade na Cervejaria Maria Santa, ocasionado pelas obras, o município de Santa Maria
pode ter perdido um volume de aproximadamente 20 empregos diretos e indiretos.
Complementa-se a esse pressuposto a manifestação de novos clientes residentes em
outros municípios, como é o caso da Stier Bier que atende clientes oriundos de cidades
próximas, como Parobé, Taquara, Três Coroas, Nova Hartz, além de turistas que trafegam pela
rodovia RS-115, em direção a Serra Gaúcha, ou retornando da mesma. Observa-se que nesse
caso existe o investimento num formato de trabalho, que incentiva a captação de clientes
externos ao território, permitindo aproximar a média de habitantes (e possíveis clientes) do
município à média geral, ou seja, o número de habitantes/consumidores por cervejaria,
possibilitando um crescimento sustentável. Os rendimentos decorrentes do turismo não são
sentidos unicamente pelas cervejarias, mas também por outros fornecedores e prestadores de
serviços.
A percepção de que outros empreendimentos se beneficiam da existência de uma
cervejaria artesanal decorre do fato de que os clientes podem necessitar de serviços prestados
por outros empreendimentos, como transporte e hospedagem, bem como a demanda gerada por
insumos alimentícios, de higiene, de embalagens e materiais administrativos. Fato que
demonstra a importância no incentivo à empreendimentos de pequeno e médio porte, como o
PRODEN de Igrejinha.
Os representantes das cervejarias artesanais, ao serem questionados sobre a relação das
cervejarias com outros empreendimentos sediados no município em que estão instaladas,
responderam enfatizando a existência de um turista consumidor e de uma relação entre as
cervejarias e o comércio local.
66
QUADRO 5: Cervejarias e Parceiros Comerciais13
Cervejaria Parceiros
Cervejaria Gambiarra Alimentício
Cervejaria Old Captain Todos os bares da cidade que podem contar
com a fabricação do produto a menos de 8km
de raio de distância, O bairro onde está a
cervejaria que está criando movimento
novamente graças aos eventos e rotina da
fábrica.
Cervejaria Cadela Velha Fornecedores de matéria prima
Cervejaria Maria Santa Acredito que os bares, que tem acesso a uma
cerveja local, que é comercializada o mais
fresca possível. Diferentemente de quando
tinha que servir bebidas que percorriam
grandes distâncias.
Old Boys Cervejas Especiais Eventos cervejeiros
Cervejaria Holy Sheep Nenhum
Cervejaria Maniba Fornecedores em geral, comércio, turismo,
etc.
KKB Microcervejaria Motoristas de aplicativo, táxi, hospedagem e
outros
Fonte: Dados da Pesquisa (2019).
Constata-se a partir do Quadro 5 que, de acordo com os representantes, os setores
secundários e terciários são os mais estimulados pelas atividades ofertadas pelas cervejarias
artesanais, sendo o setor primário influenciado na etapa da produção dos produtos cervejeiros.
A Cervejaria Cadela Velha, considera que os empreendimentos com que mais interage são os
fornecedores de matéria prima, que fornecem os insumos utilizados na produção das cervejas
comercializadas pela cervejaria. A resposta dessa cervejaria vai ao encontro de outras duas
respostas dadas, nas quais a mesma julga não ser representativa para o mercado cervejeiro, e
que não tem potencial turístico. As Cervejarias Old Captain, Gambiarra e Maria Santa têm um
discurso equivalente, nos quais expressam possuir relação próxima com empreendimentos
pertencentes à mesma cadeia produtiva, ou diretamente relacionados. Os representantes das três
cervejarias identificam o ramo alimentício como um parceiro comercial, sendo que a Cervejaria
Gambiarra cita unicamente este ramo. A Cervejaria Old Captain e a Maria Santa, tem nos bares
13 Respostas fornecidas pelos representantes.
67
os estabelecimentos com maior afinidade e influência. A Maria Santa, ao se aproximar dos
bares cita como motivo a oferta de produtos mais frescos, uma característica que a distingue
das já comercializadas no território, fator transformado em valor agregado do produto. A
Cervejaria Old Captain por sua vez, além de apontar os bares, complementa com a afirmação
de que “O bairro onde está a cervejaria que está criando movimento novamente graças aos
eventos e rotina da fábrica”14. Tal afirmação constata que não são somente os comércios com
que a cervejaria se relaciona que são influenciados. Seguindo a premissa de Schumpeter (1988),
sobre o poder que um empreendimento pode exercer sobre um território, verifica-se que a Old
Captain passou a instigar uma reestruturação ao longo dos anos, no bairro em que se instalou,
através da produção e da interação com a comunidade que demonstra possuir um sentimento de
pertencimento para com a cervejaria.
A realização de eventos, apresentada na resposta da Cervejaria Old Captain dialoga com
a dada pela Stier Bier durante a entrevista. A representante diz que as promoções e eventos
promovidos pela cervejaria tem como intenção a ruptura dos estigmas pré-estabelecidos para
as cervejas artesanais, seja em relação a valores, sabores, e particularidades dos consumidores,
com o objetivo de criar uma cultura cervejeira, que pode ser vista como uma tentativa de se
criar um sentimento de pertencimento para com a marca, enquanto se agrega valor ao produto
e a marca.
As cervejarias Maniba e KKB destacam os prestadores de serviços e empreendimentos
ligados ao turismo, com a Maniba também citando os fornecedores no geral. A Cervejaria
Maniba ao lembrar dos fornecedores reforça a importância da cadeia produtiva da cerveja
artesanal. Dentre os fornecedores que podem ser aludidos estão: fornecedores de insumos para
a produção de cerveja e correlatos; alimentícios, usados no preparo dos pratos vendidos juntos
às cervejarias; em paralelo os produtos higiênicos usados nas cozinhas e banheiros; de
embalagens, neste caso produzido por uma cartonagem para comercialização dos produtos, e
também embalagens de alumínio, vidro ou inox (latas, garrafas ou barris, respectivamente).
Ainda sob esse viés a Cervejaria Stier Bier ao ser indagada sobre as parcerias comerciais
existentes, com fornecedores e prestadores de serviços, respondeu que “A gente sempre procura
fazer nossas compras, de tudo que a cidade tem para nós, a gente compra aqui dentro da cidade.
O que a gente só compra fora de Igrejinha é o que a gente não tem aqui dentro, isso a gente
sempre procurou fazer, sabe”. Essa resposta demonstra que existe uma priorização, por parte
da gerência da cervejaria, por fornecedores e prestadores de serviço sediados em Igrejinha. Para
14 Citação ipsis litteris recortado da resposta dada no questionário aplicado.
68
exemplificar isso, a representante da Stier Bier citou a busca pelos fornecedores de embalagens:
“Então por exemplo, o meu fornecedor de embalagem, primeiros nós vamos procurar aqui em
Igrejinha, depois se Igrejinha realmente não puder nos atender, nós vamos buscar fora”. Essa
constatação carrega consigo o entendimento que no momento em que se prioriza o comércio
dentro do próprio município, o valor envolvido tende a recircular dentro do território,
ocasionando por sua vez o desenvolvimento econômico, ao se considerar que tal fenômeno
pode gerar emprego e renda, como efeito secundário.
O ato de promover a circulação cumulativa do capital dentro do território é, portanto,
uma das vocações das cervejarias artesanais, justificada a partir da resposta dada pela Cervejaria
Stier Bier, que diz priorizar os fornecedores existentes dentro do próprio território. A
priorização concedida, e por sua vez a circulação de capital, tem capacidade de promover a
reestruturação da estrutura de poder encontrada no território.
Dada a importância dessa conjuntura, o Quadro 6 exibe a evolução do PIB Total do
município de Igrejinha, entre os anos de 2010 e 2016, enquanto o Quadro 7 expõe o PIB total
do Rio Grande do Sul.
