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7/17/2019 Mata Atlântica e Os Ciclos Da Vida
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Mata Atlântica. Peça fundamental do sistema de reciclagem da atmosfera terrestre. Avó das
florestas do mundo, resistiu a duas eras glaciais. Cobria grande parte do litoral atlântico das
Américas Central e do Sul. Hoe est! redu"ida a oito por cento do #ue ! foi.
Sua bele"a misteriosa remete $ idéia de para%so perdido. Parece a &erra antes #ue o 'omem
começasse a modific!(la. Mas, é preciso resistir ao mito) *iver é muito perigoso) *iver sempre
foi muito perigoso)
Foto João Lara Mesquita
(…)
+este cen!rio intrincado, onde se deiar ver #uase sempre significa a morte, n-o se vm coisas/
só se v movimentos. Mas, a% começa o problema0 para crescer e se multiplicar, é preciso se
mover1
(…)
2uando c'ega a primavera, o macuco sente a necessidade de atrair um parceiro para a
procriaç-o. Mas o c'amado para perpetuar a espécie é o mesmo #ue atrai o predador #ue pode
acabar com ela.
3o outro lado da floresta ele provoca uma resposta. 4 o anuncio do inicio de uma marc'a #ue
nen'um risco poder! deter. A#ui, segurança é sin5nimo de imobilidade e silncio. Mas o instinto
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de perpetuaç-o da espécie é mais forte #ue o de preservaç-o. Assim, o c'amado vai ser
retomado e respondido num longo di!logo #ue orientar! a travessia da floresta pelos dois
macucos e por seus predadores, até o encontro final entre dois deles.
(…)
Mas nossa 'istória começa muito longe da#ui. 6s primeiros sinais de vida na &erra registram(se
'! cerca de 7 bil'8es de anos. 6n"e bil'8es ! se tin'am passado desde a grande eplos-o #uecriou o 9niverso.
:m algum momento desse passado distante, a vida se divide em duas correntes de
desenvolvimento. 9ma, segue o camin'o das prote%nas e gera o mundo móvel dos animais, de
onde vem o Homo sapiens. Hoe, seis e meio bilhõesdeles tentam viver do planeta &erra1
6utra toma a forma dos carboidratos e d! origem ao reino menos móvel das plantas. A certaaltura, elas gan'am os frutos e as flores. : isso sela o casamento entre o mundo animal e o
vegetal.
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:ntram em cena os ;agricultores alados< ocupados em trocar néctares e frutas pelo transporte de
sementes e pólen. : ent-o, as florestas cobrem o mundo e aceleram a reformulaç-o da
atmosfera terrestre.
+ós mesmos só passamos a eistir por#ue as florestas fabricaram um ar #ue podemos respirar e
#ue nos protege dos efeitos mort%feros da lu" n-o filtrada do Sol.
A Mata Atlântica n-o est! onde est! por acaso. Cresce por baio deste grande regador de 3eus
#ue é permanentemente alimentado pelo ar =mido #ue vem do mar. :ste ar bate na serra, sobe,
condensa(se com a temperatura mais baia e volta em forma de c'uva.
>1?
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:istem mais tipos diferentes de formas de vida a#ui do #ue em todos os outros ambientes da
&erra.
Por #ue@
A floresta é um organismo vivo. +ada, a#ui, é igual ao #ue foi ontem. &udo est! em evoluç-o1
4 a luta pela lu" #ue molda o mundo vegetal. +esta regi-o de vales e montan'as, com
faces apontadas para todos os #uadrantes, '! um regime de incidncia de lu" diferente #uase
para cada metro #uadrado de c'-o.
sso cria diversos ;nic'os de mercado< #ue eigem das plantas diferentes estratégias de
captaç-o.
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Boi através de ensaio e erro, adaptaç-o ou morte, #ue cada tipo de vegetaç-o aprendeu a
encontrar a configuraç-o ade#uada ao seu lugar na floresta. A longo pra"o, esse esforço de
adaptaç-o foi condu"indo a novas espécies.
6s gigantes da Mata Atlântica precisam da lu" direta do sol. Por isso, aprenderam a investir toda
sua energia no crescimento. *-o retas para cima, sem se preocupar com o desenvolvimento de
gal'os e fol'as in=teis. Só depois de alcançar o dossel é #ue v-o tratar de engrossar.
