Post on 08-Jan-2017
A R T I G O D E AT U A L I ZAÇÃO
M ARCO CONCE I TUAL PARA O ENS INO E A P ESQU ISA DE E N F E RMAGEM FUNDAM ENTAL - um ponto d e v i sta
V i l ma de Ca rva lho e I eda Barre i ra e Castro l
C ARV AUl a , V . & CASTRO, I . B . M arco conce i tual para o ensino c a pe sq ui sa de en fe rm agem fundamen tal ; um pon to d e vista. Rev. liras. Enf , Brasí l ia , 38( 1 ) : 76-86 , jan ./mar. 1 9 85 .
R ESUMO. Conceitua-se E n fermagem F u ndamental com base nos s ign i f icados e imp l icações re lat ivos ao termo e aos conhec i mentos ma i s gera i s e mais s imples da enfermagem. Conhec i mentos esses que convêm às categor izações que a enfermagem como tota l idade possa assu m i r ( E nfermagem M éd ico-C i rúrg ica, E n fermagem Materno- I n fant i l , E nfermagem de Saúde Púb l ica, etc . ) , e que se referem à acepção dada. São apontados os assuntos do dom ín io da área, ana l i sados cr i t icamente alguns tópicos, d i scut idos os e nfoques de uma proposta de demarcação teór ica, e conce ituado u m marco para o ens ino e a pesq u i sa de enfermagem fundamenta l . São apresentadas também a lgumas conc lusões e tec idas recomendações às E sco la s e Cu rsos de E nfermagem, pert i nentes ao assunto e aos estudos específ icos.
ABSTRACT. The F u ndamental N u rs ing w ith basis in the concepts a nd imp l icat ions to· ward th is term a nd to the more general and more s imples k now ledge of nurs ing i s def ined . These k nowledge a r e re lated t o t h e categor ies assumed by t h e enterety nurs ing ( med ica i · -surg ical nurs ing , materna l-ch i l d nursing, pub l i c-hea l th nurs i ng, and others ) in re lat i on to the concept g ived . The subj ect of area ru le are poi nted . Some topics are cr i t ica l l y a nal i zed . The f rame for the F u ndamental N u rs ing teach i ng a nd research are def i ned . The authors p resent some concl u s ions and made recommendat ions about to the subj ect a nd spec i f ics stud ies to the N u rs ing Schoo l .
A LG UNS ESC LAR EC I ME N TOS À G U I SA DE I NT R ODU ÇÃO
A tarefa de concei tuar e discutir um Marco Conce i t ual para o Ensino de Enfe rmagem FundamentaI no Curso de Gradu ação consti tui mna séria responsabilidade e um desafio. Uma séria responsabilidade porque certamen te e xistem outras pessoas com mais preparo e t itulação para dize r acerca das coisas e significad os possivelmen te implicados. Um de safio porque quando se pre te n de uma aborda-
1 Professoras da Escola de Enfermagem Ana N é ri , U F RJ .
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gem designada como "ponto de vist a " , corre-se todos os riscos. Corre-se principal me n te o risco de contrariar a men talidade prosaica, que aprecia a l ite ralidade radical izada no strictu sensu e na tendência de alinhar tudo aos e squemas e às abordagens marcadame n te cie n t íficos .
Na opinião de MORGAN I 2 , a men talidade prosaica do n osso tempo reduz t udo à obje tividade fact ual , à previsão matemática , à determinação de [ron tciras bem determinadas entre todos os assun-
tos, campos pragmáticos e até entre os can teuos que in teressam às ati tudes e ações .
O inconveniente da mentalidade prosaica é que , de certa forma , ela é responsável pela displução dos sign ificados que atendem ao fun damental das coisas e ao sentido que garan te a compreensão da totalidade . E, .no entanto, a totalidade é tão necessária à nossa visão dos significados que podem nos unir , na in terpretação dos valores que nos in te ressam, ou na escolha dos caminhos compat íveis com as coisas do nosso que fazer . Sem a to talidade , a realidade em torno de nós carece de sen tido -- nos confundimos, nos atrapalhamos e nos
desconhecemos . E , no entanto, talvez em nenhuma ou tra época a totalidade tenha sido tão difícil , tão deslocada do i n teresse geral e , ao mesmo tempo ,
. tão crucial à necessidade de comunicação , de nos ende reçarmos ao mundo e aos ou tros .
Houve WTI tempo, na história d o pensamen to ocidental , em que a tarefa de concei tuar ou descreve r as coisas resumia-se em uma operação intelect ual sem maiores rodeios . A contemplação teórica , a predicação de categorias e quando muito um esforço de análise dedutiva permitiam ou a determinação da natureza das coisas do mundo circundante ou a negação dos traços que não convinham à sua necessidade de ser . Mais tarde , quando o estilo do pensamento colocava-se já corno modernidade , conseguia-se submeter à prova as afirmações anteriores e descreve r a realidade à luz dos instrumentos e estratégias do método cient ifico . Conseguia-se , com isso , sem muita di ficuldade , fazer recuar os limi tes do mundo à nossa volta . Mas as interpretações e verificações se conformavam ainda, de certa forma , a uma ordem que se mantinha na dependência dos poderes e das leis do esp íri. tCl . Como nos afiança PICÓN IS , "se o mundo - conservado a cada instan te pelo poder Que o criou e dirigido por ele até o fim d os tempos - deixasse de ser , uma ordem se mantinha . Quando se t ratava de descobrir e de criar , tal ordem não duvidava de si mesma . Si mplesmen te a unidade do projeto h umano substi tuíra-se à finalidade divina ; a ordem natural das causas e e fe i tos , à ordem da criação . Diante do deswnhecid o .- o da Natureza ou o da Histór ia o esp írito mantinha a exigência e a segurança da mesma ordem - a da inteligib il idade ."