QUADRO 6: PIB Total de Igrejinha de 2010 a 2016
Ano Igrejinha Evolução %
2010 1.020.677,00 -
2011 1.140.014,00 11,69
2012 1.240.640,00 8,83
2013 1.326.812,00 6,95
2014 1.459.073,68 9,97
2015 1.506.435,42 3,25
2016 1.485.951,41 -1,36
2017 1.593.833,48 7,26
2010-2017 573.156,48 56,15
Fonte: IBGE (2019)
69
QUADRO 7: PIB Total do RS de 2010 a 2016
Ano RS Evolução %
2010 241.249.163.900,00 -
2011 265.056.416.300,00 9,87
2012 287.587.018.680,00 8,50
201315 332.292.726.080,00 15,55
2014 357.816.423.830,00 7,68
2015 381.985.142.730,00 6,75
201616 410.276.000.000,00 7,40
2010-2016 58,3
Fonte: FEE (2019)
Igrejinha pode ser descrita como uma cidade que apresenta um crescimento constante,
evidenciado no Quadro 6, que representa a evolução do PIB Total do município, entre os anos
de 2010 e 2017, e também o percentual de crescimento entre o início e fim do período, com
exceção do ano de 2016 em que ocorreu uma taxa de crescimento negativa de -1,36%. O período
selecionado não compreende os anos de 2018 e 2019, fato que permitiria uma análise
comparativa entre o PIB Total de Igrejinha e o número de cervejarias instaladas entre
2018/2019, porém com base no período utilizado na pesquisa, 2010-2017, a importância do
investimento do poder público em programas de desenvolvimento econômico se evidencia.
Ao longo dos anos da série houve um período de crescimento constante, entre os anos
de 2010 e 2014, contudo, no biênio 2015-2016 o percentual de crescimento anual não
acompanhou o ritmo dos resultados anteriores, especialmente o ano de 2016 em que houve um
crescimento negativo. Entre os motivos que podem ter sido significativos para o resultado, é
possível citar a especialização técnica que Igrejinha tem no ramo calçadista. O vínculo que o
município possui com a cadeia calçadista, refletiu na evolução dos resultados dos anos de 2015
e 2016. Percebe-se isso em decorrência da crise que o segmento vem enfrentando nos últimos
anos, como destaca a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), em
15 No primeiro trimestre 2015, o IBGE apresentou a nova série do PIB (Referência 2010), utilizando novos
conceitos e metodologias com a intenção de melhorar a aferição dos resultados econômicos do País. 16 https://www.fee.rs.gov.br/pib/pib-gaucho-fecha-com-queda-de-31-em-2016/
70
entrevista dada à RBS TV em 201417 “Tão longe quanto a gente consegue enxergar, não há uma
reversão à vista desse fenômeno. Nós sabemos todos que por circunstâncias da nossa
macroeconomia, o ano de 2015 deverá ser um ano de ajustes. Esses ajustes necessariamente
vão impor restrições diversas ao consumo”. Esse fenômeno ratifica as ações que o poder
público, através do PRODEN, realiza com intuito de diversificar a indústria produtiva local.
O incentivo na diversificação produtiva encontrada em Igrejinha, permitiu a
transferência da sede da Stier Bier de Parobé/RS, e a instalação em Igrejinha, que
subsequentemente permitiu a criação de novas oportunidades de trabalho para os moradores
locais. Seguindo a resposta dada pela representante da Cervejaria Stier Bier sobre a importância
cultural da cervejaria para o município, onde a mesma disse que a Cervejaria foi responsável
por introduzir a crença que a cerveja artesanal tem potencial para sustentar o investimento da
instalação de uma cervejaria, além da capacidade de gerar rendimentos suficientes para obter
lucro.
Nesse ponto é necessário analisar o contexto encontrado no momento, no qual o próprio
estado do Rio Grande do Sul apresentou uma queda no crescimento, no ano de 2015, em relação
ao ano de 2014, em valores relativos, como é possível observar no Quadro 7. Ainda é necessário
ressaltar que o PIB do Rio Grande do Sul, apresenta um ápice no ano de 2013, fenômeno que
pode ter sido causado pela utilização de novas metodologias e mudança conceituais. Nesse caso,
o valor pode não refletir o crescimento, o que seria esperado caso tivesse continuidade a mesma
metodologia dos anos anteriores.
O percentual de crescimento verificado entre os anos de 2010 e 2016 no PIB do
município de Igrejinha, acompanha o resultado do PIB Total do Estado observado no Quadro
7. Ambos cresceram mais de 50%, em valores brutos, com Igrejinha apresentando um padrão
de crescimento seguido de taxas decrescentes, enquanto o Rio Grande do Sul se destaca pela
alternância entre a taxa de crescimento. O crescimento bruto total estadual é superior ao
municipal, que por sua vez pode estar relacionado ao momento que o setor coureiro-calçadista
se encontra. Todavia, para haver o desenvolvimento de um território não basta que ocorra
apenas o crescimento do PIB, como observado nos Quadro 6 e 7, pois ele aponta que houve
crescimento econômico e não desenvolvimento socioeconômico. Pois, crescimento de capital
não significa que esteja ocorrendo a redistribuição de renda entre os indivíduos pertencentes ao
território, considerando que o aumento pode estar condicionado a uma concentração de capital.
A reestruturação de poder de um território é decorrência da geração de emprego e da
17http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/10/crise-no-setor-calcadista-do-rs-gera-demissoes-em-
pequenas-fabricas.html
71
redistribuição de renda. A evolução do número de vínculos empregatícios ao longo de uma
série, pode indicar a existência de uma reestruturação, ou da concentração, sendo que no caso
de Igrejinha, possui ligação com a cadeia calçadista devido a sua historicidade. Portanto, a
evolução desse indicador complementa a compreensão da importância da diversificação
produtiva de um município, no caso deste estudo a instalação de cervejarias artesanais no
território e os reflexos decorrentes.
A evolução dos vínculos empregatícios ativos apresentados nos Quadro 8 demonstram
que enquanto no Rio Grande do Sul, durante a série 2010/2018 foram contratados 96.211
trabalhadores, no município de Igrejinha ocorreu o fechamento de 884 postos de trabalho, que
representam, respectivamente, uma taxa de 3,43% e -6,79% na relação entre vínculos ativos em
2018 e 2010. Salienta-se que entre os anos de 2014 e 2016, e no ano de 2018, Igrejinha
apresentou taxas negativas, significando que nestes anos ocorreram mais demissões do que
contratações. Essa constatação dialoga com o período em que ocorreu a diminuição da taxa de
crescimento do PIB Total de Igrejinha, consequência do momento em que o setor calçadista se
encontrava.
QUADRO 8: Vínculos Empregatícios Ativos em RS e no Igrejinha de 2010 a 2018
Ano RS Evolução % Igrejinha Evolução %
2010 2.804.162 - 13.015 -
2011 2.920.589 4,15 13.550 4,11
2012 2.993.031 2,48 13.597 0,35
2013 3.082.991 3,01 13.918 2,36
2014 3.109.179 0,85 13.514 -2,90
2015 3.005.549 -3,33 12.583 -6,89
2016 2.910.883 -3,15 12.531 -0,41
2017 2.902.373 -0,29 12.784 2,02
2018 2.900.373 -0,07 12.131 -5,11
2010 - 2018 96.211 3,43 -884 -6,79
Fonte: FEE (2019)
Considerando 2016, ano da assinatura do contrato para o acesso aos benefícios do
72
PRODEN entre a Cervejaria Stier Bier e o município de Igrejinha, como ano base, o volume
total de vínculos empregatícios também apresenta taxas negativas, com exceção de 2017, sendo
respectivamente: 2017, 2,02%; 2018, -5,11%. O montante de vínculos empregatícios ativos
também apresenta queda, com um total de 400 postos de trabalho fechados. A porcentagem de
postos de trabalho segue a mesma dinâmica, com o resultado de -3,19%. A taxa constatada
encontra equivalência na apontada pela ABICALÇADOS, entre os anos de 2017 e 2018, que é
de 3,4%, aproximadamente 10.136 postos de trabalho. A relevância deste apontamento é
decorrente da importância que o setor calçadista tem para o município de Igrejinha. A partir
dessas considerações, o investimento do Poder Público em programas de desenvolvimento
econômico, neste caso o PRODEN, é ratificado, sendo justificado pela necessidade de criação
de novas oportunidades de trabalho, que possibilitem a geração de renda, permitam o
desenvolvimento econômico e a qualidade de vida da comunidade de Igrejinha
A afirmação de Granito et al. (2007) de que a diversificação promove a reestruturação
de um território ao estimular a geração de emprego e renda, corrobora as constatações realizada
a partir dos Quadros 6 e 8. Pois verifica-se a partir do Quadro 6 a necessidade de realizar a
diversificação produtiva em Igrejinha; e no Quadro 8 que existe uma carência de postos de
trabalho. Sendo assim, a compreensão do formato comercial da Cervejaria Stier Bier, e como
está influenciando o município de Igrejinha torna-se relevante. Pois, o formato comercial da
Cervejaria Stier Bier é traduzido em práticas, como a instalação do pub, junto à cervejaria e
subsequentes ações promocionais realizadas, nas características da produção e das vendas,
possibilitando compreender o que uma cervejaria artesanal pode proporcionar para o
desenvolvimento de seu território.