&omando carona nelas est-o as ep%fitas. Mil'ares de variaç8es. Algumas tm sementes
dispersas pelo vento. 6utras s-o levadas de !rvore em !rvore pelos p!ssaros. &udo isso sua
forma, sua locali"aç-o e sua t!tica de reproduç-o foi ;aprendido< num longo processo de
evoluç-o.
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+a sombra do segundo andar, palmeiras e samambaias produ"em fol'as #uase transparentes,
umas por cima das outras. Assim, a lu" #ue passa por uma é absorvida pela outra.
As trepadeiras buscam apoio em #ual#uer coisa #ue as leve para mais perto do Sol. 3istribuemsuas fol'as de modo #ue uma n-o faça sombra sobre a outra e consigam captar lu" a #ual#uer
'ora do dia.
Algumas plantas arbustivas produ"em repelentes de insetos. 6utras n-o.nvestem na produç-o
de fol'as, sem se preocupar com estratégias de defesa. 3eiam(se comer e produ"em mais e
mais fol'as para substituir as estragadas.
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D! no c'-o, grandes painéis s-o necess!rios para a captaç-o da pouca lu" #ue
c'ega. 3ispensadas de carregar peso, as rasteiras priori"am o arma"enamento de !gua em
caule e fol'as com grande densidade de l%#uido.
As oportunistas, como emba=bas e bambus, tm sementes leves #ue se espal'am por toda a
parte. Havendo sol, germinam. Antes, aproveitavam a insolaç-o das margens dos rios ou
funcionavam como ;cicatri"antes< dos ;canEons de lu"< abertos pela #ueda de grandes
!rvores. Com as derrubadas, est-o cada ve" mais presentes1
(…)
A forma das !rvores conta a 'istória de cada trec'o da floresta. 6 regime mais racionado dos
espig8es/ o ecesso de !gua das baiadas/ os anos de seca ou de c'uva abundante, ficam
registrados nos meandros mais ou menos tortuosos dos seus gal'os.
Plantas inclinam(se sobre o ;v-o livre< dos rios.
A #ueda de uma grande !rvore, abrindo uma nova ;anela de lu"< no ;teto< da mata, desvia o
rumo anterior do crescimento de suas vi"in'as.
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Figantes da floresta debruçam(se sobre as encostas para alcançar um buraco no dossel. S-o
massas enormes #ue se deslocam/ complicados ogos de peso e contra peso, o #ue re#uer
amarraç8es especiais das ra%"es para #ue elas se manten'am e#uilibradas
Como as pessoas, as plantas também ficam marcadas pela 'istória de suas vidas e pelo
ambiente onde ela transcorreu.
(…)
Com os demais seres vivos, também é assim0 a necessidade e a floresta v-o desen'ando os
animais #ue, por sua ve", v-o redesen'ando a floresta.
+ecessidades de defesa/ diferentes estratégias de alimentaç-o e acasalamento levaram ao
desenvolvimento de capacidades especiais de vis-o/ $ adaptaç-o de formas e cores ao
ambiente/ a formas diversas de vocali"aç-o/ ao desenvolvimento de aptid8es f%sicas
especiali"adas/ ao dom%nio dos diferentes n%veis da floresta por diferentes espécies animais.
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+os beia(flores, o coraç-o é #uase um terço do peso total da ave. 4 o motor necess!rio para
sustentar as alt%ssimas rotaç8es em #ue essas pe#uenas m!#uinas funcionam.
G! abels, guaçus, urus e macucos se adaptaram bem $ vida no c'-o, onde encontram comida
com mais facilidade. +este ambiente c'eio de obst!culos, o v5o passou a ser um recurso só paraemergncias. : o corpo dessas aves foi mudando1
6 macuco é a ave #ue tem a menor relaç-o entre taman'o do coraç-o e volume do corpo. Mas,
a#ui embaio, '! ainda mais predadores #ue l! em cima. Assim, ele teve de se transformar num
mestre da sutile"a e do cuidado.