Hoje , a ordem é bem diversa . As fronteiras do mundo se abrem para o infinito . Mutações constantes implimem d ian te do esp írito con temporâneo uma visão caleidoscópica. Os mais sofisticados recursos da ciência e da tecnologia arrancaram-se
das páginas da ficção cient ífica para colocar a
razão lllaiS perplexa ainda diante do mundo das máquinas que pensam . Os princ ípios da lógica alimen tam agora cri té rios cibernéticos , que apoiam os avanços da ação pelos caminhos da especialização . Não obstante , só o ponto de vista pode ajudar-nos em favor de uma vi são de conjunto - à qual in teressam o fundamental e a totalidade . Mesmo porque ignoramos, de certa forma , as leis da navegação espiritual que nos apoiarão nas próximas viagens , em demanda de novas margens dos muitos mundos que , possivelmente , nos rodeiam . Mas o risco ainda mai or que se corre é poder dizer tudo o que se deseja , argumentar com a maior lógica poss ível , e saber que talvez não se consiga acrescentar nada ao que já se tem como acertado. Em que pese o significado do tema , não nos sendo poss ível contribui r , aqui , para a revisão mesma dos conce i tos que orientam o ensino e a prá tica da enfe rmage m , que o nosso esforço valha pelo menos como exerc ício de reflexão em favor do que en tendemos como "enfermagem fun danlental" . ,
E N F E RMAG EM F UN DAM E N TAL - Sign ificante e significado: or igem da
denomi nação e seu interesse para o ensino e a pesquisa de enfermagem
o S IGN I F ICANTE
O termo Enfermagem Fundamental foi cunhado há três qüinqüênios, na oportunidade da implantação da Reforma Universitária . Naquela ocasião, quando se discutia a reestruturação da Escola Ana Néri em Departamentos de Ensino , sentiu-se a necessidade de designar uma primeira área , apropriada aos conhecimentos fundamentais à formação profissional do enfermeiro . Assim, foi criado o Departamento de Enfermagem Fundamental , com o propósito de efetivar o ensino das disciplinas curriculares consideradas como básica� ou fundamentais e de se ocupar de estudos que pudesse m garantir consistência teórica e aplicabilidade prá tica a essa área de conhecimentos. E qual seria a área da Enfe rmagem Fundamental ?
As d isciplinas do curr ículo da ESCOLA D E ENFERMAGEM AN A NÉRi (EEAN) que , naquela ocasião , integraram o Departamento de Enfermagem Fundamental foram introdução à Ciência da Enfe rmagem, Fundame ntos da Enfermagem, História da Enfermagem e Ética Profissional . As duas primeiras disciplinas configuram o contexto da descoberta , ao yual interessam os assuntos que se colocam no encon tro do enfe rmeiro com a enfe r-
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magem ou que servem à determinação da natureza mesma da Enfermagem.
A História da Enfermagem e Ética Profissional
foram entendidas comó integrantes desse Departa-" mento, porque configuram vertentes que ampliam
a própria conceituação da enfermagem e configuram, além do mais , os contextos de explicação e de
justificação dos fatos que interessam à enferma
gem. A História da Enfermagem tanto garante a compreensão dos fatos em sua origem e prospecção, como permite a análise das tendências e a discussão dos saltos qualitativos, oriundos das contribuições científicas ou dos avanços sociais da profissão. A Ética Profissional , por sua vez, além de possibilitar a explicação dos atos profissionais à luz dos propósitos e valore s da enfermagem, permite a justa apreciação das atitudes e condutas dos enfermeiros, em termos de prerrogativas frente às exigências e padrões sociais .
O Departamento de Enfermagem Eundamental funcionou de modo a atender os objetivos de ensino daquelas quatro disciplinas até 1 97 8 , quando se iniciou o processo de implantação de um novo modelo curricular em n ível de graduação. Tal reforma teve , e vem tendo, importantes repercussões na vida dos Departamentos . Estes procuraram se adaptar às novas exigências pedagógicas e administrativas , sem que tivessem podido contribuir mais efetivamente na definição do marco conceitual do curso de graduação, por não disporem de marcos teóricos explicitados .
Entrementes, o Curso de Mestrado da EEAN fora implantado em 1 972 e credenciado no ano seguinte . Como seu objetivo maior era (e ainda é) a qualificação de docentes de enfermagem, a proposta programática inicial culminava em uma única área de concentração que , no caso , foi a de Enfermagem Fundamental . Tal prioridade deveu-se ao entendimento de que se poderia aglutinar um grupo de docentes , da própria Escola e da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, em tomo de um núcleo de conhecimentos básicos. Esta primeira experiência poderia irradiar-se para outras áreas de concentração do Curso, a serem implantadas posteriormente , e forneceria dados sobre o resultado dessa primeira área, para o ajustamento das demais. No entanto , como já citamos em trabalho pertinente à avaliação dos dez anos do Curso de Mestrado da EEAN (CARVALHO & CASTRO)4 , este curso foi implantado fora dos Departamentos, sendo apontada como justifica tiva para tal opção a necessidade de garantir a excelência na pós-graduação. É importante notar que o marco conceitual
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do Curso de Mestrado também ainda não foi escri
to.
o S IG N I F ICADO
Fundamental é aquilo que corresponde à es
sência de uma coisa, é o que é imprescindível à existência dessa coisa, sua garantia ou razão de ser . Logo , Enfermagem Fundamental é a ordem ou o conjunto de proposições e de idéias mais gerais ou mais simples , de onde se deriva a totalidade dos conhecimentos da Enfermagem; representa as bases sobre as quais se assenta toda a prática da enfermagem, e inclui o aparato é tico-filosófico e a dimensão histórica da profissão.
A compreensão do concei to de Enfermagem Fundamental está ligada à noção do que sejam os conhecimentos mais gerais de enfermagem e do que sejam os conhecimentos mais simples de enfermagem.
Conhecimentos gerais de enfermagem são aqueles que convêm a todas as categorizações que a enfermagem possa assumir (Enfermagem Médico-Cirúrgica , Enfermagem Materno-Infantil , Enfermagem de Saúde Pública , etc.). Aliás , um equivalente do termo Enfermagem Fundamental seria Enfermagem Geral , a exemplo da nomenclatura adotada por outras ciências (Biologia Geral , Botânica Geral , Agronomia Geral , Cl ínica Geral , etc.).
Conhecimentos simples são aqueles que guardam sua singeleza original , à qual não foram acrescentados novos elementos , referindo-se exclusivamente à acepção dada, sem encerrar conotações outras .
Nesse sentido , se pode compreender a Enfermagem Fundamental como uma abstração teórica, isto é , o resultado da operação mental de separar um ou mais elementos de uma totalidade complexa, no caso a Enfermagem. Assim , a Enfermagem Fundamental só subsiste na prática enquanto componente essencial desta totalidade , o que inclusive lhe garante a unicidade . Isto porque a Enfermagem Fundamental não tem um campo de atuação espec ífico. Ao contrário, a prestação de cuidados básicos de enfermagem se faz a qualquer clientela e em qualquer cenário, e nada mais é do que a aplicação dos conhecimentos gerais e simples de enfermagem a situações particulares , que lhe emprestam, por adição e nunca por substituição, características específicas.