73
FIGURA 3: Pub da Cervejaria Stier Bier
Fonte: Cervejaria Stier Bier (2019).
A representante da Cervejaria Stier Bier, ao ser questionada sobre o formato comercial
adotado pela cervejaria e de quais formas buscam se sobressair no mercado cervejeiro artesanal,
destacou os seguintes tópicos: instalação do pub junto a cervejaria; inserção dos produtos no
mercado utilizando novas embalagens; atualização da identidade visual da marca, contratação
de profissionais para vagas estratégicas, consolidação e ampliação das vendas.
A instalação do pub junto a cervejaria está diretamente ligada a três pontos já
relacionados à cervejaria. Primeiro, a localização da cervejaria, junto à rodovia ERS-115,
agregando valor turístico, que por consequência tem a predisposição para a atrair e conquistar
novos clientes. Em segundo, a relação entre a localização e a instalação, viabilizada pelo poder
público a partir dos programas municipais de incentivo ao desenvolvimento. Por fim, a intenção
de criação de uma cultura cervejeira artesanal.
Observa-se que a presença dos consumidores e turistas junto a cervejaria, foi igualmente
destacado pelo representante da Cervejaria Maria Santa, de Santa Maria/RS, ao citar que até o
encerramento dessa atividade, devido a obras, a presença dos consumidores aos sábados era
expressiva. Demonstrando, que a instalação de um pub, a fim de possibilitar ao cliente o
consumo no local, ou de adquirir produtos, acessórios, também é vista, por outras cervejarias
artesanais, como uma forma de se destacar no mercado cervejeiro artesanal. Com base na
constatação dessa equivalência, os efeitos observados a partir da instalação do pub, pela
Cervejaria Stier Bier, podem ser considerados como referência na realização de análises, que
74
contemplem a relevância da instalação de pubs pelas cervejarias artesanais, para o
desenvolvimento econômico de um território.
A abertura do pub ocorreu concomitantemente a instalação da Cervejaria em Igrejinha,
que completará no primeiro trimestre de 2020, três anos de atividade. Ao ser questionada sobre
o número de colaboradores diretamente ligados às atividades do pub, a representante da
Cervejaria respondeu que, no segundo semestre de 2019, existiam seis colaboradores diretos,
responsáveis pelas atividades do bar. Complementou a resposta constatando que, além dos seis
funcionários diretos, houve a contratação de outros colaboradores, em regime freelancer, que
conforme o período pode duplicar o número de indivíduos trabalhando no pub, em decorrência
de eventos municipais, internos, ou do aumento do número de clientes.
Considerando as exigências para a participação do PRODEN, apenas as contratações
dos colaboradores diretos, ocorridas para suprir a demanda do pub, seriam suficientes para o
cumprimento das exigências, considerando que são seis contratações diretas, para as atividades
do bar, frente as cinco exigidas pelo programa de desenvolvimento. A importância da existência
do pub para a Cervejaria e na geração de emprego e renda para a comunidade local, é percebida
ao considerar a relação do número de colaboradores diretos, ligados ao pub em relação com os
demais, como observado no Quadro 9.
Constata-se a partir do Quadro 9 que a Cervejaria Stier Bier apresentou em todos os
semestres, desde o ano de 2016, o aumento do número de funcionários diretos, registrados. O
ano de 2016, que é o ano anterior à instalação da Cervejaria em Igrejinha, e que foi usado como
parâmetro para participação da Cervejaria no PRODEN, demonstra que a mesma iniciava um
processo de contratações, que se estendeu durante o ano de 2017, período em que a Cervejaria
participou do programa de desenvolvimento.
QUADRO 9: Evolução Vínculos Empregatícios Cervejaria Stier Bier
Semestre 2016 2017 2018 2019
1º 2 4 5 13
2º 3 5 12 - Fonte: Dados da pesquisa (2019)
A taxa de crescimento observada durante o biênio 2016/2017 foi de 150%, mais do que
duplicou o número de funcionários registrados, contrastando a taxa estadual de -0,29%, e ainda
representou um dos empreendimentos que proporcionou o crescimento da taxa municipal de
empregos, de 2,02%. O percentual de contratações ocorridas entre os anos de 2017/2018
contrapõe o elevado número de demissões ocorridas em Igrejinha no mesmo período. Enquanto
75
no município foram encerrados seiscentos e cinquenta e três postos de trabalhos, a Cervejaria
Stier Bier contratou sete funcionários. Percentualmente o município acompanhou o fechamento
de 5,11% dos postos de trabalhos, enquanto isso, a Stier Bier possibilitou um crescimento de
140% postos, na relação 2017/2018.
A importância da constatação do volume de contratações diretas realizadas pela Stier
Bier justifica-se pela relação direta entre a evolução dos vínculos empregatícios da Cervejaria
e de Igrejinha. Constata-se a partir de uma comparação direta entre o número de novas
contratações realizadas pela Stier Bier (7), e os vínculos encerrados em Igrejinha (653), que a
Cervejaria foi responsável por possibilitar que Igrejinha mantivesse aproximadamente 0,7%
dos vínculos existentes no 2017. O percentual resultante corrobora a afirmação de Granito et.
al (2007) de que a diversificação produtiva pode prover o desenvolvimento de um território.
A relevância da Cervejaria para a manutenção dos vínculos empregatícios no município
é marcada ao considerar os vínculos indiretos criados pela abertura e crescimento do pub.
Considera-se para isso os sete vínculos diretos criados em 2018, mais seis indiretos,
considerando que existem datas em que o número de colaboradores, ligados às atividades do
pub dobra, com a presença dos freelancers, totalizando treze vínculos. Neste caso, a
participação da Cervejaria na relação entre os vínculos criados e encerrados passa a ser de
0,99%.
Autores que estudam o desenvolvimento, a exemplo do Furtado (1983), Boisier (2016)
e Isard (1962), afirmam que a geração de emprego e renda, permite que o território realize um
desenvolvimento “botton up”, ou seja, que priorize e reflita principalmente os indivíduos mais
necessitados, como por exemplo as famílias de menor poder aquisitivo, ou desempregados, que
de acordo com o Quadro 8, em Igrejinha aumentou mais de 6,79% entre os anos de 2010 e
2018.
A Stier Bier ao responder sobre a importância do pub como processo de inovação e
diferenciação da Cervejaria no mercado cervejeiro artesanal, destacou a intenção da criação de
uma cultura cervejeira, onde a Stier Bier seria o núcleo. Considerando que no decorrer dos
semestres sucessores à instalação da Cervejaria em Igrejinha, ocorreu um constante processo
de contratações, em regime direto e indireto, em que um dos setores responsáveis foi o de
serviços, mais especificamente o pub. Neste contexto, julga-se que a cultura cervejeira
pretendida pela Cervejaria, foi convertida em mais clientes do que os funcionários diretos
conseguem atender, demandando contratações extras de freelancers. Essas questões por sua
vez, demandam também a ampliação de outros setores da Cervejaria, como da produção,
administração e vendas. A base para tal conjectura é o fato de que quanto maior o público que
76
a Cervejaria atender, maior será o consumo de seus produtos, a necessidade de aumentar a
produção, e consequentemente a contratação de funcionários.
Complementando a premissa de que o aumento dos clientes no pub desencadeia a
necessidade do crescimento do volume de produção, as vendas externas também influenciam
neste aumento. A Cervejaria Stier Bier ao ser questionada sobre as vendas entre os anos de 2017
e 2019, respondeu que o volume de vendas anual é irregular, pois o consumo retrai nos meses
mais frios e expande principalmente no período de festas, mês de outubro e do verão,
necessitando uma busca constante por novos pontos de venda.