:studos indicam #ue até o seu pio pode ter sido alterado, ao longo da evoluç-o, para aumentarseu arsenal de medidas defensivas. Hoe, ele se propaga de tal forma #ue só outro macuco
consegue locali"ar, com precis-o, de onde ele partiu. 4 mais um poderoso recurso para despistar
seus predadores.
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(…)
Plantas ou animais, a lei é a mesma0 adaptaç-o ou morte. Assim, foi sendo estabelecido #uem
viveria em #ue parte da floresta. 6 c'-o é dos muito atentos ou dos muito fortes. 6 n%vel médio
a vida no labirinto dos troncos e dos gal'os re#uer agilidade e leve"a. D! em cima, no
mundo das etremidades fle%veis das fol'as e dos frutos, ;braços etras< precisaram ser
desenvolvidos. : os predadores de cada grupo, em processo paralelo de evoluç-o, foram
adaptando seu porte e suas aptid8es para continuar atuando sobre eles.
(…)
6utro recurso #ue n-o se despre"a, no permanente desafio da luta pela vida na Mata Atlântica, é
a escurid-o. 4 $ noite #ue a floresta ferve na busca de seo e comida pela maior parte dos seus
'abitantes. &odos desenvolveram vis-o noturna mel'or #ue a do 'omem. Mas, como conseguem
se orientar #uando a escurid-o é total@
6 c'-o da floresta é todo c'eio de camin'os. Alguns animais usam sempre os mesmos, de dia e
de noite. :les passam diariamente por eles e v-o limpando o traeto de pe#uenos
obst!culos. :sses ;carreiros< passam também a ser ;tril'as de c'eiro<, através das #uais eles
podem se orientar no escuro.
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Mas o #ue ser! #ue acontece no pânico da fuga@ :les fogem pelos carreiros ou a descarga de
adrenalina dispara corridas cegas pela noite, aos trancos e barrancos@
Mistérios da Mata Atlântica1
Mas, nem todos est-o suficientemente aparel'ados para enfrentar a escurid-o.2uando a noite
cai, o macuco trata de buscar proteç-o.
4 o momento em #ue todos se manifestam, para marcar território.
Como todo mundo, na nature"a, o macuco leva uma vida de fugitivo. +o poleiro, evita até
evacuar para n-o denunciar sua posiç-o. : precisa mudar de endereço constantemente.
D! no alto, sua segurança é relativa. A#ui todos os predadores sabem subir em !rvores. Assim,
pode(se até fa"er barul'o por baio do poleiro sem #ue o macuco reaa. Mas, #ual#uer to#ue na
!rvore desencadeia a fuga1
(…)
+a sombra do c'-o da floresta a oportunidade de reproduç-o das plantas pode levar muito
tempo1 Por isso, muitas evolu%ram para arma"enar energia em torno de suas sementes,
desenvolvendo frutos polpudos. :ssa polpa n-o tem papel direto no processo de multiplicaç-o da
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planta. Serve só para prolongar a vida das sementes até #ue encontrem as condiç8es ideais de
germinaç-o e também para atrair os animais #ue v-o carreg!(las para pontos mais distantes.
Só as plantas de sementes leves, ;aero(transport!veis<, reaparecem nas matas #ue n-o tm
contato direto com matas mais antigas. As de sementes pesadas n-o conseguem mais migrar até
elas. Por isso correm maior risco de etinç-o.
(…)
Por baio do #ue est! $ vista, eiste um outro mundo de enorme diversidade.Alem dos mil'8es
de bactérias invis%veis, eiste mais variedade de fungos a#ui, do #ue todas as plantas da Mata
Atlântica e dos outros biomas brasileiros somados. :les s-o formas de vida super especiali"adas.
Cada grupo ocorre apenas em um determinado segmento da planta.
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H! também os especialistas em decomposiç-o. Mas, a maioria dos fungos auda as plantas a
viver e se proteger. :les s-o atores coaduvantes essenciais a todas as funç8es vitais da planta.
Pode estar neles o segredo da longevidade ou a soluç-o para in=meras doenças ainda
incur!veis.