Por isto, também se poderia falar de uma Enfermagem Fundamental Teórica e de uma Enfermagem Fundamental Prática , desenvolvida esta nos
vanos campos da enfermagem. Esta consiste na prestação de cuidados básicos , em situações que variam de menor para maior complexidade , em cuja medida se lança mão de cuidados espec íficos de um dado campo especial da enfermagem. Esta transição não tem limites claramente definidos , não se perceben do com exatidão o momento em que se passa do geral e simples para o especial e complexo. En tretanto, é óbvio que todo e qualquer cuidado de enfermagem guarda seu componente original de Enfermagem Fundamental , sem o que , é claro, deixaria de ser enfermagem .
Vale lembrar ainda que , como declara ROGERS 1 7 , a enfermagem é concernente com pessoas , todas as pessoas , saudáveis e doentes, ricas e pobres, jovens e velhas . As áreas de serviços de enfermagem estende m-se para aqueles lugares onde há pessoas : o lar , a escola, os locais de trabalho e de lazer, e os serviços de saúde .
São do dom ínio desta áre a : a explicação do que é e do que não é enfermagem ; a definição do objeto de trabalho da enfermagem, isto é , de seu "que fazer " ; o papel e as funções primárias de seus exercen tes ; a proposição, classificação, aplicação e avaliação da aplicação de princípios ; as concepções teóricas ; os modelos assistenciai s ; as tipologias de situações-problema ; os procedimentos técnicos , cl ínicos e interativos ; e os riscos da assistência de enfermagem.
MARCO CONCE ITUAL - explicação do termo e sua aplicação no
ensino da enfermagem
Marco é uma fron teira , limite daquilo que se pretende desenvolver ou realizar no âmbito do conhecimento e da ação . No caso da enfermagem, o marco serve de. referência à busca de respostas para a construção' do conhecimento, ao alcance de metas para a prática , e ao desenvolvimento de experiências da formação da pessoa . No que tange à enfermagem , é necessário que , através do marco , se possa identificar os significados favoráveis às buscas da enfe rmagem e ao processo de formar enfermeiros para o presente e o futuro . Tais significados envolvem conceitos fundamentais ; habilidades, capacidades ou competências desejadas, valores essenciais às me tas e aos propósitos da enfermagem . Quan to à formação profissional, o marco conceitual deve servir de referência para a elaboraÇão de objetivos e para a seleção , organização e avaliação das experiências , no contexto das ações ou das condutas realizadas. De certa forma , o
marco deve funcionar como "estrutura-guia" para apoiar e dar sentido às coisas que fazemos e aos fatos que se passam no empreendimento curricular . Em última instância, o marco deve, operacionalmente , servir à unidade de pensamento e ao sentido das ações de todos os envolvidos com as situações cwriculares , principalmente os e studantes , os professores e os clientes.
Por isso , o marco conceitual deve ser concebido como abstração daquilo que entendemos como necessário à consecução de metas e propósitos tangíveis ao profissional , no âmbito da prática da enfermagem_ Prática substantiva, fundamental na busca do conhecimento, no exerc ício da arte , na utilidade vivencial da missão. Missão de ajudar às pessoas a aprender a ajudar-se .
Na circunstância que ora analisamos, o marco conceitual do curso de graduação antece deu (pelo menos em forma de documento discutido e aprovado em algumas instâncias docentes) à elaboração dos marcos departamentais. Estes começaram a ter sua descrição cogitada a partir do ano passado, devido a necessidades imperiosas de redefmição do papel dos departamentos, principalmente no que se refere ao ensino de graduação, pois, como foi visto, eles não têm ingerência no Curso de Mestrado. Portanto parece-nos clara, nesta tentativa de delineamento de um marco para a Enfermagem Fundamental , a conveniência de não perdermos de vista o marco conceitual do Curso de Graduação que será, então , tomado como ponto de partida. O enunciado deste marco é o seguinte :
"A enfermeira como fulcro de um processo, do qual emerge a prática total da enfermagem, en tendida como a ciência e a arte de ajudar a indivíduos, grupos e comunidades , em situações nas quais não estejam capacitados a praver o autocuidado para alcançar seu n íVel "Ótimo de saúde ."
o significado do marco conceitual do Curso de Graduação da EEAN deve ser compreendido pela análise de algumas de suas palavras ou termos constituintes , a saber3 :
o enfermeiro como fulcro de um processo, isto é , como suporte e sustentáculo que equilibra e dá apoio ao movimento, no caso o processQ de enfermagem, entendido tanto como a sucessão de eventos que ocorre no âmbito da relação de ajuda que se estabelece entre o enfermeiro e a pessoa assis· tida, como em suas dimensões sociais ;
R ev. Bras. En[ , Brasília, 38( 1 ) , jan. /mar. 1985 - 79
a prática total da enfermagem com preen de os serviços prestados à população por todos os exercentes da enfermagem , quer do sistema formal , quer do sistema informal'l
enfermagem como a ciência e a arte de ajudar - aqui são contemplados o saber teóri
co da enfermagem , com seus princ ípios e concei tos organizadores e o saber prático da enfermagem , oriundo da experiência vivida; o primeiro configura a construção cient ífica , e o segundo expressa a arte da enfermagem ;
situações de enfermagem - conjunto de
circunstâncias da realidade espacial e tem
poral que afe tam a saúde de in div íduos, grupos ou comunidades e em cuja esfera
ocorre o encon tro do enfe rmeiro com se u clien te ;
autocuidad o conjun to de medidas mais simples , apropriadas à saúde e realizadas pelo próprio cliente , com independência , de terminação e responsabilidade , de modo a atende r suas necessidades básicas ou de buscar ajuda adequada, quan do for o caso ;
n ível ó timo de saúde - o resul tante do desenvolvimento l11axImo das próprias capacidades nas circunstâncias de vida e de trabalho, no exerc ício da utilidade e da partici pação social , configurando-se como um es tilo de vida e não podendo ser en ten dido fora de um contexto pol ít ico-econômico , enquanto bem social .