De acordo com a Cervejaria, ao ser questionada sobre a evolução das vendas externas:
“Hoje temos uma venda consolidada na região, temos uma venda legal acontecendo na região
de Porto Alegre, na região de Novo Hamburgo. Gramado tem se mostrado um mercado muito
interessante, somos a terceira cervejaria que mais vende em Gramado, atrás das duas locais”. A
fala da representante corrobora a intenção inicial da Cervejaria, de criar uma cultura cervejeira
para, desta forma, se destacar no mercado. Observa-se a partir desta, que a Cervejaria, é o centro
do principal raio de vendas. Esse fato demonstra, portanto, que os principais canais de venda
são os pontos de venda e o delivery, enquanto ainda segundo a representante da Cervejaria, o
volume de vendas das cervejas engarrafadas, mesmo que em crescimento, não corresponde nem
à capacidade de produção da cervejaria e nem ao que ela se propõe a produzir.
A Cervejaria ao ser questionada sobre como pretende se destacar no cenário cervejeiro
através da venda engarrafada, respondeu citando três ações que está realizando: a primeira foi
a contratação de um profissional com expertise na abertura de novos mercados e pontos de
venda; a segunda a atualização da identidade visual; e por fim, o lançamento de mais uma
embalagem de garrafa, a long neck. A importância do lançamento das cervejas engarrafadas em
garrafas long neck, é decorrente do fato de que a cerveja engarrafada proporciona a
oportunidade da realização de venda e distribuição de produtos por todo o território nacional,
permitindo a entrada em mercados cervejeiros que não apresentam as características climáticas
e de consumo semelhantes à encontrada nas regiões atendidas pela Cervejaria, a exemplo dos
mercados do sudeste e do nordeste, que além do clima tem como característica marcante o
turismo anual. Da mesma forma que permite disponibilizar no mercado um produto de menor
valor final de venda.
As inovações e diferenciações que a cervejaria implementou, vão ao encontro das
constatações de Schumpeter (1988) sobre as possibilidades decorrentes de novos processos de
inovação, e também de Kalnin (1999) e Stefenon (2012) sobre a necessidade que as
microcervejarias possuem de inserir produtos diversificados no mercado, já que o mercado,
77
principalmente gaúcho, onde a Stier Bier está inserida, se apresenta sob o formato de oligopólio
diferenciado.
A compreensão da relevância das vendas externas, aliada à venda realizada pelo pub da
Cervejaria, é importante para mensurar a evolução da produção, e consequentemente para a
manutenção do quadro funcional. Partindo da constatação da Cervejaria de que o consumo
apresenta dois períodos distintos, representados pelas estações quentes e frias, é possível
considerar que o número de funcionários poderia diminuir durantes os meses mais frios, ao
passo que o inverso aconteceria, ocasionando uma sazonalidade nos vínculos. Seguindo, o
aumento das vendas externas permite suprir o déficit observado, permitindo a manutenção dos
postos de trabalho nos meses de menor consumo. Contudo, a constatação da Cervejaria de que
o crescimento das vendas de cervejas engarrafadas pode se apresentar como a principal
oportunidade de crescimento, indiferente ao clima, é correta.
Considerando que os resultados das ações da Cervejaria para a consolidação e
crescimento das vendas e da produção, como o aumento no número dos pontos de venda, e o
lançamento de novas embalagens, proporcionam a manutenção e o crescimento do número de
funcionários diretos e indiretos, constata-se que a Stier Bier promove o desenvolvimento do
território de Igrejinha
De acordo com os autores Bassan (2014) e Vieira e Santos (2012) o desenvolvimento,
é um processo pelo qual um território se transforma, em que as desigualdades sociais são
diminuídas e os indivíduos percebem uma melhora na qualidade de vida. Além disso, pode
ocorrer uma mudança na estrutura social, econômica e de poder no interior do território.
As opiniões dos autores sobre o processo de desenvolvimento de um território, através
da diminuição das desigualdades sociais entre os indivíduos, podem ser corroboradas ao
observar as constatações realizadas a partir do processo de desenvolvimento social que a
Cervejaria Stier Bier está promovendo junto ao município de Igrejinha. Entre os principais
pontos na diminuição das desigualdades sociais está a geração de emprego e renda, que por sua
vez encontra-se presente na evolução do quadro funcional da Cervejaria, observado no Quadro
8. A correlação entre a evolução do número de funcionários e a afirmação de Vieira e Santos
(2012) evidencia-se ao considerar que a Stier Bier está promovendo a diminuição das
desigualdades sociais de Igrejinha, a partir das desigualdades econômicas, considerando que a
geração de emprego da Cervejaria é superior à realizada pelos demais empreendimentos
instalados no município.
Para a compreensão do processo de desenvolvimento existente em Igrejinha, e a
correlação com a instalação da Cervejaria Stier Bier no município, a utilização de indicadores
78
socioeconômicos é justificada a partir da literatura do desenvolvimento social, a exemplo de
Jannuzzi (2006). O autor afirma que a análise de indicadores socioeconômicos possibilita a
compreensão da evolução do desenvolvimento do território, seja uma evolução positiva, ou não,
com a finalidade de corroborar com as observações empíricas dos pesquisadores.
Com base na interpretação sobre a utilização de indicadores socioeconômicos para a
entender o desenvolvimento de Igrejinha, a partir da afirmação do autor, o estudo utilizou como
indicador parâmetro o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE). A utilização deste
indicador é em decorrência do fato de que o índice avalia a conjuntura socioeconômica dos
municípios do Rio Grande do Sul, a partir de três blocos independentes, que também são
analisados em conjunto, formando o resultado referencial. Os três blocos analisados são: Renda,
Saúde e Educação.
A análise da correlação entre a Cervejaria Stier Bier e o desenvolvimento de Igrejinha,
necessita levar em consideração a defasagem temporal existente entre a série disponibilizada
pela FEE, que corresponde aos anos de 2010 e 2016, enquanto a instalação da Stier Bier ocorreu
no ano de 2017. Contudo a compreensão dos indicadores que formam cada bloco, e como os
mesmos se relacionam com a sociedade, possibilita realizar a correlação com o empírico da
pesquisa. Portanto, saber quais indicadores constituem o IDESE é fundamental, para isso são
apresentados no Quadro 10.
O Quadro 10 ao apresentar os indicadores formadores de cada bloco individual do
IDESE, possibilita que o estudo realize uma análise e faça correlações com dados da pesquisa.
Quando considerado o bloco da educação, constata-se a subdivisão em quatro grupos
populacionais e os respectivos percentuais. O estudo destaca o quarto grupo populacional,
composto por indivíduos acima de 18 anos, e o respectivo percentual com ao menos o ensino
fundamental completo. Sob a ótica da renda a utilização do PIB per capita oportuniza que seja
efetuada uma verificação sobre a evolução deste indicador durante os anos de 2017 e 2018.
79
QUADRO 10: Indicadores Blocos IDESE
Educação Saúde Renda
População
entre 4 e 5
anos
Taxa de
matrícula na
pré-escola
Saúde
materno-
infantil
Taxa de
mortalidade
de menores
de cinco anos
(TMM5)
Renda gerada PIB per
capita
População
entre 6 e 14
anos
Nota da Prova
Brasil (5.º ano
do ensino
Fundamental)
Número de
consultas
pré-natal por
nascidos
vivos
Nota da Prova
Brasil (9.º ano
do ensino
fundamental)
Longevidade Taxa bruta de
mortalidade
padronizada
(TBMP)
População
entre 15 e 17
anos
Taxa de
matrícula
no ensino
médio
Condições
gerais de
saúde
Taxa de
mortalidade
por causas
evitáveis
População
de 18 anos
ou mais
Percentual da
população
adulta com
pelo menos o
ensino
fundamental
completo
Proporção de
óbitos por
causas mal
definidas
Fonte: FEE (2019)
A primeira análise a ser realizada pelo estudo interpreta os resultados do IDESE do
município de Igrejinha, durante a série 2010-2016 e a comparação com o resultado do IDESE
do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2010 e 2016, apresentado no Quadro 11.