(…)
A fome imp8e disciplina ao mundo animal. Como os #ue est-o sendo caçados só continuam a
eistir por#ue sabem fugir dos #ue os est-o caçando, n-o '! almoço gr!tis1 &ambém na
nature"a, é preciso trabal'ar muito para comer. : #uem fracassa por muitos dias nessa tarefa, vai
enfra#uecendo até se transformar num candidato preferencial a ser caçado. Caçar e ser caçado
est! no código genético de todos os seres vivos/ o 'omem inclusive1
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A evoluç-o tratou de atrelar a capacidade de multiplicaç-o de cada animal $ sua posiç-o na
cadeia alimentar. +a base est-o os mais caçados. S-o os #ue produ"em as maiores proles e
também os mais ;descuidados< com a sua proteç-o. G!, os animais com baia taa de
multiplicaç-o tendem a ser os mais es#uivos. Como as pacas, #ue só saem de suas tocas nos
per%odos de mais completa escurid-o.
(…)
Morte e transformaç-o0 é esta a essncia da receita da vida. :iste uma cadeia alimentar, da #ual
todos os seres vivos fa"em parte. 4 ela, #ue mantém as populaç8es em e#uil%brio. 6s
organismos produtores, as plantas, fabricam seu próprio alimento. 6s consumidores, 'erb%voros
ou carn%voros se alimentam de plantas ou de outros animais.
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:istem os carn%voros secund!rios, os terci!rios e adiante, #ue se alimentam, até, de outros
carn%voros. : acima de todos, unto com os porcos e as aves de rapina, estamos nós, os
on%voros, #ue comemos tanto organismos produtores #uanto consumidores.
I espera de todos, est-o os decompositores. nsetos, bactérias e fungos #ue desagregam as
moléculas #ue, um dia, compuseram os corpos destas plantas e animais mortos. :les asdevolvem $ terra para #ue possam ser reabsorvidas por plantas e animais vivos.
(…)
+ada se perde/ tudo se transforma.
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:m aç-o paralela, os componentes inertes do sistema est-o passando por processos de
reciclagem #ue v-o transform!(los em elementos #ue poder-o ser utili"ados na continuaç-o da
vida. Cada pe#ueno córrego #ue corta a grande mural'a da Serra de Paranapiacaba é um ramal
do sistema de captaç-o das !guas produ"idas pelos ciclos de evaporaç-o e c'uva #ue
sustentam a euberância vegetal da Mata Atlântica.
6 trabal'o persistente da !gua roçando a terra vai comendo barrancos, solapando ra%"es,
derrubando !rvores e, aos poucos, escavando o perfil geológico da floresta. 4 através deles #ue
vai começar a corrida dessas !guas em direç-o ao mar. :la mói e carrega, ano a ano, pedras,
terra, restos de vegetais e animais, #ue alimentam outros seres vivos ao longo do
camin'o.3epois de descer a serra, esses detritos, redu"idos a pó, v-o abastecer os oceanos de
nutrientes para o fitoplâncton, elo prim!rio da cadeia alimentar. : todo o ciclo recomeça1
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&udo acaba sendo redu"ido $s mesmas part%culas essenciais, #ue se articulam e rearticulam de
infinitas maneiras. sso #uer di"er #ue alguns !tomos de carbono #ue comp8em a pele desta m-o
podem, algum dia, ter feito parte de uma fol'a, da carcaça de um dinossauro ou até mesmo de
uma pedra1
9m dia, esta mesma pele vai voltar para a terra, para ser transformada em alguma outra coisa.
Sem estes ciclos de transformaç-o e reciclagem o planeta se transformaria numa grande lata de
lio.
(…)
+-o é só a Mata Atlântica. &udo $ nossa volta est! em evoluç-o. 6s próprios continentes !
andaram navegando pelo globo1
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6 sert-o, de fato, ! foi mar, e o mar ! foi sert-o. 6 #ue um dia foi trópico 'oe est! próimo dos
pólos. 6 +orte ! foi Sul e o Deste ! foi 6este1
Mata Atlântica, campos, cerrados, 'iléia ama"5nica, tundra canadense, desertos da Mongólia/
tudo é uma coisa só. : a própria &erra est! inserida num grande ;ecossistema< intergal!ctico,
onde cada peça é essencial ao e#uil%brio do todo.