À época em que esse marco foi proposto, a expectativa era a de que seus termos constituintes . seriam incorporados , gradativamente , e de sorte a favorecer o domínio de compe tencias previstas no perfIl do graduado. Como verdadeira pedra angular, o marco do Curso de Graduação garantiria a forma fundamental dos caminhos da ação de enfermagem e, portan to, a visão da totali dade . Independentemente da especificidade da ação , nos diferentes cenários da prática , como descrição primária das coisas que in te ressam à prática to tai , tal marco ensejaria a wlidade de pensamento em tomo da abordagem consisten te com as situações dos clientes . OutroSsim, a u tilização adequada do mesmo , em nível de cada programa curricular , favoreceria os enfoques necessários à conscien tização do papel e dos interesses da enfermagem ente n dida como prática social .
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UMA DEMARCAÇÃO TEÓR ICA PARA O ENS I NO E A PESQU ISA EM E N F E RMAGEM
FUNDAMENTAL
E m vista do exposto, um marco teórico para o
ensino e a pesquisa na área de Enfermagem Funda
mental poderia atender aos seguintes enfoques :
os cuidados básicos de en fermagem são
prestados por todos os e xercentes de enfer
magem, quer do sistema formal , quer do
sistema informal , a pessoas e a grupos , em
qual quer es tágio de seu ciclo vi tal e em
qualquer momento do continuum saúde-enfermidade , e são VIab iliza dos pelos instrumentos básicos de en fermagem .
O conjun to d e tópicos proposto por HORTA et alüll como "instrume n tos básicos de enfermagem " , em que pese terem sido adotados por um Comi tê de Peri tos da OPAS/OMS (v. Publ . Cient íficas n9 303/ 1 97 5 ), con tinua a me recer ainda estudos mais de fini tivos . Em nossa mane ira de ver , se é in dispensável ao trabalho de enfermagem a utilização de instrumentos básicos, então é necessário que os mesmos possam ser a dequadamente conceituados e especificamente catcgorizados . As dificuldades parecem sé rias , haja vista que , ao tempo em que se deve atender à defin ição de instrumento, estes devem ainda apresentar especificidade em relação à enfe r mage m . Servem como exemplos mais t ípicos dessa dificuldade a "destn:za manual " e a "cria tividade " , que mais parecem com "qualidades" do agen te do que com a condirio sine qua non de meios favoráveis à ação de transformar a experiência em que se opera . E embora nao se possa obje tar , em sã consciência , a capacidade de todos quanto à destreza manual (salvo nos casos de condições nocivas) e à possibili dade de anlpliar a habil i dade pelo exerc ício continuado, o mesmo não se pode dize r da criatividade . Neste sentid o , afirma KNELLERl I que "todos deve m ter a mesma oportunida de de exprimir seus d ons criativos, mas nem todos ' são igualmente criativos . Alé m disso, mesmo entre os que demonstram possuir criatividade são bem poucos os que possuem a idéia criadora ." Donde se conclui que , se a criatividade não é apanágio de todos , não pode ser tomada como "instrumen to básico " e muito menos como caráter de exclusividade n os termos de "enfermagem". De outro modo, vale citar ORTEGA Y GASSETI4 , para quem "as coisas do mundo que se colocam como meios para ou estorvos para a ação são denominadas instrumentos. São coisas que , no campo pragmático, favorecem os serviços próprios
da at iv idade teórica ou prática . Al gumas se ar t i
c ulam com ou t r as em ve rdadei ras est r u t u ras que
e n tende mos por · 'usos. " Assim se n d o , convé m
a ten tar para os "p roce d ime n tos d e en fe rmagj! m " que , de certa forma , funcionam como "ferramen·
tas" e ssenciais ao trabalho de enfermagem e, con
tudo, não constam daque le conjunto de "instru·
me n tos básicos de e n fermage m " .
Quanto aos d (� J l lais tóp icos relacionados p or HORTA e Cols.8 , não obstante serem wnsiderados
no ensino e na prática de enfermage m , não resis
tem à análise en quan to meios para a ação de enfe r
magem. Como as autoras me smas re fe re m , eles são
inclu ídos , também , no instru me ntal de o u t ras profi ssões , não apresen t and o , poi s , a especific idade
que deve i l l t.e ressar à e n fe rmage m .
Ainda que não tenhamos u m a idéia formada sobre a questão dos " in strume n tos", j ulgamos ser preciso encon trar ou tras ca tegorias e denominaçõe s , mais de acordo com a e fe t uação ou execução do cuidado de enfermagem mesmo . Pensa
mos que alguns se riam de natureza eminentemente
teórica - se rviriam à compree nsão , à demon st ra ção , e à just i ficação das coisas fe itas , à l uz do sabe r
da enfe rmagem . Poderiam se r instrumen tos oriun
dos do conhecime n t o das ciências , incluindo-se os
da saúde e , prinCIpalmente , os da enferm agem . Se riam , na verdade , mei os ou recursos cien t íficos u t iliza dos n o cuidado de en ferm agem como, por exe mp lo , os pr inc íp ios cien t .íficos e as t.eorias de e n fermage m . Ainda assi m , mesmo esses mstrumentos precisam de estudos e reflexões ma is a profun dadas . Ou por que "a prol lssào de entermagem e stá muito vol tada para os aspectos b iológicos e técnicos , ge rando urna de ficiência de conhecimen tos de
outras áreas corno filosofia , educação , soci ologia ,
psicologi a , economi a , que muito têm con tri bu ído
ao desen volvi men to de marcos conceituais para a pesquisa ." Ou porque "a té o momen to n ão há evidência de que as teorias estejam responden do à cri se da enfermage m . Isto porque n iio nos parece que tenha sido na prática que elas e me rgi ram , A pro posta é de uma eli te da e n fermage m n orte -ame rica
na, talvez d istanc iada da p rática assis tencial e de nossa real i dade sóci o-cul tural . Além d isso , podem não ser exatamente teor i as de entemlage m , pois sua fun dame ntação tem um forte componente das ciências sociais . Caminham mais no sen tido da abordagem relações humanas enfermeiro-paciente . É u ma produção que , pelo menos n o Brasi l , e s tá mais cen trada na pós-graduação cujos al unos são docen te s , em sua maior ia , e como tal vol ta d os pri-