O município de Igrejinha, assim como o Estado, apresentou um aumento constante no
valor do IDESE, entre os anos de 2010 e 2014. O município de Igrejinha possui dois anos
chaves na série 2010 e 2016 como observado no Quadro 11, sendo o primeiro, o ano de 2014 e
o segundo, o ano de 2015. O ano de 2014 se destaca pelo aumento, acima da média, do resultado
do IDESE. Enquanto isso, o ano de 2015 se caracteriza pela única evolução negativa, em relação
ao ano anterior.
80
QUADRO 11: IDESE de 2010 a 2016
RS Evolução % Igrejinha Evolução %
2010 0,72 - 0,719 -
2011 0,726 0,83 0,728 1,25
2012 0,734 1,10 0,737 1,24
2013 0,747 1,77 0,745 1,09
2014 0,757 1,34 0,763 2,42
2015 0,751 -0,79 0,75 -1,70
2016 0,754 0,40 0,752 0,27
Fonte: FEE (2019)
Uma constatação verificada foi a variação da correlação entre a evolução dos índices
anuais do município de Igrejinha e do estado do Rio Grande do Sul, seja de forma absoluta ou
relativa, bem como a evolução final da série 2010-2016. Entre os anos de 2010 e 2016 o IDESE
de Igrejinha foi superior ao do Rio Grande do Sul em três momentos, 2011, 2012 e 2014,
portanto, menos de 50% da série. Nos anos 2010, 2013, 2015 e 2016 o Índice municipal foi
inferior ao do Estado. A evolução do IDESE visto sob uma ótica do percentual de crescimento
apresentou dinâmica semelhante, na qual o ano de 2015 destaca-se, por ser o único período com
crescimento negativo, -0,79% no Estado e -1,7% em Igrejinha. O IDESE obtido em 2015 pode
ser reflexo do cenário econômico à que ambos os territórios estavam expostos, podendo citar o
mercado calçadista e o início do processo de impeachment do então presidente em exercício.
Por fim, a diferença encontrada entre os dois índices aumenta ao final da série 2010-2016, sendo
que há uma diferença de um centésimo no ano de 2010 e de dois centésimos no ano de 2016.
Demonstrando dessa forma, que apesar de se constatar a existência de um desenvolvimento
socioeconômico no município de Igrejinha, passando de 0,719 para 0,752, o crescimento foi
inferior ao ocorrido no Rio Grande do Sul.
Ao considerar o fato de que o resultado do IDESE é obtido a partir de três blocos
individuais, saúde, educação e renda, a análise da evolução dos mesmos no decorrer da série
2010-2016, permite compreender em quais aspectos do desenvolvimento Igrejinha se destaca.
Os quadros 11, 12, 13 e 14 apresentam os resultados dos blocos de Saúde, Educação e Renda,
entre os anos de 2010 e 2016. O primeiro bloco a ser analisado é o da Saúde.
De acordo com o Quadro 12 o bloco de saúde, do IDESE no município de Igrejinha
apresentou um crescimento de 3,79% entre os anos de 2010 e 2016, superior ao crescimento
81
ocorrido no Rio Grande do Sul, que foi de 1,49%. Além do município apresentar um
crescimento total inferior ao do Estado, a diferença entre os resultados do mesmo período
também foi superior, enquanto o Estado passou de 0,807 para 0,819, Igrejinha evoluiu de 0,
792 para 0,822.
QUADRO 12: IDESE - Bloco Saúde de 2010 a 2015
Ano Igrejinha Evolução % RS Evolução %
2010 0,792 - 0,807 -
2011 0,791 -0,13 0,807 0,00
2012 0,801 1,26 0,809 0,25
2013 0,796 -0,62 0,809 0,00
2014 0,819 2,89 0,813 0,49
2015 0,816 -0,37 0,817 0,49
2016 0,822 0,74 0,819 0,24
2010-2016 - 3,79 - 1,49
Fonte: FEE (2019)
O município de Igrejinha, teve três crescimentos negativos, 2011, 2013 e 2015, e um
crescimento acima da média, 2,89%, já o Rio Grande do Sul não apresentou nenhum
crescimento negativo. Todavia, em dois anos, 2011 e 2013, o resultado do bloco da saúde ficou
estabilizado. A consequência dos crescimentos observados ao longo dos anos de 2010 e 2016
foi de que Igrejinha proporcionou mais desenvolvimento na saúde para seus habitantes, do que
o Rio Grande do Sul. Cabe salientar que com base no resultado do bloco da saúde, o município
de Igrejinha está inserido num patamar considerado alto18
A realização de uma correlação entre a instalação da Cervejaria Stier Bier no município
de Igrejinha, e, portanto, da relação entre as cervejarias artesanais e o desenvolvimento de um
território, sob a ótica da saúde, pode ter como perspectiva as oportunidades de cuidados para
com a saúde dos indivíduos, providas a partir da geração de emprego e renda. Neste caso, a
geração de emprego que a Cervejaria oportunizou ao município, a partir da instalação em 2016,
pode proporcionar aos habitantes que vieram a se tornar empregados, bem como seus
dependentes, a possibilidade de melhorar seus cuidados com a saúde.
18 Conforme a classificação vigente, o IDESE pode apresentar três níveis, sendo: alto (maior ou igual a 0,800),
médio (entre 0,500 e 0,799) e baixo (abaixo de 0,499).
82
O segundo bloco que compõem o IDESE a ser analisado é o Educação. O bloco da
educação, assim como o da saúde, também é composto por sub-blocos, contudo, da mesma
forma que a saúde, a correlação entre as cervejarias artesanais e o desenvolvimento a partir da
educação, não ocorre de forma direta, sendo o mesmo um reflexo que a geração de emprego e
renda pode ocasionar aos funcionários e seus dependentes. Considera-se isso ao observar que
três dos quatro sub-blocos que compõem o bloco Educação tem como finalidade quantificar a
educação da população menor de 18 anos, neste caso os dependentes.
O bloco Educação, como observado no Quadro 13 é o indicador de menor valor
absoluto, estando no nível médio, tanto em nível municipal quanto estadual, 0,695 e 0,710
respectivamente. Contudo, ao mesmo tempo que apresenta o menor resultado entre os três
blocos que compõem o IDESE, a educação apresenta o maior percentual de crescimento da
série 2010-2016, com destaque para o município de Igrejinha que cresceu 11,74%, mesmo
tendo apresentado um crescimento negativo considerável, de -1,59% no ano de 2015.
QUADRO 13: IDESE - Bloco Educação de 2010 a 2015
Ano Igrejinha Evolução % RS Evolução %
2010 0,622 - 0,64 -
2011 0,639 2,73 0,651 1,72
2012 0,651 1,88 0,664 2,00
2013 0,667 2,46 0,679 2,26
2014 0,69 3,45 0,697 2,65
2015 0,679 -1,59 0,698 0,14
2016 0,695 2,36 0,710 1,72
2010-2016 - 11,74 - 10,94
Fonte: FEE
Com base nesses dados constata-se, portanto, que a educação pode ser considerada o
principal provedor de desenvolvimento social identificado no município de Igrejinha, entre
2010 e 2016, e também o que propicia que os indivíduos tenham a percepção que está ocorrendo
um desenvolvimento social, considerando todos os reflexos que a comunidade sentiu ao longo
dos anos, que resultou neste índice.
Assim como no caso do bloco Saúde, a Cervejaria Stier Bier também não está
83
diretamente conectada com o resultado do índice Educação, pois, o único sub-bloco que leva
em consideração a população maior de idade, tem como objetivo quantificar a porcentagem de
indivíduos adultos que possuem ao menos o ensino médio completo. A relevância da
Cervejaria, assim como das demais cervejarias instaladas no município, e da associação
cervejeira municipal, é em relação a educação continuada, principalmente através da oferta de
cursos profissionalizantes, de capacitação ou qualificação.
Quando questionada sobre a relação entre a Cervejaria e o desenvolvimento do
município, através da educação, a resposta da representante da Cervejaria Stier Bier foi que
juntamente a ACERVAI realizou entre os meses de setembro e dezembro de 2019, um curso de
sommelier, ajudando desta forma na promoção e participação de cursos voltados para o mercado
cervejeiro, não ficando limitado ao cenário artesanal e caseiro. A importância desse curso foi
ressaltada também pelo representante do Poder Público de Igrejinha, que ao ser questionado
sobre a relevância das cervejarias artesanais para o desenvolvimento do município, elencou a
execução do curso de sommelier, e os impactos positivos que o mesmo trouxe ao município.