(…)
A criaç-o dos macucos começa entre os meses de agosto e novembro. 4 o in%cio da primavera,
#uando a oferta de comida aumenta muito. As primeiras c'uvas r!pidas começam a devolver a
cor $ mata. Com a seca, termina também o silncio dos meses do outono e do inverno. A floresta
vai se enc'er de cantos diversos, anunciando a temporada de acasalamento.
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3epois da#uela travessia t-o c'eia de perigos, a#uele namoro, #ue começou l! na#uela primeiratroca de pios, termina num momento sublime.
1
6 canto de trmula satisfaç-o da fmea
recém coberta, #ue ficou para tra"1
(…)
A floresta est! toda dividida em territórios delimitados. :iste uma espécie de lei econ5mica #ue
rege a sua ocupaç-o pelos diferentes animais e plantas.P!ssaros, répteis e mam%feros de todos
os taman'os convivem numa mesma !rea, em grupos contados de mac'os e fmeas. As
#uantidades s-o estabelecidas pela disponibilidade de comida e pelas t!ticas de
reproduç-o.2ual#uer invasor da mesma espécie #ue entre em território al'eio é rec'açado de
imediato1
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6 direito de procriar é eclusivo dos mais fortes. Para garantir trocas genéticas, as crias de cadaespécie se misturam $s dos territórios vi"in'os para formar novas fam%lias.
Menos de 7J 'ectares podem bastar para uma fam%lia de macucos. 6utros mam%feros e
predadores ocupam territórios maiores, sobrepostos aos dosp!ssaros e animais de menor
porte1
9ma irara pode re#uerer um território de caça de mais de KJ Lm. G! uma onça pintada, o maior predador das Américas, pode andar mais de NJ Lm, numa =nica noite, atr!s de presas e
parceiros.
(…)
:m ambientes ecologicamente saud!veis, o aumento da populaç-o de uma espécie aumenta
também o n=mero de seus predadores.
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:sse mecanismo, #ue condiciona o taman'o das populaç8es $ capacidade da !rea em #ue elas
vivem de repor, num ciclo anual, o #ue é necess!rio para sustent!(las, é #ue define o conceito de
sustentabilidade.
(…)
6 ato do acasalamento do macuco é apenas o pren=ncio dos mais de NJ dias de pesadelo #ue
v-o se seguir.
Para aumentar as c'ances de perpetuaç-o da espécie, é o mac'o #ue c'oca os ovos. 3epois de
constru%rem o nin'o untos, a fmea sai a procura de um novo parceiro para garantir mais
uma postura. :le vai permanecer O dias sobre os ovos, saindo apenas uma ve" por dia para se
alimentar. +os =ltimos dias, nem isso vai fa"er. : durante esse tempo todo, vai ficar eposto, dia
e noite, aos predadores. :, as ameaças ser-o muitas1
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2ual#uer contato visual ou movimento suspeito muito próimo far! com #ue ele abandone
definitivamente o nin'o.
Se sobreviverem, entre o OQ e o KJQ dia, os ovos ser-o picados e os fil'otes nascer-o.
+a ultima noite, o #uarto fil'ote finalmente pica o ovo e sai da casca. Agora a fam%lia est!
completa. Mas o perigo ser! redobrado.
6 esforço da procriaç-o imp8e um reforço na alimentaç-o. Por isso, de insetos a carn%voros, a
aç-o predatória c'egar! ao auge neste per%odo em #ue pais e fil'otes est-o mais
vulner!veis. Ninguém é poupado1
Agora v-o ser mais KJ dias no c'-o, numa corrida contra o relógio, até #ue os fil'otes cresçam o
suficiente para conseguir voar, ainda #ue sea até um poleiro baio. Se algum deles fal'ar nesse
primeiro v5o, dificilmente sobreviver!.
(…)
Até '! RJ, J anos, ainda sobrava Mata Atlântica bastante para #ue a c'egada de bandos de
mil'ares de acutingas #ue migravam todos os anos entre o Sul da Ta'ia e o +orte da Argentina
fi"esse parte do calend!rio de festas de diversas populaç8es do litoral brasileiro.