mordialmen te para o en s ino" (CASTRO & A L
M E lDA )b . Outros instrume n tos , de n a t u reza eminente
mente prática, serv irianl à produção de meios ou
de condições favo ráve is aos cuidados de enferma
gem e , principal me n te , à e fe tivação de condu tas espec íficas do en fe rme iro . En tre esse s é que situa
mos os " p roce di men tos de enfe rmagem " , que poderiam subdividir-se ainda em "técnicos" , "cl íni
cos" e " i n te rati vos" , ou em tan tos quan tos fore m
os "u sos" do campo pragmá tico, como propõe
O KTEGA Y GASSET I4 • Tais procedimentos serviriam às abordage ns d ire t as e indire tas adequadas à
esfe ra do c uidad o de en fe rmagem. E como o cuidado de en fe r mage m , alé m de se r o objeto de trabalho d a enfe rmage m , é a esfera mais própria da a t uação profissiqn al - esfera , portan to , sobre a qual se pode e xerce r com libe rdade o con trole de funções e de at ividades de enfe rmagem -, pensamos que os proce dimen tos de en fermagem servi
riam talvez de ocasião para e le ge r cr i té rios que possam justificar a au tonomia da enfermagem . Essa
idéia, no entan t o , não é concl usiva . Con tudo, a t ít ulo de exempl o , sugerimos a "vigilância de en
fer mage m " , que comporta a obse rvação do clien te e o acompanhament o da evolução c l ín ica , como
sen d o um "proce dimento clínico de abordagem d ire ta . " A "organ iza<,�ao de recursos humanos" e a "confecção de ma te rial para cuidar" parecem elas
si tlcar -se bem como "procedime n tos técnicos de ab ordage m indire ta ." A "p rovisão de re pouso e de medidas de l i mpeza corporal e con forto " é , sem dúvi da um "procedimen to técnico de abordage m direta . "
Não pre tendemos propor wn novo inven tário
para os "ins trumen tos básicos de enfermage m " . A idéi a , aliás, é apen as a de encaminhar a questão
para estudos posteriores ; os resul tados da pesquisa certamen te falara'o mais alto , Val e , en tre tan to, p a r a apoiar ai nda mais essa idé ia , ale rtar aqui para a necessi dade de se o b ter o reconhecimen to p úblico quan to às con d u tas práticas da enfermagem, condutas essas que precisam evidenciar um comportame n to simbólico de e fe ito social i ndiscut ível .
o obje tivo da assis tência de enfe rmagem é o au tocui dado , tan to em sua dimensão uni
ve rsal , como nas especiali dades de. cada si tuação , sendo o papel da enfermagem o
de compensar as limitações do cliente e aj udá -lo para o desenvolvimento de seu
po tencial para a saúde , no presente e no fu turo .
O autocuidad o , segundo ORE M ! 3 , é a prática
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de atividades indispensáve is à resposta constan te às próprias necessidades , a fim de manter a vida, a saúde e o be m-estar , recuperar-se de doenças ou de acidentes e de fazer face aos se us efeitos . Além das ações relacionadas ao autocuidado quotidian� , há aquelas pertinen tes aos desvios do es tado de saúde . Ela entende a enfe rme ira como uma substitu ta que compensa as insu ficiências de uma pessoa para autocuidar-se ou para cuidar de alguém que de la depende , por exemplo , crianças , velhos , doen tes ou deficien tes . O a u t ocuidado denota ain da a capacidade de autosuficiência das pessoas fre n te às suas próprias necessi dades .
O autocuidado é a tualmente uma tendênci a emergen te , em todas as pol íticas de saúde . Apesar diSSO , seu conceito vem send o altamen te con trovertido , devido a i mplicações pol íticas e ideológicas . Tais implicações parece m envolve r posturas dife rentes e interesses contrapostos quan to ao au tocuidado mesmo . WESTON I 9 alinha as seguin tes :
desmi lit1cação d a medicina , pela apropriação pelas pessoas do saber relacionado à sa úde , devi do a mel h or compreensão das causas dos adoecimentos e das susce p ti bilidades pecul iares de cada pesso a ; as m ul heres podem de tec tar in terfe rências ' se xistas" na prá tica mé dica ; redução da demanda de se rviços médicos , devido à re sol ução de prob le mas mais s imples - que consti tuem a maior parte desses problemas - permanece ao n ível familiar ou donúciliar ;
redução do consumo de medicamen t os
industrializados, conse qüen te a uma me lhor in formação sobre os efei tos colaterais das drogas e o i ncremento de prá ticas al tern ativas de saúde ;
aumento das reivindicações sociais, devido à compreensão pe lo povo da importância das condições de vida e de trabalho para a
saúde das pessoas ; mudança no p ape l do "pacien te ", que passa a exigir maiores explicações sobre sua doença e seu tratamen t o e a organizar-se colet ivamen te em prol da adoção de modelos participativos de assis tência à saúde e de movimentos con tra o chamado complexo médico-industrial .
É claro que essas conseqüências são contrárias aos interesses da prát ica médica libe.ral , da indús
tria farmacêutica , de in sumos hospi talares e dos empresários dos laboratórios de análises , bancos de sangue , dos hospi tais privados e até mesmo das
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autoridades gove rnamentais . O que é até certo pon to surpreenden te é que há também uma outra ordem de objeções ao autocui dad o , estas relativas a poss íveis preju ízos causados ao próprio povo . É o caso de Giovanni Be rl inguer, Professor de Fisiologia e Higiene do Trabalho na Universidade de Roma , que vê os seguintes inconvenientes que poderiam estar associados à estratégia de autoc uidado (BERLINGUEHV :
re traimento do govern o na provisão de c uidados à saúde , transferindo esta respon · sab ilidade , que é do gove rn o , aos cidadãos e suas fam ílias , que passam a se r cu lpados de suas própri as doenças, por não adotarem um e s tilo de vida adequado, n uma estratégia de "cu l par a v í t i ma " ; afastamento do de bate sobre saúde das reais ca usas dos problemas , despol i tizando a popula.,:ão e ressaltando respostas in dividuai s , em detrimento daquelas coletivas e pol ít icas , aos prob le mas do povo .