Os reflexos da realização do curso de sommelier no município, inicia com as próprias
cervejarias artesanais instaladas em Igrejinha, através da associação, proporcionarem a
complementação, qualificação de profissionais locais, indivíduos que buscam no mercado
cervejeiro artesanal uma forma geração de renda, principal ou complementar, bem como para
satisfação pessoal. Analisar esse curso sob o ponto de vista mercadológico, mais
especificamente em relação aos profissionais, já empregados e inseridos no mercado, ou aos
que desejam ingressar, é justificado por autores como Stefenon (2012) que discorre sobre o
interesse do consumidor por cervejas diferenciadas, e Santos (2004) com a produção de valor
agregado através da diferenciação dos produtos e das técnicas.
Contudo, a importância da promoção de curso não se restringe unicamente os indivíduos
que participaram. A representante da Cervejaria complementa a resposta sobre a realização do
curso de sommelier em Igrejinha dizendo: “Tem gente de fora, de algumas cervejarias de fora
que fomos convidando e vieram também, tem cervejeiro de Caxias, tem cervejeiros ali da região
de Dois Irmãos, tem alguns que tão vindo de fora fazer”. A resposta dada, carrega consigo a
importância da relação entre as cervejarias artesanais e a educação continuada, pois, ainda
segundo a representante, o curso foi assistido por trinta e cinco alunos, sendo cinco funcionários
da cervejaria de grande porte, também instalada no município de Igrejinha, e também foi a
primeira vez que ocorreu na região.
O curso, semelhantemente ao brewpub da Stier Bier, também proporcionou à economia
municipal, através dos serviços, principalmente de hospedagem e alimentação, a possibilidade
84
de atender turistas oriundos de outras cidades e regiões, como no caso dos alunos que vieram
de Caxias do Sul e de Dois Irmãos, conforme citado pela representante da Stier. A participação
do curso na economia de Igrejinha pôde ser sentida ao longo de quatro meses no ano de 2019.
Uma das consequências da realização desse curso, a de aumento dos serviços de
alimentação e hospedagem, tem aptidão para influenciar no desenvolvimento econômico de
Igrejinha, que por sua vez pode ser quantificado através do resultado do índice do bloco Renda.
O bloco Renda, teve 2016 como último ano publicado, contudo, o fato de que o índice tem
como base o PIB per capita, é possível realizar uma previsão do ano de 2017, utilizando como
base o PIB total de Igrejinha, e a população do município no mesmo ano.
O Quadro 14 apresenta o resultado do bloco Renda do IDESE, entre os anos de 2010 e
2016, do município de Igrejinha, e também do Rio Grande do Sul, além da evolução apresentada
no mesmo período.
A primeira constatação que o Quadro 14 permite é o posicionamento do município de
Igrejinha no estrato do desenvolvimento econômico, estando no patamar médio e próximo ao
resultado considerado alto. O desenvolvimento econômico observado no município de Igrejinha
é semelhante ao encontrado no estado do Rio Grande do Sul, apresentando valores aproximados
e com equivalente regularidade, contudo mais elevados que os municipais, que decresceu na
relação 2010-2016.
QUADRO 14: IDESE de Igrejinha e do RS - Bloco Renda de 2010 a 2016
Ano Igrejinha Evolução % RS Evolução %
2010 0,743 - 0,712 -
2011 0,753 1,35 0,721 1,26
2012 0,759 0,80 0,73 1,25
2013 0,771 1,58 0,753 3,15
2014 0,781 1,30 0,763 1,33
2015 0,756 -3,20 0,739 -3,15
2016 0,739 -2,25 0,732 -0,95
2010-2016 - -0,54 - 2,81
Fonte: FEE (2019).
Entre os anos de 2010 e 2014, Igrejinha manifestou um crescimento constante no
resultado do índice, com crescimento acima de 1,3%, com exceção do ano de 2012, único ano
85
em que o município cresceu abaixo de 1%. O ano de 2014 se destaca por dois motivos, evolução
e valor absoluto. O primeiro, evolução, é relevante pois foi o último ano da série 2010-2016 a
apresentar evolução positiva, o qual totalizava até o momento um crescente de 5,1% em 5 anos.
Todavia, a evolução que Igrejinha expressou no período de 2010-2014 foi de 5,1%, inferior ao
apresentado pelo Rio Grande do Sul, no mesmo período, que foi de 7,1%, quase quarenta por
cento superior ao registrado no município. O segundo destaque é o valor absoluto, em 2014 que
foi de 0,781. O valor absoluto do bloco Renda em 2014 é relevante por demonstrar que nesse
ano Igrejinha, ficou próximo de estar no patamar considerado de alto nível, fator fundamental,
de acordo com os parâmetros do IDESE, para o desenvolvimento de um território.
Os anos seguintes, 2015 e 2016, são marcados pela queda do resultado, a primeira de -
3,2% e a segunda de -2,25%. Essa evolução permite considerar que o município de Igrejinha
viveu um período de retrocesso econômico, que refletiu nas condições de vida dos indivíduos
residentes no território. Enquanto isso, a mesma recessão foi observada no Rio Grande do Sul,
demonstrando que a taxa de crescimento negativa não é uma característica particular a
Igrejinha.
Contudo, ao se analisar exclusivamente o bloco Renda do IDESE, é necessário realizar
ponderações. O indicador utilizado para a obtenção do resultado tem como base o PIB per
capita municipal, no caso de Igrejinha, e estadual, no caso do Rio Grande do Sul. A ocorrência
de um crescimento econômico não necessariamente representa a existência de um
desenvolvimento econômico dos indivíduos. Por este motivo, mesmo que ocorra uma
diminuição nos postos de trabalho disponíveis no território, redução na geração de renda, e
consequentemente uma queda das desigualdades sociais, caso ocorra um aumento do PIB Total
do território, o bloco Renda ao ser quantificado considera que ocorreu um crescimento de renda
nesse período.
Furtado (1983) diz que a redistribuição de renda é fundamental para que ocorra a
diminuição das desigualdades sociais e, consequentemente, o desenvolvimento
socioeconômico. Seguindo a premissa do autor, é possível considerar que entre os anos de 2010
e 2014 ocorreu uma distribuição de renda, de nível médio para cima, entre os indivíduos do
município de Igrejinha. Com base nessa observação, e com a informação sobre os vínculos
empregatícios, é possível supor que, a partir dos dados secundários, Igrejinha apresentou, nesse
mesmo período, características de um território em que os indivíduos estão percebendo a
existência de um desenvolvimento socioeconômico. Contudo, entre os anos de 2015 e 2016, a
percepção foi alterada, pela ocorrência da diminuição dos postos de trabalhos disponíveis no
município, evolução semelhante à apresentada pelo PIB Total de Igrejinha.
86
O ano de 2017 não teve IDESE divulgado, e portanto nem os blocos Saúde, Educação
e Renda, contudo considerando que o resultado do bloco Renda é obtido a partir do PIB per
capita, é possível uma previsão da evolução do resultado baseando-se no relação entre o PIB
per capita de 201719, R$ 45.664,66 e o de 2016, R$ 42.909,37. Nota-se então a ocorrência de
um crescimento no PIB per capita de Igrejinha entre os anos de 2016 e 2017, uma evolução de
6,42%. Salienta-se que crescimento do PIB per capita não é sinônimo de redistribuição de
renda, entre os indivíduos de um território. A ponderação foi realizada devido ao fato de que o
IDESE – Bloco Renda leva em consideração a evolução do valor absoluto do PIB per capita
como indicador formador. Ainda sobre o período de 2016-2017 constatou-se um crescimento
superior a 2% nos vínculos empregatícios em Igrejinha, fator que demonstra ter ocorrido
aumento na redistribuição de renda, em relação aos anos anteriores, que apresentavam queda
no número de postos de trabalho.
Quando se relaciona o resultado do bloco Renda, com o PIB per capita e os vínculos
empregatícios, na intenção de compreender o processo de desenvolvimento econômico dos
indivíduos residentes de um território, a relevância da instalação da Cervejaria Stier Bier no
município de Igrejinha e a importância da criação de uma política pública que fomenta a
diversificação da cadeia produtiva do município, tornam-se aparentes. Erber (2011) afirma que
a redistribuição de renda é um dos fatores fundamentais para a existência de um
desenvolvimento econômico, que difere do crescimento econômico, ao passo que o
desenvolvimento possibilita uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos.