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Como vin'am fa"endo '! UJ mil'8es de anos, elas acompan'avam as temporadas de produç-o
das diversas fruteiras do mato #ue, com as variaç8es de latitude e temperatura, cobriam o ano
inteiro.
Hoe, com a Mata Atlântica confinada a pouco mais #ue trec'os da Serra do Mar de S-o Paulo e
Paran!, as acutingas est-o limitadas a migraç8es entre o n%vel do mar e o Planalto, onde as
variaç8es de altitude e temperatura distribuem o per%odo de frutificaç-o por alguns meses do
ano. Podemos ser a ultima geraç-o a conviver com elas1
(…)
6 resto da criaç-o vive das florestas e trabal'a para a sua manutenç-o. 6 'omem vai na direç-o
contr!ria. +unca 'ouve o ;bom selvagem<. 6 #ue a cincia indica é #ue '! N mil geraç8es, o fogo
tem sido o principal instrumento de interaç-o entre o Homo sapiens, ele próprio um produto das
savanas, e as florestas.
H! apenas O7 mil anos, nossos ancestrais estavam domesticando as OK espécies vegetais e U
animais com as #uais, até 'oe, atendemos mais de VJW das nossas necessidades. 3esde
ent-o, vimos empurrando tudo o mais #ue vive no planeta para abrir espaço apenas para a#uilo
#ue elegemos para nos sustentar.
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A penicilina foi o golpe de misericórdia. Dibertou(nos de ve" da lei de seleç-o natural. A partir da%,
o 'omem passou a se multiplicar nas proporç8es de uma praga. : cada nova vitória da medicina
piora a situaç-o.
4 este o grande paradoo da condiç-o 'umana0 #uanto maior o sucesso do nosso desempen'o
como espécie, maior ser! a ameaça #ue pesar! contra a continuaç-o desse sucesso.
+-o '! respostas f!ceis para esse dilema. Com ou sem um discurso ;verde<, o problema
ambiental é cada um de nós. 4 o espaço #ue ocupamos no planeta, usurpado de todos os outros
seres #ue, unto conosco, atravessaram os milnios e venceram as infinitas armadil'as da
evoluç-o, para con#uistar o direito de continuar vivos, a#ui e agora.
+a crescente solid-o da paisagem uniforme de #ue nos vamos cercando, temos trabal'ado como
loucos para destruir o sistema #ue tornou a nossa própria eistncia poss%vel.
Mas romantismo e aç8es policiais pouco poder-o fa"er para reverter esse #uadro. 6s
abatedouros industriais e a comida sem sangue dos supermercados n-o anulam a nossa
condiç-o essencial, de presas e predadores #ue continuamos fa"endo parte da mesma cadeia
alimentar #ue sempre amarrou uns aos outros todos os seres vivos e vem sustentando a
renovaç-o dos ciclos da vida.
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Mas nós somos, também, o =nico animal #ue pode mudar o seu próprio destino1
Para #ue possa frutificar, esse nosso propalado amor $ nature"a tem de ser integralmente
consumado. &emos de nos reeducar para voltarmos a ter intimidade com a#uilo #ue resta dessa
nature"a essencial. &emos de reviver o ritual da nossa relaç-o orgânica com o resto da
criaç-o. &emos de reaprender com ela a aplicar mecanismos econ5micos para indu"ir a
distribuiç-o de espaço e populaç8es de forma sustent!vel.
&alve" isso nos de tempo para negociar com ela algum tipo de reconciliaç-o, antes #ue ela nos
impon'a a sua própria soluç-o, com a força e a indiferença da#uilo #ue é eterno.
(…)
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+o pouco #ue resta do mundo como 3eus o fe", as coisas seguem sendo como nunca deiaram
de ser. +a disputa por um lugar num espaço #ue sempre foi limitado, cada vitória tem de ser
arrancada dos braços da morte, e re#uer o uso de aptid8es con#uistadas durante milnios de
evoluç-o.
Mais uma ve" testadas, essas aptid8es filtraram a nossa fam%lia de macucos, até #ue sobrassem
apenas os mais preparados.
Agora, tudo recomeçar!, cada um por si, como foi desde sempre, e como continuar! sendo, se
sua maestade o 'omem assim o permitir.
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