Assim , ve mos que o autocu idado não é um conce i t o neu tro , pois cOllota també m significados que tan to interfe re m com a econonúa empresarial ,
quan to com a expropria.,:ão do direito à assistência dos serviços de saúde . No en tan to , Weston julga que não dev íamos reje i t a r esta tendê ncia para o autocuidado e sim d irecioná-la para objeti vos pol ít icos ace i táveis . De ou tro lado, o próprio Berlin
guer reconhece que a valorização da "subje tividade consciente " in tegrada , e não con traposta , à vontade coletiva é também um dos modos de en riquecer e não de anular a ação pol ítica , incl usive no terre
no da saúde . 110na Kickbush , socióloga e poli ticól oga da
Rep ública Federal da Ale man ha e núlitante do movi mento feminista , por sua vez, apesar de fazer uma advertência , reconhece o autocuidado como uma tendência positiva . A adver tência se refere a que , ao t ransfe ri r à população a responsabilidade
dos serviços , se pode aumen tar , ainda mai s , o trabalho de mulheres já sobrecarregadas . Feita esta ressalva , esta autora lembra que mesmo no q ue se refere aos problemas ambien tais, que não estão entre aqueles fatores de risco que depen dem do comportamen to human o , o movimento e m prol do autocuidado pode contribuir mediante uma ação pol ít ica organizada (KICKB USH) l o .
a fruição de condições de vida e de trabalho é necessária à saúde da população e, no caso do pessoal de enfe rmagem, à prestação de b ons serviços - e m ambos os casos , é um dire ito de cidadania que , para seu c um-
primento, exige a adoção de modelos participativos .
A interação entre saúde e desenvolvimento , principalmente a partir da década de 70, passou a ser um dos temas pol íticos fun damentais da atualidade . Não obstan tt( , é gritante o contraste , cada vez mais acentuado entre os discursos oficiais de saúde como direito fun damen tal do ser humano, consubstanciado na me ta "Saúde para Todos no Ano 2000" e os crescentes desequil íbrios econômicos e sociais , e n tre as n ações e entre os membros das diversas nações . Decisões de pol ítica econômica têm graves repercussões sociais , que afe tam dire tamente o modo de vida da população e , principalme nte , das classes mais pobre s , com a dete ri oração do n ível de saúde .
É imposs ível negar a si tuação calamitosa do empobreci men to cre sce n te da maioria populacional , marcadamen te nos pa íses do Terce iro Mundo . Em nosso país , talvez mais de dois te rços da população vivem em condições tão precárias , que atentam contra a dignidade human a . Em sua maioria , são pessoas que não dispõe m de trabalho e se trabalham são exploradas e mal re muneradas ; não têm moradia própria , a justa 4uota alimentar diária , a roupa m ínima ade quada, a vaga na escola para os filhos ; são pobre s mesmo e padecem de fome crônica, com certe za . Ainda mais , com a quotidiana desvalorização de nossa moeda , a pre tendida "classe mé dia" está perden do o poder aquisitivo e , por isso mesmo , tendendo a desapare ce r , para aume n tar o continge n te da população menos favorecida. E com isso , alé m da elevação das taxas de mortalidade infantil e das doenças de massa , cresce assustadoramente a onda de violência na dependência direta das injustiças sociais , que se refletem, ainda, no aumento do índice de marginalizados de toda sorte .
O profissional deve assurrúr o compromisso de se tomar um instrume n to de libertação do homem e da sociedade . Mas para isto , toma-se essencial a participação direta das mais amplas camadas da população no equacionamento e sol ução dos problemas que as aJetanl , como os que dizem respeito às suas condições de vida e' de trabalho. No que concerne à enfermagem, uma das piore s conseqüências da identificação de um tipo de trabalho como "trabalho de mulheres" é que esse trabalho se desvaloriza. Se as enfe rmeiras estão in te re ssadas em melhorar o exerc ício da enfermagem, e o da saúde em geral , devem perseguir seus objetivos , sem temer o risco de receber a desaprovação de alguma colega ou de um grupo de colegas . Se por
um lado , algumas enfermeiras têm o direito de niÚ> estar interessadas em receber melhores salários, obter con dições de trabalho mais favoráveis , ou exe rcer um maior controle de sua profissão , por ou tro lado, é importante considerar as conse qüências que a longo prazo essa atitude poderia ter para a enfermage m : a i magem de uma ocupação em que se encontrará trabalho árduo, mui tas frustrações devido à impossibilidade e condições de vida inadequadas . É i mportante que as enfermeiras reconheçam clarame n te a relação en tre condições de emprego e a qual idade do serviço. Somente quando uma maioria de enfermeiras compreender isto e atuar coletiva e posi tivamen te para mudar de maneira drástica as condições existentes , será poss ível tornar re alidade e pôr em prática os ideais que a profissão vem man tendo há tan to tempo" (JACOX)9 .
Assi m , é dever do enferme iro participar do deba te sobre as "mudanças sociais que a classe julga necessárias ao cumpri mento de seu compromisso profissional , participação essa que se efetua na prática plena da cidadania, na qual não se dissocia o profissional do cidadão , pois a saúde é também um fenômeno social de n atureza essencialmen te pol ítica" (C ASTRO)s . E "is to sign ifica reconhecer que , além das categorias profissionais distintas , existe uma classe trabalhadora , impondo-se pois encaminhar as lutas conjuntamente . O enfermeiro deve ir se li bertan do de uma concepção privativa da vida social , passando a adquirir uma consciência social que o faça sen tir-se comprometido, juntamente com todos os trabalhadores , com a necessi dade de lutar por mudanças na situação sócio-pol ítico-econômica vigente , ou seja , lutar pela solução dos proble mas do trabalhador brasileiro e da populaçãO em geral por melhores condições de vida e de trabalho e de saúde " (DI LASCIO)7 .
a enfe rmagem em se us aspec tos histórico-ético-pragmáticos configura-se como prática social ; assim os processos da educação e de investigação e m Enfermagem Fundamental são inseparáveis entre si e da estrutura social .
Para que o e nsino e a pesquisa em En fermagem . Fundamen tal possam participar da transformação da realidade social é preciso que a Escola e a Universidade estejam , elas próprias , engajadas na dinâmica dos processos sociais . Além de que é necessári o que a e d ucação de enfermagem seja entendida como instrume n to capaz de legitimar sujeitos para o trabalho de enfe rmagem, através do aparato ético-filosófico e do saber da enfe rmagem.
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Mas para isso , é nece ssári o que o ensino seja con d uzido de acordo com uma abordagem teórico-me todológica , que permi ta formar. um p rofissional capaz de encarar a realidade social dentro de ,.uma visão crít ica , levan do-o a assumir e a evidencia r condutas compat íve is c o m os direi tos de se us clien tes e com os valores da enfermagem como prática social .