Considerando que no ano de 2017 ocorreu tanto um aumento no PIB per capita do
município como o crescimento do PIB Total de Igrejinha, além da abertura de novos postos de
trabalho na Cervejaria e no município, considera-se que o ano de 2017 tem características que
possibilitam o desenvolvimento do território.
Com base nas análises realizadas a partir do IDESE e dos blocos Saúde, Educação e
Renda o estudo pode constatar que os resultados dos indicadores socioeconômicos indicam uma
melhora na qualidade de vida dos munícipes de Igrejinha, durante os anos de 2010 e 2016.
Observou-se que neste período os indicadores socioeconômicos demonstraram uma melhora na
qualidade de vida, que acompanha o crescimento do resultado do indicador IDESE, na relação
2010-2016. Os indivíduos podem ter sentido o reflexo da queda ocorrida no ano de 2015, pois
na saúde os indicadores sociais demonstram um crescimento positivo, porém limitado, devido
ao pequeno aumento desse indicador. A educação, foi o bloco que apresentou maior
19 https://www.fee.rs.gov.br/perfil-socioeconomico/municipios/detalhe/?municipio=Igrejinha
87
crescimento, ultrapassando os 10%. Enquanto, a redistribuição de renda dentro do território
elevou significativamente entre os anos de 2010 e 2014, e retrocedeu no ano de 2015 e 2016,
que pode ser reflexo da queda no número de vínculos empregatícios.
Com base nessas observações, considerar que as cervejarias de pequeno porte, como a
Cervejaria Stier Bier, podem refletir positivamente no desenvolvimento de um território, torna-
se consistente. Pois, considerando que no mesmo período em que ocorreu um volume
considerável de demissões, no município de Igrejinha, a Cervejaria mais que dobrou o número
de colaboradores diretos e indiretos, tornando-se relevante desta forma para a geração de
emprego e redistribuição da renda no território em que está instalada.
A partir da premissa da participação do empreendimento no PIB Total e da importância
da geração de emprego e renda, considerar que a influência da Stier Bier, no cenário, no ano de
2018 e 2019, é ainda mais relevante, sustenta-se pelo fato de que neste dois anos a Cervejaria
contribuiu para o crescimento do PIB Total de Igrejinha, ao mesmo tempo que ampliou o
número de vínculos empregatícios diretos e indiretos, permitindo, dessa forma, que mais
indivíduos tenham acesso a emprego e renda, fatores determinantes para o desenvolvimento
socioeconômico de um território.
Entre as contribuições da Cervejaria Stier Bier para o crescimento do PIB Total de
Igrejinha, a partir de 2017, ano de instalação da cervejaria no município, está a arrecadação de
impostos sobre a produção e comercialização dos produtos da cervejaria. A relevância é
decorrente da participação que os impostos possuem na constituição do PIB Total, seja
municipal, estadual ou nacional. Como base de comparação utiliza-se a porcentagem do
imposto sobre o PIB Total brasileiro no ano de 2018 que chegou a 33,58%.20
A constatação da relação da Stier Bier para o crescimento do PIB de Igrejinha decorre
da resposta dada pela representante da Cervejaria, ao ser questionada sobre o volume de
produção da Cervejaria, após a instalação em Igrejinha, ao responder que o montante
comercializado, através dos diversos canais de venda, no brewpub, pontos de venda,
engarrafadas, e delivery, aumentou a cada ano, e que enquanto isso o imposto recolhido segue
a mesma proporção de crescimento. A representante da Stier Bier ainda complementa, sobre a
relação da Cervejaria com a carga tributária, ao responder: “O maior problema da cervejaria
artesanal é a carga tributária muito elevada, as vezes vou fazer um custo, e esse cálculo é cruel,
a nossa carga tributária, hoje, ela se transforma em 40,8% a.m.”.
A elevada carga tributária é vista também pela representante da Stier Bier, como um dos
20 http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-03/carga-tributaria-sobe-em-2018-e-atinge-3358-do-
pib-estima-tesouro
88
fatores que ocasionam o encerramento das atividades das cervejarias artesanais instaladas por
todo o território brasileiro: “Pegar toda essa cerveja que está ali e botar ela pra fora no mercado,
essa é a parte difícil do negócio, e aí que a paixão acaba, a paixão era fazer cerveja, agora vender
a cerveja, essa é a parte difícil”. Por ter esse entendimento que a representante da Stier Bier,
considera que apesar do mercado cervejeiro brasileiro estar apresentando um ritmo de
crescimento elevado, o número de cervejarias que estão encerrando as atividades também é
considerável, apesar de não poder ser mensurável até o momento.
Com base nas respostas obtidas junto da representante da Cervejaria Stier Bier, das
cervejarias artesanais instaladas dentro do Rio Grande do Sul, compreende-se que programas
de desenvolvimento econômico, como o PRODEN de Igrejinha, podem permitir que as
cervejarias artesanais encontrem o ponto de equilíbrio entre a produção e a comercialização dos
produtos no mercado cervejeiro brasileiro. Da mesma forma, que consequentemente a
sustentabilidade e crescimento das cervejarias artesanais, como no caso da Cervejaria Stier Bier,
possibilitam o desenvolvimento socioeconômico dos indivíduos residentes no território em que
estão instaladas, a exemplo do município de Igrejinha.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo principal compreender como a Cervejaria Stier Bier
se relaciona com o desenvolvimento socioeconômico do município de Igrejinha, considerando
que se observa no Brasil um momento de expansão acima da média do registro de novas
cervejarias, desde o início dos anos 2000. O estudo também teve como objetivo observar como
a Cervejaria Stier Bier se relaciona com os indicadores socioeconômicos de Igrejinha, entre os
anos de 2010 e 2018.
Com base no resultado da análise realizada compreendeu-se que a Cervejaria Stier Bier,
se relaciona com o desenvolvimento socioeconômico do município de Igrejinha a partir da
geração de emprego e renda, ocorrida após a instalação da Cervejaria no município, que por
consequência permite a ocorrência de uma redistribuição de renda dentro do território.
Constatou-se também que esta redistribuição de renda, é um dos fatores que possibilita a
melhora na qualidade de vida dos indivíduos, corroborando a relação da Cervejaria com o
desenvolvimento do município de Igrejinha.
Entendeu-se que para ocorrer o desenvolvimento econômico dos indivíduos residentes
no município é necessário que seja mensurado mais do que o crescimento do Produto Interno
Bruto, ou do aumento da arrecadação de impostos, juntos aos empreendimentos instalados no
89
município. Para que ocorra o desenvolvimento de um território, algumas circunstâncias são
necessárias, como a geração de emprego, através da abertura de novos postos e trabalho; a
redistribuição de renda, decorrência direta do aumento do número de vínculos empregatícios;
acesso a saúde, pelos responsáveis e seus dependentes; bem como proporcionar aos jovens e
adultos o ensino fundamental e médio completo. Desta forma, conclui-se que o
desenvolvimento é mais do que o aumento da renda per capita de um território, constituindo as
condições necessárias para que os indivíduos tenham a percepção de uma melhora na qualidade
de vida.
O Rio Grande do Sul apresenta um mercado cervejeiro artesanal que está apresentando
um ritmo de crescimento semelhante ao observado no território nacional, mas que se destaca
por ser o estado brasileiro com o maior número de cervejarias registradas, 186, em 2018, junto
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Podem ser citados entre os motivos
para esse resultado: os aspectos socioculturais, e a existência da cultura germânica em diversas
regiões do Estado, que por sua vez possui capacidade de agregar valor aos produtos produzidos
pelas cervejarias artesanais gaúchas, devido ao histórico da relação da cultura germânica com
a produção cervejeira, a exemplo da “Reinheitsgebot”, Lei da Pureza Alemã e dos inúmeros
eventos da cultura germânica realizados no Rio Grande do Sul.