Nas duas ú l t i mas décadas , a fo rmação d" p ro fissi onais de saúde te m si do obje t o de dis�uss;ju e m
quase toda par te , princ ipal me n te em decorrê ncia da crise da saúde n o m un d o . Parte i mport an te d a d iscussão gira e m t o rn o d o papel da inst i t u ição
unive rsi tári a . A Un i ve rs idade é u m a in st i tu ição acadêmi�a
� l l 1 l1prome tida com o e n si no , a pesqu isa e a p restação de serviços . Os t rês aspectos com portam o b je t ivos que , no c a s o d os p rofi ssionais de sa úde , são
consi derados corno capazes de contri b uir para a melhoria do n ível de saúde da população . É tam
bém de aceitaç ão co rren te q ue a Un ivers i dad e , por
reunir doce n te s e pesquisadore s , é capaz de favo
recer a coope ração e a pe rmu ta e m n íve l nacional e in te rn ac ional , n o campo da ciência e da tecnologia .
En tre tanto, como aJlrma RODR I G U E Z I 6 , "na América Latina , esse s o bje tivos da Un ivers ida de se dese n volvem , habitualmen te , como processos i n dcpendu l l e s , sem U lll e sfoque gl oba l izador , que ana l i se e i n tcgre os d i fe re n tes processos - ensi n o , pesqu isa e se rv iç o - como par te s de U lll todo : o
papel da Un iversidade na produção do conhecimen to cien t ífico, que permi ta a con tr ibuiçüo ao processo de transformar a reali dade soc ial . " Na an álise da questão , a au tora apon t a a impossi b i l ida
de de se produzir o desenvolvime nto cien t ífi co e
tecnológico "sem aprofun dar a questão do dese n volvimen to mesmo com as causas de ordem pol í t i
ca , econômi ca e soci al ." Si tu ação que deixa a des
coberto não só as dificuldades da c rise econômica mun d ial , mas o inj usto desnivelame n t o en tre as nações ricas e as subdesenvol vid as , a depen dên c ia exte rn a , a t ransfe rência de tecn ol ogi a de fasada , e o crescen te endividamento dos países do Tercei ro M un d o .
O pon to cr ít ico que se co loca de Imediato é exa tamen te o que põe em ca usa o papel da U n i
versidade de con tr i bu in te à transfomlação da real i dade social . Em nosso pa ís , a Un ive rsidade encontra-se quase que imobiliza d a , devi d o ao imo bilismo me smo do poder pol ít ico , tal como
represen tado pelas al tas hie rarquias da áre a gove r name n tal . Pr i ncipal men te , n o s últimos cinco anos , os movimen tos de docen tes , de funci onários e de
84 -- Rei>. B,.a �. 1:;11/ , H r,, , í l i a . 38\ I I , j an. j rna r . 1 9 H 5
est udan tes univer,i tários vêm ten tando t u d o e m favor de re ivindicações q u e possam j ust i ficar o
real papel da Un ivers id ade . Quase n ada se consegue para mudar as sit uações desvan taj o sa s , até mesmo
para o alcan ce dos o bjetivos de e nsino e de serviço . Não se d ispõe m d e condiçOes m ín imas a dequadas ao trabalho unive rsi i ;irio e nem de meios e recursos
suficie n tes para garan t i r a qualidade dos se rviços prestados. Este imobil i smo te m r a ízes n o e sp ír i to d ogmát ico-i dealis t a , ave sso à m ud ança e que se nega a a dm i t i r as im p licaçõe s pol ít icas de sua própria ide ol ogia , c ujos cri té rios visam a manter o status quo . Com isso , su bord ina a ciência mesma à autorid ade do pode r pelo pode r . A con seqüência mai s grave é o iso lame n to c ie n t ífi co
e a defasage m c ul t ural .
Tal como descr i ta e transposta para a rea l lda· de par t icular d a ed ucaç,lo de enfermagem, c onvé m
a ten tar , em primeiro l ugar , para a s palavras de
SILVA, B ARROS e VI E I R A 1 8 , q uan do a finnam . . . "as e scolas d e e n fe rmage m , n o Brasi l , de ve riam te r
u m pape l inovador den tro do s is tema de sa úde e , assi m , den tro da estru LUra social , . . . e n tre tan to , . . .
e las t ê m sido mais u m re tl e xo d a socie d ade , na med ida em que , condicionadas por esta , não têm
assu mi do uma posição re llexiva sobre a prática pro fissional , vol tada para as re ais necessidades da população ." Em segundo l uga r , é importan te re te r o signi ficado e ssencial das pal a vras de A LME IDA I , quando e la a ti rma que o "ensino é carac terizado
como paradigma do sabe r , mas é no c uidado de en fe rmagem , onde se opera d ire tamen te com o obje to de trabalho e on de se dão as re lações
técnico e soc ia is , que e s t á a e ssência do sabe r . " As
duas colocações e x põe m, a n osso ver , as si t uaç ões
mai s cr íticas que estão a e xigir aj us t ame n tos .- o
complexo inst i tuc ional unive rsi tár io e a ação e ducac ional mesma. E por que é tão importan te in troduzir -se essas mudan.,:as'!
A razão principa l , e m ve rdade , é que a con ti
n uar como es tamos não chegaremos a l ugar ne
nhum. Mas se o ensin o , a pesquisa e a prestação de serviços são componen te s do processo da formação de rec u rsos h umanos para a saúde , en tão há muito o que fazer quan to às implicações e nvol vidas com a e n fe rmage m. O p roce sso de e d ucar e n fermciros está atravessando uma fase de transição de u ma "era técn ico-cie n t íti ca " para uma "e ra de prá tica
social " . Nes ta , as ex igên c ias cre scen te s da população apelam à con sc iência profissional por condições de vida e de trabal h o para as pessoas , que sejam compa t íve is com a saúde . In ovações metodol ógicas sJo i m p resc i n d íveis não apenas nas
formas de pens ar , mas pr inci palme n te n as formas de faze r as coisas para le var a te rmo a proposta de c ui dar e de aj udar da e n fe r magem. No que tange à En fe rmage m F u ndamen tal , não b asta saber q>mo aplicar princ ípios c ient íficos aos c u idados de en fe rmage m ou como desenvolve r técnicas com segurança e economi a . É p re ci so saber aval i a r o que se faz como aj uda prestada, no âmbito mesmo do trabalho de saúde , e ainda t e r a corage m de redetlnir a ação de part ic ipar desse trabalh o . Mas é preciso , principal me n te , buscar o equi l Jbrio e n t re a t rad ição e a ren ovação , o q ue re quer tan to a visão n ít i ca da real idade social , como a cr ítica mesma do papel da Un ive rsidade na construção do saber e na fo rmação de recursos h u man os , para o prese n te e par a o fu t u ro . A n osso ver , não se consegue i s to se lll a re visão con t ínua d as propostas de trabalho acadê mico fre n te às e xigências sociais .