Constatou-se que as cervejarias artesanais apresentam dentre suas particularidades uma
relação entre produção e quadro funcional, superior ao encontrado em cervejarias de grande
porte. Entre os motivos observados está a utilização de um número maior de colaboradores para
a produção, e a diversidade de atividades realizadas após a produção, que necessitam de
vínculos diretos e indiretos. No caso da Cervejaria Stier Bier, destacam-se os três principais
canais de venda utilizados: o delivery, que é a principal forma de comercialização dos produtos
da Cervejaria; os pontos de vendas, que apesar de estarem apresentando crescimento, ainda
estão abaixo das expectativas da gerência; por fim o brewpub, instalado junto à unidade fabril,
que corresponde pelo maior percentual dos vínculos empregatícios diretos e indiretos,
destacando-se a crescente utilização de profissionais freelancers, nos dias e épocas de maior
movimento.
A terceira constatação realizada foi da evolução do desenvolvimento socioeconômico
do município de Igrejinha, ao longo da série 2010-2016. A partir dos dados do IDESE observou-
se que até o ano de 2014 o município apresentava um crescimento constante, que demonstrou
que os indivíduos tiveram, neste período, uma melhora na qualidade de vida. Contudo, de
acordo com o IDESE a partir do ano de 2014, a população pode perceber uma redução das
desigualdades sociais, especialmente em 2015, ano em que o IDESE registrou uma evolução
90
negativa do índice, que teve como motivação a diminuição do PIB per capita municipal e o
aumento da desigualdade da redistribuição de renda.
A constatação sobre a evolução do desenvolvimento no município de Igrejinha,
corrobora a necessidade da diversificação da base produtiva local, e a criação de políticas
públicas que permitam a instalação de empreendimentos que tenham como particularidade a
geração de novos postos de trabalhos, que por sua vez permitem a circulação do capital dentro
do território. As cervejarias artesanais apresentam essa característica, fato que permitiu a
Cervejaria Stier Bier fazer parte do PRODEN, no ano de 2017. A Cervejaria, ao longo dos anos
de 2017 e 2018, apresentou um crescimento do número de vínculos empregatícios, superior ao
registrado pelo município, período em que o município apresentou queda.
Observou-se que a relevância da Stier Bier para o desenvolvimento socioeconômico de
Igrejinha, não se limita à geração de emprego e renda, participando também de atividades que
possibilitaram o desenvolvimento pessoal da população do município de Igrejinha e arredores,
como no caso do curso de sommelier, realizado no ano de 2019, e que além do mercado
cervejeiro também dialogou com outros prestadores de serviços instalados no município, a
exemplo da hotelaria, transporte e alimentação.
Cabe salientar que a Cervejaria apresentou diversas necessidades e carências do
segmento, como a carga tributária, que pode ocasionar no encerramento das atividades das
cervejarias artesanais, caso não consigam encontrar o ponto de equilíbrio para a
sustentabilidade econômica. Outra carência apresentada foi a necessidade de importação, tanto
internacional, quanto de outras regiões, de insumos básicos, o que demanda novamente numa
carga tributária alta, e consequentemente preços elevados. Por isso a criação, ou adaptação das
políticas públicas existentes, pode propiciar a instalação de fornecedores de insumos
cervejeiros, embalagens, distribuição, ou outros, favorecendo as cervejarias artesanais
instalados em Igrejinha, bem como viabilizar a instalação ou abertura de novas cervejarias
artesanais, criando assim um polo cervejeiro.
Faz-se necessário, portanto, investimentos, tanto público quanto privado, para o
desenvolvimento de uma cadeia produtiva, baseada na produção e comercialização da cerveja
artesanal, vinculada ao turismo, em Igrejinha, com o intuito de possibilitar o desenvolvimento
sustentável das cervejarias artesanais já instaladas, e a instalação de novos empreendimentos.
Dessa forma, o capital poderá circular dentro do território e permitir o desenvolvimento do
município, através da geração de novos postos de trabalhos, acesso à educação e aos cuidados
básicos de saúde, gerando uma melhora na qualidade de vida da população.
91
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97
APÊNDICE A
Instrumento Representante Poder Público
1. Conhece as instalações da Cervejaria?
2. A existência de uma cervejaria de pequeno porte influencia na economia do município?
3. Existiria interesse em subsidiar a abertura de novas cervejarias de pequeno porte no
município?
4. O retorno oriundo da Cervejaria compensa novos investimentos e contrapartidas?
5. Outros empreendimentos se beneficiam da existência da Cervejaria?
6. Existem parcerias em execução com a Cervejaria?
7. Considera que a instalação da cervejaria foi positiva para o município?
98
APÊNDICE B
Perfil Socioeconômico Gestor
1. Cargo
2. Como foi realizada a escolha da sede da Cervejaria?
3. A Cervejaria é beneficiada por alguma política pública de subsídios, financiamento, convênio
(ou outras), de âmbito municipal, estadual ou federal?
4. A Cervejaria realiza atividades junto à comunidade?
5. Considera que a Cervejaria impacta de forma positiva a comunidade?
6. A existência de uma cervejaria de pequeno porte influencia na economia do município?
7. Existiria interesse em subsidiar a abertura de novas cervejarias de pequeno porte no
município?
8. O retorno oriundo da Cervejaria compensa novos investimentos e contrapartidas?
9. Outros empreendimentos se beneficiam da existência da Cervejaria?
10. Existem parcerias em execução com a Cervejaria?
11. Considera que a instalação da cervejaria foi positiva para o município?
12. Qual o volume de produção aproximado nos últimos anos?
13. Qual o número de colaboradores direta ou indiretamente ligados a Cervejaria? Se possível
separar em produção, administrativo e serviços
14. Considera que o mercado cervejeiro artesanal pode ser uma alternativa para a geração de
emprego, de renda e melhora na qualidade de vida, no município a curto, médio e longo
prazo?
15. O poder público municipal possui alguma forma de fomento, e interesse em parcerias,
com o setor cervejeiro?
16. Acredita que o um programa de subsídios, municipais, pode influenciar para o
crescimento da produção e criação de novas vagas de trabalho?
17. Que outros empreendimentos, do próprio município, se beneficiam da existência da
Cervejaria?
18. Existe o apoio para a capacitação ou complemento da educação dos os funcionários,
gestores, ou da comunidade, relacionado a produção cervejeira artesanal?
99
19. Na sua opinião quais são as principais carências que o setor cervejeiro apresenta e que
devem ser corrigidas?
20. De quais formas a Cervejaria está inovando para se destacar no cenário cervejeiro?
21. Acredita que a abertura de novas cervejarias artesanais próximas, pode contribuir ou inibir
o crescimento de seu empreendimento? Caso veja como positivo, acredita que haveria o
interesse de criar uma rede de demandas compartilhadas, tais como logística, compras,
inovação e outros?
100
APÊNDICE C
Perfil Representantes Cervejarias
1. Endereço de e-mail
2. Qual o nome do empreendimento?
3. Considera que o empreendimento seja representativo para o turismo e a economia do
município?
4. Considera que a Cervejaria tenha representatividade no mercado cervejeiro? Caso sim, existe
algum motivo em especial?
5. Qual a produção aproximada nos últimos anos?
6. Qual o número de colaboradores direta ou indiretamente ligados a cervejaria? Se possível
separar em produção, administrativo e serviços.
7. Considera que o mercado cervejeiro artesanal pode ser uma alternativa para a geração de
emprego, de renda e melhora na qualidade de vida, no município a curto, médio e longo prazo?
8. O empreendimento recebeu alguma forma de auxílio, subsídio por parte do poder público?
Caso positivo, qual?
9. Que outros empreendimentos, do próprio município, se beneficiam da existência da
Cervejaria?
10. Existem parcerias em execução entre a cervejaria e o poder público municipal?
11. Existe o apoio para a capacitação ou complemento da educação dos os funcionários,
gestores, ou da comunidade, relacionado a produção cervejeira artesanal?
12. Na sua opinião quais são as principais carências que o setor cervejeiro apresenta e que
devem ser corrigidas?
13. De quais formas a Cervejaria está inovando para se destacar no cenário cervejeiro?
14 Acredita que a abertura de novas cervejarias artesanais próximas, pode contribuir ou inibir
o crescimento de seu empreendimento? Caso veja como positivo, acredita que haveria o
interesse de criar uma rede de demandas compartilhadas, tais como logísticas, compras,
inovação e outros?