Na e scola de enfermagem, como na Unive rsidade em ge ral , é a pre fe rência que ainda se dá à postura dogmática-ideal ista e como tal normativa, que d i tlc u i l a I l lu i t o o e n te ndimen to do real . Tudo n a e n fe nnab' . • : o q ue deve se r e não o que é", o que ge ra a a ti t u de i mo bil ista que , em úl t i m a i n stância , não p ro move a formação do homern i n te grai tão de sejada , e menos ain da a compe tência que i n te re ssa li con st r ução d o saber da en fe rmage m . Alé m do ma i s , é preciso refle t ir sobre I) dire i t o fun d a me n tal à saúde , que ill lplic:a n o d ire i t o li assi s t ência de e n fe rmagem, como pri lll: ípio orien tador do e nsin o e do serviço . É na compreensão de �se dire i to que se apoia a fonnação da consciél lc ia cr it ica , e dian te desse direi to convém exami nar todos os conceitos que in teressam à s a ú d e , como o conce i to mesmo de sa úde e o conce i t o de autocuidad o . Pe las impli cações que acarre tam , esses conce i tos susci t a m , ainda , u ma questão que se c oloca COl1l0 n e u t ralidade c ie n t ít1 -ca , a t ual me n te desmi t i ficada pelas demonst rações
das ín t i mas relaçõe s e n tre os fa tores soci ai s e os • fatores técnico-cien tíficos. Assim , que UI1l concei
t o inc l u íd o n o i nstrume n tal cie n t ífico não seja
razão bastan te para que possa se r simplesmen te usado e aplicado , se m mais e s t a o u aquela d iscuss,10 .
Cabe uma re fe rê ncia ainda a e sse aspec to n a
ques tão da post ura dogmá t ico -idealis ta . Tra t a -se de fa to do não envolvime n to pol ítico que é, precisamen t e , a grande v ulne rabil i dade desta p os t ura . Não há es t a con d iç ão de não e nvol v imen to pol ít ico , a n ão se r n o âmbito da pura abstração. Pois , n o terreno da prática e d ucac ional , t oda pos t u ra filosófica e xige uma a t i t u de de comp rome time n t o .
Assim, as aproximações en tre a e n fe rmagem e seus clientes em quaisque r e spaços , institucionalizados o u não , e xige envolvime n to , prin cipalmen te pol ít ico. Mesmo porque todo e qualquer trabalho tem uma dime nsão 1'01 ítica , e o trabal h o de sa ú de não foge à regra, de vez q ue ate n d e aos in te re sses de de te rmi nadas classes ou grupos existentes na socie dade .
CONC L USÕES
En fe rmagem Fun damen tal é a ordem ou o c on j u n t o de proposições e de i d éias mais gerais ou mai s si mple s , de on de se deri v a a total i d a de dos con heci mentos de Enfermagem.
A Enfe r mage m Fun dame n tal não tem um campo de aplica ção e spec ífi c o , mas , ao con trári o , aplica -se a todos os campos da enfe nnage m , represen tan do a s base s sobre a s quais s e asse n ta toda a prát ica da e n fe r magem.
A En fe rmage m F u n damen tal ab range também o aparato é llco-filosót1co . e a dimensão histórica
da prollssão . A Enfe rmage m Fundame n tal se u ti liza de
p rin c i pios de rivad os das ciências , que são a p licados n a e fe t ivação dos c uidados básicos de enfe nnagem , e de c O l l ce i tos que são e mpre gados n a fundamen tação d o ensi n o e d a pesquisa d e inte resse da e n fe rmage m .
A Enfermagem F undame n tal deve contemplar
a con t rução do arcabouço teóri c o , a de finição dos meios para a e fe tivação di) cuidado de enfe rma
gem , a explicação do s igni fi cado da e n fermagem, b e m como a jus t ifica�'ão das ações de
A E n fe rmagem Fun damen tal , em sua dime n são prát ica , é ce n t rada n a pre stação d e cuidados básicos de e n fe rmage m a todos os t ipos de pessoas e de grupos , onde que r que se encontre m , por tod os os exercen te s da enfeml agem , os quais u ti l izam para tan t.o os in stru me ntos básicos da enfermage m.
O obje to de t rabalho da enfe rmage m é o c uidado de e n fe r magem . - - esfem própria da a t uação
profissional -- e representa , ainda , o can teiro do campo pragmá tico , onde se pode exercer com i n de pendência as fu nções e as a tividades da en fermage m . M as é também uma propos t a de cuidar e de aj u dar que con figura , e m o u tra d ime nsão , a contrapar t ida d o autocuid a d o .
O a u tocul ctad o , p a r a q u e p ossa ser u m a i d é i a norteadora p a r a o c uidado de e n fe rmage m , o ensino e a pesquisa , n ão pode comportar u ma abor da-
R e I' . Bras. t:n/ , U ra , i l ia , 38l l ) , jan . /mar. 1 9 85 - 85
e n fe rmage m
gem ingênua ou acr ítica , devido a sua forte carga pol ítico-ideológica.
A prática de enfe rmagem se insere no mundo do trabalho e, como tal , deve ser entendida como prática social , a uma vez contexto e objett'J de transformações históricas .
B dever ético do enfermeiro participar das lutas por melhores condições de vida e de trabalho para todos, como forma de viabilizar seu compromisso social em prol da saúde do povo brasileiro.
R ECOMENDAÇÕES
Às Escolas e Cursos de Enfermagem
que procurem elaborar seus marcos conceituais, para o ensino e a pesquisa em En fe rmagem Fundamental , em consonância com a demarcação teórica dos seus cursos de graduação e de pós-graduação ; que ao estudarem tal demarcação , considerem a necessidade de ampliar os campos de aplicação de Enfermagem Fundamental , em termos de clientela e de cenários ; que encareçam , junto aos cursos de pós-graduação , a necessidade de reconsiderar os instrumentos básicos de enfermagem , de modo a melhor denominá-los e categorizá-los; que o conceito de autocuidado e suas implicações práticas seja objeto de debate com o corpo docente e discente ; que o ensino de história da enfermagem e de ética profissional contemplem a enfermagem enquanto prática social e suas implicações para o exerCÍcio consciente da prot1ssão ; que promovam estudos e pesquisas sobre assuntos de interesse da Enfermagem Fundamental , no sen tido de favorecer sua melhor explicação teórica e prática .
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